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EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
2012
Metodologia de Pesquisa em Engenharia de Produção
Estratégias, métodos e técnicas para condução de pesquisas quantitativas e qualitativas
METODOLOGIA DE PESQUISA EM
ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
ESTRATÉGIAS, MÉTODOS E TÉCNICAS PARA CONDUÇÃO DE
PESQUISAS QUANTITATIVAS E QUALITATIVAS
UNIFEI 2012
SUMÁRIO
Referências 196
CAPÍTULO 1
Pesquisa científica em engenharia de produção
Leme. Uma década após, seguindo esse mesmo exemplo, a FEI - Faculdade de Engenharia Industrial de São
Bernardo do Campo abriu o seu curso em 1967 (FAÉ e RIBEIRO, 2005). Em 1972 foi formalizado o curso de
pós-graduação em Engenharia Industrial, em nível de mestrado, que, a partir de 1977 recebeu a
denominação de Curso de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Em 1979 foram criadas na UFSC,
em nível de graduação, as habilitações em Engenharia de Produção nas áreas de Engenharia Civil,
Engenharia Mecânica e Engenharia Elétrica. O programa de doutorado em Engenharia de Produção passou a
ser oferecido em 1989.
Na UNIFEI o curso de Engenharia de Produção-Mecânica teve início em 1998, com autorização do
MEC/Portaria Nº 2.238, de 19 de dezembro de 1997 e DOU – Nº 247-E-Seção 1, de 22 de dezembro de
1997. Antes disso, em 1980, o curso de Engenharia Mecânica ganhou uma ênfase em gerência da produção,
além das outras ênfases em fabricação, projeto e energia. Em fevereiro de 1994 foi implementado o
Programa de Mestrado Stricto Senso em Engenharia de Produção.
Diferentemente das ciências da administração de empresas, que centra-se mais na questão da
gestão dos processos administrativos, processos de negócio e na organização estrutural da empresa, a
engenharia de produção centra-se na gestão dos processos produtivos. Existem, contudo, no Brasil, dois
tipos de cursos na área: os cursos ditos plenos e cursos concebidos como habilitações específicas de um
dos ramos tradicionais da Engenharia. Os cursos do primeiro tipo concentram quase toda a sua carga horária
profissionalizante no estudo da gestão da produção, enquanto que os do segundo tipo dividem essa carga
entre esse estudo e o dos sistemas técnicos - normalmente, priorizando este último por larga margem. Deve-
se notar que a legislação atualmente em vigor considera apenas os egressos do primeiro tipo de curso como
engenheiros de produção. As figuras 1.1 e 1.2 mostram o relacionamento entre as áreas de conhecimento
supracitadas.
Figura 1.2 – Áreas de concentração dos cursos de Administração de Empresas, Engenharias e outros
Fonte: Cunha (2002)
Assim, o foco das atenções do ramo de Engenharia de Produção concentra-se na gestão dos
sistemas de produção, definidos como todo conjunto de recursos organizados de modo a obter produtos ou
serviços de modo sistemático. Observe-se que há uma clara diferenciação entre a gestão do sistema de
produção, que é restrita à mobilização de recursos diretamente relacionados com a produção de produtos e
serviços e a gestão do empreendimento, que é mais abrangente, envolvendo decisões relacionadas, por
exemplo, à área contábil ou à de seleção e capacitação de recursos humanos, zonas não afetas à
Engenharia de Produção.
A gestão dos sistemas de produção é realizada via utilização de métodos e técnicas que visam
otimizar o emprego dos recursos existentes no próprio sistema de produção. A esfera de decisões inerente ao
trabalho do engenheiro de produção e de outros profissionais é melhor ilustrada através da figura 1.3.
Ao longo dos últimos anos, os cursos de Engenharia de Produção no Brasil vêm apresentando um
crescimento acentuado. Diversos cursos estão sendo criados, tanto em nível de graduação, como de pós-
graduação. Além disso, há um grande movimento de mudança nas ênfases dadas nos cursos já existentes:
aqueles que até então apresentavam uma habilitação específica estão rumando para a chamada Engenharia
de Produção “plena”.
Figura 1.3 – Esfera de ação característica dos diversos profissionais nos processos decisórios
Fonte: Cunha (2002)
O quadro 1.1 deixa clara a grande expansão no número de escolas que oferecem o curso de
graduação em Engenharia de Produção. Conforme pode ser visto, a oferta de cursos vem apresentando um
crescimento exponencial. Para comprovar esta afirmativa, basta comparar na tabela os dados do ano de 1998
com os de 2002, onde foi constatado um aumento em mais de 50% no número de cursos no Brasil. Esse
crescimento poderia ser justificado pela maior aceitação do Engenheiro de Produção formado por parte das
empresas, bem como pelo maior conhecimento do que é esta modalidade de Engenharia. No quadro 1.2,
verifica-se um grande número de cursos de Engenharia de Produção com habilitação específica em outros
ramos da Engenharia, bem como a diversidade destas habilitações.
Em 2009, o site do INEP (Inep, 2010) indicava que existiam 364 cursos de graduação de engenharia
de produção no Brasil.
A Abepro (ABEPRO, 2010) estabelece as seguintes áreas e subáreas da engenharia de produção:
Logística:
Técnicas para o tratamento das principais questões envolvendo o transporte, a movimentação, o estoque e o
armazenamento de insumos e produtos, visando a redução de custos, a garantia da disponibilidade do
produto, bem como o atendimento dos níveis de exigências dos clientes.
• Gestão da Cadeia de Suprimentos;
• Gestão de Estoques;
• Projeto e Análise de Sistemas Logísticos;
• Logística Empresarial;
• Transporte e Distribuição Física;
• Logística Reversa.
Pesquisa operacional:
Resolução de problemas reais envolvendo situações de tomada de decisão, através de modelos matemáticos
habitualmente processados computacionalmente.
• Modelagem, Simulação e Otimização;
• Programação Matemática;
• Processos Decisórios;
• Processos Estocásticos;
• Teoria dos Jogos;
• Análise de Demanda;
• Inteligência Computacional.
Engenharia da qualidade:
Planejamento, projeto e controle de sistemas de gestão da qualidade que considerem o gerenciamento por
processos, a abordagem factual para a tomada de decisão e a utilização de ferramentas da qualidade.
• Gestão de Sistemas da Qualidade;
• Planejamento e Controle da Qualidade;
• Normalização, Auditoria e Certificação para a Qualidade;
• Organização Metrológica da Qualidade;
• Confiabilidade de Processos e Produtos.
Engenharia do produto:
Conjunto de ferramentas e processos de projeto, planejamento, organização, decisão e execução envolvidas
nas atividades estratégicas e operacionais de desenvolvimento de novos produtos, compreendendo desde a
concepção até o lançamento do produto e sua retirada do mercado com a participação das diversas áreas
funcionais da empresa.
• Gestão do Desenvolvimento de Produto;
• Processo de Desenvolvimento do Produto;
• Planejamento e Projeto do Produto.
Engenharia organizacional:
Conjunto de conhecimentos relacionados à gestão das organizações, englobando em seus tópicos o
planejamento estratégico e operacional, as estratégias de produção, a gestão empreendedora, a propriedade
intelectual, a avaliação de desempenho organizacional, os sistemas de informação e sua gestão e os arranjos
produtivos.
Engenharia econômica:
Formulação, estimação e avaliação de resultados econômicos para avaliar alternativas para a tomada de
decisão, consistindo em um conjunto de técnicas matemáticas que simplificam a comparação econômica.
• Gestão Econômica;
• Gestão de Custos;
• Gestão de Investimentos;
• Gestão de Riscos.
Engenharia do trabalho:
Projeto, aperfeiçoamento, implantação e avaliação de tarefas, sistemas de trabalho, produtos, ambientes e
sistemas para fazê-los compatíveis com as necessidades, habilidades e capacidades das pessoas visando a
melhor qualidade e produtividade, preservando a saúde e integridade física. Seus conhecimentos são usados
na compreensão das interações entre os humanos e outros elementos de um sistema. Pode-se também
afirmar que esta área trata da tecnologia da interface máquina - ambiente - homem - organização.
• Projeto e Organização do Trabalho;
• Ergonomia;
• Sistemas de Gestão de Higiene e Segurança do Trabalho;
• Gestão de Riscos de Acidentes do Trabalho.
Engenharia da sustentabilidade:
Planejamento da utilização eficiente dos recursos naturais nos sistemas produtivos diversos, da destinação e
tratamento dos resíduos e efluentes destes sistemas, bem como da implantação de sistema de gestão
ambiental e responsabilidade social.
• Gestão Ambiental;
• Sistemas de Gestão Ambiental e Certificação;
• Gestão de Recursos Naturais e Energéticos;
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Metodologia de Pesquisa em Engenharia de Produção
Estratégias, métodos e técnicas para condução de pesquisas quantitativas e qualitativas
e, às vezes, inconscientes, e que inclui um conjunto de valorações. Essas informações são, em geral,
fragmentárias e podem incluir fatos históricos verdadeiros, doutrinas religiosas, lendas ou parte delas,
princípios ideológicos às vezes conflitantes, informações científicas popularizadas pelos meios de
comunicação de massa, bem como a experiência pessoal acumulada.
Quando emitimos opiniões, lançamos mão desse estoque de coisas da maneira que nos parece mais
apropriada para justificar e tornar os argumentos aceitáveis. Valorações e crenças são, portanto, o substrato
do senso comum e de nossas ações e comportamentos cotidianos.
Apesar das inconsistências inerentes ao conhecimento de senso comum, para onde convergem
crenças, opiniões e valores muitas vezes conflitantes e assistemáticos, ele se constitui na base a partir da
qual se constrói a ciência (MATALLO JR., 2006). Para Alves (2006), a aprendizagem da ciência é um
processo de desenvolvimento progressivo do senso comum. A ciência não é um órgão novo de
conhecimento, é a hipertrofia de capacidades que todos têm.
Segundo Marconi e Lakatos (2006), o que distingue o senso comum do conhecimento científico é a
forma, o método e os instrumentos do “conhecer”. Por exemplo, saber que uma planta necessita de certa
quantidade de água e que, se não a receber de forma natural, deve ser irrigada pode ser um conhecimento
verdadeiro e comprovável, mas nem por isso, científico. Para que isso ocorra, é necessário ir mais além:
conhecer a natureza dos vegetais, sua composição, seu ciclo de desenvolvimento e as particularidades que
distinguem uma espécie da outra.
O senso comum é a base sobre a qual se constroem as teorias científicas. Estas teorias se
distanciam tanto quanto possível das valorações e opiniões, gerando um conhecimento mais ou menos
racional, entendendo racional como argumentativo e coerente. Este conhecimento, por sua vez, interage com
o senso comum e modifica-o, sendo absorvido parcial ou totalmente. Assim, o senso comum vai
progressivamente se modificando ao longo das gerações, incorporando novas informações e eliminando
aquelas que se tornam imprestáveis para as explicações (MATALLO JR., 2006).
O conhecimento popular, ou senso comum, se caracteriza por ser predominantemente superficial
(conforma-se com a aparência ou que se pode comprovar por estar junto das coisas), sensitivo (referente a
vivência e estados de espírito), subjetivo (experiências são adquiridas por vivência própria), assistemático (a
organização das experiências não visa a sistematizar as idéias) e acrítico (a pretensão de que os
conhecimentos sejam verdadeiros não se manifesta de uma forma crítica) (MARCONI e LAKATOS, 2006).
Os fatos e as observações pressupõem teorias, sejam elas científicas ou não. Dessa forma, os
significados dos conceitos dependem das teorias em que ocorrem. Numa teoria de senso comum, os
conceitos podem ser vagos e contaminados por valores e doutrinas, mas numa teoria científica isto não é
admissível. Os conceitos devem ter um significado preciso e devem remeter a outros conceitos correlatos e
também precisamente definidos, de tal forma que as teorias formem estruturas mais ou menos fechadas de
conceitos significativos e que se referem a conjuntos específicos de fatos e fenômenos. Isto é, as teorias não
se aplicam a quaisquer coisas, mas a campos específicos. Sendo assim, poderia-se dizer que a ciência se
apresenta como conjuntos de proposições (teorias) coerentes, onde não há nenhum tipo de contradição
interna, sendo que as proposições são amarradas por um encadeamento racional (MATALLO JR., 2006).
Matallo Jr. (2006) destaca ainda outras características das teorias científicas. A primeira delas
assume que as teorias são despidas de subjetividade e valorações. Uma segunda remete ao fato das
mesmas serem solucionadoras de problemas, sendo estes decorrentes de necessidades práticas e de quebra
de regularidades na natureza. Outra característica sugere que as teorias devem engendrar programas de
pesquisa para, além de consolidar a teoria, fazê-la ainda ocupar todos os espaços de explicação, contribuindo
para sua própria superação para, desta forma, promover o crescimento e o progresso do conhecimento
científico.
Nos canais formais o processo de comunicação é lento, mas necessário para a memória e a difusão
de informações para o público em geral. Os canais formais são oficiais, públicos e controlados por uma
organização. Destinam-se a transferir informações a uma comunidade, não a um indivíduo, e tornam público
o conhecimento produzido. Os canais formais são permanentes, as informações que veiculam são registradas
em um suporte e assim tornam-se mais acessíveis.
Os canais informais, por meio do contato face a face ou mediados por um computador, são
fundamentais aos pesquisadores pela oportunidade proporcionada para troca de idéias, discussão e
feedbacks com os pares. O trabalho publicado nos canais formais, de certa forma, já foi filtrado via canais
informais.
Os canais formais, por intermédio das publicações, são fundamentais aos pesquisadores porque
permitem comunicar seus resultados de pesquisa, estabelecer a prioridade para suas descobertas, obter o
reconhecimento de seus pares e, com isso, aumentar sua credibilidade no meio técnico ou acadêmico. O
quadro 1.3 sintetiza as principais diferenças entre os elementos formais e informais da comunicação
científica.
Quadro 1.3 – Principais diferenças entre os elementos formais e informais da comunicação científica
Comunicação formal Comunicação informal
Pública. Privada.
Informação armazenada de forma permanente, recuperável. Informação não-armazenada, não-recuperável.
Informação relativamente velha. Informação recente.
Informação comprovada. Informação não-comprovada.
Disseminação uniforme. Direção do fluxo escolhida pelo produtor.
Redundância moderada. Redundância às vezes muito importante.
Ausência de interação direta. Interação direta.
Fonte: Silva e Menezes (2001)
Os principais canais de comunicação onde os pesquisadores podem pesquisar por informações úteis
para os seus trabalhos científicos são:
• Periódicos científicos (nacionais e internacionais);
• Trabalhos apresentados em congressos, simpósios e encontros (nacionais e internacionais);
• Teses e dissertações defendidas nos programas de pós-graduação das diversas universidades
espalhadas pelo país ou do exterior;
• Livros publicados sobre o tema de interesse;
• Sites na internet.
Cada um dos canais de comunicação apresentados tem maior ou menor grau de aceitação na
comunidade científica. Isso será discutido com mais detalhes no capítulo 3 desta apostila.
Existe uma plataforma baseada na internet, denominada ISI Web of Knowledge
(http://portal.isiknowledge.com/), que oferece um conteúdo de alta qualidade e ferramentas para acessar,
analisar e gerenciar as informações acerca das pesquisas científicas (vide figura 1.4). Através do mesmo, é
possível visualizar os pesquisadores (nacionais e internacionais) mais citados nas diversas áreas de
pesquisa, inclusive por país, além de permitir acesso a dados de patentes internacionais.
Uma forma de conhecer os pesquisadores brasileiros, seu campo de atuação e as pesquisas que já
realizaram e que estão realizando no momento, é através da chamada Plataforma Lattes (www.cnpq.br),
ilustrado na figura 1.5, que é patrocinada pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico).
A Plataforma Lattes representa a experiência do CNPq na integração de bases de dados de
currículos e de instituições da área de ciência e tecnologia em um único Sistema de Informações, cuja
importância atual se estende, não só às atividades operacionais de fomento do CNPq, como também às
ações de fomento de outras agências federais e estaduais.
Dado seu grau de abrangência, as informações constantes da Plataforma Lattes podem ser utilizadas
tanto no apoio a atividades de gestão, como no apoio à formulação de políticas para a área de ciência e
tecnologia.
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Metodologia de Pesquisa em Engenharia de Produção
Estratégias, métodos e técnicas para condução de pesquisas quantitativas e qualitativas
O Currículo Lattes (vide figura 1.6) registra a vida pregressa e atual dos pesquisadores sendo
elemento indispensável à análise de mérito e competência dos pleitos apresentados à Agência. A partir do
Currículo Lattes, o CNPq desenvolveu um formato-padrão para coleta de informações curriculares hoje
adotado não só pela Agência, mas também pela maioria das instituições de fomento, universidades e
institutos de pesquisa do País.
A adoção de um padrão nacional de currículos, com a riqueza de informações que esse sistema
possui, a sua utilização compulsória a cada solicitação de financiamento e a disponibilização pública destes
dados na internet, deram maior transparência e confiabilidade às atividades de fomento da Agência.
Por meio do site do CNPq também é possível conhecer os grupos de pesquisa ligados às mais
diversas instituições de ensino e pesquisa do Brasil. O diretório de grupos de pesquisa do Brasil
(http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/) busca todos os grupos certificados, podendo-se fazer a pesquisa dos
grupos por palavras-chave em qualquer estado do país, dos pesquisadores ligados a esses grupos, dos
líderes dos grupos e dos participantes (alunos) dos grupos em todas as fases de sua formação (desde
graduação até o nível de doutoramento), como ilustra a figura 1.7.
Cada um desses passos serão tratados com maior profundidade nos próximos capítulos.
Finalmente, é apresentada uma classificação das pesquisas científicas e as principais técnicas de coleta de
dados são comentadas.
O capítulo 5 trata da leitura e análise de artigos científicos. Este capítulo procura mostrar aos
estudantes como se deve proceder para ler um artigo, como se prepara um esquema para destacar os pontos
principais dessa leitura, como se faz uma análise do texto (textual, temática e interpretativa/crítica), como se
prepara o fichamento dos trabalhos e como elaborar resumos dos artigos selecionados para fazer parte da
fundamentação teórica da sua pesquisa científica.
O capítulo 6 trata da redação dos trabalhos científicos, mostrando sua estrutura e partes mais
importantes, além de definir a forma correta de fazer citações nos textos e de como referenciar os autores ou
trabalhos citados, conforme as normas NBR 10520 e NBR 6023.
Os capítulos 7 a 13 apresentam os principais métodos de pesquisa científica em engenharia de
produção. O capítulo 7 trata do método de experimento, o capítulo 8 do método de modelagem e simulação, o
capítulo 9 da pesquisa levantamento (ou survey), o capítulo 10 do estudo de caso, o capítulo 11 da pesquisa-
ação, o capítulo 12 do Soft System Methodology e, finalmente, o capítulo 13 apresenta alguns delineamentos
de pesquisa combinada (qualitativo com quantitativo).
Exercícios do capítulo 1
1.1) Defina a área e sub-área da engenharia da produção na qual o seu trabalho de pesquisa estará inserido.
1.2) Escolha o tema do seu trabalho de pesquisa.
1.3) Defina as principais palavras-chave da sua pesquisa, ligadas ao tema escolhido.
1.4) Faça as seguintes pesquisas no ISI Web of Knowledge (ISIHighlyCited.com):
a) Verifique se você consegue encontrar referências cruzadas (citações) dos professores do programa
de pós-graduação da UNIFEI. Que conclusões você pode tirar dessa pesquisa?
b) Verifique quais são os pesquisadores mais citados do Brasil? Em que áreas de pesquisa eles atuam?
Quantos são da área da engenharia de produção? Que conclusão pode-se tirar dessa pesquisa?
c) Faça uma pesquisa por pesquisadores por país. Quantos pesquisadores do Brasil figuram na lista?
Como está o Brasil em relação a outros países da América do Sul (Argentina, Chile, Uruguai,
Paraguai, Colômbia e Venezuela)? E em relação a outros países como Estados Unidos, Japão, China
e Índia?
1.5) Cadastre-se na plataforma Lattes, crie e publique o seu currículo Lattes.
1.6) Quais são os principais grupos de pesquisa do Brasil que trabalham com pesquisas ligadas ao seu tema
escolhido?
a) Selecione dois grupos dos estados de Minas Gerais e São Paulo. No caso de Minas Gerais,
selecione um grupo de pesquisa da Unifei ligado ao seu tema.
b) Quem são os líderes desses grupos e a qual programa de pós-graduação pertencem? Em quantos
grupos de pesquisa eles participam?
c) Quais são as principais linhas de pesquisa desses grupos?
1.7) Pesquise o currículo Lattes dos líderes de grupos de pesquisa que você selecionou.
a) Quantos artigos eles publicaram em periódicos nacionais?
b) Quantos artigos eles publicaram em periódicos internacionais?
CAPÍTULO 2
Projeto de pesquisa
Cada um desses passos será discutido em maior profundidade nos tópicos seguintes deste capítulo.
Porém, há de se verificar se o tema selecionado é relevante cientificamente. Para tanto, não pode
deixar de aparecer no projeto de pesquisa a justificativa para o mesmo. Para Salomon (2000), a justificativa
apresenta as razões, sobretudo teóricas, que legitimam o projeto como trabalho científico. A justificativa é
uma defesa do projeto, cujo referencial há de ser a relevância do problema, seja ela teórica, humana,
operacional ou contemporânea. Deveriam ser justificados a escolha do tema, do objeto de pesquisa e da(s)
unidade(s) de investigação.
No capítulo 3 desta apostila será descrito com mais detalhes os conceitos e cuidados a serem
tomados para a elaboração de uma revisão de literatura abrangente. O capítulo 6 vai mostrar como fazer de
forma correta as citações.
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Metodologia de Pesquisa em Engenharia de Produção
Estratégias, métodos e técnicas para condução de pesquisas quantitativas e qualitativas
Uma forma de conceber um problema científico é relacionar vários fatores (variáveis independentes)
com o fenômeno estudado.
relação entre o problema de pesquisa e os objetivos da mesma, pois, se não fosse assim, a estruturação
inicial desarticulada entre esses elementos certamente comprometeria os passos seguintes do trabalho
científico (APPOLINÁRIO, 2006).
Ao se colocar o problema e se formular as hipóteses, deve-se fazer também a indicação das variáveis
dependentes e independentes. Elas devem ser definidas com clareza e objetividade e de forma operacional.
Todas as variáveis que podem interferir ou afetar o objeto de estudo devem ser levadas em consideração e
controladas, para impedir o comprometimento ou o risco de invalidar a pesquisa (MARCONI e LAKATOS,
2006).
seleção dos mesmos dependerá dos vários fatores relacionados com a pesquisa, tais como a natureza dos
fenômenos, o objeto de pesquisa, os recursos financeiros, a abordagem da pesquisa (qualitativa ou
quantitativa, ou uma combinação dessas duas), a equipe humana, entre outros (MARCONI e LAKATOS,
2006).
Os métodos quantitativos de pesquisa mais importantes são o experimento, a pesquisa levantamento
(survey) e a modelagem e simulação. Os métodos qualitativos de pesquisa mais importantes são o estudo de
caso, a pesquisa-ação e o soft system methodology. Algumas das técnicas de pesquisa que podem ser
empregadas, muitas delas concomitantemente em qualquer um desses métodos, são a entrevista, o
questionário, leitura de documentos, observação, entre outras.
As técnicas de pesquisa serão tratadas com mais detalhes no capítulo 5 desta apostila. Os métodos
de pesquisa serão tratados, um a um, nos capítulos 7 a 12.
2.8. Cronograma
Se o projeto de pesquisa que está sendo elaborado é para atender um edital de alguma entidade
financiadora ou para o processo de seleção de algum programa de mestrado ou doutorado de uma faculdade
ou universidade, o pesquisador deve preparar um cronograma que apresente as etapas do seu processo de
pesquisa, assim como o tempo previsto para sua conclusão.
CNPq apóia prioritariamente pessoas físicas, por meio de bolsas e auxílios, a FINEP apóia ações de C,T&I de
instituições públicas e privadas.
Os Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia, criados a partir de 1999, são instrumentos de
financiamento de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação no País. Há 16 Fundos Setoriais, sendo
14 relativos a setores específicos e dois transversais. Destes, um é voltado à interação universidade-empresa
(FVA – Fundo Verde-Amarelo), enquanto o outro é destinado a apoiar a melhoria da infra-estrutura de
Instituições Científicas e Tecnológicas - ICTs (Infra-estrutura).
As receitas dos fundos são oriundas de contribuições incidentes sobre o resultado da exploração de
recursos naturais pertencentes à União, parcelas do Imposto sobre Produtos Industrializados de certos
setores e de Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) incidente sobre os valores que
remuneram o uso ou aquisição de conhecimentos tecnológicos/transferência de tecnologia do exterior.
A FINEP disponibiliza as chamadas públicas em seu site, como ilustra a figura 2.1. Para a
participação nas chamadas públicas, o interessado deve se cadastrar no portal inovação
(http://www.portalinovacao.mct.gov.br/pi/), criado para promover a cooperação tecnológica.
A CAPES tem sido decisiva para os êxitos alcançados pelo sistema nacional de pós-graduação, tanto
no que diz respeito à consolidação do quadro atual, como na construção das mudanças que o avanço do
conhecimento e as demandas da sociedade exigem.
O sistema de avaliação, continuamente aperfeiçoado, serve de instrumento para a comunidade
universitária na busca de um padrão de excelência acadêmica para os mestrados e doutorados nacionais. Os
resultados da avaliação servem de base para a formulação de políticas para a área de pós-graduação, bem
como para o dimensionamento das ações de fomento (bolsas de estudo, auxílios, apoios).
Os editais que a CAPES patrocina são destinados a melhoria na capacitação dos
pesquisadores/docentes e na promoção de eventos científicos (realização e participação), como ilustra a
figura 2.2.
No âmbito estadual, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) foi
criada pela Lei Delegada nº 10, de 28 de agosto de 1985. Ela tem suas atividades regidas pela Lei nº 11.552,
de 03 de agosto de 1994 e por seus estatutos aprovados pelo Decreto nº 36.278, de 24 de agosto de 1994. A
Fundação tem como finalidade promover atividades de fomento, apoio e incentivo à pesquisa científica e
tecnológica no Estado de Minas Gerais.
A Emenda à Constituição nº 17 institui no parágrafo único, do art. 212, prioridade a projetos que se
ajustem às diretrizes básicas estabelecidas pelo Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia - Conecit -,
definidos como essenciais ao desenvolvimento científico e tecnológico do Estado, e à reestruturação da
capacidade técnico-científica das instituições de pesquisas do Estado, em conformidade com os princípios
definidos nos Planos Mineiros de Desenvolvimento Integrado - PMDIs - e contemplados nos Programas dos
Planos Plurianuais de Ação Governamental - PPAGs.
A clientela da FAPEMIG (http://www.fapemig.br)é constituída por instituições sediadas em Minas
Gerais ou pesquisadores que com elas mantenham vínculo permanente ou temporário. Nem todas as
modalidades de atuação da FAPEMIG, se aplicam a todas as categorias de instituições-clientes. É necessário
verificar, para cada modalidade, quais as categorias podem dela se beneficiar.
A FAPEMIG realiza fomento de pesquisas a serem realizadas por pesquisadores ligados a
instituições de ensino ou pesquisa sediadas em Minas Gerais e para melhoria da infra-estrutura para
pesquisa, tais como: mestres e doutores em empresas, universal, programa pesquisador mineiro,
manutenção de equipamentos de alto investimento, aquisição de livros, publicação de periódicos, apoio à
criação e manutenção de NITs (Núcleos de Inovação Tecnológica), como ilustra a figura 2.4.
Para a submissão dos projetos de pesquisa a FAPEMIG conta com uma ferramenta, denominada
AgilFap (vide figura 2.5), onde todas as informações são postadas e encaminhadas para a fundação.
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) é uma das principais
agências de fomento à pesquisa científica e tecnológica do país. Com autonomia garantida por lei, a FAPESP
está ligada à Secretaria de Ensino Superior do governo do Estado de São Paulo.
