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AQUINO, Maurício de. As representações das religiões nos livros didáticos de história: perspectivas interpretativas.

In: XXVI SEMANA DE


HISTÓRIA DA UENP (Universidade Estadual do Norte do Paraná), 2014, Jacarezinho - PR. ANAIS DA XXVI SEMANA DE HISTÓRIA DA
UENP. Jacarezinho - PR: UENP, 2014, p. 263-275.

As representações das religiões nos livros didáticos de história:


perspectivas interpretativas
Maurício de Aquino

Este texto pretende analisar e interpretar algumas representações das religiões


em textos e imagens presentes nos livros didáticos de História. Objeto cultural complexo, o
livro didático tem papel de destaque na educação brasileira e por isso, há décadas, tem
recebido especial atenção dos pesquisadores. Assim, este trabalho revisita a discussão sobre o
livro didático (manual sistematizador do patrimônio cultural) como objeto de estudo, mas
desde uma nova perspectiva temática: a do estudo das representações das religiões. O estudo,
ao final, apresenta um esboço das principais representações das religiões acompanhado de
algumas perspectivas interpretativas inspiradas e baseadas em referências teórico-
metodológicas da literatura especializada da ciência da religião e da história das religiões.

O livro didático como objeto de estudo

Objeto cultural complexo, permeado por interesses sociais, mercantis,


pedagógicos e ideológicos, o livro didático vem sendo estudado há tempos (sistematicamente
desde os anos 1980) quanto às representações que divulga, em textos e imagens, e ao modo
como configura determinada memória histórica.

Nos anos 1980, o aumento expressivo de pesquisas sobre esses manuais


(inspiradas nos livros Mentiras que parecem verdades, de Umberto Eco e Marisa Bonazzi,
original de 1972, publicado no Brasil no ano de 1980, e A Manipulação da História no ensino
e nos meios de comunicação: a História dos dominados em todo o mundo, de Marc Ferro,
original de 1981, publicado no Brasil no ano de 1983) alterou a forma de pensá-los. Na época,
chegou-se a considerar que a melhor saída seria a sua extinção. O que, note-se, não foi ponto
unânime entre os especialistas. A tendência entre esses pesquisadores foi a de recomendar
contínuas revisões dos livros didáticos, bem como a utilização de outros materiais e
linguagens na sala de aula. Simultaneamente, entretanto, desenvolveu-se outro movimento,
encabeçado por importantes editoras do mercado brasileiro, relativo à introdução de livros do
gênero paradidático enquanto acompanhavam o desenrolar das discussões sobre o futuro do

Professor Adjunto da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP/Jacarezinho). Possui doutorado e pós-
doutorado em História e Sociedade pela UNESP/Assis. Pesquisador do Núcleo de Pesquisa em História das
Religiões da UENP/Jacarezinho. E-mail: mauriaquino12@uenp.edu.br
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livro didático. Além desse movimento, outro se fortaleceu: o da formação de linhas de


pesquisa nas universidades sobre o problema dos livros didáticos com grande influência junto
ao Ministério da Educação. Nesse ambiente, o antigo Instituto Nacional do Livro (INL),
criado em 1929, então Programa do Livro Didático para o Ensino Fundamental (PLIDEF),
alterou sua estrutura surgindo o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) no ano de
1985. Em 1996, o PNLD publicou seu primeiro Guia de Livros Didáticos, com critérios
pedagógicos, teórico-metodológicos e éticos para avaliação dos manuais escolares. Daí em
diante, o MEC tem fortalecido essa prática de avaliação dos livros didáticos com o objetivo de
ajustá-los aos saberes atuais das áreas de conhecimento, às novas propostas pedagógicas e aos
princípios do Estado Democrático, considerando especialmente a formação da cidadania
(Munakata, 2005: 271-279; Bittencourt, 2001: 69-71; Monteiro, 2009: 175-185).

