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EDIÇÃO DE LANÇAMENTO • ANO I • Nº 01 - NOVEMBRO 2016

Tecnologia
a serviço do conhecimento
GAMES LEVAM CHEGADA DA UDEMY AO GRUPO ELEVA REUNIRÁ
DIVERSÃO AO MUNDO PAÍS INAUGURA UM NOVO TODA SUA ‘EXPERTISE’
DO APRENDIZADO MODELO DE ENSINO EM UMA ÚNICA ESCOLA
Levados a sério e cada vez mais Considerada o maior player do Após três anos desenvolvendo um
acessíveis, os jogos virtuais mercado de educação online do modelo próprio de ensino, grupo
transformam a educação em mundo, a empresa americana é pretende reunir seu conhecimento na
algo mais interessante. parceira da Estácio no Brasil. Escola que terá seu nome.
Páginas 67 e 69 Página 42 Página 64
2 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016
CARTA AO LEITOR

Boa leitura!
Enquanto uma parte do país convive com a alta tecnologia, de Primeiro Mundo, a
Educação brasileira, em muitos pontos, ainda é motivo de extrema preocupação. Em
muitos casos, sequer há um quadro-negro decente e giz. Computadores, nem pensar.
Instalações adequadas, então, são luxo para poucos. Mais de 3 milhões de crianças e
adolescentes ainda estão fora da escola, a maioria nas regiões Norte e Nordeste,
excluídas pela pobreza, pela falta de mobilidade, porque precisam trabalhar ou por
terem alguma deficiência.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) realizada em
2014 e divulgada em meados de 2015 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) mostram uma lenta evolução dos indicadores de educação. Hou-
ve uma leve queda na taxa de analfabetismo, no número de analfabetos funcionais
e uma melhora, nas pontas, no nível de instrução. Os dados verifcados ainda estão
distantes das metas do Plano Nacional de Educação (PNE), que prevê reduzir para
6,5% a taxa de analfabetismo da população maior de 15 anos até 2015 e erradicá-
la em até dez anos; e no mesmo período, reduzir a taxa de analfabetismo funcional
pela metade.
No entanto, a Educação é o investimento de melhor retorno individual e coletivo
que se conhece, como comprovaram muitos países, com excelentes resultados. Edu-
cação significa trabalho digno, independência, crescimento, distribuição de renda,
cidadania, enfim. FOLHA DIRIGIDA sabe muito bem disso, pois é especialista no
tema há três décadas, primeiro com o jornal impresso, depois com a internet e, agora,
com esta revista especial, novo formato do “Suplemento do Professor”, tradicional-
mente publicado em outubro, em homenagem aos docentes.
Esta nova versão traz novo enfoque, em função dos avanços tecnológicos,
ganha maior abrangência, pois é distribuída a mais de 10 mil
tomadores de decisões de instituições de ensino de todo o
país, sendo disponibilizada também no formato digital, para
o público da recém-reformulada FOLHA DIRIGIDA On-
line — com mais de um milhão de visitantes únicos por
mês. Professores, dirigentes de instituições educacio-
nais, pesquisadores, gestores públicos e estudantes
têm acesso a este trabalho, que mantém a exce-
lência jornalística do Grupo Folha Dirigida.
Os assuntos abordados são do
maior significado, como
a escola do futuro, a
defasagem da educa-
ção analógica e os
desafios da educação
superior a distância, entre ou-
tros. Os gestores precisam estar ante-
nados nessas novidades, que surgem com ve-
locidade impressionante, apesar de a realidade do
país ser bem outra, infelizmente.
Com esta modesta contribuição no meio impresso, que pode
ser encontrada também na versão online, esperamos ajudar a alcançar avanços
significativos na Educação brasileira, para que sejamos uma grande Nação. É a
nossa meta, além de fazer uma justa homenagem a todos aqueles que contribuem
para a formação dos cidadãos. Por mais que a tecnologia se desenvolva, o ser
humano continuará indispensável no processo educacional. Mudam os métodos,
mas o toque pessoal jamais deixará de ser essencial.
Boa leitura, e apostemos no futuro!

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 3


ÍNDICE

CAPA
Estratégia:
o desafio da conectividade
Um estudo da Cisco mostra que países com maior velocidade
de acesso à internet nas escolas e universidades conseguem
turbinar a qualidade do ensino com o uso da internet e
outras ferramentas tecnológicas que dependem de
conectividade à rede. O levantamento foi feito nos EUA, na
Irlanda, Nova Zelândia, no Uruguai e em Portugal. Página 37

MERCADO OPINIÃO
Filiada à

Habilidades digitais Educação a distância


Como a Adobe ajuda a explorar o potenci- Carlos Bielschowsky, presidente do Consór- EXPEDIENTE
al criativo de professores e estudantes de cio Cederj, no Rio de Janeiro, fala sobre os
todo o mundo com soluções tecnológicas desafios da EAD no país diante da grande Débora Thomé
Editora
em forma de ferramentas e outros recursos velocidade dos avanços metodológicos e tec-
digitais. Página 60 nológios no setor. Página 10 Teresa Perrotta
Designer

Reportagem
CASE ENTREVISTA Luiz Fernando Caldeira (RJ)
Paulo Chico (RJ)
Felipe Simão (RJ)
Grupo Tiradentes Guilherme Calheiros Renato Deccache (RJ)
Alexandre de Miranda (RJ)
Saiba como o Grupo Tiradentes tornou-se O diretor de Inovação e Competitividade do Flávia Vargas (RJ)
pioneiro no Nordeste ao implementar re- Porto Digital de Pernambuco fala sobre o Larissa Siqueira (RJ)
Giulliana Barbosa (RJ)
cursos tecnológicos e investir em um siste- potencial econômico do setor educacional Anderson Borges (RJ)
ma de monitoramento de recursos de in- para empresas de tecnologia e o sucesso da Gustavo Portella (RJ)
formática. Página 18 experiência pernambucana. Página 12 Igor Régis (SP)
Juliana Borges (SP)

Impressão
TENDÊNCIA MULTIPLICADORES www.folhadirigida.com.br

Rio de Janeiro
A escola do futuro Educação básica Rua do Riachuelo, 114 - Centro - RJ
CEP: 20230-014
A geração Z, ou ‘millenials’, precisa en- Conheça as experiências das escolas que es- Tel. fax: (21) 2461-0062
contrar um ambiente mais propício ao uso tão investindo em tecnologia da informação São Paulo
das tecnologias nas escolas, atrelado a para personalizar a educação, tornando o Rua Barão de Itapetininga, 151 -
uma estratégia pedagógica baseada na aprendizado mais atual e atraente para alu- Térreo - Centro - SP
inovação. Página 48 nos e professores. Página 24 CEP: 01042-001
Tel. fax: (11) 3123-2222

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‘cloud’ ajuda a desenvolver aprodutividade INOVAÇÃO & educação
e a organização e, consequentemente, a é uma publicação do
prestação de serviços, inclusive dos setores GRUPO FOLHA DIRIGIDA
ligados à Educação. Página 54

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INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 5
TENDÊNCIA

6GEPQNQIKC
CUUKUVKXC
O desafio a ser batido
na Educação

Flavia Vargas

“P ara as pessoas sem deficiência, a


tecnologia torna as coisas mais fá-
ceis. Para as pessoas com defici-
ência, a tecnologia torna as coisas pos-
Presidência da República, explica que
a TA pode variar muito, desde uma fer-
ramenta simples e por vezes um jeito
de fazer, até um computador controla-
par plenamente de todos os aspectos
da vida, os Estados Partes deverão to-
mar as medidas apropriadas para asse-
gurar-lhes o acesso, em igualdade de
síveis.” A citação de Mary Pat Radabau- do pelo movimento ocular com softwa- oportunidades com as demais pesso-
gh, de 1993, na época diretora do Cen- res específicos para a acessibilidade. as, ao meio físico, ao transporte, à in-
tro Nacional de Apoio para Pessoas com “Para pessoas com ou sem deficiên- formação e comunicação”.
Deficiência da IBM, já virou jargão en- cia é inegável que o computador hoje O Ministério da Educação (MEC) es-
tre os defensores da plena inclusão des- revolucionou o modo como buscamos tabeleceu, em 2008, a Política Nacio-
ses indivíduos. o conhecimento e como apresentamos nal de Educação Especial na Perspecti-
Se a tecnologia, em seu sentido mais nossas construções no processo de va da Educação Inclusiva, documento
amplo, caminha na direção de tornar a aprendizado. Por esse motivo, imaginar orientador para estados e municípios
vida mais fácil a todos, a chamada Tec- autonomia total no uso do computador, organizarem suas ações no sentido de
nologia Assistiva (TA) nasce como um como é possível constatar hoje por usu- transformarem seus sistemas educaci-
recurso da pessoa com deficiência, ido- ários cegos, surdocegos, com grandes onais em sistemas inclusivos.
sa, com mobilidade reduzida ou com impedimentos físicos e de comunicação Crítica das chamadas “escolas espe-
impedimento temporário de realização oral, é uma grande revolução que trans- ciais”, voltadas apenas para pessoas com
de alguma função. Ela tem por objetivo forma histórias de exclusão em históri- deficiência, a pedagoga Maria Teresa
não só possibilitar a realização de tare- as de conquistas”, analisou. Mantoan luta por uma escola totalmen-
fas, mas também promover a participa- A Convenção sobre o Direito das te inclusiva, que ela define como um lu-
ção e independência dos usuários. Pessoas com Deficiência (ONU, 2006), gar que garante acesso, permanência e
Rita Bersch, diretora da Assistiva Tec- ratificada no Brasil pelos Decretos 186/ participação de todos, no mesmo ambi-
nologia e Educação, além de membro 2008 e 6.949/2009, afirma que “a fim ente escolar, preservando assim o direi-
do Comitê de Ajudas Técnicas (CAT) da de possibilitar às pessoas com defici- to à diferença e à Educação, previsto na
Secretaria dos Direitos Humanos da ência viver com autonomia e partici- nossa Constituição.

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TENDÊNCIA

“Uma escola especial é uma escola exclu- solve a situação problema.”


dente, à parte, para os diferentes. A escola in- Conforme explica a consultora, tudo muda
clusiva é onde se reconhece a diferença de to- quando uma pessoa com deficiência estava
dos nós, e não onde algumas pessoas diferen- fora e passa a se sentir dentro da escola, passa
tes de repente ganharam lugar. Não são os de- a demonstrar um potencial não imaginado, in-
ficientes que são diferentes, nem os idosos ou terferindo e colaborando com o meio, e não
os autistas, mas todos os seres humanos se cons- só recebendo informação passivamente.
tituem na diferença”, defendeu.
Nas escolas, o serviço de Tecnologia Assis-
tiva se materializa nas salas de recursos mul-
tifuncionais onde acontece o atendimento
“ENTRE 2003 E 2014, HOUVE UM AUMENTO
educacional especializado. Nos últimos anos
foram implementadas cerca de 40 mil salas
DE 198% DE PROFESSORES COM
com recursos de TA nas escolas públicas, onde
professores especializados podem identificar FORMAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL,
barreiras à participação e ao aprendizado e
propor recursos e estratégias que permitam o E 42 MIL ESCOLAS RECEBERAM RECURSOS
processo de inclusão.
Para Rita Bersch, quem deve desempenhar PARA ACESSIBILIDADE”
o papel de protagonista é o aluno com defi-
ciência. Professores, terapeutas e consulto-
res em TA devem utilizar seus conhecimen-
tos especializados para orientar o usuário na “[Uma escola inclusiva é] uma escola onde
tomada de decisão pela melhor Tecnologia existam escolhas e projetos dos próprios alu-
Assistiva. “Tudo será construído a partir do nos, onde os conteúdos possam ser acessados
estudo do caso. Quem é este estudante, quais em múltiplos formatos e que cada estudante
desafios enfrenta, quais suas habilidades, as possa agir e expressar-se de diferentes formas
dificuldades, como é o ambiente escolar onde dentro do tema proposto para estudo, onde a
a Tecnologia Assistiva será utilizada. A me- avaliação não sirva pra classificar e comparar,
lhor tecnologia sempre será aquela que re- mas para medir evoluções.”

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TENDÊNCIA

Finep destinou
R$120 milhões em recursos
para programas de
inclusão em dez anos
A Financiadora de Estudos e Projetos (Fi-
nep), vinculada ao Ministério da Ciência e Tec-
nologia (MCTI), lançou em outubro de 2015 o
edital Viver sem Limite. Com aporte de R$25
milhões, o programa é voltado para projetos
de inclusão social de pessoas com deficiên-
cia, idosas e com mobilidade reduzida.
Além do Viver sem Limite, a Financiadora
mantém investimentos no desenvolvimento de
dispositivos, equipamentos, recursos, práticas
e serviços que promovem independência, au-
tonomia, inclusão social e melhoria da quali-
dade de vida das pessoas com deficiência.
“A Finep atua nessa área desde 2005. No pri-
meiro chamamento público, o orçamento dispo-
nibilizado foi de R$4 milhões. Ao longo desses
anos vem crescendo e, em média, posso dizer
que nesses dez anos a gente deve ter investido ao mercado, o que pode demorar até dez
R$120 milhões. É significativo”, avalia Maurício anos. Entre os projetos, muitos têm o viés edu-
França, superintendente da Área de Tecnologia cacional. Para Bruno Bonifácio, analista do
para o Desenvolvimento Sustentável da Finep. Departamento de Tecnologia para Educação
Segundo ele, o objetivo é sempre disponi- e Qualidade de Vida da Finep, o maior desa-
bilizar uma Tecnologia Assistiva para os gru- fio é encurtar o caminho entre o que está sen-
pos sociais que precisam vencer algum obs- do produzido e as pessoas com deficiência.
táculo. “São 730 mil brasileiros que não con- “Num cenário de contenção de recursos, a
seguem enxergar de modo algum, são mais gente vai conseguir dar continuidade ao que
de 3 milhões de brasileiros surdos: então, o desde 2005 a gente vem desenvolvendo. Mas
objetivo é chegar até essas pessoas por meio em relação a outros países, temos muito a evo-
da disponibilização de inovações.” luir no acesso da população. A nossa grande
A Finep participa de todo o ciclo de de- luta, no fim das contas, é que essa tecnologia
senvolvimento até a tecnologia poder chegar chegue a quem necessita.”
FINEP

„ HAND TALK
- É um aplicativo gratuito onde Hugo, um intérprete virtual 3D,
traduz áudio, texto e imagem do português para a Língua
Brasileira de Sinais (Libras)
- Recebeu apoio de R$400 mil da Finep e já conta com mais de
600 mil downloads e 80 milhões de traduções feitas
- Foi escolhido em 2013 pelo Ministério da Educação para
equipar os tablets adquiridos para a rede pública de ensino
- Eleito o melhor aplicativo social do mundo no World Summit
Award Mobile, da Organização das Nações Unidas (ONU)

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TENDÊNCIA

DANIEL QUEIROZ-ND
Especialistas são
otimistas quanto à total
inclusão no Brasil
O último Censo Escolar, realizado
pelo Ministério da Educação (MEC), in-
dica um crescimento expressivo das
matrículas de alunos com deficiência
na educação básica regular. Em 2014,
foram registradas quase 900 mil matrí-
culas e 79% delas em turmas comuns,
o que representa 698.768 estudantes
especiais matriculados em classes co-
muns. Se considerarmos somente as es-
colas públicas, o percentual de inclu-
„ BENGALA LONGA ELETRÔNICA são sobe para 93%.
- É um equipamento com sensores semelhantes a um Como comparação, em 1998, cer-
sonar, que vibram no cabo da bengala diante de obstáculos ca de 200 mil estudantes com defici-
- Cerca de R$30 mil foi o valor investido pela Finep no ência estavam matriculados na edu-
projeto cação básica, sendo apenas 13% em
- A previsão é que custe em torno de R$500, enquanto um classes comuns.
similar importado custa US$1.400 Foram dados passos largos nos úl-
- Em 2010, foi premiada com o primeiro lugar na categoria timos anos, como a ampliação da
protótipos eletroeletrônicos no 24º Prêmio Museu da Casa concessão pelo Sistema Único de
Brasileira Saúde (SUS), a implementação de
- Desde 2011 integra o Catálogo Nacional de Tecnologias programas pelo MEC na abertura de
Assistivas (Fortec) salas de recursos e financiamentos às
escolas, a criação de núcleos de de-
senvolvimento e de um centro naci-
onal de referência em TA. “Se falar-
FINEP

mos em acesso, ainda faltam 20%.


Queremos chegar a 100%. Eu sou
bastante otimista e vejo que estamos
aprendendo com as pessoas com de-
ficiência”, planeja Bersch.
“O Brasil já avançou muito. Temos
uma legislação avançadíssima, marcos
educacionais avançados. Claro que a
escola precisa melhorar, mas nós não
podemos esperar a escola melhorar
para todos os alunos deixarem de ser
excluídos”, ressalta a pedagoga Maria
Teresa Mantoan.
Segundo o MEC, 42 mil escolas já
„ VALE DAS MAÇÃS receberam recursos multifuncionais
- É um jogo elaborado para Kinect, classificado como para acessibilidade e 57 mil tiveram
serious game (tipo de game que não busca apenas divertir), verbas para adequação da estrutura para
com objetivo de recuperar pacientes com dificuldades atender melhor às necessidades dos alu-
motoras nos. Também houve um aumento de
- Deve chegar ao mercado ainda este ano 198% no número de professores com
- Contou com R$252 mil da Finep formação em educação especial, passan-
- O game promete levar o ambiente virtual e interativo dos do de 3.691 docentes especializados, em
jogos para as sessões de fisioterapia e terapia ocupacional 2003, para 97.459, em 2014. „

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ARTIGO
Carlos Bielschowsky
Professor Associado do Instituto de
Química da Universidade

Desafios da Federal do Rio de Janeiro, pesquisador


na área de Físico-Química Quântica.
Presidente do Consórcio Cederj
e da Fundação Cecierj, tendo sido

Educação Superior responsável pela construção do


projeto do consórcio Cederj e
por sua implementação.

a Distância no Brasil
Ex-Secretário Nacional de Educação a
Distância do MEC no período 2007-
2010, ficando à frente da implementação
da Universidade Aberta do Brasil, do
programa e-Tec Brasil, do programa
Nacional de Formação de Professores

O
Brasil tem uma larga tradição quenta os cursos técnicos do sistema S
(plataforma Paulo Freire) e
em educação a distância e demais cursos de instituições priva-
do programa ProInfo Integrado
(EaD), já tendo ocupado posi- das. Sem contar com os milhões de alu-
ção de destaque internacional em algu- nos que fazem formação continuada nas
mas áreas, como na utilização intensi- Universidades corporativas, bem como
va de ensino pela TV com o "Telecurso as incontáveis matrículas dos alunos nos Estar em constante sintonia
2º grau", "Projeto Minerva", "Salto para Moocs (Massive Open Courses) ofere- com os avanços no processo de
o Futuro" e tantos outros programas. cidos no Brasil e no exterior. ensino e aprendizagem
Essa tradição estendia-se a outras mídi- No ensino superior, a modalidade a É impressionante a velocidade dos
as, tais como os cursos técnicos pauta- distância foi inaugurada por dois mar- avanços tecnológicos e metodológicos
dos em mídia impressa com mediação cos principais: o curso de formação destes nossos tempos. Quem poderia
por correspondência. de professores em exercício da Uni- imaginar, há 20 anos, que seria possível
E continuamos muito ativos nesses versidade Federal do Mato Grosso, em utilizar, maciçamente, recursos de micro-
tempos digitais. Segundo o Censo EaD 1994, e o primeiro vestibular aberto, computadores ligados à internet na edu-
2015/2016 da Associação Brasileira de que foi oferecido pela Universidade cação superior no Brasil? Atualmente, é
Educação a Distância (Abed), a EaD mo- Federal Fluminense no contexto do impensável não utilizá-los. Há pouco
vimenta, no mínimo, 5.048.912 de alu- consórcio Cederj, em 1999. Naquele mais de 5 anos, ainda era difícil imagi-
nos nas mais variadas áreas de conhe- momento, a educação a distância já nar uma utilização intensa de dispositi-
cimento, níveis acadêmicos e tipos de estava consolidada há décadas em inú- vos móveis, sendo eles hoje essenciais.
cursos. No ensino superior, são mais de meros países, com milhões de alunos Já começa a ser inviável não fazer uso
1,4 milhão de alunos nas Instituições de matriculados. das redes sociais como ferramenta no
Ensino Superior (IES) públicas e priva- Começamos tarde, mas avançamos ra- processo de ensino e aprendizagem, não
das e mais de 130 mil na educação bá- pidamente. Hoje, cerca de 18% do to- utilizar a prospecção de dados (por
sica de jovens e adultos. O programa tal de matrículas no ensino superior é exemplo, com o learning annalytics) na
Nacional e-Tec Brasil (MEC) conta hoje na modalidade EaD. A figura abaixo personalização de trajetórias de apren-
com dezenas de milhares de alunos em mostra a impressionante evolução do dizagem dos alunos, ou ainda, não uti-
cursos técnicos de nível médio e um número de alunos de graduação no sis- lizar Moocs* para vencer algumas tare-
número ainda maior de estudantes fre- tema público e privado desde então. fas específicas da missão institucional.
O desenho instrucional de um siste-
ma de educação superior a distância é
altamente personalizado, depende do
perfil dos alunos e dos cursos ofereci-
dos e precisa considerar os recursos dis-
poníveis, de forma integrada, para faci-
litar o processo de ensino e aprendiza-
gem de seu público-alvo. E, como o
conjunto de elementos instrucionais
muda rapidamente, é necessário rever
constantemente as estratégias de produ-
ção de novos conteúdos e refazer as
estratégias das disciplinas já ativas.
No caso do Cederj, nosso laboratório
de mudanças são as novas disciplinas.
Hoje, planejamos cada semana da cons-
trução do conhecimento do aluno em
Número de alunos de EaD no Ensino Superior no Brasil uma determinada disciplina, concate-
nando o conteúdo programado no ma-

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ARTIGO

terial impresso e em outras mídias com so com um bom conteúdo e correspon- Brasil, criada em 2005, e instituído pelo
atividades de mediação presencial nos dentes critérios de avaliação resulta em Decreto 5.800 de 8 de junho de 2006,
polos e de mediação à distância na pla- maior evasão e consequente perda de re- na extinta Secretaria de Educação a Dis-
taforma e do processo de avaliação de ceita. Em resumo, é muito lucrativo ofe- tância do MEC, indo, posteriormente,
aprendizagem, processo que denomina- recer um curso com conteúdos e avalia- para a diretoria de educação a distân-
mos de desenho instrucional integrado. ções superficiais, com pouca mediação cia da Capes/MEC. Trata-se de um pro-
Nada trivial é rever periodicamente as e tecnologia educacional frágil. grama vitorioso que alavancou a edu-
práticas pedagógicas das disciplinas que cação a distância nas universidades pú-
já são oferecidas nas 15 diferentes car- Como estabelecer uma régua de blicas, envolvendo, hoje, 106 IES (Uni-
reiras, somando, no momento, mais de qualidade aceitável para essas questões? versidades Federais, Universidades Es-
700, sendo que parte delas foi construí- Apesar de contarmos com um sistema taduais e Institutos Federais de Educa-
da há mais de dez anos e, por isso, foi regulatório de excelência, tendo como ção), que compartilham 597 polos de
planejada sem elementos tecnológicos principais atores o INEP, o Conselho Na- apoio presencial em todo o Brasil.
hoje imprescindíveis. O estudante esta- cional de Educação e a Seres (MEC), pau- Como qualquer programa em constru-
va, em certos casos, sujeito a duas expe- tados em larga regulação a respeito (por- ção, o ensino a distância no Brasil pre-
riências de aprendizagem distintas: aque- tarias, instrumentos de avaliação, etc.), cisa ser periodicamente revisto. Neste
la presente na sala de aula virtual e a do ainda não atingimos um equilíbrio nes- momento, defendo que se dê ênfase à
material didático impresso somado à tu- sa questão. Trata-se de um assunto mui- institucionalização da EaD nas IES que
toria presencial. Boa parte de nosso es- to complexo, até porque público-alvo, participam da UAB, contemplando os
forço instrucional, hoje, é ocupado na objetivos e carreiras são distintos em um seguintes aspectos principais:
revisão da docência dessas disciplinas. país de dimensões continentais como o • Uma maior estabilidade de financi-
Menciono o exemplo do consórcio Ce- Brasil. Pecamos, em meu entendimento, amento, que permita o ingresso de alu-
derj, cujos alunos têm alcançado exce- em utilizar pouco o instrumento de su- nos em fluxo equivalente ao dos cursos
lentes resultados no Enade (Exame Naci- pervisão já amplamente usado em pas- presenciais. Esse tem sido um fator de-
onal de Desempenho de Estudantes), pois, sado recente, que, bem aplicado, permite terminante no decréscimo recente de
em princípio, poderíamos continuar como maior liberdade no processo regulatório. alunos da UAB.
estamos, mas sabemos que se não nos atu- • A distribuição do trabalho dos do-
alizarmos, teremos uma evasão maior e O problema do financiamento centes entre as atividades de ensino pre-
os estudantes não poderão desfrutar das e institucionalização da oferta sencial e a distância dentro da carga re-
melhorias didáticas proporcionadas pelos das instituições públicas gulamentar de docência da matriz dos
novos recursos tecnológicos e metodoló- O equilíbrio entre a oferta de ensino su- diferentes departamentos das IES.
gicos que surgiram nos últimos anos. perior público e privado é fundamental • Uma maior integração entre os pro-
por diferentes motivos, entre eles, o fato cessos de ensino e aprendizagem do ensi-
Qualidade na oferta de cursos na EaD de as universidades públicas serem res- no presencial e da educação a distância.
Esta é uma temática da maior impor- ponsáveis pela maior parte da pesquisa • Uma maior inserção dos alunos da
tância, que sofre de uma contradição in- científica do país, que já ocupa a 13ª po- educação à distância nas atividades de
trínseca: uma maior regulação, com o sição no mundo. Além disso, por força de pesquisa e extensão, como ocorre com
estabelecimento de regras rígidas vin- sua missão, a esfera pública fará sempre os alunos dos cursos presenciais.
culadas à metodologia de docência na um desenho instrucional e ofertas de cur- Trata-se de grandes desafios, mas que
educação a distância pode resultar em sos mais voltados para a difícil questão se fazem pequenos diante de todo o po-
um menor aproveitamento da aplicação de vencer as nossas brechas sociais. tencial de inclusão social através do en-
das mudanças tecnológicas em curso e, Sem dúvida, as universidades públi- sino superior que a Universidade Aberta
por consequência, ocasionar a redução cas federais e estaduais, bem como os do Brasil vem realizando em todo o país.
da qualidade na oferta. Institutos Federais de Educação, são ato- Como conclusão, expresso minha
E por que ainda necessitamos de uma res importantes na construção de uma convicção na revolução positiva que a
regulação com instrumentos detalhados se educação superior a distância de quali- Educação Superior a Distância vem re-
isso pode resultar em perda de qualidade? dade, ajudando a criar um ambiente de alizando no Brasil. Refiro-me não ape-
A resposta parece simples: algumas insti- credibilidade da EaD como um todo. nas à inclusão no ensino superior de es-
tuições tendem a oferecer práticas educa- Enquanto a oferta do sistema privado é tudantes que, em concomitância, traba-
cionais em EaD de baixa qualidade, com financiada pelas mensalidades dos alunos, lham, moram em localidades anterior-
o agravante de que podem alcançar rapi- no setor público, o sistema é financiado mente não atendidas por universidades
damente centenas de milhares de alunos. principalmente pelo governo federal, com ou apresentam quaisquer outras carac-
E por que o fazem? Mediação (tutoria honrosas exceções que têm financiamento terísticas específicas dos perfis de bra-
presencial e a distância) custa caro, as- misto (federal e estadual), como ocorre sileiros, mas também a todo o potenci-
sim como bons polos de atendimento nos estados de São Paulo (Univesp) e Rio al de transformação do processo de en-
presencial. Ter materiais instrucionais de de Janeiro (Consórcio Cederj). sino e aprendizagem que vem sendo in-
qualidade também está longe de ser uma O principal financiamento público é troduzido na metodologia de ensino em
pechincha. Além disso, oferecer um cur- realizado pela Universidade Aberta do nossas universidades. „

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 11


‘Educação analógica
está na contramão da sociedade’
Porto Digital do Recife investe em inovação e enxerga no setor educacional
um grande potencial econômico para empresas de tecnologia
Alexandre de Miranda

O
Porto Digital do Recife, eleito plenamente revitalizada, nos bairros do Guilherme Calheiros, observou que
em 2015 o melhor parque tec- Recife e Santo Amaro. inovação é palavra-chave não apenas
nológico do país pela Associa- O sucesso do porto em Pernambu- para o sucesso do parque tecnológico,
ção Nacional de Entidades Promotoras co e no Brasil está diretamente ligado mas para qualquer negócio.
de Empreendimentos Inovadores (An- a uma palavra: inovação. Desde proto- “É preciso inovar e ter a capacidade
protec), assumiu o desafio de tornar-se tipagem à internet das coisas, passan- de se reinventar para permanecer com-
um dos principais pilares econômicos do pela construção civil até chegar em petitivo nesse mercado tão dinâmico em
de Pernambuco. São 263 empresas tec- Educação, o Porto Digital segue na van- que vivemos. Quem não inova, não so-
nológicas que faturam anualmente 1,35 guarda porque preocupa-se em dar so- brevive”, garantiu.
bilhão de reais. Até 2022, a meta é ter luções tecnológicas com eficiência. Em entrevista à Inovação & educa-
20 mil pessoas trabalhando em uma área O diretor de Inovação e Competiti- ção, Guilherme Calheiros falou sobre
histórica de 149 hectares, hoje quase vidade Empresarial do Porto Digital, tecnologia da informação e observou

