Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Neste livro A hora da prática – reflexões sobre o estágio
supervisionado e a ação docente, autora e colaboradores fazem
uma incursão teórica sobre a importância e o significado da
prática de ensino/estágio supervisionado/ação docente. Tal
esforço reflexivo visa a contribuir para o movimento nacional
sobre formação do educador.
Os textos de especialistas procuraram fomentar a discussão
acerca dos compromissos políticos, sociais, culturais e históricos
da universidade, dos cursos de formação, dos professores e dos
alunos. O esforço em demarcar um novo paradigma para a
prática de ensino/estágio supervisionado/ação docente mostra-
se provocativo e profundamente enriquecedor.
2
APRESENTAÇÃO
3
PREFÁCIO
Querida Socorro,
Ao prefaciar o seu livro A hora da prática: reflexões sobre o estágio supervisionado
e a ação docente, que trata sobre ação docente do ponto de vista dos formadores e dos
formandos, traduzindo suas idéias, práticas, estudos, trocas e reflexões, dei-me conta de que
esse público é histórico por vários aspectos: ela é a primeira da parceria de co-edição entre
a Universidade Estadual do Ceará - UECE, no seu jubileu de prata, e a Fundação
Demócrito Rocha e por estar voltada para programas de formação de professores,
consolidando a política do Centro de Educação de incentivar a produção acadêmico no
âmbito da educação.
O lançamento da quarta edição constitui-se, portanto, em um incentivo e
encorajamento a todo o corpo docente do Centro à criação, produção, pesquisa e publicação
de obras.
Refletindo sobre seu trabalho reportei-me a Rubem Alves em conversas com quem
gosta de ensinar quando faz referência às “profissões extintas ou em extinção” (1985, p. 11)
como os tropeiros, os médicos de antigamente, os boticários, os caixeiros-viajantes e os
educadores. Vi em você aquela figura do educador “como fundador de mundo, mediador de
esperança, pastor de projetos” (1985, p. 26), na analogia feira do educador com as árvores,
que revelam o seu habitat, têm cidadania, seu mundo específico, mistério, personalidade e
até alma como acreditavam os antigos.
Podemos encontrar nesta publicação reflexão sobre diversas questões, distribuídas
ao longo dos seguintes textos:
No texto “Nosso jeito de caminhar pelo estágio supervisionado”, recorrendo à
afirmativa de Pimenta (1994, p. 21) segundo a qual “atividade docente é práxis”, você
explica que o estágio é uma espécie de teoria e prática juntas visando à reflexão docente. A
seguir, “por que Estágio Supervisionado para quem já exerce o magistério?” evidencia que
os profissionais em formação podem ter o estágio, como um lócus de estudo de suas
práticas e troca de experiências continuadamente.
O “estágio supervisionado, como mediador entre a formação inicial do professor e a
educação continuada”, sabiamente extraído de sua dissertação de mestrado, tem como base
teórica o trabalho como categoria fundante de ser social. Valendo-se de revisão
bibliográfica sobre formação de professores e de experiências de sala de aula com alunos
estagiários, foi trabalhada concepção de estágio que explica a práxis docente na mediação
entre a formação inicial do professor e educação continuada. “O professor e o trabalho
coletivo” fala da importância do professor sentir-se co-autor da vida da escola para a
construção de práticas coletivas, para melhor desempenho da função da escola. Nele você
expressa sua rica experiência de educadora que é.
Seguindo “O bom professor nos filmes”, você mostra-nos películas que têm o
professor como foco principal e faz uma profícua reflexão sobre o bom professor, valendo-
se dos ensinamentos de Maria Isabel Cunha e do grande mestre Paulo Freire.
“O estágio como investigação da prática” é um repasse do estágio em três
momentos: a hora da prática, aproximação da realidade e investigação da prática docente.
Com maestria, você convida-nos a um passeio pedagógico. “As coisas comuns nem sempre
são banais” conduzem-nos a reflexões sobre uma experiência de estágio. Abordam
problemas corriqueiros que podem ser transformados em grandes lições pedagógicas e
humanas.
4
Finalizando com o “estágio supervisionado como estratégia de integração entre a
universidade e a comunidade: uma reflexão sobre a experiência de minicursos”, você
trabalha a importância das atividades do estágio dentro da comunidade, a partir de uma
experiência realizada com os alunos da UECE em Quixadá, por meio de minicursos em
diferentes localidades e sobre diferentes temáticas. Dessa forma, o estágio não é o único,
mas é o espaço por excelência onde o ensino, a pesquisa e a extensão concretizam-se.
Como contribuições ao elenco de reflexões aqui disponibilizadas vamos ainda
encontrar as das professoras Meirecelle Calíope Leitinho, Patrícia Helena Holanda e Maria
de Lourdes Brandão sobre a temática abordada. O leitor está, pois, convidado a conhecer
em profundidade essa obra e acompanhar os olhares sobre um tema de tanta significação
para a formação de educadores – o estágio. Tantas e quantas perguntas e dúvidas são
levantadas sobre o tema. Concluindo com o pensamento de Rubem Alves que será
necessário acordá-los do seu sono por um ato de amor e coragem, pois “acordados
certamente repetirão o milagre da instauração dos novos mundos”.
Lúcia Helena Fonseca Grangeiro
DIRETORA DO CENTRO DE EDUCAÇÃO
5
Parte I
Pelos caminhos do estágio supervisionado
Não, não tenho caminho novo.
O que tenho de novo é o jeito de caminhar
(Thiago de Mello)
6
Nosso jeito de caminhar
Pelo estágio supervisionado
Maria socorro Lucena Lima
Caminheiro, não existe caminho
O caminho se faz ao caminhar
(Antônio Machado)
Quando recordamos os nossos professores, dizemos que muitos sabiam apenas para
eles mesmos, ou seja, não conseguiam transmitir o seu conhecimento (muitas vezes,
profundo) para os seus alunos. Fica, assim, a memória de um professor que não deu certo,
mesmo nas suas melhores intenções. Assim percebemos que o ato de ensinar não é tão
simples. Ele requer um trabalho específico e reflexões mais amplas sobre o fazer
pedagógico.
A profissão do professor está situada exatamente no intercâmbio entre o
conhecimento sistematizado que a escola oferece e o aluno. Portanto, desenvolve-se nessa
ponte representada na mediação entre o aluno e o saber, o ensino e a aprendizagem.
No intuito de refletir sobre a profissão docente, sugiro que façamos algumas paradas
para acompanharmos esse percurso.
A primeira série na dimensão individual do trabalho do professor (NÓVOA, 1992).
Quem realiza a tarefa de ensinar? A pessoa do professor é quem faz dessa ação o seu
próprio trabalho. No seu desempenho ao planejar, executar e avaliar seus alunos está a sua
visão de mundo, sua história de vida, os conhecimentos que adquiriu historicamente, a
maneira de conceber a realidade e a educação.É uma prática tecida com o saber científico
(os conhecimentos sobre a disciplina que leciona), o saber pedagógico (elementos de
formação do docente), o saber da experiência (elaborados dentro de seu cotidiano) e o saber
político, social, dentre tantos outros. Mesmo que o docente não tenha consciência disso,
esses saberes serão postos em sua prática e dirão da sua visão de mundo e, dessa forma,
diferentes maneiras de pensar e de agir poderão ser evidenciadas. Uma delas seria aquela
que vê o mundo de forma dicotomizada, em que o professor, isolado em sua sala de aula
passa os ensinamentos.
A escola é vista como uma ilha isolada do contexto, e, a sala de aula, um espaço,
onde de forma supostamente neutra os alunos que forem esforçados ou inteligentes poderão
aprender, enquanto os outros ficam à margem do processo. É a valorização da ciência,
indiferente ao condicionamento histórico e social do conhecimento, o que ainda hoje é
muito comum nas práticas escolares. Esta visão caracteriza-se como linear, que não vê no
ato de ensinar perspectivas de transformação, nem para os alunos, nem para o professor,
nem para a sociedade.
A outra maneira de tratar a ação docente é a que adota uma concepção de educação
mais abrangente. Segundo Mendes (1983: 60), a educação é um projeto simultaneamente
político e filosófico, cuja compreensão não cabe exclusivamente no âmbito da
racionalidade científica. Nessa abordagem, o trabalho pedagógico tem uma dimensão maior
que vai somar-se às outras influências, ou seja, é contextualizado. O homem pode interferir,
ser o agente da história. A escola é um microsistema de um sistema maior que é a
sociedade, como se fosse a fatia de um bolo. O professor - enquanto sujeito que não
reproduz apenas, por ser também sujeito do conhecimento – pode, por meio de uma
reflexão crítica, fazer do seu trabalho em sala de aula um espaço de transformação. Isso é o
que chamamos de práxis docente. É na ação refletida e no redimensionamento de sua
7
prática que o professor pode ser agente de mudança, na escola e na sociedade. Por isso é
necessário que este procure se situar como pesquisador da sua própria prática, fazendo
assim a práxis, que é a unidade teórica e prática de forma refletida e redimensionada.
Segundo Pimenta (1994: 93),
Atividade docente é práxis...,
É sistemática e científica à medida em que tenta objetivamente
(conhecer) o seu objeto (ensinar e aprender) e é intencional, não casuística.
8
que esperamos contribuir na formação de professores crítico-reflexivos, competentes,
comprometidos e cientes da sua função social.
Essa maneira de conduzir as atividades do estágio é o nosso jeito de caminhar na
educação, diz dos projetos e utopias do nosso momento histórico.
Bibliografia
CUNHA, M. L. O bom professor e sua prática. Campinas: Papirus, 1989.
MENDES, D. T. Existe filosofia na educação brasileira? Filosofia da educação brasileira.
Rio de Janeiro: Civil Brasileiro, 1983.
PIMENTA, S. G. O estágio na formação de professores: unidade, teoria e prática? São
Paulo: Cortez, 1994.
RIOS, T. A Ética e competência. São Paulo: Cortez, 1994. (coleção Questões de nossa
época)
SCHÖN, D. A. (Org). O professor e sua formação. Lisboa: D. Quixote, 1992.
9
Atividades para reflexão
O que é, que é
Eu fico com a pureza da resposta das crianças,
é a vida, é bonita e é bonita.
Viver e não ter a vergonha de ser feliz.
Cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz.
Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será, mas isso não
impede que eu repita, é bonita é bonita e é bonita.
E a vida? E a vida o que é diga lá meu irmão?
Ela é a batida de um coração? Ela é uma doce ilusão?
E a vida, ela é maravilha ou é sofrimento?
Ela é alegria ou lamento? O que é, o que é meu irmão?
Há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo.
É uma gota, é um tempo que nem dá um segundo.
Há quem fale que é um divino mistério profundo.
É o sopro do criador numa atitude repleta de amor;
Você diz é luta é prazer, ela diz que a vida é viver,
ela diz que melhor é morrer, pois amada não é e o verbo é sofrer.
Eu só sei que confio na moça e na moça eu ponho a força e a
Fé... Somos nós que fazemos a vida como der ou puder ou quiser.
Sempre desejada, por mais que esteja errada. Ninguém quer
a morte, só saúde e sorte;
E a pergunta roda, e a cabeça agita. Eu fico com a pureza da
resposta das crianças, e a vida, é bonita e é bonita!
(Gonzaguinha)
10
Por que estágio supervisionado
para quem já exerce o magistério?
Maria Socorro Lucena Lima
Urge por isso (re) encontrar espaço de interação entre as dimensões pessoais e
profissionais permitindo aos professores apropriar-se dos seus processos de formação e
dar-lhe um sentido no quadro das suas histórias de vida .
11
tantos outros do ensino fundamental e médio. Dentro da abordagem de que o estágio é a
atividade teórica instrumentalizadora da práxis (PIMENTA, 1994:121), é que pretendemos
fundamentar e justificar a dinâmica desta disciplina que tem o trabalho docente como eixo
articulador entre a teoria e a prática.
O fato de professores buscarem na universidade seu desenvolvimento profissional é
indicativo de que, juntos, podemos realizar um estágio que possibilite maior conhecimento
para nós e para a comunidade onde atuamos. As reflexões sobre a nossa prática pedagógica
certamente se constituirão um processo dialético, juntamente com os novos conhecimentos
teóricos, como a nossa realidade e as experiências adquiridas ao longo do tempo.
Propomos que o estágio seja este espaço de unidade teórica-prática e que tenhamos
como ponto de partida e de chegada as nossas atividades docentes. A mobilização do saber
da experiência, aliada ao saber pedagógico e a fundamentação teórica poderão nos oferecer
os elementos necessários para compreender e analisarmos o nosso próprio desempenho
profissional. Não a prática pela prática e sim a prática fundamental na teórica em confronto
com a realidade para um redimensionamento do nosso trabalho. Que tal fazermos da nossa
sala de aula, da relação com os nossos alunos, dos avanços e dificuldades docentes e dos
entornos ao nosso trabalho, um campo de estágio e pesquisa?
_________________________________
1 Em 1995 começava se intensificar a presença de professores que já eram profissionais do magistério nos
cursos de formação docente. Pensei nesse texto para sensibilizá-lo para o Estágio Curricular dentro da
realidade em que estavam inseridos.