Do conjunto dos manuais escolares, destacam-se aqueles de história visto que


são um dos mais antigos do gênero e também por conta de tal disciplina lidar com a memória
social, determinando certas imagens e interpretações do passado, estabelecendo o que se deve
lembrar, comemorar, esquecer. Segundo a historiadora Circe M. F. Bittencourt (2011: 300):

Os livros de História, particularmente, têm sido vigiados tanto por órgãos


nacionais como internacionais, sobretudo após o fim da Segunda Guerra
Mundial. A partir da segunda metade do século passado, divulgam-se
estudos críticos sobre os conteúdos escolares, nos quais eram visíveis
preconceitos, visões estereotipadas de grupos e populações. Como se tratava
da fase do pós-guerra, procurava-se evitar, por intermédio de suportes
educacionais, qualquer manifestação que favorecesse sentimentos de
hostilidade entre os povos. Nessa perspectiva, a História foi uma das
disciplinas mais visadas pelas autoridades. Essa vigilância é visível ainda na
atualidade, como bem demonstra a imprensa periódica.

As polêmicas geradas em torno da coleção "Nova História Crítica", de Mário


Schimidt, da Editora Nova Geração, exemplifica o que foi apontado por Circe Bittencourt.
Em 2007, o diretor executivo das Organizações Globo, Sr. Ali Kamel, publicou no periódico
O Globo matéria contra a coleção Nova História Crítica sob o título "O que ensinam às nossas
crianças". Argumentava que a Nova História Crítica era uma espécie de catecismo do
marxismo-leninista-maoísta. Mário Schimidt e a editora revidaram em carta pública a Kamel,
replicando as acusações com demonstrações de que o diretor executivo da Globo havia
descontextualizado vários dos trechos que utilizou para justificar sua opinião. No final, o livro
para a oitava série desta coleção foi reprovado pelo MEC (Cafardo, Roxo, 2007). Mas, as
discussões continuaram e o programa de avaliação do livro didático foi ampliado e
aprimorado.
3

Circe Bittencourt, reconhecida atualmente como uma das mais experientes


especialistas em investigações sobre os livros didáticos de História, criou, em 2003, o projeto
Educação e Memória voltado para a criação de um banco de dados de livros didáticos
(LIVRES) e da Biblioteca do Livro Didático (BLD) na Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo. Em seu livro "Ensino de História: fundamentos e métodos",
publicado no ano de 2005, já em quarta edição no ano de 2011, pela Editora Cortez, Circe
Bittencourt expôs uma síntese atualizada de suas investigações. Na terceira parte do livro
(Bittencourt, 2011: 295-324) tratou especificamente dos livros didáticos. Primeiro, ele pode
ser entendido como uma mercadoria própria do universo mercantil, submetido à lógica da
indústria cultural e das demandas de mercado. Segundo, ele é um suporte de conhecimentos
escolares determinados pelos currículos oficiais. Com efeito, o Estado está presente na
elaboração do livro. Ele estabelece os conteúdos programáticos e também os critérios que
serão utilizados para avaliar esses manuais. Urge enfatizar que é nessa condição de suporte de
conhecimentos escolares que os manuais são utilizados como livros de pesquisa escolar.
Terceiro, o livro didático pode ser considerado também como um suporte de métodos
pedagógicos uma vez que contêm indicações e recomendações de atividades, exercícios,
análises de músicas, de filmes e de imagens. Quarto, ele é veículo de um sistema de valores,
de uma ideologia, entendendo esse conceito como o conjunto de ideias socialmente
construídas, permitindo "revelar algo da relação entre uma enunciação e suas condições
materiais de possibilidade" (Eagleton,1997:195).

Em seguida, Circe Bittencourt apresentou os três aspectos básicos das análises


de livros didáticos. Primeiro: aspectos formais. Estudo da materialidade do livro: tipo de
papel, capa, uso de ilustrações etc. Além disso, examina-se o livro no conjunto das demandas
do mercado editorial. Segundo: aspectos dos conteúdos escolares. Avalia as maneiras pelas
quais o livro apresenta os conteúdos históricos. Procura identificar e caracterizar a tendência
historiográfica do autor do livro e sua validade e coerência. Terceiro: aspectos pedagógicos.
Investiga a adequada articulação entre informação histórica e atividades de aprendizagem.
Procura identificar e caracterizar a proposta pedagógica do autor do livro e sua validade e
coerência.