12 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


DIVULGAÇÃO
ENTREVISTA

que a área de Educação apresenta um grande que acabou sendo um polo regional de capital
potencial econômico para empresas do ramo humano, tanto nacionalmente quanto interna-
de tecnologia e para instituições de ensino. cionalmente. Então, como a gente tinha a base
“Existe um mercado em que estão saindo os mais importante para se ter inovação, que é o
primeiros movimentos para conseguir introdu- capital qualificado, isso facilitou em muito a ca-
zir a interação e a interatividade dentro de sala pacidade de atrair investimentos e empresas para
de aula. Mas isso, nas escolas públicas ou pri- a ocupação do polo tecnológico. Então, essa par-
vadas, nas universidades, nas empresas de cur- te da educação foi e é fundamental para fazer
sos técnicos, ainda tem muito o que evoluir. com que o Porto Digital seja hoje o que ele é.
Essas empresas ainda têm muito o que apren-
der e a desenvolver.”
De acordo com Guilherme, que também é “É PRECISO INOVAR
economista e professor da Universidade de
Pernambuco (UPE), óculos 3D e realidade au- E TER A CAPACIDADE
mentada são exemplos de ferramentas que de-
vem fazer parte da nova escola. “Tecnologia DE SE REINVENTAR PARA
da informação na veia com o que há de mais
moderno”, previu o executivo. PERMANECER COMPETITIVO
Guilherme Calheiros observou ainda que o
ensino no Brasil, por ser majoritariamente ana- NESSE MERCADO TÃO
lógico, está na contramão da sociedade, que já
vive na era digital. “Temos uma educação de- DINÂMICO EM QUE VIVEMOS.
fasada, analógica, que afasta o aluno de dentro
da sala ou que não potencializa a capacidade QUEM NÃO INOVA,
de aprender, de compartilhar.” Leia os princi-
pais pontos da entrevista: NÃO SOBREVIVE”
O que representa hoje, em termos tecnológi-
co, de inovação e econômico, o polo para Per-
nambuco e para o Brasil? O senhor acredita que inovação é uma palavra-
Guilherme Calheiros - O Porto Digital se conso- chave para o sucesso do Porto Digital?
lidou como um dos principais polos de desen- Para o Porto Digital e para qualquer ramo hoje.
volvimento tecnológico do país. Ele tem capaci- É preciso inovar e ter a capacidade de se rein-
dade de desenvolver soluções focadas na tecno- ventar para permanecer competitivo nesse
logia da informação e comunicação, tendo em- mercado tão dinâmico em que estamos viven-
presas de destaque nacional e internacional. O do. Quem não inova, não sobrevive.
porto gera tecnologias para atender não só o Bra-
sil, como diversas atividades fora do país. Gostaria que falasse sobre sua percepção do
ensino no Brasil. O senhor nota alguma mu-
Por que os melhores profissionais de tecnologia dança significativa ou a Educação no país não
estão no Recife? O diferencial está no ensino? está totalmente conectada com as transforma-
O próprio Porto Digital surgiu pelo histórico da ções tecnológicas?
evolução da Universidade Federal de Pernam- Tirando alguns casos pontuais de sucesso inte-
buco através da Informática, na formação de ressante, o Brasil ainda tem uma educação ana-
capital manual altamente qualificado na tecno- lógica, em 99% dos casos. Por outro lado, a po-
logia de informação e comunicação. Não só pro- pulação já é digital. Não estou falando aqui da
fissionais de graduação, mas também de pós- população de classe média ou classe média alta.
graduação, mestrado e doutorado. A capacida- As pessoas já estão conectadas, independente-
de de formar, a evolução desses cursos, os in- mente disso. Quem não tem dinheiro vai com-
vestimentos, o foco em pesquisa e a qualifica- prar um celular pré-pago com internet gratuita
ção de capital humano fizeram com que essa ou se conectar numa rede. Então, as pessoas es-
capacidade transbordasse para as demais uni- tão conectadas. A dinâmica das relações sociais
versidades e faculdades aqui da região. Essas uni- já é outra. Você trabalha com a tecnologia de
versidades também saíram formando. Elas cria- informação e comunicação. Você se comunica
ram importantes cursos de tecnologia da infor- no ônibus, tem a tecnologia que te conecta em
mação aqui na Região Metropolitana do Recife, casa. Dentro de uma sala de aula há um mode-

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 13


DIVULGAÇÃO
O economista Guilherme lo de 500 anos. O professor lá na frente e os muito mais, vamos dizer, multimídia. Temos a Es-
Calheiros considera que o
modelo atual de educação alunos ouvindo, sem nenhum outro formato, não cribo, que trabalha com diversos produtos na área
tradicional é defasado, só de uso de tecnologia, mas de outros forma- de educação, mas o principal deles é na área de
afasta o aluno da sala de tos, já que as pessoas hoje em dia querem con- educação e música. O aluno aprende a tocar vio-
aula e, ainda, não
potencializa a capacidade tribuir para a construção do conhecimento. É lão, piano, flauta e diversos instrumentos musicais
de aprendizagem preciso ter uma coisa mais engajada, mais cola- a partir de um software que interage diretamente
borativa, porque o aluno tem um papel muito com ele. É um projeto que está hoje bem difundi-
mais relevante do que tem no histórico da nossa do, pois estão utilizando essa mesma tecnologia
educação. Falo em todos os níveis, desde o alu- para o ensino de música, que passou a ser obriga-
no do nível fundamental até o cara que está fa- tório nas escolas. Não tem professor de música
zendo doutorado ou pós-doutorado. No douto- que dê conta desse volume de alunos. Então, pro-
rado é a mesma coisa. O professor está lá na fessores de diversas áreas, que não sejam apenas
frente falando e o aluno está olhando para ca- de música, podem aprender, utilizando essa ferra-
deiras. E só de vez em quando ele tem a oportu- menta para dar aulas de música. Temos ainda a
nidade de perguntar alguma coisa ao professor. empresa chamada Mídias Educativas, que também
Então, o modelo está defasado. Tirando algumas trabalha com essa parte de educação técnica, for-
ações, alguns projetos inovadores e relevantes mal. São todas empresas que trabalham com edu-
de ensino no país, a gente tem uma educação cação, mas utilizam plataformas e metodologias
defasada, analógica, que afasta o aluno de den- que usam fortemente a inovação e as tecnologias
tro da sala ou que não potencializa a capacida- da informação.
de de aprender, de compartilhar junto com o
conhecimento que se precisa para o que quer Acredita que ainda há muito o que fazer em tec-
que ele esteja fazendo, seja aprender a ler, apren- nologia para a educação e que esse mercado ofe-
der Matemática, aprender alguma atividade téc- rece muitas oportunidades?
nica ou mesmo aprender a pensar. Tem demais. Principalmente porque é um mer-
cado que hoje está zerado. Hoje existe um mer-
Fale sobre os projetos de inovação do Porto cado em que ainda estão saindo os primeiros
Digital, sobretudo os que estão relacionados movimentos para conseguir introduzir a intera-
à área de Educação. ção e a interatividade dentro de sala de aula,
A gente tem empresas muito interessantes, como mas isso, na minha escala, nas escolas, tanto
a Joystick, que trabalha com a parte de educação públicas quanto privadas, nas universidades, nas
utilizando a área de gameficação para o aprendi- empresas de cursos técnicos, ainda tem muito o
zado. A Joystick constrói uma narrativa daquele que evoluir. Essas empresas ainda têm muito o
conteúdo que se quer passar em uma interação que aprender, muito o que se desenvolver.

14 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


ENTREVISTA

As tecnologias já causam impacto nos modelos As pessoas vão ali pegar o conhecimento que
de ensino e na forma de aprender no Brasil? precisam em determinada área, de acordo com
Sim, totalmente. Não só nessa parte. Essa é uma suas necessidades. Ao mesmo tempo que elas
das áreas em que a tecnologia da informação e pegam, deixam um pouco de seu conhecimen-
comunicação cresceu enormemente, mas isso to para dar a sua contribuição para aquilo ali.
está em todas as áreas. A tecnologia da informa- Então, os modelos de hoje, aquele da salinha de
ção é hoje, no nosso século, o que foi a energia aula fechada, não vão existir. Vai ser uma sala
pro século passado. Está em todas as coisas. Tudo aberta com pessoas entrando e saindo, contri-
o que você pensa em operar ou desenvolver pre- buindo, construindo conhecimento.
cisará da tecnologia da informação e comuni-
cação de forma estrutural. Hoje não se imagina E quais serão as ferramentas para esse novo mo-
uma empresa que funcione sem energia elétri- delo de escola?
ca. É a mesma coisa com a tecnologia da infor- Serão utilizadas ferramentas como óculos 3D e
mação, desde uma padaria até uma grande in- realidade aumentada. Tecnologia da informação
dústria. Você precisa dela para inovar e para cri- na veia com o que há de mais moderno. E o que
ar diferenciais competitivos para aquela deter- tem por vir. Temos cada vez mais a interação do
minada atividade. homem com a realidade aumentada, com óculos
virtuais. Existem os chips, que já são implantados
E a tecnologia para a Educação? em pessoas. Daqui a pouco as programações vão
Para a educação é maior ainda, já que a educa- poder ser feitas no próprio DNA. Então, existe um
ção é a base de tudo, em que você tem toda a universo gigantesco no futuro para construir for-
construção do conhecimento e faz com que esse mas de educação. Vou até dizer que, no futuro, o
conhecimento possa ser disseminado de forma aluno vai aprender por pílulas. Tudo é possível. O
muito mais abrangente, muito mais solidificada, conhecimento está aí pra ser aprimorado.
se ele for feito de forma correta.
Ainda há espaço para novos empreendedores na
Como será a escola do futuro? área de educação no Porto Digital?
Há diversas teses. Eu imagino que a escola do Há toda uma estrutura de suporte, de apoio
futuro talvez seja a não-escola. Será outro pa- em determinadas empresas e apoio àquelas já
pel, totalmente diferente do que a gente conhe-
ce como escola hoje. Com certeza, sem sala de

FOTOS: DIVULGAÇÃO
aula. Os ambientes serão muito mais abertos.

Impressoras 3D e realidade
aumentada são exemplos de
ferramentas que o diretor
de Inovação do Porto Digital
acredita que devam fazer
parte da nova escola

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 15


ENTREVISTA

„ Reconhecimento: ratórios dentro da própria universidade, que a gente


O Porto Digital do Recife foi eleito, em 2015, chama de Pitch, em que a gente mobiliza, pega
como o melhor parque tecnológico do país pela esses meninos, orienta e dá suporte dentro da uni-
Associação Nacional de Entidades Promotoras versidade. Tem ações que trabalham aquele em-
de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) preendedor que já tem alguma ideia mais estrutu-
rada, mais consolidada, que é o programa chama-
„ Potencial: do Mind the bizz, um programa de qualificação
Atualmente, são 263 empresas tecnológicas instaladas no em negócios, no qual você que tem uma ideia e
local que faturam 1,35 bilhões de reais, me média, por ano. A ainda não a validou no mercado, ainda tem que
meta é ter 20 mil pessoas trabalhando no local até 2022 construir um modelo de negócios mais redondo,
mais factível. Então, você tem esse programa de
„ Grandiosidade: dez semanas que realizamos no Porto Digital em
O Porto Digital ocupa uma área de parceria com o Sebrae e o Centro de Informática
149 hectares e seu funcionamento revitalizou da Universidade Federal de Pernambuco. É um pro-
os bairros do Recife e Santo Amaro grama interessantíssimo: um intensivo de dez se-
manas e no final dele surge um empreendedor com
um novo produto estruturado de forma que ele
constituídas na área do desenvolvimento da possa já implantar a ideia, ir atrás de captação de
inovação e do empreendedorismo, aqui no recursos ou mesmo entrar num programa de su-
nosso Porto Digital. O mercado está aí. Está porte ao desenvolvimento. Temos também três in-
aberto, disponível, e precisamos saber chegar cubadoras de suporte a empreendimentos já com
a ele de forma estruturada. A educação real- um nível de estruturação um pouco maior, em que
mente é um mercado gigantesco e ainda mui- já há um protótipo do produto, um modelo de ne-
to pouco explorado, observando seu potenci- gócios, mas em que é preciso trabalhar mais a for-
al hoje e onde ele precisa chegar. mação do empreendedor. O cara que entende a
tecnologia, mas está longe de entender as ferra-
Como o empreendedorismo inovador é estimu- mentas de gestão, desde modelos de tributação,
lado no Porto Digital? balanços, a parte montável. Tem de entender um
A gente tem um programa de suporte à geração de pouco do mercado. Então, a gente trabalha a edu-
startups, que hoje consegue dar suporte a todos os cação na parte empreendedora. Também temos
tipos de maturidade de um empreendedor. Desde duas aceleradoras de empresa, a Jump Brasil e o
um aluno que está dentro da universidade, que Cesar Labs, que já trabalham com empreendimen-
tem uma ideia a empreender e quer fazer alguma tos que estão em um nível de maturidade maior.
coisa. A gente tem suportes como laboratório de São startups, mas que já têm mercado, já emitem
prototipação, parcerias com universidades, labo- nota fiscal, já faturam, já têm produtos, mas preci-

16 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


ENTREVISTA

sam ser remodeladas ou reestruturadas pra ganhar saiba o andar no qual ela precisa ir. Outro exem-
escala e acessar mercados em um volume muito plo é estar de frente para uma porta e ela abrir
maior. Essas aceleradoras preparam essas empre- automaticamente. É aquele clássico exemplo da
sas para captar recursos e as fazem alavancar. É geladeira inteligente que, na sexta-feira, ao esca-
um período menor. São cinco meses em que a near e verificar que não tem uma garrafa de cerve-
gente trabalha para que elas se tornem empresas ja, ela toma conhecimento e vai encomendar mais
escaláveis e possam ser investidas em maior volu- cerveja do mercado. Em uma situação de pegar
me. Por fim, temos o programa chamado Deep um Uber ou um táxi, já haver a programação de
Dive, que é um programa de aceleração internaci- antes dele chegar, de já ter passado na padaria para
onal e trabalha as startups mais consolidadas, que pegar o pão, no mercado para retirar uma bandeja
já têm um produto maduro, estão bem estrutura- de ovos ou ter passado na escola para buscar seu
das no mercado nacional, mas que precisam en- filho. Depois disso tudo, o Uber ou o táxi vai lhe
tender como se dá a dinâmica do mercado inter- pegar para fechar o percurso e levar você para casa.
nacional. A gente faz aceleração de oito semanas Essas formas que vêm sempre quando se fala em
dessas empresas no Vale do Silício para conectá- internet das coisas: os objetos se comunicarem
las a esse mercado internacional. Então, trabalha- entre si e gerar, a partir de sensores e atuadores,
mos nesse conjunto de programas e ações: os pro- conversações que tomam decisões por nós, uma
jetos que vão desde o aluno na universidade pen- vez previamente definidas, ou que a inteligência
sando em empreender, até startups que já fatu- artificial permite. Hoje em dia não faz sentido um
ram, já estão consolidadas e precisam ampliar sinal de trânsito ser temporizado. Simplesmente
sua visão de mercado para se conectar com o se poderia, através imagem, verificar em deter-
mercado internacional, o mercado mais dinâmi- minada rua se há pedestres para atravessar e o
co nesse setor, que é o Vale do Silício. volume de carros parados e, assim, definir qual o
tempo em que o sinal vai abrir e fechar de cada
A internet das coisas já é uma realidade? lado da rua, sem a necessidade de ser temporiza-
Hoje ela já é uma realidade, só que ainda não tem do ou ter alguém em uma central temporizando
a escala que a gente sabe que vai ter daqui a al- manualmente cada um desses sinais. Tem que ser
guns anos. As tecnologias da internet das coisas já automático, naquele fluxo. Se em determinada
existem, mas ainda são de custo relativamente alto via está vindo muito mais carro do que em ou-
para ganhar escala e volume. A internet das coisas tra, as coisas automaticamente já botam um tem-
trata de determinadas operações que não precisa- porizador conectado com todos os sinais para
rão mais ser feitas por humanos. Serão conversa- que aquele fluxo seja liberado. Se não há ne-
ções entre equipamentos. Desde dispositivo de re- nhum pedestre para atravessar, por que parar o
conhecimento de padrões de imagem, que reco- sinal? A tecnologia das coisas é um pouco disso:
nheça, por exemplo, uma pessoa no elevador e já os objetos tomando decisões por nós e tornan-
do nossas vidas mais fáceis.

O Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Re-


cife (C.E.S.A.R), por funcionar dentro do Porto Di-
gital, garante um deferencial aos seus alunos?
O C.E.S.A.R é uma das principais instituições
de pesquisa de tecnologia da informação no
país. Sempre foi muito avançada a sua capaci-
dade de se reinventar e reinventar tecnologias
para diversas indústrias, nacionais e internaci-
onais. O C.E.S.A.R possui um braço, que é o
C.E.S.A.R.EDU, que é a própria faculdade, um
curso reconhecido pelo MEC, que tem toda uma
metodologia específica de geração de conhe-
cimento muito distinta, muito mais inovadora,
uma daquelas exceções que eu mencionei. O
C.E.S.A.R hoje é uma referência não só na par-
te de inovação, como na parte de educação
também, na formação de pessoas. „

Colaborou Vitor Seta

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 17


CASE

'Conhecimento
sem limites'
A viagem tecnológica do Grupo Tiradentes
Giulliana Barbosa

F
oi-se o tempo em que as universi- busca uma instituição de ensino com 1990, Nordeste brasileiro. Uma insti-
dades seguiam os mesmos pa- essas características, a fim de ter uma tuição de ensino de Sergipe decide fa-
drões. Até pelo menos a década boa colocação no mercado de trabalho zer matrículas 100% online, acaban-
de 1980, quase todas eram basicamen- e construir uma carreira sólida. do com as filas quilométricas e o pre-
te uma extensão das escolas. Os alunos Todavia, ele quer mais. E esse mais é enchimento em papel. Uma atitude
ingressavam para se aprofundar em de- possível. Com o processo de globaliza- que para nós, hoje, soa como corri-
terminadas áreas que seriam, futuramen- ção cada vez mais crescente em todo o queira e até mesmo banal. Mas não
te, seus campos de atuação profissio- mundo e as tecnologias cada vez mais para aquela época, quando os primei-
nal. E para que esse processo obtivesse ágeis, hoje “o céu é o limite” no campo ros computadores ainda não haviam
êxito, eram contratados professores com acadêmico, e Educação e Inovação es- nem chegado ao país.
alto grau acadêmico. Hoje, não basta tão cada vez mais atreladas. Foi o que fez a então Faculdade Tira-
apenas isso. É certo que todo estudante Imagine isso: início da década de dentes, que hoje tornou-se o Grupo Ti-

18 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


radentes de Educação. O diretor de Inteligên- partir daí, a então faculdade desenvolveu seu pri- Grupo Tiradentes DIVULGAÇÃO
investe em sistema de
cia Competitiva do grupo e professor universi- meiro sistema de Contabilidade e o primeiro sis- monitoramento dos
tário da Universidade Tiradentes (Unit), Domin- tema integrado de bibliotecas do Estado. recursos de informática
gos Sávio Alcântara Machado, conta que “à É fato que antes da globalização e das Novas
época, havia apenas um provedor de internet Tecnologias de Informação e Comunicação o pro-
em Sergipe, mas que não atendia às necessida- cesso educacional oferecido pelo Grupo Tiraden-
des da instituição. Por isso, a Unit criou o seu tes era bem diferente do atual. Domingos, que
próprio provedor e começou a importar com- também foi diretor de Tecnologia da Informação
putadores dos Estados Unidos. Surgia ali uma e pró-reitor de graduação da Universidade Tira-
das maiores redes de computadores do estado, dentes, relembra como tudo funcionava antes.
com mais de seis quilômetros de fibra ótica in- “O processo antigo era muito focado na pre-
terligando os equipamentos”. sencialidade. Com os investimentos em tecno-
O pontapé inicial foi dado dez anos antes, na logia e o dever social de levar conhecimento a
década de 1980. Segundo Domingos, o profes- regiões onde o acesso até então era inviável, o
sor Jouberto Uchôa de Mendonça (um visioná- Grupo Tiradentes passou a democratizar o aces-
rio, que desde a criação do Colégio Tiradentes, so à Educação Superior, deixando de ter uma
em 1962, sempre teve como foco a inovação) escola centralizada no conteúdo do professor
decidiu adquirir os primeiros computadores de e na sala de aula e passando a criar outros
Sergipe e montar um laboratório de Informática, ambientes de aprendizagem. Assim, a tecnolo-
além de investir na formação de capital humano gia passou a disseminar um conteúdo univer-
e criar o curso de Processamento de Dados. A sal e a sala de aula se tornou um espaço de

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 19


CASE

ampliação das discussões, de networking, de “A parceria disponibiliza para a comunida-


aprimoramento do conhecimento adquirido.” de acadêmica do Grupo Tiradentes todas as pla-
Embora grande parte do foco esteja hoje nas taformas — hangouts, Gmail, softwares de apre-
inovações tecnológicas, o diretor de Inteligên- sentação de documentos, de planilhas — inte-
cia Competitiva do Grupo Tiradentes demonstra gradas ao Magister, portal acadêmico das IES
preocupação também com aqueles que são fun- do Grupo. A segunda iniciativa envolve estru-
damentais para fazer qualquer universidade fun- tura dos laboratórios de informática. Como a
cionar: os docentes. “Eles precisam ser capaci- informação está na nuvem, em tablets, celula-
tados para utilizar as novas tecnologias. Hoje, res e no Tiradentes Chromebook, há uma espé-
os alunos aprendem de maneira diferente, as cie de notebook que salva os arquivos em nu-
salas de aula são muito heterogêneas e o docen- vem e substitui o caderno. É possível que nem
te precisa acompanhar o desempenho desses es-
tudantes, individualmente, para oferecer a cada
um deles a dose necessária de um determinado
“COMO A INFORMAÇÃO ESTÁ NA NUVEM,
conteúdo. Exatamente por isso, a tecnologia não
pode ser mais um peso para o professor, mas EM TABLETS, CELULARES E NO TIRADENTES
sim, algo que facilite a vida dele”, pontuou.
Cada vez mais conectado às Tecnologias da CHROMEBOOK, HÁ UMA ESPÉCIE DE
Informação, o Grupo Tiradentes largou na frente
e uniu-se à empresa Google. Essa parceria está NOTEBOOK QUE SALVA OS ARQUIVOS
fundamentada em duas grandes iniciativas. A pri-
meira delas é o Google for Education, que ofere- EM NUVEM E SUBSTITUI O CADERNO. É
ce aos alunos e professores ferramentas que per-
mitem a interação em qualquer lugar, a qualquer POSSÍVEL QUE NEM TENHAMOS MAIS
hora e em qualquer dispositivo. O Google Class-
room é uma dessas ferramentas, que possibilitam
criação, organização e entrega de tarefas em nu-
LABORATÓRIOS DE INFORMÁTICA NO FUTURO”
vem e uma maior interação com os alunos.

Campus da Unit, em
Sergipe: média de 12 mil
conectados simultaneamente

20 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


CASE

Já no que se refere aos alunos, Domingos


“HOJE, 90% DOS ALUNOS ACESSAM esclareceu como eles são beneficiados com es-
sas inovações. “Estamos cada vez mais flexibi-
DISPOSITIVOS MÓVEIS, E POR lizando para que os estudantes tenham acesso
ao conteúdo a qualquer hora e em qualquer
CAUSA DISSO O GRUPO TIRADENTES lugar, e para que o professor tenha a oportuni-
dade de estabelecer um diálogo com os alunos
CONSEGUIU FIRMAR PARCERIAS COM em outros ambientes além da sala de aula. O
nosso slogan é ‘Conhecimento sem Limites’, e
OS PRINCIPAIS PLAYERS DE MERCADO, COMO isso vale também para a tecnologia. Espaço ili-
mitado, acesso 24 horas e com diversidade de
A CISCO E A HP, ALÉM DO GOOGLE” mídias”, destacou.
Quando o Grupo Tiradentes iniciou a im-
plantação do projeto Tiradentes Digital, de acor-
do com o diretor, houve o entendimento de que
tenhamos mais laboratórios de informática no não bastava colocar um quadro digital ou en-
futuro”, vislumbrou Domingos. tregar um computador por aluno, se não hou-
O representante do Grupo Tiradentes, que vesse uma metodologia que suportasse tudo
tem experiência na área de Ciência da Com- isso. Além disso, ele explica que era preciso
putação (com ênfase em Redes de Computa- deixar todos os ambientes acadêmicos conec-
dores), e na área de gestão, em Planejamento tados, fazer com que qualquer espaço dentro
Estratégico, Inovação e Inteligência Competi- das instituições virasse um espaço de conecti-
tiva, acrescenta. “É importante ressaltar que vidade, colaboração, ensino e aprendizagem.
toda essa tecnologia do Google já é utilizada “Hoje, 90% dos alunos acessam dispositivos
em sete de cada oito universidades norte-ame- móveis, e por causa disso o Grupo Tiradentes
ricanas. No Brasil, o Grupo Tiradentes é um conseguiu firmar parcerias com os principais
dos pioneiros e coloca a Região Nordeste players de mercado, como a Cisco e a HP, além
como precursora.” do Google”, enfatizou Domingos Sávio. „
DIVULGAÇÃO

DIVULGAÇÃO

Aula em laboratório chromebooks:


fruto de parceria com o Google

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 21


ARTIGO
António
Moreira Teixeira
Diretor do Departamento de

Inovar a Educar é Preciso Educação a Distancia da Universida-


de Aberta/Lisboa (Portugal), diretor
do IBSTPI (International Board of
Standards for Training, perfomance
A Emergência de Uma Nova Cultura de Educação and Instruction), professor

Aberta, Flexível, Escalável e Personalizável

N
uma interessante reflexão, a vas e escaláveis. Exige-se que os novos for- “NATURALMENTE,
propósito da obra do empre- matos e modelos de aprendizagem sejam
sário Alencar Burti, Ricardo Vi- adaptáveis a situações e contextos diferen- ESTES NOVOS AMBIENTES
veiros propõe a seguinte máxima: “Ino- ciados, desmaterializados, mais eficientes IMPLICAM ALTERAÇÕES NAS
var é preciso; educar também”. [Vivei- e sustentáveis. Para os novos estudantes,
ros (2016), Empreender é viver: a traje- ou aprendentes, da geração do milénio, é
INFRAESTRUTURAS DAS
tória de Alencar Burti, São Paulo: Edito- fundamental que cada um possa escolher INSTITUIÇÕES EDUCATIVAS,
ra Gente]. A ideia subjacente é a da im- por si próprio, e de acordo com a sua cir-
COMO MAIS E MELHORES
portância do investimento na educação cunstância e interesse, o local, o momen-
para conseguir qualificar a economia bra- to, a forma e o ritmo como aprende. Para COMPUTADORES DISPONÍVEIS
sileira, dado o efeito promotor que esta além disso, deve poder alterar o seu per- PARA ESTUDANTES E
tem na geração da inovação e do empre- curso de aprendizagem no decurso do
endedorismo. Todavia, uma análise mais mesmo e optar pelo modo como essa PROFESSORES, REDES
profunda do problema permite concluir aprendizagem é avaliada e até certificada. INFORMÁTICAS REFORÇADAS,
que para a máxima ser verdadeira, ela Nesse sentido, os próprios conceitos
também deve ser lida no sentido inverso, de educação a distância, de educação ESPAÇOS LETIVOS PREPARADOS
ou seja, da necessidade do investimento aberta e de eLearning têm vindo a trans- PARA A UTILIZAÇÃO DAS
na própria inovação da educação. formar-se igualmente, abrindo lugar a
Na verdade, vivemos hoje um mo- novos formatos mais compatíveis com
TECNOLOGIAS”
mento de transição no domínio educati- o paradigma da educação em rede. Este
vo. Como lembra o acadêmico inglês é o caso, particularmente, da educação
Alan Tait, numa feliz expressão, a paisa- aberta. O sucesso extraordinário do fe- modificar definitivamente a visão tradi-
gem está a mudar no campo da educa- nómeno dos cursos online abertos e cional da escola e da universidade. A
ção. Tal transformação resulta da neces- massivos (Massive Open Online Cour- centralidade da sala de aula e do pró-
sidade de responder aos novos e com- ses - MOOC) veio comprovar, com uma prio professor no processo educativo foi
plexos desafios da nossa sociedade. As- revigorada força, a importância da ino- substituída por uma nova realiadade frag-
sim, nos últimos anos, temos vindo a as- vação em rede das práticas educativas. mentada em milhões de ambientes per-
sistir à expansão vertiginosa de práticas Em apenas seis anos, o fenómeno tor- sonalizados de aprendizagem, cada qual
educativas inovadoras enriquecidas pela nou-se viral. Segundo dados recolhidos centrado num estudante específico.
tecnologia e também de formas virtuais pela Class Central, o número de utiliza- Naturalmente, este fenómeno não dei-
de ensino e aprendizagem. Este fenóme- dores registados neste tipo de oferta ul- xa de encontrar resistências e críticas. A
no tem muitas e variadas causas. Desde trapassou já os 35 milhões em 2015, ten- dificuldade maior resulta da confluência
logo, a globalização económica e a con- do quase duplicado o valor do ano ante- no nosso percurso de aprendizagem ao
sequente necessidade de internacionali- rior. Mais de 600 universidades em todo longo da vida de vários tipos distintos de
zação da oferta educativa. Mas, também o mundo oferecem presentemente cerca aprendizagem. Por exemplo, qualquer um
o impacto impacto social e cultural da de 6.000 cursos abertos e online. Estes de nós pode frequentar um curso aberto
assimilação das novas tecnologias, em dados identificam uma evolução extra- e livre, adquirindo no final um certifica-
particular dos dispositivos móveis e das ordinária, uma vez que, em 2011, ape- do. Essa certificação comprova uma de-
redes sociais, que contribuiram para a nas estavam registados 160.00 usuários. terminada experiência de aprendizagem
construção de uma sociedade em rede, O sucesso sustentado destas práticas e tem valor como tal. Mas, não é um di-
para o qual nos alertou o grande soció- tem conduzido instituições e decisores ploma académico formal. Neste sentido,
logo espanhol Manuel Castells. políticos a olhar para a aprendizagem é clara a distinção. Todavia, cada vez mais
O processo de reorganização em rede aberta como especialmente adequada não se dá um aproximação entre contextos for-
da nossa sociedade tem criado a necessi- apenas à promoção da inclusão social, mais, informais e não fomais de aprendi-
dade de adoção de novas formas de apren- mas também à inovação pedagógica e à zagem. Assim, por exemplo, a frequência
dizagem não só mais flexíveis, do ponto internacionalização da oferta educativa. de MOOCs constitui já hoje parte das ati-
de vista espacial e temporal, mas também Este novo cenário pujante da inova- vidades curriculares de muitos cursos uni-
mais abertas e personalizáveis, colaborati- ção educativa baseada tecnologia veio versitáriso formais. Tanto pode ser utiliza-