Com um orçamento anual superior a R$ 400 milhões nos últimos três anos - correspondente a 1% do
total da receita tributária do Estado - a FAPESP (http://www.fapesp.br) apóia a pesquisa e financia a
investigação, o intercâmbio e a divulgação da ciência e da tecnologia produzida em São Paulo.
A FAPESP apóia a pesquisa científica e tecnológica por meio de Bolsas e Auxílios a Pesquisa que
contemplam todas as áreas do conhecimento: Ciências Biológicas, Ciências da Saúde, Ciências Exatas e da
Terra, Engenharias, Ciências Agrárias, Ciências Sociais Aplicadas, Ciência Humanas, Lingüística, Letras e
Artes. A página de editais pode ser vista na figura 2.6.
Assim como em Minas Gerais e São Paulo, outros estados do país possuem órgãos de fomento tais
como a FAPEMIG e a FAPESP.
Os editais abertos trazem consigo os regulamentos para atendimento aos mesmos (vide figura 2.7).
O pesquisador necessita ler o regulamento do edital do qual pretende participar com muita atenção, para não
deixar de atender a qualquer um de seus tópicos. Os regulamentos informam quem pode participar do edital,
os recursos financeiros disponíveis, os itens financiáveis (equipamentos e material permanente, bolsas,
material de consumo, gastos com despesas etc.), regras para submissão das propostas, critérios para
julgamento da proposta, datas para recebimento das propostas etc.
Exercícios do capítulo 2
2.1) Faça uma pesquisa nos sites da Capes, CNPq, Finep e Fapemig. Quais são os editais em aberto? Quais
desses editais poderiam atender ao grupo de pesquisa ao qual você pertence?
2.2) Como se faz para montar um projeto solicitando apoio financeiro para participação coletiva em eventos
de caráter científico e tecnológico na Fapemig?
2.3) Elabore um projeto de pesquisa para o trabalho científico que você pretende desenvolver para a pós-
graduação.
CAPÍTULO 3
Fundamentação teórica
Considere a figura 3.1. Nela pode-se apreciar visualmente o processo de integrar um artigo ao
esboço de uma fundamentação teórica.
Como primeiro passo, deve-se ler o artigo e avaliar qual a relevância dele para a sua área de estudo.
Se ele for considerado relevante, considere a hipótese de selecionar uma parte deste artigo que seja
apropriada para uma discussão (por exemplo, pode ser o tópico referente ao método de pesquisa
empregado). Qual método foi empregado? Essa abordagem já havia sido utilizada anteriormente?
Posteriormente, analise o artigo sob a luz de outros artigos e trabalhos de pesquisa. Qual a relação
dele com os trabalhos realizados por outros pesquisadores?
Algum método similar já foi adotado ou este artigo é revolucionário? Compare este artigo com
trabalhos de outros pesquisadores e avalie as abordagens e métodos utilizados. Existem algumas vantagens
ou desvantagens aparentes?
Pode-se, então, ligar os resultados da comparação anterior com o trabalho que se está
desenvolvendo. Talvez surja a seguinte pergunta: qual a relação desses outros trabalhos com a pesquisa que
está sendo desenvolvida? Pode não existir um relacionamento claro e direto imediatamente, mas lembre-se
que o objetivo principal da fundamentação teórica é desenvolver uma idéia de como a sua pesquisa pode
estar ligada e visualizada como uma extensão de uma área existente.
Portanto, uma fundamentação teórica feita apropriadamente pode auxiliar o pesquisador a sustentar
ou refutar argumentos que ele desenvolveu, assim como ajudá-lo a desenvolver suas próprias teorias e
proposições.
Segundo Brown (2002), a tabela 3.1 apresenta um simples guia de quantas fontes de informação
deveriam ser citadas ou lidas para cada classe de trabalho científico. Entretanto, ficar muito abaixo das faixas
sugeridas pode fazer com que o seu trabalho de pesquisa desconsidere boa parte da literatura relevante
disponível.
Tabela 3.1 – Guia para número de documentos adequado para uma fundamentação teórica
No. de documentos que se No. de documentos que se
Tipo de trabalho científico
espera que sejam citados espera que sejam lidos
Tese de doutorado 100 a 200 400 a 700
Dissertação de mestrado 50 a 100 100 a 200
Artigo para revista científica (journal) 12 a 25 25 a 50
Fonte: Brown (2002)
Demo (2000) aponta que a fundamentação teórica serve inicialmente para duas situações: elaborar
hipóteses e fornecer subsídios para arranjar argumentações que possam sustentar ou refutar as hipóteses.
Afinal, para que se possa estabelecer uma hipótese interessante é necessário que o pesquisador tenha lido
sobre o assunto, permitindo-se posicionar entre conceitos e polêmicas, perguntas e respostas. Para que se
possa argumentar sobre essas hipóteses, é preciso estudar a bibliografia pertinente, de modo sistemático e
reconstrutivo, para construir uma base teórica de caráter explicativo. Ou seja, a teoria é necessária para
oferecer condições de explicativas dos fenômenos, trabalhando a razão de ser assim e não de outra maneira.
Como neste momento ainda não é possível verificar as hipóteses, torna-se tanto mais necessário
fundamentar o que se pretende dizer buscando apoio na literatura disponível e, a seguir, tecendo a
montagem própria da argumentação.
Além disso, a fundamentação teórica auxilia também a olhar criticamente a realidade sob a forma dos
trabalhos publicados. Segundo Torraco (2005), a análise crítica da literatura envolve o exame cuidadoso das
principais idéias e relações de um dado tema e formulação de uma crítica na literatura existente. A crítica é a
avaliação crítica do quão bem a literatura representa um dado assunto.
Essa análise crítica geralmente requer que o pesquisador primeiro desconstrua um tema em seus
elementos básicos. Isso pode incluir a história e origem desse tema, seus conceitos principais, as relações
chaves através das quais os conceitos interagem, métodos de pesquisa, aplicações do tema, etc. Uma
análise cuidadosa frequentemente expõe um conhecimento que pode ser aceito como verdadeiro ou oculto
por anos de pesquisa interveniente. Isso permite que o pesquisador reconstrua conceitualmente o tema para
um melhor entendimento e avalie como o tema está representado na literatura.
O resultado da análise crítica é a crítica, define Torraco (2005). A crítica identifica os pontos fortes e
as contribuições chave da literatura, assim como as deficiências, omissões, inexatidões e outros aspectos
problemáticos da literatura. A crítica deveria identificar aspectos de um fenômeno que estão perdidos,
incompletos ou fracamente representados na literatura, assim como inconsistências entre as perspectivas
publicadas sobre o tema. Ela também identifica o conhecimento que deveria ser criado ou aperfeiçoado a luz
dos desenvolvimentos recentes sobre o tema. Assim, destacando-se os pontos fortes e identificando as
deficiências na literatura existente, a análise crítica é uma etapa necessária para o crescimento da base de
conhecimento.
Rowley e Slack (2004) sugerem que sejam desenvolvidos esquemas conceituais e mapas mentais ao
se elaborar uma fundamentação teórica. O mapa conceitual é uma forma útil de identificar os conceitos
chaves de um conjunto de documentos ou de uma área de pesquisa. Este mapa pode ser usado para:
• Identificar palavras adicionais para busca durante a pesquisa por literatura;
• Esclarecer o pensamento acerca da estrutura da fundamentação teórica na preparação para a
fundamentação teórica;
• Entender a teoria, conceitos e as relações entre elas.
O mapa conceitual é uma fotografia do território sob estudo e representa os conceitos naquela área e
as relações entre eles. Os conceitos são tipicamente representados por caixas ou círculos e as relações por
linhas ou setas. A figura 3.2 mostra um exemplo de mapa conceitual.
Rowley e Slack (2004) acrescentam que não existe uma resposta correta para um mapa conceitual. A
sua proposta é auxiliar o pesquisador no desenvolvimento do seu entendimento sobre o tema em estudo.
A revisão pode ser organizada de várias maneiras, por exemplo:
• Cronologicamente: organização com base no tempo. As primeiras citações da pesquisa seriam as mais
antigas e depois iam aparecendo as mais recentes. Se a ordem cronológica for importante para explicar a
área de pesquisa, então ela pode ser uma boa estratégia.
• Alfabeticamente: outra forma pode ser organizar a revisão pela ordem alfabética dos autores. Este
método, contudo, não permite que se explore livremente as relações entre a pesquisa. Este método deve
ser evitado.
• Esboço: elaborar um esboço visual do que se pretende incluir na revisão pode fornecer uma estrutura útil
para começar o trabalho. Esse esboço pode ser alterado e melhorado na medida em que a pesquisa
evolui.
• Qual é a tese, problema ou questão de pesquisa específica que a fundamentação teórica auxilia a definir?
• Que tipo de fundamentação teórica será conduzida? Procura-se por assuntos na teoria? Na metodologia?
Em pesquisa quantitativa? Em pesquisa qualitativa?
• Qual o escopo da fundamentação teórica? Quais os tipos de publicação que estão sendo utilizados
(periódicos, livros, dissertações, teses, documentos do Governo, sites da internet)? Qual a disciplina que
está sendo tratada (sociologia, engenharia de produção, gestão do conhecimento)?
• A busca de informação foi bem realizada? Ela assegura que foram encontrados todos os materiais
relevantes? O material irrelevante foi excluído? O número de fontes utilizadas está de acordo com o
trabalho que está sendo desenvolvido?
• A literatura utilizada foi criticamente analisada? Os conceitos e questões foram comparados entre si? Os
pontos fortes e fracos de cada item foram discutidos?
• Os estudos com perspectiva contrária ao do pesquisador foram citados e discutidos?
• O leitor irá considerar a fundamentação teórica relevante, apropriada e útil?
• A fundamentação teórica está organizada em uma estrutura conceitual coerente do tema?
• A fundamentação teórica sintetiza o conhecimento da literatura em uma contribuição significativa e com
valor agregado para o conhecimento sobre o tema?
Os recursos da internet (páginas da web) também podem ser considerados fontes de informação
para um levantamento de dados, mas devem ser usadas com cuidado quando utilizadas como um dado de
entrada para uma fundamentação teórica. Esses recursos podem fornecer, por exemplo, estatísticas valiosas
ou informações sobre um dado mercado ou sobre uma determinada empresa, que podem ser empregados
para contextualizar uma dada informação da sua fundamentação teórica. Os recursos da internet não podem
ser considerados fontes confiáveis de informações para a fundamentação teórica pelo fato de serem de
propriedade de uma pessoa ou instituição e, por causa disso, ficarem à mercê de atualizações
indiscriminadas e sem um critério definido. Além disso, as próprias informações muitas vezes não podem ser
confirmadas.
Porém, onde podem ser buscadas essas fontes de dados? Uma fonte convencional são as
bibliotecas. Todas as grandes universidades e escolas de ensino superior possuem em suas bibliotecas
exemplares de revistas científicas (nacionais e internacionais), teses e dissertações (de seus programas de
pós-graduação), além dos livros.
Com o advento da internet, atualmente existe ainda a possibilidade de acessar esses documentos
eletronicamente, em bases de dados oferecidas por entidades governamentais de apoio a pesquisa e nos
sites das bibliotecas das principais universidades do país. Os tópicos a seguir apresentam alguns desses
portais onde o pesquisador pode buscar trabalhos científicos para a sua fundamentação teórica.
O portal conta com diversas bases de dados (editoras) e cada uma dessas bases possui centenas de
revistas (periódicos/journals) com artigos que podem ser acessados e baixados para o computador do
usuário, facilitando a coleta de referências para a elaboração da fundamentação teórica. As bases de dados
mais importantes para a engenharia de produção são a Emerald, a Science Direct, a EBSCO, a Springer e a
Scielo (esta com diversas revistas nacionais), como mostra a figura 3.4.
Portanto, o portal periódicos da Capes só disponibiliza sua base para instituições assinantes desse
serviço. Porém, existe também o Portal Periódicos Acesso Livre (http://acessolivre.capes.gov.br), que permite
o acesso gratuito a qualquer usuário. O portal de acesso livre da CAPES (vide figura 3.5) disponibiliza
periódicos com textos completos, bases de dados referenciais com resumos, patentes, teses e dissertações,
estatísticas e outras publicações de acesso gratuito na Internet selecionados pelo nível acadêmico, mantidos
por importantes instituições científicas e profissionais e por organismos governamentais e internacionais. Das
bases citadas anteriormente, importantes para a Engenharia de Produção, estão disponíveis gratuitamente a
Science Direct, a SciElo e a Springer. Entretanto, poucas revistas contidas na base paga estão disponíveis na
versão gratuita do portal.
Figura 3.4 – Principais bases de dados do portal de periódicos Capes para a Engenharia de Produção
3.5.5. Livros
Os livros também são boas fontes de dados para a fundamentação teórica, apesar de não possuírem
um processo de avaliação, tais como para a publicação de artigos em periódicos ou congressos ou mesmo
teses e dissertações.
Dessa forma, pode-se dizer que um livro é uma boa referência se os principais pesquisadores do
tema citam o livro em seus trabalhos científicos. Os autores clássicos, responsáveis pela primeira publicação
sobre um dado tema (por exemplo, Taiichi Ohno para o Sistema Toyota de Produção, Joseph Juran para a
Gestão da Qualidade), também podem ser considerados livros de boa procedência e, desta forma, indicados
para inclusão na fundamentação teórica. Uma outra forma de saber se um livro é de boa qualidade é verificar
se o mesmo foi resultado de algum trabalho de mestrado ou doutorado. Sendo assim, recomenda-se que se
tome cuidado com os livros de autores ainda pouco conhecidos.
No caso dos livros, as bibliotecas ainda são a melhor fonte de busca. Entretanto, existe também uma
opção para o acesso aos livros, por meio do Google Livros (http://books.google.com.br). As buscas podem
ser feitas por palavras-chave, autores ou editoras, como mostra a figura 3.9. Um ponto negativo é que nem
todas as páginas podem ser visualizadas. Dessa forma, pode ocorrer do leitor não conseguir compreender
todo o assunto de um capítulo do livro, por exemplo.
pertinência do conteúdo veiculado. Por isso, não se pretende com esta classificação que é específica para o
processo de avaliação de cada área, definir qualidade de periódicos de forma absoluta.
O aplicativo que permite a classificação e consulta ao Qualis das áreas, bem como a divulgação dos
critérios utilizados para a classificação de periódicos é o WebQualis.
Para fazer parte do Qualis das Áreas, um periódico ou evento precisa ser citado pelos programas de
pós-graduação como veículo de divulgação de sua produção e, além disso, ser indicado pelas áreas para
figurar na sua Tabela de Referência. Para se conhecer a classificação dos periódicos das respectivas áreas
de avaliação (para a Engenharia de Produção a área é a Engenharia III), acesse o site do Webqualis da
Capes (http://servicos.capes.gov.br/webqualis/), como mostra a figura 3.10.
O fator de impacto (FI) de determinado periódico (vide tabela 3.4) é definido como a razão entre o
número de citações feitas no corrente ano a itens publicados neste periódico nos últimos dois anos e o
número de artigos (itens fonte) publicados nos mesmos dois anos pelo mesmo periódico.
Como resultado, o sistema apresenta os artigos mais citados para os critérios definidos no
mecanismo de busca. A figura 3.12 apresenta um exemplo para a palavra-chave “science park”. É importante
verificar se o modo como os resultados serão dispostos está em “times cited”, ou seja, pelo número de vezes
que o artigo já foi citado. Outro refinamento desejável é definir qual o tipo de documento deve aparecer na
listagem, como artigos, por exemplo (vide figura 3.12).
No exemplo da figura 3.12, inicialmente foram encontrados 173 resultados, entre artigos, resenha de
livros, editoriais, novidades e resumos. Com os refinamento de apenas incluir os artigos, o número de
resultados diminuiu para 74, como mostra a figura 3.13.
Figura 3.13 – Resultados com refinamento no mecanismo de busca do ISI Web of Knowledge
Como se pode ver na figura 3.13, os resultados mostram os artigos por ordem de maior número de
citações, indicando o título do trabalho, os autores, o nome dos periódicos e o número de vezes que o artigo
já foi citado. Se a instituição que o pesquisador possuir assinatura do Portal Periódicos da Capes, ao clicar no
botão “Full Text” é possível acessar a verão eletrônica dos documentos.
Se o pesquisador clicar no link “Create Citation Report”, no canto superior direito da página, é
informado ao mesmo um relatório indicando, graficamente, o número de publicações com a palavra-chave
dos últimos 20 anos e o número de citações anuais. Além disso, o relatório apresenta a média de citações por
ano de cada um dos 74 resultados, como ilustra a figura 3.14.
Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Itajubá - UNIFEI Página 45
Metodologia de Pesquisa em Engenharia de Produção
Estratégias, métodos e técnicas para condução de pesquisas quantitativas e qualitativas
Se na tela da figura 3.13, ao invés do pesquisar clicar no link “Create Citation Report”, no canto
superior direito da página, e sim no “Analyse Results”, abrirá uma nova página onde o pesquisador pode
analisar os resultados encontrados em termos de: autoria, país, agência de fomento, valor do apoio
financeiro, tipo de documento, nome da instituição, língua, ano de publicação, periódico e área de interesse. A
figura 3.15 apresenta as telas de pesquisa para autoria, nome da instituição, periódico e área de interesse.
No site ISI Web of Knowledge, precisa ser escolhida a aba para fazer pesquisa somente na Web of
Science, como mostra a figura 3.17.
No campo “Search for” coloca-se o termo (em inglês) que se quer buscar. No caso desse exemplo,
utilizar-se-á o termo “quality” para uma busca em tópicos (“topic”). Há outras opções que podem ser utilizadas
como, por exemplo, a busca do termo no título dos artigos (“title”); pode haver, também, uma limitação por
ano. Essa definição sobre como fazer a busca é decidida pelo pesquisador, conforme sua necessidade (vide
figura 3.18).
Depois que a busca foi realizada, é interessante refiná-la, uma vez que, dependendo do termo
utilizado, podem surgir artigos não relacionados com a busca desejada pelo pesquisador. Isso pode ser feito
pelo tipo de documento (“document types”) e/ou área temática (“subject areas”). No caso do exemplo utilizado
para fazer a busca, refinou-se a busca por somente artigos (“articles”) em tipo de documento e pela área
“operations research & management science” (vide figura 3.19).
Refinou-se por somente artigos no tipo de documentos, no exemplo apresentado. E para fazer o
refinamento por área clicou-se na opção “more options”, como mostra a figura 3.20.
Para facilitar a visualização das áreas, pode-se ordená-las alfabeticamente, como mostra a figura
3.21.
Após selecionada a área temática, escolhe-se a área desejada para refinar e clica-se no botão
“refine”, como mostra a figura 3.22.
Em seguida, pode-se escolher a opção de visualização dos artigos por ordem de citação, como
mostra a figura 3.23. Assim, os dez artigos mais citados apareceram na primeira página.
Agora na parte superior da tela aparece uma aba denominada de lista selecionada (“Marked List”),
como mostra a figura 3.25. Clica-se no link da lista selecionada para poder salvá-la.
Pode-se selecionar todas as opções ou campos disponíveis dos artigos, como foi feito no nosso
exemplo, mostrado na figura 3.26. Depois, clica-se no botão salvar em arquivo (“Save to File”)
Na tela seguinte, após o clique em “save to file”, pode-se clicar na parte superior da tela ou no botão
salvar (Save) para salvar (habilitar download) o arquivo, como mostra a figura 3.27.
Uma caixa de diálogo se abre para escolher o local para salvar o arquivo. Como sugestão, é
interessante salvar o arquivo na mesma pasta onde está instalado o programa Sitkis (vide figura 3.27).
Coloque o nome no arquivo que desejar e a extensão do mesmo precisa ser TXT (.txt).
À partir deste momento, começa-se a utilizar os dois softwares que auxiliam na análise bibliométrica,
o Sitkis e o UCINET.
Primeiro, precisa-se abrir a pasta onde foi descompactado o arquivo sitkis.zip, que contém o
programa. O Sitkis trabalha com a utilização de um banco de dados do MS Access. Uma vez alterado esse
banco de dados, não é possível fazer com que ele volte ao seu estado original. Assim, quando entrar com os
dados de uma busca sobre “quality”, por exemplo, e depois com os dados de outra busca, tal como “project
management”, por exemplo, as duas informações ficarão misturadas no banco de dados. Isso faz com que a
análise bibliométrica não funcione corretamente.
Para evitar que esse fato ocorra, é interessante criar uma cópia de segurança do arquivo de banco de
dados. Veja que na tela da figura 3.28 há um arquivo chamado cópia de citations_db.mdb. Esse arquivo é
uma cópia de segurança. Essa medida faz com que quando se realizar uma busca, por exemplo, com o termo
“quality”, as informações serão salvas no banco de dados citations_db e quando for realizar uma outra busca,
deve-se renomear esse arquivo com um nome diferente. Utilizando-se a cópia de segurança, cria-se
novamente o arquivo citations_db de modo que o mesmo fique como se fosse original (sem informações
salvas no banco de dados). No diretório do Sitkis existem também outros arquivos, tal como o Manual e o
Guia, que merecem ser lidos. Posteriormente, abre-se o Sitkis utilizando o arquivo sitkis.bat.
O primeiro passo após abrir o Sitkis é fazer a importação dos dados que foram salvos em um arquivo
em formato texto (.txt). Para isso, deve-se ir ao menu “file” e na opção “import”, como mostra a figura 3.30.
Após clicar em “import”, abre-se uma caixa de diálogo onde pode ser localizado o arquivo a ser
aberto (importado). Localiza-se o arquivo que foi salvo pela página da ISI Web of Science e clica-se no botão
“Open” para importar os dados do arquivo, como ilustra a figura 3.31.
A figura 3.32 mostra que a tela do Sitkis apresenta os 10 artigos foram importados.
Primeiramente, vamos trabalhar com a parte de referências dos artigos. Para isso, precisa-se
exportar para um arquivo as informações sobre as referências que estão salvas no banco de dados. No menu
“Citations” e na opção “Articles to References (2d)” pode-se exportar tais informações, como mostra a figura
3.33.
Em seguida, abre-se uma tela onde se pode escolher a quantidade mínima e máxima que uma
referência irá aparecer, o menor e maior ano de referência. Escolhe-se um local para salvar essas
informações (que pode ser feito através do botão “Browse”) e coloca-se um nome com a extensão .txt (no
caso do exemplo utilizando nomeou-se 2d_qualidade.txt. Depois, clica-se no botão “Export”, como ilustra a
figura 3.34.
O arquivo é salvo na mesma pasta onde o programa sitkis foi instalado, como mostra a figura 3.35.
Uma vez salvo, este arquivo agora deve ser importado para o UCINET. Para isso abra o UCINET,
utilizando o atalho Ucinet 6 for Windows, ilustrado na figura 3.36.
Para importar o arquivo gerado pelo Sitkis, no menu “Data”, selecione a opção “Import text file” e
depois “DL...”, ilustrada na figura 3.38.
Abrir-se-á uma tela onde será possível selecionar o arquivo gerado. Para abrir a caixa de diálogo
para selecionar o arquivo, clique no botão que contém três pontos (...), como ilustra a figura 3.39.
Seleciona-se o arquivo gerado pelo Sitkis e clica-se em abrir, como mostra a figura 3.40.
A tela ilustrada na figura 3.39 mostra agora o arquivo selecionado. Agora é só clicar em ok (vide
figura 3.41.
A figura 3.42 mostra que dois arquivos foram criados na pasta onde o arquivo texto (que foi gerado
pelo Sitkis) foi importado no UCINET. Tem-se um arquivo com a extensão ##d e outro ##h.
Figura 3.42 – Diretório onde os arquivos gerados pelo UCINET foram salvos
Como se trata de referências, o arquivo gerado apresentará uma matriz que terá os dez artigos
selecionados na busca feita no site ISI Web of Science (nas linhas) e todas as referências dos dez artigos,
sendo cada referência uma coluna. Assim, facilita trabalhar em forma de tabelas. Para trabalhar dessa forma
utilize o botão “Matrix editor”, ilustrado na figura 3.43.
Na tela do editor de matrizes, mostrado na figura 3.43, abre-se o arquivo (com extensão ##h) gerado
pelo UCINET. Seleciona-se o arquivo e clica-se em abrir.
Note, na figura 4.44, que a tabela possui 10 linhas e 326 colunas. Essa tabela pode ser selecionada,
copiada e colada no MS Excel, que é um programa mais fácil para se trabalhar com tabelas. Com essa tabela
pode-se descobrir quais são as referências mais citadas nos dez artigos selecionados com a busca feita no
site ISI Web of Science.
É possível verificar quais são as palavras-chave mais utilizadas nos artigos selecionados. Para isso,
utiliza-se o programa Sitkis. No menu “Articles”, selecione a opção “Keyword relatedness”, como ilustra a
figura 4.45.
A tela que se abre oferece a opção de colocar um número mínimo que uma palavra-chave precisa
aparecer, o ano mínimo e o ano máximo em relação aos artigos selecionados na busca feita no site ISI Web
of Science. Depois dá-se um nome ao arquivo e salva-o em formato texto (.txt). O local onde o arquivo será
salvo pode ser escolhido pelo botão “Browse”. Depois de todas as opções forem estabelecidas, clica-se no
botão “Export”, como ilustra a figura 4.46.
O Sitkis gera um novo arquivo texto (no caso do exemplo utilizado, o arquivo gerado foi o
kw_qualidade.txt), como ilustra a figura 4.47. Agora este arquivo pode ser importado no UCINET.
Como as palavras-chave, também, são trabalhas em forma de tabela, utilizam-se os mesmos passos
que foram utilizados para analisar as referências.
Por fim, pode-se fazer uma rede de cocitações. Para isso utiliza-se o programa Sitkis. Nele utiliza-se
o menu “Citations” e a opção “Co-Citation Network”, como ilustra a figura 4.48.
Assim, como em outras janelas similares, abre-se uma caixa de diálogo (vide figura 4.49) que contém
opções de número mínimo de referências, número mínimo de citações de artigos, menor e maior ano dos
artigos selecionados com a busca feita no site da ISI Web of Science. Depois de todas as opções escolhidas
coloque o nome do arquivo no formato texto (.txt) e o local a ser salvo pode ser escolhido pelo botão Browse.
Depois clique no botão Export para gerar o arquivo.
Um novo arquivo é criado e colocado na pasta selecionada, como mostra o destaque da figura 4.50.
A importação no programa UCINET é feita da mesma forma que foi feita para as outras análises
(tanto a de referências como a de palavras-chave). É mais interessante na análise de cocitações a
visualização em forma de uma rede. Para tanto pode-se utilizar o NetDraw do UCINET para criar a rede (em
destaque na figura 4.51). Para isso, primeiro é necessário que o arquivo texto seja importado no UCINET
para a criação dos arquivos ##d e ##h. Depois clica-se no botão “NetDraw”.
No NetDraw é necessário abrir o arquivo ##h. Para isso, clica-se no botão abrir (em destaque na
figura 4.52).
O NetDraw do UCINET cria uma rede que mostra os autores que são cocitados de acordo com a
análise dos dez artigos selecionados na busca feita no site da ISI Web of Science (conforme nosso exemplo).
A rede pode ser trabalhada, de modo que haja mudança de cor, tamanho e formato dos autores.
Assim, o pesquisador fica com um conjunto de ferramentas para auxiliá-lo no processo de revisão de
literatura, onde o mesmo pode se certificar de quais são os principais autores dentro de sua área, dessa
forma justificando a seleção dos trabalhos a serem utilizados.
Exercícios do Capítulo 3
3.1) Consulte no ISI Web of Knowledge e indique quais são os cinco artigos mais citados para as palavras-
chave escolhidas para o seu tema de pesquisa.
3.2) Consultar as bases bibliográficas, fazer buscas de acordo com as palavras-chaves ou autor e selecionar
para a sua fundamentação teórica, no mínimo:
• 10 (dez) artigos nacionais e/ou internacionais de periódicos indexados (para a entrega deste
exercício, para cada trabalho selecionado indicar o título do trabalho, título da
revista/editora/instituição, volume e número da revista, local (congressos) e ano de publicação;
• 02 (duas) teses de doutorado de instituições nacionais ou internacionais;
• 02 (duas) dissertações de mestrado de instituições nacionais ou internacionais;
• 05 (cinco) artigos de congressos nacionais ou internacionais;
• 02 (dois) livros.
