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Histórias são contadas há milênios, desde que os homens das cavernas se sentavam ao 

redor de uma fogueira, passando pela literatura e pelos teatros da Grécia, os menestréis 
medievais, chegando ao rádio, televisão, cinema mudo, quadrinhos e, mais recentemente, o 
cinema 3D. Mesmo contadas das mais variadas formas, pelas mais variadas culturas, nos 
mais variados lugares, todas as histórias possuem, em maior ou menor grau, uma mesma 
estrutura, que foi denominada paradigma – termo cunhado por Syd Field. 
 
Um dos aspectos mais interessantes das histórias é a falta de uma fórmula. Existem 
princípios, mas não regras. Princípios são gerais por natureza; diferente das regras, os 
princípios afirmam com veemência que “isso funciona… e vem funcionando desde os inícios 
dos tempos”. 
  
 
O que se pode dizer é que boas histórias têm forma. Podem ser comparadas a uma 
unidade sinfônica, na qual estrutura, ambiente, personagem, gênero e ideia se fundem. 
Com o intuito de descobrir sua harmonia, o escritor deve estudar os elementos da história 
como instrumentos de uma orquestra – primeiro, separadamente, depois, em concerto. 
  
 
Esse texto, primeiro no tema de Storytelling, é uma introdução à forma. 
  
 
PARADIGMA 
O que é um paradigma? Um conjunto de princípios norteadores. 
  
 
Pense numa mesa. Ela pode ser de madeira, metal, ter três ou quatro pernas, tampo 
redondo, hexagonal, triangular, de cor branca ou marrom. Como sabemos então o que é 
uma mesa? Ao olharmos, vemos a forma, o seu paradigma. Uma mesa é um tampo 
apoiado por pernas. Esse é o princípio. 
  
 
Pense numa história. Ela pode ser de ação, drama, comédia, suspense, mistério, terror. Ela 
pode ter – no caso dos filmes – 90, 100, 120, 180 minutos; no caso dos romances – 300, 
500, 900 páginas. Pode ter um protagonista ou vários. O que todas as histórias têm em 
comum, em maior ou menor grau, é o seu paradigma, a sua forma. Assim como a mesa, 
costuma ser apoiada em pernas. E, geralmente, as histórias são apoiadas em quatro 
pernas: Ato 1, Incidente Incitante, Ato 2 e Ato 3. 
  
 
Os atos dizem respeito à forma fundamental. O Incidente Incitante faz parte do primeiro ato 
e, devido à sua complexidade, será abordado em um post próprio. 
  
 
PARADIGMA DIZ RESPEITO A FORMAS ETERNAS E UNIVERSAIS 
Pensando na forma das histórias, Aristóteles, na sua lendária obra “Poéticas”, nos ensinou 
o básico: “Todo é o que tem princípio, meio e fim”. 
  
 
A sentença, apesar de óbvia, tem o seu poder. Tudo o que produzimos têm início, meio e 
fim, bem como nossa própria vida e a maioria das coisas à nossa volta. A história é uma 
metáfora para a vida, contada sem as partes chatas. 
  
 
Princípio, meio e fim tornam­se os componentes básicos da estrutura de uma história, os 
Atos. Por ora, basta compreender que cada Ato corresponde a um dos momentos definidos 
por Aristóteles. Uma história pode ter vários Atos – como Shakespeare, que costuma 
apresentar cinco ­, mas o cenário mais comum, abordado no Paradigma, é composto por 
três: 
  
 
ATO UM – APRESENTAÇÃO 
 
Aqui a história é apresentada: seu assunto, a motivação do(s) personagem(ns), o contexto. 
Você deve estabelecer: 1) quem é o personagem principal; 2) qual a premissa dramática; 3) 
qual a situação dramática. 
  
 
Uma história não se desenvolve sem personagem. O protagonista será a quem é feita 
alguma coisa e/ou quem faz alguma coisa – personagem é ação e ação é personagem. 
  
 
A premissa dramática fornece o impulso que move a história para a sua conclusão. É o 
momento em que algo ocorre ao protagonista ou este age para que algo ocorra. 
  
 
A situação dramática diz respeito às suas circunstâncias em torno da história. Quem são as 
pessoas que rodeiam o protagonista, o que ele faz, etc. 
  