Bibliografia
GOMZ, A P. O pensamento prático do professor: a formação do professor como
profissional refletivo.
NÓVOA, a (COORD). Os professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote 1992
LIMA, M. S. L. O estágio supervisionado como elemento mediador entre a formação
inicial do professor e a educação continuada. Fortaleza (mimeo) Dissertação de
Mestrado Universidade Federal do Ceará - Faculdade de Educação, 1995.
______.O estágio supervisionado como estratégia de integração entre a universidade e a
comunidade. Uma reflexão sobre a experiência de minicursos. CADERNOS UECE, Nº 1.
Fortaleza: Editora UECE, 1994. p. 45-52.
PIMENTA, S. G. O estágio na formação de professores unidade, teoria e prática? São
Paulo: Cortez, 1994.
SCHON, D. A. Formar professores como profissionais reflexivos. NÓVOA, Antônio
(coord.) Os professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992.
12
Atividades para reflexão
O bom professor
O que já tenho O que me falta
13
O estágio supervisionado como estratégia de integração entre a
universidade e a comunidade uma reflexão de minicursos
Maria Socorro Lucena Lima
O aluno estagiário, agindo sobre o meio e recebendo a influência deste, pode, assim
elaborar o seu conhecimento, trabalhando com conteúdos concretos, indissociáveis da
realidade social através da reflexão, troca de experiências e interferir de alguma forma,
nesta mesma realidade. O ponto central da proposta é estabelecer um processo de
integração que envolva o professor de prática de ensino, os demais professores do curso, os
alunos estagiários e os grupos onde vamos atuar.
Diante das limitações do estágio convencional pensamos os minicursos como uma
maneira diferente de viver o processo de observação, participação e regência de um modo
mais abrangente. Podemos atingir tanto a educação formal, como a informal, trabalhando
com o pessoal da escola ou de maneira aberta, com a comunidade.
Queremos, aqui analisar a nossa experiência de estágio, questionar a sua validade,
dissecá-la nos seus avanços e obstáculos, ver o que ela representou e venha a representar
para a vida da comunidade, dos estagiários, da universidade das escolas de ensino
fundamental e médio e para o nosso trabalho, na área de formação de professores.
Não temos a pretensão de lançar um modelo de estágio, nem defendê-lo como o
melhor e o mais completo. Queremos apenas ir fazendo e refazendo a nossa prática,
perspectiva de responder ao movimento histórico que vivenciamos; errando, acertando,
“fazendo o caminho ao caminhar”, como diz o poeta Antônio Machado. Acreditamos na
validade dessa forma alternativa de estágio, pela alegria de um trabalho gestado e realizado
de maneira conjunta, oferecendo a grupos da comunidade exatamente o debate daqueles
assuntos dos seus interesses e dando oportunidades ao estagiário de trabalhar em
conformidade com as habilidades.
14
num “faz-de-conta” em que se é professor, ou por um momento sacrificado e doloroso, que
se tem que passar, para a aquisição do diploma.
Não se pode negar a face da escola noturna, mesmo que seja na universidade. Em
nossa realidade, a grande maioria dos alunos assegura a sua sobrevivência, com emprego e
subempregos, desvinculados do que fazem na universidade, de onde, nem sempre é
possível se ausentar sistematicamente para a realização de tarefas durante o expediente. E
como operacionalizar o estágio neste contexto?
Geralmente, a estrutura convencional do estágio como disciplina profissionalizante
é desenvolvida em três etapas: observação, participação e regência. Resolvemos colocar
questões sobre estas práticas:
a) Como se pode ter a visão do processo educativo, da vida dos alunos e do
currículo, se o calendário letivo das escolas não corresponde totalmente com o da
universidade?
b) Que “visão da realidade” os estagiários podem ter se entram no processo letivo ,
depois que a escola está em pleno funcionamento?
c) Diga, o que ter-se-ia de acrescentar, se, por um curto espaço de tempo,
interrompemos a sistemática de comunicação, a metodologia e o relacionamento
do professor com o aluno, para logo depois, retornamos à universidade?
d) Quais as condições das nossas escolas para receberem os estagiários?
e) Diante do desemprego do futuro profissional e do desestimulo dos profissionais
efetivos, pergunta-se finalmente: o que é o estágio? Para quem serve este
estágio?
Todos estes questionamentos nos levam a uma reflexão muito mais séria: que tipo
de profissional estamos querendo formar: um professor? Um educador? Um continuador?
Um reformador? Foi precisamente na tentativa de responder a esses questionamentos que
pensamos os minicursos, como modalidade de estágio supervisionado no 8º semestre.
15
a) levantamento das habilidades e preferências dos estagiários por determinados
temas:
b) levantamento de interesses pedagógicos e político-sociais, junto aos grupos que
queiram fazer uma discussão, aprofundamento ou troca de experiência com a
universidade;
c) realização de cursos para a comunidade (minicursos), dentro dos temas
sugeridos.
INTEGRAÇÃO
UNIVERSIDADE-COMUNIDADE
ES CO
T MU
A E NID
GI S AD
Á E
RI Habilidade T Expectativas
O Experiências Á Interesses
Tendências G Necessidades
I
O
REFLEXÃO-TROCA DE EXPERIÊNCIAS
APROFUNDAMENTO
16
Quanto à organização funcional:
a) O local: escolhido pela equipe, podendo ser na sede, nos distritos ou nos
municípios circunvizinhos;
b) Duração: 30 h/a para equipe de três estagiários e 40 h/a para equipe de quatro
estagiários;
c) Período de realização: após a conclusão das fases preparatórias, geralmente
nos finais de semana;
d) Produção: os textos a serem utilizados deverão ser produzidos ou adaptados
pelos alunos estagiários;
e) Desenvolvimento do projeto: será totalmente operacionalizado pelos
estagiários, inclusive as negociações quanto à clientela, local, financiamento e as
demais providências.
1ª Fase
Organização inicial
2ª Fase
Fundamentação
3ª Fase
Organização do material
4ª Fase
Operacionalização das
Atividades Previstas
5ª Fase
Avaliação (Continuação)
17
“No meio do caminho tinha uma pedra”
Enfrentamos muitas dificuldades sendo a principal delas a questão dos recursos
financeiros. Aos estagiários e dado todo poder de decisão e a eles compete, também,
providenciar o orçamento do minicurso: pastas, apostilas, folder, crachás, deslocamentos e
outros. As equipes poderão solicitar financiamento de firmas comerciais, indústrias, ou
instituições; do contrário terão que arcar com todas as despesas.
Outros problemas identificados durante a implementação do projeto foram;
a falta de continuidade no debate dos temas;
questões pessoais que envolvem maturidade, criticidade e coesão dos grupos;
desnível entre os membros das equipes;
o pouco envolvimento dos professores da graduação;
a carga horária de prática de ensino insuficiente para o projeto;
falta de infra-estrutura da universidade, para o deslocamento do professor de
prática de ensino;
dificuldade de locação do professor de prática de ensino, prioritariamente, nas
atividades do estágio;
dificuldade de assessoramento, ao estagiário no tocante à parte da datilografia.
Nossa história de vida está ai para ser debatida, aberta a críticas e sugestões que
venham a enriquecê-la. É a tentativa de um trabalho participativo, dentro das nossas
limitações, dos nossos erros, das nossas utopias pedagógicas. Não é um trabalho pronto. É
uma caminhada. A busca de práxis educativas: ação, reflexão, ação. Um repensar sobre a
prática de ensino nos cursos de literatura e, principalmente, o desafio de abrir mão das
posturas tradicionais. Uma busca.
Queremos reiterar que vale a pena tentar, não para realizar grandes mudanças, mas
dentro desta conotação; “aprendendo com a própria história”, como ensina Paulo Freire.
_____________________________
1 Este foi um texto pedagógico que escrevi em 1990 a partir da minha monografia do Curso de especialização
Lato Sensu.
18
Bibliografia
ALVES, R. A Conversas com quem gosta de ensinar. 20ª edição, São Paulo: Cortez
Autores associados, 1985. (Coleção polêmicas do nosso tempo).
BORNHEIM, A G. Introdução ao filosofar 7ª edição Rio de Janeiro: Globo, 1969.
CABRINI, C e outros. O ensino de História. Revista Urgente 3ª edição, São Paulo:
Brasiliense, 1987.
CARDENOS CEDES. A prática do ensino de História Nº 10, São Paulo: Cortez, 1984.
FREIRE, P. e outros. Vivendo e aprendendo – Experiências do IDAC em educação
popular 4ª edição. São Paulo: Brasiliense, 1985.
GUIMARÃES, S. Aprendendo com a própria história. Rio de Janeiro: Paz na Terra,
1987.
Conscientizado, teoria e prática da liberdade uma introdução ao pensamento de Paulo
Freire. São Paulo: Moraes, 1980.
HARPER, B. e outros. Cuidado escola. São Paulo: Brasiliense, 1980.
LUCKESI, C. e outros. Fazer universidade: uma proposta metodológica 4ª edição São
Paulo, 1887.
MIZIKAMI, M. DAS G. N. Ensino as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986.
PILETTI, N. A formação do educador. Revista Educação Municipal. São Paulo: Cortez,
nº 04.
RODRIGUES, M. DA C. A prática de ensino em questão nº 07. Florianópolis:
Universidade Federal de Santa Catarina – Centro de Ciências da Educação, 1986.
SAVIANI, D. Educação, do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Cortez
Autores Associados, 1980.
19
Atividades para reflexão
Tocante em frente
(Almir Sater/Renato Teixeira)
Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte,
Mais feliz, quem sabe,
Eu só levo a certeza de que muito pouco sei
Ou nada sei
Conhecer as manhas
E as manhãs
20
Conversando sobre práxis docente¹
Maria do Socorro Lucena Lima
Guimarães Rosa nos diz que “mestre não é quem sempre ensina, mas quem, de
repente, aprende”. É exatamente esta postura de “eterno aprendiz” o princípio norteador do
que chamamos a práxis educativa do professor, que consiste em aprender com a vida, com
os livros, com as pessoas, com a própria história. Assim é possível ir construindo a prática
docente na perspectiva da ação refletida e transformadora, mediada pelo conhecimento.
Concordo com Frigotto (1994:81) quando nos esclarece que:
21
na construção da competência do professor: a técnica e a política, que longe de serem
dicotômicas, interpenetram-se e complementam-se. Há nesse caso, um compromisso ético
articulado à dimensão política, mediatizado pela técnica e segundo o mesmo autor, assim.
____________________
¹Esse é um texto que foi escrito para esclarecer o conceito de práxis para uma das turmas do Programa
Especial de Formação Pedagógica no ano de 2000 em Fortaleza-CE
Bibliografia
RIOS, T. A Ética e competência. São Paulo: Cortez, 1994. (Coleção Questões de nossa
época, vol. 16).
SCHÖN, D. A Formar professores como profissionais reflexivos NÓVOA (ORG). Os
professores e sua formação. Lisboa: D. Quixote, 1994.
PIMENTA, S, G. O estágio na formação dos professores unidade-teorica e prática? São
Paulo: Cortez, 1994.
FRIGOTTO, G. O enfoque da dialética materialista histórica na pesquisa educacional.
FAZENDA, Ivani (org.) Metodologia da pesquisa educacional. São Paulo: Cortez, 1994.
22
ATIVIDADES PARA REFLEXÃO
1. Veja esse conto Os cegos e o elefante do rei. Em que a sua mensagem pode auxiliar em
nossa prática docente?
23
O professor e o trabalho coletivo¹
Maria Socorro Lucena Lima
Zuleide Ferraz Garcia
.
É impossível ser feliz sozinho
(Tom Jobim)
I – O verso da canção de Tom Jobim: “é impossível ser feliz sozinho”, diz do objetivo deste
texto, que consiste em fazer uma reflexão sobre o trabalho coletivo na escola. Partimos de
questionamento que permitem fazer articulação entre a prática individual e a coletiva do
professor. Qual seria a relação existente entre a ação docente e trabalho coletivo? Qual é o
papel do professor nesse sentido? Em que consiste o trabalho coletivo na escola? Como os
cursos de formação para o magistério e o estágio supervisionado podem trabalhar essa
questão? Colocaremos, no primeiro momento, a escola como um espaço de construção
coletiva, onde todos aqueles que dela participam são co-responsáveis por seu
funcionamento e organização. Em seguida abordaremos a relação existente entre trabalho
coletivo e competência docente, destacando ações que possam contribuir para construção
deste coletivo na escola, mesmo nas dificuldades e contradições. O texto termina apontando
para o processo de humanização e de transformação que a escola pode fazer das atividades
cotidianas.
II – Sendo a escola ponto de encontro dos vários sujeitos envolvidos com o ato de ensinar,
o construir juntos precisa contar com a participação dos alunos, dos professores, dos pais,
dos funcionários, da direção, da coordenação e da comunidade. Dessa forma, a organização
de um projeto coletivo é condição indispensável na concretização de uma escola
participativa, capaz de enfrentar a descentralização dos serviços, a questão do
planejamento, da organização do ensino, a busca da autonomia e do exercício da cidadania.
