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A QUÍMICA FORENSE NA DETECÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Article · January 2012

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Luana Raquel Pinheiro De Sousa


University Brazil
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A QUÍMICA FORENSE NA DETECÇÃO DE DROGAS DE ABUSO

Luana Raquel Pinheiro de Sousa


Química. Aluna da Pós-Graduação em Farmácia e Química Forense, pela
Universidade Católica de Goiás/IFAR
E-mail: luanarsp@hotmail.com
Greice Maria Rodrigues de Souza Lucena
Orientadora: Doutora em Ciências da Saúde (Área de concentração: Neurociência/Bioquímica) pela
Universidade de Brasília

Resumo
O abuso de drogas como o álcool, a maconha, a cocaína, continua sendo um dos grandes problemas de saúde
pública, social, econômico e legal significativo. A análise dessas drogas vem sendo utilizada por diversos
segmentos da sociedade e aplicada para verificar o uso de drogas no ambiente de trabalho, esporte e com
finalidade forense. O objetivo do presente artigo foi apresentar, por meio de uma revisão bibliográfica, os
principais métodos analíticos usados na Química Forense para detecção de drogas de abuso, assim como as
principais características dessas drogas. Foram utilizados para esta revisão artigos publicados nos últimos 10
anos, pesquisados por meio de bases de dados online, e periódicos científicos disponíveis em sites de
Universidades, além de livros relacionados ao tema. Diante disto, pode-se concluir que a análise toxicológica
para evidenciar o uso de drogas de abuso pode ser realizada em diferentes amostras biológicas, e os
principais métodos utilizados na Química Forense para detecção e quantificação detalhada e segura dessas
drogas são a Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (HPLC) e Cromatografia Gasosa acoplada ao
Espectro de Massas (GC/MS).
Palavras-chave: Química Forense. Métodos de análises. Drogas de abuso.

The forensic chemistry in the detection of drugs of abuse


Abstract
The abuse of drugs such as alcohol, marijuana, cocaine remains a major public health problems, social,
economic and legal significant. The analysis of these drugs has been used by various segments of society and
used to verify the drug use in the workplace, sports and forensic purposes. The aim of this article was to
present, through a literature review, the main analytical methods used in forensic chemistry for detection of
drugs of abuse, as well as the main features of these drugs. Were used for this review article published in the
last 10 years, researched throughonline databases , and journals available on websites of Universities, and
books related to the topic. Given this, it can be concluded that the toxicological analysis for evidence of drug
abuse can be accomplished in different biological samples, and the main methods used in forensic chemistry
for the detection and detailed and safe quantification of these drugs are the High Performance Liquid
Chromatography (HPLC) and Gas Chromatography coupled to Mass Spectrometry (GC/MS).

Keywords: Forensic Chemistry. Analysis methods. Drug abuse.