22 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


ARTIGO

do como um recurso de aprendizagem, cia de conhecimento que os autonomi- ta também introduzir uma cultura ge-
no âmbito de uma exeriência de sala de ze, enquanto agentes de mudança. neralizada de partilha de conhecimento
aula invertida, como constitir uma parte É neste contexto que se coloca neces- e colaboração, uma atitude aberta, de
do programa de uma unidade curricular sariamente a questão da inovação na edu- espírito crítico e sentido de inovação.
ou de um seminário, e até mesmo substi- cação, em particular a que se prende com É um fato que nas últimas décadas, um
tuir uma unidade inteira. Neste contexto, a utilização da tecnologia. Com a difusão pouco por todo o mundo, muitas têm sido
a mistura entre os contextos diferencia- de um conjunto de inovações pedagógi- as iniciativas e o investimento público na
dos de aprendizagem (formal, informal e cas, que vão desde os cursos abertos aos inovação tecnológica do ensino. Como é
não formal) coloca hoje um conjunto de ambientes virtuais imersivos, dos elemen- conhecido, nem sempre esse esforço tem
problemas novos e complexos. tos de gamificação à renovada importân- conduzido a resultados positivos ou ani-
Todavia, os novos cenários de apren- cia dos instrumentos de descrição analíti- madores. Muitas dessas iniciativas obede-
dizagem de natureza impõem novos va- ca da aprendizagem, uma nova geração ceram apenas a critérios de oportunidade
lores e uma nova cultura educativa. Com de universidades e escolas, organizadas política ou tendências internacionais.
efeito, a aplicação de conceitos tradicio- como ambientes de aprendizagem híbri- Como aponta o relatório “Students, Com-
nais na avaliação de experiências inova- dos, abertos e flexíveis, está a emergir. puters and Learning: Making The Connec-
doras pode ser inapropriada. A título de Naturalmente, estes novos ambien- tion”, da OCDE (2015), a utilização inten-
exemplo, a crítica mais comum que se tes implicam alterações nas infraestru- siva da tecnologia não melhora por si só
coloca aos MOOCs relaciona-se com as turas das instituições educativas, como os resultados de aprendizagem. É a sua uti-
baixas taxas de conclusão dos seus parti- mais e melhores computadores dispo- lização enquadrada em estratégias peda-
cpantes. Este juízo, porém, deriva de uma níveis para estudantes e professores, re- gógicas devidamente desenhadas e vali-
perceção incorreta, porque baseada num des informáticas reforçadas, espaços le- dadas que permite alcançar esse objetivo.
cultura de aprendizagem diferente da ve- tivos preparados para a utilização das A chave é, pois, a inovação pedagógica.
rificada num MOOC. Num curso online tecnologias. De igual modo, é impor- Inovar a educar é preciso, cada vez
aberto, muitos dos participantes têm ex- tante reforçar a quantidade e qualida- mais! Como lembrava Andreas Schlei-
periências de aprendizagem bem sucedi- de dos conteúdos digitais disponíveis cher, os sistemas escolares necessitam de
das sem realmente concluírem o curso ou na rede, preparar os professores para a encontrar formas mais eficientes de inte-
realizarem qualquer avaliação, o que se compreensão e utilização da tecnolo- grar a tecnologia no ensino e na apren-
prende com a granularidade diferencia- gia em contexto de inovaçao pedagó- dizagem, de modo a cumprir as promes-
da destes programas e a diferente motiva- gica, e assegurar bons níveis de litera- sas do novo milénio. Esta é uma respon-
ção de quem os frequenta. cia digital dos estudantes. Todavia, não sabilidade coletiva das comunidades
À medida que a aprendizagem se tor- basta apenas este investimento. Impor- educativas e da sociedade em geral.„ „
na mais personalizada e flexível, a ofer-
ta formativa tem também de se diferen-
ciar, exigindo, consequentemente, uma
nova cultura institucional, com novos
valores. No atual contexto globalizado,
o desafio da aprendizagem passa, pois,
necessariamente pela sua sustentabili-
dade em larga escala, pela sua escala-
bilidade e pelo potencial de partilha de
conhecimentos e experiências.
Na verdade, a ideia que nos deve nor-
tear no campo da educação no contex-
to presente não é já a da acumulação e
transmissão do conhecimento, mas a da
capacidade de o mobilizar para a mu-
dança, ou seja, de o tornar um conhe-
cimento transformador, o qual conduza
à mudança social positiva.
Neste sentido, a questão que se co-
loca aos educadores não pode ser ape-
nas de como educar para a inovação,
de como transmitir um conjunto de co-
nhecimentos e experiências, mas de
como poderemos construir em colabo-
ração com os estudantes uma experiên-

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 23


EVENTOS FVPS
MULTIPLICADORES

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7NVTCRCUUCFCPºQ
Conheça exemplos de escolas que apostam nas tecnologias para
seduzir os alunos e incrementar a aprendizagem
Paulo Chico

“F icar à margem na adoção das TIC’s


no espaço escolar pode resultar
em diversos ônus. O aluno tam-
bém necessita perceber-se produtivo,
nologia Educacional do Colégio Viscon-
de de Porto Seguro. Com três unidades
principais, sendo duas na cidade de São
Paulo e outra em Valinhos, a instituição
leiras — inclusive as particulares. É jus-
tamente neste segmento que o país apre-
senta maior atraso em relação a experi-
ências inovadoras em curso, sobretudo,
sendo capaz de realizar, produzir, cons- é uma espécie de oásis no deserto de em países da Europa.
truir e criar.” A afirmação é de Joice Lo- recursos tecnológicos que insiste em cer- As explicações para tamanha resistên-
pes, coordenadora institucional de Tec- car a maioria das escolas básicas brasi- cia às mudanças são muitas e passam, fun-

24 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


MULTIPLICADORES

preciso fazer a leitura do mundo para


poder fazer a leitura da palavra. A escola
precisa ser menos abstrata. Deve partir do
mundo que o seu aluno está para cons-
truir algo maior, o conhecimento. Partir
da música que ele curte, do filme que ele
vai ver e comenta com os colegas, do as-
sunto que mais lhe interessa, do rap que
vai dançar... Uma escola abstrata afasta
as crianças e os adolescentes que ali es-
tão. Do jeito que está, a escola não é for-
mal... Temos, em média, uma escola for-
mol, que preserva alguns cadáveres”, con-
dena o filósofo Mário Sérgio Cortella.
“O Visconde de Porto Seguro desenvol-
ve há muitos anos o uso das TIC’s. Há sem-
pre a preocupação constante em atualizar-
se sobre as tendências, as necessidades, a
utilização de um critério que permita ava-
liar qual é o impacto positivo e de melho-
rias que surgem. A nossa área de tecnolo-
gia educacional tem várias frentes que atu-
am de forma não linear e que atendem alu-
nos e professores de todos os níveis e em
todas as áreas”, relata Joice Lopes.
Para quem prefere o exemplo prático à
teoria, a educadora cita uma experiência
concreta, em pleno curso. “Em 2014, lan-
çamos o projeto Tablet para os alunos de
9º ano. Todos os alunos e professores desta
série receberam um iPad. O objetivo foi
trazer para a sala o iPad como apoio à co-
laboração, acesso à informação, expressão
e representação das ideias e pensamentos.
Essa mudança exigiu a integração da tec-
damentalmente, pelo conservadorismo de hoje tem acesso a um smartphone. Se nós, nologia com o currículo, trouxe nova for-
pais e professores — em contraste com os professores, utilizarmos este recurso de for- ma de interação entre os envolvidos. Hoje,
desejos de uma geração de alunos que já ma a atender um novo jeito de ensinar e todos os alunos de 9º ano, 1º e 2º Ensino
nasceu mergulhada em tecnologias. “Os aprender, daremos um salto importante Médio têm um iPad para seus estudos. E
motivos são os mais variados. Eu conside- nesse processo”, aponta Joice. até 2018 avançaremos com a adoção do
ro como um dos principais a falta de uma A proposta de reforma do ensino mé- tablet na lista de material escolar. A im-
política clara e objetiva sobre o uso das dio, apresentada em setembro pelo go- portância está no processo, em como o
TIC’s no segmento do ensino fundamental verno Michel Temer, inicialmente apon- aluno aprende. E em como o professor
II e médio. Há muitos conteúdos, platafor- tou itens polêmicos, como a supressão de aprende a aprender com as TIC’s. Esse
mas, aplicativos no formato REA (Recur- disciplinas. Porém, mais uma vez, nada último considero ser o maior ganho. É
sos Educacionais Abertos), existem redes sugeriu no sentido de aproximar as esco- constante o relato de maior interesse e
de educadores globais que colaboram en- las das tecnologias. “O grande pernam- engajamento quando as ações incluem a
tre si. A grande maioria dos nossos alunos bucano Paulo Freire me ensinou que é utilização das TIC’s.”

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 25


EVENTOS FVPS
Colégio Bandeirante,
de São Paulo, mantém Personalização da aprendizagem é a tendência
todas sua estrutura
de comunicação
armazenada em nuvem Outro pioneiro no incremente de TIC’s apli- O especialista defende a tese de que os pais
cadas ao processo de ensino é o Colégio Ban- não são o gargalo dos avanços: em geral, eles
deirantes, também localizado em São Paulo, no assimilam bem as inovações, apoiam e gostam
bairro da Vila Mariana. A instituição já se utiliza principalmente da velocidade da informação.
da parceria com a Microsoft desde o extinto pro- “Ter acesso a dados dos filhos, em tempo real,
grama Live@Edu, que na época basicamente ofe- sabendo o que acontece em sala de aula, dá aos
recia o e-mail e o armazenamento do OneDri- pais a possibilidade de redirecionarem os esfor-
ve. Por volta de 2010, o colégio migrou toda sua ços nos estudos. Eles podem ainda ajustar even-
estrutura de e-mail, que se utilizava de servido- tuais problemas de comportamento, e se comu-
res internos, para a nuvem da Microsoft. A mu- nicar facilmente com a instituição. A cada nova
dança inicial foi acompanhada de uma capaci- tecnologia ou melhoria, somos mais exigidos na
tação para utilização do novo webmail. exatidão da informação e no tempo em que ela
Em meados de 2012, o Bandeirantes iniciou é disponibilizada. Este é um bom desafio.”
a migração para o Office 365. Com os demais Diretor da instituição, Hubert Alquéres escre-
benefícios que a parceria oferecia, a aplicabili- veu recente artigo que ajuda, e muito, a com-
dade pedagógica começou a se solidificar, prin- preender as apostas feitas pelo colégio. “As mai-
cipalmente por meio de ferramentas de integra- ores dificuldades estão no ensino médio, que
ção, como SharePoint, OneDrive for Business, permanece com um currículo excessivamente
OneNote, Office para alunos e professores. As acadêmico e inteiramente desconectado da re-
plataformas de LMS trouxeram maior dinamis- alidade do mercado de trabalho. Por isso, é pou-
mo às aulas, possibilitando rápidas avaliações, quíssimo atraente para os jovens. Prova disso são
com apuração de resultados imediatos. a elevadíssimas taxas de evasão. O país está in-
A partir dos primeiros investimentos estava teiramente em descompasso com o mundo. A
aberta a porta para uma entrega diferenciada. educação vive hoje um momento de transição,
“Com tanta possibilidade de interoperabilidade em escala planetária. Nossas salas de aula e o
de informação decidimos que a mobilidade e o modo de ensinar deveriam estar acompanhan-
BYOD eram necessários para fazer esta ‘máqui- do novos tempos. É inexorável que as escolas
na’ funcionar. Fornecer um equipamento ‘do co- estejam muito diferentes em poucos anos.”
légio’ nunca nos pareceu boa opção. A ideia é Joice Lopes segue a mesma linha. “No cená-
que o aluno tenha o ‘seu’ dispositivo, com a sua rio em que se apresenta a era digital, as tecnolo-
cara, seus aplicativos pessoais, aliados aos peda- gias têm o potencial de personalizar o processo
gógicos, trazendo uma melhor experiência, sem de ensino-aprendizagem, contribuindo para um
restrições ou políticas para dispositivos ‘corpora- dos grandes desafios: a adoção de um ensino
tivos’. Com esta estratégia, a adesão foi imediata, individualizado. O professor que se reconhece
e o tablet já faz parte do cotidiano desses estu- como protagonista de sua prática e usa as TIC’s
dantes, seja na atividade em sala de aula, nos de modo crítico e criativo, coloca-se em sinto-
intervalos, na biblioteca ou simplesmente tiran- nia com as linguagens e símbolos que fazem
do uma foto da matéria escrita na lousa para con- parte do mundo do aluno. Aproxima-se dele.
sulta futura”, apontou Alexandre Cury, gerente de Conquista o respeito, pois procura entender o
Tecnologia da Informação do Bandeirantes. universo de conhecimentos dos estudantes”.

26 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


MULTIPLICADORES

Papel do professor e investimentos


Se falar de educação é discutir limites, estes são extremamente atraentes. No final de 2014, o
também estão presentes na equação que leva colégio concluiu a migração de todos seus servi-
em conta fatores como tradição e inovação. dores internos, de arquivo, ERP, banco de dados,
“Certamente existe um limite para uso de tec- autenticação, para a nuvem - Microsoft Azure. Ale-
nologia em sala de aula, ainda mais quando xandre Cury garantiu que, durante todos esses anos,
falamos de interdisciplinaridade, ou de fixar um a viabilidade deste tipo de investimento terceiriza-
contexto explicativo e didático. Aqui, no Ban- do foi plenamente demonstrada junto à direção,
deirantes, fixamos uma premissa básica na apli- contando com sua aprovação. Os benefícios, dis-
cação de tecnologia: em primeiro lugar, o pro- se ele, foram logo revelados. E são incontestáveis.
fessor deve estar confortável com as ferramen- “Em relação às outras escolas, vejo muito des-
tas disponibilizadas. Se por um momento ele conhecimento quando falamos de ‘nuvem’. Os di-
decidir que não tem o ferramental necessário, retores têm medo em relação à segurança dos da-
não sentir segurança em aplicar tal ferramenta dos, disponibilidade e preço. Não vou dizer que
ou simplesmente não estiver confortável, ele acertamos sempre, muito pelo contrário! Erramos,
não precisa usar, e não precisa se justificar so- e aprendemos com nossos erros. Mas hoje temos FOTOS: EVENTOS FVPS

bre. A área de tecnologia do colégio está sem- a mais absoluta certeza que este é o caminho. Fi-
pre à disposição para auxiliá-lo e nunca para car pensando em investir em equipamentos e ser-
julgá-lo. Só assim é possível estabelecer uma vidores é um erro tremendo. Em primeiro lugar,
relação de confiança. A ruptura não é uma op- pela obsolescência natural dos componentes, a es-
ção”, explicou Alexandre Cury. cola sempre terá que investir em novos equipa-
Joice Lopes defende a inserção das TIC’s como mentos, mais espaço em disco, soluções de ba-
algo natural. “Se observarmos pelo lado inovador ckup, energia, ar-condicionado, segurança, entre
da aplicação das TIC’s na educação, não acho que outros custos diretos e indiretos”, enumerou Cury,
existam limites. Assim como os livros fazem parte que segue em sua análise.
da cultura educacional, as TIC’s deveriam fazer
parte de forma simples e dinâmica, num contexto
em que todos os aparatos disponíveis ficassem à
disposição e fossem utilizados conforme as deman-
das apresentadas. Dessa forma, alunos e professo-
res poderiam escolher os melhores recursos e fer-
ramentas de acordo com a necessidade do projeto
ou a habilidade a ser aprendida. É preciso quebrar
o modelo tradicional. No Visconde de Porto Segu-
ro, iniciamos em 2016 o nosso currículo de letra-
mento digital, que prevê o ensino de programação
para os alunos de ensino fundamental I. Para 2017,
avançaremos com esse currículo para as turmas
de 6º e 7º anos”, revelou.
Na questão de investimento é praticamente
impossível mensurar o nível de recursos necessá-
rios, por parte de uma instituição de ensino, até a
aplicação de ferramentas em tão larga escala. O
básico é contar com conexão com internet, ante- “O armazenamento em nuvem dá liberdade Salas de robótica, comuns
nos laboratórios maker,
na Wifi, alguns computadores, softwares e acesso para a área pedagógica: se um professor chega estão se tornando cada vez
a plataformas open source. Um caminho cada vez com um novo projeto que vai demandar X Tera- mais comuns nas escolas
mais adotado é a parceria com empresas que hoje bytes de espaço em disco, e mais X capacidades que investem nas
tecnologias educacionais
investem em projetos de implementação de tec- de memoria RAM, no modelo tradicional a res-
nologias. Não gastar com estrutura própria é uma posta imediata é ‘não’! Afinal, quem vai com-
alternativa para otimizar os recursos. prar tudo isso, em tempo hábil, e depois deixar
No Bandeirantes, além de professores e alu- parado? Ninguém! Na nuvem, em apenas um
nos, os responsáveis também têm contas no Offi- clique, o professor já sai com seu projeto viabi-
ce 365 para envio de comunicações pedagógicas. lizado. Quando o termina, um outro clique ‘di-
Se utilizando dos benefícios da parceria, os custos minui’ a conta imediatamente”.

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 27


MULTIPLICADORES Tecnologia não é tudo.
Mas ajuda bastante

Vivendo e aprendendo a jogar Para os adeptos da tecnologia como iní-


cio, meio e fim, segue o recado de Alexandre
O maior desafio para a nova gera- cortadores de papel. Isto é, vale de tudo. Cury, para quem as coisas, definitivamente,
ção de educadores é utilizar a tecnolo- Dos equipamentos mais rudimentares não se dão bem assim. “O papel da tecnolo-
gia para colocar o aluno como prota- gia não é de protagonista absoluta. Quem
até às mais inovadoras das tecnologias.
achar que, a partir dela, conseguirá substi-
gonista da aula. “Imagino o professor “Quando falamos de tecnologia em
tuir por completo o modelo tradicional de
como um gestor de projetos: ele pro- sala de aula, creio que algumas esco-
ensino estará fadado ao insucesso. A tecno-
põe um desafio de estudo com objeti- las pensam em implantação em 100%
logia é, na verdade, uma coadjuvante de luxo.
vos claros, orienta os grupos de alunos, dos casos, em massa, algo igual e obri-
Eu diria, mesmo, algo necessário para uma
que preparam seus trabalhos e os apre- gatório para todos. Isso é um erro! É
educação de qualidade e adaptativa à neces-
sentam para toda a classe e para o ges- impossível! Estamos falando de profes-
sidade do aluno. Já aprendemos que apre-
tor — o professor. Nesta dinâmica, o sores diferentes, e a escola deve res-
sentar o mesmo modelo para todos faz com
aluno se sente valorizado! E aprende peitar estas diferenças, e dar a opção
que alguns fiquem desmotivados. O segredo
pelo desafio, pela consulta online, pe- de quem, quando e como usar. Não dá
é conhecer os pontos fortes e fracos de cada
los acertos e erros! Afinal, não é assim para ser ditatorial e dizer: ‘agora que
um, e temos a certeza que isso é impossível
que aprendemos depois de adultos? Por compramos, todo mundo tem que sem o apoio da tecnologia”, sentenciou.
que não começar mais cedo?”, questi- usar!’. Se for feito assim, já começou Se, por si só, não resolvem a equação
onou Alexandre Cury. errado, e a única certeza é que vai ter- por inteiro, as tecnologias exigem das esco-
Em 2016, o Bandeirantes iniciou o minar logo! A palavra-chave em tudo las atenção ao que acontece a sua volta. “Es-
projeto de STEAM Education, onde os isso é capacitação. É preciso saber se- tamos sempre buscando novas soluções e
alunos têm aulas com dois, três, até qua- duzir os professores, mostrando os be- parceiros. Também somos bastante assedia-
tro professores, alguns fixos, outros vo- nefícios... Nunca jogar algo novo e dos. Normalmente, de início, não descarta-
lantes. A proposta é interdisciplinar. Na achar que todos vão fazer o mesmo! mos nenhuma das opções. No mínimo, va-
mesma aula podem estar mestres de Ge- São pessoas e não robôs!”, filosofou mos conhecer, precificar e manter contato.
ografia, Matemática e Artes. Os estudan- Alexandre Cury. Estamos sempre participando também das
tes são provocados com um desafio real Joice Lopes defendeu uma posição melhores e maiores feiras de tecnologia edu-
e prático envolvendo as disciplinas do conceitual. “Mesmo jovens professores cacional, como a ISTE. Fazemos adequações
cardápio do dia. Os mestres só vão ori- resistem ao uso das TIC’s, porque sen- em ferramentas que normalmente ninguém
entando as atividades e analisando ca- tem-se mais seguros em reproduzir o pensa em utilizar na educação. Desde o iní-
racterísticas dos alunos, tais como par- modelo aprendido. O professor não cio do ano estamos utilizando o Power Bi da
ticipação, desenvoltura, apresentação, precisa de treino. Precisa é reconhecer Microsoft, consolidada em outras áreas. Por
resultado final. Assim, a avaliação é fei- que está formando pessoas, e que a es- meio dela, é possível identificar graficamen-
ta também a partir de competências e trutura cognitiva de aprendizagem já é te e rapidamente os alunos que precisam de
habilidades, e não simplesmente com outra, e que cabe a nós reconhecer a alguma ajuda, em qual disciplina, em que
notas frias, desprovidas de percepção. potencialidade dos recursos midiáticos. área, seja a partir da verificação de notas e
Durante essas atividades, os grupos po- E que podemos aprender com os alu- faltas, ou mesmo apoio comportamental”.
dem trabalhar com impressoras 3D a nos num modelo colaborativo.” Mais do que uma decisão binária — ade-
rir ou não às tecnologias, eis a questão? —
o desafio que se apresenta às escolas é uma
EVENTOS FVPS

prova de equilíbrio. “O primeiro passo é a


escola decidir qual caminho seguir, se vai ou
não disponibilizar recursos. O grande desa-
fio está nas mãos do professor: é saber do-
sar estes dois momentos. Sentir a turma, ve-
rificar a viabilidade do conteúdo que será ex-
plicado... Qual melhor modelo para cada
caso? É possível ter uma aula completamen-
te tecnológica e outra didática, no quadro.
Mas, perceba: mesmo este quadro, esteja ele
escrito a pilot ou giz, certamente será foto-
grafado pela maioria dos alunos, com seus
smartphones”, brincou o especialista.
Está vendo só? Não tem jeito. É melhor
aderir à tecnologia. De uma forma ou de ou-
tra, também nas salas de aula, ela para sem-
pre estará presente.„ „

28 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


TENDÊNCIA

1CNWPQ
é mesmo o fim
Longe de crítica aos estudantes, Irineu Gianesi defende que tudo deve
servir de suporte ao Aprendizado Centrado no Aluno
Paulo Chico

“O importante não é o que o pro-


fessor vai ensinar, e sim o que
o aluno vai aprender. E quan-
do digo aprender não se trata apenas de
caz quando o aluno está motivado para
aprender. Intrinsecamente motivado, como
dizemos. Há formas de construir a experi-
ência de aprendizagem de forma a induzir
Interação é a palavra de ordem. Para
Gianesi, o aluno não aprende simples-
mente vendo ou escutando. Necessita e
quer bem mais do que isso. “Precisa re-
conhecer o conteúdo, mas de saber como esta motivação”, apontou o especialista, fletir, experimentar, errar, refletir sobre o
e quando aplicá-lo, saber avaliar fenôme- mestre em Engenharia de Produção pela erro, até dominar o conhecimento no ní-
nos a partir do conhecimento e ser capaz Escola Politécnica da USP. “Há hoje uma vel desejado. Isto requer que tudo isso seja
de criar coisas novas a partir dele.” Foi infinidade de novas ferramentas emergin- levado em conta dentro da sala de aula.
assim que o diretor de ensino, aprendiza- do que podem afetar positivamente o pro- Nas palavras de Lee Schulman, professor
gem e assuntos acadêmicos do Insper Ins- cesso de ensino e aprendizagem. Na mai- emérito da Stanford University e da Car-
tituto de Ensino e Pesquisa, Irineu Giane- oria das vezes, elas estão relacionadas à negie Fundation for Advancement of Tea-
si, definiu o conceito do Aprendizado Cen- própria experiência de aprendizagem, per- ching e especialista em formação de do-
trado no Aluno — tendência que vem ga- mitindo outras formas de acesso ao co- centes e avaliação do ensino, quem apren-
nhando espaço nas instituições de ensino nhecimento e processos mais colaborati- de precisa falar, e quem ensina precisa es-
superior, e que tem nas tecnologias apli- vos, ou à análise de dados gerados, o que cutar, para poder avaliar e dar retorno. A
cadas à educação companheira de viagem. permite compreender melhor e individu- maioria dos professores ainda acredita que
“O processo de aprendizado é mais efi- alizar a mediação da aprendizagem.” o processo é o contrário”, lamentou.

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 29


TENDÊNCIA

Primeiro passo é reforma curricular


Ao lado dos recursos tecnológicos, ou mes- curso junto com o corpo docente.”
mo antes deles, é preciso pensar no ponto de Ao final do primeiro semestre, foi possível ter
partida: os currículos, que precisam ser refor- ampla amostragem do que havia sido produzido
mulados. “Isso é necessário em função de vári- pelos estudantes, em pouco mais de quatro me-
os fatores: demandas de mercado, mudança no ses: brinquedos inspirados em animais e avalia-
perfil dos alunos e no seu estilo de vida, alta dos por crianças de ensino fundamental, na dis-
disponibilidade de informação acessível e gra- ciplina de Natureza do Design, jogos e progra-
tuita, acesso a novas tecnologias e avanço do mas de software realmente utilizáveis e úteis, na
conhecimento em ensino e aprendizagem. Os cadeira Design de Software, e uma estação mete-
currículos hoje requerem uma visão mais abran- orológica, fruto dos estudos de Instrumentação e Irineu Gianesi, diretor
gente. O foco sempre foi no conteúdo e é ne- Medição, foram alguns exemplos. Experiências de ensino, aprendizagem
e assuntos acadêmicos
cessário pensar no desenvolvimento de compe- criativas e inovadoras, propiciadas por um ambi- do Insper Instituto de
tências e nos níveis cognitivos que se almeja para ente dedicado à experimentação: o Fab Lab. Ensino e Pesquisa
o aprendizado. No Insper o desenvolvimento dos
currículos dos cursos de Engenharia, iniciados

DIVULGAÇÃO
em 2015, seguiu este novo processo e gera re-
sultados muito interessantes”, contou.
Gianesi se refere aos três cursos de Enge-
nharia lançados no ano passado — Computa-
ção, Mecânica e Mecatrônica. O método de
ensino é baseado no Olin College of Enginee-
ring, de Boston (EUA), em que os alunos são os
protagonistas do próprio saber. “É uma experi-
ência fantástica presenciar esses jovens real-
mente assumindo a responsabilidade pelo seu
aprendizado. Esta primeira turma é especial.
Ela traz o DNA da inovação e do pioneirismo,
pois se engajou no desafio de construir o seu

Um laboratório dedicado à inspiração


“O Fab Lab é uma plataforma aberta de cria- deira e aço, como furadeiras, lixadeiras e serra
ção que tem como objetivo reunir pessoas cria- de fita. E não há preconceitos em relação ao
tivas de diversas áreas para, de forma colabora- tempo. Nem toda tecnologia é de ponta, em-
tiva, materializar ideias por meio do uso da fa- bora algumas utilizem agulhas.
bricação digital. O conceito foi criado pelo Cen- “Temos inclusive máquinas de costura, an-
ter for Bits and Atoms, um laboratório do MIT tecipando que muitos protótipos poderiam re-
(Massachusetts Institute of Technology), em Bos- querer esse tipo de operação na sua confec-
ton. Ele criou uma rede que conta com quase ção. Bancadas diversas, inclusive para mon-
300 laboratórios ao redor do mundo. O Insper tagem eletrônica completam a infraestrutura.
Fab Lab é o primeiro Fab Lab brasileiro dentro Mas vamos lembrar que este é um ambiente
de uma escola de engenharia, e tem como obje- dinâmico que deve se adaptar às necessida-
tivo ser um conector entre estudantes, empreen- des impostas pelas diversas disciplinas. E ali
dedores, interessados no movimento maker e a recebemos não só os alunos dos três cursos
comunidade em geral. Aprender com os pares e de Engenharia, mas também os estudantes de
executar projetos são estratégias fundamentais Administração e Economia. Todos interagem,
para que a inovação e o aprendizado surjam.” todos estão se estimulando a pôr a mão na
Como um laboratório de fabricação digital, massa para realizar seus sonhos e projetos”,
o Insper Fab Lab conta com impressoras 3D, empolgou-se Gianesi, que soma quase três dé-
cortadora a laser, fresadoras de controle numé- cadas de atuação como consultor de empre-
rico, cortadora de vinil, além de outros equi- sas como Embraer, Natura, 3M, Unilever, Sou-
pamentos mais comuns para trabalho em ma- za Cruz, Rhodia e Itautec-Philco.

