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11/12/2018 Mises Brasil - É óbvio, Cármen Lúcia, que a saúde é mercadoria

Mises Brasil - É óbvio, Cármen


Lúcia, que a saúde é mercadoria

"Saúde não é mercadoria. Vida não é negócio. Dignidade não é


lucro", afirmou, em julho passado, a ministra Cármen Lúcia, quando
ainda presidia o STF, ao suspender a resolução da ANS sobre
coparticipação em novos contratos de planos de saúde.

É nisso que dá ministros do STF se tornarem celebridades da TV.


Começam a falar banalidades fofas e frases de efeito só para
fortalecer a aura de santidade e ganharem elogios na internet.

É claro que saúde é mercadoria — e Cármen Lúcia sabe muito bem


disso. Quando precisa de um médico, ela não recorre a uma ONG de
médicos que trabalham de graça, a um hospital público ou a um
curandeiro sem fins lucrativos, mas sim a gente que oferece serviços
de saúde em troca de dinheiro.

Sem a ambição de médicos, negociantes e empreendedores, de


grandes laboratórios e empresas listados na Bolsa, Cármen Lúcia
não conseguiria tratar nem sequer uma apendicite.

Citareis apenas três entre milhares de exemplos:

- A ultrassonografia médica, que entre outras coisas salva milhares


de bebês ao detectar malformações de forma rápida e barata, surgiu
nos anos 1980 durante uma corrida tecnológica travada por grandes
empresas de tecnologia. A Acuson saiu na frente — em 2000, foi

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vendida por 700 milhões de dólares para a Siemens, que hoje divide
o mercado com GE e Philips.

- Até 1989, quem tivesse problemas de estômago precisava fazer


como Nelson Rodrigues: "alimentar a úlcera" com mingau durante a
madrugada. Tudo isso se resolveu com a invenção do omeprazol pelo
laboratório Astra AB, hoje parte do AstraZeneca, o maior
conglomerado farmacêutico do mundo.

- Em favelas, periferias e ao redor de terminais de ônibus, clínicas


populares atraem pobres cansados da fila e do mau atendimento do
SUS. Cobram desde 20 reais por consultas sem fila e com direito a
retorno.

É verdade que a saúde é um bem essencial à dignidade — por isso


mesmo deve ser tratada como uma mercadoria. Não convém confiar
uma atividade tão fundamental somente à bondade e ao altruísmo.

A possibilidade de lucrar resolvendo problemas alheios é um ato que


costuma alinhar o egoísmo ao altruísmo. Como um professor escocês
de filosofia moral nos ensinou no século 18, o lucro é um incentivo a
mais para que as pessoas se dediquem a solucionar problemas de
desconhecidos. Ele transforma a ganância em benevolência.

É interessante imaginar um mundo em que saúde não fosse


mercadoria. Nada de equipamentos e remédios inovadores, já que,
se "dignidade não é lucro", não seria possível lucrar nessa área. O
número de médicos despencaria — do que adiantaria estudar tantos
anos para ganhar o mesmo que um cobrador de ônibus?

A saúde no Brasil precisa ser tratada mais como mercadoria e menos


como um direito sagrado. Está submersa em um lodaçal de
regulações que criam reservas de mercado, barreiras de entrada a
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concorrentes e incentivos perversos a pacientes, hospitais e planos


de saúde.

O país exige a presença de médicos até para um simples exame de


vista. Conselhos de medicina têm muitas semelhanças com cartéis:
fixam preços e proíbem anúncios, promoções e descontos. E o
famigerado controle de preços ocorre sem controvérsia nos planos de
saúde — como no tabelamento dos tempos do Sarney, o resultado é
o desabastecimento de planos para pessoa física.

Serviços de saúde são regidos pelo lucro e pela lei da oferta e


procura — e sempre será assim, por mais bonitas que sejam as
frases de efeito da ex-presidente da Suprema Corte.

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Leia também:

A saúde é um bem, e não um direito

Como Mises explicaria a realidade do SUS?

Como o intervencionismo estatal está destruindo o mercado de


saúde privado brasileiro

O sistema de saúde universal no Canadá: um colossal fracasso


estatal

Na "invejada" saúde estatal britânica, os pacientes estão


morrendo nos corredores dos hospitais

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Um breve manual sobre os sistemas de saúde - e por que é


impossível ter um SUS sem fila de espera

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