3.3) Qual a classificação dos artigos que você selecionou no Qualis e/ou o Fator de Impacto?
3.4) Quais dos artigos nacionais são de autoria de pesquisadores ligados aos grupos de pesquisa que você
identificou no exercício do capítulo 1? A que grupo pertencem? De qual instituição?
CAPÍTULO 4
Processo de pesquisa
4.1. A natureza da pesquisa organizacional
Segundo Bryman (1989), uma grande parte da pesquisa organizacional pode ser descrita como
possuidora de muitas características da “pesquisa quantitativa”. A essência desse modelo do processo de
pesquisa se aproxima muito de uma abordagem “científica” para conduzir essa pesquisa. Um termo como
“científico” é inevitavelmente vago e discutível, mas na cabeça de muitos pesquisadores e autores em
metodologia ele requer um compromisso com uma abordagem sistemática para as investigações, onde a
coleta de dados e sua análise detalhada em relação ao problema de pesquisa previamente formulado são
ingredientes mínimos. Uma forma de construir este processo de pesquisa é apresentada na figura 4.1, que
contém os elementos chave tipicamente delineados por autores de metodologia de pesquisa em ciências
sociais.
De acordo com este modelo, o ponto de partida para o estudo é a teoria sobre algum aspecto do
funcionamento organizacional. Uma teoria requer uma tentativa de formular uma explicação sobre alguma
faceta da realidade, tal como por que algumas pessoas desfrutam de seu trabalho e outras não, ou por que
algumas organizações são burocráticas e outras não. A partir desta teoria, uma hipótese específica (ou
hipóteses) é formulada para ser testada. Esta hipótese não só permite um teste (embora possivelmente um
teste parcial) da teoria em questão, mas os resultados do teste, independente de que as descobertas a
sustentam ou não, realimentam nosso estoque de conhecimento a respeito do fenômeno que está sendo
estudado. É a geração de dados para testar a hipótese que em muitos aspectos constitui o ponto crucial do
processo de pesquisa quantitativa, refletindo a crença na primazia da coleta de dados sistemática no
Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Itajubá - UNIFEI Página 69
Metodologia de Pesquisa
Estratégias, métodos e técnicas para pesquisa científica em engenharia de produção
empreendimento científico. Esta orientação geral para o processo de pesquisa produziu um número de
preocupações que serão posteriormente discutidas.
Primeiramente, as hipóteses contêm conceitos que necessitam ser medidos para que elas sejam
sistematicamente testadas. Uma teoria pode levar a uma hipótese na qual “o tamanho e o nível de burocracia
de uma organização se relacionam positivamente”. Para testar esta hipótese será necessário fornecer
medidas dos dois conceitos constituintes da hipótese: tamanho e burocratização organizacional. O processo
de traduzir conceitos em medidas é frequentemente denominado pelos autores de operacionalização, e
muitos pesquisadores organizacionais referem-se a ele nas publicações de suas investigações como
definições operacionais (a especificação dos passos a serem usados na medição dos conceitos sob
consideração). Essas medidas são tratadas como variáveis, ou seja, atributos nos quais pessoas,
organizações ou qualquer outra coisa exibem variabilidade.
No exemplo, o tamanho organizacional é frequentemente operacionalizado pelo número de
empregados de uma amostra de organizações e é uma variável no sentido de que as organizações variam
consideravelmente em respeito a este conceito e suas medidas associadas. É sabido que a medida é uma
representação relativamente imperfeita do conceito ao qual está associada, desde que qualquer conceito
pode ser medido de diferentes formas, cada uma delas com suas próprias limitações. Ao usar o número de
empregados como uma medida do tamanho organizacional, por exemplo, um pesquisador pode falhar ao
considerar outros aspectos deste conceito que poderiam ser empregados por outras medidas tais como
rotatividade, ativos, etc. Devido a centralização do processo de medição do empreendimento da pesquisa
quantitativa, uma atenção considerável tende a ser concedida para o refinamento das definições
operacionais.
Uma segunda preocupação é com a demonstração de causalidade, ou seja, mostrar como as coisas
vêm a ser da forma como elas são. Muitas hipóteses contêm declarações implícitas ou explícitas sobre
causas e efeitos e a pesquisa resultante é frequentemente empreendida para demonstrar a validade dos
palpites sobre a causalidade. Esta preocupação com a demonstração dos efeitos causais é frequentemente
refletida na vasta utilização dos termos variável dependente e variável independente na pesquisa quantitativa
organizacional.
Uma terceira preocupação é com a generalização, ou seja, a perseguição das descobertas que
podem ser generalizadas além dos confins de uma investigação específica. Finalmente, a pesquisa
quantitativa expõe uma preocupação que as investigações deveriam ser capazes de ser replicadas. Isso
significa que seria possível a um pesquisador empregar os mesmos procedimentos tais como aqueles
utilizados por outro estudo para verificar a validade da investigação inicial. A replicação pode atuar como uma
verificação para estabelecer se um conjunto de descobertas pode ser repetido em outro ambiente.
Para que se não cometam equívocos facilmente evitáveis, impõem-se três etapas que orientam o
trabalho de indução:
a) Certificar-se de que é verdadeiramente essencial a relação que se pretende generalizar, evitando a
confusão entre o acidental e o essencial;
b) Assegurar-se de que sejam idênticos os fenômenos ou fatos dos quais se pretende generalizar uma
relação, evitando aproximações entre fenômenos e fatos diferentes, cuja semelhança é acidental.
Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Itajubá - UNIFEI Página 71
Metodologia de Pesquisa
Estratégias, métodos e técnicas para pesquisa científica em engenharia de produção
c) Não perder de vista o aspecto quantitativo dos fatos ou fenômenos. Impõe-se esta regra já que a ciência
é primordialmente quantitativa, motivo pelo qual é possível um tratamento objetivo, matemático e
estatístico.
Na engenharia de produção, a abordagem indutiva é a mais utilizada, com ilustra a figura 4.3.
Dedutivo: Indutivo:
Todo mamífero tem um coração. Todos os cães que foram observados tinham um coração.
Ora, todos os cães são mamíferos. Logo, todos os cães têm um coração.
Logo, todos os cães têm um coração.
As duas características básicas que distinguem os argumentos dedutivos dos indutivos são
apresentadas no quadro 4.1.
Para a característica I, no argumento dedutivo, para que a conclusão “todos os cães têm um
coração” fosse falsa, uma das ou as duas premissas teriam de ser falsas: ou nem todos os cães são
mamíferos ou nem todos os mamíferos têm um coração. Por outro lado, no argumento indutivo é possível que
a premissa seja verdadeira e a conclusão falsa: o fato de não ter, até o presente, encontrado um cão sem
coração, não é garantia de que todos os cães têm um coração.
Para a característica II, quando a conclusão do argumento dedutivo afirma que todos os cães têm
um coração, está dizendo alguma coisa que, na verdade, já tinha sido dita nas premissas; portanto, como
todo argumento dedutivo, reformula ou enuncia de modo explícito a informação já contida nas premissas.
Dessa forma, se a conclusão, a rigor, não diz mais que as premissas, ela tem de ser verdadeira se as
premissas o forem. Por sua vez, no argumento, indutivo, a premissa refere-se apenas aos cães já
observados, ao passo que a conclusão diz respeito a cães ainda não observados; portanto, a conclusão
enuncia algo não contido nas premissas. É por este motivo que a conclusão pode ser falsa, pois pode ser
falso o conteúdo adicional que encerra, mesmo que a premissa seja verdadeira.
Os dois tipos de argumentos têm finalidades diversas. O dedutivo tem o propósito de explicar o
conteúdo das premissas e o indutivo tem o desígnio de ampliar o alcance dos conhecimentos. Analisando
isso sobre outro enfoque, pode-se dizer que os argumentos dedutivos ou estão corretos ou incorretos, ou as
premissas sustentam de modo completo a conclusão ou, quando a forma é logicamente incorreta, não a
sustentam de forma alguma; portanto, não há graduações intermediárias. Contrariamente, os argumentos
indutivos admitem diferentes graus de força, dependendo da capacidade das premissas de sustentarem a
conclusão. Resumindo, os argumentos indutivos aumentam o conteúdo das premissas, com sacrifício da
precisão, ao passo que os argumentos dedutivos sacrificam a ampliação do conteúdo para atingir a “certeza”.
Os exemplos inicialmente citados mostram as características e a diferença entre os argumentos
dedutivos e indutivos, mas não expressam sua real importância para a ciência.
A relação entre a evidência observacional e a generalização científica é do tipo indutivo. As várias
observações destinadas a determinar a posição do planeta Marte serviram de evidência para a primeira lei de
Kepler, segundo a qual a órbita de Marte é elíptica. A lei refere-se a posição do planeta, observada ou não,
isto é, o movimento passado era elíptico, o futuro também o será, assim como o é quando o planeta não pode
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Metodologia de Pesquisa
Estratégias, métodos e técnicas para pesquisa científica em engenharia de produção
ser observado, em decorrência de condições atmosféricas adversas. A lei (conclusão) tem conteúdo muito
mais amplo do que as premissas (enunciados que descrevem as posições observadas).
Por sua vez, os argumentos matemáticos são dedutivos. Na geometria euclidiana do plano, os
teoremas são todos demonstrados a partir de axiomas e postulados; apesar do conteúdo dos teoremas já
estar fixado neles, esse conteúdo está longe de ser óbvio.
A construção de uma boa teoria deveria enfatizar, de acordo com Weick (1989), o papel da
imaginação, da representação e do pensamento especulativo. Dada a complexidade do processo, este autor
advoga a necessidade de teorias de médio alcance e o uso de metáforas (figura de linguagem). Segundo ele,
quando os pesquisadores elaboram uma teoria, eles projetam, conduzem e interpretam experimentos
imaginários. Este processo assemelha-se aos três elementos do processo de seleção: variação, seleção e
retenção. Como é o pesquisador, e não a natureza, que conduz o processo, este pode ser qualificado de
seleção artificial. A qualidade da teoria resultante é função:
• da precisão e grau de detalhe presente na elaboração do problema;
• do número e independência das conjecturas que tentam resolver a questão;
• do número e diversidade de critérios de seleção usados para testar as conjecturas.
Definir critérios capazes de separar teorias fortes de teorias fracas não é fácil. Por outro lado, dizer o
que não representa uma contribuição teórica é mais simples e constitui de fato uma contribuição, pois ajuda a
delinear o que não é teoria. Sutton e Staw (1995) tratam justamente dos ingredientes de uma contribuição
teórica que não constituem por si teoria:
• Referências não constituem teoria: muitos pesquisadores usam uma profusão de referências para
ocultar falta de teoria ou para exibir seu conhecimento em um determinado campo. Uma simples lista de
referências não constitui teoria. O autor deve citar as referências que contenham as raízes do seu
argumento. As relações lógicas entre os argumentos dos predecessores e os seus próprios devem ser
identificadas;
• Dados não constituem teoria: grande parte dos trabalhos na área são empíricos, baseiam-se em dados.
Os dados sustentam a teoria e não a substituem. Dados descrevem padrões empíricos, a teoria explica
porque os padrões foram observados e como devem se comportar;
• Lista de variáveis ou construtos (definição conceitual de uma variável) não constitui teoria: muitas
contribuições teóricas são, na verdade, listas de definições e conceitos, como um dicionário de uma
linguagem que não trabalha com sentenças. Isso também não constitui teoria;
• Diagramas não constituem teorias: figuras e diagramas são recursos valiosos para transmitir idéias e
conceitos complexos. Mas, por eles mesmos, não constituem teoria;
• Hipóteses ou predições não constituem teoria: na construção de um argumento complexo, as
hipóteses têm um papel importante: servem como ponte entre teoria e dados. Mas, hipóteses tratam do
que ocorre e não do como ocorre. Hipóteses e predições apresentadas sem as respectivas relações
causais não constituem teoria.
Entretanto, uma questão vem à tona. Que critérios genéricos poderiam ser empregados para se julgar
uma contribuição científica? Whetten (1989) aborda a questão dos critérios a serem adotados para julgar uma
contribuição teórica. Assim, um trabalho científico digno de publicação deveria responder satisfatoriamente a
oito questões:
• O que há de novo? O trabalho faz uma contribuição representativa ao estado da arte no campo?
• E daí? O trabalho mudará a prática da ciência organizacional na área?
• Por que desta forma? A lógica e as evidências apresentadas são convincentes? Os pressupostos estão
explícitos? Os pontos de vistas são convincentes?
• Foi bem realizado? A revisão teórica foi bem conduzida? Os métodos utilizados são os mais adequados?
• O trabalho reflete amplitude e profundidade? Os múltiplos elementos teóricos são bem cobertos?
• Foi realizado com esmero? O trabalho está bem escrito e flui logicamente? As idéias centrais são
claramente colocadas? A leitura é agradável?
• Por que agora? O tópico tratado é de interesse atual para os pesquisadores na área? O trabalho
estimulará discussões em torno do tema tratado?
• A quem interessa? Uma percentagem significativa de acadêmicos estará interessada no tema?
a) Variável genérica: típica em pesquisas descritivas, é a variável que serve apenas a uma função
descritiva, ou seja, uma variável que será coletada por meio de um instrumento qualquer e que será
meramente objeto de uma análise estatística descritiva. Por exemplo, em uma pesquisa cuja finalidade
seja levantar as características demográficas dos alunos do ensino fundamental de determinada região
de uma cidade, pode-se coletar as variáveis genéricas sexo, idade, renda familiar, grau de escolaridade
dos pais, etc. Ao final do estudo, realiza-se um resumo desses dados por meio da estatística descritiva
(médias, desvios, freqüências, gráficos visualizadores, etc.) (APPOLINÁRIO, 2006);
b) Variável independente: é aquela que influencia, determina ou afeta outra variável. É fator determinante,
condição ou causa para determinado resultado, efeito ou conseqüência. É o fator manipulado
(geralmente) pelo pesquisador, na sua tentativa de assegurar a relação do fator com um fenômeno
observado ou a ser descoberto, para ver que influência exerce sobre um possível resultado. Por exemplo,
em uma pesquisa médica, deseja-se averiguar o efeito de um medicamento experimental sobre
determinada doença. Alguns pacientes receberão um placebo (medicamento sem efeito) e outros a droga
experimental, enquanto se monitora o que ocorre com a saúde desses pacientes. A variável
independente neste exemplo é o “tipo de droga administrada” (placebo ou droga experimental)
(MARCONI e LAKATOS, 2006; APPOLINÁRIO, 2006);
c) Variável dependente: consiste naqueles valores (fenômenos, fatores) a serem explicados ou
descobertos, em virtude de serem influenciados, determinados ou afetados pela variável independente. É
o fator que aparece, desaparece ou varia à medida que o pesquisador introduz, tira ou modifica a variável
independente. A propriedade ou fator que é efeito, resultado, conseqüência ou resposta a algo que foi
manipulado (variável independente). No exemplo anterior, podemos ter diversas variáveis dependentes,
tais como a pressão arterial, a freqüência cardíaca, o nível de glicose no sangue, etc. (MARCONI e
LAKATOS, 2006; APPOLINÁRIO, 2006).
4.5. Hipóteses
Marconi e Lakatos (2006) consideram a hipótese como um enunciado geral de relações entre
variáveis (fatos, fenômenos):
a) Formulado como solução provisória para um determinado problema;
b) Apresentando caráter ou explicativo ou preditivo;
c) Compatível com o conhecimento científico (coerência externa) e revelando consistência lógica (coerência
interna);
d) Sendo passível de verificação empírica em suas conseqüências.
Há várias maneiras de se formular hipóteses, sendo que a mais comum é “se x, então y”, onde x e y
são variáveis ligadas entre si pelas palavras “se” e “então”. Se as hipóteses são colocações conjecturais da
relação entre duas ou mais variáveis (denominada de condição No. 1), devem conduzir a implicações claras
para o teste da relação colocada, isto é, as variáveis devem ser passíveis de mensuração ou potencialmente
mensuráveis (condição No. 2), especificando, a hipótese, como estas variáveis estão relacionadas. Uma
formulação que seja falha em relação a estas características (ou a uma delas) não é uma hipótese (no
sentido científico da palavra).
As hipóteses são importantes em um trabalho científico, pois:
• São instrumentos de trabalho da teoria, pois novas hipóteses podem dela ser deduzidas;
• Podem ser testadas e julgadas como provavelmente verdadeiras ou falsas;
• Constituem instrumentos poderosos para o avanço da ciência, pois sua comprovação requer que se
tornem independentes dos valores e opiniões dos indivíduos;
• Dirigem a investigação, indicando ao investigador o que procurar ou pesquisar;
• Pelo fato de serem comumente formulações relacionais gerais, permitem ao pesquisador deduzir
manifestações empíricas específicas, com elas correlacionadas;
• Desenvolvem o conhecimento científico, auxiliando o investigador a confirmar (ou não) sua teoria, pois
incorporam a teoria (ou parte dela) em forma testável ou quase testável.
4.7.4. Fidedignidade
Os resultados de uma pesquisa fidedigna são replicáveis: as conclusões podem ser generalizadas
para além das condições específicas da pesquisa original. Para demonstrar que a pesquisa é fidedigna,
precisa-se demonstrar que ela pode ser repetida ou replicada. Contudo, os pesquisadores raramente são
recompensados por simplesmente repetir uma pesquisa, seja sua ou de outro autor. Replicações fiéis são
menos criativas e interessantes que novas descobertas; consequentemente os pesquisadores acham difícil
publicar ou receber reconhecimento por trabalhos que replicam uma pesquisa anterior.
Quanto menos uma pesquisa parecer mera repetição ou réplica exata de um trabalho anterior, mais
interessante ser tornará. A pesquisa que repete idéias ou conceitos, ao invés de detalhes de procedimentos
de estudos anteriores, serve a dois propósitos: fornece algumas descobertas novas sobre um outro conjunto
de eventos e permite uma replicação conceitual de idéias anteriores.
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Metodologia de Pesquisa
Estratégias, métodos e técnicas para pesquisa científica em engenharia de produção
Replicar um resultado em uma situação diferente e com diferentes procedimentos é o mesmo que
demonstrar que a pesquisa tem validade externa e pode ser generalizada para diferentes pessoas, lugares e
condições. Replicações exatas de procedimentos e resultados demonstram que os resultados são fidedignos.
Replicações conceituais de idéias e conclusões demonstram que a pesquisa tem validade externa.
Quanto a sua natureza, a pesquisa pode ser classificada em pesquisa básica ou aplicada.
A pesquisa básica é aquela que procura o progresso científico, a ampliação de conhecimentos
teóricos, sem a preocupação de utilizá-los na prática. É a pesquisa formal, tendo em vista generalizações,
princípios, leis. Tem por meta o conhecimento pelo conhecimento.
A pesquisa aplicada caracteriza-se por seu interesse prático, isto é, que os resultados sejam
aplicados ou utilizados imediatamente na solução de problemas que ocorrem na realidade. Segundo
Appolinário (2006), a pesquisa básica estaria mais ligada ao incremento do conhecimento científico, sem
objetivos comerciais, ao passo que a pesquisa aplicada seria suscitada por objetivos comerciais através do
desenvolvimento de novos processos ou produtos orientados para as necessidades do mercado.
Quanto aos seus objetivos, a pesquisa pode ser classificada em exploratória, descritiva, explicativa
e normativa.
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Metodologia de Pesquisa
Estratégias, métodos e técnicas para pesquisa científica em engenharia de produção
A pesquisa exploratória visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo
explícito ou a construir hipóteses. Envolve levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram
experiências práticas com o problema pesquisado; análise de exemplos que estimulem a compreensão.
A pesquisa descritiva “delineia o que é” e visa descrever as características de determinada
população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Envolve o uso de técnicas
padronizadas de coleta dados: questionário e observação sistemática.
A pesquisa explicativa visa identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência
dos fenômenos. Aprofunda o conhecimento da realidade porque explica a razão, o “porquê” das coisas.
Quando realizada nas ciências naturais, requer o uso do método experimental, e nas ciências sociais requer o
uso do método observacional.
A pesquisa normativa está primariamente interessada no desenvolvimento de políticas, estratégias
e ações para aperfeiçoar os resultados disponíveis na literatura existente, para encontrar uma solução ótima
para novas definições de problemas ou para comparar várias estratégias relativas a um problema específico
(BERTRAND e FRANSOO, 2002).
Quanto a forma de abordar o problema, a pesquisa pode ser classificada em quantitativa,
qualitativa e combinada.
A pesquisa quantitativa considera que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir em
números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. Requer o uso de recursos e de técnicas
estatísticas (percentagem, média, moda, mediana, desvio padrão, coeficiente de correlação, análise de
regressão, etc.).
A pesquisa qualitativa considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é,
um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em
números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa
qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para
coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar
seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem.
A pesquisa combinada considera que o pesquisador pode combinar aspectos das pesquisas
qualitativas e quantitativas em todos ou em algumas das etapas do processo de pesquisa.
Do ponto de vista dos métodos, a pesquisa pode ser feita através de experimentos, levantamentos
ou surveys, modelagem e simulação, estudos de caso, pesquisa-ação e soft system methodology (SSM).
O experimento é empregado quando se determina um objeto de estudo, selecionam-se as variáveis
que seriam capazes de influenciá-lo, definem-se as formas de controle e de observação dos efeitos que a
variável produz no objeto.
A pesquisa levantamento ou survey é empregada quando a pesquisa envolve a interrogação direta
das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer.
A modelagem e simulação é empregada quando se deseja experimentar, através de um modelo,
um sistema real, determinando-se como este sistema responderá a modificações que lhe são propostas
O estudo de caso envolve o estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de maneira que
se permita o seu amplo e detalhado conhecimento.
A pesquisa-ação é utilizada quando concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou
com a resolução de um problema coletivo. Os pesquisadores e participantes representativos da situação ou
do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.
4.9.1. Questionários
De acordo com Marconi e Lakatos (2006), o questionário é um instrumento de coleta de dados,
constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença
do entrevistador. Em geral, o pesquisador envia o questionário ao informante, pelo correio, por um portador
ou por e-mail; depois de preenchido, o pesquisado devolve-o do mesmo modo.
Junto com o questionário deve-se enviar uma nota ou carta explicando a natureza da pesquisa, sua
importância e a necessidade de obter respostas, tentando despertar o interesse do recebedor, no sentido de
que ele preencha e devolva o questionário dentro de um prazo razoável. Em média, os questionários
expedidos pelo pesquisador alcançam 25% de devolução.
A elaboração de um questionário requer a observância de normas precisas, a fim de aumentar sua
eficácia e validade. O pesquisador deve conhecer bem o assunto para poder dividi-lo, organizando uma lista
de 10 a 12 temas e, em cada um deles, extrair duas ou três perguntas. O processo de elaboração é longo e
complexo, exigindo cuidado na seleção das questões, levando em consideração a sua importância, isto é, se
oferece condições para a obtenção de informações válidas. Os temas escolhidos devem estar de acordo com
os objetivos geral e específico.
O questionário deve ser limitado em extensão e em finalidade. Se for muito longo, causa fadiga e
desinteresse; se for curto demais, corre o risco de não oferecer suficientes informações. Deve conter de 20 a
30 perguntas e demorar por volta de (no máximo) 20 minutos para ser respondido. Ele deve ser
acompanhado por instruções definidas e notas explicativas, para que o informante tome ciência do que se
deseja dele. O aspecto material e a estética também devem ser observados: tamanho, facilidade de
manipulação, espaço suficiente para as respostas, a disposição dos itens, de forma a facilitar a computação
dos dados.
Depois de redigido, o questionário precisa ser testado antes de sua utilização definitiva, aplicando-se
alguns exemplares em uma pequena população escolhida. Esse procedimento é chamado de pré-teste ou
teste piloto.
A análise dos dados, após a tabulação, evidenciará possíveis falhas existentes: inconsistência ou
complexidade das questões; ambigüidade ou linguagem inacessível; perguntas supérfluas ou que causam
embaraço ao informante; se as questões obedecem a determinada ordem ou se são muito numerosas, etc.
Na construção de um formulário (roteiro de entrevista) deve haver espaço suficiente para a redação
das respostas e as formas de registro escolhidas para assinalar as respostas (traço, círculo, quadrado,
parêntesis, etc.) devem permanecer sempre as mesmas em todo o instrumento. A redação simples, clara e
concisa é ideal. Itens em demasia devem ser evitados; a estética e o espaçamento entre linhas também
devem ser observados.
Os principais pontos fortes do emprego dos formulários são:
• Pode ser utilizado em quase todo o segmento da população (alfabetizados, analfabetos, etc.) porque seu
preenchimento é feito pelo entrevistador;
• A presença do pesquisador permite a explicação dos objetivos da pesquisa, orientação quanto ao
preenchimento do formulário e elucidação do significado de algumas perguntas que não estejam muito
claras;
• Flexibilidade para adaptar-se às necessidades de cada situação, podendo o entrevistador reformular itens
ou ajustar o formulário à compreensão de cada informante;
• Obtenção de dados mais complexos e úteis;
• Facilidade na aquisição de um número representativo de informantes, em determinado grupo.
4.9.3. Entrevista
Segundo Marconi e Lakatos (2006), a entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma
delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza
profissional. É um procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados ou para ajudar no
diagnóstico ou no tratamento de um problema social.
Trata-se de uma conversação face a face, de maneira metódica, proporcionando ao entrevistado, de
forma verbal, as informações necessárias.
A entrevista tem por objetivo principal a obtenção de informações do entrevistado, sobre determinado
assunto ou problema. Existem diferentes tipos de entrevistas, que variam de acordo com o propósito do
pesquisador:
a) Estruturada: é aquela em que o entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido. As perguntas
feitas ao entrevistado são predeterminadas. Ela se realiza de acordo com um formulário (roteiro)
elaborado e é efetuada de preferência com pessoas selecionadas de acordo com um plano. O motivo da
padronização é obter, dos entrevistados, respostas às mesmas perguntas, permitindo que todas elas
sejam comparadas com o mesmo conjunto de perguntas, e que as diferenças devem refletir diferenças
entre os respondentes e não diferenças nas perguntas. O pesquisador não é livre para adaptar suas
perguntas a determinada situação, de alterar a ordem dos tópicos ou de fazer outras perguntas.
b) Não-estruturada: o entrevistador tem liberdade para desenvolver cada situação em qualquer direção que
considere adequada. É uma forma de poder explorar mais amplamente uma questão. Em geral, as
perguntas são abertas e podem ser respondidas dentro de uma conversação informal.
c) Painel: consiste na repetição de perguntas, de tempo em tempo, às mesmas pessoas, a fim de estudar a
evolução das opiniões em períodos curtos. As perguntas devem ser formuladas de maneira diversa, para
que o entrevistado não distorça as respostas com essas repetições.
A preparação da entrevista é uma etapa importante da pesquisa. Ela requer tempo (o pesquisador
deve ter uma idéia clara da informação de que necessita) e exige algumas medidas:
• Planejamento da entrevista: deve ter em vista o objetivo a ser alcançado;
• Conhecimento prévio do entrevistado: objetiva conhecer o grau de familiaridade dele com o assunto;
• Oportunidade da entrevista: marcar com antecedência a hora e o local, para assegurar-se de que será
recebido;
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Estratégias, métodos e técnicas para pesquisa científica em engenharia de produção
A entrevista, que visa obter respostas válidas e informações pertinentes, é uma verdadeira arte, que
se aprimora com o tempo, com treino e com experiência. Exige habilidade e sensibilidade; não é fácil, mas é
básica.