30 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


TENDÊNCIA

Professor é peça vital para a inovação


Tamanha evolução depende da adesão do pro- Para o pesquisador, há que se ter cuidado com
fessor. “Para tudo dar certo, o principal desafio é modismos e exageros de interpretação. Menos do
atrair o corpo docente adequado. Os professores que uma ‘revolução’, o emprego das tecnologias
devem ser empreendedores, comprometidos com na aprendizagem representa uma ‘evolução’. “A
o ensino, com habilidade e motivação para traba- tese de que elas vieram ‘refundar’ a educação é
lhar com alunos de graduação que vão lhes desa- um discurso de quem vende tecnologia... Na ver-
fiar a todo o momento, pois diferente de outros dade, o que pode ‘refundar’ todo o processo é
ambientes de graduação, não estão passivos, es- justamente o conceito de Aprendizagem Cen-
perando que os professores lhes mostrem o cami- trada no Aluno. Veja que não se trata de um con-
nho. Há um problema geracional, pois a maioria ceito novo e está baseado em sólida pesquisa
dos professores atuais não aprendeu com tecno- acadêmica, mas paradoxalmente, é ainda pou-
logia e muitos não se sentem confortáveis com co difundido no ensino superior. Sua aplicação
ela. Se pode trazer benefícios para o aprendiza- pode se beneficiar de tecnologia, mas absoluta-
do, ela pode também lhe aumentar a carga de mente não requer sua utilização, pois é pratica-
trabalho, sem que necessariamente isto seja re- do em algumas instituições há muito tempo,
conhecido pela faculdade. Por isso, acredito que muito antes de a tecnologia estar disponível.”
o foco de quem deseja a mudança deva ser a cons- De concreto, resta a certeza de que há mui-
cientização e formação do professor.” tas opções para se percorrer o longo caminho
A mudança de mentalidade, e de comporta- até o amadurecimento da formação dos alunos
mento, precisa ocorrer também na direção das ins- brasileiros — e que as tecnologias podem aju-
tituições de ensino. “Essas estão entre as organiza- dar a imprimir velocidade à viagem. “A carência
ções que mais apresentam resistência a mudan- de educação de qualidade no Brasil é tão gran-
ças. Seja por seus processos de governança cole- de que quem se propuser a prestar um serviço
giados ou pelo poder que está nas mãos do diri- de qualidade com eficiência sempre terá espa-
gente, que é o profissional especialista. Se o diri- ço. Obviamente, aplicar as inovações em favor
gente for um professor, embora muitos deles te- deste binômio — qualidade no aprendizado e
nham um espírito empreendedor e busquem cons- eficiência — só pode favorecer as instituições.
tantemente a inovação na sua atividade, acredito Mas não devemos nos esquecer que a tecnolo-
que a maioria ainda não enxergue com clareza os gia é apenas um meio. O fim é mesmo o apren-
benefícios que a tecnologia pode lhe trazer.” dizado do aluno.” „

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 31


ARTIGO
Stavros P.
Xanthopoylos
Educador, Fundador

Qual deve ser a e Diretor da SPX Consultoria,


Diretor Internacional da ABED

Estratégia Educacional
na Era Digital?
V
ivemos um momento impar no os ambientes educacionais para gerarmos vislumbram vertentes que devem ser con-
Mundo de hoje, passando por uma cidadãos digitais, entendendo-se aqui que sideradas para estabelecimento da estra-
fase de transição com o alto im- esse esforço deve permitir que todas as tégia nessa nova era da Educação no am-
pacto da tecnologia na vida do indivíduo gerações possam ser efetivas como cida- biente digital. As tecnologias de integra-
no âmbito pessoal, profissional e educaci- dãos e profissionais nessa nova era global ção permitem que se estabeleça uma dis-
onal. Vimos a possibilidade plena de inte- da economia do conhecimento. tinção entre educação premium ou de
ração do usuário com a internet e suas apli- A dinâmica de relacionamento entre acesso, caracterizando estratégias de ni-
cações, com a introdução das ferramentas as partes nos modelos tradicionais e for- cho com impacto significativo nos aspec-
da Web 2.0, e a sociedade em rede tomar mais de ensino e aprendizagem preveem tos relacionados à eficácia operacional
corpo por meio das redes sociais media- alunos, professores, conteúdo e proces- dos processos educacionais, com impac-
das por computadores e nossos dispositi- sos de avaliação/certificação, próprios, en- to direto na sustentabilidade do negócio.
vos smart, como descreveu Tapscott. Inten- quanto esse novo cenário permite o cru-
sificamos nossas relações entre indivídu- zamento de qualquer um destes entes ou
os, grupos ou instituições com interesses elementos, compondo o novo mercado “O ALUNO MAIS ATIVO,
convergentes e as relações de muitos com potencial. Além disso, é previsto pela A FACILIDADE DE ACESSO À
muitos. Essa nova globalização caracteri- Unesco para 2030 que teremos mais de INFORMAÇÃO, A INTEGRAÇÃO E
za uma quebra de barreiras mais profunda 400 milhões de alunos potenciais para o
VISÃO SISTÊMICA APLICADA AO
que o movimento da globalização mercan- ensino superior, além do desafio premen-
tilista que vivemos a partir da década de te de capacitar os imigrantes digitais para PROCESSO DE APRENDIZAGEM
80 do século XX, pois gera um ambiente as novas condições de vida e do mercado ACELERAM O PROCESSO DE
de pontos, ou hubs, potencialmente co- com maiores demandas profissionalizan- FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO, ASSIM HÁ
nectáveis conforme interesses das partes tes. O formato taylorista da educação está UMA TENDÊNCIA DE REDUÇÃO DOS
em gerar essas relações, transcendendo com sua validade vencida e não apto a
qualquer limite. Pois, essa nova configura- atender as novas demandas e muitas uni- TEMPOS DE DURAÇÃO DOS CURSOS”
ção de conectividade e interação cria uma versidades e instituições de ensino irão
nova dimensão de comunicação através desaparecer se não adequarem o seu mo-
de um ciberespaço de integração que nos delo. Atualmente, o único país que esta- Outra variável fundamental está asso-
une virtualmente nessa realidade. beleceu uma ação nessa direção e está ciada à forma de cobrar a oferta, cujo for-
Os movimentos de Recursos Educaci- desdobrando de forma efetiva uma políti- mato pode ser pago, grátis ou “freemium”,
onais Abertos (REA), iniciados pelo MIT ca governamental é a Coreia do Sul. deguste parte e pague o que achar conve-
quando lançou o OCWC (Open Cour- As argumentações introdutórias acima niente. Modelos de ofertas abertas em toda
seware Consortium), em 1999, hoje OEC, nos levam a muitas reflexões e trazem um e qualquer instituição intensificam-se a
abrindo a totalidade de mais de 1000 de grau de complexidade enorme na defini- cada dia, onde os componentes “aberto e
seus conteúdos a quem quisesse acessar, e ção das estratégias educacionais futuras, gratuito” não são mais exclusivos das Uni-
a introdução de MOOC’s (Cursos Massi- pois como dizia a letra de um dos hinos versidades Públicas ou Abertas. Necessa-
vos Online Abertos), lançados neste forma- do rock mundial, Another Brick in the riamente a componente aberta terá que
to em 2011, oferecidos gratuitamente e Wall, do Pink Floyd, que critica os siste- estar presente nas ofertas permitindo aces-
oriundos das maiores e melhores universi- mas de educação e a postura do profes- so e vantagens, como a disponibilidade e
dades do mundo trazem um novo panora- sor como sendo “simplesmente mais um visibilidade do conteúdo, prestar um ser-
ma no oceano que banha a educação su- tijolo na parede”, pode estar com seus dias viço à sociedade, a possibilidade da me-
perior em todos os níveis, pois a maior contados, ou seja a Síndrome do Tijolo lhoria e complementação do conteúdo e
parte do conteúdo comum está disponí- na Parede, definição própria, será por li- a cobrança para o aprofundamento da
vel na internet, hoje. Por outro lado, te- vre arbítrio da instituição, do professor ou aprendizagem ou a certificação, por
mos o fenômeno da integração quase que do estudante, inclusive, pois a escolha de exemplo, como é feito hoje em muitas
inerente à genética dos indivíduos nasci- ser tijolo, parede ou construtor da obra empresas de MOOC’s.
dos sob a regência dessas tecnologias, prima será de cada um, independente do A decisão sobre o escopo de atuação,
denominados “nativos” digitais, em dico- seu papel no processo da aprendizagem. local ou global, também é importante e
tomia com a geração dos “imigrantes” Algumas das principais premissas, estrutural na estratégia da instituição. Pois,
digitais, trazendo os desafios de preparar mencionadas acima, desse novo cenário a mobilidade da população traz amplas

32 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


ARTIGO

oportunidades de ofertar cursos em todos mos na era da educação digital, onde não cesso de motivar e inspirar seus estudantes
os níveis nesse escopo. A estrutura será há distância ou limitação física para acesso para busca do aprendizado, orientará ca-
integrada por rede própria ou com parce- à informação ou ao conhecimento. minhos e busca de conteúdo às necessi-
rias? Essa questão é fundamental para um As definições das estratégias pedagó- dades de cada um, com qualidade ade-
mundo cada vez mais conectado. gicas deverão levar em conta o continuum quada, e assim passa a ser um curador da
À medida que as redes informais de que percorre do ensino presencial puro infinidade de informação disponível hoje
conhecimento e aprendizagem expan- até o e-learning puro, passando pelas es- pela internet. A instituição para desdobrar
dem, a necessidade de certificação mi- tratégias de ensino presencial apoiado por a sua estratégia deverá necessariamente
gra de um mercado de certificações for- tecnologia, híbrido ou blended, em suas preparar seu corpo docente para este novo
mais para reconhecimentos entre pares diversas formas, e o e-learning ou online cenário no qual as habilidades no uso das
ou inferências de conquista ou aquisi- tutorado e temperar as ofertas de conteú- tecnologias, comunicação, construção do
ção de habilidades ou competências, dos com mais ou menos atividades pre- pensamento crítico e capacidade de pes-
como é o caso dos “badges” quando não senciais. Destaca-se que as metodologias quisa do indivíduo, alinhados aos valores
há necessidade de certificação formal. híbridas irão prevalecer gerando momen- institucionais e o seu posicionamento, se-
Porém, os indivíduos que optarem por tos de antecipação de conteúdo e ativi- rão pontos-chaves para atrair alunos e ser
auto estudo e consequente desejo de dades para preparação e posterior encon- competitivo e sustentável no mercado.
certificação formal poderão buscá-la em tros presenciais ou em tempo real para Por fim, muitos dizem que chegamos
instituições que irão especializar-se aprofundamento, complementação, prá- à extinção das universidades como as co-
como certificadoras ou em aquelas que tica ou avaliação da aprendizagem. nhecemos, será? Até aqui mostramos al-
optarem por também ofertar certifica- O estudante ou aprendiz assume um gumas dimensões da estratégia educaci-
ção de aprendizagem. papel mais proativo neste novo cenário onal centrada no processo de aprendi-
As novas cadeias de valor do mercado e visa resultado imediato na aplicação zagem focando a premência de dar-se
educacional trarão novos entrantes, tam- daquilo que aprende. Assim, as metodo- resposta a um mundo que necessita de
bém, principalmente as empresas de co- logias ativas e multidisciplinares de en- processo contínuo de educação continu-
municação e editoras que possuem acer- sino aproximando o máximo daquilo que ada, seja para formação ou complemen-
vo enorme de conteúdos com alta quali- esteja sendo estudado com a realidade tação do indivíduo. Porém, o mundo vai
dade e em diversas mídias, alguns grupos ou aplicação na vida real ou profissional continuar sedento por criação de novos
internacionais já caminham nesta direção, do estudante devem ser adotadas. Sala conhecimentos, descobertas, inovações.
Além de novos elos de fornecedores de de aula invertida, Project Based Learning, Algumas destas conquistas do futuro tra-
serviços, em todas as áreas, destacando-se Problem Based Learning, Aprendizagem rão o nome de conceituadas instituições
as áreas de informática e comunicação, as Adaptativa, entre outras, compõem mé- de hoje que, como “hubs” do conheci-
TIC’s, para apoiar o mercado tanto na ca- todos ativos de aprendizagem, por exem- mento, irão se preparar para gerar os ci-
deia de suprimento dos processos de en- plo, introduzidos em muitos ambientes dadãos do mundo digitalmente integra-
trega quanto nas atividades internas do ne- atualmente que estão revolucionando o do, irão constituir ou participar de redes
gócio. Assim, a configuração da estrutura ensino. O aluno mais ativo, a facilidade de aprendizagem, informais e formais na
passará necessariamente por decisões es- de acesso à informação, a integração e formação de redes de conhecimento, que
tratégicas de o que fazer versus o que ad- visão sistêmica aplicada ao processo de alavancadas transformar-se-ão em redes
quirir ou construir em parcerias. aprendizagem aceleram o processo de de pesquisa, consolidando a criação e
As principais variáveis para definição formação do indivíduo, assim há uma gestão do conhecimento.
da estratégia estrutural foram apresenta- tendência de redução dos tempos de du- Existe um céu azul no horizonte des-
das acima. Como fica o método ou o ração dos cursos. te oceano com poucas nuvens para os
modelo pedagógico? Bem, no que se re- A definição do modelo pedagógico e navegadores que se prepararem para esta
fere ao método de ensino, Comenius, dos métodos de ensino deverá equilibrar jornada rumo à Educação do Século XXI,
onde estiver, estará contente, pois sua fra- os objetivos de aprendizagem, a caracte- ou à Universidade do Século XXI. Para
se, em sua obra “Didactica Magna”, de rística do curso, o público alvo com os re- os outros, a tempestade e a tormenta se-
1638, que dizia, “era necessário desen- cursos investidos nas tecnologias educaci- rão devastadoras, percebem? ■
volver um método de ensino em que os onais e de gestão que apoiaram na efetivi-
professores lecionem menos para que os dade da aprendizagem e a sustentabilida-
alunos possam aprender mais”, finalmente de do processo, tanto para garantir o me-
deverá se fortalecer nas estratégias de en- lhor custo ou investimento num negócio
sino como premissa atual. Hoje, diferen- ou o uso adequado do dinheiro público.
temente de meados da década de 90, O desafio maior é preparar o professor,
quando somente alunos que estudavam ou será que existe professor neste novo
na modalidade a distância faziam uso das mundo? Professor não é profissão, mas vo-
ferramentas de comunicação, interação, cação, portanto o papel do professor assu-
compartilhamento, disseminação e cons- me novos elementos antes não integrados
trução coletiva do conhecimento, todos em suas funções. Além de buscar maximi-
somos alunos, ditos a distância, a qual- zar o seu conhecimento em torno da sua
quer tempo, em qualquer lugar, bastando disciplina, ele orquestrará, muito provavel-
termos acesso à internet. Ou seja, esta- mente com um ou mais colegas, um pro-

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 33


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FOTOS: DIVULGAÇÃO
Com uma arquitetura imponente (abaixo), o Teatro
Cesgranrio tornou-se um espaço para apresentação
de peças e musicais (abaixo e à esquerda)

Principais projetos
do Centro Cultural
■ Teatr
eatroo nas Escolas - O projeto, que incentiva a
formação de plateia, está no segundo ano de vigên-
cia e destina-se a alunos do 1° ao 9° anos do fun-

A cultura aliada damental. “É uma oportunidade para as escolas dei-


xarem de ser apenas um lugar de transmissão de
conteúdos para tornarem-se espaços lúdicos”, des-
taca Leandro Bellini.

à educação ■ Prêmio Cesgranrio de TTeatr eatroo - Em janeiro de


eatr
2017, uma festa de gala vai marcar a cerimônia de
entrega do 4º Prêmio Cesgranrio de Teatro. Trata-se
do maior do país no segmento, em que artistas de 12
categorias ganham prêmio de R$25 mil. A cada ano

A
realização de ações para promover disponibiliza estrutura completa com os um grande nome da dramaturgia é homenageado e,
na próxima festa, a escolhida é a atriz Nicette Bruno.
a melhoria da qualidade da educa- mais modernos recursos de sonorização e
ção no país tem sido um dos prin- iluminação, além de equipe especializada ■ Projeto Elipse - Na área de audiovisual, desta-
cipais objetivos da Fundação Cesgranrio. para auxiliar na supervisão e, até mesmo, que para o projeto Elipse, um concurso de curtas-
metragens produzidos por universitários, com o
E em sua atuação mais recente nessa li- na execução dos espetáculos. apoio logístico da Secretaria de Estado de Cultura
nha, ela tem investido em uma associa- Além de valorizar talentos, a Cesgranrio (SEC). Doze produções recebem prêmio de R$
12.500 e são apresentadas no Cine Odeon. Os três
ção defendida pela maior parte dos edu- busca, por meio de seu teatro, incentivar a melhores ganham ainda mais R$ 2 mil e são exibi-
cadores: a integração entre cultura e for- formação de plateia. Para isso, concede dos também no Canal Brasil.
mação educacional. meia-entrada para professores (além do
■ Orquestra Sinfônica - Criada em 2015, propicia a
Por entender que educação e acesso à público estabelecido por lei) e divulga as estudantes da área de Música a oportunidade de viver
cultura devem andar juntos, a Cesgranrio apresentações junto aos universitários. o dia a dia de uma orquestra sinfônica. Sob o coman-
criou um Centro Cultural com o intuito de Para Roberto Padula, administrador do do do maestro Eder Paolozzi, já realizou 18 apresen-
tações, uma delas no Festival Mimo, um dos mais
promover projetos nessa área. O mais re- Teatro Cesgranrio, o balanço dos primei- importantes do país, além de eventos em espaços
cente, de junho de 2016, foi a inaugura- ros meses foi muito positivo. Segundo ele, como o Theatro Municipal e a Sala Cecília Meirelles.
ção de um grande teatro, com 275 metros na apresentação da nova peça, o valor ■ Prêmio TTalentos
alentos da Pintura - A iniciativa tem
quadrados e 266 lugares. vai cair de R$50 para R$40 (R$20 para como objetivo prestigiar pintores que nunca reali-
Já foram exibidas três peças no Teatro meia-entrada). A expectativa é que, em zaram exposições próprias. Como forma de dar vi-
sibilidade ao talento dos artistas, os trabalhos dos
Cesgranrio. As apresentações retornam média, pelo menos 80% da capacidade vencedores ficaram expostos por 45 dias na sede da
em novembro, com a estreia de um es- seja ocupada. Fundação e os quatro melhores ganharam prêmios
petáculo inspirado no Natal. Todas essas Em setembro, a Fundação sediou o Fes- de R$ 2 mil a R$10 mil. Também é produzido um
catálogo com as obras dos vencedores.
são produções da própria Fundação, mas, tival de Teatro Universitário (Festu), o que
a partir de 2017, entrarão em cartaz pe- fortaleceu ainda mais seu papel de celei- ■ Prêmio Rio de Literatura - A iniciativa, que con-
ças de outros produtores. cede prêmios de até R$ 100 mil a escritores, tem
ro de talentos. Segundo Roberto Padula, como objetivo incentivar a produção literária nacio-
Com isso, o novo teatro começa a cum- com esse projeto, instituições como UFF, nal. Com uma categoria dedicada a estreantes, ele
prir um de seus principais objetivos: ser um UniRio, CAL e Escola de Teatro Martins também reflete a diretriz da Cesgranrio de valorizar
novos talentos. Foram, ao todo, 600 inscrições de
espaço profissional de custo acessível para Penna já aproveitaram o espaço. “O meio livros publicados por 35 editoras de todo o Brasil.
jovens produtores e artistas que buscam se universitário voltado para Arte já está co-
inserir no mercado. Para isso, a Cesgranrio nectado com a Cesgranrio.” ■ Participação em eventos - A Cesgranrio terá
três espaços de intervenções no Salão Carioca do
Livro. Um deles será um teatro de 200 lugares onde
Projetos para todos os amantes da cultura e da arte o público poderá assistir a encenações de clássicos
da Literatura. Haverá também um jardim literário,
onde imortais da Academia Brasileira de Letras fa-
O Centro Cultural Cesgranrio desen- tre cultura e educação, a Cesgranrio já deu rão workshops de diferentes gêneros literários e ar-
tistas renomados farão declamações de suas poesi-
volve projetos voltados para os mais dife- início à criação de um sistema de avalia- as preferidas. Um terceiro espaço será dedicado a
rentes públicos, em todos os ramos artís- ção que pretende mensurar o impacto de temas relacionados a roteiro de TV, cinema e dra-
ticos (veja no quadro ao lado). As ações seus projetos culturais. “Estamos desen- maturgia. Neste salão, serão lançadas a 5ª Oficina
de Atores e a 2ª Oficina de Autores da Cesgranrio.
promovem ambiência cultural, desenvol- volvendo esse sistema no momento, em
vem a consciência crítica e possibilitam paralelo com a produção de mais de 25 ■ Minissérie bíblica - Após ser indicado ao Prê-
mio Internacional de TV com a produção da série
espaço privilegiado para jovens talentos projetos em curso em todo o Estado do “Anos Radicais”, o núcleo audiovisual está gravan-
e artistas consagrados. Rio”, diz Leandro Bellini, secretário exe- do uma série sobre a vida de Jesus Cristo.
Para comprovar a estreita relação en- cutivo de Cultura da Cesgranrio.
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DIVULGAÇÃO

Fundação Cesgranrio investe alto no


desenvolvimento da tecnologia necessária para
realização de provas e avaliações por computador

Cesgranrio
investe em inovação
nas avaliações
A
Fundação Cesgranrio entra de vez leitura dos cartões-resposta e digitaliza- vas de 2015, foram criadas 26 bancas, uma
na vanguarda da avaliação. Por ção das provas discursivas para a corre- para cada área abrangida pelo exame, além
meio de um projeto executado ção das bancas, entre outras ações. de duas de formação geral. Todas eram
pelo Centro de Avaliação e pelos depar- A experiência da Cesgranrio é decisiva compostas por doutores e mestres. “Asse-
tamentos de Tecnologia da Informação e para que tudo corra bem no dia da prova. gurar o correto entendimento do critério
de Concursos, a instituição investe na Ela também realiza capacitação de fiscais de correção e acompanhar sua aplicação
realização de testes adaptativos, o que e coordenadores, sempre em sintonia com adequada são condutas cruciais”, diz Ana
há de mais moderno na área. o MEC, para que a qualidade da aplicação Carolina Letichevsky, superintendente do
Pelo instrumento, cada avaliado resol- do exame seja a mesma em todo o país. Departamento Acadêmico da Cesgranrio.
ve itens adequados a seu nível de profici- Outro destaque é a parceria com a Finalizada a correção, os outros desa-
ência. Além disso, o tamanho ou duração Fundação Bradesco, em que avalia mais fios são estudar resultados e extrair dados
da prova podem ser diferentes, em fun- de 11 mil alunos, além dos que partici- sobre condições de ensino. “Na edição
ção do grau de conhecimento do indiví- pam do Programa Educa + Ação, promo- de 2015, serão produzidos relatórios de
duo. No entanto, a metodologia tem o vido pela instituição com os governos de 26 áreas, um de Formação Geral, 1.881
mesmo grau de precisão de resultados do São Paulo e Mato Grosso. “Ainda com a Relatórios de Desempenho de IES e 8.144
método tradicional, onde todos os avalia- Fundação Bradesco, em 2016, criamos Relatórios de Desempenho de Cursos”,
dos respondem às mesmas questões. um banco de 1.835 itens formativos para destaca Ana Carolina, ressaltando que a
O projeto foi iniciado em fevereiro de avaliações bimestrais, além de 500 para expertise da Cesgranrio é decisiva para o
2016 e, segundo Nilma Fontanive, coor- seleção de diretor, vice-diretor e coorde- sucesso do Enade: “São serviços técnicos
denadora do Centro de Avaliação, já re- nador pedagógico”, diz Nilma Fontanive. que só podem ser executados por equi-
gistra avanços. “O próximo passo é gerar A qualificação da Cesgranrio foi decisi- pes que atuem de modo específico e con-
vários modelos de testes e aplicá-los a alu- va também para o sucesso da maior avali- tínuo no setor e que pertençam a uma
nos das redes pública e privada”, diz Nil- ação de ensino superior do país: o Exame organização estável e eficiente. Isso con-
ma, explicando que, a partir de 2017, os Nacional de Desempenho dos Estudantes figura o profissionalismo que se contra-
itens já vão considerar a nova Base Naci- (Enade). Para a correção das 130 mil pro- põe ao amadorismo e à eventualidade.”
onal Comum Curricular (BNCC).
O objetivo é utilizar os testes adaptati-
vos em avaliações e concursos, segundo
o presidente da Fundação Cesgranrio, Forte investimento em concursos Destaque na área acadêmica
Carlos Alberto Serpa. “Buscamos sempre Com quase 45 anos de experiência na realização Uma das maiores publicações do país no meio
aperfeiçoar e inovar nossos processos ava- de concursos, a Fundação Cesgranrio é reconhecida acadêmico, a “Revista Ensaio: Avaliação e Políticas
liativos. Essa tem sido nossa marca ao lon- como uma das maiores organizadoras do país. São Públicas em Educação” também é referência no exte-
mais de 300 seleções que, nesse período, reuniram rior. Após a Fundação Cesgranrio disponibilizar seu
go de 45 anos de história.” 20 milhões de candidatos. conteúdo na internet, cresceu muito o interesse de
Com uma das mais seguras estratégias A Fundação tem sido a preferida para realizar con- pesquisadores estrangeiros.
de distribuição de provas e de qualifica- cursos de massa, entre eles o do IBGE, neste ano, e para Se a versão impressa chegava a 11 países, além do
ção de equipes de avaliação, a Cesgran- empresas como Petrobrás, Banco do Brasil e Transpe- Brasil, a digital alcança 61 nações, entre elas, Portugal,
tro. Um dos diferenciais da instituição é uma equipe al- Espanha, Chile, França, Estados Unidos e Inglaterra. Em
rio realiza os maiores exames do país, tamente qualificada com mais de 100 profissionais de pouco mais de um ano, foram 25.231 visitas e 90.836
entre eles o Sistema de Avaliação da Edu- diversas áreas. “Estamos preparados para atender às visualizações de páginas do site da Ensaio, sendo 74,8%
cação Básica (Saeb) e o Exame Nacional necessidades de qualquer processo seletivo”, diz Alvaro novos visitantes e 25,2% de internautas que retorna-
Freitas, coordenador do Departamento de Concursos. ram. “Com a versão impressa puramente, 55 assinantes
do Ensino Médio (Enem). Para manter a lisura das provas e evitar quaisquer internacionais e 2.535 recebiam a revista em suas ca-
Coordenador do Departamento de tipos de fraudes, a Cesgranrio utiliza detectores de me- sas”, destaca a editora da revista, Fátima Cunha.
Concursos e responsável pelos processos tais nos dias de provas, além de comparar respostas A Ensaio, que divulga artigos e pesquisas sobre
dos candidatos após a aplicação dos exames. Além dis- avaliação, tem nota máxima na avaliação da Capes. E
relativos ao Enem, Alvaro Freitas diz que so, uma das prioridades é a qualificação de coordena- a versão digital, segundo Fátima Cunha, despertou
a Fundação se envolve em toda a logísti- dores e fiscais, seja para preservar a segurança da apli- interesse ainda maior. “Aumentou drasticamente a
ca de aplicação e correção das provas, cação ou para lidar com as pessoas com deficiência, por procura. Novos artigos não param de chegar e esti-
desde a distribuição de inscritos por lo- exemplo. “Estamos sempre atentos às necessidades de mamos um volume ainda maior em 2017, quando
cada concurso e dos candidatos, buscando constante- adotaremos o ahead of print (‘antes da impressão’,
cais de prova, envelopamento de cader- mente promover melhorias tecnológicas e de segurança em tradução livre) como sistema de publicação, ace-
nos de questões na gráfica, recebimento nos certames que realizamos”, afirma Alvaro. lerando a divulgação das pesquisas.”
de malotes após a aplicação do exame,
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FOTOS: DIVULGAÇÃO
Faculdade

4GHGTÄPEKCVCODÃO Cesgranrio foi


criada para
contribuir com a

PQGPUKPQUWRGTKQT
formação de
qualidade na área
de avaliação

A
Fundação Cesgranrio é referência Em termos de infraestrutura, o destaque mento estratégico, há muito espaço nas
na realização de provas nacionais é o Laboratório de Modelagem Computa- áreas social, educacional, cultural, hos-
e na produção de conhecimento por cional. Por oferecer acesso aos mais mo- pitalar, empresarial e esportiva. No seg-
meio de seu mestrado profissional. Em 2016, dernos softwares das áreas de Avaliação e mento de RH, o cenário também é ani-
a instituição também ganhou papel de des- RH, o espaço permite ao aluno aprender mador. “O mercado está carente de pro-
taque na graduação, com o curso superior e aplicar técnicas de análise de dados, fissionais que compreendam a importân-
de tecnologia em Gestão da Avaliação. elaboração de gráficos e interpretação de cia dos recursos humanos como um dife-
Este curso e o Superior de Tecnologia em informações de tabelas, entre outras. rencial para o desenvolvimento estratégi-
Gestão de RH são os primeiros da Facul- Segundo o professor Glauco da Silva co das empresas”, destaca Marcelo Perei-
dade Cesgranrio (Facesg). Uma das princi- Aguiar, coordenador do tecnólogo em Ava- ra Marujo, coordenador do curso de RH.
pais características dos dois é o currículo liação, o curso está estruturado em quatro A Facesg estuda criar cursos nas áreas de
com forte base teórica aliada à prática sin- módulos semestrais e, após cada um de- Estatística e Políticas Públicas, além de um
tonizada com as demandas do mercado. les, o aluno sai com um certificado. “Nes- bacharelado interdisciplinar e uma licenci-
Também são diferenciais o corpo docen- ses módulos, o aluno conhece e pode se atura em Pedagogia. “Não se pode pensar
te, com 90% de mestres ou doutores, e a aprofundar nos principais instrumentos em uma instituição de ensino no Brasil sem
dinâmica de ensino. “Os cursos foram es- avaliativos, tornando-se capacitado a pla- um curso de Pedagogia de qualidade”, res-
truturados com base em um projeto inte- nejar e implementar projetos de avaliação.” salta Paulo Alcantara Gomes, que destaca
grador onde o aluno, ao longo dos quatro O mercado para quem se forma em Ava- outro diferencial da Facesg: “Há uma forte
períodos, realiza atividades que envolvem liação está em alta. Seja para qualificar a integração entre os cursos superiores de tec-
todas as disciplinas”, ressalta Paulo Alcan- elaboração de políticas públicas ou pela nologia e o mestrado profissional em Ava-
tara Gomes, diretor acadêmico da Facesg. necessidade cada vez maior de planeja- liação, incorporado pela Faculdade.”