Considera ainda os limites e as possibilidades de contexto escolar, para que seja possível
compreender e trabalhar os pontos de maior dificuldade e os que precisam ser corrigidos e
assim, estabelecer os caminhos, as etapas e definir as tarefas de cada pessoa dentro do
contexto. Pensando dessa maneira, é possível entender que esta articulação não se faz
apenas pelo fato de estarmos cotidianamente com as outras pessoas no ambiente escolar,
mas na busca de caminhos e na descoberta da maneira de percorrê-la. Sobre esta questão
esclarece Fusari (1994:70)
III – Outro ponto que merece uma reflexão é que o trabalho coletivo está ligado à
competência docente. Haverá possibilidade de realização de um trabalho de melhor
qualidade, quando um grupo for articulado no sentido de estar coeso para realizá-lo. Assim
a competência somente estará sendo concretizada no trabalho coletivo. Neste sentido
estamos de acordo com Rios (1994:79) quando nos ensina que uma pessoa não pode ser
competente sozinha. A qualidade de seu trabalho não depende apenas dela - defini-se na
relação com os outros. As condições para a realização de um trabalho competente estão na
competência do profissional e na articulação dessa competência com os outros e com as
circunstâncias.
24
Destacamos algumas atividades que podem fazer parte do cotidiano escolar e dessa
forma ensejar práticas escolares que apontem para o desenvolvimento de hábitos de
formação contínua, em serviço, realizadas no coletivo:
a) ações operacionais para que a interação grupal aconteça no espaço e no
tempo escolar (atividades ligadas ao conteúdo das disciplinas e
interdisciplinaridade, além de outras como organização de horários,
calendários, eventos e outras tarefas);
b) estudo contínuo de texto e debate de assuntos ligados à docência e à troca de
experiências sobre a prática cotidiana escolar;
c) planejamento, acompanhamento e avaliação das atividades da escola como
um todo;
d) desenvolvimento da prática de registro dos trabalhos realizados;
e) operacionalização do projeto político Pedagógico da escola como
possibilidade de um trabalho conjunto;
Lembramos que esse processo não se faz sem conflitos. Ele é feito em meio de
divergências e contradições. Faz-se ainda na troca de experiências e na partilha de
saberes, como nos explica Nóvoa (1992:26):
Eu nunca tinha me interessado pela vida da escola, apesar de já ser professora naquele
local há muitos anos. O estágio supervisionado foi a oportunidade de conhecer melhor
a escola, de estudar de perto o seu projeto político-pedagógico e isso foi muito
proveitoso para mim, para o meu trabalho e para a compreensão da escola como um
todo.
25
busca do trabalho coletivo na escola? Até que ponto a escola viabiliza ações conjuntas
como forma de enfrentamento para a complexidade e problemas da atualidade? Existe
realmente aquele tempo para se estar junto, para dialogar e conviver com os conflitos e
contradições.
Buscar o coletivo significa muito mais do que estarmos indo na mesma direção, sem
compromisso com quem vai ao nosso lado, como se viajássemos em um ônibus, onde cada
um está ali com um propósito diferente. Significa o estabelecimento de uma parceria em
que todos possam pensar, realizar, avaliar e redefinir juntos o processo. É o estabelecimento
de metas e objetivos comuns, a divisão das tarefas e das dificuldades, a comum-união dos
mesmos ideais, utopias por uma escola mais justa e menos excludente.
_____________________
Eu estava em São Paulo cursando o Doutorado na USP, quando fui convidada para elaborar um projeto de
Estágio para os cursos de professores da Faculdade Tereza Martan. Trabalhei com Zuelide Ferraz e juntas
desenvolvemos o projeto e produzimos esse texto para os alunos.
Bibliografia
FUSARI, J. C. A Construção da proposta Educacional e do Trabalho Coletivo na Unidade Escolar.
Idéias No. 16, FDE 1993.
NÓVOA, A, A Formação de professores e profissão docente. Os professores e sua formação.
Lisboa:Quixote, 1992.
PIMENTA, S. G. O estágio na formação de professores: Unidade-teoria e prática? São Paulo:
Cortez, 1994.
RIOS, T. A Ética e competência 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1994
26
ATIVIDADES PARA REFLEXÃO
27
Estágio supervisionado enquanto
Mediação entre a formação inicial do
Professor e a formação contínua¹
Maria Socorro Lucena Lima
28
de vida, os elementos de construção do seu saber pedagógico. Em NÓVOA (1992: 17),
podemos confirmar nossas reflexões:
Aqui estamos. Nós e a profissão. E as opções que cada um de nós tem de fazer como
professor, as quais cruzam a nossa maneira de ser, com a nossa maneira de ensinar e se
desven dam na nossa maneira de ensinar a nossa maneira de ser. É importante
separar o eu profissional do eu pessoal.
29
Kenski (1991:39) apresenta outra abordagem para a condição do Estágio. “O estágio
supervisionado na habilitação do magistério dos cursos de Pedagogia já é por si só, um
desafio”. A autora trabalha na dimensão pessoal, na perspectiva do auto conhecimento e
construção da identidade do aluno estagiário, enquanto busca com seus alunos uma
concepção de professor. Assim KENSKI (1991:41) esclarece que o objetivo principal dessa
modalidade é a “formação de um professor que esteja consciente de que sua prática envolve
um comportamento de observação, reflexão crítica e reorganização das suas ações”. Dessa
forma, o estágio é conduzido em dois sentidos: o político-social e o da consciência interior,
por meio da história de vida, que se inicia pela memória das vivências escolares da
infância, bem como dos professores que marcaram o inicio do período escolar dos
estagiários. Baseia-se nas idéias do pesquisador alemão Wolfgang F. Haug sobre a tese da
reprodução dos comportamentos aprendidos na infância e reproduzidos na idade adulta.
Em Kulcsar (199:64), encontramos mais um viés no enfoque para os estágios
supervisionados, considerando-os “parte importante da relação trabalho-escola, teoria-
prática e eles podem representar, em certa medida, o elo de articulação orgânica com a
própria realidade”. O papel da universidade e o seu supervisionado, constituem-se numa
necessidade, assim como na atuação crítica do profissional de Educação no decorrer do
cotidiano escolar. Tal comportamento curricular é ao mesmo tempo, considerado um
instrumento fundamental na formação do professor, a partir do momento em que é o
elemento capaz de preparar o aluno estagiário para o mundo do trabalho, tendo a escola
como espaço de formação de consciência e união entre teoria e prática. Para isso, o estágio
não deve ser burocratizado, mas abrir possibilidade de mudança. Juntamente com a
comunidade escolar, os estagiários fazem leitura da realidade, à luz de elementos teóricos e,
finalmente, apresentam propostas de atuação, para fazerem do estágio um processo
contínuo de investigação.
O estágio-pesquisa é resultado de uma construção que vem sendo elaborada passo a
passo e se encontra documentada por Fazenda (1991), quando discorre sobre a prática
pedagógica nos oito anos como professora da USP. A partir de sua vivência como
pesquisadora, a professora investiga o fenômeno situado na sala de aula da qual emergiram
os questionamentos: quem eram aqueles alunos, o que pretendiam? Nesse mister foram
aplicadas técnicas de auto conhecimento, resgate da memória e da história de vida,
utilizando trabalhos escritos. A trajetória pode ser detalhada em dois momentos: a pesquisa
do eu e a pesquisa do nós, em busca da identidade do educador, que vai do individual ao
coletivo. Assim, foram investigadas as práticas dos ex-professores da Didática da
Habilitação Magistério das escolas visitadas. Elaborados os relatórios das pesquisas, houve
a organização de livros, tais como: Uma escola chamada magistério e Tá pronto, seu
Lobo? Didática-prática na Pré-escola. O importante dessa caminhada é observar a
dimensão coletiva dentro do envolvimento teórico-prático “Pensar o estágio como pesquisa
de nada valeria se pudéssemos pensá-lo numa dimensão maior: a de um projeto coletivo de
formação do educador” (FAZENDA, 1991:61).
Freitas (1993) investiga as possibilidades, problemas, contradições e elaborações
teórica das alunas estagiárias, apresentando as dificuldades de articular teoria e prática, no
currículo do curso e pedagógica. Sua principal preocupação é apontar o trabalho como eixo
articulador da relação teórica-prática no interior do curso, proporcionando ao aluno a
oportunidade de vivenciar o processo de trabalho pedagógico da escola, desde o início de
sua formação, e introduzindo-o no universo da pesquisa pela sua atividade prática. Sugere
o aprofundamento dos estudos sobre a relação educação-trabalho na formação do educador,
bem como o fortalecimento da educação contínua desta profissional. Considera também os
limites concretos postos pelo momento histórico, ao mesmo tempo refletindo e abrindo
30
caminhos coletivos e sociais para que possa avançar na busca das possibilidades de
melhoria dos cursos de formação de professores.
A experiência de Carvalho (1994) apresentada no ENDIPE de Goiana, trabalha o
esforço de unificar teoria e prática no decorrer do estágio realizado no Departamento de
Educação do Instituto de Biociência- UNESP – Rio Claro – SP. O referencial teórico que
direciona este trabalho baseia-se nas concepções de teoria e de prática, no pressuposto de
que o caminho para a articulação teórica e prática é o da construção do conhecimento
científico. O autor defende a operacionalização dos estágios supervisionados a partir da
problematização das experiências de ensino a serem vivenciadas pelos alunos da
licenciatura, utilizando, para isso, o desenvolvimento de trabalhos de iniciação científica.
31
constituir no grande salto qualitativo dessa análise. É o salto para a reflexão na ação e sobre
a ação de que fala SCHÖN (1992).
32
dimensões distintas e, ao mesmo tempo, profundamente articuladas, na composição da
competência do professor: a técnica e a política que, longe de serem dicotômicas,
interpenetram-se e completam-se. Neste caso há um compromisso ético articulado à
dimensão política, mediatizado pela técnica:
Assim, vamos nos tornando competentes, realizando o ideal que atende às exigências
– históricas, sempre – do contexto em que atuamos. A idéia de relação, presente na
vida humana, aponta-nos uma competência que, além de ser construída é também
compartilhada.
33
Sobre o professor reflexivo
Consideramos importante esclarecer o que entendemos sobre reflexão-na-ação e
sobre a ação docente, trabalhada nos estudos desenvolvidos.
O professor é um intelectual em processo contínuo de formação. O homem pode
interferir, ser agente da história; o professor enquanto sujeito que não reproduz apenas o
conhecimento, pode por meio da reflexão crítica, fazer do seu trabalho de sala um espaço
de transformação, que é práxis docente. É na ação refletida e na redimensão da sua prática
que o professor pode ser agente de mudanças na escola e na sociedade. Nessa perspectiva
formação docente faz-se pelo trabalho de reflexão crítica sobre a prática pedagógica, a
realidade, a fundamentação teórica estudada, bem como pela reconstrução permanente da
idade pessoal e profissional. A partilha de saberes e a educação continuada possibilitam ao
professor a postura de eterno aprendiz que é uma conquista crítica e está no horizonte da
utopia, do vir-a-ser. Para nós, a reflexão vincula-se à atitude crítica e está ligada à
emancipação humana, extrapolando os limites estritamente técnicos dos problemas que
surgem na sala de aula.
A idéia de professor reflexivo, desenvolvido por Schön, deu a muitos educadores
que trabalham com a formação de professores um redimensionamento de suas reflexões e
estudos no sentido de valorizar a epistemologia da prática nos processos de
desenvolvimento profissional do professor. No entanto, as múltiplas interpretações sobre
reflexão-na-ação mereceram estudos de aprofundamento do assunto e o esclarecimento de
pesquisadores como Alarcão (1996) e Contreras (1997).
Alarcão (1996:31), ao fazer uma análise contextualizada sobre a preferencial dos
professores formadores pelas idéias do professor reflexivos de Schön, coloca-o no
movimento que valoriza a epistemologia da prática nos processos de desenvolvimento
profissional do professor; no entanto levanta algumas questões importantes para o debate
dando, assim, um salto de qualidade no aprofundamento do assunto nos seguintes aspectos:
o papel formador da universidade, quanto às exigências de uma formação
profissional;
quanto ao “estágio pedagógico, o parente pobre de todas as disciplinas,
atividades que os docentes não vêem reconhecida, nem nas horas que lhe
dispensam, nem no prestígios que essa atividade é vista”.
O receio de que a partir das idéias de Schön, as universidades cometam o
equívoco de priorizar a racionalidade técnica e a ênfase no paradigma da ciência
aplicada;
Quanto à abordagem reflexiva, uma importante indagação: “a questão que por
vezes se coloca e que eu gostaria de fazer aqui é a que diz respeito ao objetivo
da reflexão. Schön é claro: reflexão na ação e sobre a ação. Mas o que é a ação
do professor? Em que domínio se manifesta?”.
Quanto à relação existente entre a reflexão e o conhecimento que é gerado e
sustentado para reflexão. Até que ponto os professores iniciantes entram nesse
processo?
Quanto às estratégias formativas de Schön e a exigência de que o formador
tenha uma extraordinária capacidade de interpretação e compreensão do outro.
“Será que nós supervisores temos essa competência?”