Para maior êxito da entrevista, devem-se observar alguns procedimentos:
• Contato inicial: o pesquisador deve entrar em contato com o informante e estabelecer, desde o primeiro
momento, uma conversação amistosa, explicando a finalidade da pesquisa, seu objeto, relevância e
ressaltar a necessidade de sua colaboração. É importante obter e manter a confiança do entrevistado,
assegurando-lhe o caráter confidencial de suas informações. Criar um ambiente que estimule e que leve
o entrevistado a ficar à vontade e a falar espontânea e naturalmente, sem tolhimentos de qualquer ordem.
A conversa deve ser mantida numa atmosfera de cordialidade e de amizade. O pesquisador pode falar,
mas principalmente, deve ouvir, procurando sempre manter o controle da entrevista.
• Formulação de perguntas: as perguntas devem ser feitas de acordo com o tipo de entrevista
(estruturada ou não-estruturada). Para não confundir o entrevistado, deve-se fazer uma pergunta de cada
vez e, primeiro, as que não tenham probabilidade de ser recusadas. Deve-se permitir ao informante
restringir ou limitar suas informações. Toda pergunta que sugira resposta deve ser evitada.
• Registro das respostas: as respostas devem ser anotadas no momento da entrevista, para maior
fidelidade e veracidade das informações. A anotação posterior apresenta duas inconveniências: falha de
memória e/ou distorção do fato, quando não se guardam todos os elementos. O uso do gravador é ideal,
se o informante concordar com a sua utilização. O registro deve ser feito com as mesmas palavras que o
entrevistado usar, evitando-se resumi-las. Outra preocupação é o entrevistador se manter atento em
relação aos erros, devendo-se conferir as respostas sempre que puder. Se possível, anotar gestos,
atitudes e inflexões de voz. Ter em mãos todo o material necessário para registrar as informações.
• Término da entrevista: deve terminar como começou, ou seja, em ambiente de cordialidade, para que o
pesquisador, se necessário, possa voltar e obter novos dados, sem que o informante se oponha a isso.
Uma condição para o êxito da entrevista é submeter seu relatório final à aprovação do informante.
Contudo, a entrevista apresenta algumas limitações que podem ser superadas ou minimizadas se o
pesquisador for uma pessoa com bastante experiência ou tiver muito bom senso. Essas limitações são:
• Dificuldade de expressão e comunicação de ambas as partes;
• Incompreensão, por parte do informante, do significado das perguntas, da pesquisa, que pode levar a
uma falta interpretação;
• Possibilidade de o entrevistado ser influenciado, consciente ou inconscientemente, pelo pesquisador, pelo
seu aspecto físico, suas atitudes, idéias, opiniões, etc.;
• Disposição do entrevistado em dar as informações necessárias;
• Retenção de alguns dados importantes, receando que sua identidade seja revelada;
• Pequeno grau de controle sobre uma situação de coleta de dados;
• Ocupa muito tempo e é difícil de ser realizada.
4.9.4. Observação
A observação é uma tática de coleta de dados para conseguir informações e utiliza os sentidos na
obtenção de determinados aspectos da realidade. Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em
examinar fatos ou fenômenos que se desejam estudar.
Ela ajuda o pesquisador a identificar e a obter provas a respeito de objetivos sobre os quais os
indivíduos não têm consciência, mas que orientam seu comportamento. Desempenha papel importante nos
processos observacionais, no contexto da descoberta e obriga o investigador a um contato mais direto com a
realidade. É o ponto de partida da investigação social.
A observação torna-se científica à medida que convém a um plano de pesquisa formulado; é
planejada sistematicamente; é registrada metodicamente e está relacionada a proposições mais gerais, em
vez de ser apresentada como uma série de curiosidades interessantes; está sujeita a verificações e controles
sobre a validade e segurança.
Na investigação científica são empregadas várias modalidades de observação. As principais são:
a) Observação estruturada ou sistemática: Realiza-se em condições controladas, para responder a
propósitos preestabelecidos. Todavia, as normas não devem ser padronizadas nem rígidas, pois tanto as
situações quanto os objetos e objetivos da investigação podem ser muito diferentes. Nela, o observador
sabe o que procura e o que carece de importância em determinada situação; deve ser objetivo,
reconhecer possíveis erros e eliminar sua influência sobre o que vê ou recolhe. Vários instrumentos
podem ser utilizados nesse tipo de observação, tais como quadros, anotações, escalas, dispositivos
mecânicos, etc.;
b) Observação não-estruturada ou assistemática: consiste em recolher e registrar os fatos da realidade
sem que o pesquisador utilize meios técnicos especiais ou precise fazer perguntas diretas, como em uma
experiência casual, sem se saber de antemão os aspectos a serem observados. É mais empregada em
estudos exploratórios e não tem planejamento e controle previamente elaborados.
Do ponto de vista científico, a observação oferece uma série de vantagens e limitações, como as
outras técnicas de pesquisa, havendo, por isso, a necessidade de se aplicar mais de uma técnica ao mesmo
tempo.
Os principais pontos fortes da observação são:
• Possibilita meios diretos e satisfatórios para estudar uma ampla variedade de fenômenos;
• Exige menos do pesquisador do que as outras técnicas;
• Permite a coleta de dados sobre um conjunto de atitudes comportamentais típicas;
• Depende menos da introspecção ou da reflexão;
• Permite a evidência de dados não constantes do roteiro de entrevistas ou de questionários.
registros em que as características primária ou secundária não é tão evidente, o mesmo ocorrendo com
algumas fontes não escritas.
Exercícios do Capítulo 4
4.1) Identificar na dissertação de apoio as variáveis estudadas, as hipóteses, os instrumentos de coleta de
dados.
4.2) Faça uma análise crítica dessas informações na dissertação de apoio em função dos resultados
encontrados na pesquisa que foi realizada.
4.3) Quais seriam as suas sugestões para a melhoria do trabalho analisado?
4.4) Quais seriam os melhores periódicos, nacionais e internacionais, com ênfase em trabalhos qualitativos e
quantitativos, para a publicação dos resultados dos trabalhos do seu grupo de pesquisa? (faça um
mapeamento dos periódicos que poderiam ser o seu “sonho de consumo” em termos de fator de impacto e/ou
classificação Qualis).
4.5) Quais os eventos científicos, nacionais e internacionais, mais relevantes para a troca de experiências dos
trabalhos desenvolvidos pelo seu grupo de pesquisa? (onde a sua “tribo” científica se encontra?)
CAPÍTULO 5
Leitura e análise de artigos
5.1. Leitura
A leitura constitui-se em fator decisivo de estudo, pois propicia a ampliação de conhecimentos, a
obtenção de informações básicas ou específicas, a abertura de novos horizontes para a mente, a
sistematização do pensamento, o enriquecimento do vocabulário e o melhor entendimento do conteúdo das
obras (MARCONI e LAKATOS, 2006).
É necessário ler muito, continuada e constantemente, pois a maior parte dos conhecimentos é obtida
por intermédio da leitura. Como existem muitas fontes disponíveis para leitura, e muitas delas não são tão
importantes, é necessária uma seleção.
O ideal seria iniciar a leitura das obras clássicas, que permitem obter uma fundamentação de
qualquer campo da ciência a que se pretende dedicar, passando depois para a leitura de outras obras mais
especializadas e atuais, relacionadas com a área de interesse da pesquisa.
A leitura deve conduzir a obtenção de informações tanto básicas quanto específicas, variando a
maneira de ler, segundo os propósitos em vista, mas sem perder os seguintes aspectos: leitura com
objetivo determinado, mantendo as unidades de pensamento, avaliando o que se lê; preocupação com o
conhecimento de todas as palavras, utilizando para isso glossários ou dicionários; interrupção da leitura,
quer periódica quer definitivamente, se perceber que as informações não são as que esperava ou não são
mais importantes; discussão freqüente do que foi lido com colegas e professores (MARCONI e LAKATOS,
2006).
O que nos interessa a respeito desse tópico é a leitura de estudo ou informativa. Esta visa a coleta de
informações para determinado propósito. Ela apresenta três objetivos principais:
a) Certificar-se do conteúdo do texto, constatando o que o autor afirma, os dados que apresenta e as
informações que oferece;
b) Correlacionar os dados coletados a partir das informações do autor com o problema em pauta;
c) Verificar a validade dessas informações.
• Reflexiva: leitura mais profunda que as anteriores, refere-se ao reconhecimento e a avaliação das
informações, das intenções e dos propósitos do autor. Procede-se a identificação das palavras-chave
para saber o que o autor afirma e por que o faz.
• Crítica: avalia as informações do autor. O propósito é obter uma visão sincrética e global do texto e
descobrir as intenções do autor. No primeiro momento da fase de crítica deve-se entender o que o autor
quis transmitir e, para tal, a análise e o julgamento das idéias dele devem ser feitos em função de seus
próprios propósitos, e não dos do pesquisador; é no segundo momento que devemos, com base na
compreensão do quê e do porquê de suas proposições, retificar ou ratificar os argumentos e conclusões
do pesquisador.
• Interpretativa: relaciona as informações do autor com os problemas para os quais, através da leitura de
textos, está-se buscando uma solução.
• Explicativa: leitura com o intuito de verificar os fundamentos de verdade enfocados pelo autor.
Geralmente necessária para a redação de trabalhos acadêmicos, tais como uma dissertação ou uma
tese.
A leitura informativa também é denominada de leitura de estudo. Para tal é necessário dominar duas
técnicas: saber como sublinhar e como fazer os resumos da parte lida.
Algumas das noções básicas da arte de sublinhar são:
• Nunca assinalar nada na primeira leitura, cuja única finalidade é organizar o texto na mente e de forma
hierarquizada;
• Sublinhar apenas as idéias principais e os detalhes importantes, usando dois traços para as palavras-
chave e um para os pormenores mais significativos;
• Quando aparecem passagens que se configuram como um todo relevante para a idéia desenvolvida no
texto, elas devem ser inteiramente assinaladas com uma linha vertical, à margem. As passagens que
despertam dúvidas, que colidem com o tema exposto e as proposições que o apóiam devem ser
assinaladas com um ponto de interrogação, pois constituem material base para a leitura explicativa. O
que se considera passível de crítica, objeto de reparo ou insustentável dentro do raciocínio desenvolvido,
deve ser destacado mediante uma interrogação.
• Cada parágrafo deve ser reconstituído a partir das palavras sublinhadas, e sua leitura deve apresentar a
continuidade e a plenitude de um texto de telegrama, com sentido fluente e concatenado.
• Cada palavra não compreendida deve ser entendida mediante consulta a dicionários. Durante a primeira
leitura deve-se anotar os termos desconhecidos e, antes da segunda, consultar a fonte que esclarecerá o
sentido deles. A leitura é uma das maneiras de se ampliar o vocabulário.
Depois de assinalar, com marcas ou cores diferentes, as várias partes constitutivas do texto, após
sucessivas leituras, deve-se proceder à elaboração de um esquema que respeite a hierarquia emanada do
fato de que, em cada frase, a idéia expressa pode ser condensada em palavras-chave; em um parágrafo, a
idéia principal é geralmente expressa numa frase-mestra; e, finalmente, na exposição, a sucessão das
principais idéias concretiza-se nos parágrafos-chave. No esquema, deve-se levar em consideração que: se as
idéias sencundárias têm de ser diferenciadas entre si, depois de desprezar as não importantes, deve-se
procurar as ligações que unem as idéias sucessivas, quer sejam paralelas, opostas, coordenadas ou
subordinadas, analisando-se sua seqüência, encadeamento lógico e raciocínio desenvolvido. Dessa forma, o
esquema emerge naturalmente do trabalho de análise realizado (MARCONI e LAKATOS, 2006). A figura 5.1
mostra um exemplo de esquema.
A síntese (ou resenha crítica) consiste na capacidade de condensação de um texto, parágrafo, frase,
reduzindo-o a seus elementos de maior importância. Diferente do esquema, a síntese forma parágrafos com
sentido completo: não indica apenas os tópicos, mas condensa sua apresentação. Finalmente, a síntese
facilita o trabalho de captar, analisar, relacionar, fixar e integrar aquilo que se está estudando, e serve para
expor o assunto. As sínteses serão tratadas com mais detalhes no item 5.4 deste capítulo.
b) Análise temática: permite maior compreensão do texto, fazendo emergir a idéia central e as
secundárias, as unidades e subunidades de pensamento, sua correlação e a forma pela qual esta se dá.
Adentrando no mundo de idéias do autor, pode-se esquematizar a seqüência das várias idéias,
reconstruindo a linha de raciocínio do autor e fazendo emergir seu processo lógico de pensamento. Na
análise temática procura-se identificar o tema, o objetivo, as proposições e a argumentação do trabalho
que está sendo lido.
c) Análise interpretativa e crítica: deve-se procurar associar as idéias expressas pelo autor com outras de
conhecimento do leitor, sobre o mesmo tema. A partir daí, faz-se a crítica, do ponto de vista da coerência
interna e validade dos argumentos empregados no texto, da profundidade e originalidade dada à análise
do problema e do alcance das conclusões; realiza-se uma apreciação pessoal e mesmo emissão de juízo
sobre as idéias expostas e defendidas. Deve ser elaborado um resumo para discussão futura.
5.3. Fichamento
À medida que o pesquisador tem em mãos as fontes de evidência (artigos, livros, dissertações, teses,
etc.), ele pode transcrever os dados em fichas, com o máximo de exatidão e cuidado.
A ficha, sendo de fácil manipulação, permite a ordenação do assunto, ocupa pouco espaço e pode
ser transportada de um lugar para outro. Até certo ponto, leva o indivíduo a por ordem no seu material.
Possibilita ainda uma seleção constante da documentação e de seu ordenamento.
Atualmente, com a facilidade de diversas soluções de software, as fichas podem ser elaboradas a
partir de pequenos editores de texto, tais como o notepad ou o wordpad do pacote Microsoft Windows, ou
mesmo de softwares para banco de dados, tal como o Microsoft Access, do pacote do Microsoft Office.
A ficha é um bom instrumento de trabalho para o pesquisador, uma vez que o mesmo manipula um
material bibliográfico que, em geral, não lhe pertence. As fichas permitem identificar as obras, conhecer seu
conteúdo, fazer citações, analisar o material e elaborar críticas.
As fichas podem ser do tipo bibliográfica (refere-se ao campo do saber que é abordado, os problemas
significativos tratados, as conclusões alcançadas, as contribuições especiais sobre o assunto, as fontes de
dados, os métodos de abordagem e de procedimentos utilizados pelo autor), de citações (reprodução fiel de
frases ou sentenças consideradas relevantes ao estudo), de resumo ou de conteúdo (síntese clara e concisa
das idéias principais do autor ou um resumo dos aspectos essenciais da obra), de esboço (parecida com a de
resumo, porém mais detalhada) e de comentário ou analítica (explicação ou interpretação crítica pessoal das
idéias expressas pelo autor, em todo o trabalho ou em parte dele).
A estrutura das fichas, de qualquer um dos tipos, compreende três partes principais: cabeçalho
(denominação ou título genérico do trabalho estudado), referência bibliográfica (completa, seguindo a norma
NBR 6023) e texto (resumo, citação, esboço ou comentários).
Dependendo do tipo do trabalho científico que se pretende realizar, a síntese pode ser:
• Indicativa ou descritiva: quando faz referência às partes mais importantes, componentes do texto. Utiliza
frases curtas, cada uma correspondendo a um elemento importante da obra. Não dispensa a leitura do
texto completo, pois apenas descreve sua natureza, forma e propósito;
• Informativa ou analítica: quando contém todas as informações principais apresentadas no texto e
permite dispensar a leitura desse último; portanto, é mais amplo do que o indicativo ou descritivo. Tem a
finalidade de informar o conteúdo e as principais idéias do autor, salientando: os objetivos e assunto, os
métodos e as técnicas, os resultados e as conclusões. Utiliza as palavras de quem escreveu a síntese e
quando cita as do autor, apresenta-as entre aspas. Ao final da síntese, indicam-se as palavras-chave do
texto;
• Crítico: quando se formula um julgamento sobre o trabalho. É a crítica da forma (aspectos
metodológicos), do conteúdo, do desenvolvimento da lógica da demonstração, da técnica de apresentação
das idéias principais. Neste tipo de síntese não se faz citações.
Antes de se elaborar uma síntese deve-se proceder como se segue. Primeiramente, é aconselhável
realizar uma primeira leitura do texto, para se fazer um esboço do mesmo e tentar captar o plano geral da
obra e seu desenvolvimento (proposição, explicação, discussão e demonstração).
Em seguida, lê-se novamente o texto buscando responder a duas questões principais: de que trata
este texto? O que pretende demonstrar? Com isso identifica-se a idéia central e o propósito que nortearam o
autor.
Em uma terceira leitura a preocupação é descobrir as partes principais em que se estrutura o texto,
ou seja, compreender as idéias, provas, exemplos etc. que servem como explicação, discussão e
demonstração da proposição original (ou idéia central).
A quarta e última leitura do texto deve ser feita com a finalidade de compreender o sentido de cada
parte importante, anotar as palavras-chave e verificar o tipo de relação entre as partes (consequência,
oposição, complementação etc.).
Uma vez compreendido o texto, selecionadas as palavras-chave e entendida a relação entre as
partes essenciais, pode-se passar para a elaboração de um dos três tipos de sínteses citadas anteriormente.
Exercícios do Capítulo 5
5.1) Escolher três artigos daqueles 10 selecionados no exercício 3.2 do capítulo 3 e, para cada um deles:
a) Elaborar a ficha com informações para citação/referência;
b) Elaborar esquema da ideia principal da pesquisa;
c) Elaborar a síntese com análise crítica.
CAPÍTULO 6
Redação de trabalhos científicos
abaixo, das palavras representativas do conteúdo do trabalho, isto é, palavras-chave e/ou descritores,
conforme a ABNT NBR 6028. O resumo deve apresentar basicamente o objetivo da pesquisa, o método
de pesquisa empregado, os resultados encontrados e a conclusão. É a última parte do trabalho a ser
elaborada.
• Resumo em língua estrangeira: elemento obrigatório, com as mesmas características do resumo em
língua vernácula, digitado em folha separada (em inglês Abstract, em espanhol Resumen, em francês
Résumé, por exemplo). Deve ser seguido das palavras representativas do conteúdo do trabalho, isto é,
palavras-chave e/ou descritores, na língua.
• Lista de figuras: elemento opcional, que deve ser elaborado de acordo com a ordem apresentada no
texto, com cada item designado por seu nome específico, acompanhado do respectivo número da página.
• Lista de tabelas: elemento opcional, elaborado de acordo com a ordem apresentada no texto, com cada
item designado por seu nome específico, acompanhado do respectivo número da página.
• Lista de abreviaturas e siglas: elemento opcional, que consiste na relação alfabética das abreviaturas e
siglas utilizadas no texto, seguidas das palavras ou expressões correspondentes grafadas por extenso.
Recomenda-se a elaboração de lista própria para cada tipo.
• Sumário: elemento obrigatório, cujas partes são acompanhadas do(s) respectivo(s) número(s) da(s)
página(s). Havendo mais de um volume, em cada um deve constar o sumário completo do trabalho,
conforme a ABNT NBR 6027.
• Anexo(s): elemento opcional. Trata-se de um texto ou documento não elaborado pelo autor do trabalho
científico, tendo por finalidade fundamentar, ilustrar, documentar, comprovar ou confirmar idéias
expressas no texto. Podem-se ter tantos anexos quanto forem necessários O anexo é identificado por
letras maiúsculas consecutivas, travessão e pelos respectivos títulos. Excepcionalmente utilizam-se letras
maiúsculas dobradas, na identificação dos anexos, quando esgotadas as 23 letras do alfabeto. Exemplo:
ANEXO A – Representação gráfica de contagem de células inflamatórias presentes nas caudas em
regeneração
Segundo Versiani (2001), a primeira regra para uma boa redação, que de fato engloba todas as
outras, é a clareza do texto. Se maximizar a clareza deve ser a preocupação maior de quem escreve
academicamente, cabe também notar que se trata, por assim dizer, de uma maximização condicionada: uma
redação clara não pode ser obtida pela simplificação excessiva, em detrimento de uma completa exposição
dos elementos em que se baseiam os argumentos apresentados, ou os resultados obtidos. É da essência de
um trabalho acadêmico o cuidado em fundamentar a argumentação e as conclusões, por meio de referências
freqüentes à literatura, a dados estatísticos ou outro tipo de evidência.
Um texto claro deve ser bem escrito, procurando evitar alguns tropeços comuns no manejo da
linguagem; deve ser bem estruturado, desenvolvendo sua argumentação de forma organizada; deve citar de
forma completa e correta as referências à literatura e as fontes de dados; e deve obedecer a certas normas
convencionais de apresentação.
A busca da boa expressão passa necessariamente pela leitura de autores que a praticam: quem não
lê muito dificilmente pode escrever bem. Isso aponta para a vantagem de cultivar o hábito da leitura, de modo
geral: a freqüência de bons escritores não só traz prazeres intelectuais e amplia o horizonte cultural do leitor,
como também lhe proporciona uma vantagem prática, contribuindo para o aperfeiçoamento da qualidade de
sua própria redação. Além de desenvolver o costume de ler boa literatura, é útil também prestar atenção nas
formas de expressão dos autores de textos técnicos de Engenharia de Produção.
Uma outra vantagem, mais prática, de uma leitura atenta às formas de expressão é a possibilidade de
identificar algumas características de textos bem escritos, que sejam fáceis de ler (amigáveis ao leitor). Entre
essas características, podem-se citar:
• Frases não muito longas: nos textos científicos, a regra é evitar períodos muito compridos, que quase
sempre tendem a dificultar a compreensão. Quando a frase começa a parecer muito longa, é hora de
colocar um ponto, ou um ponto-e-vírgula. Contudo, deve-se tomar o cuidado de não se escrever um texto
composto só de frases muito curtas, pois ele pode adquirir um ar de composição infantil.
• Linguagem sem exageros: o tom da linguagem acadêmica é necessariamente comedido: exageros de
expressão ou adjetivos desnecessários devem ser inteiramente banidos. Portanto, nada de comentar que
houve uma “queda” na produtividade, ou que ocorreu uma “drástica” ou “profunda” reformulação no
quadro de funcionários de uma empresa.
• Uso adequado de termos técnicos: é necessário cuidar para que o uso de linguagem técnica não seja
excessivo, a ponto de deixar o texto desnecessariamente obscuro; afinal, é desejável que o texto escrito,
como em um artigo em revista acadêmica, possa ser lido e compreendido por muitos, não apenas por
meia dúzia de especialistas.
Por outro lado, um texto científico deve primar pela sua qualidade ortográfica e gramatical. Sendo
assim, o autor do texto deve se atentar para uma correta utilização das concordâncias verbais, da pontuação
(ponto final, vírgula, ponto e vírgula) e da acentuação (acento agudo, circunflexo, til e crase).
É conveniente, em benefício da clareza, que todo texto tenha, para o leitor, uma seqüência lógica,
com princípio, meio e fim. Daí decorre a vantagem de se distinguir (inclusive separando-as formalmente do
corpo do trabalho) uma introdução e uma conclusão (VERSIANI, 2001).
A introdução indica o sentido geral do que vai ser dito, algo como um roteiro do que virá a seguir, o
que facilita ao leitor percorrer os passos da argumentação. Para isso, é útil (e usual) que se faça referência
expressa, na introdução de um trabalho, às partes em que se divide o texto subseqüente. Algo como: “A
próxima seção contém uma discussão geral do problema; a seção seguinte trata dos dados e da metodologia;
a quarta seção apresenta os resultados; e uma seção final resume as conclusões e discute suas
implicações.”
Em relação ao corpo do trabalho, em geral, o desenvolvimento do mesmo sugere naturalmente uma
divisão em partes. Qualquer que seja a natureza de um artigo ou dissertação, por exemplo, é comum que
haja uma revisão da literatura anterior sobre o tema; uma discussão do marco conceitual ou do modelo
analítico em que se coloca o argumento; uma descrição dos dados utilizados; uma apresentação e discussão
dos resultados ou conclusões; etc. Se no texto for necessário incluir alguma sigla, quando ela aparecer pela
primeira vez deve ser descrita na sua forma completa seguida da sigla, esta coloca entre parênteses. Por
exemplo: Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Não importa a extensão de um trabalho, é indispensável que este tenha um fecho formal, ou seja,
uma conclusão. Evidentemente nem todo texto chega a conclusões no sentido lógico da palavra
(proposições inferidas de outras proposições ou de fatos observados); mas não pode faltar um apanhado final
da argumentação, um epílogo (a palavra conclusão tem também esse significado).
auxiliando o pesquisador na distinção de diferenças, semelhanças e relações, por meio da clareza e destaque
que a distribuição lógica e a apresentação gráfica oferecem às classificações.
A diferença básica entre tabela e quadro é que a primeira serve para representar dados na forma
numérica (absolutos ou em percentagens), enquanto o segundo serve para representar um agrupamento de
palavras.
No texto, os quadros ou tabelas são identificados pela palavra escrita com inicial maiúscula (Tabela
ou Quadro), seguida de um algarismo romano seqüencial correspondente. Eventualmente, pode-se numerar
as tabelas e quadros conforme o capítulo onde os mesmos estão inseridos, ou seja, se a primeira tabela do
capítulo 2 é apresentada, no texto ela será identificada, por exemplo, como Tabela 2.1.
A legenda das tabelas e quadros é inserida acima da mesma, identificada pela palavra Tabela ou
Quadro, seguido do algarismo romano correspondente, e com um título curto separados por um traço. Ao final
do título não se pontua. As fontes dos dados, representados na tabela ou quadro, devem ser colocadas
abaixo das mesmas, observando as regras de citação (ver item 6.4). O título e a fonte podem estar
centralizados ou à esquerda. Somente a primeira palavra do título tem a inicial maiúscula, sendo que as
demais palavras são grafadas em letras minúsculas (exceto se houver um nome próprio ou de instituição). A
figura 6.1 apresenta um exemplo da forma de se identificar uma tabela e a figura 6.2 apresenta um exemplo
de quadro.
Manufatura Serviços
Produção orientada para o capital ou para o equipamento. Produção orientada para as pessoas.
Habilidades técnicas predominam. Habilidades interpessoais dominam.
Treinamento irá dominar. Educação irá dominar.
Resultados da produção são variáveis. Resultados do serviço estão sujeitos a uma maior
variação.
Fonte: Macdonald (1994)
Figura 6.2 – Exemplo de quadro
As ilustrações servem para a representação visual e/ou esquemática dos dados. Em geral, utiliza-se
o termo figura para designar uma grande variedade de ilustrações, tais como gráficos, esquemas, mapas,
diagramas, desenhos, etc.
A legenda das figuras é inserida baixo das mesmas, identificada pela palavra Figura, seguido do
algarismo romano correspondente, e com um título curto separados por um traço. Ao final do título não se
pontua. As fontes dos dados, representados na figura, devem ser colocadas abaixo do título, observando as
regras de citação (ver item 6.4). O título e a fonte podem estar centralizados ou à esquerda. Somente a
primeira palavra do título tem a inicial maiúscula, sendo que as demais palavras são grafadas em letras
minúsculas (exceto se houver um nome próprio ou de instituição). A figura 6.3 apresenta um exemplo da
forma de se identificar uma figura.
135,0
Índice de Nível de Emprego Formal
125,0
115,0
105,0
95,0
85,0
1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
a) nas citações, as chamadas pelo sobrenome do autor, pela instituição responsável ou título incluído na
sentença devem ser em letras maiúsculas e minúsculas e, quando estiverem entre parênteses, devem ser em
letras maiúsculas. Exemplos:
A ironia seria assim uma forma implícita de heterogeneidade mostrada, conforme a classificação
proposta por Authier-Reiriz (1982).
“Apesar das aparências, a desconstrução do logocentrismo não é uma psicanálise da filosofia [...]”
(DERRIDA, 1967, p. 293).
b) especificar no texto a(s) página(s), volume(s), tomo(s) ou seção(ões) da fonte consultada, nas citações
diretas. Este(s) deve(m) seguir a data, separado(s) por vírgula e precedido(s) pelo termo, que o(s) caracteriza,
de forma abreviada. Nas citações indiretas, a indicação da(s) página(s) consultada(s) é opcional. Exemplos:
A produção de lítio começa em Searles Lake, Califórnia, em 1928 (MUMFORD, 1949, p. 513).