1 INTRODUÇÃO

A auto-administração de drogas tem se constituído em uma forma das pessoas


buscarem efeitos prazerosos. É bem conhecido que o consumo abusivo de substâncias
psicoativas, dentre elas o álcool, a cocaína e a maconha, tornou-se crescente nos últimos 10
anos, constituindo-se um dos fenômenos mais frequentes na população mundial (LIMA;
SILVA, 2007; UHART; WAND, 2009).
Drogas de abuso são substâncias químicas administradas com o objetivo de obter
um efeito psicoativo recreativo, sem qualquer indicação terapêutica ou orientação médica a
ponto de causar dependência física ou psicológica e/ou redução da capacidade de viver
enquanto um membro produtivo da sociedade (RANG et al., 2004; ABRAMS, 2006).
A maioria das drogas de abuso afeta o sistema nervoso central (SNC) e altera o
estado de consciência acarretando modificações emocionais, alterações de humor,
pensamento e comportamento. Trata-se de substâncias desencadeadoras de sensações
agradáveis e/ou supressoras de sensações desagradáveis (ABRAMS, 2006; BRAUN,
2007). O álcool, por exemplo, é uma droga de abuso depressora do SNC que induz
sensações como euforia, relaxamento, ansiedade, comprometimento das funções mentais e
motoras, até torpor e sono e outros efeitos (ENOCH; GOLDMAN, 2002; BRAUN, 2007).
O abuso de álcool, maconha, cocaína e outras drogas, continuam sendo um dos
grandes problemas de saúde pública, social, econômico e legal significativo. A auto-
administração dessas drogas tem se constituído como uma forma de pessoas buscarem
efeitos prazerosos, mas também está associada a grandes danos para a sociedade. Pesquisas
mostram que pessoas dependentes de substâncias químicas como o álcool, maconha e
cocaína, são mais suscetíveis à prática de crimes (SHBAIR et al., 2010 a,b; SHBAIR e
LHERMITTE, 2010).
A análise química, para a verificação do uso de drogas de abuso, vem sendo
utilizada por diversos segmentos da sociedade e aplicada para verificar o uso de drogas no
ambiente de trabalho, esporte, auxílio e acompanhamento de recuperação de usuários em
clínicas de tratamento e com finalidade forense.
Dentro das Ciências Forenses, a Química Forense tem por ofício realizar exames
laboratoriais em vários tipos de amostras orgânicas e inorgânicas encaminhadas para fins
periciais, a pedido de autoridades policiais, judiciárias e/ou militares (FASSINA et al.,
2007). Cabe ao perito criminal proceder à análise, devendo seguir uma cadeia de custódia
estrita. Cadeia de custódia é um processo para manter e documentar a história cronológica
da evidência, além de garantir a idoneidade e o rastreamento das evidências utilizadas em
processos judiciais. Nela, há um controle com a identificação nominal das pessoas
envolvidas em todas as fases do processo (LOPES et al., 2006).
A análise toxicológica para evidenciar o uso de drogas de abuso pode ser realizada
em diferentes amostras biológicas, como urina, sangue, suor, cabelo, saliva entre outras
(LIMA e SILVA, 2007). Os métodos analíticos mais utilizados na Química Forense para a
determinação e quantificação de drogas em indivíduos e em seus fluidos e tecidos
biológicos são os métodos cromatográficos como HPLC (cromatografia líquida de alta
eficiência) e GC/MS (cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas)
(MERCOLINI et al., 2010; LANGEL et al., 2011). Estas técnicas vêm tornando-se cada
vez mais necessárias, diante da criminalidade, pois separam e identificam de maneira
detalhada e segura compostos químicos, aliadas a uma elevada sensibilidade, rapidez de
análise e capacidade de estudo de amostras complexas na ciência forense (GALINDO,
2010).
Nesse sentido, o presente trabalho tem por objetivo mostrar os principais métodos
analíticos cromatográficos utilizados na Química Forense para detecção de drogas de
abuso como o álcool, a maconha e a cocaína, assim como as principais características
dessas drogas.

2 METODOLOGIA

Para a elaboração da presente revisão bibliográfica foi realizada uma busca na


literatura baseada em trabalhos científicos, publicados nos últimos 10 anos que abordaram
o tema em questão. Foi realizada pesquisa on-line nas bases de dados dos serviços dos
Periódicos CAPES, SciELO, Google, PubMed, ScienceDirect e periódicos científicos
disponíveis em sites de Universidades, além de livros relacionados ao tema. Para a
pesquisa, foram utilizadas palavras-chaves como: química forense; métodos de análises
cromatográficos; drogas de abuso, dependência e abuso de substâncias, álcool, cocaína,
maconha e toxicologia forense.
3 DISCUSSÃO