Projeto Apostando no Futuro: melhorias à vista


Há 12 anos, o Projeto “Apostando no Fu- los nas casas, foram tomados para facilitar as
turo”, desenvolvido pela FUNDAÇÃO CES- entrevistas e não gerar duplicidade. Segundo
GRANRIO, melhora a qualidade de vida nas Heloisa Rego de Oliveira, coordenadora de su-
comunidades Paula Ramos, Vila Santa Ale- pervisão, as aplicadoras têm sido bem recebi-
xandrina, Parque André Rebouças e Escada- das. “Os moradores estão respondendo à pes-
ria, no Rio Comprido. E o impacto positivo quisa com muito comprometimento”, ressalta.
será ainda maior, pois um censo permitirá As próximas ações do projeto serão pauta-
conhecer o atual perfil dos moradores e am- das pelo Censo e por um amplo estudo reali- Judô é uma das modalidades do Apostando no Futuro
pliar os ganhos sociais. zado em 2015. Rosa Torte, coordenadora de
“Quando o projeto começou, realizamos Avaliação, ressaltou que o projeto melhora o várias atividades, entre elas, oficinas de arte-
uma avaliação diagnóstica. Mas acreditamos desempenho escolar, insere jovens em cursos sanato, passeios culturais, além das festas or-
que, passados tantos anos, precisamos co- de qualificação, os encaminha para vagas de ganizadas pela equipe do projeto, que têm
nhecer melhor a radiografia dessas quatro estágio e emprego e gera maior interesse por como objetivo estreitar os laços familiares e
comunidades. Daí a ideia do Censo”, diz Te- atividades culturais e esportivas. “Verificou-se comunitários. Para Terezinha Saraiva, o ba-
rezinha Saraiva, coordenadora de Projetos que o Projeto vem contribuindo para a me- lanço do projeto é muito positivo.
Sociais da Cesgranrio. lhoria da vida pessoal, escolar e profissional “Claudio Saraiva, idealizador do ‘Apostan-
Até o final de novembro, dez universitárias, de seus beneficiários”, diz Rosa Torte. do no Futuro’, dizia que é muito difícil resol-
auxiliadas por duas moradoras, visitarão todas No Projeto Apostando no Futuro, crian- ver problemas sociais e que uma iniciativa
as casas para coletar dados sobre demografia, ças e jovens têm acesso a reforço escolar, precisa sempre gerar ganhos sociais. E temos
educação e trabalho. Todas foram capacitadas brinquedoteca, práticas esportivas, rodas de tido muitos ganhos sociais, não só levanta-
e vários cuidados, como crachás, camisas com leitura, cinema e espaço de inclusão digital. dos por avaliações, mas visíveis no contato
a logomarca da Cesgranrio, colocação de se- Adultos e idosos, por sua vez, participam de com os moradores”, conclui.
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EQOQHWVWTQ
Estudo mostra como EUA, Uruguai, Irlanda,
Nova Zelândia e Portugal fizeram da velocidade de conexão
de internet um fator estratégico para qualificar o ensino
Renato Deccache
N
o Brasil, 93% das escolas estão co- ses para chegar a 93%. Na Irlanda, em cinco
nectadas à internet, segundo a mais anos, foi implantada conexão de 100 Mbps em
recente edição do estudo TIC Educa- todas as unidades de ensino médio.
ção, divulgado pelo Comitê Gestor da Internet Outra característica comum aos países estuda-
no Brasil. Além disso, a rede passa a fazer parte dos pela Cisco é o fato de verem na conectividade
do cotidiano nas salas de aula: 70% dos profes- das escolas um investimento estratégico para o país.
sores afirmam terem usado computador e 39% Segundo Ricardo Santos, gerente de desenvolvi-
celulares para promover atividades com os alu- mento da vertical de Educação da Cisco, também
nos. Apesar desses dados positivos, um abismo no Brasil, não há dúvida entre os educadores do
ainda separa o Brasil do que é feito no resto do quanto os recursos tecnológicos podem melhorar
planeta quando o assunto é o uso de Tecnologias o ensino. A diferença é que, no nosso caso, essa
da Informação e da Comunicação (TICs). visão não é compartilhada pelos que planejam as
Um estudo da Cisco, multinacional norte- políticas públicas. “Entre a consciência, que mui-
americana da área de tecnologia, traz casos de tos educadores têm, e a realidade prática, ainda
países que turbinaram a qualidade do ensino há um vazio muito grande. Podemos encontrar
com uso da internet. Enquanto o Brasil ainda desde escolas com internet de 400 Mbps por sala
sequer conseguiu universalizar o uso de com- de aula até outras, em áreas carentes, com 1 Mbps
putadores nas escolas, nos Estados Unidos, por de conectividade para toda a escola”, destacou.
exemplo, o desafio é dotar os colégios de aces- Ricardo Santos ressalta também que, nos
so à banda larga ultrarrápida com até 1 Gbps. países avançados no uso de tecnologias na edu-
Na maior parte das escolas brasileiras conecta- cação, as ações vão além da conectividade.
das, a velocidade é de até 2 Mbps. Também é fundamental, frisa o especialista, in-
Na pesquisa “Conectividade nas Escolas para vestir na aquisição de equipamentos atualiza-
o Século 21”, a Cisco apresenta estratégias bem dos e, principalmente, ter um projeto pedagó-
sucedidas implantadas nos Estados Unidos, Ir- gico consistente como base para a utilização
landa, Portugal, Nova Zelândia e Uruguai. Em desses recursos. “Esses três aspectos têm de ser
comum a esses projetos está, entre outros fato- pensados de forma integrada, desde o início
res, a aposta na melhoria da qualidade da cone- do planejamento das políticas voltadas para uso
xão, justamente o oposto dos projetos brasilei- da tecnologia na educação.”
ros, que têm priorizado a aquisição de compu- Na Irlanda e na Nova Zelândia, os governos
tadores e dispositivos móveis. financiaram a modernização das redes escolares.
A explicação é simples: nestes países, já se Já no Uruguai, a lei determina que as operadoras
percebeu que quando as escolas são dotadas paguem a conta enquanto que, nos EUA, foi cria-
de banda larga rápida e redes locais sem fio, do um fundo específico para cobrir os custos. Para
podem aproveitar o uso de aplicativos armaze- Ricardo Santos, no caso do Brasil, o mais impor-
nados em nuvem e de dispositivos voltados para tante não é criar novas formas de financiamento,
turbinar o ensino com uso da internet. E os pa- mas investir melhor. “O que precisamos é de di-
íses estudados mostraram que este é um objeti- nheiro no lugar certo, por exemplo, na valoriza-
vo válido. Portugal, que em 2005 tinha 7% das ção do professor e na melhoria da infraestrutura
escolas com banda larga, precisou de 18 me- digital”, destacou Ricardo Santos.

38 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


CAPA

Países que venceram o desafio da conectividade nas escolas


IRLANDA - Em 2000, o país implantou o Programa de Integração Tecnológica, com o objetivo de subsidiar a compra de
computadores e a conexão nas escolas. Um ano depois, todas já estavam conectadas e o desafio passou a ser a
qualidade do acesso. Por isso, foi criado, em 2005, o Programa Banda Larga nas Escolas, a partir do qual
foram usadas diferentes tecnologias de acesso, inclusive DSL, linha alugada, cabo coaxial, satélite e conexão
sem fio, de acordo com o tamanho, localização e disponibilidade da escola. O passo seguinte foi implantar
um projeto para disponibilizar conexão mínima de 100 Mbps para as escolas de ensino médio. Adotado de
forma gradativa, ele alcançou, desde 2010, todas as cerca de 1.500 escolas de ensino médio do país.

NOVA ZELÂNDIA - O país começou a conectar as escolas em 1996, quando 55% de ensino fundamental e
85% de ensino médio estavam online. Em 2003, este percentual chegou a 100%. Superado o desafio do
acesso, em 2011, foram lançados dois para ampliar os serviços de banda larga no país, com prioridade para
as escola. A meta era proporcionar, até 2015, conexão com fibra óptica a 2.416 escolas a uma velocidade
mínima de 100 Mbps e conexão sem fio nas escolas distantes a uma velocidade mínima de 10 Mbps. Em 2012,
a velocidade média de banda larga nas escolas era de 17 Mbps. O governo também criou a Network for Learning,
empresa de capital aberto para proporcionar às escolas serviços complementares como computação em nuvem,
firewalls, backup remoto, além de conteúdo didático online.

PORTUGAL - Em 2002, o país conseguia conectar todas as escolas à internet, mas a velocidade era baixa: 128 kbps.
Entre 2003 e 2006, o quadro melhorou, mas não muito: todas as cerca de 8 mil escolas tinham banda larga, com
velocidade que variava de 256 Kbps a 512 Kbps. Em 2007, o governo deu início ao Plano tecnológico da educação
(PTE), com o objetivo de colocar o país entre os cinco primeiros da Europa em digitalização das escolas. O
primeiro passo do programa foi destinar, entre 2008 e 2012, cerca de 1,7 milhão de laptops com acesso a
internet 3G e banda larga wi-fi para alunos, adultos em programas de treinamento e educadores. Os
que receberam os equipamentos arcaram com o custo dos dispositivos, bem como a internet 3G
para uso fora dos colégios. Além disso, o programa certificou 90% dos professores em TICs e
investiu na produção de conteúdos de e-learning e na melhoria da conexão. A velocidade mé-
dia saltou de 4 Mbps, em 2007, para 48 Mbps, em 2010.

ESTADOS UNIDOS - Em 1996, foi implantado o E-Rate que buscava subsidiar o acesso à
internet em escolas de nível fundamental e médio. Financiado pelas contribuições de opera-
doras de telecomunicações, que arcavam com até 80% dos custos dependendo da escola, o
programa fez com que acesso à internet nas escolas dos EUA saltasse de 65% para 100%,
entre 1996 e 2003. O passo seguinte foi promover o acesso à banda larga de alta velocida-
de, incluindo suporte para redes locais sem fio. A partir do investimento feito, em 2013,
26% das escola tinham internet de 10 Mbps, 28% entre 10 Mpbs e 50 Mbps, 12% entre
50 Mbps e 100 Mbps, 19% entre 100 Mbps e 1 Gbps e 15% com mais de 1 Gbps. A
partir de 2014, novas metas foram traçadas para que as escolas tivessem acesso, por
mil estudantes, de 100 Mbps no curto prazo e de 1 Gbps no longo prazo.

URUGUAI - Em 2006, o Uruguai lançava o Plano Conectividade na Educação


Básica para Aprendizado Online (Ceibal, na sigla em Espanhol). Ao final da pri-
meira fase, quase 400 mil laptops foram sido distribuídos para todos os alunos
e professores das escolas públicas de ensino fundamental e o passo seguinte
foi estender a medida para as escolas parti-
culares e de ensino médio. Além disso, foi
criado o Programa de Conectividade Educaci-
onal que, até o fim de 2010, havia conectado 1.838
escolas à internet e possibilitado acesso a serviços
de rede, inclusive o suporte técnico, e a servidores de
host com firewalls para filtrar o conteúdo adequado. A partir
de 2011, o programa exigiu que as velocidades médias das esco-
las fossem aumentadas de 512 kbps para 10 Mbps. Como resultado de todo
esse investimento, o Uruguai tornou-se o único país da América Latina a conectar 100% de
suas escolas à internet.„

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 39


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Poucos países acreditam que seus sistemas educacionais estão
prontos para formar os profissionais do futuro
Débora Thomé

L
ançado em maio, o estudo “Barô- “Já havíamos confirmado na primeira ça, Índia, Indonésia, Itália, Japão e Estados
metro da Inovação” — que tem etapa da pesquisa que o brasileiro tem um Unidos, entre os dias 28 de julho e 15 de
como objetivo fazer um levanta- perfil bastante otimista em relação à tec- agosto de 2013, com uma amostragem re-
mento sobre a percepção e a expectati- nologia. Essa atitude é positiva quando presentativa de 12 mil adultos com idade
va das pessoas com relação ao impacto consideramos sua relação com a educa- igual ou superior a 18 anos. Entre eles, par-
da tecnologia e da inovação em suas vi- ção, pois por meio da tecnologia é possí- ticiparam 2.748 executivos de inovação se-
das — mostrou em seu recorte “Salas de vel atualizar as ferramentas disponíveis para niores de 23 países, além de 1.346 forma-
Aula do Futuro”, encomendado pela Intel ensino nas nossas escolas”, comentou Ed- dores de opinião de 13 nações. A margem
Corporation à Penn Schoen Berland, que a milson Paoletti, gerente de Desenvolvimen- de erro da pesquisa é de 0,89 pontos per-
maioria dos brasileiros (81%) acredita que to de Negócios para Educação da Intel, centuais para mais ou para menos.
o uso de tecnologia nas escolas é inevitá- durante o lançamento da pesquisa. Para 77% dos brasileiros, escolas e
vel, e que o país deve investir em um su- A pesquisa foi realizada pelo quinto ano professores devem se apoiar mais na
porte tecnológico maior para a pedagogia. seguido, via internet, no Brasil, China, Fran- tecnologia para melhorar o sistema

40 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


MERCADO

educacional. Quando perguntados sobre quais ças terão de usar tablets ou outro dispositivo
disciplinas as crianças devem aprender, 57% móvel para participar das aulas.
acreditam que deve haver mais educação tec- Quanto ao relacionamento entre professor e
nológica nas escolas. Pensando no futuro da estudante, 65% dos brasileiros ouvidos na pes-
pedagogia, 82% dos brasileiros acreditam que quisa acreditam que a tecnologia ajudará a apro-
em 10 anos o ensino fundamental usará ativi- ximação em sala de aula. Para 79%, os softwa-
dades online como ferramentas suplementa- res disponíveis para educação ajudarão o pro-
res para a instrução iniciada com o professor fessor a dedicar mais tempo ao estudante, pos-
em sala de aula. sibilitando a personalização do ensino, uma das
Outra aposta de 60% dos entrevistados é a maiores tendências da modernização da educa-
tendência de interação online: para eles, os ção nos tempos atuais e futuros. Diante disso,
exames, muito em breve, já deverão ser apli- também acreditam, um modelo de ensino virtu-
cados virtualmente, sem a necessidade de des- al ajudará a transformar o processo educacio-
locamentos dos alunos ou o uso da prova im- nal, ao mesmo tempo em uma experiência mais
pressa. Além disso, 55% acham que as crian- pessoal (60%), social e colaborativa (61%).

A cultura das startups está remodelando o mercado


A revolução digital já está transformando a empresas têm que se reinventar, e isto é nada
indústria. Mas adotar novos modelos de negó- mais que uma necessidade de mercado”.
cios, incorporar o uso de soluções digitais ou Os modelos de startups estão se multiplican-
criar inovações disruptivas leva tempo, e os do pelo mundo inteiro, e a cultura que adotam
executivos sabem disso. A boa notícia, no en- foi mencionada no Barômetro Global da Inova-
tanto, é que os brasileiros estão cada vez mais ção por 81% dos executivos como exemplo para
otimistas quando o assunto é inovação — e se- criar uma cultura de inovação dentro de empre-
guem a tendência mundial de superar desafios sas de todos os tamanhos. Para inovar, é preciso
e criar um ambiente mais favorável ao desen- enfrentar os desafios internos da cultura organi-
volvimento de novos processos e soluções. zacional e criar um ambiente que valorize a co-
Não por acaso, esse foi o tema central do laboração, a disrupção e incentive a criatividade.
“Youtube Live Caminhos para o Futuro: O Futu- Algo já está acontecendo. Na hora de contra- Os sistemas
ro da Produtividade”, que contou com a partici- tar, as empresas estão de olho em candidatos com educacionais estão
prontos para formar os
pação de Gilberto Peralta, presidente e CEO da capacidade para resolver problemas (56%) e que profissionais do futuro?
GE no Brasil, Antônio Campello, diretor de De- sejam criativos (54%). Do outro lado, os interessa- A visão brasileira para o
senvolvimento Organizacional da Embraer, Ri- dos em inovação apontam que as empresas de- cenário ainda está muito
atrás de outros grande
cardo Paes de Barros, responsável pela Cátedra vem incorporar valores das startups como flexibi- países, como França e
Instituto Ayrton Senna no Insper e Flavio Pripas, lidade (89%) e trabalho remoto (79%).„ „ Estados Unidos
diretor da Incubadora CUBO, um grande centro
de empreendedorismo tecnológico, lançado pelo
Banco Itaú e a Redpoint e.ventures.
Para 70% dos executivos que participaram
do Barômetro Global da Inovação, as empre-
sas são o motor da inovação. Segundo os espe-
cialistas, a fórmula ideal consiste em conciliar
os interesses comerciais com o desenvolvimen-
to de novas tecnologias, sem esquecer dos cli-
entes. É neste cenário que o modelo de star-
tups chega para ficar.
“As startups criam novas tecnologias, novos
mercados e têm uma maneira diferente de tra-
balhar. Acredito que a forma que elas traba-
lham pode influenciar grandes empresas a rein-
ventarem processos, além de contribuir com
mais produtividade e inovação”, comenta Fla-
vio Pripas, diretor da Incubadora CUBO, no
“Youtube Live. Gilberto Peralta completou: “As

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 41


MERCADO

Educação
à moda Uber
Entrada no Brasil da Udemy, gigante da educação online, inaugura um modelo
de negócios que liga diretamente estudantes a produtores de conteúdo
Renato Deccache

E
m abril, o Grupo Estácio anuncia- lhão deles no Brasil. A empresa foi cri- rística principal é a de, por meio de uma
va uma parceria com a Udemy, ada no Vale do Silício, na Califórnia plataforma tecnológica, conectar pesso-
maior player do mercado de apren- (EUA), de onde surgiram as principais as que têm algo a ensinar (instrutores)
dizagem online do mundo. Em princí- geradoras de inovações tecnológicas do com aqueles que desejam aprender algo
pio, parece mais uma dentre várias es- mundo. Foi lá, por sinal, que também (estudantes). “A Udemy é um marketpla-
tratégias de instituições de ensino para nasceu outra gigante, nesse caso da ce para se aprender e ensinar online.
criar diferenciais e aumentar o portfólio área de transporte, que melhor carac- Nestes cursos, os alunos podem seguir o
de cursos. No entanto, este pode ter sido teriza a forma como ela atua: a Uber. seu ritmo, seja online ou off-line, no ce-
o marco de um modelo de negócios bem A Udemy é o que existe de mais pró- lular, tablet ou computador pessoal”,
diferente de tudo o que se viu até hoje ximo do Uber no mercado de educação, disse Sérgio Agudo, diretor da Udemy
no campo da educação no país. tanto em tamanho, como em modelo de para o mercado brasileiro.
Fundada em 2010, a Udemy hoje negócios. A empresa conta com uma bi- A novidade desse formato, que tam-
tem 12 milhões de estudantes matricu- blioteca de mais de 40 mil cursos, mi- bém é uma das inovações pelo Uber
lados em 190 países, cerca de 1 mi- nistrados em 80 idiomas, e sua caracte- em termos de mobilidade urbana, é a

42 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


MERCADO

ausência de intermediários. Um produtor de tos específicos e os voltados para qualificação,


conteúdos não precisa mais de uma institui- em categorias como desenvolvimento web, ne-
ção de ensino para ter alunos. Ele pode sim- gócios, Tecnologia da Informação, software,
plesmente criar um curso e disponibilizar as produtividade, design, marketing, entre outros.
aulas na plataforma online. A remuneração Segundo Sérgio Agudo, por ser um marketpla-
vem do valor pago pelo estudante, que é a ce onde qualquer um pode compartilhar co-
base da sustentabilidade financeira da multi- nhecimento, o modelo da Udemy permite que
nacional de ensino. os cursos tenham um caráter muito prático, por
Cursos acadêmicos tradicionais também fa- serem feitos, na maior parte dos casos, por es-
zem parte do portfólio da Udemy. No entanto, pecialistas que dominam o assunto e lidam com
predominam os programas curtos sobre assun- a área diariamente.

Oportunidade para aumentar o portfólio de cursos


O modelo de negócios que caracteriza a to, e espera chegar em breve a 250.
Udemy, em princípio, parece atingir em cheio Para isso, a Estácio adaptou dois
às instituições de ensino. Ao ligar diretamente dos dez estúdios que mantém no
especialistas dispostos a ensinar com pessoas prédio que funciona na Aveni-
que desejam aprender, retira-se dessa relação da Venezuela, no Centro do Rio.
justamente os players responsáveis até agora Para fazer gravações em alta de-
por ligar essas duas pontas: escolas e univer- finição, foi feito investimento em
sidades. A ameaça, no entanto, tende a ficar cabos, iluminação, ilha de edição,
só na aparência e a perspectiva é de que esse preparação dos profissionais para
modelo seja visto como oportunidade no mer- lidar com o novo formato, en-
cado educacional. tre outras ações.
A primeira razão é que plataformas como Foi preciso também
a Udemy oferecem programas de curta dura- investir na parte pe-
ção e voltados para assuntos específicos, en- dagógica, para que
quanto escolas e universidades atuam com os professores pu-
cursos mais extensos e aprofundados. Ou seja, dessem adaptar
além de bem diferentes entre si, os produtos os conteúdos
são complementares, principalmente do pon- das aulas tradi-
to de vista das instituições de educação bási- cionais para
ca e superior, que podem se associar a um ma- o formato
rketplace online para diversificar e agregar de vídeos
valor a sua oferta de conteúdos. de curta
Essa, inclusive, foi uma das principais moti- duração.
vações da Estácio, ao firmar a parceria com a “Na plata-
Udemy. Segundo Marcos Paulo Andrade, ge- forma da
rente de Cursos Livres e Extensão, também pe- Udemy, o
sou para a parceria o caráter inovador da plata- instrutor ini-
forma e o crivo de qualidade, que passa por cia e termina
exigências da Udemy mas, sobretudo, pelo fe- um assunto e
edback dos alunos. depois passa a
“Além de ser uma inovação, tem uma alta outro. Ele faz isso
capacidade de oferta, pois são várias pessoas até dar um curso
criando cursos ao mesmo tempo. E os títulos completo. Com
são muito interessantes, principalmente porque isso, os cursos são
são criados por pessoas que têm experiência mais diretos, dinâmi-
nos assuntos dos quais estão falando”, desta- cos, precisos, o que
cou. Plataformas online trazem outras opor- faz com que o aluno
tunidades para as instituições de ensino, que se disperse menos”,
podem disponibilizar no ambiente virtual seus disse o gerente de
próprios cursos. A Estácio, por exemplo, pos- Cursos Livres e Exten-
sui 100 em áreas como Saúde, Gestão e Direi- são da Estácio.

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 43


MERCADO

Para diretor da Estácio, as TIC’s chegaram para ficar


Dos cerca de 550 mil universitários da Es- educacional online, uma pessoa que more em
tácio, cerca de 55 mil matricularam-se em uma região remota terá acesso provavelmente
algum curso ofertado da plataforma. Entre os aos melhores professores do mundo, sem fa-
de maior destaque, estão o de Excel e o pre- zer grandes investimentos”, frisou o diretor da
paratório para o Exame da OAB. O principal Udemy para o mercado brasileiro.
atrativo para eles é o de pagar menos pelo Para Marcos Paulo Andrade, ver as platafor-
acesso ao conteúdo. Cursos que, na Udemy, mas online como uma oportunidade para im-
custam de R$60 a R$70, podem ser adquiri- pulsionar seus negócios é um caminho sem vol-
dos pelos alunos da universidade por cerca ta para as instituições de ensino. Ele citou o
de 40% desse valor. exemplo do mercado fonográfico, onde as gra-
Segundo Sérgio Agudo, a Udemy não pre- vadoras tiveram sérias dificuldades por não en-
tende substituir o papel de universidades e tenderem as mudanças trazidas pelas tecnologi-
escolas ou mesmo competir com elas. Para ele, as da informação no comportamento dos inter-
parcerias entre instituições educacionais e pla- nautas. “Se as instituições de ensino não enten-
taformas de produção de conteúdo podem fa- derem esse movimento de democratização de
zer com que conhecimento de alto valor al- informação de todos os tipos que existe na inter-
cance uma escala de estudantes cada vez net, podemos ficar para trás, pensando como os
maior. “Com o desenvolvimento do mercado Jetsons, mas agindo como os Flintstones.”

Feedback do aluno indica investimentos necessários


A Udemy, assim como a própria Uber, é um
exemplo de empresa que atua com o que os
especialistas chamam de economia comparti-
lhada. Impulsionada pela falta de crédito, de-
corrente da crise econômica de 2008, e pelo
crescente apelo em favor da sustentabilidade,
ela tem como base a prática de dividir e otimi-
zar o uso ou a compra de serviços.
A evolução da tecnologia também foi decisi-
va para a economia compartilhada ganhar es-
paço. Sem o surgimento de aplicativos e plata-
formas que possibilitam maior conectividade,
dificilmente seria possível ligar usuários em po-
tencial a prestadores de atividades. A tecnologia
também viabiliza o feedback dos clientes, pon-
to decisivo para o controle de qualidade.
Assim como no Uber, em que a opinião do
passageiro referenda ou desqualifica um moto- gama de cursos que atendam às necessidades Na Udemy, os próprios
estudantes decidem o que
rista, na Udemy são principalmente as opiniões de aprendizado dos nossos alunos.” é um conteúdo de
dos usuários que agregam valor aos cursos. Não há pré-requisito para ser um instrutor qualidade e referendam ou
desqualificam os cursos
“Como somos um marketplace aberto, os estu- na plataforma Udemy. Porém, só vão para o ar oferecidos na plataforma
dantes decidem o que é um conteúdo de alta cursos que passam pela avaliação inicial da
qualidade, e rastreamos suas decisões através de curadoria de qualidade da empresa. Além dis-
classificações, testes e dados subjacentes ao seu so, é exigido que tenham produção de vídeo
engajamento”, explicou Sérgio Agudo. em HD, áudio de boa qualidade, mínimo de
Segundo ele, as informações dos alunos tam- cinco aulas e pelo menos 30 minutos de con-
bém norteiam a escolha de temas de cursos, teúdo. Itens como ações que geram maior en-
orientações para a didática utilizada, entre ou- gajamento dos instrutores, previsão de ajuda
tros aspectos. “Contamos ainda com uma cons- suplementar a alunos e formas inovadoras de
tante análise de dados para ver quais tipos de apresentação do conteúdo são recomendados
busca estão sendo feitas e proporcionar uma para despertar interesse maior dos estudantes.

44 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


MERCADO

Um amplo mercado para especialistas em várias áreas


Os cursos têm um formato bem diferente dos assim com o analista de sistemas Jamilton Da-
ministrados por instituições tradicionais. Dividi- masceno, que tem quase 10 mil matriculados em
dos em módulos, são compostos em grande parte sete cursos, entre eles, os de desenvolvimento de
por vídeos de curta duração e complementados aplicativos para Android, e para IOS 10 e o de
com materiais de apoio em texto e, em alguns Desenvolvimento de Sites e Sistemas.
casos, por jogos, infográficos e outros recursos “Há muitas vantagens: flexibilidade para mo-
que buscam explorar as potencialidades do estu- rar em qualquer lugar, trabalhar nos horários em
do a distância. A receptividade dos alunos é boa, que você estiver mais produtivo, não pegar ôni-
segundo Ruchester Marreiros, professor de Di- bus ou ficar muito tempo no trânsito, além do
reito da Estácio e instrutor dos cursos PROAB, fator social de trabalhar criando algo que faz di-
preparatório para o Exame da Ordem, e Teoria de ferença na vida das pessoas”, ressaltou Jailton, que
Investigação e Perícia, que forma profissionais para ganha, em média, R$10 mil por mês.
atuar no campo de perícia criminal. Na Udemy, o valor dos cursos varia de R$50 a
Nos dois, além dos vídeos, os estudantes têm R$590. Segundo Sérgio Agudo, quando os instru-
acesso a material didático próprio, slides, ativida- tores trazem estudantes para os cursos da plata-
des que envolvem recursos multimídia, fóruns de forma, eles ganham 97% do valor da venda (os
discussão, entre outros. “Um dos aspectos inte- 3% restantes são referentes à taxa cobrada pelo
ressantes é que, no formato online, conhecemos cartão de crédito). Quando a Udemy traz os es-
melhor o estudante. Ele expressa o que entende tudantes, o valor é dividido meio a meio. “O ob-
e, por conta da metodologia, precisa ser muito jetivo sempre foi criar um modelo de negócio sus-
mais interativo”, destacou o professor da Estácio. tentável que beneficiasse os dois lados do nosso
Para os instrutores, ter um curso em uma pla- marketplace. A divisão da receita com os instru-
taforma online também é um ótimo negócio. É tores é uma grande parte da equação para nós.”„ „

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 45


„ PRECURSOR
No ano passado, o BR Education Ventures se tornou o
primeiro fundo de capital empreendedor brasileiro com
foco em tecnologias educacionais, com capital inicial de
R$ 60 milhões e capital comprometido total de R$ 100
milhões

„ APORTE ESTRANGEIRO
A Chegg, empresa americana de educação, liderou um
grupo de investidores que aportou R$ 23 milhões na startup
brasileira Passeidireto.com. Também participaram a Bozano
Investimentos, Redpoint e.ventures e Valor Capital

„ NEGÓCIOS
Em outubro do ano passado, a Kroton, maior grupo
brasileiro de educação, comprou a startup Studiare por
R$ 4,1 milhões

„ INVESTIMENTO PROGRAMADO
Parceria entre Samsung, Associação de Entidades
Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec)
e Centro de Economia Criativa e Inovação da Coreia do
Sul, o programa prevê investimento de US$ 5 milhões
em 50 startups brasileiras até o fim de 2020

„ AQUISIÇÕES
A alemã Bertelsmann adquiriu 40% da Affero Lab,
voltada a treinamento e educação a distancia
corporativos, absorvendo os 27,7% antes detidos pelo
BR Educacional. Estima-se que o investimento tenha
somado R$ 90 milhões, de um total de R$ 165 milhões
— o restante veio da IFC, do Banco Mundial

„ CROWDFUNDING

Educação Em setembro último, a plataforma Me Passa Aí, que reúne


videoaulas para capacitar universitários a alcançarem bom
desempenho nas provas de faculdade, captou R$ 250 mil
em investimentos por meio da EqSeed, plataforma de

e tecnologia equity crowdfunding de um total de 54 investidores em


troca de participação de 12,5% da empresa

Uma combinação que atrai grandes investimentos, inclusive do exterior, e se


destaca como uma das maiores tendências do mercado nos próximos anos
Débora Thomé

O
mundo está mudando com a educação superior no Brasil cresceu até ras que atuam no mercado de educação
tecnologia. A educação está 2012. De 2014 para 2015, o setor per- têm despertado o interesse de grandes gru-
em plena evolução. A forma deu cerca de R$15 bilhões em valor de pos do setor. Para a diretora executiva da
como instituições de ensino gerenciam mercado. Apesar da crise econômica Anjos do Brasil, Maria Rita Spina Bueno,
o negócio e interagem com os alunos brasileira, o investimento em novas tec- devido às suas características, essas em-
precisa acompanhar essas transforma- nologias, capazes de personalizar a presas atraem muitos investimentos por-
ções. É por isso que investidores consi- aprendizagem, atingir um grande núme- que o mercado é promissor: “As oportu-
deram a educação como um dos seto- ro de pessoas interessadas em conteú- nidades estão onde há problemas”, disse
res mais aquecidos do momento. Uma dos didáticos, permitir o ensino a dis- a executiva, ao revelar que em 2015 os
tendência muito forte no Vale do Silí- tância e otimizar a gestão do relaciona- anjos investiram R$748 milhões em star-
cio, em Palo Alto, na Califórnia (EUA), mento com os alunos, vem se mostran- tups brasileiras — 14% a mais do que no
que é acompanhada também pelo mer- do como um dos pilares para o cresci- ano anterior. Andréa Minardi, pesquisa-
cado brasileiro. mento do setor. dora do Centro de Estudos de Finanças
O valor de mercado da indústria da É nesse cenário que startups brasilei- do Insper, concordou.

