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Só se trata de viver
Essa é a história
Com o sorriso em uma fenda
Com a tolice e a cordura de
Todos os dias,
Quem sabe dá certo.
“La vida es una moneda”
Fito Páez
Como ponto de partida, creio necessário explicar como cheguei à experiência que
posteriormente relato. Na breve história que tenho como acadêmico já formei dezenas de
professores e professoras em exercício, e também os de cursos de pré-grau, em
pesquisas. A busca por novas formas de relação com a pesquisa tem me levado a
diferentes experiências. O enfoque que me guia está muito bem resumido em um
interessante prólogo que Santos Guerra (2002) escreveu para um livro de Sagastizabal e
Perlo (2002). Santos Guerra visitou a Universidade de Norwich e assinala que os alunos e
alunas de Stenhouse plantaram uma árvore e colocaram uma placa com um pensamento-
chave de sua vida e de sua obra: "No final das contas, são os professores os que vão
transformar o mundo da escola, compreendendo-o" (p.5). Essa citação, que já utilizei em
incontáveis ocasiões, tem guiado o meu caminho como professor pesquisador.
A Experiência Docente
Este trabalho significou começar com uma reflexão sobre a visão de ser docente,
compreender o porquê da escolha da docência como profissão e, deste modo, discutir o
papel da pesquisa educativa nesse contexto. A experiência se enquadrou dentro do
campo da socialização do professorado, especificamente na reflexão que os/as
próprios/as docentes fazem de si mesmos/as.
Assumo que até o momento falta uma análise mais profunda dos resultados do
curso. No entanto, é possível notar uma clara aprendizagem em termos da compreensão
(pelo menos a um nível inicial) de novos paradigmas investigativos. Os/as estudantes
foram capazes de construir textos de caráter narrativo, escritos em primeira pessoa,
baseados em sua própria experiência.
Agora, considerando minhas aprendizagens anteriores em pesquisa e docência
universitária, poderia assinalar que o nível dos textos produzidos foi de alta qualidade.
Apesar de ser necessário um processo de revisão de pares que acredite essa qualidade,
é possível notar um grande avanço no modo de escrever e de apresentar suas reflexões,
especialmente em torno à construção da sua própria identidade como estudante de
pedagogia e futuro/a docente.
Apesar de existir uma série de manuais onde é possível encontrar apoios para o
ensino da pesquisa, ensinar a partir de uma perspectiva epistemológica diferente faz com
que o trabalho seja muito mais difícil. Neste caso, avançar de um ponto de vista narrativo
no qual a experiência é o centro, se afasta a concepção de verdade, da necessidade de
uma hipótese e das lógicas de comprovação que existem na ciência tradicional. Isto, sem
dúvida, gera uma confusão quando a visão hegemônica científica explica que existe
somente um método. Quem sabe este ponto proporciona um dado acerca da falta de
discussão epistemológica no campo educativo. Acredito que seja necessário incorporar as
contribuições das novas perspectivas do que é ciência, especialmente o desenvolvimento
feito por Khun (1971) com a sua concepção de paradigma e como esta se desenvolve no
contexto das comunidades científicas. Apesar de serem os seus últimos escritos (Kuhn,
1996) onde fala do conceito de matriz disciplinar que podem oferecer uma contribuição
mais apropriada para o debate na pesquisa educativa. Também acredito que retomar os
textos de Feyerabend (1991; 1986) poderia nos ajudar a repensar os processos de
construção científica na educação a partir de uma perspectiva experiencial. Isto daria um
espaço para aqueles que sentem que estão falhando ao método científico (como se
houvesse somente um, intocável, inexpugnável).
A experiência relatada me foi dada por algumas aprendizagens acerca das
relações entre docente e estudantes. A possibilidade de interagir com cada uma das
narrativas dos/as estudantes me permitiu uma maior compreensão de quem são e desde
onde se situam as suas reflexões, os seus interesses. As vivências de cada um e a
postura de compreensão que é possível assumir em relação às experiências, nos permite
aproximar-nos a conhecer que os/as estudantes de pedagogia possuem uma visão
particular. A relação através dos seus trabalhos me permitiu aproximar-me ainda mais
dessa visão de mundo, especialmente aos que optaram pela pedagogia logo após terem
experimentado, de forma breve, em outras áreas.
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Talvez uma passagem que pode resumir o que assinalei seja o seguinte recorte
obtido a partir de um dos trabalhos entregues:
Mostro esta citação como um exemplo dos diferentes trabalhos que foram
entregues. Apesar de ser somente um exemplo, vários dos trabalhos iam pelo mesmo
caminho. Sua escrita permite apreciar o modo em que a reconstrução autobiográfica
através da narração faz tomar consciência sobre as decisões que levaram a escolher este
curso. Esta revisão do passado permite recontá-lo e revivê-lo no presente. Como mostro
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aos meus estudantes: “Não podemos mudar o nosso passado, mas é possível vê-lo a
partir de uma nova perspectiva para viver de melhor maneira o presente e projetá-lo ao
futuro”.
Palavras finais
Ser docente é bem mais que ter um documento que o endosse. Como formador de
professores e professoras penso nisso a cada dia, a cada aula. Como formadores de
formadores temos à nossa frente aqueles que estarão encarregados da educação de
várias gerações. É uma enorme responsabilidade se pensarmos na transcendência de
nossos ensinamentos e da replicabilidade de nossos erros. Também é verdade que
trabalhamos com pessoas adultas que possuem voz e decisão próprias. No entanto, os e
as estudantes de pedagogia têm aprendido o ofício de ser aluno (Baeza, 2001), essa
aprendizagem compreende a necessidade de adaptação que, às vezes, aparece sem
críticas. Os/as futuros/as docentes, da mesma forma que nós como formadores deles
somos o resultado de um sistema educativo tradicional e, por este motivo, a construção
de um novo tipo de relações é sempre um desafio nos processos de formação do
professorado. Esta mudança é difícil, mas absolutamente necessária.
Como disse anteriormente, a pesquisa narrativa trata de relações. Por esta razão
emerge como uma metodologia através da qual construímos relações de confiança entre
professores/as e estudantes. É neste contexto no qual se desenvolve esta experiência,
convidando a uma visão diferente do que é uma pesquisa. Neste caso foi possível
visualizar que a partir das próprias experiências, a partir do próprio desenvolvimento da
narração e dos motivos pelos quais se escolheu o curso atual é possível entender uma
nova forma de pedagogia.
O caminho percorrido junto aos/às estudantes me permite confirmar a necessidade
de implementar mais metodologias de pesquisa acordes com a prática docente. É labor
das instituições de formação pensar em métodos de pesquisa que estejam diretamente
relacionados com a tarefa docente na sala, na escola e na comunidade onde o docente
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Agradecimentos
Este trabalho se enquadra no contexto dos projetos Fondecyt 1150533 “Trayectorias
motivacionales en la formación pedagógica: Motivación y desmotivación en la Formación
Inicial Docente (FID) de futuros profesores de Educación Básica” e Fondecyt 1151447
“Alfabetización micropolítica de docentes principiantes que se desempeñan en contextos
de pobreza”. Além disso, contou com o apoio de BECAS Chile para estudos de pós-
doutorado na Universidade de Alberta, Canadá. Agradece-se aos/às estudantes que
participaram da experiência.
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Referências
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