34
Kemmis (1985) para chamar a tenção sobre elementos que se configuram nesse processo,
em cinco itens:
a reflexão tem a ver com o pensamento e ação, nas situações históricas e reais
em que nos encontramos;
Guimarães Rosa nos diz que “mestre não é quem sempre ensina, mas quem, de
repente, aprende”. Exatamente esta postura de “eterno aprendiz” é o princípio norteador da
nossa práxis educativa que consiste em aprender com a vida, com os livros, com o
trabalho, com as pessoas, com a própria história.
35
_____________________________
¹ Texto resumo da minha dissertação de Mestrado. Estágio Supervisionado como elemento de mediação
entre a formação inicial do professor e a educação continua – UFC, 1995. Para publicá-lo nesse livro
incorporei alguns estudos feitos posteriormente sobre professor reflexivo.
Bibliografia
ALARCÃO, I Reflexão crítica sobre o pensamento de D. Schön e os programas de
formação de professores. Revista da Faculdade de Educação. São Paulo vol. 22 nº 2
1996.
CARVALHO, L. M. de trabalho: relação teórica e prática nos estágios supervisionados
7º Encontro Nacional de Didático e Prática de Ensino. Anais Goiânia: Cegraf/UFG
1994.
CONTRERAS, J. La autonomia del professorado. Madrid: Morata, 1997.
FAZENDA, I. C. A. O papel do estágio nos cursos de formação dos professores
PICONEZ, S. C. Bertholo. A prática de ensino e o estágio supervisionado. Campinas:
Papirus, 1991.
FREITAS, H. C. L. Trabalho e relação teoria-prática nos estágios supervisionados de 1º
Grau no Curso de pedagogia. 16ª Reunião da ANPED – 1993 (mimeo).
________O trabalho como princípio articulador da teoria prática. Campinas, 1994.
Tese (Doutorado) – Faculdade de Educação de Campinas, UNICAMP.
GONÇALVES, C. L. e PIMENTA, S G. Revendo o ensino de 2º Grau, propondo a
formação do professor. São Paulo: Cortez, 1990.
KENSKI V. M. A vivência escolar dos estagiários e a prática de pesquisa em estágios
Supervisionados.
PICONEZ, S.B.C. (coord.). A prática de Ensino e o Estágio supervisionado.
Campinas: Papirus, 1991.
KULCSAR, R. O estágio supervisionado como atividade integrada. PICONEZ. S.B.C.
(coord.). A prática de ensino e o estágio supervisionado. Campinas Papirus, 1991.
_________ O estágio supervisionado como estratégia de integração entre a
universidade e a comunidade. Universidade Estadual do Ceará, 1990.(mimeo).
LIMA, M. S. L. O estágio supervisionado como elemento mediador entre a
formação inicial do professor e a educação continua. Dissertação (Mestrado).
Fortaleza. UFC – Faculdade de Educação 1995 (mimeo).
LIMA, M. S. L. O estágio supervisionado como estratégia de integração entre a
universidade e a comunidade: uma reflexão sobre a experiência de minicursos.
Monografia. Limoeiro do Norte. UECE. 1990 (mimeo).
NÓVOA, A (org.) O professor e sua formação. Lisboa D. Quixote, 1992.
PICONEZ, S.C.B. A prática de ensino e o estágio supervisionado: a aproximação
da realidade escolar e a prática de reflexão. Campinas: Papirus, 191.
PIMENTA, S.G. Formação de professores. São Paulo: 1995 (mimeo).
_______O pedagogo na escola pública. 2ª, Ed. São Paulo Loyola, 1991. (coleção
Educar).
SCHÖN, D. A Formar professores como profissionais reflexivos. NÓVOA (org.). Os
professores e sua formação. Lisboa: D. Quixote, 1992.
RIOS, T. A Ética e competência. São Paulo: Cortez, 1994. (Coleção Questões da nossa
época Vol. 16).a)
VASQUEZ, A. S. Filosofia da práxis. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
VIEIRA, F. Fatores de constrangimento de uma abordagem reflexiva na formação
didática de professores. Revista O professor. Lisboa, número, 29, 1992.
36
ATIVIDADES PARA REFLEXÃO
1. Este texto aprofunda o conceito e analisa a prática do estágio. Desejo que ele sirva
para a gente “mergulhar” um pouco mais no sentido do Estágio que estamos
realizando neste curso. Podemos retirar das suas idéias e reflexões:
a) Os conceitos de estágio, professor, professor reflexivo e outros mais.
b) Os autores utilizados.
c) A idéia básica e a conclusão.
d) Algumas reflexões sobre a nossa vida de professores.
Desejo
Desejo primeiro que você ame.
Que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem se desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que em pelo menos um deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos,
Nem muitos, nem poucos
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito de suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
(...)
desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore,
(...)
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Victor Hugo
37
ESTÁGIO E PESQUISA:
CONTRIBUIÇÕES PARA O DEBATE!¹
Maria Socorro Lucena Lima
38
b) Aproximação da realidade
Um segundo enfoque mostra o conceito de estágio trabalho por GONÇALVES e
PIMENTA (1990) EM QUE DEFENDEM O estágio como aproximação da realidade. Esse
conceito sugere algumas indagações: aproxima-se de quem? Para quê? Que sentido está
sendo dado a essa aproximação?
Aproximar-se da realidade tem sentido quando tem a conotação de
“envolvimento” com intencionalidade, de ver, com o olho pedagógico de que fala
Madalena freire, e de ver fundo, ver largo e ver claro, em profundidade e abrangente como
diz a educadora Terezinha Rios, para poder fazer uma intervenção reflexiva, um olhar ético,
que a reflexão crítica sobre um jeito de ser. A maioria dos estagiários burocratizados,
carregados de fichas de observação que mais parecem uma enquête estão numa visão míope
de aproximação da realidade.
Tem-se defendido muito a escola pública como lócus do estágio
supervisionado. Eu também defendo essa questão, mas essa bandeira apenas não basta, é
preciso ter claros os conceitos que estão embutidos na prática docente, quais os objetivos
da mesma e qual a fundamentação teórico-metodológica que sustenta. Que sentido estamos
dando ao estágio enquanto componente curricular relevante na mediação entre a formação
inicial e continua?
Faz-se necessário um aprofundamento conceitual das práticas que se realizam no
estágio. É preciso que o professor da universidade faça, no coletivo, junto a seus pares e
seus alunos, essa aproximação maior, a partir da própria realidade conceitual de que se
apropria. Para falar de estágio supervisionado na licenciatura ou no bacharelado, vale a
pena verificar qual o sentido, qual o significado, o que representa para instituição e o
professor: o que é estágio?, o que é o bacharelado? Essa caminhada conceitual certamente
será uma trilha de novas experiências.
39
Encaminhando uma conclusão
Os procedimentos de pesquisa etnográfica como vivência dos estagiários tem aberto
a perspectiva para o estágio investigativo da prática docente. A utilização de histórias de
vidas, memoriais, memórias de bons professores, tem caminhado como elemento de
autoformação nessa mesma perspectiva. Assim, o estágio pode ser um espaço de
autoconhecimento, reflexão e ética.
___________________
¹ Texto produzido para o II encontro Interinstitucional de Estágio Curricular-Fortaleza-CE 2001
40
Bibliografia
41
Atividades para Reflexão
Árvore
Um passarinho pediu a meu irmão para ser a sua árvore.
Meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho.
No estágio de ser árvore, meu irmão aprendeu de sol, de
céu e de lua mais do que na escola.
No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu para
santo mais do que os padres lhes ensinaram no internato.
Aprendeu com a natureza o perfume de Deus.
Seu olho no estágio de ser arvore aprendeu melhor o azul.
E descobriu que uma casca vazia de cigarra esquecida no
tronco das árvores só presta para poesia.
No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as árvores
são vaidosas
Que justamente aquele árvore no meu irmão
se transformara, envaidecia-se quando era nomeada para o
entardecer dos pássaros.
E tinha ciúmes da brancura que os lírios deixavam nos
brejos. Meu irmão agradeceu a Deus aquela permanência em
árvore porque fez amizade com muitas borboletas.
(Barros, Manoel de Ensaios fotográficos. Rio de Janeiro: Record, 2000.).
42
O bom professor nos filmes¹
Maria Socorro Lucena lima
Pérsio Nakamoto
Sou mais autêntico quanto mais
Me aproximo do meu sonho
(Filme: Tudo sobre minha mãe)
O uso de filmes como ponto de partida para a reflexão pode ser de grande
importância na formação inicial e contínua dos docentes. No entanto, requer um estudo
prévio da fundamentação teórica sobre os conceitos, sobre a realidade apresentada no
enredo e a articulação que é possível fazer entre o contexto do filme e a realidade
vivenciada pelos educadores.
A maioria dos espectadores desse tipo de filme acaba refletindo se seria capaz de ser
um professor nos mesmos moldes ou pelo menos ter o mesmo sucesso. Outros ainda se
lembram daqueles professores que marcaram suas vidas profundamente. Nem todos, no
entanto, percebem o real papel do professor na escola, na sociedade, na vida e o valor
pedagógico do debate que o filme pode suscitar. Questionamos para isso: o que ser um bom
professor no filme que fora dele? Que conceito e valores levam as pessoas a considerar esse
personagem como bom? Bom para quem? Em quais circunstancias?
O conceito de bom professor não pode ser elaborado a partir da dicotomia entre
“bom” e “ruim”. Essa compreensão é muito mais complexa, pois envolve circunstâncias
históricas materiais, expectativas sociais e contexto estrutural de diversos grupos. Não se
trata de uma lista de requisitos que juntos resultariam no perfil de bom professor, mas uma
análise do processo como um todo e das relações que se estabelecem entre eles. Nesse
sentido, CUNHA (1989) nos fornece algumas reflexões sobre o bom professor, mostrando
que o conceito”(...) é valorativo, com referência a um tempo e a um lugar. Como tal é
também ideológico, isto é, representa a idéia que socialmente é construída sobre o professor
de hoje, com certeza, é diferente do de outrora; e o bom professor de um lugar é diferente
do de outro lugar. O bom professor de Matemática para os alunos da 3º ano de ensino
médio de uma escola de elite pode ser “o rígido” e para aluno do curso noturno de uma
escola de periferia pode ser “o compreensivo”.
Devido ao papel social, criam-se muitas expectativas em relação ao professor, pois
os atributos que a sociedade espera dele, no exercício de sua função (e muitas vezes, além
desse limite), estão intrinsecamente ligados aos valores produzidos por essa mesma
sociedade. Ao estudarmos o bom professor nos filmes, convém questionar como a temática
é tratada na complexidade e na totalidade social e quais qualidades do mestre são
evidenciadas, sem perder de vista a totalidade e as condições objetivas em que se
desenvolve. É preciso ter cuidado de observar que o professor sozinho não vai dar conta de
todas adversidades.
43
O segundo ponto a ser refletido é sobre a ideologia que se faz presente nas
entrelinhas da história. Como é apresentado o professor na perspectiva individual, coletiva
e organizacional? Até que ponto a afetividade poderia resolver de forma objetiva todos os
problemas? Não estaria o professor assumindo a postura do herói romântico que tudo pode
e, ao deixar de fazê-lo, as circunstâncias continuariam como sempre estiveram.
Em estudo realizado por nós na disciplina de Didática, com a professora Selma
Garrido Pimenta, na FEUSP, por ocasião do Seminário: O bom professor nos filmes,
verificamos que a maioria dos filmes que trabalhamos mostra as dificuldades do professor,
ressaltando pontos comuns que podem ser destacados:
o professor, dentro do contexto e da realidade da sala de aula, pode encontrar
mecanismo de sensibilização para que os alunos se mostrem motivados para
uma possível mudança de atitude;
o professor consegue, com paciência e habilidade aproxima-se dos alunos,
mesmo os mais resistentes e arredios;
o professor foge à regra geral e sua atuação tem uma originalidade que o faz
amado e respeitado por seus alunos e, muitas vezes, admirado pelos colegas.
a questão afetiva se alia à competência teórica e metodológica;
o professor termina fazendo o papel de herói, ensinando aos alunos a
encontrarem seus caminhos mesmo que eles próprios tenham momentos de
crise e fraqueza.
A seguir, uma lista de alguns filmes e suas respectivas fichas técnicas com sinopses.
A maioria deles pode ser encontrada em locadoras de vídeo. Perceber-se-á que em algumas
dessas películas, a ênfase é dada ao aluno ou ao produto final, Isto é, ao ensino, mas a
figura central do professor ainda aparece, em circunstância diversas.
1. Ao mestre com carinho - (To sir with love, 67 Inglaterra). Direção James
Clavell. Com Sidney Poitier, Judy Geesen, Lulu, Suzy Kendall, Christian Robert, Faith
Brook, Geoffrey Baydon. Drama sobre o cotidiano das escolas públicas na Inglaterra dos
anos 60, em que um professor recém-contratado tenta transformar seus alunos rebeldes em
jovens adultos.
2. Ao mestre com carinho – parte 2 (to sir wiht love II, 95 Inglaterra)
Direção: Peter Bogdanovich. Com: Sidney Poitier, Christian Payton, Dana Eskelson,
Fernando Lopez, Judy Geeson, Lulu. Aposentado, o professor assume aulas em uma escola
da periferia de Chicago para, novamente, tentar mudar a vida de seus alunos.