46 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


MERCADO

As empresas enxergam oportunidade com


criação de plataformas inovadoras no merca-
do de aulas, como gamificação e aplicati-
vos ou ensino via smartphone. “Em um ce-
nário de crise, redução da demanda e au-
mento de concorrência, investir em ca-
pacitação e desenvolvimento pessoal é
estratégia vital para o diferencial com-
petitivo do profissional”, disse Andréa.
No Brasil, o retorno de um ano adicional
de educação pode ser de até 18% em gan-
hos financeiros, de acordo com a pesquisa.
“A cadeia de capital empreendedor no Brasil
tem vários gaps. A modalidade de equity cro-
wdfunding, que permite ao pequeno investidor no au-
comprar participação acionária da empresa é uma mentou para
inovação que pode preencher alguns destes gaps”, quase 1,87 bilhão de dó-
explicou Andrea. “A boa notícia é que existe di- lares, em 2014, nos Estados Unidos — uma alta
nheiro e interesse em investir neste segmento. Mas de 55% em relação ao ano anterior. Os núme-
os fundos ainda encontram dificuldades de me- ros são os mais altos desde que a CB Insights,
dir o impacto educacional de seus investimen- empresa responsável pelo relatório que apon-
tos”, disse a especialista. Além da modalidade tou o crescimento dos investimentos nesse se-
equity, existem outros fundos no país voltados para tor, começou a cobrir a indústria, em 2009.
o investimento em educação. Os grandes destaques por lá foram a Pluralsi-
O BR Education Ventures foi o primeiro fun- ght, que dá treinamento online para profissio-
do de capital empreendedor brasileiro com foco nais de tecnologia e captou 135 milhões de dó-
em tecnologias educacionais, criado em 2014. lares; a Remind, um serviço gratuito de mensa-
Andréa Minard ainda citou o Fundo Gera, cri- gens para professores se comunicarem com alu-
ado por Jorge Paulo Lemann para investir ex- nos e pais que captou 40 milhões; e o Edmodo,
clusivamente em educação; Monashees, Re- uma rede social para uso em sala de aula, que
dpoint Ventures e DGVF, especializadas em em- recebeu 30 milhões em investimento.
presas de internet em fase embrionária; Vox Ca- “Educação é uma das últimas indústrias a
pital, primeira empresa de investimentos de im- serem afetadas pela tecnologia da internet, e
pacto social do Brasil; ACE Angels, aceleradora estamos testemunhando um esforço para al-
de startups para empreendedores de alto im- cançar outros setores”, disse Betsy Corcoran,
pacto; Inseed, gestora de recursos focada em CEO da EdSurge, um serviço de notícias espe-
inovação; e o W7, fundo de participações dire- cializado, ao NYT. “Estamos vendo nomes
cionado ao setor de tecnologia. mais clássicos do capital de investimento co-
Matéria publicada no The New York Times, meçarem a prestar atenção nesse mercado”,
em julho deste ano, mostrou que o financia- concluiu a CEO. Por aqui, são vários os bons
mento na forma de equity (investimento em em- exemplos de grandes investimentos, apesar da
presas que ainda não são listadas em bolsa de crise econômica. Os valores, no entanto, ain-
valores, para alavancar seu desenvolvimento) da são modestos quando comparados ao di-
para empresas de tecnologia do setor do ensi- nheiro investido na terra do Tio Sam.„ „

 Levantamento feito pelo Boston Consulting Group (BCG) mostra que, desde 2011, o investimento privado em tecnologias para educação tem
crescido em ritmo de 32% ao ano no mundo, passando de U$ 1,5 bilhão para U$ 4,5 bilhões, em 2015. Sendo que 97% desses investimentos
estão concentrados em apenas cinco países: Estados Unidos (que recebeu 77% de todo o investimento), China (9%), Índia (5%), Canadá (3,2%)
e Reino Unido (1,8%). Nesse mesmo período, o Brasil recebeu investimentos privados de U$ 74 milhões em 28 empresas para o desenvolvimen-
to de tecnologias para educação. Na América do Sul, o Brasil é o país que lidera esse tipo de investimento, mas recebeu apenas 1,6% de todo o
investimento privado feito em todo o mundo no período. Isso se deve a fatores como falta de maturidade do mercado de capital de risco,
dificuldade de acessar o potencial e mensurar resultados de algumas tecnologias e carência de uma política de tecnologia educacional explícita.

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 47


TENDÊNCIA

Como lecionar
na escola do futuro
Combinar metodologias de ensino e tecnologias educacionais é a melhor
estratégia para implementar a inovação pedagógica nos dias de hoje
Gustavo Portella

F
acebook, Twitter, WhatsApp, Insta- 9 e 10 anos, seguidos de 71% na faixa Era muito comum no início do sécu-
gram, tablets e smartphones. Essas entre 11 e 12 anos, 80% entre 13 e 14 lo a proibição do uso, nas salas de aula,
são algumas das inúmeras ferramen- e 83% (15 e 16). Essa mesma pesquisa dos antigos celulares, que não eram tão
tas tecnológicas que dominaram o mun- da ONU mostrou que 60% das crian- tecnológicos assim (apenas trocavam
do do século XXI, revolucionando a ma- ças da América Latina ganham o seu mensagens SMS e ligações). Todavia, di-
neira de viver e de se relacionar. A sur- primeiro smartphone aos 12 anos, e ante de uma sociedade cada vez mais
presa, porém, é que a onda tecnológica que uma em cada cinco já utiliza a in- conectada, proibir não é o melhor cami-
não atingiu apenas jovens e adultos, mas ternet por mais de duas horas por dia. nho. A chegada dos smartphones e apli-
também crianças, das chamadas gera- Sem levar em conta estudos técnicos, cativos deve, na verdade, motivar os edu-
ções ‘millenials’ e Z (nascidas nas últi- também é possível concluir que cada vez cadores a alterarem o modelo educacio-
mas duas décadas). mais cedo as crianças dominam as tec- nal, fazendo com que as tecnologias se-
Um estudo da Organização das Na- nologias. Isso porque é fácil encontrar jam aliadas na tarefa diária de tornar o
ções Unidas (ONU), realizado em garotos e garotas, com 3 ou 4 anos, que ensino na sala de aula atrativo.
2014, mostrou que o Brasil lidera em já brincam com o seu tablet. Na escola, Segundo o educador José Manuel Mo-
número de meninos e meninas entre 9 a febre dos smartphones já tomou conta, ran, que é filósofo e doutor em Comuni-
e 16 anos que acessam as redes soci- e é cada vez mais comum eles serem vis- cação pela Universidade de São Paulo
ais. As estatísticas mostram que 42% tos nas mochilas. Mas e o educador? (USP), as ferramentas tecnológicas são
já têm presença nas redes sociais com Como ele deve reagir a isso tudo? fundamentais para a escola do futuro,

48 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


TENDÊNCIA

pois fazem com que os alunos sejam produtores “A personalização encontra seu sentido mais
de conteúdo, e não apenas receptores. “As tec- profundo quando cada estudante se conhece
nologias ampliam as possibilidades de pesqui- melhor e amplia sua percepção do seu potencial.
sa, autoria, comunicação e compartilhamento O projeto de vida é um componente importante,
em rede e publicação”, assinalou Moran. que visa a promover a convergência entre os in-
Essa escola do futuro conta com várias outras teresses e paixões de cada aluno e seus talentos,
possibilidades, defendidas por José Manuel Mo- história e contexto. Estimula-se a busca de trilhas
ran. Segundo ele, são necessários dois tipos de mu- de uma vida com significado e útil pessoal e so-
dança, uma mais suave — com modificações pro- cialmente, e, como consequência, ampliar a mo-
gressivas — e outra mais ampla — com alterações tivação profunda para aprender.”
profundas. Ele acredita que os modelos educacio-
nais mais relevantes combinam três processos.
De forma equilibrada, são eles a aprendiza- “É FUNDAMENTAL QUE HAJA
gem ativa personalizada (em que cada um pode
desenvolver uma trilha de aprendizagem adap- INICIATIVAS, SEJA NA ESFERA PRIVADA OU
tada ao seu ritmo, situação, expectativas e esti-
lo, e também pode compor seu currículo esco- NA PÚBLICA, QUE ESTIMULEM OS
lhendo os módulos e atividades mais pertinen-
tes, com orientação de professores/mentores); PROFESSORES A DESENVOLVEREM
entre pares (por projetos com diferentes gru-
pos, em rede) e a mediada por pessoas mais MATERIAIS QUE USEM TECNOLOGIA COM
experientes (professores, orientadores, mento-
res), cujo eixo fundamental é ajudar a dese- CONTEÚDO DE QUALIDADE”
nhar o projeto de vida do estudante.

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 49


TENDÊNCIA

Uso da tecnologia é a melhor estratégia


O principal objetivo dessa escola do futu- previsíveis. As plataformas adaptativas come-
ro é engajar o aluno multimídia, que vive co- çam a organizar e monitorar as trilhas perso-
nectado, na sala de aula. Isso porque os jo- nalizadas, que se tornam visíveis em tempo
vens de hoje querem participar e aprender a real para alunos e tutores e que permitem o
partir de experiências significativas, de situ- compartilhamento em tempo real a partir de
ações interessantes, que respondam a seus in- smartphones, por exemplo. Cabe aos especi-
teresses e necessidades. Nos modelos inova- alistas a tutoria mais avançada, a de proble-
dores destacados por José Manuel Moran, os matizar, ampliar significados, ajudar na cons-
alunos participam ativamente praticando, trução de sínteses. O compartilhamento em
pesquisando e desenvolvendo projetos, sejam tempo real é a chave da aprendizagem.”
eles pessoais ou grupais. Esse modelo de ensino, trazendo as tec-
“É importante misturar técnicas, estratégi- nologias como aliadas, segundo o especia-
as, recursos, aplicativos. Misturar e diversifi- lista, é a melhor estratégia. “A aprendizagem
car. Surpreender os alunos, mudar a rotina. por projetos, problemas, por design, constru-
Deixar os processos menos previsíveis para indo histórias, vivenciando jogos, interagin-
os alunos. Cada abordagem — problemas, do com a cidade com apoio de mediadores
projetos, design, jogos, narrativas... — tem experientes, equilibrando as escolhas pesso-
importância, mas não pode ser superdimen- ais e as grupais é o caminho que comprova-
sionada como a única.” damente traz melhores resultados em menor
E a melhor forma de fazer com que o alu- tempo e de forma mais profunda na educa-
no pratique e se interesse pelo conteúdo que ção formal. A aula invertida é uma estratégia
está sendo apresentado é por meio das tec- ativa e um modelo híbrido, que otimiza o
nologias. “Elas tempo da aprendizagem.”
ajudam na tu- A professora de história Marieta Ferreira,
toria digital diretora da Editora Fundação Getulio Vargas
de primeiro (FGV), também afirma que a proibição dos
nível, moni- recursos tecnológicos não é o melhor cami-
torando as nho. Ela destaca que o uso dessas ferramen-
dificulda- tas é fundamental, ainda mais se tratando
des mais de uma geração conectada como os ‘mille-
nials’. A especialista alerta, porém, que é ne-
cessário mensurar a qualidade dos conteú-
dos que serão passados aos alunos por meio
dessas ferramentas.
“É um equívoco dar as costas para a
tecnologia, especialmente os smar-
tphones, que envolvem a vida das
pessoas. A questão, porém, é a difi-
culdade de criar atividades de ensi-
no que sejam atraentes para o aluno,
mas que, ao mesmo tempo, tenham
alguma densidade, ou seja, conteú-
do. Acho que é inevitável tentar usar
a tecnologia no aprendizado. Penso
que é fundamental que haja iniciati-
vas, seja na esfera privada ou na públi-
ca, que estimulem os professores a de-
senvolverem materiais que usem tecnolo-
gia com conteúdo de qualidade”, avaliou
Marieta Ferreira, que também coordena o mes-
trado profissional em rede nacional ProfHis-
tória, voltado para a formação de professores
da rede pública, envolvendo 27 universidades.

50 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


TENDÊNCIA

Entrar de vez no caminho das tecnologi- fundamental, e hoje a rede pública não está
as em sala de aula, contudo, tem sido difícil, pronta para essa ‘escola do futuro’”, avaliou
principalmente para os docentes da rede pú- a especialista.
blica de ensino, que enfrentam dificuldades José Manuel Moran também relatou as difi-
estruturais. “Para o uso dessas tecnologias no culdades, mas acredita que os avanços mos-
âmbito escolar ser real, há necessidade de as tram que em breve a escola do futuro estará
escolas terem internet, além das ferramentas, mais real. “Estamos avançando, apesar de mui-
como por exemplo, ipads e computadores, tos problemas estruturais, de formação, valori-
que permitem a você a explorar esse univer- zação e de profundas desigualdades. Os pro-
so. Por questões de custeamento e estrutu- cessos de organizar o currículo, as metodolo-
rais, isso, hoje, é difícil de acontecer. Sou, por- gias, os tempos e os espaços começam a ser
tanto, a favor da política de fomento ao uso revistos, mas há ainda um longo caminho para
dessas tecnologias, para que consigamos avan- mudar a cultura conteudística tradicional pre-
çar nessa pauta. O uso dessas tecnologias pode dominante. Mudar o modelo mental, aprender
ser fundamental para tornar o ensino atrativo por experimentação e sair da zona de conforto
e divertido para os alunos. Mas estrutura é não é um processo simples e rápido.”„„

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 51


ARTIGO
Ricardo Marsili
CEO do Grupo M2BR, professor

A realidade do MBA de Marketing Digital do


Instituto Infnet, fundador da M2BR
Academy, escola de marketing e mídia

virtual já é real! responsável por trazer o primeiro


curso chancelado pelo Facebook
Brasil para o Rio de Janeiro

S
abe-se que o uso da tecnologia por parte da sociedade obedece a um certo PARA QUE SERVE?
padrão. Primeiro temos os inovadores que testam e desbravam qualquer pro
duto. Logo depois temos os visionários, que não são tão vanguardistas como Como toda a tecnologia nova, as pes-
o primeiro grupo, mas gostam de estar à frente de seu tempo. Depois temos a soas se perguntam qual seria a sua utili-
maioria dos consumidores e, por fim, os retardatários. dade. Na verdade, são tantas, que po-
Alguns produtos são inventados e mudam a vida da sociedade como um todo. deríamos dedicar um livro inteiro ao
Rádio, automóvel, televisão, internet, celulares, etc. Outros não têm a mesma tema. Hoje já é possível ver utilidade
sorte e, simplesmente, não caem no gosto popular. Saber de qual grupo cada em diversas áreas, como:
futuro produto fará parte não é uma tarefa fácil, porém temos sempre alguns
indícios do que esperar. Entretenimento
A experiência de ver um filme ou jogar
um jogo em realidade virtual é fantástica.
Já existem títulos totalmente criados para
essa tecnologia, explorando ao máximo a
capacidade de imersão da nova tecnolo-
gia. A Sony, através do Playstation VR, saiu
na frente e lançou o primeiro óculos para
videogames (Playstation 4). Ainda se trata
de um investimento alto (400 dólares),
porém é a opção mais barata entre os dis-
positivos de alta performance.

Turismo
A nova tecnologia vem possibilitan-
do passeios virtuais pelos mais variados
lugares do mundo. “Visitar” um espaço
sem conhecê-lo fisicamente tem se tor-
Diversos futurólogos e empresas afir- vés da câmera do celular podemos ver nado cada vez mais comum. As cida-
mam que a realidade virtual é a “the next o nosso quarto e, por causa do aplicati- des têm criado conteúdo para tours vir-
big thing”, ou seja, é a próxima tecnologia vo, temos a ilusão de um Pokémon pu- tuais de seus principais pontos turísti-
que irá revolucionar uma parte da socie- lando em nossa cama. cos, enquanto alguns restaurantes e
dade. As vendas de dispositivos de R.V Já a realidade virtual precisa trans- museus já possibilitam a visita interna e
aumentarão de 140 mil unidades em 2015 portar o seu usuário para um mundo guiada de seus ambientes.
para 1,4 milhão de unidades ao final de completamente novo, com pouco ou Além de uma excelente ferramenta
2016, de acordo com previsão da Gartner nenhum vínculo com o que acontece de venda, a R.V possibilita a dissemi-
no mundo que enxergamos com nos- nação da cultura entre os menos favo-
O QUE É REALIDADE VIRTUAL? sos olhos. Em um dos exemplos mais recidos ou a possibilidade de que pes-
comuns, temos diversos vídeos na in- soas com problemas de saúde possam
Há poucos meses nós tivemos um fe- ternet de pessoas que utilizaram um si- realizar seus sonhos de viagens sem
nômeno de popularidade com o jogo mulador de montanhas russas em R.V. saírem de suas camas.
Pokémon Go, abrindo os olhos de vári- Elas literalmente gritaram e tiveram re-
as pessoas para as novas possibilidades ações bem semelhantes a se estivesse Saúde
de tecnologia móvel. Este aplicativo, na de fato no brinquedo real! Manter um bom estado de espírito é
verdade, usa a realidade aumentada Assim como em outros conteúdos muito importante para que os tratamen-
como base de funcionamento, ou seja, para R.V, o cérebro é enganado de tal tos de saúde mais intensos tenham exce-
aproveita grande parte dos elementos do forma que a experiência virtual passa a lentes resultados, porém a R.V vai muito
nosso mundo real para inserir elemen- ser real. Assustador e excitante ao mes- além disso. Ela vem sendo usada com
tos virtuais pontuais. Por exemplo, atra- mo tempo, não acham? sucesso no tratamento das mais variadas

52 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


ARTIGO

fobias e transtornos psicológicos, colocan- QUANTO CUSTA? Capacetes de alto desempenho


do os pacientes em situações “reais”, com JÁ TEM NO BRASIL? Esses devices são ligados diretamen-
a proteção e orientação dos terapeutas. te a computadores ou videogames e,
Também serve para facilitar a regularida- Podemos dividir os dispositivos em com isso, são capazes de reproduzir
de dos exercícios físicos e de fisioterapia. 3 categorias, com faixas de preços e be- conteúdos mais realistas. Sua ergono-
nefícios bem diferentes entre si. mia e capacidade de imersão são bem
Educação e treinamento superiores em relação aos demais, po-
Podemos partir do princípio que a Cardboards rém a faixa de preço ainda fica bem “sal-
maioria das pessoas gosta de aprender, Através de um projeto inovador do Goo- gada” para o bolso do brasileiro, poden-
mas não de estudar. A realidade virtual gle, foi possível usar papelão e lentes espe- do variar de R$2.500,00 a R$4.000,00
pode desempenhar um papel importante ciais para criar dispositivos de realidade vir- dependendo do modelo e fabricante.
na imersão dos alunos e na retenção do tual baratos e muito funcionais. Basta inse-
conhecimento. Imagine uma aula de his- rir qualquer smartphone na área indicada CONCLUSÃO
tória na própria revolução francesa? Ou para ter acesso imediato a centenas de con-
uma aula de biologia onde é possível pas- teúdos gratuitos em realidade virtual. É pos- Como tudo na era do capitalismo,
sear pelas reações químicas do corpo? sível achar modelos na faixa de R$30 reais. precisamos de escala e adesão em mas-
A experiência de EAD também já Algumas empresas brasileiras já importam sa para que os valores sejam menos proi-
vem sendo transformada. Os alunos e os óculos de papelão ou tem fabricação bitivos ao cidadão comum. Já existem
professores podem ter uma sensação de própria, facilitando o processo de compra. bons dispositivos baratos, que devem ser
presença muito maior e usarem o am- suficientes para instigar a curiosidade e
biente virtual para explorarem novas Dispositivos para Celulares aumentar o consumo de R.V entre to-
formas de expor e interagir com o con- São parecidos com o conceito do Car- das as camadas da população.
teúdo dado em sala de aula. dboad, porém tem um acabamento me- Entendo que a realidade virtual será
Por último, porém não menos impor- lhor e um maior nível de imersão e con- uma tecnologia fundamental nos próxi-
tante, temos os treinamentos profissio- forto. A Samsung, por exemplo, lançou o mos anos, mas aposto principalmente
nais e corporativos. Médicos já podem Gear VR, onde é possível ter realidade vir- no setor de educação e treinamento.
realizar operações virtuais, onde treinam tual através de um celular qualquer da em- Será possível aumentar o interesse dos
seus conhecimentos. Mergulhadores presa. O valor fica próximo de R$800,00. alunos e o grau de retenção de conhe-
podem treinar um reparo de válvula su- Existem soluções mais baratas de cimento como nunca antes. Teremos os
baquática, diversas vezes, antes de pre- empresas brasileiras (na faixa de bônus do ensino presencial e o EAD
cisarem descer de verdade ao fundo do R$150,00), utilizando materiais bem juntos e quase nenhum ônus. É bom
mar para realizar o trabalho. superiores ao papelão. demais para ser real, mas é! „

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 53


SEGURANÇA

Como adotar
o serviço de Cloud?
Serviço ajuda a otimizar custos e gerenciar o armazenamento de dados em
praticamente todos os segmentos corporativos — inclusive na Educação
Larissa Siqueira

G
erenciar, organizar e, principal hoje é armazenada e processada pelas genharia de Sistemas Brasil da Veritas,
mente, prever quanto custará organizações no mundo todo, são con- estes dados são os principais vilões do
o armazenamento de dados em sideradas um Dark Data, ou “dado es- consumo de armazenamento e destina-
uma empresa ganhou uma forma mais curo”, com valor ainda desconhecido. dos a Cloud. O executivo ainda afirma
ágil de ser feito. O serviço de “cloud” A pesquisa ainda aponta que 33% que a Cloud é atualmente uma realida-
vem sendo utilizado com esse propósi- dos dados são redundantes, obsoletos de para praticamente todos os segmen-
to, em uma realidade onde ainda boa ou triviais (ROT) e conhecidos como tos corporativos em que os negócios são
parte da informação armazenada pode- inúteis. Com isso, os dados “dark” e ROT quase no todo digitais. Desta forma, o
ria ser descartada. Segundo o Relatório corporativos, não controlados, irão cus- serviço possui o “papel de trazer agili-
Global Databerg, divulgado em março tar para as organizações cerca de 3,3 dade, flexibilidade e previsibilidade de
de 2016 pela Veritas Technologies, em- trilhões de dólares para serem gerenci- custos de acordo com a demanda”.
presa líder global em gerenciamento de ados até o ano de 2020, sem necessida- Ao longo dos últimos sete anos, a
dados, 52% de toda informação que de. Segundo Marcos Tadeu, líder de En- velocidade real de crescimento de da-

54 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


SEGURANÇA

dos no nível de arquivos é 39% ano após ano, indispensável para um crescimento sustentá-
segundo dado apontado no relatório 2016 vel. Ele ainda destaca que como o bem maior
Data Genomics Index, também desenvolvido das empresas são suas Informações, elas de-
pela Veritas. Ainda de acordo com o DGI, a vem ser tradas com seu devido valor, indepen-
demanda por capacidade de storage cresce 9% dentemente de como estejam armazenadas.
mais rápido do que a criação de arquivos in- “Cloud em seu modelo mais tradicional
dividuais. Portanto, ainda que a mudança de IaaS (Infra estrutura como serviço), seguido
comportamento ajude a conter esse crescimen- por Plataforma como Serviço, PaaS e Softwa-
to, isso acaba tornando-se um problema de re como Serviço SaaS, e independente do mo-
gerenciamento do armazenamento. Além dis- delo e provedor de cloud, continua manten-
so, esse ambiente está desorganizado, pois em do a responsabilidade pelos dados ao clien-
média 1 de PB de informação contém te, o que demanda ainda mais uma metodo-
2.312.000.000 arquivos. logia de Governança de Informações por par-
“O principal caso de uso hoje no mercado te destes, vistos que as fronteiras de sua em-
para cloud é armazenamento em Nuvem, Sto- presa são extrapoladas.”
rage, visto que a volumetria de armazenamento Antes de adotar o serviço de Cloud, Mar-
tem dobrado a cada ano nas empresas, e o cus- cos Tadeu destaca ser importante como es-
to de gerenciamento de todo este storage on- tratégia o conhecimento prévio dos dados,
premisses tem inviabilizado em muitas vezes para iluminar o “Dark Data”, e tomar ações
o crescimento. Quando falamos em gerencia- com relação aos dados ROT. Isso é fundamen-
mento, precisamos pensar mais do que o cus- tal, segundo o líder de Engenharia de Siste-
to de aquisição, e sim espaço físico, instala- mas, para prever custos e usar consciente-
ções, backup e replicação desde dados, pes- mente o armazenamento, assim como aumen-
soas, segurança, etc. Segundo pesquisas reali- tar o nível de confidencialidade e melhora
zadas pela Veritas, este custo pode chegar a da segurança das Informações. “Soluções de
US$5,00 o GB gerenciado”, apontou Marcos Analytics, como é o caso da solução da Veri-
Tadeu, completando: “Entretanto conhecer o tas chamada Infomap, ajudam as empresas a
conteúdo de toda esta volumetria, que tem entender melhor seus dados não-estruturados,
crescido de forma exponencial a fim de apri- iluminando dados obscuros e garantindo to-
morar os processos de Governança de Infor- tal visibilidade de onde estão e como são uti-
mações, tem sido uma tarefa árdua, e em mui- lizados”, informou.
tas vezes sem sucesso, trazendo à tona ques-
tões de privacidade, segurança e atendimento
a regulamentações em relação
às informações: o que são,
de quem, como são uti-
lizadas e onde estarão ar-
mazenadas”.
Para o exe-
cutivo, o tema
Governança
de Informa-
ções em um
mundo que é
100% digital é

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 55


O DATABERG
Segundo o Relatório Databerg, divulgado pela
Veritas em 2016, “um novo conjunto de riscos até
então ignorados está ameaçando as organizações”.
Nunca teve-se um crescimento tão rápido de da-
dos e isso só irá aumentar. Portanto, as empresas
precisam mudar o comportamento pré-Databerg.
Databergs surgem da adição de grande volume de
“Dark Data” aos poucos compreendidos como da-
dos corporativos. Quando os Databergs são geren-
ciados da maneira correta, dados críticos do negó-
cio são protegidos. E desperdícios, reduzidos. Os
Databergs possuem os três tipos de dados armaze-
nados hoje em dia: dados críticos para o negócio,
que são vitais para o sucesso da operação diária de
uma empresa; dados ROT, são os dados redundan-
tes, duplicados, triviais ou obsoletos, pois não pos-
suem mais valor para a empresa, e dark data, são
aqueles cujo valor ainda não foi determinado.