Oliveira e Leonardos (1943, p. 146) dizem que a "[...] relação da série São Roque com os granitos
porfiróides pequenos é muito clara."
c) As citações diretas, no texto, de até três linhas, devem estar contidas entre aspas duplas. As aspas simples
são utilizadas para indicar citação no interior da citação. Exemplos:
Segundo Sá (1995, p. 27): “[...] por meio da mesma ‘arte de conversação’ que abrange tão extensa e
significativa parte da nossa existência cotidiana [...]”
“Não se mova, faça de conta que está morta.” (CLARAC; BONNIN, 1985, p. 72).
d) As citações diretas, no texto, com mais de três linhas, devem ser destacadas com recuo de 4 cm da
margem esquerda, com letra menor que a do texto utilizado e sem as aspas. Exemplo:
e) As supressões, interpolações, comentários, ênfase ou destaques devem ser indicadas do seguinte modo:
• Supressões: [...]
• Interpolações, acréscimos ou comentários: [ ]
• Ênfase ou destaque: grifo ou negrito ou itálico.
f) Quando se tratar de dados obtidos por informação verbal (palestras, debates, comunicações etc.), indicar,
entre parênteses, a expressão informação verbal, mencionando-se os dados disponíveis, em nota de rodapé.
Exemplo:
No texto:
O novo medicamento estará disponível até o final deste semestre (informação verbal)1.
No rodapé da página:
_______________
1 Notícia fornecida por John A. Smith no Congresso Internacional de Engenharia Genética, em Londres, em outubro de 2001.
g) Para enfatizar trechos da citação, deve-se destacá-los indicando esta alteração com a expressão grifo
nosso entre parênteses, após a chamada da citação, ou grifo do autor, caso o destaque já faça parte da obra
consultada. Exemplos:
“[...] para que não tenha lugar a produção de degenerados, quer físicos quer morais, misérias,
verdadeiras ameaças à sociedade.” (SOUTO, 1916, p. 46, grifo nosso).
“[...] desejo de criar uma literatura independente, diversa, de vez que, aparecendo o classicismo
como manifestação de passado colonial [...]” (CANDIDO, 1993, v. 2, p. 12, grifo do autor).
Pode-se fazer ainda uma citação de uma citação. É a menção de um documento ao qual você não
teve acesso, mas que tomou conhecimento por citação em um outro trabalho. Usamos a expressão latina
apud (“citado por”) para indicar a obra de onde foi retirada a citação. Sobrenome(es) do Autor Original (apud
Sobrenome(es) Sobrenome(es) dos Autor(es) da obra que retiramos a citação, ano de publicação da qual
retiramos a citação). É uma citação indireta. Exemplos:
Porter (apud CARVALHO e SOUZA, 1999, p.74) considera que “a vantagem competitiva surge
fundamentalmente do valor que uma empresa consegue criar para seus compradores e que
ultrapassa o custo de fabricação pelas empresas”.
No modelo serial de Gough (1972 apud NARDI, 1993), o ato de ler envolve um processamento serial
que começa com uma fixação ocular sobre o texto, prosseguindo da esquerda para a direita de forma
linear.
Segundo Silva (1983 apud ABREU, 1999, p. 3) diz ser [...]
As citações podem ser indicadas no texto por um sistema de chamadas numérico ou autor-data.
Qualquer que seja o método adotado, deve ser seguido consistentemente ao longo de todo o trabalho,
permitindo sua correlação na lista de referências bibliográficas ou em notas de rodapé. Eis algumas regras
básicas:
h) Quando o(s) nome(s) do(s) autor(es), instituição(ões) responsável(eis) estiver(em) incluído(s) na sentença,
indica-se a data, entre parênteses, acrescida da(s) página(s), se a citação for direta. Exemplos:
Em Teatro Aberto (1963) relata-se a emergência do teatro do absurdo.
Segundo Morais (1955, p. 32) assinala "[...] a presença de concreções de bauxita no Rio Cricon."
Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Itajubá - UNIFEI Página 102
Metodologia de Pesquisa em Engenharia de Produção
Estratégias, métodos e técnicas para condução de pesquisas quantitativas e qualitativas
j) As citações de diversos documentos de um mesmo autor, publicados num mesmo ano, são distinguidas
pelo acréscimo de letras minúsculas, em ordem alfabética, após a data e sem espacejamento, conforme a
lista de referências. Exemplo:
De acordo com Reeside (1927a)
(REESIDE, 1927b)
l) As citações indiretas de diversos documentos de vários autores, mencionados simultaneamente, devem ser
separadas por ponto-e-vírgula, em ordem alfabética. Exemplo:
Diversos autores salientam a importância do “acontecimento desencadeador” no início de um
processo de aprendizagem (CROSS, 1984; KNOX, 1986; MEZIROW, 1991).
No sistema numérico, a indicação da fonte é feita por uma numeração única e consecutiva, em
algarismos arábicos, remetendo à lista de referências ao final do trabalho, na mesma ordem em que
aparecem no texto. Não se inicia a numeração das citações a cada página. O sistema numérico não deve ser
utilizado quando existirem notas de rodapé. A indicação da numeração pode ser feita entre parênteses,
alinhada ao texto, ou situada pouco acima da linha do texto em expoente à linha do mesmo, após a
pontuação que fecha a citação.
Por exemplo:
Diz Rui Barbosa: “Tudo é viver, previvendo.” (15)
Diz Rui Barbosa: “Tudo é viver, previvendo.”15
No sistema autor-data, a indicação da fonte pode ser feita das seguintes formas:
m) pelo sobrenome de cada autor ou pelo nome de cada entidade responsável até o primeiro sinal de
pontuação, seguido(s) da data de publicação do documento e da(s) página(s) da citação, no caso de citação
direta, separados por vírgula e entre parênteses. Exemplos:
No texto:
A chamada “pandectística havia sido a forma particular pela qual o direito romano fora integrado no
século XIX na Alemanha em particular.” (LOPES, 2000, p. 225).
Na lista de referências:
LOPES, José Reinaldo de Lima. O Direito na História. São Paulo: Max Limonad, 2000.
No texto:
Bobbio (1995, p. 30) com muita propriedade nos lembra, ao comentar esta situação, que os “juristas
medievais justificaram formalmente a validade do direito romano ponderando que este era o direito do
Império Romano que tinha sido reconstituído por Carlos Magno com o nome de Sacro Império
Romano.”
Na lista de referências:
BOBBIO, Norberto. O positivismo jurídico: lições de Filosofia do Direito. São Paulo: Ícone, 1995.
No texto:
Merriam e Caffarella (1991) observam que a localização de recursos tem um papel crucial no
processo de aprendizagem autodirigida.
Na lista de referências:
MERRIAM, S.; CAFFARELLA, R. Learning in adulthood: a comprehensive guide. San Francisco:
Jossey-Bass, 1991.
No texto:
O mecanismo proposto para viabilizar esta concepção é o chamado Contrato de Gestão, que
conduziria à captação de recursos privados como forma de reduzir os investimentos públicos no
ensino superior (BRASIL, 1995).
Na lista de referências:
BRASIL. Ministério da Administração Federal e da Reforma do Estado. Plano diretor da reforma do
aparelho do Estado. Brasília, DF, 1995.
n) pela primeira palavra do título seguida de reticências, no caso das obras sem indicação de autoria ou
responsabilidade, seguida da data de publicação do documento e da(s) página(s) da citação, no caso de
citação direta, separados por vírgula e entre parênteses. Exemplo:
No texto:
“As IES implementarão mecanismos democráticos, legítimos e transparentes de avaliação
sistemática das suas atividades, levando em conta seus objetivos institucionais e seus compromissos
para com a sociedade.” (ANTEPROJETO..., 1987, p. 55).
Na lista de referências:
ANTEPROJETO de lei. Estudos e Debates, Brasília, DF, n. 13, p. 51-60, jan. 1987.
o) se o título iniciar por artigo (definido ou indefinido), ou monossílabo, este deve ser incluído na indicação da
fonte. Exemplo:
No texto:
“Em Nova Londrina (PR), as crianças são levadas às lavouras a partir dos 5 anos.” (NOS
CANAVIAIS...,1995, p. 12).
Na lista de referências:
NOS CANAVIAIS, mutilação em vez de lazer e escola. O Globo, Rio de Janeiro, 16 jul. 1995. O País,
p. 12.
d) O recurso tipográfico (negrito, grifo ou itálico) utilizado para destacar o elemento título deve ser uniforme
em todas as referências de um mesmo documento. Isto não se aplica às obras sem indicação de autoria,
ou de responsabilidade, cujo elemento de entrada é o próprio título, já destacado pelo uso de letras
maiúsculas na primeira palavra, com exclusão de artigos (definidos e indefinidos) e palavras
monossilábicas.
e) As referências constantes em uma lista padronizada devem obedecer aos mesmos princípios. Ao optar
pela utilização de elementos complementares, estes devem ser incluídos em todas as referências
daquela lista.
Exemplos com GOMES, L. G. F. F. Novela e sociedade no Brasil. Niterói: EdUFF, 1998. 137 p., 21
elementos cm. (Coleção Antropologia e Ciência Política, 15). Bibliografia: p. 131-132. ISBN 85-228-
complementares: 0268-8.
Em meio eletrônico: POLÍTICA. In: DICIONÁRIO da língua portuguesa. Lisboa: Priberam Informática, 1998.
Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlDLPO>. Acesso em: 8 mar. 1999.
PATENTE
Elementos essenciais: entidade responsável e/ou autor, título, número da patente e datas (do período de
registro).
Exemplo: EMBRAPA. Unidade de Apoio, Pesquisa e Desenvolvimento de Instrumentação
Agropecuária (São Carlos, SP). Paulo Estevão Cruvinel. Medidor digital multissensor
de temperatura para solos. BR n. PI 8903105-9, 26 jun. 1989, 30 maio 1995.
ARTIGOS EM REVISTAS/PERIÓDICOS
Elementos essenciais: autor(es), título da parte, artigo ou matéria, título da publicação, local de publicação,
numeração correspondente ao volume e/ou ano, fascículo ou número, paginação inicial
e final.
Exemplo: GURGEL, C. Reforma do Estado e segurança pública. Política e Administração. Rio
de Janeiro, v. 3, n. 2, p. 15-21, set. 1997.
Em meio eletrônico: VIEIRA, C. L.; LOPES, M. A queda do cometa. Neo Interativa, Rio de Janeiro, n. 2,
inverno 1994. 1 CD-ROM.
SILVA, M. M. L. Crimes da era digital. .Net, Rio de Janeiro, nov. 1998. Seção Ponto de
Vista. Disponível em: <http://www.brazilnet.com.br/contexts/brasilrevistas.htm>. Acesso
em: 28 nov. 1998.
Parte de uma revista: DINHEIRO: revista semanal de negócios. São Paulo: Ed. Três, n.148, 28 jun. 2000. 98
p.
EVENTOS (TODO)
Elementos essenciais: nome do evento, numeração (se houver), ano e local (cidade) de realização. Em
seguida, deve-se mencionar o título do documento (anais, atas, tópico temático etc.),
seguido dos dados de local de publicação, editora e data da publicação.
Exemplo: IUFOST INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON CHEMICAL CHANGES DURING FOOD
PROCESSING, 1984, Valencia. Proceedings... Valencia: Instituto de Agroquímica y
Tecnología de Alimentos, 1984.
Exemplos com REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE QUÍMICA, 20., 1997, Poços de
elementos Caldas. Química: academia, indústria, sociedade: livro de resumos. São Paulo:
complementares: Sociedade Brasileira de Química, 1997.
Em meio eletrônico: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPe, 4., 1996, Recife. Anais
eletrônicos... Recife: UFPe, 1996. Disponível em: <http://www.propesq.ufpe.br/
anais/anais.htm>. Acesso em: 21 jan. 1997.
Ainda em se tratando de referências, alguns cuidados devem ser tomados na indicação das autorias
dos trabalhos:
a) No caso de autor pessoal: indica(m)-se o(s) autor(es), de modo geral, pelo último sobrenome, em
maiúsculas, seguido do(s) prenome(s) e outros sobrenomes, abreviado(s) ou não. Recomenda-se, tanto
quanto possível, o mesmo padrão para abreviação de nomes e sobrenomes, usados na mesma lista de
referências. Os nomes devem ser separados por ponto-e-vírgula, seguido de espaço. Exemplos:
DAMIÃO, R. T.; HENRIQUES, A. Curso de direito jurídico. São Paulo: Atlas, 1995.
PASSOS, L. M. M.; FONSECA, A.; CHAVES, M. Alegria de saber: matemática, segunda série, 2,
primeiro grau: livro do professor. São Paulo: Scipione, 1995. 136 p.
b) Quando existirem mais de três autores, indica-se apenas o primeiro, acrescentando-se a expressão et al.
Exemplo:
URANI, A. et al. Constituição de uma matriz de contabilidade social para o Brasil. Brasília, DF:
IPEA, 1994.
c) Quando houver indicação explícita de responsabilidade pelo conjunto da obra, em coletâneas de vários
autores, a entrada deve ser feita pelo nome do responsável, seguida da abreviação, no singular, do tipo de
participação (organizador, compilador, editor, coordenador etc.), entre parênteses. Exemplo:
MARCONDES, E.; LIMA, I. N. de (Coord.). Dietas em pediatria clínica. 4. ed. São Paulo: Sarvier,
1993.
FERREIRA, L. P. (Org.). O fonoaudiólogo e a escola. São Paulo: Summus, 1991.
Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Itajubá - UNIFEI Página 109
Metodologia de Pesquisa em Engenharia de Produção
Estratégias, métodos e técnicas para condução de pesquisas quantitativas e qualitativas
d) Outros tipos de responsabilidade (tradutor, revisor, ilustrador entre outros) podem ser acrescentados após
o título, conforme aparecem no documento. Quando existirem mais de três nomes exercendo o mesmo tipo
de responsabilidade, aplica-se o recomendado na letra b. Exemplos:
DANTE A. A divina comédia. Tradução, prefácio e notas: Hernâni Donato. São Paulo: Círculo do
Livro, [1983]. 344 p.
CHEVALIER, J.; GHEERBRANT, A. Dicionário de símbolos. Tradução Vera da Costa e Silva et al.
3ª. ed. rev. e aum. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1990.
f) Quando a entidade tem uma denominação genérica, seu nome é precedido pelo nome do órgão superior,
ou pelo nome da jurisdição geográfica à qual pertence. Exemplo:
SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. Diretrizes para a política ambiental do
Estado de São Paulo. São Paulo, 1993. 35 p.
BRASIL. Ministério da Justiça. Relatório de atividades. Brasília, DF, 1993. 28 p.
g) Em caso de autoria desconhecida, a entrada é feita pelo título. O termo anônimo não deve ser usado em
substituição ao nome do autor desconhecido. Exemplo:
DIAGNÓSTICO do setor editorial brasileiro. São Paulo: Câmara Brasileira do Livro, 1993. 64 p.
h) O título e o subtítulo (se for usado) devem ser reproduzidos tal como figuram no documento, separados por
dois-pontos. Exemplo:
PASTRO, C. Arte sacra: espaço sagrado hoje. São Paulo: Loyola, 1993. 343 p.
i) Em títulos e subtítulos demasiadamente longos, podem-se suprimir as últimas palavras, desde que não seja
alterado o sentido. A supressão deve ser indicada por reticências. Exemplos:
LEVI, R. Edifício Columbus...: n. 1930-33. 1997. 108 f. Plantas diversas. Originais em papel vegetal.
GONSALVES, P. E. (Org.). A criança: perguntas e respostas: médicos, psicólogos, professores,
técnicos, dentistas... Prefácio do Prof. Dr. Carlos da Silva Lacaz. São Paulo: Cultrix: Ed. da USP,
1971.
j) Quando houver uma indicação de edição, esta deve ser transcrita, utilizando-se abreviaturas dos numerais
ordinais e da palavra edição, ambas na forma adotada na língua do documento. Exemplos:
SCHAUM, D. Schaum’s outline of theory and problems. 5th ed. New York: Schaum Publishing,
1956. 204 p.
PEDROSA, I. Da cor à cor inexistente. 6. ed. Rio de Janeiro: L. Cristiano, 1995. 219 p.
k) Quando a editora não puder ser identificada, deve-se indicar a expressão sine nomine, abreviada, entre
colchetes [s.n.]. Exemplo:
FRANCO, I. Discursos: de outubro de 1992 a agosto de 1993. Brasília, DF: [s.n.], 1993. 107 p.
l) Não sendo possível determinar o local, utiliza-se a expressão sine loco, abreviada, entre colchetes [S.l.].
Exemplo:
KRIEGER, G.; NOVAES, L. A.; FARIA, T. Todos os sócios do presidente. 3. ed. [S.l.]: Scritta, 1992.
195 p.
m) Quando o local e o editor não puderem ser identificados na publicação, utilizam-se ambas as expressões,
abreviadas e entre colchetes [S.l.: s.n.]. Exemplo:
GONÇALVES, F. B. A história de Mirador. [S.l.: s.n.], 1993.
n) Se nenhuma data de publicação, distribuição, copyright, impressão etc. puder ser determinada, registra-se
uma data aproximada entre colchetes, conforme indicado:
[1971 ou 1972] um ano ou outro;
[1969?] data provável;
[1973] data certa, não indicada no item;
[entre 1906 e 1912] use intervalos menores de 20 anos;
[ca. 1960] data aproximada;
[197-] década certa;
[197-?] década provável;
[18--] século certo;
[18--?] século provável.
Exemplo:
FLORENZANO, E. Dicionário de idéias semelhantes. Rio de Janeiro: Ediouro, [1993]. 383 p.
o) Os meses devem ser indicados de forma abreviada, no idioma original da publicação. Se a publicação
indicar, em lugar dos meses, as estações do ano ou as divisões do ano em trimestres, semestres etc.,
transcrevem-se os primeiros tais como figuram no documento e abreviam-se os últimos. Exemplos:
ALCARDE, J. C.; RODELLA, A. A. O equivalente em carbonato de cálcio dos corretivos da acidez dos
solos. Scientia Agricola, Piracicaba, v. 53, n. 2/3, p. 204-210, mai/dez. 1996.
BENNETTON, M. J. Terapia ocupacional e reabilitação psicossocial: uma relação possível. Revista
de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 4, n. 3, p. 11-16, mar. 1993.
MANSILLA, H. C. F. La controversia entre universalismo y particularismo en la filosofía de la cultura.
Revista Latinoamericana de Filosofía, Buenos Aires, v. 24, n. 2, primavera 1998.
FIGUEIREDO, E. Canadá e Antilhas: línguas populares, oralidade e literatura. Gragoatá, Niterói, n. 1,
p. 127-136, 2. sem. 1996.
p) Quando o documento for constituído de apenas uma unidade física, ou seja, um volume, indica-se o
número total de páginas ou folhas, seguido da abreviatura p. ou f. Quando o documento for publicado em
mais de uma unidade física, ou seja, mais de um volume, indica-se a quantidade de volumes, seguida da
abreviatura v. Exemplos:
PIAGET, J. Para onde vai a educação. 7. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1980. 500 p.
TOURINHO FILHO, F. C. Processo penal. 16. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 1994. 4 v.
q) Nas teses, dissertações ou outros trabalhos acadêmicos devem ser indicados em nota o tipo de documento
(tese, dissertação, trabalho de conclusão de curso etc.), o grau, a vinculação acadêmica, o local e a data da
defesa, mencionada na folha de aprovação (se houver). Exemplo:
ARAUJO, U. A. M. Máscaras inteiriças Tukúna: possibilidades de estudo de artefatos de museu
para o conhecimento do universo indígena. 1986. 102 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais)
– Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, São Paulo, 1986.
As referências dos documentos citados em um trabalho devem ser ordenadas de acordo com o
sistema utilizado para citação no texto, conforme NBR 10520. Os sistemas mais utilizados são: alfabético
(ordem alfabética de entrada) e numérico (ordem de citação no texto).
Se for utilizado o sistema alfabético, as referências devem ser reunidas no final do trabalho, do artigo
ou do capítulo, em uma única ordem alfabética. As chamadas no texto devem obedecer à forma adotada na
referência, com relação à escolha da entrada, mas não necessariamente quanto à grafia, conforme a NBR
10520. Por exemplo:
No texto:
Para Gramsci (1978) uma concepção de mundo crítica e coerente pressupõe a plena consciência de
nossa historicidade, da fase de desenvolvimento por ela representada [...]
Nesse universo, o poder decisório está centralizado nas mãos dos detentores do poder econômico e
na dos tecnocratas dos organismos internacionais (DREIFUSS, 1996). Os empresários industriais,
mais até que os educadores são, precisamente, aqueles que hoje identificam tendências na relação
entre as transformações pelas quais vêm passando o processo de trabalho, o nível de escolaridade e
a qualificação real exigida pelo processo produtivo (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA,
1993).
Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Itajubá - UNIFEI Página 112
Metodologia de Pesquisa em Engenharia de Produção
Estratégias, métodos e técnicas para condução de pesquisas quantitativas e qualitativas
Na lista de referências:
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA (Brasil). Educação básica e formação profissional.
Salvador, 1993.
DREIFUSS, R. A era das perplexidades: mundialização, globalização e planetarização. Petrópolis:
Vozes, 1996.
GRAMSCI, A. Concepção dialética da História. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
Se for utilizado o sistema numérico no texto, a lista de referências deve seguir a mesma ordem
numérica crescente. O sistema numérico não pode ser usado concomitantemente para notas de referência e
notas explicativas. Exemplo:
No texto:
De acordo com as novas tendências da jurisprudência brasileira1, é facultado ao magistrado decidir
sobre a matéria. Todos os índices coletados para a região escolhida foram analisados
minuciosamente2.
Na lista de referências:
1 CRETELLA JÚNIOR, J. Do impeachment no direito brasileiro. [São Paulo]: R. dos Tribunais,
1992. p. 107.
2 BOLETIM ESTATÍSTICO [da] Rede Ferroviária Federal. Rio de Janeiro, 1965. p. 20.
Exercícios do Capítulo 6
6.1) Escreva um projeto de pesquisa, de 15 a 20 páginas, tal como apresentado no capítulo 2. Esta atividade
deve ser entregue ao final da disciplina.
6.2) Leia o artigo: Chiswick, M. Writing a research paper. Current Paediatrics, v. 14, p. 513-518, 2004. E
responda às seguintes perguntas:
• Quais são as características importantes de um artigo científico?
• Qual o significado de originalidade para um artigo científico?
• Quais as principais seções/tópicos de um artigo científico?
• O que se espera encontrar na seção de introdução de um artigo científico?
• O que se espera encontrar na seção de método de um artigo científico?
• O que se espera encontrar na seção de resultados de um artigo científico?
• O que se espera encontrar na seção de discussão de um artigo científico?
CAPÍTULO 7
Estratégia de pesquisa I: Experimento ou pesquisa experimental
de um paciente ou o que fazem os detetives quando identificam a causa de um óbito. O pesquisador, médico
e o detetive devem todos descartar uma lista de hipóteses rivais entre si, para chegar à causa mais provável.
As hipóteses rivais são ameaças à validade interna da pesquisa. Essas ameaças podem se dar por uma das
seguintes formas (KIDDER, 2004):
a) Maturação: os sujeitos da pesquisa podem ter amadurecido ou se cansaram diferentemente nas
diferentes condições ambientais;
b) História: quando o clima de alterações a que o ambiente pode ser submetido é diferente para os sujeitos
da pesquisa;
c) Seleção: quando os sujeitos não são distribuídos aleatoriamente entre os grupos pesquisados;
d) Instrumentação: diferenças que podem acontecer com os grupos pesquisados quando ou como os
mesmos foram testados;
e) Regressão em relação à média: quando os sujeitos são selecionados apresentando, de início,
tendências extremas em qualquer das medidas analisadas.
f) Difusão: tendência de um efeito experimental afetar não somente o grupo experimental, mas também o
grupo de controle.
Em geral, um pesquisador não precisa se preocupar em percorrer a lista inteira de hipóteses rivais
plausíveis para avaliar a validade interna de um experimento. A distribuição aleatória e o controle cuidadoso
das condições experimentais salvaguardam-no contra a maioria dessas ameaças à validade interna.
em contato diário umas com as outras, para evitar que trocassem impressões e com isso levantassem
suspeitas ou contaminassem os resultados do estudo. Estudantes visitaram três dos quatro grupos.
Mostraram-se interessados em conhecer algumas pessoas idosas porque estavam fazendo um curso sobre
velhice e achavam interessante obter alguma experiência direta sobre o assunto. A manipulação experimental
era o grau de controle que os residentes tinham sobre a escolha do momento e duração das visitas. Foram
estabelecidas três variações e um quarto grupo de comparação.
O primeiro grupo tinha controle sobre as visitas. Os residentes controlavam tanto a freqüência como a
duração das visitas dos estudantes. Eles chamavam as visitas quando desejavam que viessem e
determinavam quanto tempo deveriam ficar.
O segundo grupo podia prever a visita. Estes residentes sabiam quando seus visitantes apareciam,
mas não podiam controlar nem a ocorrência e nem a duração das visitas. Para tornar estas visitas
comparáveis às do primeiro grupo, cada visitante deste grupo foi pareado com um visitante daquele e
manteve um esquema de visitas semelhantes. Assim, se um residente que podia controlar a presença do
visitante requisitasse visitas diárias com duas horas de duração cada uma, Schulz selecionava um visitante
do grupo 2 para que tivesse encontros similares, todos os dias por duas horas. Isto assegurava quantidades
de visitas equivalentes nos dois grupos e, então, a única diferença passava a ser os residentes a ocorrência
das visitas ou poderem apenas predizer quando elas ocorreriam.
No terceiro grupo os residentes não podiam controlar nem prever a ocorrência das visitas. Eles
recebiam visitas tão frequentemente e pelo mesmo tempo que os outros residentes, pois cada visitante deste
grupo também foi pareado com um visitante do primeiro grupo, mantendo o mesmo esquema daquele, mas
sem informar ao residente o horário ou a duração de cada visita. As visitas eram imprevisíveis do ponto de
vista dos residentes e o visitante chegava sem avisar.
O quarto grupo era o grupo de comparação, que não recebia nenhuma visita. Os residentes deste
grupo não receberam as visitas dos estudantes, mas foram entrevistados no início e no final do estudo a fim
de medir sua saúde, bem-estar psicológico e nível de atividade.
Os sujeitos são distribuídos aleatoriamente para o grupo experimental (X) ou para o grupo não-
experimental (não-X). Há uma pequena chance de que a casualização falhe e que eles difiram em relação à
variável dependente (O1 e O2) mesmo que nenhum tratamento intervenha. Esta é uma possibilidade pequena
e remota, levada em consideração o cálculo de probabilidade ou nível p.
Este delineamento contém, a grosso modo, o essencial a um experimento: distribuição aleatória,
grupos com tratamento e sem tratamento, e observações após o tratamento. É necessário ter pelo menos
dois grupos para saber se o tratamento teve algum efeito.
Podem-se descartar várias hipóteses rivais ou ameaças à validade interna usando este delineamento.
As diferenças pós-tratamento não são um produto de vieses na seleção dos sujeitos, pois eles foram
distribuídos aleatoriamente entre os grupos. As diferenças pós-tratamento não são um produto da maturação,
pois os dois grupos devem ter amadurecido na mesma proporção. Pode-se eliminar a história, pois o grupo
de tratamento não foi exposto a nenhum outro evento que o grupo sem tratamento não experienciou. Se os
dois grupos foram testados ou observados sob circunstâncias similares, pode-se eliminar diferenças na
instrumentação com uma explicação.
Uma vez que tenham sido eliminadas essas hipóteses rivais, pode-se ter confiança de que o
tratamento experimental tenha ocasionado as diferenças subseqüentes entre os dois grupos (O1 e O2). O
delineamento 1 é o mais simples dentre os delineamentos experimentais propriamente ditos (genuínos).