3.1 Características gerais e classificação das drogas de abuso

A Droga, segundo a definição da Organização Mundial de Saúde – OMS é qualquer


substância não produzida pelo organismo, mas que tem a propriedade de atuar sobre um ou
mais de seus sistemas produzindo alterações em seu funcionamento. O uso continuado de
drogas causa dano ao indivíduo, pois modifica, aumenta, inibe ou reforça as funções
fisiológicas, psicológicas ou imunológicas do organismo de maneira transitória ou
permanente (OBID, 2011).
Segundo Rang et al. (2004, 2006) o que une as pessoas ao uso de drogas de abuso é
o fato de produzirem efeitos agradáveis (hedônicos), que tendem a procurá-los para repeti-
los, uma ação que reflete o efeito, comum a todas as drogas que produzem dependência, da
ativação dos neurônios dopaminérgicos mesolímbicos. Este efeito hedônico torna-se um
problema quando a necessidade torna-se tão insistente a ponto de dominar o estilo de vida
do indivíduo e prejudicar sua qualidade de vida. Além deste, o próprio hábito causa dano
real ao indivíduo ou à comunidade. Exemplos deste são incapacidade mental e lesão
hepática causada pelo álcool e pelo sério risco de dosagem excessiva com a maioria dos
narcóticos e pela conduta criminosa que se manifesta quando um viciado necessita
financiar o próprio hábito.
As drogas que afetam o SNC, algumas vezes denominadas drogas de ação central,
psicotrópicas ou psicoativas, são amplamente classificadas como depressores ou
estimulantes ou também perturbadoras (RANG et al., 2004; OBID, 2011).
Os depressores do SNC (álcool) produzem depressão geral do SNC semelhante aos
agentes anestésicos voláteis, produzindo os efeitos familiares de intoxicação aguda
(ABRAMS, 2006; RANG et al., 2004, 2006). A depressão leve do SNC é caracterizada por
ausência de interesse no ambiente e incapacidade de concentrar-se em um tópico (pequeno
tempo de concentração). À medida que a depressão progride, há letargia ou sono,
diminuição do tônus muscular, diminuição da capacidade de se movimentar e diminuição
da percepção de sensações como dor, calor e frio. A depressão acentuada do SNC produz
inconsciência ou coma, perda de reflexos, insuficiência respiratória e morte (ABRAMS,
2006).
Os estimulantes do SNC, como a cocaína, produzem vários efeitos. O estímulo leve
é caracterizado por vigília, alerta mental e diminuição da fadiga. O aumento da
estimulação produz hiperatividade, loquacidade, nervosismo e insônia. A estimulação
excessiva pode causar convulsões, arritmias cardíacas e morte (ABRAMS, 2006).
As drogas perturbadoras (também conhecidas como psicotomiméticas, psicodélicas
ou alucinógenas), como a maconha, afetam o pensamento, a percepção e o humor, sem
causar estimulação ou depressão psicomotora marcantes. Os pensamentos e as percepções
tendem a se tornarem distorcidos e semelhantes a sonhos, ao invés de serem meramente
nítidos ou entorpecidos e a mudança no humor é de modo provável mais complexa do que
um simples desvio na direção da euforia ou da depressão. De modo geral, essas substâncias
não alteram a velocidade dos estímulos cerebrais, mas causam perturbações na mente do
usuário. A classificação destas drogas ainda é imprecisa e não há linha nítida divisória
entre os efeitos, por exemplo, da cocaína e daqueles da dietilamida do ácido lisérgico
(LSD) ou da maconha (RANG et al., 2004, 2006; OBID, 2011).
O consumo de drogas é um dos problemas que mais afetam o contexto social atual.
As drogas de abuso têm um papel importante nas atividades violentas. O crime é visto
como uma fonte de recursos para a compra de drogas pelos usuários dependentes
(OLIVEIRA et al., 2009).
Um estudo realizado em 2005, envolvendo as 108 maiores cidades do Brasil pela
Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) em parceria com o Centro
Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) e o Departamento de
Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) revelou que o álcool
desponta em 1º lugar na estimativa de mortes associada ao consumo de drogas, seguido de
maconha e cocaína (OBID, 2011).

3.1.1 Álcool Etílico (Etanol)


O álcool também conhecido como etanol (Figura 1) é um depressor do SNC e este é
o órgão mais rapidamente afetado pelo álcool quando comparado a qualquer outro órgão
ou sistema. Seu consumo é admitido pela sociedade e encarado de forma diferenciada,
quando comparado com as demais drogas. É causador da violência associada à
embriaguez, sendo um importante problema de saúde pública (OBID, 2011).
Figura 1: Estrutura molecular do Etanol
Segundo Passagli (2009), o álcool se transformou na mais problemática das drogas
desde o final do século XX e início do século XXI, e o seu consumo é um dos principais
responsáveis pelas mortes ocorridas no mundo. É a substância mais ligada às alterações
comportamentais provocadas por efeitos psicofarmacológicos, que resultam em crimes. É
uma droga que no ser humano produz euforia, traduzida predominantemente por
desinibição comportamental, hilariedade e expressões afetivas aumentadas.
As manifestações acima podem ser determinadas geneticamente, psicossocialmente
ou ambientalmente. Também são provenientes de diferenças individuais relacionadas à
farmacocinética do álcool. A concentração alcoólica resultante do consumo de álcool no
cérebro pode variar entre indivíduos e depende de parâmetros que incluem taxas de
absorção no trato gastrointestinal, volume de distribuição corporal e taxa de metabolismo.
Fatores inerentes a idade, sexo, peso corporal, tipo de bebida alcoólica, número de
drinques por dia, ocasião e outras variáveis, também se tornam essenciais na análise dessa
dependência química, que podem resultar em problemas sociais, considerável morbidade e
mortalidade (FUCHS et al., 2006; UHART e WAND, 2009).
O álcool é biotransformado no organismo em uma velocidade em torno de 0,2/kg
de peso/hora e a sua absorção após a ingestão é rápida, limitando-se a irritação pela
mucosa gástrica feita pelo mesmo. A passagem do álcool para a corrente sanguínea após a
ingestão é iniciada em média 5 minutos depois, atingindo um pico de concentração em 30 a
90 minutos. O álcool é absorvido no estômago e, predominantemente, no intestino delgado
(FUCHS et al., 2006; PASSAGLI, 2009).
As análises forenses do material biológico para determinação do álcool podem ser o
sangue e ar exalado, não podendo negar o potencial das amostras de saliva. A técnica para
determinação de álcool no sangue é a GC, técnica esta eficaz para análise de qualquer
substância volátil, tendo a matriz sólida ou líquida (PASSAGLI, 2009).