USP é um exemplo na adoção da Cloud


A Universidade de São Paulo adotou o serviço de implantação de novas tecnologias, como integração de
Cloud, desenvolvido pela Cisco, buscando otimizar a tráfego de dados e tráfego de armazenamento usando
produtividade na instituição em 2011, expandido-o em a mesma rede. Vicentini explica que, embora isso te-
2012. Esse método “proporcionou apoio ao desenvol- nha simplificado o processo de implantação, deman-
vimento, inovação e fornecimento de diferentes formas dou novos conhecimentos da equipe.
de auxílio tecnológico para staff de administração da “Foi criado um grupo de trabalho para garantia do su-
USP e outras áreas”, segundo Daniel Vicentini, enge- cesso do empreendimento. A Cisco apoiou com a tecno-
nheiro de sistemas consultor da Cisco. logia e visão para suportar a estratégia de longo prazo
O engenheiro explica que foram dois os principais apresentada pela USP. Contamos também com excelen-
desafios no desenvolvimento desse projeto: a mudança tes parceiros de execução das atividades e a participação
cultural e o desenvolvimento integrado. “Primeiro e mais dos demais fabricantes de armazenamento e virtualiza-
importante: mudança cultural. Os usuários da tecnolo- ção. O projeto começou como um piloto para a Bibliote-
gia deixavam de usar seu computador de trabalho e tro- ca da universidade para teste e validação. Uma vez vali-
caram por um computador virtual (na nuvem) rodando dado, foi feita a expansão do modelo para atender às
todos os seus aplicativos. Não foi uma mudança obriga- demais áreas. Um ponto importante da estratégia tam-
tória, mas conquistada. À medida que a percepção dos bém foi a modularidade. O projeto foi concebido para
benefícios apareciam, como por exemplo o tempo de poder escalar a medida que é necessária, protegendo todo
resposta para resolver reparos ou recuperar arquivos per- o investimento feito”, detalha o engenheiro.
didos. O computador na nuvem também estava disponí- Daniel Vicentini conclui que não somente a Educa-
vel em qualquer lugar da rede. Segundo: desenvolvimento ção, mas todos os setores podem se beneficiar com o uso
integrado. Tipicamente órgãos públicos fazem suas aqui- da cloud. Ele enumera algumas das vantagens: “1) Me-
sições de bens e serviços de forma não integrada. E neste lhoria da prestação de serviços para a área de TI através
modelo nem sempre é possível atingir os objetivos inici- da automatização de várias funcionalidades. 2) Na cloud
ais. Neste projeto, a decisão foi fazer uma compra inte- a prestação de serviços pode ser compartilhada. Assim,
grada para garantir o modelo proposto”, disse. dá acesso à tecnologia de ponta e portanto produtivida-
O especialista conta ainda que os pontos conside- de para áreas da empresa que até então não podiam se
rados mais complexos na implantação desse projeto beneficiar por falta de orçamento. 3) Fornece melhor vi-
foram a integração de dois Datacenters - um na uni- sibilidade dos usos dos recursos de TI para os executivos
versidade e outro em um fornecedor de hospedagem da empresa, permitindo entender melhor como esta área
de Datacenter, para garantir alta disponibilidade – e a atende os objetivos da organização”, concluiu. „

56 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


TENDÊNCIA

Impressoras 3D
O novo negócio da Educação
Especialistas acreditam que maioria das escolas contará com uma impressora
3D dentro de bem pouco tempo, como aconteceu com computadores e tablets
Luiz Fernando Caldeira

B
astante difundida em escolas e dicos, sem a necessidade de os gesto- dor e especialista em impressão 3D.
universidades dos Estados Uni- res educacionais importarem o dispo- Durante 20 anos, a Stratasys reina-
dos e da Europa, as impresso- sitivo, exceto se a utilidade do apare- va sozinha no mercado. No entanto,
ras 3D já são uma realidade no Brasil. lho for para produção industrial. Em após a quebra da patente, em 2009,
Embora ainda restritas a algumas ins- um momento de crise econômica e outras empresas passaram a produzir
tituições de ensino, sobretudo as de for- instabilidade do dólar, comprar uma impressoras 3D, o que ajudou a difun-
mação superior, essa nova tecnologia impressora de fabricantes brasileiros dir a tecnologia e a reduzir o preço para
vem crescendo no país e, segundo pre- é uma ótima forma de economizar, de o consumidor final. Segundo Cláudio
visão de especialistas na área, em um acordo com especialistas na área. Sampaio, existem dezenas de tecnolo-
período de cinco a dez anos, a sua uti- “Hoje temos impressoras 3D brasi- gias diferentes de impressão 3D, mas
lização será tão comum como a de com- leiras de boa qualidade sendo vendi- as mais baratas hoje, para uso domés-
putadores e tablets em salas de aula. das por R$2 mil, com a média se situ- tico, são a FMF (trabalha com extrusão
Responsáveis por promover uma ando entre R$4 mil a R$8 mil. É o mes- de plástico derretido), SLA e SLA/DPL.
verdadeira revolução no campo edu- mo preço de um computador um pou- “No Brasil, temos cerca de uma de-
cacional, as impressoras 3D já podem co mais sofisticado”, garantiu Cláudio zena de empresas que produzem im-
ser adquiridas no Brasil a preços mó- Luís Marques Sampaio, que é educa- pressoras 3D FDM, e duas delas já

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 57


TENDÊNCIA

anunciaram modelos de SLA e SLA/DLP tam- manuseá-las. “A PUC conta com várias impres-
bém. Para as tecnologias de impressão 3D mais soras, de todos os materiais e tamanhos. Em
industriais, todas fortemente protegidas por casos específicos, fazemos trabalhos de impres-
patentes ainda vigentes, o que temos são im- sões complexas com os alunos.”
portadoras ou representantes internacionais. Para os especialistas em impressão 3D, os
Como muitas dessas tecnologias foram paten- custos que uma instituição educacional terá
teadas nos anos 1990 e o mercado de massa com a compra de uma impressora, matéria-pri-
tem inovado bastante, há a esperança de mes- ma e a manutenção do equipamento chegam a
mo técnicas industriais serem fabricadas com ser irrisórios frente aos benefícios que isso tra-
baixo custo em terra brasilis. Mas, no momen- rá em termos de fortalecimento institucional da
to, não as temos. Algumas empresas nacionais marca e, sobretudo, na melhoria da qualidade
que posso dizer de memória são a Sethi3d, do ensino. “As impressoras 3D impactam mui-
Gtmax3d, Boaimpressão3d, Cliever, CNCBra- to no ensino, uma vez que se trata de uma tec-
sil, Movtech, Tato, Reprap3d. Entre as importa- nologia que permite aos alunos materializar fi-
doras ou representantes, há a 3DCriar, e-tech sicamente ideias. Essa possibilidade, nunca
(3DCloner), 3DGraf, WanhaoBrasil e Acccrea- antes vivenciada na história, auxilia muito no
te”, citou Cláudio Sampaio, que após deixar processo de reconhecimento e visualização de
seu antigo emprego de programador e admi- forma tátil. Na PUC-Rio, essa tecnologia vem
nistrador de sistemas em uma grande multina- trazendo muitos benefícios, principalmente nos
cional, fundou a MakerLinux e passou a se de- cursos de Design, Engenharia e Medicina, pois
dicar a dar palestras e difundir essa tecnologia permite acesso a um novo mundo de possibili-
para as massas. dades de materialização física em projetos e
Outros fatores que vêm ajudando a difun- simulações como, por exemplo, impressão de
dir as impressoras 3D no Brasil são o baixo modelos por meio de tomografia para auxílio a
custo da matéria-prima e o fato dela ser bas- cirurgias”, apontou o professor Jorge Lopes.
tante ecológica, já que não exige o uso de Segundo o especialista, o forte investimento
materiais tóxicos. Com um quilo de filamen- que a PUC-Rio fez na compra de impressoras
to, é possível produzir dezenas de protótipos 3D rendeu uma grande parceira para a produ-
em 3D, dependendo do objeto. “Os materiais ção de protótipos para o mercado de petróleo.
também sofreram uma enorme queda de pre- “Temos um grande projeto junto com a Petro-
ço e já existe quilo de filamento de impresso- bras e a Organização Nacional das Indústrias
ra 3D sendo vendido a R$90, R$100. Um qui- de Petróleo (Onip), para a produção de protóti-
lo de filamento pode, gros-
so modo, imprimir o equi-
valente a mais ou menos
50 garrafinhas com tampa
rosqueável de 200 ml”, ga-
rante Cláudio Sampaio.
Alguém há de se per-
guntar: qualquer pessoa
pode manipular uma im-
pressora 3D ou apenas pro-
fissionais qualificados? Em-
bora existam empresas es-
pecializadas em treinar
professores para o uso des-
ta nova tecnologia, é possí-
vel, sim, utilizar o aparelho sem
grandes conhecimentos técnicos. É o que ga-
rante o professor Jorge Lopes, que é pesquisa- pos em 3D. Esse projeto foi feito junto com o
dor da PUC-Rio e do Instituto Nacional de Tec- Instituto Nacional de Tecnologia (INT),
nologia (INT), além autor de livro sobre a tec- do Ministério da Ciência e Tecnologia. Temos
nologia 3D. “Qualquer um pode operar impres- tecnologias das mais modernas no mundo. Pos-
soras 3D. Hoje em dia, essas tecnologias estão suímos equipamentos que imprimem metal,
super amigáveis”, disse o professor, destacan- nylon, cerâmica e outros materiais em 3D”,
do, ainda, que na PUC-Rio os alunos podem disse o professor Jorge Lopes.

58 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


TENDÊNCIA

Uso de tecnologias ajuda a formar alunos mais criativos


Aulas mais dinâmicas e alunos mais criati- Sendo assim, com-
vos e bem preparados para o mercado de tra- pensa o investimen-
balho. Os benefícios trazidos pelas impresso- to que os gestores
ras 3D são uma mão de via dupla, onde esco- educacionais vão fa-
las e estudantes saem ganhando. E especialis- zer, pois isso qualifi-
tas garantem: quanto mais cedo tecnologias ca bastante a institui-
como essas forem introduzidas nas escolas, o ção de ensino.”
processo de aprendizagem se tornará mais rá- Dado Suter, fun-
pido e natural. dador da OHMS,
“Tecnologias com impressoras 3D possibi- compartilha do mes-
litam acelerar o processo de compreensão. In- mo pensamento de
troduzir desde criança uma tecnologia como sua sócia Mariana
essa vai dando naturalidade ao processo. É Salles. Segundo ele,
muito mais rico você aprender utilizando ar- a utilização de tecno-
tefatos produzidos em impressoras 3D com 8 logias novas, como
anos de idade do que com 20. Usufruindo des- as impressoras 3D, fará com que ocorra um sal- Especialistas garantem
ses benefícios desde cedo, o aluno chega aos to enorme na qualidade de ensino do país e na que as contribuições
das impressoras 3D são
20 anos em um outro patamar de conhecimen- formação de profissionais ainda mais qualifica- enormes para acelerar o
to”, afirmou Mariana Salles, designer especi- dos para o mercado de trabalho. “A impressora processo de compreensão,
resultando num
alizada em impressoras 3D e sócia da OHMS, 3D é o equivalente a uma massinha em uma aprendizado mais
um makerspace situado no Rio de Janeiro. escola antiga. Mas é uma massinha que você rápido, natural e criativo
Segundo Mariana Salles, as escolas que fazem não vai modelar na mão, mas em um computa-
uso da tecnologia 3D criam um diferencial com- dor. Ela faz absolutamente aquilo que você pro-
petitivo. “Ao se formar alunos mais criativos, com jetou. É uma das ferramentas que ajudam a for-
maior capacidade de entendimento das coisas, mar alunos mais criativos, mas não é a solução
formam-se consequentemente profissionais mais mágica que dá criatividade para eles. Mas ela
qualificados. E o mercado de trabalho reconhe- certamente contribui muito. Podemos não ter isso
ce isso. Ao enxergarem que essas escolas e uni- e formar pessoas criativas? Podemos. Mas você
versidades produzem melhores profissionais, dá um salto gigantesco tendo um equipamento
essas instituições passam a ser mais procuradas. desses”, garantiu Dado Suter.

Impressoras 3D deverão se tornar tão populares quanto o computador


A utilização de objetos em 3D como ferramentas de suntos bastante complexos.
estudo deixa as aulas mais vivas e recreativas, facili- “As impressoras 3D são um dispositivo genérico, como
tando o aprendizado de diversas disciplinas. Uma aula um computador. Enquanto o computador pode gerar sons,
de Química, por exemplo, pode ficar muito mais atra- imagens e cálculos arbitrários bastando que você o pro-
tiva e esclarecedora quando os estudantes manipulam grame, a impressora 3D pode gerar objetos físicos — ar-
cadeias moleculares impressas. Em Geografia, por sua tísticos ou úteis — bastando que você a programe. Então,
vez, podem ser utilizados modelos tridimensionais das o potencial dela é ilimitado não só para educação funda-
placas tectônicas e de relevo de vários territórios e pa- mental, média e superior, como também para muitos ou-
íses. Ou então, que tal estudar História manipulando tros propósitos. Você tem a ideia e a concretiza em um
obras culturais de antigas civilizações e moedas anti- instante. Isso não só torna as aulas mais divertidas, mas,
gas com as efígies dos reis? sim, enlouquecedoramente mais dinâmicas. Um aluno
Segundo especialistas na área, com as impressoras brilhante que tenha uma ideia de melhorar um determi-
3D, o conceito de ensino torna-se outro: os alunos nado mecanismo, pode trazer no dia seguinte o seu pro-
deixam de visualizar figuras em livros e passam a ter tótipo impresso para mostrar ao professor, sem precisar
em mãos protótipos praticamente reais, o que poten- de habilidades de manufatura excepcionais”, disse Cláu-
cializa muito a capacidade de aprendizagem de as- dio Sampaio, da empresa MakerLinux. „

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 59


MERCADO

Criatividade
para mudar o mundo
Adobe ajuda a explorar o potencial de professores e alunos ao desenvolver
ferramentas e recursos que possibilitam otimizar habilidades digitais
Anderson Borges

“A creditamos que a criatividade


pode mudar o mundo.” É com
esse pensamento, manifestado
pelo seu diretor de Marketing, Graciel
dade em seus alunos, desenvolver ha-
bilidades digitais. Quando os alunos se
tornam criadores de conteúdos digitais,
podem ampliar suas ideias e aumentar
ção do desenvolvimento de materiais
de eLearning (aprendizagem eletrôni-
ca), impulsionamento da colaboração
em documentos digitais e aumento da
Barbieri, que a Adobe Brasil desenvol- o seu impacto”, avaliou Barbieri. eficiência e preparação de aulas virtu-
ve ferramentas, comunidade e recursos O diretor da Adobe Brasil explicou ais envolventes.
de desenvolvimento profissional para es- que as soluções da empresa para a edu- Com relação ao primeiro tópico, Bar-
timular a criatividade de alunos, edu- cação podem ser divididas nos seguin- bieri observou que com as ferramentas
cadores e instituições de ensino. “Os tes tópicos de interesse: criação de um de criação da Adobe, disponíveis em
educadores têm uma oportunidade e ambiente mais propício ao ensino de plataformas como a Creative Cloud e o
uma obrigação de promover a criativi- habilidades do mundo real, simplifica- Digital Publishing Suite, é possível cri-

60 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


MERCADO

ar materiais envolventes e interativos para a sala de aula, aplicando novas tecnologias e fomen-
de aula. “As ferramentas incluem tudo de que tando a inserção digital de seus alunos. A cons-
um aluno precisa para publicar conteúdo na ciência desse processo de mundança torna cada
internet, seja em sites ou para tablets e smar- vez mais importante o uso de ferramentas como
tphones, permitindo a criação em diferentes mí- essas, a fim de acompanhar as transformações
dias, seja em vídeo, material impresso, na Web, em curso na área de educação.
em um aplicativo ou em qualquer outro lugar.”
Para o desenvolvimento rápido e fácil de cur-
sos de eLearnings, materiais de treinamento e “QUANDO OS ALUNOS SE
lições para sala de aula, a empresa oferece solu-
ções como o Presenter 9 e o Adobe Captivate 7, TORNAM CRIADORES DE CONTEÚDOS
que permitem ainda o gerenciamento e mensu-
ração eficientes do progresso dos alunos. No que
diz respeito à organização de trabalhos e tarefas
DIGITAIS, PODEM AMPLIAR SUAS IDEIAS
em portfólios em PDF fáceis de compartilhar, é
possível utilizar o Adobe Acrobat XI Pro, com o
E AUMENTAR O SEU IMPACTO”
qual o usuário consegue otimizar o fluxo de tra-
balho com documentos digitais, ganhar em pro-
dutividade e ainda criar formulários via web. A Adobe desenvolveu, ainda, uma plataforma
Já se o objetivo é atrair cada vez mais a aten- voltada para o treinamento de professores em tec-
ção dos alunos, a empresa oferece uma platafor- nologias diversas, a Adobe Edex (Education Ex-
ma chamada Adobe Connect, para a realização change, algo como Intercâmbio Educacional em
de aulas virtuais em um ambiente avançado que português), definida como uma ampla matriz de
permite a exibição de vídeos, discussões e mui- oportunidades de desenvolvimento profissional
tos mais em qualquer dispositivo, inclusive iOS e e treinamento. Ou uma comunidade de educa-
Android. Por acreditar que o processo conhecido dores compartilhando ideias para salas de aula
como gameficação deverá mudar a maneira como mais envolventes e criativas. A plataforma ofere-
as pessoas interagem com produtos e serviços, ce conteúdo extenso, que inclui workshops para
com impacto também na educação, a Adobe criar projetos em sala de aula, webinars (seminá-
conta também com ferramentas que suportam o rios online) ao vivo, com chat de perguntas e res-
desenvolvimento de games, como o Adobe Scout. postas, videos e muito mais. Tudo gratuito para
Barbieri ressaltou que as instituições têm re- os educadores. O Edex, no entanto, ainda está
pensado suas metodologias de ensino em sala disponível apenas em inglês e japonês.

Criatividade é fundamental para a escolha da carreira


Para destacar a importância das soluções for- tar com essas soluções em suas instituições,
necidas pela Adobe, o diretor de Marketing da Barbieri disse que a Adobe disponibiliza suas
empresa argumentou que a necessidade de idei- ferramentas por meio de computação em nu-
as criativas nunca foi tão urgente, em função vem e tem parcerias com as instituições de en-
dos sérios desafios enfrentados na economia sino para a colaboração com conteúdo e ins-
global, no ambiente e em questões sociais. “A trução de educadores.
oportunidade de expressar suas ideias digital- “Com essa nova opção de licenciamento
mente, para o mundo todo, também nunca foi para salas de aula e laboratórios, alunos e ins-
tão grande. É aí que a Adobe acredita poder tituições têm acesso a todas as ferramentas cri-
ajudar”, afirmou. ativas de criação de conteúdo de uma só vez”,
Além disso, segundo ele, uma pesquisa da ressaltou, acrescentando que são mais de 25
Adobe com instituições e alunos apontou que aplicativos e centenas de tutoriais com passo a
85% das pessoas concordaram que o pensa- passo para que alunos e professores possam
mento criativo é crucial para a decisão sobre acelerar o aprendizado e produzir mais.„ „
que carreira seguir. “É por isso que acredita-
mos que a criatividade deve ser uma priorida-
Catálogo de produtos: www.adobe.com/pt/products/
de na educação. A criatividade é para todos.” E Adobe Edex: edex.adobe.com/
para os que reconhecem a necessidade de con-

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 61


MERCADO

$KI&CVC
na gestão da Educação
Os dados gerados pelo uso da tecnologia no processo educacional podem
(e devem) otimizar e contribuir para o desenvolvimento do ensino
Flavia Vargas

P
raticamente todos os dias você bilitam novas formas de utilização des- Araújo, CTO da AevoTech.
acessa um computador, faz login tes dados”, definiu Rafael Pinho, coor- Para ele, o grande desafio é a tradu-
no sistema, abre o navegador, en- denador do Núcleo de Inteligência ção do universo gigante de dados em
tra no e-mail, se cadastra em um portal Embarcada do IBMEC. informações úteis que possam ser utili-
de notícias. Dali você parte para um site O Big Data é fruto da coleta de di- zadas na tomada de decisão nos negó-
de compras, conversa com um amigo ferentes fontes, como sistemas utiliza- cios. “O volume de dados é imenso,
em uma rede social, publica algo que dos por uma empresa ou instituição, tornando inviável a aplicação de técni-
teve vontade de compartilhar. Pronto. aplicações fornecidas para clientes, in- cas tradicionais de processamento de
Em apenas alguns minutos, seus dados terações em redes sociais e sensores em dados para tratar e realizar a análise.
foram todos mapeados e seu perfil defi- equipamentos, entre uma infinidade de Para solucionar esse problema tecnolo-
nido. Isso é o Big Data. meios. “De forma geral, são dados ca- gias e algoritmos vieram sendo desen-
“São grandes conjuntos de dados, pazes de refletir o comportamento de volvidos nos últimos anos, como por
tão grandes que apresentam um desa- entidades relacionadas à empresa-alvo. exemplo a computação em nuvem e o
fio aos métodos tradicionais da estatís- Esses dados podem ser estruturados ou algoritmo map-reduce”, disse.
tica, matemática, computação e visu- não, e costumam ser recebidos em di- A ciência que estuda essas bases de
alização, ao mesmo tempo que possi- ferentes formatos”, ressaltou Thiago dados, utilizando ferramentas da Esta-

62 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


MERCADO

tística, Matemática e Computação, é chamada Paralelamente ao Foco Aprendizagem, a Tu-


de Data Science e vem sendo utilizada por em- neduc desenvolveu o Termômetro do Abando-
presas de médio e grande porte visando à re- no. “Como nós temos uma série histórica des-
dução de custos, otimização do investimento, ses alunos, temos informação de boletim, de
melhor adequação ao público-alvo e identifi- questionário socioeconômico, nós usamos esse
cação de novos produtos e serviços. conjunto de informações para prever os alunos
“As tomadas de decisão têm mais chances que tinham alta chance de abandono”, expli-
de darem certo por termos à disposição infor- cou. A ferramenta conseguiu prever mais de
mações relevantes sobre o comportamento do 50% dos abandonos que ocorreram.
serviço, muitas vezes impossíveis de serem ob- A rede estadual de São Paulo conta com mais
tidas através de outro meio”, ressaltou Thiago. de 5 mil escolas, e mais de 75% delas utilizam
A estratégia foi adotada pela Secretaria de Edu- o Foco Aprendizagem. “O que a gente tem é
cação do Estado de São Paulo, em parceria com a uma evidência qualitativa que mostra que a rede
Tuneduc, especializada em transformar dados em está bastante satisfeita, em particular os profes-
ferramentas de gestão educacional. A Foco Apren- sores, que agora podem fazer uma leitura pe-
dizagem é uma ferramenta complexa de organi- dagógica dos dados”, disse Ricardo.
zação de informações da rede estadual de São Pau- Entre os objetivos da plataforma estão aju-
lo, que cria indicadores pedagógicos por meio das dar a avaliação padronizada a subsidiar a in-
avaliações padronizadas já existentes na rede. tervenção pedagógica, ajudar as escolas e di-
“A ferramenta cria uma conexão mais clara retorias de ensino no planejamento estratégi-
entre o diagnóstico que a prova oferece e os co, além de proporcionar uma locação mais
recursos pedagógicos que o Estado tem. Quan- eficiente das políticas públicas.
do um professor de Matemática, por exemplo, Para Madeira, a utilização dos dados no pro-
identifica que os alunos dele historicamente não cesso de tomada de de-
têm dominado a habilidade H14 de Matemáti- cisão é uma tendência
ca, ele sabe exatamente a quais recursos peda- que veio para ficar.
gógicos recorrer para melhorar essa habilida- Se no pas-
de”, explicou Ricardo Madeira, sócio fundador sado não
da Tuneduc e professor de Economia da USP. havia mui-
Inteiramente financiada pelo Terceiro Setor, ta informa-
toda a plataforma está sendo desenhada den- ção dispo-
tro do servidor da Secretaria, de forma que nível, hoje nos
quando o projeto for concluído a Tuneduc vai deparamos
transferir a tecnologia à pasta. com uma infi-
“A primeira etapa de entrega foi o que a nidade de da-
gente chama de ‘mapa de habilidades’, criar dos. O impor-
indicadores que permitissem uma interven- tante é saber organi-
ção pedagógica, que fosse de fácil compre- zar e transformar es-
ensão para os professores e que fosse atrela- ses dados em algo que
do aos recursos pedagógicos que a rede pos- seja útil, criando indi-
sui”, disse Ricardo. cadores que ajudem na
Segundo ele, uma das maiores inovações da tomada de decisão.
ferramenta é a reconstrução dos indicadores para O custo computacional
os professores no começo do ano letivo, basea- em declínio aliado ao
da na avaliação do aluno no ano anterior. imenso banco de informações
Como as avaliações padronizadas da Secreta- gerado hoje vem tornando a análi-
ria são feitas no fim do ano, quando os resultados se dos dados um diferencial, ca-
são divulgados, aqueles alunos já não estão com o paz de transformar gestões.
mesmo professor. Mas por meio do acompanha- “Cada vez mais vai aumentar
mento de matrículas, a plataforma consegue acom- nossa capacidade de capturar da-
panhar os alunos e saber para onde eles foram. dos de alta frequência, com veloci-
“O professor chega lá em fevereiro e já con- dade, e transformar isso em indica-
segue ver o desempenho da sua turma baseado dores que possam apoiar a gestão,
na prova que foi aplicada no ano anterior. Ago- e aqueles que não se prepararem
ra ele tem um diagnóstico da turma que está para isso vão acabar ficando para
ali, diante dele”, disse Madeira. trás”, concluiu Ricardo. ■

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 63


CASE

Grupo Eleva
e suas lições de inovação
Experiência acumulada em três anos com a plataforma educacional própria
será aplicada em sua totalidade na Escola Eleva, a partir de 2017
Débora Thomé

C
riado em 2013, o Grupo Eleva volvida para atender às demandas da sendo gerado e testado pela equipe for-
Educação, holding mantida pelo educação moderna que propõe. “Uma mada por 150 conteudistas do Eleva —
fundo Gera Venture Capital, que das principais tendências em educação e que é constantemente alimentado e
tem o empresário carioca Jorge Paulo é a tecnologia, e precisamos acompa- atualizado. O aluno é o centro de tudo,
Lemann como principal acionista, vem nhar de perto e entender seu impacto e o professor é um motivador. A plata-
investindo em três pilares para oferecer no aprendizado. Há uma sinergia nos forma é adaptativa, e atende a diferen-
um ensino moderno, excelência acadê- negócios porque as nossas escolas usam tes estilos e velocidades de aprendiza-
mica, habilidades de vida e inteligência essas tecnologias”, disse o CEO do gru- gem. Atualmente, dispõe de mais de 6
emocional — tudo alinhado com tecno- po, Bruno Elias. Uma das maiores van- mil videoaulas e mais de 20 mil ques-
logia. Atualmente, são 55 escolas nos tagens, que poderia ser apontada como tões “tagueadas” a assuntos específicos
estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais a fórmula de tanto sucesso, está na ma- das disciplinas, além da monitoria que
e Paraná, divididas entre as redes Pensi, neira como é usada. permite individualizar o aprendizado.
Elite, Coleguium e Alfa, além de parceri- Antes de as escolas implementarem “Na primeira semana o conteúdo é
as com várias outras escolas espalhadas a plataforma, há uma capacitação dos igual. Mas a plataforma mapeia e mos-
pelo Brasil usando o sistema. professores para lidar com todas as fer- tra que um aluno vai melhor em Mate-
Não à toa, a “menina dos olhos” do ramentas disponíveis, otimizando o uso mática do que em Geografia, e um outro
grupo é a plataforma de ensino desen- do material didático que levou três anos o contrário. Automaticamente vão sen-

64 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


CASE

do sugeridos vídeos com aulas de cinco a dez ção e controle. Por isso, precisamos criar um
minutos, que abordam os assuntos onde foi iden- programa completo de capacitação contínua,
tificada a maior dificuldade. Junto, a plataforma aberto à participação de todos os docentes. Isso,
indica mais questões com essa tag, até entender sim, foi uma verdadeira mudança de cultura e,
que o aluno assimilou o conteúdo. E nas disci- a partir daí, quebramos boa parte da resistência
plinas que os alunos são bons, a plataforma vai e começamos a colher os primeiros resultados
jogando questões mais difíceis, acompanhando positivos que, atualmente, são maioria esmaga-
o nível de aprendizado do aluno para não dei- dora.” De acordo com o CEO, o desafio foi mos-
xá-lo desestimular”, explicou Elias. trar que o papel do professor é o de transformar
Mas o grande “pulo do gato” para fazer toda vidas. E foi cumprido: “Temos avaliações inter-
essa engrenagem tecnológica funcionar foi a de- nas, feitas pela direção pedagógica do grupo,
cisão de implantar uma metodologia de aprimo- que comprovam que estamos no caminho cer-
ramento dos 1.500 professores que usam a plata- to; o percentual de professores, hoje, no cami-
forma com seus alunos nas escolas do grupo e nho certo é de 95%”, disse Elias.
parceiras. Como foi feito isso? Desde o ano pas-
sado, aulas dos professores da rede passaram a
ser gravadas para dar feedbacks para melhora na “O GOOGLE SABE MUITO MAIS DO QUE
performance didática dos educadores. “O pro-
fessor é avisado sobre a data da filmagem e de- QUALQUER PROFESSOR. POR ISSO, A
pois ele pode pegar o resultado da avaliação para
melhorar sua dinâmica de aula”, disse o CEO. INOVAÇÃO TEM QUE SER TANTO O QUE
Bruno Elias explicou que houve resistência
por parte de alguns professores, que não enten- VOCÊ PASSA QUANTO COMO VOCÊ PASSA”
deram, de início, a cultura de aprimoramento
implementada. “A gravação soava como avalia-

Entrada da Casa Daros, em Botafogo, que


foi reformada para se
INOVAÇÃO tornar sede
& educação da Dirigida
| Folha | novembro 2016 65
Escola Eleva
CASE
Bruno Elias (foto) dá exemplo
do modelo didático do Eleva

Como o material é usado


“O Google sabe muito mais do que qualquer professor. Por isso, a
inovação tem que ser tanto o que você passa quanto como você passa.
Depois de uma pesquisa gigante, decidimos que todo e qualquer capí-
tulo de qualquer assunto tem que ser contextualizado. Por exemplo,
função exponencial, lembram disso? Era horrível estudar, não é? Y=Fx=a
e nessa altura já tem aluno dormindo, no celular, não funciona mais
isso. Com o script do nosso material o professor pode explicar assim:
‘vocês ouviram o boato que o Facebook vai acabar?’; e aí você fala: ‘é, exponencial, que é como se espalha um boato. Mas também tem a
espalharam esse boato, mas como se espalha boato? imaginem que exponencial negativa. Vocês quando vão ao dentista e tomam aneste-
quatro pessoas falam sobre isso, e cada uma dessas pessoas fala com sia, como é o efeito? A anestesia começa muito forte e ela vai caindo
mais uma pessoa, então são quatro as pessoas originais vezes dois, conforme o tempo passa; isso é uma exponencial negativa’. Assim você
que são as pessoas com as quais cada um falou, e se cada uma dessas já mostrou para o aluno que aquele negócio que era o terror da vida
pessoas falar com mais uma, temos 4x2x2... e se esse cara falar com dele está presente na vida dele. Isso impacta não só no Enem, mas na
mais uma, vezes dois, vezes dois... A Matemática nos ajuda a escrever sala de aula porque o ensino fica mais agradável, o aluno entende que
isso, com uma função, chamada função exponencial e também tem a está aprendendo aquilo com um propósito.”