Este delineamento tem um conjunto adicional de testes ou observações da variável dependente antes
do tratamento experimental, denominados pré-testes. Os pré-testes apresentam várias vantagens. Permitem
verificar a casualização e permitem ao experimentador perceber se os grupos eram equivalentes antes do
tratamento. Se os grupos não forem equivalentes no pré-teste, o experimentador pode fazer ajustamentos
nas medidas do pós-teste para possibilitar um teste mais justo do tratamento.
Os pré-testes fornecem também um teste mais sensível dos efeitos do tratamento permitindo que
cada sujeito sirva como seu próprio controle. Em vez de comparar apenas O2 e O4, o experimentador pode
comparar os escores de cada sujeito no pré e no pós-teste (O1 com O2 e O3 com O4). Quando todos os
escores dos sujeitos no pré-teste diferem entre si e seus escores no pós-teste refletem algumas destas
diferenças individuais preexistentes, o experimentador ganha precisão ao fazer estas comparações intra-
individuais.
Entretanto, o pré-teste tem também algumas desvantagens. Ele pode sensibilizar os sujeitos para os
objetivos do experimento e enviesar seu escore no pós-teste. Se isso ocorre da mesma forma para os grupos
experimental e controle, seus escores no pós-teste deverão ser igualmente elevados ou diminuídos e a pré-
testagem sozinha não seria uma explicação rival para uma diferença entre O2 e O4. Contudo, se o pré-teste
afetar o grupo experimental de forma diferente do grupo de controle, isto apareceria como uma diferença nos
escores de pós-teste e seria indistinguível de uma diferença produzida apenas pelo tratamento. O
delineamento 2 não fornece nenhuma solução para este problema.
No exemplo do experimento de Schulz, ele usou uma variação deste delineamento antes-depois em
seu estudo. Em vez de dois grupos, ele tinha quatro, e todos tiveram pré e pós-testes.
Os pré-testes (letras O com índices ímpares) e pós-testes (letra O com índices pares) incluíam várias
medidas de variável dependente: condições de saúde, bem-estar psicológico e atividades. Os tratamentos,
por outro lado, eram todos variações de uma variável independente. Qualquer variável independente única
pode ter vários valores ou níveis. Portanto, os quatro X no diagrama anterior não representam quatro
variáveis independentes, mas quatro valores de uma variável independente, denominada “grau de controle
sobre as visitas”.
Schulz não encontrou diferenças entre os quatro grupos após o tratamento. Ao invés disso, descobriu
que os dois primeiros eram semelhantes, e ambos tinham melhor saúde que os dois últimos, que também
eram semelhantes entre si. Ele concluiu que o importante ingrediente benéfico no grau de controle era a
possibilidade de predição, pois era o que os dois primeiros grupos tinham em comum.
No diagrama acima, X é uma variável independente e Y é outra. Num delineamento fatorial duas ou
mais variáveis independentes são apresentadas sempre em combinação. O delineamento completo inclui
todas as combinações possíveis das variáveis independentes (também conhecidas por fatores, daí o nome de
delineamento fatorial).
Uma razão para o emprego de delineamentos fatoriais é a busca de efeitos de interação. Outra razão
é para ser capaz de generalizar os efeitos de uma variável para vários níveis de outra. Uma terceira razão
para incluir mais de uma variável independente num experimento é estudar os efeitos isolados daquela
variável.
Os delineamentos fatoriais com duas ou mais variáveis independentes, portanto, apresentam
diversas vantagens sobre os delineamentos com um único fator. Permitem ao investigador descobrir
interações bem como efeitos principais. E se não houver interações permitem ao pesquisador generalizar o
efeito isolado de um fator para dois ou mais valores de outro fator.
Exercícios do Capítulo 7
7.1) Faça uma busca na base de dados e selecione um artigo científico que usou o método de pesquisa de
experimentação.
7.2) Identifique no artigo selecionado as variáveis de estudo.
7.3) Identifique o tipo de delineamento de pesquisa empregado.
7.4) Como o autor minimizou as ameaças à validade interna e externa?
CAPÍTULO 8
Estratégia de pesquisa II: Modelagem e simulação
variáveis que dão entrada que representam o sistema assumem valores exatos, assim, os resultados desse
tipo de simulação serão sempre os mesmos independentemente do número de replicações que se fizer para
o modelo. O modelo estocástico permite que se dê entrada com uma coleção de variáveis que podem
assumir diversos valores dentro de uma distribuição de probabilidades, distribuição esta que pode ser definida
pelo modelador. Os resultados gerados pelos modelos estocásticos são diferentes a cada replicação, em
razão da natureza aleatória das variáveis que dão entrada no modelo (PEREIRA, 2000).
A simulação terminante é aquela em que se está interessado em estudar o comportamento do
sistema num dado intervalo de tempo de simulação. Quando se está interessado em estudar o sistema a
partir do momento em que o mesmo atingir um estado estável (steady-state), a simulação é dita não
terminante (PEREIRA, 2000).
Quando os modelos de simulação representam o sistema sem levar em conta sua variabilidade com
o tempo, ou seja, é uma representação do sistema congelado num determinado momento, é dito estático. O
modelo é dinâmico, quando representa o sistema a qualquer tempo, a exemplo dos modelos que
representam uma linha de produção durante um turno de oito horas (PEREIRA, 2000). O quadro 8.2
apresenta um resumo desses conceitos apresentados anteriormente para facilidade de visualização.
Muitas operações dos sistemas estão sujeitas a variabilidade, muitas delas estão interconectadas e
ainda são complexas. Robinson (2004) afirma que a variabilidade pode ser previsível (paradas programadas
em uma instalação fabril) ou imprevisíveis (taxa de chegada dos pacientes na emergência de um hospital); os
componentes de um processo estão interconectados, uma vez que trabalham de forma isolada, mas afetando
uns aos outros; e, finalmente, a complexidade de um sistema pode ser combinatorial (relacionada ao número
de componentes do sistema ou ao número de combinações possíveis entre os componentes de um sistema)
ou dinâmica (a partir da interação entre os componentes do sistema ao longo do tempo).
A maioria das operações dos sistemas é interconectada e sujeita a variabilidade e complexidade
(combinatorial e dinâmica). Devido a dificuldade de se predizer o desempenho dos sistemas sujeitos a
variabilidade, interconectividade ou complexidade, é muito difícil, senão impossível, predizer o desempenho
dos sistemas operacionais que estão potencialmente sujeitos aos três tópicos. Os modelos de simulação,
entretanto, são aptos para representar explicitamente a variabilidade, a interconectividade e a complexidade
de um dado sistema. Como resultado, é possível com a simulação predizer o desempenho de um sistema,
comparar projetos de sistemas alternativos e determinar o efeito das políticas alternativas no desempenho do
sistema.
Harrel, Ghosh e Bowden (1996) consideram que a simulação é bastante adequada quando:
• é difícil, ou mesmo impossível, o desenvolvimento de um modelo matemático;
• o sistema possuir variáveis aleatórias;
• houver complexidade na dinâmica do processo;
• deseja-se observar o comportamento do sistema por um determinado período;
• o uso da animação for importante para visualizar o processo.
Para não dizer que simulação pode se aplicar a praticamente todo tipo de sistema, a seguir
apresenta-se um enquadramento das aplicações em contextos mais específicos:
• Tempo: redução dos tempos improdutivos, nos quais não se agrega valor a um item.
Num cenário típico, 1 peça é usinada; espera alguém p/ lhe movimentar; é deslocada até o próximo
posto; e aguarda a disponibilidade da próxima máquina ou operador. Nestas quatro etapas, apenas a
primeira agrega valor. Técnicas como JIT, kanban e balanceamento de linhas buscam solucionar este
problema. A simulação comporta bem as inconsistências inerentes ao meio produtivo, ao admitir a
adoção de valores estocásticos nos tempos de processos, quebras, chegadas de MP, etc. Desta forma,
simulação permite ao modelador a adoção do tamanho dos lotes, procedimentos e controles mais
sintonizados à realidade do chão-de-fábrica;
• Manuseio de material: projeto de sistemas de manuseio e transporte mais eficazes e adequados;
• Layout e planejamento de capacidade: projeto de layout otimizado e previsão realista da capacidade
produtiva tanto para instalações novas, quanto para alterações ou ampliações;
• Apoio ao PCP: a simulação auxilia a equacionar a programação dos lotes, dentro do conflito imposto aos
programadores - minimizar e garantir os tempos de entrega dos produtos X maximizar a carga-máquina e
a utilização dos recursos;
• Avaliação de novas tecnologias: compara o desempenho e a relação custo/benefício entre a sistemática
corriqueira e o sistema dotado de novas tecnologias, para avaliação da viabilidade técnica e comercial do
investimento;
• Estocagem e distribuição: definição de melhores alternativas de pontos e características de estoques e
sistemas de distribuição;
• Logística: adequação da programação de suprimentos entre departamentos de uma empresa, ou da
empresa com seus fornecedores e clientes;
• Manutenção e meio ambiente: melhor adequação dos programas de manutenção e do fluxo e manuseio
de resíduos recicláveis ou nocivos.
8.3.1. Conceitualização
Segundo Robinson (2004), a motivação para um estudo de simulação é o reconhecimento de que um
problema realmente existe no mundo real. O problema deve abranger um sistema existente ou um
entendimento sobre um sistema proposto.
Para Seila (1995), uma declaração clara e concisa do problema de decisão ou a razão para se
desenvolver o modelo de simulação é a primeira ação desta fase. O pesquisador deveria saber os tipos de
decisões a serem antecipadas e qual o sistema envolvido. Segundo Robinson (2004), em muitos casos, o
próprio cliente tem condições de explicar e descrever as operações do sistema do mundo real que é o
coração da situação problema para a definição do modelo conceitual.
O modelo conceitual, segundo Robinson (2004), é uma descrição específica do modelo de simulação,
não se importando com o software, descrevendo os objetivos, entradas, saídas, conteúdo, suposições e
simplificações do modelo.
Outro ponto importante nesta fase é a definição dos objetivos da simulação. Para Robinson (2004)
ela significa a natureza pela qual o modelo é determinado, o ponto de referência para a validação do modelo,
o guia para a experimentação e uma das métricas pela qual o sucesso do estudo é julgado. Os objetivos
definem o que se espera atingir com o estudo, o nível de desempenho esperado e as restrições existentes.
O pesquisador deve conhecer a fundo o sistema que está sendo analisado. Se o sistema existe, ele
deve ser cuidadosamente estudado, inclusive através de observações de suas operações e de entrevistas
com as pessoas que gerenciam o sistema. Os componentes desse sistema e suas interações devem ser
identificadas e descritas como um prelúdio para a fase de modelagem (construção do modelo computacional).
Todos os parâmetros de entrada potenciais e variáveis aleatórias envolvidas com o modelo deveriam ser
identificadas (SEILA, 1995). Dessa forma, cada variável aleatória do modelo deve ser examinada e a forma
da sua distribuição e a de seus parâmetros determinada.
As técnicas de fluxograma do processo e mapofluxograma do processo são utilizadas visando
exatamente um melhor planejamento da simulação, como ilustra a figura 8.2. Estas técnicas auxiliam o
modelador a representar da forma mais próxima a real o sistema que será simulado. O resultado do
mapeamento do processo, geralmente, é uma representação gráfica, o qual mostra como os recursos de
entrada são processados e transformados em saídas, destacando-se a relação e a conexão entre cada
atividade. Além disso, é interessante coletar dados para as variáveis de entrada do sistema, indicando
inclusive os equipamentos/máquinas do mundo real que serão objeto da simulação, como mostra a figura 8.3.
8.3.2. Modelagem
Segundo Robinson (2004), na etapa de modelagem, o modelo conceitual é convertido no modelo
computadorizado, como ilustra a figura 8.4. O modelo pode ser programado através de uma planilha
eletrônica, de um software especialista em simulação ou de uma linguagem de programação.
A natureza desta etapa irá depender em grande parte do software para simulação escolhido para a
implementação do modelo. O pesquisador pensa pela primeira vez em como relacionar o modelo conceitual
com o modelo computacional.
Segundo Robinson (2004), este modelo computacional deve ser desenvolvido de forma incremental,
documentando-o e testando-o a cada passo, de forma que os erros possam ser identificados previamente, ao
contrário do que aconteceria se os testes para verificar a confiabilidade/validade do modelo fossem deixados
para depois de que todo o modelo estivesse pronto. A maioria dos softwares disponíveis para simulação
permite essa abordagem incremental na construção dos modelos.
do modelo, rodar o modelo, analisar os resultados, aprender com os resultados, fazer alterações na entrada e
assim sucessivamente.
Segundo Seila (1995), uma boa idéia é armazenar os dados obtidos ao se rodar o modelo
computacional de forma que não se necessite repetir o processo no caso de alguma alteração no
procedimento usado para analisar os dados. Uma vez que o modelo começa a rodar e a gerar os resultados,
é preciso aplicar os procedimentos de análise estatística dos dados para avaliar o desempenho do sistema.
Robinson (2004) considera que os experimentos através da simulação podem se dar por
experimentação interativa ou por lote. A primeira envolve observar a simulação rodar e fazer alterações ao
modelo para ver os possíveis efeitos. O objetivo deste primeiro tipo é desenvolver um entendimento maior
sobre o modelo (e do sistema real), das principais áreas de problemas e identificar as soluções potenciais,
facilitando a tomada de decisão. Na experimentação por lote, os fatores experimentais são definidos e o
modelo é colocado para rodar por um dado número de replicações. O objetivo é rodar o modelo por um tempo
suficiente e obter resultados estatísticos significativos. Os softwares de simulação possuem aptidões
especiais para rodar esse tipo de experimentação, como ilustra a figura 8.5.
8.3.4. Implementação
Robinson (2004) afirma que a implementação pode ser interpretada de três formas. A primeira pela
implementação das descobertas do estudo de simulação no mundo real. A segunda é a implementação do
modelo ao invés de suas descobertas; e a terceira é interpretar a implementação como um aprendizado, que
pode ser colocada em prática apenas em uma tomada de decisão futura.
No primeiro caso, ou seja, a implementação das descobertas do estudo de simulação, um relatório
final deve ser elaborado descrevendo a situação problema e os objetivos do projeto, um resumo do modelo,
os experimentos realizados e destacando os resultados obtidos, uma lista das conclusões e recomendações
e, finalmente, relatando sugestões para simulações futuras. No processo de implementação são os clientes
que determinam quais das recomendações do estudo de simulação serão colocadas em prática no mundo
real.
O segundo caso envolve entregar uma cópia do estudo de simulação desenvolvido ao cliente, de
forma que ele possa rodar o modelo no momento em que achar mais oportuno ou que necessitar dos
resultados para tomar uma decisão. Neste caso, é necessária a documentação adequada do modelo e o
treinamento dos clientes para sua correta utilização.
No terceiro caso o pesquisador, o usuário da simulação e os clientes ganham um maior entendimento
do mundo real não apenas a partir dos resultados dos experimentos da simulação, mas de todo o processo
de desenvolvimento e uso do modelo de simulação.
f) Teste com dados históricos do sistema real: se existirem dados históricos, parte é usado para a
construção do modelo e a outra parte é usada para determinar se o sistema computacional se comporta
de forma similar ao sistema real (SARGENT, 2005);
g) Condução de turing tests: Nesse teste as respostas dadas pelo modelo e as respostas que são dadas
pelo sistema modelado, são ambas entregues a pessoas que conheçam o sistema. A essas pessoas não
é dito quais são as respostas do sistema e do modelo, para que não sejam influenciadas em sua opinião.
Caso essas pessoas conseguirem distinguir entre os dois conjuntos dados, devem explicar ao
pesquisador que distinção encontrou. Essas diferenças são então analisadas uma a uma, juntamente
com o pesquisador, que dessa forma poderá implementar mudanças no modelo de maneira a aproximar
os resultados (PEREIRA, 2000).
h) Desenvolvimento do modelo juntamente com o usuário: os modernos softwares de simulação possibilitam
a animação. Através dessa animação, o modelador pode interagir facilmente com as pessoas que
conhecem o sistema, além de motivá-las para o envolvimento com o estudo de simulação (PEREIRA,
2000).
i) Recorrer a especialistas: o pesquisador poderá recorrer ao auxílio de pessoas que conheçam um sistema
similar, ou mesmo dos fornecedores de equipamentos. A validade nesses casos pode até mesmo ser
verificada através de outros sistemas similares existentes, ou mesmo que não se tenha o sistema todo,
mas apenas uma parte deste, a validação através da comparação com o sistema real poderia ser feita
somente para aquele determinado módulo que se tem.
vez mais com base em critérios objetivos, levando em conta não apenas as características dos produtos mas
também das aplicações que se pretende desenvolver.
Segundo Nikoukaran, Hlupic e Paul (1998), alguns dos critérios que devem ser levados em
consideração na seleção de um software para simulação são:
• Credibilidade do vendedor ou do fabricante do software, documentação (manuais) disponível e suporte ao
usuário;
• Presença de facilidades que auxiliam o pesquisador no desenvolvimento do modelo e na entrada de
dados interativa;
• Possibilidade de rodar a simulação várias vezes e alterar o gerador de números aleatórios quando
necessário;
• Qualidade da animação do pacote de software;
• Presença de ferramentas para facilitar o debbuging, a verificação e a validação dos modelos simulados;
• Qualidade dos resultados (relatórios, gravação em mídias ou em outros arquivos, tais como um editor de
textos);
• Capacidade do software de rodar em diversas estações (PC’s, workstations) e sistemas operacionais.
Algumas características marcantes são comuns à maioria dos produtos que disputam este rico
mercado. Dentre elas, destaca-se a busca de um ambiente de trabalho que seja o mais amigável possível, de
preferência um aplicativo Windows, com facilidades para a modelagem, depuração, visualização da
execução, análise estatística de resultados e geração de relatórios.
Mas, uma das características de maior apelo comercial são os recursos de animação. Estes, vão
desde simples implementações com símbolos gráficos (círculos, quadrados, etc..) piscando na tela e
mostrando valores numéricos que descrevem o estado do sistema (tamanho de filas, por exemplo), até
sofisticados recursos de animação 3-D que, obviamente, demandam elevado esforço computacional e
encarecem o produto.
Ainda com relação aos sistemas de animação, enquanto a maioria dos sistemas (ex: Arena,
ProModel) permitem a visualização da simulação em "tempo real", ou seja, enquanto ela roda, outra opção é
o uso de um animador "off-line" como é o caso do PROOF Animation da Wolverine (a mesma empresa que
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Metodologia de Pesquisa em Engenharia de Produção
Estratégias, métodos e técnicas para condução de pesquisas quantitativas e qualitativas
produz o GPSS/H, uma nova versão do velho GPSS). No caso do PROOF, o programa animador lê os dados
de um arquivo texto (trace file), gerado por uma rodada de simulação anterior, e, com base nestes dados
mais um arquivo de layout, possibilita uma visualização animada da simulação. Esta opção se aplica ao
GPSS, mas também pode ser utilizada com outros softwares, tais como o SIMUL (Saliby, 1996); para isso,
basta a simulação gerar o arquivo texto (trace file) no formato requerido pelo PROOF.
Outra característica marcante destes novos produtos, e nisso eles são mais parecidos entre si, diz
respeito à etapa de modelagem/programação. Neste caso, dispõe-se geralmente de uma vasta biblioteca de
blocos de modelagem/programação que são selecionados via menu, posicionados e conectados via mouse
("drag and drop"). Cabe ainda ao usuário preencher os dados adicionais necessários, em janelas associadas
a cada um destes blocos. Mas, numa aplicação real, o usuário sempre terá alguma programação a fazer, ao
contrário do que os vendedores de software geralmente afirmam. E aí, podem surgir dificuldades práticas,
pois o usuário poderá ser obrigado a decifrar um código de simulação gerado na linguagem específica do
aplicativo e saber como fazer as alterações necessárias. Em geral, esta intervenção requer um grau de
conhecimento do software que vai muito além do conhecimento dos blocos básicos de
modelagem/programação.
Exercícios do Capítulo 8
8.1) Leia o artigo “Modelling and simulation – Operations management research methodologies using
quantitative modeling”, de J. M. W. Bertrand e J. C. Fransoo, publicado pelo International Journal of
Operations & Production Management, v. 22, n. 2, 2002.
8.2) De acordo com o artigo, quais são as etapas para a prática do método?
8.3) De acordo com o artigo, quando se pode usar este método?
8.4) De acordo com o artigo, quais são as vantagens na aplicação do método?
8.5) De acordo com o artigo, quais são os problemas encontrados na prática desse método?
CAPÍTULO 9
Estratégia de pesquisa III: Pesquisa levantamento ou survey
os conceitos e da fronteira da validade dos modelos. Os estudos longitudinais são mais úteis para este
tipo de survey.
• Pesquisa levantamento descritiva: realizada para entender a relevância de um certo fenômeno e
descrever a distribuição do fenômeno em uma população. Sua finalidade primária não é o
desenvolvimento de teorias, embora através dos fatos descritos ela pode fornecer sugestões úteis para a
construção da teoria e para o refinamento da teoria. Tradicionalmente, a maioria das pesquisas
levantamento em gestão de operações foram realizadas para propósitos descritivos.
Segundo Fink e Kosecoff (1998), a survey pode ser usada para fazer política ou para planejar e
avaliar programas e conduzir pesquisas quando a informação necessária deve ser extraída diretamente de
pessoas. Os dados fornecidos por essas pessoas são descrições de atitudes, valores, hábitos e
características básicas como idade, saúde, educação e renda.
Projeto
- Considerar restrições macro;
- Especificar necessidades de informações;
- Definir amostra alvo;
- Selecionar método de coleta de dados;
- Desenvolver instrumentos de medição.
Teste piloto
- Testar procedimentos de administração da survey;
- Testar procedimentos para lidar com não-respondentes, dados
faltantes e dados limpos;
- Avaliar qualidade da medição de uma forma exploratória.
Gerar relatório
- Esboçar implicações teóricas;
- Fornecer informação para replicabilidade.
A unidade de análise se refere ao nível de agregação dos dados durante a subseqüente análise. As
unidades de análise na gestão de operações podem ser indivíduos, grupos, plantas, divisões, empresas,
projetos, sistemas, etc. É necessário determinar a unidade de análise quando da formulação das questões de
pesquisa. Os métodos de coleta de dados, o tamanho da amostra e mesmo a operacionalização dos
construtos podem algumas vezes ser determinados ou guiados pelo nível no qual os dados estarão
agregados no momento da análise. Quando o nível de referência é diferente da unidade de análise o
pesquisador irá encontrar um problema de inferência de nível cruzado.
O primeiro problema que um pesquisador enfrenta é a transformação dos conceitos teóricos em
elementos observáveis e mensuráveis. Se o conceito teórico é multidimensional, então todas as suas
dimensões precisam encontrar os correspondentes elementos na definição operacional. Esta ação serve para
reduzir a abstração dos construtos de forma que eles possam ser mensurados.
A tradução dos conceitos teóricos em definições operacionais pode ser muito diferente de um
construto a outro. Enquanto alguns construtos permitem medidas objetivas e precisas, outros são mais
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Metodologia de Pesquisa em Engenharia de Produção
Estratégias, métodos e técnicas para condução de pesquisas quantitativas e qualitativas
nebulosos, especialmente quando sentimentos, atitudes e percepções de pessoas estão envolvidos. Segundo
Groves et al. (2004), as medidas são mais concretas que os construtos. As medidas são formas de se coletar
informações a respeito dos construtos e, em geral, são constituídas de questões propostas a um respondente
usando-se de palavras.
O processo de identificar os elementos a serem inseridos na definição operacional pode incluir o
contato com aqueles que fazem parte da população de interesse para adquirir conhecimento prático de como
o construto é visto em organizações reais e identificando elementos específicos importantes da indústria que
está sendo estudada.
Quando a definição operacional foi desenvolvida, o pesquisador deveria testá-la quanto a sua
validade de conteúdo. A validade de conteúdo da medida de um construto pode ser definida com o grau no
qual a medida abarca o domínio da definição teórica do construto. Esta é a extensão na qual a medida
captura as diferentes facetas do construto.
Uma hipótese é uma relação logicamente conjecturada entre duas ou mais variáveis (medidas)
expressas na forma de declarações testáveis. Uma hipótese pode também testar se existem diferenças entre
dois grupos (ou diversos grupos) com respeito a qualquer variável. As hipóteses podem ser estabelecidas nos
formatos de proposição ou de declaração do tipo se-então (if-then).
9.3.2. Projeto
O projeto da pesquisa levantamento inclui todas as atividades que precedem a coleta de dados.
Antes de embarcar em um levantamento de teste da teoria, o pesquisador deveria considerar a
conveniência do método desse levantamento e da viabilidade geral do projeto de pesquisa, visando
considerar as restrições macro.
Tempo, custo e requisitos de recursos gerais podem restringir um projeto de pesquisa levantamento,
forçando um tipo de levantamento mais barato ou, no extremo, torná-lo inviável. Outras possíveis restrições
são a acessibilidade da população e a viabilidade de envolvimento dos informantes certos. Para avaliar
adequadamente a parcimônia das restrições o pesquisador deveria identificar as principais necessidades
de informações (horizonte de tempo, natureza da informação, etc.) que fluem das hipóteses formuladas e,
em última instância, dos vários propósitos do estudo. Se o estudo requer informação que é considerada de
natureza confidencial pelos respondentes, então o custo e o tempo para conseguir a informação é
provavelmente alto e um número de alternativas para o projeto da pesquisa pode não ser viável.
As grandes decisões sobre a coleta de dados (telefone, entrevista ou e-mail) e horizonte de tempo
(transversal ou longitudinal) devem ser tomadas antes de projetar e selecionar a amostra e de elaborar o
questionário e outros materiais.
Para tratar da definição da amostra alvo é necessário conhecer a definição de alguns termos.
Essas definições se encontram no quadro 9.1.
A amostragem supera as dificuldades de coleta de dados de uma população inteira, que seria
impossível ou proibitiva em termos de tempo, custo e outros recursos humanos. Um projeto de amostra pobre
pode restringir a aplicação de técnicas estatísticas mais apropriadas e a generalização dos resultados. Dois
tópicos devem ser cuidados: aleatoriedade e tamanho da amostra.
A composição da população deveria ser retirada de fontes amplamente disponíveis para facilitar a
replicabilidade dos estudos. Por exemplo, nos EUA existe o Standard Industrial Classification (SIC) code
(http://www.osha.gov/pls/imis/sicsearch.html), uma classificação das várias indústrias norte-americanas. No
Brasil existe a Classificação Nacional da Atividades Econômicas – CNAE (http://www.rais.gov.br/cnae.asp).
A amostragem aleatoriamente estratificada é um tipo muito útil de amostragem pois ela fornece mais
informação para um dado tamanho de amostra. Este procedimento assegura alta homogeneidade dentro de
cada estrato e a heterogeneidade entre os estratos. Ela permite a comparação dos subgrupos da população e
também o controle de fatores tais como tipo ou tamanho da indústria que frequentemente afetam os
resultados.
O tamanho da amostra é um tópico complexo que está ligado ao nível de significância, a potência do
teste estatístico e também ao tamanho da relação pesquisada. Uma potência do teste alta é necessária para
reduzir a probabilidade de falha em detectar um efeito quando o mesmo está presente. Para este tipo de
análise utiliza-se o teste de hipóteses. Segundo Freitas et al. (2000), o tamanho da amostra deve ser
estabelecido considerando-se alguns aspectos: se o universo é finito ou infinito, o nível de confiança
estabelecido (usualmente 95%), o erro permitido (normalmente não superior a 5%) e a proporção em que a
característica foco da pesquisa se manifesta na população.
Os métodos de coleta de dados mais utilizados na pesquisa levantamento são a entrevista e o
questionário. As entrevistas podem ser estruturadas ou não-estruturadas. Elas podem ser conduzidas face-a-
face ou por telefone. Os questionários podem ser administrados pessoalmente, por telefone, por correio ou
por e-mail para os respondentes. O pesquisador pode também utilizar o telefone para melhorar a taxa de
resposta dos levantamentos realizados por correio ou e-mail através de ligações de notificação anteriores ao
envio do instrumento. As vantagens e desvantagens de cada método são apresentadas no Quadro 9.2.