No livro Quem somos nós? Apropriações e representações sobre a(s)


identidade(s) brasileira(s) em livros didáticos de história (1971-2011), o historiador Jean
Moreno reconstrói e avalia com singular acuidade a questão da identidade brasileira em livros
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didáticos ao longo de quarenta anos. Moreno (2014: 52) propõe um modelo de análise da
produção, circulação e consumo dos livros didáticos desde um quadrante constituído pelo
Estado (Políticas Públicas, Currículos, Avaliadores), pela Autoria (Autor, Editora, Mercado),
pelos Professores/Sistemas Públicos (Escolha guiada) e pela Opinião Pública (Alunos, Pais,
Imprensa, Políticos). Dentre outros aspectos de destaque no livro de Moreno, ressalta-se aqui
a categoria de código disciplinar da história (Moreno, 2014:96) que permite pensar sobre a
existência de uma tradição escolar que estabelece temas, conteúdos, métodos de ensino
legitimada por sua pretensa função social.

Enfim, neste trabalho consideram-se esses aspectos analíticos dispostos por


Bittencourt (2011) e Moreno (2014) centrando a análise nos conteúdos escolares sobre temas
de religião.

As religiões nos livros didáticos de história: perspectivas interpretativas

Do conjunto das abordagens temáticas dos livros didáticos, são raros os estudos
sobre as representações das religiões que eles divulgam. Ainda que a complexidade do objeto
"religião" exija práticas de pesquisa interdisciplinares (Velasco, Bazan 2000: 09-20; Hock,
2010: 09-16), os historiadores têm procurado delimitar sua especificidade de trabalho nesse
amplo campo de estudos das religiões (Albuquerque, 2007). Assim, eles têm privilegiado o
exame de temas e problemas clássicos e atuais bem inscritos na tradição histórica e
historiográfica, como, por exemplo, no caso da história do Brasil, os temas e problemas
vinculados às Missões Jesuíticas, ao Regime de Padroado ou aos ditos Movimentos
Messiânicos da Primeira República nas guerras de Canudos e do Contestado.

Nessa direção da pertinência de estudos sobre as religiões, o texto da


historiadora Eliane Moura da Silva, intitulado Estudos de religião para um novo milênio, é
um dos poucos que articulam a historiografia das religiões com os conteúdos escolares.
Partindo de dados do censo do IBGE para o ano 2000 e dados internacionais consultados
junto a BBC World Service, Eliane Moura corrobora a importância do estudo da religião no
mundo atual:

Impõe-se a necessidade de compreender o outro atrás de seus véus e


templos, rituais e orações. Entender aspectos e a originalidade das religiões,
5

as formas de mobilização e como se situam no tempo e no espaço, é tarefa


urgente dos professores e educadores preocupados com a tolerância
fundamental para o respeito entre pessoas e memória histórica. Estudar os
fenômenos religiosos em favor da Pedagogia, integrando-os aos novos
programas escolares (Silva, 2003: 206).

Postula-se aqui que esta integração envolveria a avaliação das abordagens e


representações das religiões empregadas nos livros didáticos de história (disciplina com maior
quantidade de temas de religião no currículo escolar brasileiro). Para esse exercício analítico
consideram-se os critérios gerais e específicos formulados pelo Guia do PNLD (Brasil, 2013),
sobretudo aquele critério geral relativo à “observância de princípios éticos necessários à
construção da cidadania e ao convívio social republicano” (Brasil, 2013: 13), tratando-se,
assim, de inscrever essa análise na mais ampla discussão sobre educação, laicidade e
religiosidade no Brasil (Aquino, 2013).

