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Vítor Quinta
Julho 2008, revisto em Junho 2009
Que seita religiosa era (ou ainda é) esta que apareceu em Israel após a partida de
Cristo, e que seguia os ensinamentos do Mestre e a Lei de Moisés, e que nos é
referenciada na Bíblia por “seita dos Nazarenos”, como nos é dito em Actos 24:5-6
– “Temos achado que este homem [Paulo] é uma peste, e promotor de
sedições entre todos os judeus, por todo o mundo; e o principal defensor da
seita dos nazarenos; o qual intentou também profanar o templo; e nós o
prendemos, e conforme a nossa lei o quisemos julgar”? Veja-se que o apóstolo
Paulo era acusado de ser o principal defensor da mesma.
Vamos procurar identificar esta “seita” cristã através das doutrinas que eles
seguiam, tendo por base os ensinamentos do Mestre, O Senhor Yeshua. Socorrer-
nos-emos ainda de alguns documentos históricos que falam dela.
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O Dictionary de Targumim, Talmud Babli, Yerushalami e Literatura Midrashic, Marcus Jastrow
poder de Deus neles, partiram a dar testemunho do Evangelho de Yeshua, e pela
força divina que neles era manifesta (testemunhado por muitos através de milagres
e curas e dons de línguas), o trabalho começou a crescer, primeiro entre os
Israelitas e os que se encontravam em Jerusalém e, de seguida, no mundo,
centrando esse trabalho primordialmente entre as comunidades da diáspora de
Israel, ensinando nas sinagogas, conforme à recomendação inicial de Yeshua em
Mateus 10:6-7 – “mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel; e, indo,
pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus”.
Era de crentes como estes, seguidores da Lei de Deus como regra de conduta
para as suas vidas e que esperavam a vinda dO Libertador, que Paulo falava. De
resto, não só aqueles, mas também Paulo era um praticante da Lei de Deus na sua
vida, como deu disso inúmeros testemunhos. Por isso, Paulo é apontado como o
principal defensor desta “seita”.
Mas, que diremos? Era somente Paulo que era zelador da Lei de seus pais? Não o
eram também todos os restantes apóstolos de Yeshua? Claro que sim. Quanto
teremos a ganhar em bênçãos de Deus se andarmos fielmente nos Seus preceitos.
Estes preceitos são as “veredas da vida”, as “veredas da rectidão” e as “veredas
dos justos” como nos é dito em – Provérbios 2:11-20. Também o profeta Jeremias
nos fala desta Lei eterna, chamando-a de “veredas antigas” – Jeremias 6:16;
18:15.
Começa aqui a traçar-se o perfil deste grupo de crentes do primeiro século (a que
chamaram de: a seita dos Nazarenos): creram no Senhor Yeshua como Salvador,
como O Messias há muito anunciado pelos profetas e mantinham fiéis cumpridores
da Lei de YHWH dada a Israel através de Moisés. A grande diferença deste grupo
para outras comunidades religiosas em Israel, é que este grupo aceitava Yeshua
como sendo O Messias e os outros não.
A História diz-nos que, por volta do ano 70 d.C. (precisamente no ano em que
Jerusalém foi destruída juntamente com o Templo pelo exército romano
comandado pelo General Tito), desta congregação dos Nazarenos veio a separar-
se um grupo, designado por Ebionitas (2), os quais negavam o nascimento de
Yeshua através de uma virgem, bem como a divindade de Yeshua, embora ambos
os grupos continuassem a ser apelidados de “Minim” (um acrónimo de “Maanimim
2
“Os pobres”
2
Yahshua Notzri”, que significa: “Os crentes em Y’shua, O Nazareno”). Ambas as
seitas eram apontadas como heréticas pelo Judaísmo rabínico. Tanto mais que
este rejeitava, liminarmente, a divindade de Yeshua.