3.1.2 Cocaína

A cocaína (Figura 2) é um alcalóide extraído das folhas de uma planta encontrada


exclusivamente na América do Sul, a Erythroxylum coca. É um potente anestésico local e
potente estimulante do SNC, razão pela qual é utilizada como droga de abuso. A cocaína
pode chegar ao consumidor sob a forma de um sal, o cloridrato de cocaína, que é solúvel
em água e utilizado para ser aspirado ou dissolvido em água para uso intravenoso, ou sob a
forma de base, o crack, que é pouco solúvel em água, mas que é volatilizado quando
aquecido (CEBRID, 2011).

Figura 2: Estrutura molecular da Cocaína

É bem estabelecido que a cocaína exerce seu potente efeito estimulante do SNC
sobre sinapses dopaminérgicas e noradrenérgicas, dando aos seus usuários um sentimento
de alerta e de autoconfiança aumentados, uma sensação de vigor e euforia e uma
diminuição do apetite. É também uma droga simpatomimética por resultar em efeitos
periféricos que mimetizam a ativação da divisão do Sistema Nervoso Vegetativo (SNV)
(BEAR et al., 2002, 2010).
A cocaína é uma droga de efeito rápido e de breve duração, em dez a quinze
segundos os primeiros efeitos são percebidos e duram em torno de cinco minutos.
Consumir bebidas alcoólicas junto com cocaína produz consequências mais graves do que
o uso separadamente das mesmas, pois o álcool aumenta a fissura pela cocaína, podendo
causar intoxicação grave, aumentando o risco de morte súbita (OBID, 2011).
A benzoilecgonina é o principal metabólito encontrado na urina (40%), podendo ser
detectada dois a três dias após a exposição. Os métodos cromatográficos usados como
testes confirmatórios por usuários de cocaína são o HPLC e a GC/MS, sendo o último o
método mais fidedigno (PASSAGLI, 2009).

3.1.3 Maconha

A maconha é o nome dado às folhas e flores secas da planta Cannabis sativa,


preparada como uma mistura para fumar; em outro estado, haxixe é a resina extraída. A
planta é utilizada há séculos para fins recreacionais e medicinais.
A Cannabis sativa contém em média 400 substâncias químicas e pelo menos 60
alcalóides conhecidos como canabinóides. Entre eles, o THC é o mais ativo e principal
responsável pelos efeitos produzidos pela maconha (RIBEIRO et al., 2005; FUCHS et al.,
2006). Esta é um dos agentes ilícitos mais utilizados no Brasil (CARLINI et al., 2002).
O ∆9-tetraidrocanabinol (THC) é uma substância química ativa fabricada pela
própria maconha (Figura 3). O composto é altamente lipofílico e assim penetra muito fácil
no sangue e pode agir produzindo mudanças na membrana celular. Metade do THC se
perde na queima quando se fuma a maconha e em média 2,5 mg por cigarro são
consumidos (SILVA, 2003; RANG et al., 2004; CEBRID, 2011).