 
O ato 1 se desenvolve até que algo ocorra ao protagonista ou seja causado por ele, que 
reverte a história em outra direção. Tomemos como exemplo o filme Rei Leão: 
  
 
O ato 1 se inicia com a apresentação dos personagens – Mufasa, o rei; Simba, o príncipe e 
protagonista; Scar, o irmão invejoso. 
  
 
A premissa dramática é justamente a inveja de Scar, apresentada quando fala à Simba do 
Cemitério dos Elefantes, e reforçada ao provocar a morte de Mufasa. É sua intenção de ser 
rei que move a história. 
  
 
A situação dramática, por sua vez, apresenta­se nos elementos ao redor da inveja de Scar. 
As hienas, subjugadas pelos leões, apoiam Scar em seu plano, visando melhores pedaços 
de bife. O regime hereditário, que garantia a Simba o lugar desejado por Scar realça a 
premissa. 
  
 
O ato 1 termina – e, convenhamos, é uma das melhores cenas da história do cinema – com 
a morte de Mufasa. A cena, não só um pico de tensão no ato 1, joga a história em uma nova 
direção: É incomumente longo para uma apresentação, talvez por ser um musical. 
  
 
ATO DOIS – CONFRONTAÇÃO 
 
Esse ato se guia pela necessidade dramática, que significa tudo aquilo que o personagem 
quer vencer, ganhar, ter ou alcançar. 
  
 
É a unidade dramática onde o personagem principal enfrenta obstáculo após obstáculo, que 
o impedem de alcançar sua necessidade dramática. Toda história é impulsionada por uma 
necessidade dramática do protagonista, que é barrada, constantemente, por obstáculos. No 
caso de Simba, um conflito interno, aparentemente perpétuo vindo da culpa pela morte do 
pai. 
  
 
O ato 2 se baseia no pressuposto de complicar. Complicar significa, resumidamente, tornar 
a vida dos personagens difícil. Mas não é só isso. Deve­se complicar progressivamente, 
cada cena sendo mais difícil do que a anterior. Essas progressões ocorrem quando 
colocamos nossos personagens em um risco cada vez maior, exigindo cada vez mais força 
de vontade ou inteligência ou outra característica de destaque. 
  
 
Se as complicações não forem progressivas, ocorrerá aquilo que você muitas vezes deve 
ter presenciado. O filme/livro começa muito bom, recheado de momentos tensos; depois de 
um tempo, as coisas começam a desandar e a história, a se arrastar. 
  
 
Em um romance, que geralmente é um texto longo repleto de personagens, os conflitos 
secundários (dos coadjuvantes) devem, no final, ter relação com o conflito principal (do 
protagonista) e influenciar de alguma maneira sua resolução. 
  
 
Se não há conflito, não há história para se contar. O conflito é que move a história, seja ele 
um conflito concreto, material ou abstrato, psicológico. 
  
 
Em Rei Leão, a progressão ocorre do encontro com Timão e Pumba – pausa para ouvir 
Hakuna Matata – até a aparição de Nala. Mesmo com saudades do reino, a culpa que 
Simba sente o impede de retornar e assumir seu papel. O conflito aumenta até o clímax, a 
aparição do fantasma de Mufasa. 
  
 
Essa unidade se desenvolve até o limite do conflito, que é quando, mais uma vez, algo 
ocorre ao protagonista ou é causado por ele, revertendo a história em outra direção: 
  
 
ATO TRÊS – RESOLUÇÃO 
 
É nessa unidade dramática que o protagonista consegue (ou não) alcançar sua 
necessidade dramática. É o conflito final, é a resolução de toda uma história. 
  
 
Uma história é uma jornada e o final é o destino. Essa condição final, essa última mudança, 
deve ser absoluta e irreversível, além de ser clara e auto­evidente, não exigindo 
explicações. Diálogo ou narração, com o intuito de explicar, é chato e redundante. 
  
 
No exemplo, Simba retorna a terra de seu pai, e a encontra devastada. As hienas dominam 
sob o reinado de Scar. Tio e sobrinho se encontarm; Simba descobre que Scar foi o 
responsável pela morte de Mufasa; eles se enfrentam; o clímax da história, resolução, a 
morte de Scar. 
 

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