3. Conrack - (Conrack 74 EUA). Direção: Martin Ritt, com John Voight, Paul
Winfield, Hume Cronin, Madge Sinclair, Tina Andrews, Antônio Fargas. Numa
empobrecida escola da Carolina do Sul, um criativo professor se utiliza de inusitado
método de ensino.
4. Lições de infância - ( The elementary shool, 91 Respcheca). Direção Jan
Sverák. Com Vaclav Jakoubec, Tadoslav Budac, Marek Endel, Michal Skrabal, Jan Triska.
No interior da República da Checoslováquia, durante a II Guerra Mundial, garotos têm, na
figura de professor, um modelo diferente de conduta.
5. Mentes perigosas - (Dangerous mind, 95, EUA). Direção: John N. Smith.
Com : Michelle Pfeiffer, Robin Barlett, George Dzundza, John neville, Revnold Santiago.
Ex-oficial da marinha abandona sua carreira militar para se tornar uma professora de Inglês,
cujo desafio maior será ensinar literatura a um grupo de estudantes rebeldes.
44
6. Meu mestre minha vida - (Lean on me 89, EUA). Direção: John Avildesn.
Com: Morg Freeman, Beverly Todd, Robert Guillaume, Alan North, Robin Barlett,
Michael Beach. Professor retorna à escola de nova Jersey, onde lecionou vinte anos atrás,
para livrá-la dos alunos violentos e viciados em drogas
7. Mr. Holland – Adorável professor (Mr. Holland’s opus, 95, EUA).Stephen
Herek. Com Richard Dreyfuss, Glessa Headly, Jay Thomas, Olympia Dukakis, Alicia Witt.
Mr. Holland ensina música em uma escola enquanto tenta compor uma peça sinfônica. No
entanto, seu maior desafio é vencer a barreira que o separa de seu filho que é surdo.
8. Mudança de hábito 2 – (Sister Act 2, 93, EUA). Direção: Bill Duke. Com
Whoopi Goldberg, Maggie Smith, Kahty Nadjimy. Disfarçada de freira, a cantora dá aula
de música em escola religiosa freqüentada por alunos problemáticos. Com isso ela tenta
transformá-los em adultos responsáveis
9. Nenhum a menos (Yi ge dou bu neng shao, 99 China). Direção Yimou Zhag.
Com Minzh Weihuike Zhang Zhenda Tian, Enman Gao, Zhimei Sun. Em uma pequena vila
montanhosa, uma menina de 13 anos se torna professora ao substituir o único professor
durante um mês. Seu dever é fazer com que nenhum dos alunos desista da escola.
10. O preço do desafio (Stand and deliver, 88 EUA). Direção: Romon
Menezes. Com Edward James Olmos, Lou Diamond Phillips, Andy Garcia, Rosana de
Soto, Will Gotay. Numa escola pública, professor sul americano tenta lecionar Matemática
para alunos marginalizados, ao mesmo tempo em que lhe proporciona uma nova postura
frente à realidade que enfrentam.
11. O substituto (The substitute, 96 EUA). Direção Robert Mendel.
Com tom Berenger, Ernie Huudson, Dian Venora, Glenn Plummer, William Forsythe.
Numa escola pública, professor é enviado pelo governo para que imponha a ordem, pois é
um local onde impera a violência e as drogas.
12. Onde tudo começa ( Ça commence aujourd’hui, 99 França). Direção
Bertrand Tavernier. Com : Philippe Torreton, Maria Pitarresi, Nadia Kaci, Véronique
Ataly, Nathalie Bécue, Emmanuelle Bercot. Daniel é um professor de uma escola infantil
em uma pequena cidade francesa, cuja economia local, baseada na extração de carvão, sofre
com a depressão econômica e com o descaso político governamental. No entanto, ele tenta
educar as crianças da melhor forma possível.
13. Sociedade dos poetas mortos (Dead Poets Society 89, EUA). Direção:
Peter Weir. Com: Robin Willian Robert Sean Leonard, Ethan Hawke, Josh Charles, Gale
Hansen, Dylan Kassman, Allelon Ruggieri, James Waterson. Drama em que alunos de uma
escola conservadora dos anos 50 são influenciados pelo professor de literatura que os
estimula a refletir por meio de poesias e com isso criar conflitos com a direção do colégio.
14. Um novo homem (Renaissance man, 94, EUA). Direção: Penny Marshall.
Com: Danny DeVito, Gregory Hines, James Rimar, Cliff Roberston, Lillo Brancatto. Um
homem, que não é professor, é contratado pelo exército americano para dar aulas para
recrutas considerados “menos” inteligentes.
15. Um olhar para a vida (Une semaine de vacance, 80 França). Direção
Bertrand Tavernier. Com Nathalie Baye, Gerard Lanvin, Michel Calabru, Philippe Noiaret,
Philippe Lotard. Professor questiona os valores da profissão ao ficar esgotado nervoso por
causa da sua relação com os alunos.
45
Ainda existem muitos filmes sobre o tema, no entanto, a lista continuará inacabada,
uma vez que muitas películas ainda serão produzidas com certeza.
Tais filmes constituem um excelente recurso didático desde que se possa fazer uma
reflexão crítica sobre os mesmos ao relacioná-los com a realidade em que estamos
inseridos bem como o registro e troca de experiências. Por isso, após a projeção de algum
desses filmes, sugerimos algumas reflexões. Essa tarefa poderá vir acompanhada da leitura
de um texto pedagógico.
Levando em conta a postura do professor no filme, o que é preciso ser,
sentir e fazer para se ensinar algo a alguém?
De acordo com o pensamento do educador Paulo Freire, “testemunhar a
abertura aos outros, a disponibilidade curiosa à vida, a seus desafios são
saberes necessários à pratica educativa”, como esse processo acontece no
filme?
Diz o educador Paulo Freire que “(...) o que importa é que o professor e
alunos se assumam epistemologicamente curiosos”. Dessa forma poderia
acrescentar à sua prática docente ou a sua vida pessoal?
Se você pudesse interferir, o que mudaria ou acrescentaria no filme?
Assim como não há pessoas iguais nesse mundo, os professores também são todos
diferentes. O filme, como instrumento de reflexão pedagógica, pode representar um
excelente mecanismo de formação de docente. A internacionalidade da atividade na sala de
aula, a clareza dos objetivos, o debate a partir dos problemas e das possibilidades
apresentadas, o estudo crítico do enredo do filme, bem como a articulação com a realidade
dos professores, tempo histórico e no espaço, constituirão uma oportunidade de diálogo e
ressignificação do trabalho do professor.
__________________________
¹Na época do doutorado fui monitora da Profª Selma Garrido Pimentel no curso de Didática da
licenciatura na USP em 1998. aluno dessa disciplina, Pérsio Nakamoto preparou comigo um
Seminário sobre O Bom Professor nos Filmes e elaboramos este texto.
Bibliografia
CUNHA, M. I. O bom professor e sua prática. São Paulo: Papirus, 1989.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra 1996.
46
Maria Socorro Lucena Lima
Introdução
Essa reflexão convoca-nos a estar atentos para as questões da nossa prática
cotidiana, que parecem comuns corriqueiras, no entanto podem conter grandes lições para a
nossa formação pedagógica. Esperamos que ela possa abrir o debate e, assim constituir-se
uma troca de experiências de grande importância para o desenvolvimento de uma postura
reflexiva no dia-a-dia do nosso trabalho de formadores.
Trabalhar com alunos que já são profissionais do magistério requer desafios, por
tratar-se de professores muitos deles, com experiências e conhecimentos acumulados.
Nossa preocupação vai no sentido de questionar as possibilidades e limites do professor
reflexivo que desejamos ser e quais são os caminhos dessa busca.
Contando a história
A disciplina Prática de Ensino previa encontros destinados à fundamentação teórica
na área de formação de professores, orientação e acompanhamento do estágio
Supervisionado. Tema da aula: prática docente. A professora tinha previsto, como
embasamento teórico, o livro Pedagogia da autonomia de Paulo Freire, os alunos
deveriam trazer o texto lido para discussão em classe.
A metodologia da aula consiste em uma divisão dos alunos em equipe, que
trabalhariam o texto a eles destinado e, ao final um representante do grupo apresentaria o
trabalho para o debate em sala de aula.
Uma das equipes tentava explicar o pensamento do autor: “ensinar é uma prática
essencialmente humana” quando um dos colegas fez a seguinte provocação (mas é claro
que apenas os humanos ensinam! Já viram algum animal ensinando alguma coisa a
alguém?” a inesperada intervenção fez o debate parar, inclusive a professora, mesmo já
sendo acostumada a trabalhar com o livro de Paulo Freire, nos cursos de formação de
professores, tentava pensar rapidamente para conseguir bons argumentos e desfazer o
impasse provocado.
Às vezes, as coisas que parecem tão óbvias e comuns, não são tão banais, como diz
o autor em epígrafe desse texto: “As coisas comuns nem sempre são tão como nós
pensamos “(GAARDER, 1997). Requerem uma abrangência, aprofundamento e uma
contextualização para que possamos entendê-las.
Aquela provocação, que inicialmente soava como limitação do colega, deixava a
classe, por um momento, sem resposta. A professora até pensou em sugerir uma outra
pesquisa, em transformar aquele problema em investigação.
No entanto, foi caminhando no conceito das palavras de Paulo Freire que a questão
pôde ser trabalhada ali mesmo. O que é conceito? É uma forma de pensar a realidade
47
(LUKESI, 1990). A partir daí, todos foram convocados a pensar sobre o sentido de cada
palavra.
O que é ensinar? Dentro da pedagogia, que é a ciência da educação,
enquanto prática social, temos uma área chamada Didática, cuja preocupação concentra-se
nas questões do ensinar e do aprender. Esse processo situado histórica e concretamente
envolve tanto os alunos como os professores. O que é ensinar e o que é aprender? Em que
circunstâncias? A que classe social pertencem? Quais as marcas da sociedade moderna
globalizada que estão batendo na porta da escola e da sala de aula, onde o professor exerce
sua profissão e os alunos estudam? Para que serve a educação?
O que é educação? Foram abertos novos questionamentos sobre a
educação. Para que serve a educação? Serve principalmente para humanizar o homem. Para
resgatar dele a sua genuína essência: ser gente e, como tal, realizar-se na comunhão com os
outros homens. Essência foi entendida como sendo aquilo que se retirarmos, a coisa deixa
de ser o que é. Entendendo assim, foram adiante para ver a educação como uma das
instâncias da vida humana. Ela precisa de um contexto em que as necessidades humanas
básicas, como comer, vestir, morar entre outras, estejam acontecendo assim como a
liberdade e a dignidade. A falácia do discurso da educação como suas necessidades básicas
são negadas. Dessa forma, concordamos com CORTELLA (1999) quando diz que:
Ser humano é ser junto. É necessário negar a afirmação Libertária de que “a minha
liberdade acaba quando começa a do outro”. A minha liberdade acaba quando acaba a
do outro; se algum humano ou humana não é ninguém é livre.
Ensinando e aprendendo
Esta aprendizagem de sala de aula tanto pode servir de pretexto para conversar
com os professores, quanto para os colegas que trabalham com formação contínua de
professores e dela levantamos alguns pontos para reflexão:
48
Será que os alunos-professores não estariam priorizando a verbalização de
idéias publicamente aceitas pelo professor formador e pela classe?
Será que não estamos sendo engolidos pela pressa com que os cursos de
formação estão sendo concebidos e realizados, o que muitas vezes, impede ou dificulta o
aprofundamento e a reflexão?
__________________________
¹ A partir de uma aula dada em janeiro de 2000, no Programa Especial de Formação Pedagógica
elaborei este texto. Sou grata aos alunos daquela turma pelas lições que no momento deixou para
formador e formandos.
Bibliografia
49
Ele se inclinou bem para frente fazendo uma reverência. (...)
- Por que você está se inclinando desse jeito?(...)
- Lá de onde eu venho, explicou ele, nós sempre fazemos uma reverência quando
alguém faz uma pergunta fascinante. E quanto mais fascinante for a pergunta, mais
profundamente a gente se inclina. Nesse caso, perguntei, o que vocês fazem quando
querem se cumprimentar? – Temos que fazer uma pergunta inteligente. Essa resposta
me impressionou tanto, que fiz uma profunda reverência, me inclinando o máximo.
- Porque você fez uma reverência? Perguntou ele num tom quase ofendido.
- Porque me deu uma resposta superinteligente para minha pergunta, - respondi. “Daí
numa voz bem alta e clara, ele me disse algo que eu haveria de me lembrar pelo resto
da vida – Uma resposta nunca merece uma reverência. Mesmo quando for inteligente e
correta, nem assim você deve se curvar para ela. Quando você se inclina, você dá
passagem para uma resposta. (...) A resposta é sempre um trecho do caminho que está
atrás de você. Só a pergunta pode apontar o caminho para a frente”.
(Gaarder,Jostein. Ei! Tem alguém ai? São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1997)
1. Relacione o texto com atividades de estágio e ação docente que você está
desenvolvendo.
2. Que perguntas sobre o estágio e a ação docente você lançaria para “apontar o
caminho para frente”.