Para além de serem apelidados pelos de fora como “Os Nazarenos”, e embora
reconhecendo-se como judeus, intitulavam-se a si mesmos como seguidores “d’O
Caminho”. Ora, como sabemos, o Senhor Yeshua disse de Si mesmo que Ele é “O
Caminho”, “A Verdade” e “A Vida”. Eles oravam e faziam os seus sacrifícios no
Templo conforme mandava a Torá (até que o Templo foi destruído). Esse “O
Caminho” não procurava ser mais do que uma forma de viver em comunidade, i.e.
ter tudo em comum, como nos é revelado em Actos 4:32-35.
Algumas das polémicas que surgiram mais tarde acerca destes grupos, tiveram
origem nos escritos dos historiadores da Igreja dos primeiros séculos (ver também
(3)). Jerónimo é um deles. Outros poderiam ser igualmente referidos. É curioso
apontar que, como era de esperar, estes seguidores do Cristo eram apelidados de
heréticos pelo Judaísmo tradicional, i.e. precisamente por aqueles que seguiam os
preceitos dos homens que tanto Yeshua como Paulo e os restantes apóstolos
condenaram, dando mais importância aos preceitos e tradições dos homens do
que aos preceitos de Deus, chegando assim a transgredir a Lei de Deus para
cumprir as tradições humanas – Marcos 7:9.
Jerónimo escreveu acerca desta “seita” dos Nazarenos: “[os seus seguidores] são
habitualmente chamados de “Nazarenos” [Heb.: “Netzarim”]; eles crêem, que o
Messias, Filho de Deus, nasceu da virgem Maria [Miryam], e têm-no como O que
sofreu às ordens de Pôncio Pilatos e subiu ao céu, no qual também
acreditamos"(4). Interessante, este relato histórico, não é? Embora tenhamos
reservas acerca dos conceitos doutrinais que estão por detrás dos escritos dos
chamados “pais da Igreja” dos primeiros séculos, dos quais Jerónimo é um deles,
principalmente quando começam por, pouco a pouco, a marginalizar a raiz
hebraica de todo o ensinamento bíblico (deixando-se antes levar pelos ensinos da
filosofia grega e da influência romana), não podemos ignorar que o seu testemunho
histórico pode e deve, nalgumas questões, ser tido em conta, pois este tipo de
3
http://en.wikipedia.org/wiki/Ebionites
4
Carta 75 de Jerónimo a Agostinho
3
relatos não pretendem fazer juízos de valor sobre os aspectos de doutrina…que,
entretanto, muitos deles distorceram, como sabemos.
Na realidade, esta “seita” dos Nazarenos insistia em seguir as Leis dadas por
YHWH a Israel através de Moisés, ao mesmo tempo que aceitavam Yeshua como
O Salvador há muito profetizado, e no Seu sangue esperavam a sua redenção…tal
como nós, hoje! Eles, tal como nós, também esperavam o eminente regresso de
Yeshua para estabelecer o Seu reino eterno.
Não há pois aqui nenhuma novidade histórica ou doutrinal, pois é isso mesmo que
as Escrituras e os Evangelhos, em concordância uns com os outros, nos revelam
como princípio da salvação pela fé e pela graça aos filhos que andam em
obediência perante O Deus Todo-Poderoso e que esperam a sua redenção através
do sangue precioso do Filho, Senhor Yeshua. Relembremos estes ensinamentos
de vida:
4
fontes da vida”. Será que o homem dos nossos dias entende isto? Porque razão,
e de forma acérrima, muitas igrejas ditas cristãs se encarniçam tanto contra a
eterna Lei de Deus que os verdadeiros seguidores de Yeshua aplicavam e bem
nas suas vidas?
O Filho de Deus, Senhor Yeshua, andou segundo todos os preceitos que Ele
próprio, enquanto Verbo divino, nos transmitiu através dos escritos de Moisés,
magnificando-os através da Sua obediência. Mas, como é que se “magnifica” uma
coisa?
• Não é enaltecendo-a?
• Não é revelando o seu verdadeiro significado?
• Não é glorificando-a?
• Não é reconhecendo-lhe grandeza, esplendor, sumptuosidade?
• Não é louvando essa coisa como excelente?