Figura 3: Estrutura molecular do THC


Existem predominantemente duas formas de uso: via oral e inalatória (pulmonar),
sendo a via pulmonar a mais utilizada pelos usuários, por ter um início de ação rápido.
Quando fumado, o THC é rapidamente absorvido, sendo prontamente distribuído para o
cérebro e outros órgãos. O THC é biotransformado no fígado pelas enzimas citocromo
P450, formando um metabólito 11-hidroxi-∆9THC, que é mais ativo do que o próprio
THC, através da hidroxilação do carbono da posição 11; e posteriormente esta hidroxila é
oxidada a um ácido carboxílico, formando 9-carboxi-∆9THC, o qual é conjugado com o
ácido glicurônico e excretado na urina. A principal via de eliminação do THC é fecal
(65%) (PULCHERIO et al., 2002; PASSAGLI, 2009).
A maconha quando fumada, atinge seu efeito entre zero e dez minutos e tem seu
pico de ação após trinta minutos, os efeitos são atenuados após 45 a 60 minutos. O THC
atua principalmente sobre o SNC, produzindo uma mistura de efeitos psicotomiméticos
(alucinógenos) e depressores, além de vários efeitos autônomos periféricos mediados
centralmente (RANGEL, 2004; RANG et al., 2006; OBID, 2011).
Os principais efeitos subjetivos em um indivíduo consistem em: uma sensação de
relaxamento e bem-estar, semelhante ao efeito do álcool, mas sem agressão concomitante;
e uma sensação de consciência sensorial aguçada, com sons e visões que parecem mais
intensas e fantásticas. Estes efeitos são semelhantes aos produzidos pelo LSD, mas
geralmente menos pronunciados. Pessoas relatam que o tempo passa muito lentamente. As
sensações alarmantes e as alucinações paranóides que frequentemente ocorrem com o LSD
são raramente experimentadas com a maconha (RANG et al., 2004, 2006). Além disso,
dentre os efeitos centrais merecem destaques os de prejuízo da memória, prejuízo da
coordenação motora (p.ex., desempenho de dirigir), apetite aumentado, entre outros. Já os
efeitos periféricos são a taquicardia, vasodilatação (marcante nos vasos da esclera e da
conjuntiva), indução da pressão intra-ocular e broncodilatação (FUNCHS et al., 2006;
RANG et al., 2006). Em doses elevadas, a maconha apresenta no indivíduo
comportamentos de ansiedade, confusão, paranóia, agressividade e psicose tóxica (OBID,
2011).
A GC/MS é o método mais eficaz para confirmação dessa droga de abuso
(RANGEL 2003, 2004; OBID, 2011).
3.2 Cadeia de Custódia

A Cadeia de Custódia é usada para documentar e manter a história da evidência,


cronologicamente. Todas as amostras recebidas na área de Química Forense são evidências
e estão relacionadas com a necessidade de posteriores exames laboratoriais, para
determinação/quantificação de drogas e só poderão ser aceitas como meios de prova se a
coleta, manuseio e a análise das amostras observarem condições mínimas de segurança, de
modo a garantir a integridade do material a ser examinado e a idoneidade dos meios
empregados. Todo procedimento realizado entre a comunicação do fato para a autoridade
competente e a requisição do exame deve obedecer a um rigoroso sistema de cadeia de
custódia (LOPES et al., 2006; DEL-CAMPO, 2008).
A responsabilidade dos profissionais envolvidos na cadeia de custódia não tem
apenas uma implicação legal, mas moral, sendo que o destino das vítimas e réus dependem
do resultado da perícia (LOPES et al., 2006).

3.3 Matrizes Biológicas para análise de Drogas de Abuso

A análise de drogas de abuso tem por finalidade detectar indícios de exposição ou