Parte II
Contribuições para o debate
50
Aprendi a caminhar cantando
Como convém a mim e aos que vão comigo
(Thiago de Mello)
51
Ação docente supervisionada
E as contribuições da Psicologia da Educação
Meirecele Calíope Leitinho
Patrícia Helena Carvalho Holanda
Introdução
Este texto discute a fase do desenvolvimento curricular do curso de formação de
professores para o ensino fundamental (1ª a 4ª série) intitulada ação docente
supervisionada, promovido pela Universidade Estadual do Ceará nos municípios do Estado,
analisando a metodologia empregada por essa fase curricular, que se propõe ir além dos
conteúdos e metodologia propostas no ensino tradicional, o qual na maioria das vezes se
limita a transmitir os conhecimentos de forma fragmentada e descontextualizada. Em outras
palavras, essa etapa do desenvolvimento curricular entre a Pedagogia e a Psicologia, à
medida que a psicologia educacional, também explica o fenômeno educativo, possibilita a
criação de estratégia de planejamento e fornecimento técnicas e instrumentos para a
intervenção na prática docente (GUERRA, 2000: 74).
A discussão será feita numa perspectiva psicológica, considerando-se os aspectos
subjetivos do processo de aprendizagem, explicitando a concepção de aprendizagem,
significativa definida nos documentos prescritivos do curso e a questão da relação
professor-orientador à luz de teorias psicológicas da atualidade, privilegiando a importância
da interdisciplinaridade na relação com outras áreas do conhecimento, sobretudo com as
metodologias e práticas.
Para realizar este estudo, optamos pela análise documental, consultando os
documentos oficias do curso de formação de professores para o ensino fundamental (1ª a 4ª
série) e os relatórios dos professores-alunos. Algumas observações e interpretações sobre a
prática da ação docente supervisionada serão decorrente das nossas vivências como
participantes do processo.
Pretendemos, com a nossa análise contribuir para a discussão de processos de
supervisão reflexiva presentes nos cursos de formação de professores na atualidade.
52
estabelecer uma relação direta entre o cotidiano da sala de aula e os temas de estudos
definidos no currículo, visando ao desenvolvimento de competência a ser adquirida
pelos alunos ao longo dos cursos (p.7.).
Como se pode observar no primeiro objetivo, as aprendizagens significativas são colocadas
como ponto culminante do processo. Mas o que é uma aprendizagem significativa? Por que ela é a
meta da ação docente supervisionada? Alguns aspectos devem ser considerados:
a) a aprendizagem se torna significativa quando o aprendiz percebe que ela se relaciona
com seus objetivos, uma vez que o professor-aluno é considerado sujeito que está num processo de
desenvolvimento pessoal e profissional. Esse fato vai ao encontro da proposta da ação docente
supervisionada, que oferece ao professor aluno a oportunidade de relacionar seus interesses com a
ação pedagógica do curso;
b) por intermédio da articulação teoria/prática os sujeitos adquirem aprendizagens mais
significativa, as quais se constituem como um princípio presente na ação docente supervisionada,
por oportunizar ao professor-aluno o confronto permanente com os problemas de sua atuação
profissional no cotidiano escolar, levando-o a pesquisar e refletir sobre sua prática pedagógica;
c) a aprendizagem significativa envolve todas as dimensões do ser, tanto a cognição como
a subjetividade e é mais duradoura e envolvente. No caso em estudo, as situações de aprendizagem
têm dimensões cognitivas, afetivas e, em algumas situações específicas, psicomotoras;
d) a aprendizagem é mais significativa quando o aluno escolhe seus próprios caminhos,
juntamente com o professor discute quais os recursos de aprendizagem mais produtivos, formula
problemas relacionados ao cotidiano da sua sala de aula, estuda as direções que devem ser dadas ao
trabalho e as conseqüências de suas escolhas. Essa é a prática da ação docente supervisionada.
No segundo objetivo, está explicitada a idéia de uma prática pedagógica transformadora,
que somente será concretizada se a aprendizagem for significativa para o aluno. Portanto, ao criar
mecanismo que estimulam transformações na prática pedagógica do aluno, a ação docente
supervisionada favorece a superação de aprendizagens mecânicas, trabalhando a idéia de
aprendizagem em processo.
Já no terceiro objetivo, está evidenciado o desenvolvimento de competência a serem
adquiridas ao longo do processo, fato que ocorrerá se houver uma internalização de aprendizagens
significativas elaboradas na ação/ reflexão/ação do professor-aluno sobre a teoria/prática do seu
processo de formação. A ação docente supervisionada possibilita essa internalização.
Nessa dimensão, ação docente supervisionada é o instrumento fundamental da formação do
professor reflexivo, que é o objeto do curso de formação de professores para o ensino fundamental
(1ª a 4ª série). Ela tem como esquema operacional:
E M
Reunião de N E Reunião de
Planejamento C D Planejamento
e Avaliação O D I
N E T e Avaliação
(Início de Sistema) T A (Mensal)
R Ç
O A
O
E M
E
N Inserção
Reunião de C D
Da Escola
O D I
Planejamento E T (Mensal)
N
e Avaliação T A
(Início do Semestral) R Ç
O A
O 53
De acordo com o sistema apresentado, o professor orientador assume um
relacionamento com o grupo de professores-alunos sob sua responsabilidade.
Nos encontros de mediação e de inserção na escola (ver gráfico), ocorre uma relação
direta do professor orientador com o professor-aluno. O professor-orientador age baseado
no modelo interacionanista, isto é, o professor que interage com os seus alunos, produzindo
um terreno fértil para criação e desenvolvimento de aprendizagens significativas.
A interação professor-orientador com o professor-aluno se concretiza através das
tarefas atribuídas ao primeiro, descritas assim no documento da ação docente
supervisionada:
54
docente supervisionada propicia momentos tanto individuais como grupais no sentido de
favorecer o intercâmbio entre o professor-aluno, o trabalho de grupo e autonomia.
55
CÓRIA-SABINI (1986) definiu bem esse tipo de aprendizagem.
P-A: - A minha ação docente tem contribuído na formação de jovens cidadãos críticos e
atuantes na sociedade, despertando neles a criatividade, levando-os a se interessar por
problemas da comunidade em que vivem e encontrar alternativas para solucioná-los. Enfim,
tento despertá-los para a vida.
É importante ressaltar que no desenvolvimento desse tipo de relatório o professor-
aluno procura refletir sobre a estrutura física e administrativa da escola na qual leciona,
bem como sobre o histórico da sua criação, a sua filosofia, o seu regimento e a proposta
curricular no sentido de perceber como estes aspectos podem vir a influenciar na sua práxis;
ele faz também, nesse estudo, o registro da sua prática pedagógica, realizando uma reflexão
sobre o trabalho da escola do ponto de vista.
Assim, através de atividades dessa natureza, o professor-aluno via descobrindo as
relações teórico-práticas existentes no seu processo de formação através de atividades
investigativas que propiciam um terreno fecundado para a indissociação dessa relação no
processo de aprendizagem. Isso se concretiza, à medida que o professor-aluno realiza a
organização das relações descobertas, interpretando-as nas suas estruturas cognitivas. para
ilustrar, citaremos a passagem do relatório de uma professora-aluna, em que é feita uma
reflexão sobre os fatores que interferem na sua prática pedagógica.
Considerações finais
O processo da ação docente supervisionada do curso de formação de professores
para o ensino fundamental (1ª a 4ª série) evidencia que a aprendizagem ocorre de forma
mais eficaz quando o professor-aluno participa diretamente do seu processo de
aprendizagem, envolvendo-se ativamente através da experimentação, da pesquisa,
participação em seminários e levantamento de problemáticas e dúvida; são situações que
favorecem o desenvolvimento de aprendizagens significativas.
Nesse caso, a aprendizagem é dinamizada por uma relação interacionista do
professor-orientador com o professor-aluno que rompe com a concepção de currículo
produto, assumindo a de currículo-formação, ou currículo em processo.
56
Outro aspecto que merece destaque, nessa disciplina, é explicitação na sua proposta
e no desenvolvimento curricular do professor, o qual ela pretende formar.
Com esse procedimento a ação docente supervisionada ao estabelecer suas relações
com a Psicologia possibilitou o estabelecimento de relações com prática docente,
revalorizando os seus fundamentos, superando os reducionismos e aplicação utilitarista da
Psicologia na prática docente, ao considerar a dinâmica entre a teoria e a prática.
Dessa forma, pode-se afirma que a ação docente supervisionada, discutida neste
trabalho sob o ponto de vista psicológico, favorece a aquisição de aprendizagens
significativas, desenvolve situação interacionistas, buscando sempre a internalização de
competência específica, ou seja, a ação docente na escola. É uma proposta que valoriza a
ação humana e a linguagem das possibilidades de transformação dos processos
educacionais. É a concretização de uma relação teoria/prática dialetizada.
Bibliografia
57
Atividades para Reflexão
1. Compreendendo o texto:
a) nome do autor;
b) nome do texto;
c) outras informações.
58
O cotidiano da formação e da prática
do professor: demarcando o cenário
da ação docente supervisionada
Meirecele Calíope Leitinho
Maria de Lourdes P. Brandão
No presente texto, faz-se uma reflexão sobre a vida cotidiana como referência
importante para o entendimento da ação docente instituída nos espaços escolares e
universitários. Em qualquer local de formação educacional – Mestrado, Doutorado,
Especialização, Graduação, fala-se do cotidiano. No entanto, pouca gente sabe como
trabalhar essa dimensão da vida diária, aceitando as rotinas, sem questionamentos, agindo
sempre da mesma maneira, com as mesmas perspectivas, sem qualquer forma de
invocação, razões pelas quais torna-se necessário discuti-lo do ponto de vista teórico,
metodológico e cientifico, situando o cotidiano como espaço da Ação Docente
Supervisionada (ADS).
Nosso modo de pensar, de ver o mundo e de entendê-lo, assim como de transmitir
tal visão e tal compreensão passa pelo entendimento do espaço, do tempo e da linguagem
assumida no cotidiano da relação pedagógica, ou seja, em nossas vivências e representações
das mesmas. Vislumbra-se, assim, o uso e a distribuição dos saberes de formação no espaço
da docência observada em busca de sua transformação em lugar educativo-formativo-
cultural.
Esta dimensão reflexiva nos conduz a uma leitura sobre a história social do espaço
educativo – campo da ação supervisionada, suas intervenções e enfrentamentos diante das
regulações e estatais, possibilitando uma análise das instituições educacionais como centro
de decisão e poder (dimensão organizacional) e, portanto, de conflitos, realizações pessoais
e/ ou intergrupais. Estejamos alerta para os riscos trazidos por aproximações mal-
construídas e autoritárias que favorecem a construção de relações e ambientes necessitados
de funcionalidade pedagógica.
Nesses termos, nossa reflexão passa a ser orientada pela dimensão antropológica de
uma etnografia em que o cotidiano passa a ser desvelado como realidade social e material-
cultura específica redimensionada e que nos permite definir o campo pedagógico como (...)
um contexto gelatinoso, escorregadio e moldado em sentidos múltiplos de códigos, regras e
elementos normatizadores (53); um cotidiano complexo, invisível ou silencioso, cheio de
símbolos e significados ditos universalizados instituidores de saberes e poderes
diagramados e emitidos sob diferentes linguagens/ rituais, que permite reconstruir os
processos e as relações que configuram a experiência escolar diária – documentando o não
documentado, isto é, descobrindo encontros e desencontros que permeiam o dia-a-dia da
prática escolar, descrevendo as ações e representações dos seus atores sócias.
Nesse cenário, como pensar esta estrutura curricular e, nela, a ação supervisionada
que prevê cenário a redesenhar uma nova ordem disciplinar para a escola pública, nascida
das relações e construções cotidiana – realidades estudadas? Eis a questão que trazemos
para iniciar a reflexão!
59
cotidiano vivo, alegre, dinâmico, transformador, mutável, que apesar de suas rotinas, nunca
deveria ficar estagnado.
Uma primeira característica desse cotidiano vivo, dinâmico é a heterogeneidade. A
vida diária é heterogênea em todas as suas manifestações-crença, valores, idéias,
comportamentos. Nele existem as diferenças e os diferentes. Trabalhar esses elementos é
complicado. Assim, quando surgem as diferenças, os conflitos, as contradições e os
questionamentos, tudo se torna difícil e, se não adotarmos um comportamento dialético,
ficaremos extremamente constrangidos, tendo de recorre ao expediente do autoritarismo.
Tornamos-nos autoritários ditamos regras, normas, e achamos que, com isso, vamos
resolver os conflitos e as contradições, sem estarmos preparados intelectualmente para o
embate de idéias.
Isso não pode acontecer com o orientador da Ação Docente Supervisionada (ADS)
porque ele é um intelectual, faz parte de uma classe privilegiada da sociedade, teve acesso a
todos os graus de instrução e trabalha no nível superior. Faz parte, portanto, de uma minoria
privilegiada, teoricamente formada para exercer o ato educativo de maneira consciente e
com fundamentação cientifica.