Nesse exercício analítico optou-se pelo estudo da coleção Projeto Araribá


História, obra de autoria coletiva sob a responsabilidade editorial de Maria Raquel
Apolinário, publicada pela Editora Moderna (Apolinário, 2010), a mais utilizada, segundo
informação dos Núcleos Regionais de Educação (Cornélio Procópio, Ibaiti e Jacarezinho), nos
anos finais do Ensino Fundamental nas escolas estaduais situadas na área de abrangência da
Universidade Estadual do Norte do Paraná, campus Jacarezinho, onde esta pesquisa está
sendo desenvolvida. No pertinente Guia do PNLD (Brasil, 2013: 102s) encontram-se algumas
informações referenciais dessa coleção aprovada pelo MEC e adotada com regularidade pelos
professores de história dos anos finais do ensino fundamental:

A coleção desenvolve ações voltadas para a construção da cidadania ao


trabalhar o respeito pelas diferenças culturais. Temáticas como a
discriminação, o preconceito racial e a preservação do meio ambiente estão
presentes ao longo dos volumes. Aborda, ainda, a história dos
afrodescendentes e dos grupos indígenas, além de dar destaque ao papel das
mulheres.

(...)

Sumário sintético

6º ano (264 páginas) – Introdução aos estudos históricos; Unidades: 1 – As


origens do ser humano; 2 – O povoamento da América; 3 – A Mesopotâmia,
o Egito e a Núbia; 4 – China e Índia; 5 – Fenícios, hebreus e persas; 6 – A
civilização grega; 7 – A civilização romana; 8 – A crise do Império Romano.

7º ano (264 páginas) – Unidades: 1 – A formação da Europa feudal; 2 –


Mundos além da Europa; 3 – A baixa Idade Média; 4 – Mudanças na arte, na
6

religião e na política; 5 – Os povos pré-colombianos; 6 – As grandes


navegações e a colonização da América Portuguesa; 7 – Espanhóis e ingleses
na América; 8 – O Nordeste colonial.

8º ano (272 páginas) – Unidades: 1 – A expansão da América Portuguesa; 2


– A época do ouro no Brasil; 3 – Das revoluções inglesas à revolução
industrial; 4 - Revoluções na América e na Europa; 5 – A era de Napoleão:
na Europa e na América; 6 – A independência do Brasil e o Primeiro
Reinado; 7 – Revoluções na Europa e a expansão dos Estados Unidos; 8 –
Brasil: da Regência ao Segundo Reinado.

9º ano (296 páginas) – Unidades: 1 – A era do imperialismo; 2 – A


República chega ao Brasil; 3 – A Primeira Guerra e a Revolução Russa; 4 –
A crise do capitalismo e a Segunda Guerra Mundial; 5 – A Era Vargas; 6 –
Os anos da guerra fria; 7 – Democracia e ditadura na América Latina; 8 – A
nova ordem mundial.

Observa-se nos títulos das unidades do sumário sintético uma única menção do
termo ‘religião’, no volume para o 7º ano (Unidade: 4 – Mudanças na arte, na religião e na
política). Entretanto, a leitura dos títulos dos temas e subtemas que completam o sumário de
cada volume revela uma presença expressiva de assuntos relacionados à religião:

No 6º ano – O criacionismo (subtema, do tema 1, da unidade 1), Uma religião


com muitos deuses (subtema, do tema 1, da unidade 3), O faraó era considerado um deus
(subtema, do tema 4, da unidade 3), A religião e a escrita (tema 5, da unidade 3), As crenças
religiosas (subtema, do tema 3, da unidade 4), A evolução religiosa (subtema, do tema 4, da
unidade 4), O carma e a filosofia hindu (subtema, do tema 4, da unidade 4), A religião dos
fenícios (subtema, do tema 1, da unidade 5), Os hebreus e a ocupação de Canaã – Um rei para
Israel – A vida em Israel (temas 2, 3 e 4, da unidade 5), Mito e religião na Grécia (tema 5, da
unidade 6), Os templos gregos (subtema, tema 6, da unidade 6), A religião (subtema, do tema
5, da unidade 7), A mensagem do cristianismo (tema 1, da unidade 8), As diferenças
religiosas (subtema, do tema 4, da unidade 8);

No 7º ano – O Reino Franco e o cristianismo (tema 3, da unidade 1), Os


mosteiros medievais (complemento, tema 4, da unidade 1), Meca e a religião dos antigos
árabes (subtema, tema 1, unidade 2), O nascimento e a expansão (tema 2, unidade 2), A
África dos reinos islamizados (tema 4, unidade 2), As Cruzadas (tema 2, unidade 3), A
Reforma Protestante (tema 3, da unidade 4), A Contrarreforma (tema 4, da unidade 4), A
religião e a arte (tema 3, da unidade 5), Magia e mistérios nos Andes (tema 4, da unidade 5),
A Igreja e o trabalho indígena (subtema, do tema 3, da unidade 7), Os peregrinos na América
(subtema, do tema 5, da unidade 7), Sincretismo religioso (subtema, do tema 3, da unidade 8);
7