consumo de substâncias tóxicas, existindo dois tipos de testes laboratoriais: os baseados
em fluídos corporais e em amostras de queratina (cabelos ou pêlos). Os fluídos corporais
possuem uma janela de detecção muito pequena, em média 2 a 3 dias dependendo da droga
analisada, com exceção da maconha que pode chegar a 20 dias. Já as amostras de queratina
possuem uma janela de detecção mais longa, podendo chegar a 6 meses (OBID, 2011).
As análises de drogas de abuso, descritas na Tabela 1, em matrizes biológicas
(sangue, urina, cabelos, unha, etc.), além da preservação e integridade da amostra,
precisam ainda garantir a confidencialidade do exame, dada a gravidade de se imputar a
alguém o uso de substância entorpecente. Todas essas amostras precisam ser corretamente
identificadas e terem cuidados especiais de conservação (DEL-CAMPO, 2008).
Tabela 1: Principais Matrizes Biológicas e período de detecção
Tipo de Droga Matriz Período de detecção
Saliva Algumas horas após o uso
ÁLCOOL Urina 7-12 horas
Sangue Algumas horas após o uso
Urina Uso eventual: ± 7 dias,
uso frequente: ± 25 dias
MACONHA Sangue Algumas horas após o uso
Cabelo De 1-6 meses
Saliva De 12-24 horas
Urina Uso eventual: ± 3 dias,
uso frequente: ± 7 dias.
COCAÍNA De 2-4 horas *
Cabelo De 1-6 meses
Sangue, saliva Algumas horas após o uso
Fonte: Próprio autor. (*) Metabólitos da cocaína na urina.

3.4 Métodos de Análises

As técnicas de análise toxicológica das drogas de abuso variam desde os clássicos


métodos não instrumentais, tais como reações volumétricas ou colorimétricas, até outros
mais sofisticados para os quais se recorre à tecnologia apropriada, podendo ser simples ou
acoplada, como as técnicas espectrofotométricas e cromatográficas (ex: GC/MS e HPLC),
(RANGEL, 2003, 2004).

3.4.1 Cromatografia Gasosa (GC)

A GC é uma das técnicas analíticas mais utilizadas, ela possui um alto poder de
resolução. É muito atrativa devido à possibilidade de detecção em escala de nano a
picogramas, ou seja, tem grande sensibilidade, podendo separar misturas complexas com
até 200 compostos muito semelhantes. A limitação deste método é a necessidade de que a
amostra seja volátil ou estável termicamente, embora amostras não-voláteis ou instáveis
possam ser derivadas quimicamente (SKOOG et al., 2002).
A amostra é vaporizada e introduzida em um fluxo de um gás adequado denominado
de fase móvel ou gás de arraste, o fluxo de gás com a amostra vaporizada passa por um
tubo contendo a fase estacionária (FE) (coluna cromatográfica), onde ocorre a separação
da mistura (SKOOG et al, 2002).

3.4.2 Espectrometria de Massas (MS)

A MS é uma técnica usada para o estudo das massas de átomos, moléculas ou


fragmentos de moléculas. Para se obter um espectro de massa, as moléculas no estado
gasoso ou as espécies dissolvidas a partir da fase condensada são ionizadas. Os íons
obtidos são acelerados em um campo elétrico e separados de acordo com a razão entre sua
massa e sua carga elétrica (HARRIS, 2008).
A MS é um método de identificação dos diferentes átomos que compõem uma
substância. Um espectrômetro de massa bombardeia uma substância com elétrons para
produzir íons, ou átomos eletricamente carregados. Os íons atravessam um campo
magnético que curva suas trajetórias de modos diferentes, dependendo de suas massas. O
campo separa os íons em um padrão de espectro de massa. A massa e a carga dos íons
podem ser medidas por sua posição no espectro. O espectro de massas está frequentemente
associado a outra técnica, usualmente a GC ou HPLC, ele funciona como detector da
frente cromatográfica. Nestas condições, pequenas quantidades, reprodutíveis, da amostra
entram no espectrômetro de massas ao eluir da coluna e a análise quantitativa torna-se
possível (VOGEL, 1981).

3.4.3 Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (HPLC)

A HPLC é uma técnica que possibilita as análises e separações de uma ampla gama
de compostos com alta eficiência. Tem sido utilizada em várias áreas da ciência. As
separações em HPLC podem se dar por adsorção, partição ou ambos os meios A
versatilidade dessa técnica reside no grande número de fases estacionárias existentes
(SKOOG et al, 2002).
As fases móveis utilizadas em HPLC devem possuir alto grau de pureza e estarem
livres de oxigênio ou outros gases dissolvidos, sendo filtradas e desgaseificadas antes do
uso, além disso, a bomba deve proporcionar ao sistema, uma vazão contínua sem pulsos e
com alta reprodutibilidade, possibilitando a eluição da fase móvel a um fluxo
adequadamente. As válvulas de injeção usadas possuem uma alça de amostragem para a
introdução da amostra com uma seringa e duas posições, uma para o preenchimento da
alça e outra para sua liberação para a coluna. As colunas utilizadas em HPLC são
geralmente de aço inoxidável, com diâmetro interno de cerca de 0,45 cm para separações
analíticas e na faixa de 2,2cm para reparativas. O comprimento das colunas variam de 10-
30 cm, e essas são reaproveitáveis, sendo empacotadas com suportes de alta resolução. O
detector mais utilizado para separações por HPLC é o detector de ultravioleta. O registro
de dados pode ser feito através de um registrador, um integrador ou um microcomputador
(VOGEL, 1981; GALINDO, 2010).
Segundo Skoog et al (2002), a comparação entre a HPLC e CG (Tabela 2) diz que
ambos os métodos são eficientes, altamente seletivos e amplamente aplicados, exigem de
uma pequena quantidade de amostra, podendo ser não destrutivos.