Recentemente uma nova forma de abordar as empresas e administrar questionários apareceu. O
pesquisador pode enviar o questionário por e-mail ou solicitar os respondentes a visitarem uma página da
web onde o questionário pode ser completado e reenviado eletronicamente. Uma das vantagens desse
método é o baixo custo se comparado com os outros métodos. Algumas desvantagens são a falta de
anonimato e a falta de incentivo (Forza, 2002; Ranchhod e Zhou, 2001).
Uma das principais características de uma pesquisa levantamento é que ela se baseia em
instrumentos estruturados para a coleta da informação. Uma vez que o pesquisador decidiu o conteúdo de
uma medida (os aspectos empíricos específicos que devem ser observados), restam diversas tarefas para se
desenvolver os instrumentos de medida, tais como:
• Definir a forma como as questões são formuladas para coletar a informação de um conceito específico;
• Decidir para cada questão a escala na qual as respostas serão dadas;
• Identificar os respondentes apropriados para cada questão;
• Colocar as questões juntas no questionário de forma que facilite e motive os respondentes a responder.
e coletivamente exaustivas. As questões ambíguas deveriam ser eliminadas e não redigidas para deduzir
respostas socialmente desejáveis. Uma declaração ou questão não deveria ter mais que 20 palavras em uma
linha escrita.
Uma segunda tarefa no desenvolvimento de um instrumento de medição é a definição de escalas
utilizadas para medir as respostas. Segundo Fink e Kosecoff (1998) existem quatro tipos de escalas de
medidas: nominais, ordinais, intervalais e proporcionais.
As escalas nominais são geralmente chamadas de escalas de resposta por categoria e referem-se a
respostas dadas por pessoas a respeito de grupos aos quais pertencem: gênero, afiliação religiosa,
escolaridade, etc.
As escalas ordinais requerem que os respondentes ordenem as respostas. A situação econômica de
uma pessoa (alta, média ou baixa) poderia ser um exemplo deste tipo de escala. A medida na qual um
indivíduo concorda fortemente, concorda, discorda ou discorda fortemente com uma declaração é
considerada uma medida ordinal por alguns pesquisadores e uma medida intervalar por outros.
As escalas intervalais oferecem uma significado real para as distâncias entre números. A renda anual
de um indivíduo, por exemplo, pode ser disposta em intervalos.
As escalas proporcionais são aquelas em que as unidades inseridas na escala são sempre
eqüidistantes uma das outras, não importando onde elas se encontram na escala. Uma survey raramente
emprega as escalas proporcionais.
Frequentemente, a unidade de análise da pesquisa é uma empresa ou uma de suas plantas. Mas,
não é a empresa que vai lhe dar as respostas e sim uma pessoa empregada pela mesma. Mesmo assim, na
estrutura hierárquica de uma empresa, algumas pessoas tem conhecimento sobre determinado assunto,
enquanto outras conhecem outros assuntos. Por causa disso, o pesquisador deve identificar os informantes
apropriados para cada conjunto de informações necessárias. Para aumentar a confiabilidade das
descobertas, o pesquisador pode utilizar alguma forma de triangulação, tal como o emprego de múltiplos
respondentes para uma mesma questão ou o uso de múltiplos métodos de medição (por exemplo, qualitativos
e quantitativos) (FORZA, 2002).
Para aumentar a probabilidade de sucesso da coleta de dados o pesquisador deve planejar
cuidadosamente a execução da survey e fornecer instruções detalhadas sobre: como as unidades amostrais
serão abordadas e como os questionários serão administrados. Em outras palavras, o protocolo a ser seguido
para administrar o questionário desenvolvido tem que ser elaborado.
Adicionalmente, as empresas e respondentes podem se tornar relutantes em responder aos
questionários. Para minimizar tal ocorrência, os pesquisadores devem buscar formas de obter a colaboração
dos mesmos. Outro problema que pode acontecer é a dificuldade de se encontrar o respondente certo. A
estratégia de contato deveria levar este problema em conta e variar a abordagem baseada nestas influentes
variáveis. Uma estratégia poderia ser entrar em contato com os respondentes potenciais e obter deles o
comprometimento em responder ao questionário (FORZA, 2002).
Quadro 9.3 – Principal papel de três tipos de pessoas no pré-teste do questionário para survey
Tipo de pessoa Papel no pré-teste
Colegas (outros pesquisadores) Testar se o questionário consegue atingir os objetivos do estudo.
Especialistas da indústria Prevenir a inclusão de algumas questões óbvias que podem revelar uma ignorância evitável
do pesquisador em alguma área específica.
Respondentes-alvo Fornecer realimentação em tudo que pode afetar as respostas às questões e as respostas
de outros respondentes-alvo.
Fonte: Forza (2002)
Forza (2002) propõe duas fases para o pré-teste do questionário auto-administrado. Na primeira o
pesquisador completa o questionário junto a um grupo de respondentes potenciais ou durante uma visita a
três ou quatro respondentes potenciais. Nessa etapa o pesquisador deveria estar presente, observando como
os respondentes completam o questionário e registrando suas percepções. Na segunda etapa o pesquisador
realiza uma pequena amostra pré-teste (por exemplo, com 15 unidades) para testar o protocolo de
administração de contato, para coletar dados para realizar uma avaliação exploratória da qualidade da
medição e para obter informações que definam melhor a amostra e a adequação das medidas em relação a
amostra.
Os não-respondentes alteram a estrutura da amostra e pode conduzir a uma amostra que não
representa a população mesmo quando a amostra foi adequadamente projetada para este propósito. Isso
pode ainda limitar a generalizabilidade dos resultados. Esse problema com não-respondentes pode ser
tratado de duas formas (FORZA, 2002):
• Tentando-se aumentar a taxa de respostas;
• Tentando-se identificar os não-respondentes para controlar se eles são diferentes dos respondentes.
A avaliação da qualidade da medição pode ser feita em termos de validade e confiabilidade. A falta
de validade introduz um erro sistemático (tendência), enquanto a falta de confiabilidade introduz um erro
aleatório.
A confiabilidade indica dependabilidade, estabilidade, previsibilidade, consistência e precisão, e
refere-se a extensão na qual um procedimento de medida rende os mesmos resultados em tentativas
repetidas. Ela é avaliada após a coleta de dados. Os quatro métodos mais comuns utilizados para estimar a
confiabilidade são apresentados no quadro 9.4.
Uma medida possui validade do construto se um conjunto de itens que constituem a medida
representa fielmente o conjunto de aspectos do construto teórico medido e não contém itens que representam
aspectos não incluídos no construto teórico.
A avaliação empírica da validade do construto foca basicamente na convergência entre medidas (ou
itens da medida) do mesmo construto (validação convergente) e separação entre medidas (ou itens da
medida) de construtos diferentes (validação discriminante). Quando um teste, conduzido para avaliar um
aspecto da validade do construto, não suporta o resultado esperado, tanto o instrumento de medida ou a
teoria podem estar inválidos. É uma questão de julgamento do pesquisador em interpretar adequadamente os
resultados obtidos.
A validade relacionada ao critério é estabelecida quando a medida diferencia indivíduos em um
critério em que se espera predição. Estabelecendo-se a validade simultânea ou a validade prognostica pode-
se fazer isso. A validade simultânea é estabelecida quando a escala discrimina indivíduos que
reconhecidamente são diferentes. A validade prognostica é a capacidade da medida de diferenciar entre
indivíduos como um critério futuro.
A avaliação da qualidade da medida, portanto, acontece em vários estágios da pesquisa
levantamento: antes da coleta de dados, durante o teste piloto e após a coleta de dados para o teste de
Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Itajubá - UNIFEI Página 144
Metodologia de Pesquisa em Engenharia de Produção
Estratégias, métodos e técnicas para condução de pesquisas quantitativas e qualitativas
hipóteses. Entretanto, a realização das avaliações de confiabilidade e validade pode ser organizada na forma
de um processo iterativo de três passos: avaliação da validade, avaliação da confiabilidade e avaliação da
validade do construto. A eliminação de itens no segundo e terceiro passos requer que o pesquisador retorne
ao primeiro passo e refaça as análises para a medida modificada.
variáveis demográficas; a média, desvio padrão, variação e variância das outras variáveis independentes e
dependentes; e uma matriz de inter-correlação das variáveis.
A análise de dados para o teste de hipóteses pode ser feita através de testes de significância que
podem ser agrupados em duas classes gerais: paramétricos e não-paramétricos.
Os testes paramétricos são geralmente considerados mais poderosos porque seus dados são
tipicamente derivados de medidas de razão e intervalos quando o modelo mais provável é conhecido, exceto
para alguns parâmetros. Alguns exemplos de testes paramétricos são: correlação de Pearson, teste t e a
análise de variância (ANOVA).
Os testes não-paramétricos também são usados com dados nominais e ordinais. Eles são indicados
quando a distribuição da população é indefinida ou viola a suposição dos testes paramétricos. Alguns
exemplos de testes não-paramétricos são: Chi-quadrado, teste da mediana, teste de Fisher e o teste U de
Mann-Witney.
Em qualquer campo de aplicação, tal como a gestão de operações, a maioria das ferramentas é, ou
deveria ser, multivariada. Alguns exemplos de métodos de análise multivariados são: regressão múltipla,
análise multivariada da variância (MANOVA), modelos de equações estruturais, análise de fatores e análise
de cluster.
A escolha e a aplicação do teste estatístico apropriado é apenas um passo da análise de dados para
a construção da teoria. Adicionalmente, os resultados dos testes estatísticos devem ser interpretados. Ao
interpretar os resultados o pesquisador se move do domínio empírico para o teórico. Este processo implica
considerações de inferência e generalização (MEREDITH, 1998).
Mesmo nos casos em que os resultados da análise de dados são consistentes com a teoria no nível
da amostra, o pesquisador deve ter cuidado em inferir que a mesma consistência pode ser estendida para o
nível da população, devido aos problemas com taxa de resposta e tendenciosidade das respostas discutidas
anteriormente.
Os principais pontos a serem considerados na elaboração do relatório são: base teórica (nome e
definições dos construtos, relações entre variáveis, unidade de análise), contribuição esperada, abordagem
adotada para a coleta de dados e a amostra, descrição do processo de construção das medidas (comparação
com medidas similares, descrição dos respondentes), descrição das técnicas empregadas para a análise de
dados e discussão.
Exercícios do Capítulo 9
9.1) Leia o artigo “Surveys – survey research in operations management: a process-based perspective”, de C.
Forza, publicado pelo International Journal of Operations & Production Management, v. 22, n. 2, 2002.
9.2) De acordo com o artigo, quais são as etapas para a prática do método?
9.3) De acordo com o artigo, quando se pode usar este método?
9.4) De acordo com o artigo, quais são as vantagens na aplicação do método?
9.5) De acordo com o artigo, quais são os problemas encontrados na prática desse método?
CAPÍTULO 10
Estratégia de pesquisa IV: Estudo de Caso
resultado, baseia-se em várias fontes de evidências, com os dados precisando convergir em um formato de
triângulo; e, como outro resultado, beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para
conduzir a coleta e a análise de dados.
Há, predominantemente, três tipos de estudo de caso, dependo dos objetivos para o qual ele é
usado: exploratório, explanatório e descritivo (Yin, 1993).
O estudo de caso exploratório é uma espécie de estudo piloto que pode ser feito para testar as
perguntas norteadoras do projeto, hipóteses, e principalmente os instrumentos e procedimentos. Concluído o
estudo exploratório, haverá perguntas que serão modificadas, retiradas ou acrescentadas, instrumentos que
serão refinados, ou hipóteses que serão reformuladas, com base no que funcionou ou deixou de funcionar.
Mesmo sendo exploratório, haverá um planejamento cuidadoso, o mais detalhado possível, para que não haja
desperdício de tempo, nem do pesquisador nem dos sujeitos envolvidos.
O estudo de caso descritivo tem por objetivo mostrar ao leitor uma realidade que ele não conhece.
Não procura estabelecer relações de causa e efeito, mas apenas mostrar a realidade como ela é, embora os
resultados possam ser usados posteriormente para a formulação de hipóteses de causa e efeito. Pode
mostrar, por exemplo, um professor fazendo uso inadequado da Internet, levando os alunos para o laboratório
de informática para acessar uma página de texto sem links, numa atividade de leitura que poderia ser feita
com menos desperdício de tempo com uma folha impressa na sala de aula. O estudo, no entanto, apenas
descreveria o evento, sem preocupação de generalizar, sugerindo que seja um exemplo típico e que todos os
professores fazem assim, nem de apontar relações de causa e efeito, sugerindo que o mau uso da tecnologia
possa ser improdutivo.
O estudo de caso explanatório pode ser considerado o mais ambicioso dos três, já que tem por
objetivo não apenas descrever uma determinada realidade, mas também explicá-la em termos de causa e
efeito. No exemplo acima, em vez de usar o caso de um único professor, pode mostrar dois, comparando um
exemplo de mau uso da tecnologia com um exemplo adequado e tentar ver o impacto que isso pode ter na
aprendizagem dos alunos. O estudo de caso explanatório pode também ter como objetivo a confirmação ou
generalização de determinadas proposições teóricas.
Yin (2001) considera que existem três condições para definir a utilização de métodos de
pesquisa: (a) o tipo de questão de pesquisa proposto; (b) a extensão do controle que o pesquisador tem
sobre eventos comportamentais efetivos; (c) o grau de enfoque em acontecimentos históricos em oposição a
acontecimentos contemporâneos.
Sendo assim, as questões de pesquisa do tipo “como” e “por que” estimulam o uso da estratégia de
estudo de caso. Por outro lado, o estudo de caso é a estratégia escolhida ao se examinarem acontecimentos
contemporâneos, mas quando não se podem manipular comportamentos relevantes. O poder diferenciador
do estudo de caso sobre outras estratégias de pesquisa está na sua capacidade de lidar com uma ampla
variedade de evidências (documentos, artefatos, entrevistas e observações). O quadro 10.1 apresenta um
resumo das condições para uso do estudo de caso.
Eisenhardt (1989) afirma que os estudos de casos costumam combinar diversos métodos de coleta
de dados, tais como documentos de arquivo, entrevistas, questionários e observações. As evidências podem
ser qualitativas (palavras), quantitativas (números) ou ambas.
Segundo Voss, Tsikriktsis e Frohlich (2002), o estudo de caso pode ser usado para diferentes
propósitos de pesquisa, tais como exploração, construção de teoria, teste de teoria e refinamento/extensão de
teoria. O quadro 10.2 apresenta esses diferentes propósitos de pesquisa em função da metodologia.
propósito principal é ajudar a evitar a situação em que as evidências obtidas não remetam às questões
iniciais da pesquisa.
Desenv olv er
Definir o pro jeto de C onduzir a pesqu is a
Desenv olv er a teo ria Selecionar os caso s instrume ntos e
pesquis a de campo Estabelecer
protocolos de pesquisa C onduzir s egundo
confiabilidade e
estudo de caso
validade
Analisar os dados
(intra e inter-casos)
C onduzir es tudos de
c aso remanesce ntes
Desenv olver e te star
hipótes es
C om parar com a
literatura
Para Yin (2001) os projetos de pesquisa para o estudo de caso apresentam cinco componentes
principais: as questões de estudo (ou da pesquisa), suas proposições (se houver), suas unidades de análise,
a lógica que une os dados às proposições e os critérios para se interpretar as descobertas.
Segundo Eisenhardt (1989), uma definição inicial da questão da pesquisa, mesmo que em termos
gerais, é importante para a construção de teorias a partir do estudo de caso. Uma pesquisa sem foco torna-se
susceptível de ser subjugada pelo volume de dados. A definição da questão de pesquisa dentro de um tópico
abrangente permite ao pesquisador especificar o tipo de organização a ser abordada e o tipo de dados a
serem coletados.
Voss, Tsikriktsis e Frohlich (2002) acrescentam que nesta estratégia de pesquisa a quantidade de
dados que podem ser coletados é muito grande; por essa razão, quanto maior for o foco da pesquisa, mais
fácil será para identificar os casos potenciais e para se desenvolver os protocolos de pesquisa.
Vale lembrar que para a estratégia de estudo de caso são apropriadas as questões do tipo como e
por que. Além disso, Eisenhardt (1989) destaca que a questão de pesquisa pode ser alterada durante o
decorrer da pesquisa, uma vez que no início da definição do projeto a mesma é tratada como uma tentativa.
A especificação de construtos a priori também pode ajudar no desenvolvimento do projeto inicial da
pesquisa de construção da teoria (EISENHARDT, 1989). Apesar deste tipo de especificação não ser comum
nos estudos de construção da teoria, ela é valiosa porque permite que os pesquisadores meçam os
construtos com maior precisão. Se esses construtos provam a sua importância durante o progresso da
pesquisa, os pesquisadores têm uma forte fundamentação empírica para a teoria emergente. Esses
construtos podem ser explicitamente medidos nos protocolos e questionários de entrevistas.
Voss, Tsikriktsis e Frohlich (2002) afirmam que na condução de pesquisa baseada em casos é
comum que a questão de pesquisa evolua e que os construtos sejam modificados, desenvolvidos ou mesmo
abandonados durante o curso da pesquisa. Isso pode ser um ponto forte, assim como pode permitir o
desenvolvimento de mais conhecimento se ao invés existisse apenas uma questão de pesquisa fixa.
Em algumas situações, as questões como e por que podem não apontar para aquilo que o
pesquisador deveria estudar. Nesses casos, estabelecer algumas proposições de estudo pode ajudar a
conduzir a pesquisa para a direção certa. Cada proposição destina a atenção a alguma coisa que deveria ser
examinada dentro do escopo do estudo (YIN, 2001). Além das proposições, Eisenhardt (1989) considera vital
ainda especificar algumas variáveis potencialmente importantes, com referências à literatura existente.
Entretanto, essa autora enfatiza que os pesquisadores devem evitar pensar a respeito das relações
específicas entre essas variáveis e a teoria tanto quanto for possível, especialmente no princípio desse
processo.
Outro ponto importante do projeto de pesquisa é definir a unidade de análise ou de investigação.
Yin (2001) considera que definir o que é um caso é um problema que atormentou muitos pesquisadores. Esse
autor explica que o caso pode ser um indivíduo ou algum evento ou entidade. Ele assume que a definição da
unidade de análise está relacionada à maneira como as questões iniciais da pesquisa foram definidas. Uma
sugestão é discutir o caso em potencial com outros pesquisadores, de forma a evitar a identificação incorreta
da unidade de análise.
Segundo Yin (2001), em um projeto de pesquisa de estudo de caso, ligar os dados a proposições
pode ser feito de várias maneiras. Uma abordagem para os estudos de caso é a idéia da adequação ao
padrão, por meio da qual várias partes da mesma informação do mesmo caso podem ser relacionadas à
mesma proposição teórica. Esta abordagem será comentada com mais detalhes ainda neste capítulo.
Por fim, para concluir o projeto de pesquisa, Yin (2001) afirma que não há uma maneira precisa de se
estabelecer os critérios para interpretação das descobertas do estudo. O que se espera é que os diferentes
padrões estejam contrastando, de forma clara e suficiente, e que as descobertas possam ser interpretadas
em termos de comparação por, pelo menos, duas proposições concorrentes.
Segundo Yin (2001), a investigação para o caso piloto pode ser muito mais ampla e menos
direcionada do que o plano final para a coleta de dados. Além disso, a investigação pode incluir tanto
questões imperativas quanto metodológicas. Sob o ponto de vista metodológico, o trabalho realizado nos
locais do caso piloto podem fornecer algumas informações sobre as questões de campo relevantes e sobre a
logística da investigação de campo.
Para a realização dos casos finais, a estratégia de estudo de caso admite que a pesquisa seja
realizada através de um caso único ou através de casos múltiplos. Essa decisão sobre um caso único ou
casos múltiplos deve acontecer antes da coleta de dados.
Segundo Yin (2001), o estudo de caso único é um projeto apropriado nas circunstâncias onde ele
representa:
• um caso decisivo ao testar uma teoria bem formulada: pode ser utilizado para determinar se as
proposições de uma teoria são corretas ou se algum outro conjunto alternativo de explanações pode ser
mais relevante;
• um caso raro ou extremo;
• um caso revelador: quando o pesquisador tem a oportunidade de observar e analisar um fenômeno
previamente inacessível à investigação científica.
Existem outras situações onde o estudo de caso único pode ser conduzido como a introdução de um
caso mais apurado, como o uso de estudos de caso como mecanismos exploratórios ou a condução de um
caso piloto que é o primeiro de um estudo de casos múltiplos (YIN, 2001).
Voss, Tsikriktsis e Frohlich (2002) destacam como vantagem da utilização do estudo de caso único a
oportunidade que ele permite para observações mais profundas.
Contudo, Voss, Tsikriktsis e Frohlich (2002) afirmam que o estudo de caso único tem suas limitações.
A principal é o limite para a generalização das conclusões, modelos ou teorias desenvolvidos a partir do
mesmo. Isso inclui o risco do mau julgamento de um único evento e na facilidade de se exagerar com os
dados disponíveis. Os casos múltiplos podem reduzir a profundidade do estudo quando os recursos são
restritos, mas pode aumentar a validade externa e auxiliar a evitar a tendenciosidade dos observadores. Yin
(2001) acrescenta que o caso único pode, mais tarde, acabar se revelando como não sendo o caso que se
pensava que fosse no princípio.
Yin (2001) considera que os projetos de casos múltiplos possuem vantagens e desvantagens
distintas em comparação aos projetos de caso único. As provas resultantes de casos múltiplos são
consideradas mais convincentes e o estudo global é visto como sendo mais robusto.
Cada caso deve servir a um propósito específico dentro do escopo global da investigação. Deve-se
considerar os casos múltiplos como se consideraria experimentos múltiplos, ou seja, seguir a lógica da
replicação. Cada caso deve ser cuidadosamente selecionado de forma a (YIN , 2001):
• prever resultados semelhantes (uma replicação literal);
• produzir resultados contrastantes apenas por razões previsíveis (uma replicação teórica).
Para Eisenhardt (1989), dada a limitação do número de casos que podem ser estudados, é mais
sensato selecionar casos que apresentem situações extremas ou do tipo polar, no qual o processo de
interesse é transparentemente observável. Voss, Tsikriktsis e Frohlich (2002) destacam três tipos de
situações para se selecionar os casos: quando pode-se encontrar casos típicos ou representativos, casos que
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Metodologia de Pesquisa em Engenharia de Produção
Estratégias, métodos e técnicas para condução de pesquisas quantitativas e qualitativas
neguem ou desconfirmem uma proposição, ou casos do tipo polar, que apresentem características
nitidamente contrastantes que irão destacar as diferenças que estão sendo estudadas.
Yin (2001) pondera que uma questão importante em um projeto de casos múltiplos é a respeito do
número de casos supostamente necessários ou suficientes para o estudo. Ele afirma que não se deve
empregar a lógica da amostragem, mas sim pensar nessa decisão como um reflexo do número de
replicações de caso, literais e teóricas, que o pesquisador gostaria de ter no seu estudo.
Segundo esse autor, para o número de replicações literais, a seleção do número de replicações
depende da certeza que você quer ter sobre os resultados obtidos dos casos múltiplos. Por exemplo, pode-se
estabelecer duas ou três replicações literais quando as teorias concorrentes forem completamente diferentes
e o tema ao alcance exigir um grau excessivo de certeza. Entretanto, se as teorias concorrentes possuírem
diferenças sutis ou se é desejável obter um alto grau de certeza, poderia-se solicitar cinco, seis ou até mais
replicações. Para o número de replicações teóricas, quando não se tem certeza de que as condições
externas produzirão resultados diferentes de estudo de caso, pode-se articular essas condições relevantes de
uma forma mais explícita no princípio do estudo e identificar um número maior de casos que devem ser
incluídos nele. Em contraste, quando não se acredita que as condições externas produzam muita variação no
fenômeno que está sendo estudado, é necessário um número menor de replicações teóricas.
Woodside e Wilson (2003) afirmam que a triangulação frequentemente inclui: observação direta do
pesquisador no ambiente do caso, sondagens através de questionamentos dos participantes do caso por
explicações e interpretações dos dados operacionais e análises de documentos escritos e dos locais onde se
dá o ambiente do caso estudado.
Lewis (1998) acrescenta o conceito da triangulação interativa que expande o conceito da triangulação
tradicional, utilizando estudos de caso existentes para aumentar a representatividade do estudo. O processo
metodológico da triangulação interativa consiste de quatro fases: princípio fundamental (revisão de literatura e
seleção dos casos), indução (análise dos dados dos casos e desenvolvimento de conjunturas), iteração
(refinamento da teoria) e conclusão.
Yin (2001) discute seis fontes de evidências: documentação, registros em arquivos, entrevistas,
observação direta, observação participante e os artefatos físicos. Nenhuma dessas fontes possui uma
vantagem indiscutível sobre as outras, na verdade elas são complementares. Um bom estudo de caso
utilizará o maior número possível de fontes de evidências. O quadro 10.4 apresenta uma comparação dessas
seis fontes de evidências.
Eisenhardt (1989) acrescenta que a coleta de dados deve combinar evidências qualitativas e
quantitativas. A combinação desses tipos de dados pode ser altamente sinergético. As evidências
quantitativas podem indicar relacionamentos que podem não parecer salientes para o pesquisador em um
primeiro momento e ainda corroborar as descobertas provenientes das evidências qualitativas.
Segundo Yin (2001), os benefícios que se pode obter a partir dessas seis fontes de evidências podem
ser maximizados se o pesquisador mantiver presente três princípios para a coleta de dados. Eles são
importantes para todas as seis fontes de evidências e auxiliam o pesquisador a estabelecer a validade do
construto e a confiabilidade do estudo de caso.
O primeiro princípio é o de se utilizar várias fontes de evidência. Um ponto forte muito importante
da coleta de dados para um estudo de caso é a oportunidade de utilizar muitas fontes diferentes para a
obtenção de evidências, denominada de triangulação. O uso de várias fontes de evidência nos estudos de
caso permite que o pesquisador dedique-se a uma ampla diversidade de questões históricas,
comportamentais e de atitudes. A vantagem mais importante, no entanto, é o desenvolvimento de linhas
convergentes de investigação. Com a triangulação, o pesquisador pode se dedicar ao problema em potencial
da validade do construto, uma vez que várias fontes de evidências fornecem essencialmente várias
avaliações do mesmo fenômeno (YIN, 2001).
O segundo princípio é a criação de um banco de dados para o estudo de caso. Esse princípio
tem a ver com a maneira de organizar e documentar os dados coletados para os estudos de casos. Todo
projeto de estudo de caso deve empenhar-se para desenvolver um banco de dados formal apresentável, de
forma que, em princípio, outros pesquisadores possam revisar as evidências diretamente, e não ficar
limitados a relatórios escritos. Um banco de dados aumenta a confiabilidade do estudo. O quadro 10.5
apresenta os componentes principais de um banco de dados para estudos de caso.
Ainda a respeito das notas para o estudo de caso, Eisenhardt (1989) comenta que elas devem ser
registradas no momento em que uma impressão ocorre, ou seja, não selecionar o que deve ser anotado,
porque é difícil saber o que pode vir a ser útil no futuro. Ela ainda acrescenta que o pesquisador deve estar
sempre se perguntando ao escrever as notas: “o que eu estou aprendendo?” e “como este caso se difere do
anterior?”.
O terceiro princípio é manter o encadeamento de evidências. Esse princípio consiste em permitir
que um observador externo, o leitor do estudo de caso, por exemplo, possa perceber que qualquer evidência
proveniente de questões iniciais da pesquisa leve às conclusões finais do estudo de caso. Além disso, o
observador externo deve ser capaz de seguir as etapas em qualquer direção (das conclusões para as
questões iniciais da pesquisa ou das questões para a conclusão).
Eisenhardt (1989) considera que alternar a coleta de dados com a análise de dados não apenas dá
ao pesquisador a vantagem na análise, mas mais importante, permite que os pesquisadores tirem vantagem
da flexibilidade da coleta de dados. Ajustes adicionais podem ser feitos aos instrumentos de coleta de dados,
tais como a adição de uma questão a um protocolo de entrevistas ou a um questionário.