Foi exactamente isto que Yeshua fez em relação à Lei de Seu Pai, O Legislador,
Senhor YHWH. São estes os significados da palavra que muitos pastores fazem
questão de empregar quando dizem que Yeshua veio magnificar a Lei. Ora, se a
magnificou é porque a tinha por excelente e, como Filho obediente, aplicou todos
esses preceitos na Sua vida, tal como nós devemos fazer também, pois Ele é o
nosso exemplo em tudo.
Na realidade, esta “seita” aceitou que Yeshua veio magnificar a Lei pondo-a em
prática na Sua vida, i.e. veio revelar aos homens o verdadeiro significado da Lei
dada por YHWH a Israel através do Seu servo Moisés. Estes, os convertidos a
Yeshua, já tinham essa Lei magnífica gravada nas tábuas dos seus
corações/mentes, tal como o fará quando Ele vier para reinar eternamente:
Jeremias 31:31-33; Hebreus 8:10; 10:16, tal como Deus sempre pretendeu que
acontecesse com o povo que escolheu no princípio - Israel.
Através do amor que Ele mostrou pelo seu semelhante, Ele veio colocar a Lei do
Pai como um farol, um guia, uma luz para a vida daquele que quer alcançar as
bênçãos de Deus. Ele, O Único Legislador, Aquele que tinha poder para alterar a
Lei e os estatutos divinos não o fez! Porquê? Porque foi O Legislador mesmo que
estabeleceu que esses preceitos foram dados ao povo com carácter de
perpetuidade.
Era pois nestes caminhos e preceitos (as “veredas antigas” – Jeremias 18:15) que
os membros da “seita” dos Nazarenos andavam, pois eles, tal como Paulo
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também, seguiam as leis divinas dadas a seus pais, ao mesmo tempo que
abraçaram o concerto com YHWH através do Seu Filho Yeshua.
Veja-se agora que os lobos cruéis e devoradores que tanto Yeshua como Paulo
nos haviam avisado que haveriam de entrar dentro da Igreja e fariam com que o
rebanho se espalhasse, surgiram com toda a força de Satanás após o
desaparecimento dos apóstolos, tal como havíamos sido alertados que haveria de
suceder. Eles vieram para distorcer a verdade e as palavras de Yeshua e de Paulo.
Os judeus da sinagoga de Bereia foram examinar nas Escrituras tudo aquilo que
Paulo lhes anunciava acerca do Cristo. Foram prudentes e avisados, para não
serem enganados. Certamente alguns aceitaram o ensinamento de Paulo e outros
possivelmente não. Mas procederam correctamente indo à fonte: as Escrituras.
Assim devemos nós proceder também.
Vamos ver também alguns outros aspectos que têm grande importância para a
compreensão das doutrinas que os nossos irmãos do primeiro século seguiam,
incluindo alguns dos ensinamentos em que o próprio apóstolo Paulo esteve
envolvido, conforme o relato dos Evangelhos:
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responsáveis da Igreja de Jerusalém, na qual se incluía Tiago, um dos
pilares da mesma – ver Actos 21:23-24. Neste episódio, é recomendado a
Paulo que se dirija ao Templo com um voto de nazireu.
• A palavra “nazur”, significa “separado”, em aramaico. Tal como a palavra
“santo”, que está associada a “nazireu” (todo o que fazia um voto, com um
propósito especial, de santificação a YHWH, ou aquele que era chamado
por Deus com um propósito ou missão especial estabelecida por Deus,
como foi o caso de Sansão).
Consideremos então que esta seita dos “Nazarenos” era composta principalmente
por judeus, que se tornaram crentes na salvação por Yeshua, O Cristo, e que, tal
como Ele, guardavam os preceitos da Torá como forma de vida.
Foi a partir destes acontecimentos que a relevância judaica do seu modo de vida,
como seguidores da Lei de Deus dada por Moisés e da sua fé no Messias
Redentor foi progressivamente diminuindo à medida que crescia a importância do
pensamento de base filosófica grega e romana, estranha, portanto, aos
ensinamentos dos preceitos dados pelo Altíssimo ao Seu povo Israel.
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