Outra característica da vida cotidiana é a sistematização das normas e das regras,
sem elas, o cotidiano torna-se um caos. As normas e regras deverão ser discutidas sempre,
no sentido da democracia, da autogestão, da participação, da colaboração, e definidas
coletivamente, valorizando-se os sujeitos genéricos. Predominam no cotidiano das escolas
os sujeitos individualistas, o mesmo individualismo que encontramos na sociedade, que em
nada ajuda ao processo educacional, pelo contrário, traz a ele inúmeros prejuízos.
O cotidiano também é manipulativo, até porque ele é dinâmico. Sendo, assim, pode-
se traça regras, reformulá-las; posso dar ordens e revogá-las, se enfim, manipular o
cotidiano para que ele seja dinâmico ou estático.
Há sempre uma tendência de manipulação para torná-lo estático, até porque a
palavra manipulação é sempre entendida no sentido pejorativo, não interpretado
dialeticamente. Devemos manipulá-lo para objetivos comuns, para bem coletivo, para um
dinamismo constante.
Outra característica do cotidiano é a Historia. O cotidiano é histórico. Os fatos
históricos surgem da vida cotidiana, não aparecem nas cúpulas político representativas do
País. Portanto, trabalhar com o cotidiano é percebê-lo na sua historicidade, compreendendo
seus determinantes políticos, sociais, econômicos.
Podemos afirmar que o cotidiano é carregado de opções. Nós é que estamos
burocratizando. Traçamos normas, implantamo-las e elas tornam-se inquestionáveis. É
como se não pudéssemos dialogar sobre outras opções.
A mensagem que estamos trazendo ao debate nesse momento é que o cotidiano não
é positivista, no sentido de que tudo está objetivamente organizado; tudo tem que ser
seguido à risca. O cotidiano é dialético, ou seja, o que fizemos hoje podemos desconstruir e
construir amanhã, porque queremos uma coisa melhor. E, quando fazemos essa
desconstrução, podemos chegar à conclusão de que o que foi feito foi muito bom, e que não
vamos reconstruir nada. Vamos reaplicar aquilo que fizemos. Mas, se não fazemos esse
exercício dialético, negamos a possibilidade de reconstrução.
É preciso analisar o cotidiano como hábito, mas também como arte. Não temos
tempo de viver a arte. Essa é a grande verdade. Há muitas programações culturais
interessantes nos espaços em que trabalhamos, mas o trabalho é tão intenso que não temos
tempo para viver a arte, como um dos seus componentes. Um cotidiano para ser rico,
alegra, dinâmico, tem que estar em estado de arte. Observando as nossas professoras-
alunas, notamos que nelas existe ainda o convívio com a arte, porque elas cantam, recitam
60
fazem versos de cordel, coisas que talvez sua criatividade totalmente cerceada em nome do
acadêmico, dissociado dos valores humanos.
Podemos afirmar que não há pessoas aprisionadas nas escolas, sem espaço para
criar; pessoas que estão sufocadas e que, apesar de tudo, criam. É preciso então que, na
ação docente supervisionada, a arte seja elemento integrador do processo.
Nesse contexto, a pesquisa do cotidiano é o centro do processo da ação docente
supervisionada; ela não se dá por autodidaxia.
Há professores que não sabem pesquisar. Pensam que pesquisar o cotidiano é fazer
apenas um relato dos fatos, mas não analisam suas relações, conseqüências, origens, suas
divergências. As pessoas em geral começam e terminam com os fatos.
O estudo do cotidiano é, portanto, o elemento básico da análise da prática
pedagógico do professor e que, no caso da ação docente supervisionada, exige um
tratamento cientifico, considerando-se todas as características citadas anteriormente.
Essa ação-reflexiva põe em cena o desafio de se repensar o processo de formação
inicial e contínua do educador. Permite, pois, que se chegue bem perto da ação docente para
tentar como operam no seu dia-a-dia os mecanismos de dominação e de resistência, de
opressão e de contestação, ao mesmo tempo em que são veiculados conhecimentos,
atitudes, valores, crenças, modos de ver e de sentir a realidade e o mundo vivido.
Com arrimo em NÓVOA (1992), reafirmamos ser necessária a inter-relação teórica
e prática no decorrer de todo o exercício da “profissão-professor”, sobretudo porque,
constantemente, este se vê compelido a tomar decisões com base nos saberes adquiridos e
nos dados observáveis – que nada mais são do que a essência da investigação.
Portanto, a reflexão sobre a prática feita pelo docente no exercício da docência
favorece um olhar introspectivo, para pensar, decidir e agir e, assim, compreender a
dinâmica curricular na formação docente, as relações – ida e vindas dos tutores
pedagógicos – seus compromissos e notações sobre a dinâmica das relações e interações
que constituem o seu dia-a-dia. Este ritual mensal permite as forças que impulsionam ou
que retêm a ação docente, identificando as estruturas de poder e os modos de organização
do trabalho escolar, compreendendo o papel e a atuação de cada sujeito nesse complexo
internacional, cujas ações, relações e conteúdos são construídos, negados, reconstruídos ou
modificados.
Nessa relação, a escola é vista como espaço da formação – em que ocorrem
movimentos de aproximação e de afastamento, nos quais se criam e recriam
conhecimentos, valores e significados. Isto vai exigir o rompimento com uma visão de
cotidiano estático, repetitivo, disforme, para considerá-lo, como diria GIROUX (1986) um
terreno cultural caracterizado por vários graus de acomodação, contestação e resistência,
uma pluralidade de linguagens e objetivos conflitantes.
Delineia-se uma ação didática supervisionada que não se pode restringir a um mero
retrato do que se passa no cotidiano da professora observada, mas deve envolver uma
reconstrução dessa prática, cobrindo suas múltiplas dimensões, refazendo seu movimento,
apontando suas contradições, recuperando a força viva nela presente.
Para que se possa apreender o dinamismo próprio da vida escolar, é preciso estudá-
la em suas dimensões instrucionais/ pedagógicas/ culturais.
A dimensão instrucional ou pedagógica abrange as situações de ensino nas quais se
dá o encontro professor-aluno-conhecimento e sua inter-relação com o ambiente em que se
processa o ensino. Por outro lado, significa analisar os conteúdos e as formas de trabalhos
na sala de aula, pois só assim, se poderá compreender como a escola vem concretizando a
sua função socializadora.
61
Já a dimensão sociopolítica inclui uma reflexão sobre o momento histórico, acerca
das forças políticas e sociais, concepções e valores presentes na sociedade. É um nível mais
profundo de explicação da ação docente com base nas situações do cotidiano escolar, haja
vista que a descrição dos significados culturais dos sujeitos requer sensibilidade...
abertura... flexibilidade para descobertas e interpretações.
Assim, a questão do espaço e do tempo adquire importância na presente reflexão,
pois permite explicitar e traduzir os códigos instituídos por esta convivência que se
diferencia dos rituais presentes nos demais processos formativos, marcados pelo jogo de
poder quanto ao uso/ desuso de saberes de formação diante dos saberes oficiais, reguladores
da cultura escolar. Assim, indaga-se: quais os significados da ação docente supervisionada
na formação docente? E, neste caso, qual o papel desses atores no que se instala como
redimensionamento da ação didática-formação?
Em conexão com as dimensões da ação docente supervisionada, instituída pelo
NECAD, parte-se do princípio de que as vivências escolares constituem uma construção
cultural , daí a razão de situamos a trama urbana-rural circundante ao espaço escolar e as
manifestações orais e escritas presentes nas relações tecidas pelos docentes, dentro e fora
do cotidiano escolar, durante a sua formação, dada a sua condição reguladora da amplitude
curricular.
Portanto, a relação do professor-orientador (tutor) com o espaço vivido não é um
episódio isolado, mas um referencial de essência que se acrescenta ao mundo da construção
didática da ação instituída na ação supervisionada.
Nessa perspectiva, o registro da história cotidiana do trabalho docente permite
configurar quadros do imobilismo das salas de aula, conseqüentemente, do tradicionalismo
didático e do economicismo da cultura mediada pela política educacional endereçada à
formação docente para as escolas públicas de nosso Estado, ameaçada por traços e signos
que expressam o discurso oficial homogeneizador, bem como ensaios emancipatórios.
Portanto, para que a ação docente supervisionada ocorre em um cotidiano dinâmico,
ela terá que definir um estatuto que determine a natureza de suas ações. Vamos fazer um
estatuto da ADS, mas um estatuto diferente, para que possamos construir ações dinâmicas
considerando que todo processo da ação docente supervisionada é dialogal; todas as
relações são de natureza democrática; os sujeitos (quer iguais ou diferente) que participam
do processo, têm voz e voto; o professor-orientador é um facilitador da aprendizagem;
todos os rituais, normas e regulamentos são de domínio público, discutidos e
compreendidos por todos, nada sendo definitivo.
Será, portanto, no espaço político-cultural, que se encontrará o significado do
cotidiano como instrumento de reflexão para compreender a dinâmica curricular e,
conseqüentemente, as relações e compromissos a serem firmados entre a universidade –
agência formadora – e as escolas – instituições educativas – tradicionalmente denominadas
campo – locais de estágios, no caso específico em análise campo real da docência.
Nesse contexto, a inserção do ato de pesquisar na ação pedagógica é uma das vias
que possibilita a ultrapassagem de dicotomia do tipo produção/reprodução de conhecimento
no ato de ensinar e aprender, desmitificando o isolamento estabelecido entre professor e
pesquisadores haja vista que estes são atores de um mesmo cenário – sala de aula.
A ação docente delineia-se, rompendo com o modelo cultural dominante de
formação. O ponto de destaque centra-se no rompimento com as noções disciplinares
reguladoras que reafirmam interesses manifestos pela sociedade capitalista e nega projetos
formativos propostos pelas instituições educativas como uma política cultural.
Portanto, é na intimidade da práxis educacional educativa (sala de aula) que
ressurgem as possibilidades de se fazer uma leitura dos movimentos pedagógicos de
62
apreensão, ruptura e visão simplistas da abordagem do conhecimento, transformado-os em
atos criativos e críticos.
A sala de aula é concebida neste caso como o espaço concreto para o exercício da
crítica e reflexão – um espaço que permite articular e assegurar saberes de formação
(curriculares) e de experiência (construídos na práxis social/ interfaces do cotidiano da
formação/ ação).
Esta abordagem, segundo GARCIA (1998), alicerça nossa ação política e (...) nos
faz considerar a escola como um espaço de teoria em movimento permanente de
construção, “desconstrução e reconstrução”.
Centralizando a questão no âmbito da formação do educador, indaga-se: aonde vai a
formação, e onde começa a pesquisa?
No âmbito dessa conjunção de problemas, prescreve-se e oficializa-se uma
formação regida pelos rituais de uma tradição cientifica de domínio dos “intelectuais”,
quais sejam, aqueles que produzem saberes e que delegam poderes redesenhados em teorias
a serem transmitidas por quem ensina, definindo e oficializando, “criticamente ou não,
pressupostos teórico-metodológicos delineados a partir de dados de uma prática não
exercida e, assim sendo reproduzindo uma visão unilateral e incompleta da escolarização.
É, portanto, na desconstrução/ reconstrução e na quebra da linearidade e da rotina
do ato de pesquisar que ocorrerá o exercício do ato de pesquisar-ensinando.
Com efeito, na esteira dessa idéia, CUNHA (1996) indica, como elementos
fundantes para construção dessa nova ordem, a negação da neutralidade no ato pedagógico;
a superação da idéia de um método único; o destaque do cotidiano escolar como ponto de
partida para planejar ação que permitam transformá-la recuperando a história dos alunos e
suas representações reconhecidos a apropriação de saberes docentes/ discentes no contexto
da sala de aula como resultado de práticas e saberes sócio-históricos; a direção de esforços
para construir um ensino com pesquisa, em que a capacidade de fazer perguntas é mais
valorizada do que a de dar resposta. Alerta, ainda, para a realidade de que este percurso é
orientado para uma construção de conhecimentos provisórios, fonte principal para a
renovação cientifica.
63
Por conseguinte, deve-se considerar o conhecimento do professor-aluno e sua
dimensão transformadora... não impondo soluções-regra, delineando uma relação de
orientação que promove a autonomia.
O encaminhamento dos trabalhos até aqui relatados anuncia possibilidades de
recriar o fazer-universitário referente às práticas docentes, recuperando o espaço-tempo
coletivos e interdisciplinar, onde linguagem e poder reeditam toda a dimensão da formação-
ação.
Este prisma de análise sugere que os alunos e respectivos professores-orientadores
produzam conhecimentos, fundados numa pedagogia do engajamento, nascida da
investigação de sua prática. Não apenas isso! Indicamos, ainda, que se socialize esse
conhecimento junto à comunidade envolvida para promover a legitimidade, o valor da
investigação. É um ato emancipador que envolve não apenas uma formação teórica, mas,
sobretudo, vontade política, cuja produção acadêmica deve articular a universidade, como
espaço oficial da formação, e a escola, como lócus da ação-reflexão/ transformação, ou
seja: do currículo como uma política de cultura.
Conclui-se dizendo que tudo isso tem que estar articulado a três elementos: a ética, a
profissionalização e a cidadania do professor, objetos permanentes do processo de ação
docente supervisionada. Sem ética, não há consciência da cidadania. Sem nos
preocuparmos com a profissionalização do professor, não faremos a ação docente
supervisionada de qualidade.