Voss, Tsikriktsis e Frohlich (2002) afirmam que as tendências (ou preconceitos) pessoais podem
influenciar o que você observa, ouve e registra. Existem algumas formas de minimizar isso. Eisenhardt (1989)
cita o uso de múltiplos investigadores. Segundo ela, essa estratégia tem duas vantagens: ampliar o potencial
criativo do estudo e aumentar a confiança nas descobertas a partir da convergência das observações
produzidas por vários pesquisadores. Uma forma de colocar isso em prática é realizar visitas nos locais do
estudo de caso em equipe, permitindo que o caso seja visualizado de diferentes perspectivas. Voss,
Tsikriktsis e Frohlich (2002) citam que o uso de gravadores pode contribuir na redução da tendenciosidade do
observador, especialmente se a evidência for apresentada literalmente ao invés de resumida.
Voss, Tsikriktsis e Frohlich (2002) lembram que ao final da pesquisa de campo, com a elaboração do
relatório final, é chegado o momento da avaliação e realimentação dos dados. Esta etapa envolve
geralmente a apresentação da descrição do caso para a organização estudada a fim de que seus
representantes possam avaliar seu conteúdo (também chamada de devolutiva).
Voss, Tsikriktsis e Frohlich (2002) ressaltam a importância de saber quando parar a pesquisa e que
esta é uma habilidade importante do pesquisador de estudos de caso. Eles relatam duas situações onde o
pesquisador deve saber o momento de parar. A primeira é quando ele está em perigo de não ter tempo
suficiente para completar as análises e de escrever a pesquisa dentro do tempo disponível. A outra é o
retorno cada vez menor dos casos ou entrevistas incrementais. Ou seja, o momento de parar é quando o
pesquisador possui casos e dados suficientes para responder satisfatoriamente às questões da pesquisa.
Quadro 10.6 – Táticas usadas no estudo de caso para quatro testes da qualidade da pesquisa (continua)
Fase da pesquisa para
Tática Significado Tática do estudo de caso
aplicação da tática
Validade do Estabelecimento de medidas • Utilizar múltiplas fontes de • Coleta de dados;
construto operacionais corretas para os evidências; • Coleta de dados;
conceitos que estão sob estudo. • Estabelecer um encadeamento de
evidências; • Composição.
• Submeter o rascunho do relatório
de estudo de caso para revisão
por informantes-chave.
Validade interna Estabelecimento de uma relação • Fazer adequação ao padrão; • Análise de dados;
causal, por meio da qual são • Fazer construção da explanação; • Análise de dados;
mostradas certas condições que • Fazer análise de séries temporais. • Análise de dados.
levem a outras condições, como
diferenciada de relações espúrias.
Importante apenas para estudos
explanatórios ou causais.
Fonte: Adaptado de Yin (2001)
Quadro 10.6 – Táticas usadas no estudo de caso para quatro testes da qualidade da pesquisa (continuação)
Fase da pesquisa para
Tática Significado Tática do estudo de caso
aplicação da tática
Validade Estabelecimento do domínio nos • Utilizar a lógica de replicação em • Projeto de pesquisa.
externa quais as descobertas de um estudo estudos de casos múltiplos.
podem ser generalizadas.
Confiabilidade Forma de demonstrar que as • Utilizar o protocolo de pesquisa de • Coleta de dados;
operações de um estudo, como os estudo de caso;
procedimentos de coleta de dados, • Desenvolver um banco de dados • Coleta de dados.
podem ser repetidas, apresentando para o estudo de caso.
os mesmos resultados.
Fonte: Adaptado de Yin (2001)
Meredith (1998) destaca que uma das dificuldades que os pesquisadores de estudo de caso
enfrentam na gestão de operações é a má interpretação de que essa estratégia de pesquisa não tem rigor
porque muitas de suas variáveis dependentes não podem ser matematicamente quantificadas e que as
variáveis independentes não podem ser manipuladas à vontade. Contudo, os estudos de caso podem atingir
os quatro requisitos para o rigor em pesquisa: observações controladas, deduções controladas,
replicabilidade e generalizabilidade. O quadro 10.7 mostra como esses requisitos podem ser aplicados nos
estudos de caso.
Yin (2001) trata a generalização dos resultados e conclusões dos estudos de caso de outra forma.
Segundo ele, o maior erro que se comete ao se realizar estudos de casos é conceber a generalização
estatística como método de se generalizar os resultados do caso, uma vez que os casos não são unidades de
amostragem. Ou seja, o estudo de caso é generalizável a proposições teóricas e não a populações ou
universos. Nesse sentido, o estudo de caso, assim como o experimento, não representa uma amostragem e o
objetivo do pesquisador é expandir e generalizar teorias (generalização analítica) e não enumerar freqüências
(generalização estatística).
A idéia geral é tornar-se intimamente familiar com cada caso como uma entidade única. Este
processo permite que padrões únicos de cada caso surjam antes que os investigadores busquem generalizar
esses padrões na análise cruzada dos casos. Voss, Tsikriktsis e Frohlich (2002) sugerem que o ponto de
partida para a análise intra-caso seja a construção de uma ordenação dos dados e com casos longitudinais
construir uma análise da seqüência de eventos. A partir disso, o pesquisador poderia começar a procurar por
explicações e causalidades.
A busca sistemática pelos padrões na análise inter-casos é uma etapa chave na pesquisa por
estudos de casos. Também é essencial para aumentar o poder de generalização das conclusões extraídas
dos casos (Voss, Tsikriktsis e Frohlich, 2002).
Eisenhardt (1989) considera que a chave para uma boa comparação inter-casos é ver os dados de
diversas divergentes formas. Ela cita três táticas para tal.
A primeira delas é selecionar categorias ou dimensões e então buscar por similaridades intra-grupos
junto com diferenças inter-grupos. As dimensões podem ser sugeridas pelo problema da pesquisa ou pela
literatura existente, ou o pesquisador pode simplesmente selecionar algumas dimensões. Uma extensão
desta tática é utilizar células 2 x 2, ou outro agrupamento, para comparar diversas categorias de uma vez, ou
mudar para uma escala de medida contínua que facilite a apresentação gráfica.
A segunda tática é selecionar pares de casos e então listar as similaridades e diferenças entre cada
par. Esta tática força os pesquisadores a buscar as similaridade e diferenças sutis entre os casos. O resultado
dessas comparações forçadas podem ser novas categorias e conceitos que os investigadores não
anteciparam. Finalmente, uma extensão desta tática é agrupar os casos em grupos de três ou quadro para
comparação.
A terceira tática é dividir os dados por fonte de dados. Por exemplo, um pesquisador cuida dos dados
provenientes das observações, enquanto outro analisa as entrevistas e outro pesquisador trabalha com as
evidências dos questionários. Quando o padrão de uma fonte de dados é corroborada pelas evidências de
outra fonte, a descoberta é mais forte e melhor fundamentada. Quando as evidências são conflitantes, o
pesquisador pode algumas vezes reconciliar a evidência através de sondagens mais profundas do significado
dessas diferenças. Uma variação desta tática é dividir os dados em grupos de casos, enfocando em um grupo
de casos inicialmente e nos outros posteriormente.
A idéia geral por trás dessas táticas de análises inter-casos é forçar os pesquisadores a ir além das
impressões iniciais, especialmente pelo uso de métodos estruturados para uso dos dados (Eisenhardt, 1989).
Eisenhardt (1989) sugere dois passos para o ajuste das hipóteses. O primeiro passo é aprimorar os
construtos, envolvendo: refinamento da definição do construto e a construção de evidências que meçam o
construto em cada caso. Isso acontece através da constante comparação entre os dados e o construto, de
forma que as evidências acumuladas das diversas fontes convirjam para um único e bem definido construto.
Esse processo é similar ao desenvolvimento de uma única medida para o construto a partir de múltiplos
indicadores na pesquisa de teste de hipóteses. Ou seja, os pesquisadores utilizam múltiplas fontes de
evidência para elaborar medidas para os construtos, que definem o construto e o distinguem de outros
construtos.
O segundo passo é verificar se as relações emergentes entre os construtos se ajustam com as
evidências de cada caso. Cada hipótese é examinada para cada caso e não para os casos agregados. Assim,
a lógica por trás desse procedimento é a replicação, ou seja, a lógica de tratar uma série de casos como uma
série de experimentos onde cada caso serve para confirmar ou refutar as hipóteses. Na lógica da replicação,
casos que confirmam as relações emergentes aumentam a confiança na validade dessas relações. Os casos
que refutam essas relações frequentemente podem fornecer uma oportunidade para refinar e estender a
teoria.
Eisenhardt (1989) afirma que os dados qualitativos são particularmente úteis para entender por que
as relações emergentes acontecem. Quando uma relação é sustentada, os dados qualitativos em geral
fornecem um bom entendimento da dinâmica por trás da relação, ou seja, o “por que” do o que está
acontecendo. Isso é crucial para o estabelecimento da validade interna.
Eisenhardt (1989) conclui que o ajuste das hipóteses na pesquisa de construção da teoria envolve
medir os construtos e verificar as relações. Ela considera que esse processo é similar a tradicional pesquisa
de teste de hipóteses. Contudo, ela explica que esses processos são mais baseados no julgamento nas
pesquisas de construção da teoria porque os pesquisadores não podem aplicar testes estatísticos. Os
pesquisadores devem julgar a força e a consistência das relações nas análises intra e inter-casos e também
apresentar todas as evidências e procedimentos quando da publicação dos resultados, de forma que os
leitores possam aplicar seus próprios padrões.
Para escrever um relatório existem quatro variedades de estruturas importantes que podem ser
utilizadas. A primeira delas é o clássico estudo de caso único. Para tal, utiliza-se uma narrativa simples para
descrever e analisar o caso. As informações da narrativa podem ser realçadas com tabelas, gráficos ou
imagens. Um segundo tipo é uma versão de casos múltiplos desse mesmo caso único clássico, que deverá
conter várias narrativas sobre cada um dos casos individuais. Ele pode apresentar um capítulo ou uma seção
que apresente a análise e os resultados de casos cruzados. Um terceiro tipo é aquele que trata tanto de um
estudo de caso único quanto de casos múltiplos, mas que não apresenta a narrativa tradicional em sua
estrutura. Em vez disso, a elaboração de cada caso segue uma série de perguntas e respostas, baseada nas
perguntas e respostas constantes no banco de dados para o estudo de caso. O quarto e último tipo de
relatório escrito aplica-se apenas a estudos de caso múltiplos. Este relatório inteiro consiste em uma análise
cruzada, mesmo que seja puramente descritivo ou que lide com tópicos explanatórios. Cada capítulo ou
seção pode se destinar a uma questão distinta do caso cruzado, e as informações provenientes de casos
individuais devem ser distribuídas ao longo de cada capítulo ou seção. Com este formato, podem-se
apresentar informações resumidas sobre os casos individuais, se estas não forem totalmente ignoradas (YIN,
2001).
Segundo Yin (2001), os capítulos, as seções, os subtópicos e outras partes integrantes de um
relatório devem ser organizados de alguma maneira e essa estrutura constitui a estrutura ilustrativa do
relatório. O quadro 10.10 apresenta um resumo de seis estruturas alternativas para compor os relatórios de
estudo de caso.
Quanto aos procedimentos para se fazer o relatório do estudo de caso, Yin (2001) adverte que os
pesquisadores devem sempre se lembrar de que escrever significa reescrever. Quanto mais se reescrever,
especialmente em resposta aos comentários dos outros, melhor o relatório final ficará. O quadro 10.11
apresenta um resumo de três procedimentos importantes que constituem características específicas dos
estudos de caso.
Finalmente, Yin (2001) sugere cinco características que tornam um estudo de caso exemplar. Ele
realça que o estudo de caso exemplar vai além dos procedimentos metodológicos já mencionados ao longo
deste capítulo. Essas cinco características devem indicar que o estudo de caso é ou deve:
• Significativo: isso acontece quando o caso ou casos individuais não forem usuais e de interesse público;
as questões subjacentes forem de importância nacional, tanto em termos teóricos quanto em termos
políticos ou práticos; ou as duas condições anteriores.
• Completo: essa completude pode ser caracterizada de três maneiras. Primeiro, o caso completo é aquele
em que os limites do caso recebem uma atenção explícita. Segundo, ele deve demonstrar, de maneira
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Metodologia de Pesquisa em Engenharia de Produção
Estratégias, métodos e técnicas para condução de pesquisas quantitativas e qualitativas
Exercícios do Capítulo 10
10.1) Leia o artigo “Case research – case research in operations management”, de C. Voss, N. Tsekriktsis e
M. Frohlich, publicado pelo International Journal of Operations & Production Management, v. 22, n. 2, 2002.
10.2) De acordo com o artigo, quais são as etapas para a prática do método?
10.3) De acordo com o artigo, quando se pode usar este método?
10.4) De acordo com o artigo, quais são as vantagens na aplicação do método?
10.5) De acordo com o artigo, quais são os problemas encontrados na prática desse método?
CAPÍTULO 11
11
Estratégia de pesquisa V: Pesquisa-ação
• Pesquisa com ação, ao invés de pesquisa sobre a ação: a idéia central é que a pesquisa-ação utiliza
uma abordagem científica para estudar a resolução de importantes assuntos sociais ou organizacionais
juntamente com aqueles que experimentam esses assuntos diretamente. A pesquisa-ação trabalha
através de um processo cíclico de quatro passos: planejamento, tomada de ação e avaliação da ação,
levando para outro planejamento e assim por diante.
• Participativa: membros do sistema que está sendo estudado participam ativamente no processo cíclico
citado acima. Tal participação contrasta com a pesquisa tradicional onde os membros do sistema são
objetos de estudo. Riordan (1995) busca apresentar um paralelo entre observador e participante. Segundo
ele, o observador é independente dos eventos observados e dá como exemplo um torcedor em um estádio
que possui uma visão geral de tudo o que acontece na partida, vendo coisas que nenhum jogador
particular pode ver. Já o participante procura gerar um entendimento adequado da realidade social ou
organizacional, entendendo seu trabalho e reproduzindo os significados do papel dos atores em termos de
propósitos e valores do ambiente da pesquisa.
• Simultânea com a ação: a meta é fazer a ação mais efetiva enquanto simultaneamente é construído um
corpo de conhecimento científico.
• Seqüência de eventos e uma abordagem para a solução de problemas: como uma seqüência de
eventos, ela compreende ciclos iterativos de coleta de dados, realimentação desses dados para aqueles
interessados, análise dos dados, planejamento das ações, tomada de ações e avaliação, levando para
nova coleta de dados e assim por diante. Como uma abordagem para a solução de problemas, ela é uma
aplicação do método científico na descoberta do fato e experimentação para os problemas práticos que
requerem ações de solução e envolvendo a colaboração e cooperação dos pesquisadores e dos membros
do sistema organizacional. As saídas desejadas da abordagem da pesquisa-ação não são apenas
soluções para os problemas imediatos, mas importantes aprendizados destas saídas, intencionais ou não,
além de uma contribuição para a teoria e para o conhecimento científico.
Thiollent (2005) afirma que a relação existente entre esses dois tipos de objetivos é variável, mas que
um equilíbrio entre as duas ordens de preocupação deve ser mantido.
Segundo Oquist (1978), a pesquisa-ação é altamente controversa. Disputas a respeito da forma como
o conhecimento da ciência social é produzido geralmente passa por controvérsias ideológicas e partidárias.
Com freqüência é discutida a real contribuição da pesquisa-ação em termos de conhecimento. Na prática,
nem todas as pesquisas-ação chegam a contribuir para a produção de conhecimentos novos. Segundo
Thiollent (2005), entre os objetivos de conhecimento potencialmente alcançáveis com a pesquisa-ação,
destacam-se:
• A coleta de informação original acerca de situações ou de atores em movimento;
• A concretização de conhecimentos teóricos, obtida de modo dialogado na relação entre pesquisadores e
membros representativos das situações ou problemas investigados;
• A comparação das representações próprias aos vários interlocutores, com aspecto de cotejo entre saber
formal e saber informal acerca da resolução de diversas categorias de problemas;
Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Itajubá - UNIFEI Página 171
Metodologia de Pesquisa em Engenharia de Produção
Estratégias, métodos e técnicas para condução de pesquisas quantitativas e qualitativas
desempenham uma função semelhante. A substituição das hipóteses por diretrizes não implica que a forma
de raciocínio hipotética seja dispensável no decorrer da pesquisa. Trata-se de definir problemas de
conhecimento ou de ação cujas possíveis soluções, num primeiro momento, são consideradas como
suposições (quase-hipóteses) e, num segundo momento, objeto de verificação, discriminação e comprovação
em função das situações constatadas. A formulação das hipóteses (ou das quase-hipóteses) permite ao
pesquisador organizar o raciocínio estabelecendo pontes entre as idéias gerais e as comprovações por meio
de observação concreta.
A análise dessas forças identifica sua fonte, sua potencialidade e a natureza da demanda que elas
têm sobre o sistema.
Um segundo elemento-chave contextual é o grau de escolha que o sistema cliente faz para a tomada
da ação. As escolhas não são absolutas. Enquanto pode não haver controle sobre as forças que demandam
ação, existe um controle adequado sobre como responder a estas forças. Neste caso parece haver um
escopo sobre quais mudanças, como e em que escala de tempo a ação acontecerá.
A racionalidade para a pesquisa envolve o questionamento do porque desta ação ser digna de ser
estudada, como a pesquisa-ação pode ser considerada a metodologia apropriada a ser adotada e qual a
contribuição esperada para desenvolver o conhecimento.
Para Thiollent (2005) esta é a chamada fase exploratória, que consiste em descobrir o campo de
pesquisa, os interessados e suas expectativas e estabelecer um primeiro levantamento (ou diagnóstico)
da situação, dos problemas prioritários e de eventuais ações. Após o levantamento de todas as
informações iniciais, os pesquisadores e os participantes estabelecem os principais objetivos da pesquisa. Os
objetivos dizem respeito aos problemas considerados como prioritários, ao campo de observação, aos atores
e ao tipo de ação que estarão focalizados no processo de investigação.
Em seguida, deve ser definido o tema da pesquisa. Thiollent (2005) afirma que o tema da pesquisa
é a designação do problema prático e da área de conhecimento a serem abordados. Ele deve ser definido de
modo simples e sugerir os problemas e o enfoque que serão selecionados. Na pesquisa-ação, a
concretização do tema e seu desdobramento em problemas a serem detalhadamente pesquisados são
realizados a partir de um processo de discussão com os participantes. Quando um primeiro tema se revelar
inviável a curto prazo, é bom delimitar um tema que esteja ao alcance dentro de um prazo razoável. Na
pesquisa-ação, em geral, o tema é solicitado pelos atores da situação. Contudo, um acordo entre os
participantes e entre os pesquisadores deve ser procurado.
Nesta fase inicial é necessário dar uma atenção especial à colocação dos problemas principais a
partir dos quais a investigação será desencadeada. Trata-se de definir uma problemática na qual o tema
escolhido adquira sentido. Esta problemática deve ser entendida como a colocação dos problemas que se
pretende resolver dentro de um certo campo teórico e prático. Na pesquisa científica, o problema ideal pode
remeter à constatação de um fato real que não seja adequadamente explicado pelo conhecimento disponível
(THIOLLENT, 2005).
No caso da pesquisa-ação, os problemas colocados são inicialmente de ordem prática. Trata-se de
procurar soluções para se chegar a alcançar um objetivo ou realizar uma possível transformação dentro da
situação observada. Na sua formulação, um problema desta natureza é colocado da seguinte forma
(THIOLLENT, 2005):
a) Análise e delimitação da situação real;
b) Delineamento da situação final, em função de critérios de desejabilidade e de factibilidade;
c) Identificação de todos os problemas a serem resolvidos para permitir a passagem de (a) para (b);
d) Planejamento das ações correspondentes;
e) Execução e avaliação das ações.
Thiollent (2005) considera que o projeto de pesquisa-ação precisa ser articulado dentro de uma
problemática com um quadro de referência teórico adaptado aos diferentes setores. O papel da teoria
consiste em gerar idéias, hipóteses ou diretrizes para orientar a pesquisa e as interpretações. Os
pesquisadores devem ficar atentos para que a discussão teórica não desestimule e não afete os participantes
que não dispõem de uma formação teórica. Certos elementos teóricos deverão ser adaptados ou traduzidos
em linguagem comum para permitir um certo nível de compreensão.
Como qualquer pesquisa social, na pesquisa-ação o uso de procedimentos hipotéticos não será
descartado, será apenas suavizado. De acordo com Thiollent (2005), uma hipótese é simplesmente definida
como suposição formulada pelo pesquisador a respeito de possíveis soluções a um problema, colocado na
pesquisa, principalmente ao nível observacional. A hipótese desempenha um importante papel na
organização da pesquisa: a partir da sua formulação, o pesquisador identifica as informações necessárias,
evita a dispersão, focaliza determinados segmentos do campo de observação, seleciona dados, etc.
A hipótese, ou diretriz, deve ser formulada em termos claros e concisos, sem ambigüidade gramatical
e designar os objetos em questão a respeito dos quais seja possível fornecer provas concretas ou
argumentos convincentes, favoráveis ou não. A hipótese qualitativa é usada para organizar a pesquisa em
torno de possíveis conexões ou implicações não-causais, mas suficientemente precisas para se estabelecer
que uma variável independente X tem algo a ver com a variável dependente Y na situação considerada. Em
função das hipóteses ou diretrizes escolhidas, os pesquisadores sabem quais são as informações que são
necessárias e as técnicas de coleta a serem utilizadas. Na pesquisa-ação, recorre-se a técnicas de coleta de
grupo e aos mais diversos procedimentos, inclusive questionários e entrevistas, sendo utilizadas como
instrumentos de captação auxiliar (THIOLLENT, 2005).
A partir do momento em que os pesquisadores e os interessados na pesquisa estão de acordo sobre
os objetivos e os problemas a serem examinados, começa a constituição dos grupos que irão conduzir a
investigação e o conjunto do processo, no que Thiollent (2005) denominou de seminário.
O seminário centraliza todas as informações coletadas e discute as interpretações, sendo que seus
resultados são registrados em atas. As principais tarefas do seminário, segundo Thiollent (2005) são:
• Definir o tema e equacionar os problemas para os quais a pesquisa foi solicitada;
• Elaborar a problemática na qual serão tratados os problemas e as correspondentes hipóteses de
pesquisa;
• Constituir os grupos de estudos e equipes de pesquisa, além de coordenar suas atividades;
• Centralizar as informações provenientes das diversas fontes e grupos;
• Elaborar as interpretações;
• Buscar soluções e definir diretrizes de ação;
• Acompanhar e avaliar as ações;
• Divulgar os resultados pelos canais apropriados.
d) Planejamento da ação
Coughlan e Coughlan (2002) consideram que após as análises, mais adiante a ação é planejada. O
pesquisador e os membros da organização decidem quem faz o que e em um prazo adequado. Algumas
questões chaves surgem:
• O que precisa mudar?
• Em que partes da organização?
• Que tipos de mudanças são necessárias?
• Que tipo de apoio é necessário?
• Como é o compromisso a ser formado?
• Qual é a resistência a ser gerenciada?
Essas questões são críticas e necessitam ser respondidas como parte do plano de mudança.
e) Implementação
O cliente implementa a ação planejada. Segundo Thiollent (2005), a ação corresponde ao que precisa
ser feito (ou transformado) para realizar a solução de um determinado problema. Para Coughlan e Coughlan
(2002), esta tarefa envolve realizar as mudanças desejadas e seguir os planos de forma colaborativa com
relevantes membros-chaves da organização.
f) Avaliação
Coughlan e Coughlan (2002) consideram que a avaliação envolve uma reflexão sobre os resultados
da ação, tanto intencionais quanto não intencionais, uma revisão do processo para que o próximo ciclo de
planejamento e ação possa beneficiar-se do ciclo completado. A avaliação é a chave para o aprendizado.
Sem ela as ações são implementadas ao acaso, independente de sucesso ou fracasso, e os erros se
proliferam, gerando um aumento da ineficácia e da frustração.
Portanto, a oportunidade para a aprendizagem contínua existe. Pode ser útil perceber que os ciclos
de coleta, realimentação, análise de dados, planejamento das ações, tomada das ações e avaliação ocorrem
periodicamente na medida que ações particulares são planejadas e implementadas. Alguns ciclos podem se
referir a eventos específicos em um ciclo de curto período; outros podem ser simultâneos e ao longo de um
ciclo de tempo maior. Certamente o papel do projeto de pesquisa-ação deve ser um ciclo maior que envolve
diversos outros ciclos menores (COUGHLAN e COUGHLAN, 2002).
Idealmente, aqueles envolvidos nos ciclos de pesquisa-ação estão continuamente monitorando cada
um dos seis passos principais, investigando o que está acontecendo, como esses passos estão sendo
conduzidos e quais suposições subjacentes são operativas. Enquanto os funcionários da organização
estudada focam os resultados práticos, o pesquisador não está apenas interessado em como o projeto está
funcionando, mas está também monitorando o processo de aprendizagem e inquirindo na investigação
(COUGHLAN e COUGHLAN, 2002).
Cada uma dessas estruturas não necessitam ser expressas na forma de um capítulo diferente, mas
cada uma delas deve ser tratada com formalismo. Por exemplo, o conteúdo poderia ser dividido em diversos
capítulos, dependendo do seu nível de detalhamento e complexidade e da extensão do processo de pesquisa
(COUGHLAN e COUGHLAN, 2002).
Para Coughlan e Coughlan (2002), os projetos de pesquisa-ação são específicos e não visam criar
um conhecimento universal. Por outro lado, a pesquisa-ação deve possuir algumas implicações além
daquelas necessárias para a ação ou o conhecimento no contexto do projeto. Algumas diretrizes úteis para
direcionar como a pesquisa-ação contribui para a teoria são:
• A pesquisa-ação gera teoria emergente, na qual a teoria se desenvolve a partir de uma síntese daquilo
que emerge dos dados e do que emerge do uso na prática do corpo de teoria que informa a intervenção e
a intenção da pesquisa;
• A construção da teoria, como resultado da pesquisa-ação, será incremental, movendo-se do particular
para o geral em pequenos passos;
• A pesquisa-ação depende de uma preocupação explícita com a teoria que é formada do conceitualização
da experiência particular em formas de se tornarem intencionalmente significativas para os outros;
• Não é suficiente esboçar a generalidade da pesquisa-ação através do projeto de ferramentas, técnicas e
modelos, assim como base para o seu projeto deve ser explícito e demonstrado para ser relacionado com
a teoria.
Bryman (1989) afirma que a pesquisa-ação contrasta com o relacionamento consultor-cliente, no qual
os funcionários podem ter pouca ou nenhuma participação na natureza e direcionamento do esforço de
pesquisa, e no qual existe pouco interesse na possível contribuição da investigação para a base de
conhecimento.
Exercícios do Capítulo 11
11.1) Leia o artigo “Action research – action research for operations management”, de P. Coughlan e D.
Coghlan, publicado pelo International Journal of Operations & Production Management, v. 22, n. 2, 2002.
11.2) De acordo com o artigo, quais são as etapas para a prática do método?
11.3) De acordo com o artigo, quando se pode usar este método?
11.4) De acordo com o artigo, quais são as vantagens na aplicação do método?
11.5) De acordo com o artigo, quais são os problemas encontrados na prática desse método?
CAPÍTULO 12
12
Estratégia de pesquisa VI: Soft Systems Methodology
Cada ponto de vista é discutido e, ao final, chega-se a um consenso quanto ao ponto de vista que
melhor define o sistema.
Exercícios do Capítulo 12
12.1) Quais são as principais etapas para a prática do método?
12.2) Quando se pode usar este método?
12.3) Quais as principais vantagens e limitações no emprego deste método de pesquisa?
12.4) Analise e avalie a estrutura empregada na dissertação de apoio, conforme os critérios sugeridos pelo
formulário do Anexo A.
12.5) Para cada critério, que sugestões de melhoria você daria para o autor da sua dissertação de apoio?
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