Tabela 2: Comparação entre a HPLC e a CG


Vantagens da HPLC Vantagens da CG
Equipamento simples e de baixo custo.
Pode separar compostos não-voláteis e Rápida.
termicamente instáveis. Resolução incomparável (com colunas
Pode ser aplicada de forma geral a íons capilares).
inorgânicos. Fácil de ser interfaceada a espectrômetros
de massas.

Fonte: SKOOG et al, 2002.

A HPLC com MS (HPLC-MS) é atualmente a tecnologia de maior eficiência na


química aplicada à criminalística. A HPLC-MS permite detectar uma variedade de
substâncias ilegais no combate ao crime organizado entre elas o álcool, maconha e cocaína,
como também obter um perfil químico das drogas apreendidas, detectando tanto a droga
quanto seus interferentes que a constituem (OLIVEIRA et al., 2009; GALINDO, 2010).
4 Conclusão

De acordo com o levantamento bibliográfico exposto neste trabalho constatou-se que


o uso abusivo de drogas na população em geral, principalmente álcool, maconha e cocaína
permanece um sério problema de saúde pública e social a ser solucionado, pois elas
retratam um aumento na criminalidade, violência e tráfico.
O consumo abusivo dessas substâncias é hoje parte integrante da sociedade moderna.
Essas drogas também são conhecidas como substâncias psicoativas, capazes de alterar os
estados mentais, atuam sobre o SNC e são e dividas em três grupos: depressoras, como o
álcool, estimulantes, como a cocaína, e perturbadoras ou alucinógenas, como a maconha.
Para a análise destas, faz-se necessário o uso de várias matrizes biológicas, como urina,
sangue, cabelo, saliva entre outras. Cabe ao perito criminal proceder às análises,
obedecendo sempre uma cadeia de custódia.
Os métodos analíticos mais utilizados para a determinação e quantificação de drogas em
indivíduos e em seus fluidos e tecidos biológicos são os métodos cromatográficos como
HPLC, GC e MS. Entretanto, o método que possui mais vantagens adicionais é a HPLC,
visto que nela há duas fases cromatográficas de interação seletiva com as moléculas da
amostra e a GC somente uma fase e maior variedade de possíveis mecanismos de
separação. A HPLC acoplada ao MS é atualmente a tecnologia de maior eficiência química
aplicada à criminalística. Estas técnicas de separação detectam e identificam de maneira
detalhada e segura compostos químicos, aliadas a uma elevada sensibilidade, rapidez de
análise e capacidade de estudo de amostras complexas na ciência forense.
Sendo assim, pode-se observar por meio dos estudos apresentados neste trabalho, a
importância da Química Forense no controle do uso ilegal ou abusivo das drogas visando à
proteção do indivíduo e da sociedade.

5 Referências

ABRAMS AC. Farmacoterapia Clínica. 7ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.

BEAR MF; CONNORS BW; PARADISO MA. Neurociências: Desvendando o Sistema


Nervoso. 2ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.

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Nervoso. 3ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
BRAUN IM. Drogas – Perguntas e Respostas. MG Editores. São Paulo, 2007.

CARLINI EA, et al. I Levantamento Domiciliar sobre Uso de Drogas no Brasil. Estudo
envolendo as 107 maiores cidades do país – 2001. São Paulo: Cromosete, 2002.

CEBRID. Folheto sobre drogas. Disponível em:< http://www.cebrid.epm.br/index.php>.


Acesso em: 20 Fev. 2011.

DEL-CAMPO ERA. Exame e levantamento técnico pericial de locais de interesse à


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