No 8º ano – As missões jesuíticas (tema 1, da unidade 1), As irmandades


religiosas (subtema, do tema 4, da unidade 2), A Revolução Puritana (subtema, do tema 1, da
unidade 3), A razão contra a fé (subtema, do tema 6, da unidade 7), A Guerra de Canudos
(tema 2, da unidade 2), A Guerra do Contestado (tema 3, da unidade 2), Martin Luther King
(personagem, do tema 4, da unidade 6),

Primeiro aspecto a ser interpretado. Pode-se notar a presença de temas de


religião nos quatro volumes da coleção, mas de modo desproporcional. Nos dois primeiros
volumes, dedicados às tradicionalmente denominadas história antiga e medieval, os temas de
religião aparecem em maior número do que nos dois últimos volumes, dedicados às chamadas
história moderna e contemporânea, bem como à história do Brasil e da América. Trata-se de
uma seleção de conteúdos, todavia isso não impede uma interpretação dessa situação como
que assentada em uma filosofia da história, no sentido proposto por Michel de Certeau
(2006:143), inclinada a entender a ‘religião’ como elemento central de tempos passados,
sendo marginal nas sociedades moderna e contemporânea. Opção metodológica? Ideológica?
Resquício do processo de secularização da educação empreendido na virada do século XIX
para o século XX? É certo, porém, que a realidade social das religiões desmente essa
marginalidade atribuída pelos livros didáticos à religião na contemporaneidade como atestam
a literatura especializada e a imprensa em geral. Desconsideram-se as mutações ocorridas nas
religiões e nas religiosidades ao longo dos dois últimos séculos, bem como as mudanças no
campo religioso brasileiro, inclusive quanto às situações de intolerância e de disputas
religiosas (Filoramo, 2004; Albuquerque, 2007; Mata, 2010; Aquino, 2013).

Segundo aspecto de interpretação. Aborda-se o número de vezes em que


determinados termos-chave de religião aparecem nos textos dos livros didáticos. Como se
pode avaliar a seguir, em um quadro considerando os termos-chave mais recorrentes nos
quatro volumes, há uma grande preponderância do cristianismo e em particular da Igreja
Católica caracterizando uma desigualdade de apresentação e importância entre as diferentes
religiões também notada na análise empreendida sobre livros didáticos de ensino religioso
pelas pesquisadoras Débora Diniz, Tatiana Lionço e Vanessa Carrião publicada no livro
Laicidade e ensino religioso no Brasil (2010). Os dados gerais do estudo sobre termos-chave
das religiões no livro didático da coleção Projeto Araribá História são:

Termos-chave Número de vezes


em que foi citado
8

Deus ou deus 46
Jesus ou Cristo ou Jesus Cristo 45
Igreja Católica 38
Bíblia 24
Maomé 13
Torá 06
Alcorão 05

Terceiro e último aspecto a ser interpretado neste trabalho. Trata-se das


abordagens das religiões ao longo dos quatro volumes da coleção Projeto Araribá História.
São abordagens díspares: para a história antiga de Israel, assume-se acriticamente a leitura
judaico-cristã, bíblica (Liverani, 2008); ainda na história antiga, no viés da abordagem
judaico-cristã, as narrativas religiosas do outro são designadas como lendas e mitologias; na
história medieval, há oscilações, pró e contra a instituição Igreja Católica (e até mesmo certo
anacronismo interpretativo parecendo considerar a igreja medieval nos padrões da igreja
contemporânea, com um estado como o do Vaticano); na história moderna e contemporânea,
despontam abordagens “iluministas” (Roussel, Vogler, 1993: 647) da Igreja Católica e da
religião (isso explicaria o fato do significativo desaparecimento contemporâneo dos temas de
religião, indiscriminadamente submetida ao social, ao cultural, ao econômico e ao político).

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