Essas perspectivas permitem sonhar com um processo de ação docente
supervisionado, no, qual o cotidiano seja vivenciado de forma dinâmica e dialética; onde
possamos contribuir para que as pessoas sejam seres humanos melhores. Se conseguirmos
esses objetivos, eles serão também profissionais capazes de agir de forma consciente e
comprometida com as demandas educacionais da sociedade.
Referências bibliográficas
ANDRÉ, M. E. D. E Etnografia da prática Escolar. São Paulo: 1998 43-44.
BRANDÃO, M. de L. P. As Práticas de Ensino na Universidade Federal do Ceará (UFC)
no contexto das discussões nacionais. Anais do XIII Endipe, Florianópolis: CED/UFSC,
nº 1 (Série Documentos), maio de 1996.
CUNHA, M. I. da. A pesquisa qualitativa e a didática.
OLIVEIRA, M. R. N. S. (Org) didático: ruptura, compromisso e pesquisa. São Paulo:
Papirus Editora, 1995.
GARCIA, R. L. A professora investigadora e o processo de produção de novos
instrumentos sobre a prática pedagógica. Anais do IX Endipe. São Paulo, Água de
Lindóia1998, 285-302.
GIROUX, H. teoria crítica e resistência em educação, trad. ª M. Biaggio, Petrópolis:
Vozes 1986.
LEFEBRE, H. A vida cotidiana no mundo moderno. São Paulo: Ed. Ática, 1991.
NÓVOA, A Vida de professores. Lisboa: Porto Editora, 1992.
HELLER, A O cotidiano e a história. Trad. Carlos Nelson Coutinho e Leandro Konder
(4ª Ed.) São Paulo: Paz e Terra, 1992.
Projeto Seduc – Universidade Formação de Professore de Nível Médio da Rede
Estadual do ceará. Proposta da Universidade Federal do Ceará (notas preliminares para
um currículo profissional), dez/ 1999(mimeo).
SPINK, M. J. O conhecimento no cotidiano. São Paulo Ed. Brasiliense, 1993. UECE –
Necad – pró-reitoria de Graduação. Documento Básico sobre Didática Supervisionada, 1999. (mimeo).
64
ATIVIDADES PARA REFLEXÃO
1. Compreendendo o texto:
a) nome do autor;
b) nome do texto;
c) outras informações sobre o autor e o texto.
65
Uma proposta conceitual e metodológica para
Formação contínua de professore
Maria Socorro Lucena Lima
Selma Garrido Pimenta
66
pressupõe relações sociais que servem a interesses humanos, sociais, culturais e políticos e,
dessa forma, não é neutra. Para CONTRERAS (1996), reflexão não é um processo
puramente criativo para a elaboração de idéias; é prática que expressa o poder de
reconstruir a vida social e, sendo vista a partir dos condicionantes que determinam os
contextos sociais dos docentes, exige uma opção. Não se trata apenas de desenvolver a
prática reflexiva, mas compreender a base das relações sócias e de trabalho em que ela se
realiza e a que interesses ela poderá servir. É preciso que a reflexão esteja a serviço da
emancipação e da autonomia profissional do professorado. Diferente do individualismo
competitivo pode ser um processo de democratização da educação, com o objetivo de
construir a autonomia profissional junto com autonomia social.
A reflexão é compreendida como elemento de emancipação, desde que seja um
processo situado e datado, dentro de uma intencionalidade definida. Trata-se de dar um
sentido social à própria prática, mediando-a com o conhecimento, a realidade vivida e
analisando-a criticamente. É uma postura de constante investigação, análise crítica e
questionamento, assumida como atitude de vida e profissão.
O professor como sujeito que não reproduz apenas o conhecimento pode fazer de
seu próprio trabalho de sala de aula um espaço de práxis docente e de transformação
humana. É na ação refletida e no redimensionamento da sua prática que o professor pode
ser agente de mudança na escola e na sociedade. Daí ser o trabalho docente entendido como
práxis, o ponto central dessa proposta que ora apresento.
67
universidade pode ser mais um caminho a ser explorado; um caminho que precisa de
ressignificação, teorização e reconhecimento tanto por parte dos intelectuais, quanto pelas
políticas de educação.
Indicativos de conclusão
A formação contínua e desenvolvimento profissional fazem parte da mesma luta
projeto político-pedagógico de escola e de educação, e que sugere algumas reflexões para
aqueles educadores, que trabalham nesta área.
68
plenitude, de satisfação, de encontro. É uma tal aleluia, como diz Clarice Lispector. A
alegria do pão partilhado. Que este seja um começo de conversa.
___________________________
1 parte da tese de autoria de Maria Socorro Lucena orientada por Selma Garrido Pimenta, defendida em
abril/2001 na Faculdade de educação da USP.
Bibliografia
ALARCÃO, I. Dimensão de Formação. Formação contínua de professores: realidade e
perspectivas. Aveiro-Portugal: Universidade de Aveiro, 1991.
CONTRERAS, J. La autonomía del profesorado. Madrid: Morata, 1996.
FASURI, J. C. Formação contínua de professores: o papel do estado da universidade e do
sindicato.
Encontro Nacional de didática e Prática de Ensino Endipe IX, Anais II. São Paulo:
1998.
LIBÂNEO, J. C. Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e
profissão docente. Coleção Questões da nossa época v. 67. São Paulo: Cortez 1998.
PIMENTA, S. G. (Coord.) Pedagogia ciência da educação? São Paulo: Cortez, 1996.
SCHÖN, D. The reflective practioneer: how professional think in action? New York:
Basic Books, 1983.
69
Atividades Para Reflexão
70
Estágio que se fundamenta no trabalho como princípio educativo:
discutindo a concepção e o papel do professor orientador1
Introdução:
Conversar sobre o estágio supervisionado é para mim sempre um motivo de alegria
e crescimento. Em primeiro lugar porque me descubro sempre estagiária dos novos
desafios, das idéias que surgem e da própria vida. Quando me preparava para essa fala
desejei ficar velhinha como aquela avó que conta histórias e seus netos repetem: “vovó,
conta de novo!” E Assim, poder repetir para os novos estagiários e os novos professores as
experiências de estágio e ouvir deles suas vivências.
O tema sugerido, “o estágio”, que tem como fundamento o trabalho como princípio
educativo, vai ser dividido em três momentos de reflexão:
- O trabalho como princípio educativo.
- O estágio que se fundamenta no trabalho como princípio educativo.
- O trabalho do professor orientador do estágio.
Na minha dissertação de mestrado3, defendo o estágio como mediação entre a
formação inicial e a educação continuada. Dessa forma, o estágio supera a dimensão do
“como fazer” para o “todo fazer” pedagógico, tendo o trabalho docente como categoria
fundante.
O trabalho é o fundamento ontológico das diferentes formas de práxis social, a
mediação básica nas relações da totalidade do ser, na busca de uma vida plena de sentido,
como interpreta Lessa (1996:45), quando afirma que o trabalho, pela sua própria essência,
conduz o homem para além do próprio trabalho, pois atende às necessidades sociais que
não mais pertencem diretamente à troca orgânica entre o homem e a natureza. O trabalho é
a expressão do seu criador, o elemento fundamental de realização humana e uma
possibilidade de conquista da felicidade social.
E esse salto para além da produção material seria a relação entre um conhecimento
já existente e outro desconhecido, que passa a ser incorporado ao já existente. Isso perfaz a
totalidade social em que o trabalho se funda. Nesse caso a perspectiva da educação seria
forma um novo homem para uma nova sociedade, com capacidade de entender o sentido da
atividade humana, materializada no trabalho. Jimenez (1977:11).
O trabalho como princípio educativo só pode ser compreendido como elemento de
humanização, promoção e de realização humana e não como produtor de mercadoria, como
explica Jimenez (1998:2):
71
unidimensionais do capital. (...) demarca uma clara contra-posição às teses do
neoconservadorismo e do neoliberalismo que definem o mercado como sujeito
regulador.
Compreender o trabalho nessa perspectiva significa negar ao mercado a condição de
princípio regulador da organização e da prática social, a partir da qual a educação está
prioritariamente a serviço do capital.
O Estágio que se fundamenta no trabalho como princípio educativo, não contempla
a prática pela prática, o ativismo pedagógico sem o compromisso com a totalidade, o
coletivo, o projeto dos cursos de formação. Digo da prática docente, pensada, repensada,
comprometida com a transformação e a humanização do homem. Da prática que está
também vinculada ao coletivo de todos os professores que fazem a profissão docente em
um determinado tempo, localidade e tipo de sociedade. Da prática comprometida com o
ensinar e o aprender. Sobre essa questão, Pimenta (1994:105) explica que a “atividade
docente é uma prática social (práxis)”.
A atuação conflituosa – relação entre teoria e prática, o choque cultural entre a
academia e a escola etc. – do estágio no interior dos currículos dos cursos de formação
docente tem sido uma das preocupações das Universidades, que vêm procurando minimizar
os problemas dela decorrente. Ao estágio tem sido reservado, muitas vezes, um plano
secundário e desacreditado, uma atividade menor no conjunto das disciplinas ditas
“teóricas”, devido, principalmente, à complexidade dos problemas que envolvem o curso e
nele se reflete. É necessário, portanto, que o estágio seja pensado por todos os professores e
alunos e compreendido como uma atividade teórica-prática, em constante processo de
ação / reflexão e fonte inspiradora da seleção dos conteúdos das disciplinas de formação do
professor.
O estágio como um dos componentes curriculares do curso de magistério faz parte
do projeto pedagógico, e precisa ser compreendido nesse contexto, acompanhando as
tendências educacionais do seu tempo.
Fazendo uma retrospectiva nas tendências dos estágios supervisionados, de acordo
com Cunha (2003: 30 a 40), década de 60 contemplou a trilogia ver, julgar e agir, nos anos
70 predominou a preocupação com a utilização dos conhecimentos teóricos. Nos 80, a ação
deu lugar a denuncia e na década de 90 a preocupação foi com a melhoria do ensino.
No início deste século, as tendências vigorantes são aquelas que põem o
estágio dentro de um projeto de curso, o estágio-pesquisa, as narrativas sobre histórias de
vida, estudos sobre cultura docente e o estágio desenvolvido dentro de uma pesquisa
colaborativa.
Esse estágio de que estou falando está sendo desenvolvido na Universidade, nos
cursos de formação de professores. É importante fazer uma comparação entre o percurso do
estágio e o da |Universidade, para verificar o contexto em que eles foram desenvolvidos.
Até os anos 60 a Universidade cumpre sua função social de produção de conhecimento,
reflexão e crítica. Na década de 70, a Universidade era funcional, ou seja, de formação de
mão de obra. Nos anos 80, acontecia a Universidade de resultados, em parceria com as
empresas e na década de 90 ela é vista como uma entidade administrativa, voltada para o
mercado e com as seguintes características: reproduzir para não criar, consumir para não
refletir, desenvolver programas rápidos nos quais o conhecimento é reduzido a saberes.
(Chauí, citado por Pimenta e Anastasiou, 2002:167-164).
Para mim o estágio é um espaço de resistência que tem procurado encontrar
mecanismo de análise e de crítica dentro da Universidade.
Ressalto, aqui, o papel do professor orientador de estágio que precisa, cada vez
mais, assumir a postura de pesquisador situando o estágio dentro de um projeto de
72
sociedade, de homem e de curso e capaz de realizar seu trabalho numa perspectiva de
acompanhamento de orientação e de mediação.
Dessa forma o estágio pode ser considerado como um ponto de encontro onde vão
defrontar diferentes experiências e culturais. É preciso que o professor encontre seu lugar e
reconheça sua própria presença nesse espaço. De acordo com Pinto e Fontana (2002:13).
A participação é o primeiro passo na ruptura do não-lugar. (...) Mais do que olhar sobre
a escolar, o fazer na escola que envolve o corpo todo. O trabalho é gesto, é voz, é
movimento, é preparação, é exposição.
Referência:
CUNHA, Luci Ana dos Santos. Formação inicial do professor da educação básica:
contribuição da teoria sobre o professor reflexivo no estágio supervisionado. São Paulo,
2003. dissertação (mestrado) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo.
JIMENEZ, Suzana Vasconcelos. O trabalho como princípio educativo. 1998. (Texto
elaborando a partir de notas para conferência proferida aos bolsistas de estudo e trabalho da
Pró-Reitoria de Extensão da UECE).
LESSA, Sérgio. A antologia de Lukács.Maceió EDUFAL, 1997.
Lima, Maria Socorro Lucena. O estágio Supervisionado como elemento mediador entre
a formação inicial do professor e a educação contínua. Fortaleza, 1995.
Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Educação, Universidade Federal do Ceará.
PIMENTA, Selma Garrido; Anastasiou, Lea das Graças Camargo. Docência no ensino
superior. São Paulo: Cortez, 2002 (Coleção docência em formação).
73
Atividades Para Reflexão
1. Faça uma lista de fatos sociais encontrados na mídia, que mostrem as tendências
do mercado como regulador das atividades humanas.
2. Faça uma reflexão sobre as posturas assumidas pelo professor diante dessa
situação.
74
Sobre a autoria e colaboradores
75