Escola Eleva reunirá toda a expertise do grupo


O ápice da aplicação de todo esse concei- cussões e dinâmicas de grupo para encon-
to pedagógico será a partir de 2017, com a trar soluções para os mais variados pro-
Escola Eleva, instalada no casarão histórico em blemas apresentados.
Botafogo, onde funcionou a Casa Daros. A es- Além desse ensino moderno das ma-
cola terá regime de turno integral, com ensino térias básicas, os alunos terão aulas de
bilíngue da educação fundamental ao ensino noção financeira, sustentabilidade e di-
médio. O financiamento investido na emprei- versidade. A ideia é estimular o pen-
tada foi estimado em R$100 milhões. A insti- samento crítico, o trabalho em equi-
tuição abrirá, inicialmente, com 150 alunos, pe, a comunicação, a perseverança e
e pretende chegar a mil em seis anos. a pró-atividade, valores muito aprecia-
O prédio da Rua General Severiano — que dos no universo corporativo. A escola fun-
foi construído para ser a sede do Educandário cionará em turno integral, com atividades
Santa Teresa, e posteriormente recebeu os alu- das 8 às 16h. “A Escola Eleva nasce com a
nos do Colégio Anglo Americano —, foi total- missão de prover um ensino
mente reformado. Suas 30 salas de aula, cin- de excelência, para formar
co laboratórios, uma biblioteca de três anda- um cidadão completo, que
res, um auditório e ambientes de arte e músi- tenha compromisso
ca devem reunir o que há de mais inovador e com a comunidade e
eficiente no mercado educacional. o mundo ao seu
As aulas serão dinâmicas e as salas pode- redor”, resu-
rão ser nos moldes mais tradicionais, no for- miu Bruno
mato de anfiteatro, ou locais onde os estu- Elias. ■
dantes ocupam o centro da sala, dentro da
proposta de sala de aula invertida. A unidade
também contará com um laboratório de
maker space —, movimento que teve início
em grandes centros educacionais, como a
Universidade Harvard —, equipado com
cortadora a laser e impressora em 3D. E
os estudantes receberão conceitos de de-
sign thinking, metodologia que consiste
em apresentar um desafio e realizar dis-

66 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


MULTIPLICADORES

Ensino gamificado
O início de uma nova era
Jogos educacionais podem ser usados em todas as disciplinas para
incrementar o aprendizado por meio da ‘experiência’ virtual
Felipe Simão

M
uito se questiona sobre o futuro da
educação e não dá para imaginar
as escolas e instituições de ensino
fora de todo um contexto tecnológico. Es-
pecialistas dizem que quando os alunos vi-
venciam a experiência da gamificação, há
um efeito maior no aprendizado. E o pro-
fessor? Esse deve estar aberto e preparado
para as mudanças que já ocorrem e para
as muitas que estão por vir. Para se adap-
tarem a uma nova realidade, é preciso
aprender a criar novos cenários para a
transmissão de conhecimento, e a arqui-
tetura dos games pode ser benéfica.
Enquanto muitos valorizam novas relevante para os estudan-
tendências, outros as encaram negativa- tes deve ser abrangente, transfor-
mente. É o que disse Samir Iásbeck, fun- mando a organização curricular, o for-
dador do Qranio, plataforma mobile de mato da sala de aula, a atitude dos educa-
aprendizagem. “Muitos educadores caem no dores e a forma como os estudantes são ava-
grande erro de ‘demonizar’ a tecnologia. Com liados e reconhecidos.
isso eles perdem a oportunidade de perceber O mercado apresenta uma infinidade de ga-
como ela pode contribuir com a educação e mes para diversas idades e conteúdos pedagó-
gerar um ambiente mais instigante para os alu- gicos. Para Carla Zeltzer, o importante é criar
nos”, disse. um processo onde o professor pesquise games
Carla Zeltzer, sócia co-fundadora da TecZelt, que vão de encontro aos seus objetivos peda-
empresa ciradora do software FazGame, per- gógicos. “Alguns tipos se inserem de forma mais
cebe que o maior desafio do professor no uso fácil para determinados conteúdos, como RPG,
da gamificação é motivar os alunos em suas ótimo para ensino de idiomas, para temas
aulas e para o aprendizado do conteúdo pe- transversais como sustentabilidade e empre-
dagógico. “Professor não precisa ser um ga- endedorismo, e para temas da área de Huma-
mer para introduzir a gamificação na sala de nas”, exemplificou.
aula. Ele pode se inteirar das novidades tec- Samir Iásbeck ainda frisou que a gamifica-
nológicas, trocando com outros professores e ção pode ser utilizada em todas as disciplinas,
até mesmo com os alunos”, disse. desde que os conteúdos sejam adaptados aos
Para o diretor de Games para Aprendiza- dispositivos onde serão exibidos. “No mobile
gem, Impacto Social e Saúde da Abragames e learning, por exemplo, que consiste no uso de
CEO da Virgo Games, Mário Lapin, a transfor- tecnologias móveis como smartphones e tablets
mação nas escolas deve envolver os educadores para obter uma experiência de aprendizado, re-
em todas as suas esferas, por meio da adoção de comenda-se que o conteúdo seja disponibiliza-
metodologias ativas. “Tratando-se de escola, o do em pequenos blocos informativos, denomi-
papel do educador é essencial na obtenção de nados pílulas de conteúdo. Como a tela em dis-
resultados por meio de estratégias lúdicas.” Para positivos móveis é menor, não é recomendado
ele, o processo de tornar a escola mais lúdica e fazer o uso de muitos textos ou imagens.”

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 67


MULTIPLICADORES

A tecnologia móvel no cenário do ensino


A tecnologia mobile cresce mais rápido desafio de construir games com conteúdos
do que a internet cresceu na década de 1990. educacionais diversos, com um padrão esté-
Algumas estatísticas apontam que já existem tico compatível com o da indústria do entre-
mais smartphones do que televisores no mun- tenimento, mas com orçamentos e métricas
do e, em alguns países, o número de apare- de mercado reduzidos. “O caminho é criar
lhos já é maior do que a sua população. Essa ferramentas que possam atingir um público
tecnologia vem recebendo cada vez mais grande e com valores baixos, com uma in-
atenção de variados tipos de empresas e or- terface de fácil uso e design atraente.”
ganizações, principalmente daquelas que Samir Iásbeck afirmou que o mercado
querem continuar na linha de frente da ino- tem o papel de contribuir para a amplia-
vação, pois ainda há muitos recursos e ferra- ção do acesso das pessoas ao conhecimen-
mentas inexploradas em um mercado que só to, oferecendo às classes menos favoreci-
tende a crescer. Por que não usar esses dis- das a oportunidade de aprender de forma
positivos para promover o nosso autodesen- autônoma. “As empresas que trabalham
volvimento? com a produção de conteúdos gamifica-
Atualmente, os produtos tecnológicos es- dos devem oferecer serviços gratuitos para
tão muito presentes na vida das pessoas, des- todas as pessoas para que possamos am-
de muito cedo. Para Samir Iásbeck, a escola pliar as oportunidades.”
precisa estar preparada para receber a ge- No Brasil, há centenas de pesquisas pu-
ração Y, que já nasce habituada a utilizar blicadas sobre gamificação comprovando os
diversos dispositivos. “Em vez de criticar- resultados qualitativos obtidos, mas isso não
mos a utilização massiva desses aparelhos basta. “Ainda temos muito o que caminhar
ou nível de dispersão que eles podem, te- na medição de resultados quantitativos, mas
mos de desenvolver formas de utilizar esses neste aspecto, o estado da arte da avaliação
meios para produzir conhecimento de for- da gamificação como estratégia de aprendi-
ma atrativa”, complementou. zagem está em compasso com a avaliação
No que se refere à gamificação, Carla Zelt- de outras tecnologias educacionais”, finali-
zer disse que o mercado educacional tem o zou Carla Zeltzer. ■

68 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


CASE

+PVGTCVKXKFCFGG
ICOKHKECÁºQ
Por um ensino mais atrativo
Secretaria de Educação do Estado de São Paulo investe no uso de
tecnologias para evitar a evasão escolar no ensino médio
Igor Regis

M
ais do que garantir a estrutu- De acordo com dados de 2014 do ção para reduzir estes índices e criar um
ra física das escolas, aulas, Instituto Brasileiro de Geografia e Esta- modelo de ensino mais atrativo tem seu
professores e recursos para o tística (IBGE) cerca de 1,3 milhões de alicerce em palavras como interativida-
funcionamento da Educação, o estado jovens entre 15 e 17 anos deixaram a de, gameficação e, principalmente, tec-
se depara com outro desafio dentro do escola sem concluir os estudos. Destes, nologia. Um formato, mais focado na
ensino público: a falta de engajamento 52% não concluíram sequer o ensino inovação, vem ganhando cada vez mais
e de interesse dos alunos. O fenômeno fundamental. Apesar de ter apresenta- elementos dentro das Secretarias de Edu-
no qual o aluno não se sente parte do pro- do uma grande redução nos últimos dez cação, principalmente das estudais, que
cesso de aprendizagem ou não considera anos, a evasão escolar ainda atinge 6,8% são responsáveis pelo ensino médio.
útil o conteúdo das é comum e atinge uma dos alunos de ensino médio, como Para a coordenadora de Gestão Básica
grande fatia dos jovens em idade escolar, apontam dados do Inep. da Secretaria Estadual de Educação de São
principalmente no ensino médio. A aposta dos profissionais da Educa- Paulo, professora Valéria de Souza, a utili-

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 69


CASE

zação de ferramentas inovadoras deve ser levada das profissões de hoje não existirão daqui a 20
em consideração para aproximar o aluno do pro- anos. Então nós temos que criar educar uma ju-
cesso de aprendizagem. “Toda essa discussão que ventude capaz de se adaptar, se reciclar e fazer
temos hoje sobre o ensino médio passa pela ques- coisas que ainda não são imagináveis, mas para
tão da tecnologia. Os alunos do Brasil inteiro es- as quais eles têm que estar prontos”, afirmou
tão ansiosos por uma aula diferente e esta aula ele em entrevista concedida antes do evento.
passa pelo uso dela em sala de aula. A educação
tem que ser divertida e colaborativa. Para o ensino
médio, em que os alunos não enxergam sentindo “OS ALUNOS DO BRASIL INTEIRO
em alguns conteúdos, a tecnologia vem pra trazer
este significado”, destacou durante o ESTÃO ANSIOSOS POR UMA AULA
Case.edutech.edu, realizado em setembro.
Entre os modelos que reforçam essa busca DIFERENTE E ESTA AULA PASSA PELO USO
por uma transformação no formato educacio-
nal são o “Foco Aprendizagem” e o “Currículo
+”, ambas desenvolvidas pelo Governo de São
DA TECNOLOGIA EM SALA DE AULA”
Paulo. A primeira é uma ferramenta pela qual
os professores têm acesso aos dados das últi-
mas edições do Saresp, prova que valia a edu- “Nós precisamos incentivar que o jovem
cação básica no estado. Com isso, é possível seja um criador de alternativas para fazer o
individualizar os resultados de cada série e que ele goste e produza resultados que permi-
unidade de ensino e cruzar dados dos estudan- tam que ele se desenvolva, se sustente e esteja
tes, formando um diagnóstico para o conjunto sempre pronto para inovar. Importante tam-
desses alunos, mesmo que tenham vindo de bém a fazer com que o aluno se sinta protago-
outras turmas ou escolas da rede. “A educação nista, sendo um cocriador, com autonomia
de hoje precisa ser precisa e personalizada, com para mostrar que existem formas mais agradá-
uma abordagem e processos que respeitem a veis de aprender”, completou Nalini. ■
necessidade de cada um”, salientou Valéria.
Já o “Currículo +” é uma plataforma online de
conteúdos digitais (vídeos, videoaulas, jogos, ani-
mações, simuladores e infográficos), articulados
com o Currículo do Estado de São Paulo que visa
promover maior motivação, engajamento e parti-
cipação dos alunos. Por meio de situações e desa-
fios o aluno é estimulado a utilizar o conhecimen-
to interdisciplinar para, por exemplo, salvar o pla-
neta de uma ‘invasão alienígena’. “Os jogos au-
mentam o interesse e tem um grande apelo, pois
faz parte do aprendizado e não é visto como obri-
gação. Os professores têm um pouco de medo,
mas os alunos adoram”, brincou a coordenadora.
As ferramentas, que já estão em funciona-
mento nas 91 diretorias de ensino do Estado de
São Paulo, terão seus resultados avaliados no
fim de novembro, quando será realizada a pró-
xima edição do Saresp. A partir daí serão cru-
zados dados dos últimos anos para avaliar o
desempenho das plataformas na prática.
Na visão do secretário de Educação de São
Paulo, José Renato Nalini, a incorporação des-
ses projetos ao ensino básico não tem como ob-
jetivo só evitar a evasão, mas também preparar
o aluno para uma realidade cada vez mais tec-
nológica. “Nós precisamos formar gerações que
estejam familiarizadas com a necessidade de fa-
zer mutações radicais em sua vida. Cerca de 60%

70 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


NOTAS
■ ROBÔ ENSINA GEOMETRIA A ADOLESCENTES
DIVULGAÇÃO

ENTRAR EM UMA SALA DE AULA E SER RECEBIDO POR UM ROBÔ HUMANOIDE QUE ENSINA GEOMETRIA. COMO SERÁ QUE ADOLESCEN-
TES REAGEM A ESSE NOVO PROFESSOR E A SUAS DIFERENTES FORMAS DE ENSINAR? ESSE É O FOCO DE DIVERSAS PESQUISAS QUE ESTÃO
SENDO REALIZADAS NO INSTITUTO DE CIÊNCIAS MATEMÁTICAS E DE COMPUTAÇÃO (ICMC) DA USP, EM SÃO CARLOS.
ENTRE OS TRABALHOS RELACIONADOS AO TEMA ESTÁ UM PROJETO DE MESTRADO QUE UTILIZOU O ROBÔ NAO PARA ENSINAR
GEOMETRIA A 62 ADOLESCENTES ENTRE 13 E 14 ANOS DE ESCOLAS PÚBLICAS E PARTICULARES DE SÃO CARLOS. POR MEIO DE
UM SISTEMA DE VISÃO COMPUTACIONAL, O ROBÔ FOI PROGRAMADO PARA RECONHECER FIGURAS GEOMÉTRICAS PLANAS.
COM A AJUDA DE PROFESSORES DA ÁREA DE EDUCAÇÃO E DE MATEMÁTICA, O PESQUISADOR ADAM MOREIRA PROPÔS
DIVERSAS ATIVIDADES AOS ALUNOS. “OS PESQUISADORES DA ÁREA DA EDUCAÇÃO BUSCAM NOVAS FERRAMENTAS DE ENSINO COM
A INSERÇÃO DE TECNOLOGIA EM SALA DE AULA. HOJE EM DIA, NOTA-SE QUE A SIMPLES EXPOSIÇÃO DE CONTEÚDO NA LOUSA NÃO
ATRAI TODA A ATENÇÃO DOS ALUNOS E A ROBÓTICA PODE TORNAR A AULA MAIS ATRATIVA”, AFIRMOU ROSELI ROMERO, PROFESSORA
DO ICMC E ORIENTADORA DO TRABALHO. ROSELI CONTA QUE A ROBÓTICA EDUCACIONAL É MUITO BEM RECEBIDA PELOS JOVENS
E ACEITA POR TODAS AS CLASSES SOCIAIS. ELA RESSALTA, AINDA, QUE A INCLUSÃO DO ROBÔ EM SALA DE AULA NÃO VISA
SUBSTITUIR O PROFESSOR, E SIM PROPOR NOVAS ALTERNATIVAS DE TRABALHO. PARA O FUTURO DA ROBÓTICA EDUCACIONAL,
ROSELI VISLUMBRA UMA GRANDE REVOLUÇÃO NO ENSINO. ELA ACREDITA QUE, À MEDIDA QUE ESSES ROBÔS FOREM SE TORNANDO
CADA VEZ MAIS SOCIÁVEIS E INTELIGENTES, TEREMOS GRANDES MUDANÇAS: “HOJE EM DIA, A MAIORIA DOS PROFESSORES PREPARA
SUAS AULAS UTILIZANDO COMPUTADORES, ENTÃO, POR QUE NÃO PENSAR, NO FUTURO, EM PREPARÁ-LAS UTILIZANDO ROBÔS?”.

■ INVESTIMENTO CHINÊS
■ TOP 10 TENDÊNCIAS TECNOLÓGICAS
PARA 2017 SEGUNDO GARTNER A Huawei quer reforçar suas inicia-
tivas de educação no Brasil. Para tan-
Inteligência será a palavra-chave das principais tecnologias de 2017, segundo o Gartner, empresa to, esta implantando três ações de for-
de pesquisa e aconselhamento em tecnologia. David Cearley, vice-presidente da consultoria, destacou te impacto: uma parceria para inova-
que essas tecnologias incluirão “inteligência em todas as partes”, o mundo digital e a integração com ção e capacitação de talentos em cida-
o mundo físico e a malha das plataformas e dos serviços necessários a esta infraestrutura. Segundo des inteligentes com a Universidade de São
Cearley, tecnologias e abordagens científicas de dados estão evoluindo para incluir aprendizado avan- Paulo (USP), um projeto de pesquisa em SDN
çado das máquinas e a inteligência artificial, permitindo a criação de sistemas programados para
e transmissão de dados em alta velocidade com a Uni-
aprenderem e se adaptarem. O top 10 nas tendências tecnológicas estratégicas para 2017 é:
versidade Estadual Paulista (Unesp) e uma carta de intenções com o
Ministério da Educação (MEC) para ampliar qualidade e acesso à
1. Inteligência Artificial Avançada da Máquina
2. Aplicativos Inteligentes educação tecnológica. Desde 2005, mais de 20 mil profissionais fo-
3. Coisas inteligentes ram capacitados e certificados pelo Centro de Aprendizagem da
4. Realidade Virtual e Aumentada Huawei no Brasil e a meta da companhia é que outros 20 mil sejam
5. Gêmeo Digital capacitados nos próximos três anos. “Como player global, o Brasil
6. Blockchain e Registros Distribuídos precisa assumir a posição de liderança no desenvolvimento desse
7. Sistemas Conversacionais mundo digital. TIC pode liderar a economia e nós definimos educa-
8. Aplicativo de Malha e arquitetura de Serviços ção como prioridade para nosso trabalho no País”, afirmou o CEO da
9. Plataformas de Tecnologia Digital Huawei Brasil, Wei Yao. Para a meta de 20 mil profissionais capacita-
10. Arquitetura de Segurança Adaptável dos em três anos, a fabricante já conta com parcerias com PUC-RS,
Universidade Federal de Campina Grande, Inatel e USP.

■ BOM LEMBRAR QUE... ■ TIC EDUCAÇÃO 2015 ■ JOGOS DE LEITURA


... o Conselho de Direitos Humanos da Or- RECÉM DIVULGADA, A PESQUISA TIC EDUCAÇÃO A segunda edição da Olimpíada de Atu-
ganização das Nações Unidas (ONU) apro- 2015 MOSTROU QUE O USO DO CELULAR COMO ACES- alidades Guten permanecerá no ar até o dia
vou uma resolução sobre o funcionamento da SO À INTERNET É TENDÊNCIA TAMBÉM NA EDUCAÇÃO 20 de novembro; ainda dá tempo de parti-
internet no mundo. No texto, apresentado pela BRASILEIRA. UM TERÇO DOS DOCENTES (39%) cipar de algumas das atividades, como os
AFIRMOU USAR O CELULAR PARA REALIZAR ATI-
jogos semanais que verificam seus conhe-
Suécia e aprovado com apoio do Brasil, a or-
VIDADES COM ALUNOS. DESSES, 36% SÃO DE
cimentos a respeito dos textos publicados
ganização solicita que “todos os Estados pla-
no Guten News, ampliando o repertório cul-
nejem criar, por meio de processos ESCOLAS PÚBLICAS E 46% DAS PRIVADAS.
tural das crianças e desenvolvendo habili-
multissetoriais, inclusivos e transparentes, OS DADOS DO LEVANTAMENTO, REALIZADO
dades leitoras fundamentais para seu su-
políticas públicas nacionais para a internet”. PELO CETIC.BR, BRAÇO DE ESTUDOS DO NIC.BR, INDICARAM, TAMBÉM, QUE AINDA HÁ cesso acadêmico, profissional e pessoal.
Países integrantes da ONU, segundo a reso- UMA PARCELA GRANDE DA POPULAÇÃO SEM CONEXÃO. ACESSAM A REDE 58% DA
O público-alvo da Olimpíada são os estu-
POPULAÇÃO COM 10 ANOS OU MAIS, DOS QUAIS 89% PELO CELULAR, ENQUANTO dantes entre o 4º e 9º anos do Ensino Fun-
lução, devem ter políticas de educação e
letramento digital para facilitar o uso da 65% USAM COMPUTADOR DE MESA, PORTÁTIL OU TABLET. NA EDIÇÃO ANTERIOR, ERAM damental. Estudantes de escolas públicas
internet como fonte de informação pelo cida- 80% PELO COMPUTADOR E 76% PELO TELEFONE CELULAR. e privadas estão convidados a participar da
dão, precisam criar políticas de acesso à rede NAS ÁREAS URBANAS, O ACESSO À INTERNET ESTÁ EM TODAS AS ESCOLAS PRIVADAS Olimpíada. Os pais e professores têm pa-
e iniciativas para aumentar a conectividade E EM, 93% DA REDE PÚBLICA. PORÉM, O USO EM SALA DE AULA SÓ É FEITO POR 72% pel fundamental no incentivo ao hábito lei-
DAS PRIVADAS E EM 43% DA REDE PÚBLICA. UM LIMITADOR, DE ACORDO COM OS tor dos estudantes. Dessa forma, a Guten
de mulheres e meninas. Também cobra ações
ESPECIALISTAS QUE REALIZARAM O LEVANTAMENTO, É A CAPACIDADE DA BANDA LARGA ressalta a importância do apoio dos adul-
de estímulo à adoção de ferramentas de aces- tos às práticas leitoras do alunos e, no caso,
NAS ESCOLAS — 45% DECLARARAM TER VELOCIDADE DE ATÉ 2MPS.
sibilidade para permitir a integração de pes- da participação na Olimpíada.
A COLETA DE DADOS FOI REALIZADA ENTRE OS MESES DE SETEMBRO E DEZEMBRO DE
soas com deficiência no ambiente digital. http://gutennews.com.br/olimpiada/
2015, A PARTIR DE ENTREVISTAS COM 898 DIRETORES, 861 COORDENADORES PEDA-
GÓGICOS, 1.631 PROFESSORES E 9.213 ALUNOS.

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 71


'FWVGEJFGDCVGW
WUQFGVGEPQNQIKCPCGFWECÁºQ
Fórum promovido pela Ingram Micro discutiu os novos caminhos para
inovar o aprendizado dentro e fora da sala de aula

O
grande desafio do sistema edu- de informação já vem sendo estudada na bular ou ter uma educação mais com-
cacional brasileiro é conseguir Argentina, desmistificando que a ação pleta, onde possam contribuir de ma-
aliar os métodos pedagógicos esteja longe de nossa realidade: “Na Ar- neira ampla para a sociedade? Os em-
com a tecnologia para trazer inovação gentina, já se fazem estudos práticos nos pregos que existem hoje, provavelmen-
ao aprendizado. Com o mundo cada vez colégios técnicos sobre como utilizar te mudarão daqui a dez anos. Então,
mais digital, as instituições de ensino esses dados para personalizar o ensino quais são as habilidades essenciais que
não podem ignorar as mudanças e pre- para cada aluno. Cada aluno entende de precisam desenvolver nesses alunos?
cisam se adaptar à nova realidade. Esse um jeito, numa velocidade”, ressaltou. Assim, o professor começa a aplicar
assunto foi um dos temas amplamente Já Ruben Pimenta, diretor de TIC no metodologias que transformam esse pro-
discutidos durante o EduTech Fórum, re- Centro Estadual de Educação Tecnoló- cesso”, comentou, ao defender que, em
alizado pela Ingram Micro em setem- gica Paula Souza, comentou a necessi- vez de os alunos estudarem as matérias
bro, no Hotel Hilton, em São Paulo. dade da atualização do método de en- de maneira convencional, podem tra-
Com a decisão de trabalhar por verti- sino: “Empoderar o professor é muito balhar em um projeto, criar contexto:
cais de mercado, oferecendo diversas mais trabalhoso do que empoderar o “Ensinar ao invés de só consumir”.
tecnologias para aplicação em uma in- aluno. Este já chega inserido num mun- Além da relação do professor com o
dústria específica, a companhia esco- do totalmente digital. Se o professor não aluno, a tecnologia também pode bene-
lheu Educação como o primeiro seg- passar a ensinar de uma forma inova- ficiar uma instituição de ensino com o
mento para promover seu Tech Fórum. dora, tornando o assunto interessante, gerenciamento de informação. A quan-
Responsável pela estruturação des- rapidamente o aluno perderá a aten- tidade de dados de uma empresa dobra
te novo trabalho, a gerente Luciana ção”, avaliou o executivo. a cada ano e ninguém remove conteú-
Peixoto comentou como a empresa irá Nesse contexto, visando à capacita- do, por isso esse número cresce de for-
atuar neste setor: “Nosso objetivo é en- ção desses profissionais, a Microsoft criou ma espantosa. Marcos Tadeu, gerente de
tregar uma solução completa, em que o Programa Professores Embaixadores. O engenharia de vendas da Veritas, comen-
é possível encontrar em um só lugar, diretor de educação da empresa, Anto- tou que “não é possível falar sobre tec-
por meio de nossos canais especiali- nio Moraes, contou como funciona. “São nologia hoje em dia sem falar de Cloud”.
zados em educação, tudo o que se professores, que fazem parte do quadro A Veritas é um grande provedor de ge-
necessita para conseguir implantar de funcionários da empresa, mas que se renciamento de dados com soluções vol-
projetos que agreguem valor à insti- dedicam a apoiar os educadores da rede tadas à proteção, disponibilidade e co-
tuição”, afirma Luciana. pública e privada na adoção da tecnolo- nhecimento dessas informações.
As empresas parceiras da Ingram Mi- gia. Se eles usarem uma tecnologia que No entanto, é necessário garantir a
cro oferecem serviços que possibilitam resulte na economia de uma hora de seu segurança deste conteúdo armazenado
a implantação de um novo formato de tempo, já é um ganho tremendo. Assim, em nuvens. Com isso, Felipe Prado, Se-
ensino, tanto dentro como fora da sala passam a colocar a tecnologia como par- curity Architect da IBM, analisa que as
de aula. Durante o Fórum, Ricardo San- te de seu dia a dia”. empresas já vêm se preparando quanto
tos, Business Development da CISCO, Diego Volpe, gerente de ecossistema ao Cloud Security. “É uma questão de
destacou, por exemplo, a utilização de educacional da Intel, ressaltou a impor- desafio, uma quebra de paradigma, mas
Big Data e Analytics para fazer análise tância da reflexão sobre qual tipo de o mercado já está se consolidando com
do perfil do aluno e traçar um projeto educação estamos almejando. “Quere- ferramentas de segurança para poder fa-
pedagógico específico a ele. Essa gestão mos treinar alunos para passar no vesti- zer a gestão”, avaliou Prado.

72 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


FOTOS: DIVULGAÇÃO
EVENTOS

Hackademia
reuniu desenvolvedores em SP
O 1º Simpósio co o que estamos fazendo e debater
junto com outros players do merca-
de Novas Tecnologias do”, afirmou Marcio Boruchowski,
Maior distribuidor mundial de Educacionais (Case Edtech) fundador da Hackademia.
Entre os cases apresentados estavam
tecnologia e líder global da cadeia contou com a participação o portal de professores particulares
de suprimentos de TI, serviços
para dispositivos móveis, cloud, de representantes de startups Educare; a biblioteca digital Árvore de
Livros; empresas voltadas para a pro-
automação e soluções de logísti- de tecnologias educacionais gramação, como a Happy Code e a
ca, a Ingram Micro está no Bra-
sil desde 1997. Com escritórios de vários estados Mad Code; iniciativas focadas na cor-
regionais em São Paulo, Rio de reção de redações, como a Imaginie e
Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, a Redação Nota 1000, além de diver-
Porto Alegre e Recife, a Ingram Juliana Borges sas outras startups educacionais.
Micro provê suporte às necessi- Grande parte das empresas que ti-
dades de toda a cadeia de distri- A presença da tecnologia na educa- veram cases apresentados no simpó-
buição, assegurando a conquis- ção acelera o ensino e o torna mais di- sio possuem foco de atuação no ensi-
ta dos objetivos de negócios de nâmico. A chegada de novas ferramen- no médio e na preparação para o ves-
seus parceiros e clientes dentro tas nas salas de aula, porém, ainda é re- tibular. De acordo com Boruchowski,
das melhores práticas de merca- cente e se encontra em fase inicial. Com muitas empresas atuam no ensino
do, atendendo setores como o objetivo de divulgar e conhecer o tra- médio por ser um mercado facilmente
educação, transportes, agrone- balho de empresas que inovam na edu- atingível. O objetivo é que as próxi-
gócio, recursos naturais, saúde, cação, a Hackademia, iniciativa que bus- mas edições do evento abranjam tam-
serviços financeiros, varejo e ca promover o mercado de educação bém outros níveis de ensino.
área pública, entre outros. tecnológica, realizou no último dia 30 “Nos próximos queremos trazer mais
Atualmente, a Ingram Micro de setembro o 1º Simpósio de Novas Tec- tecnologia de educação de ensino in-
dispõe de produtos e soluções nologias Educacionais (Case Edtech). fantil, existem bastante e muito boas. De
de 75 fabricantes para pronta O evento foi realizado na sede da ensino superior também, principalmen-
entrega e importação exclusiva Secretaria Estadual da Educação de São te para habilidades e disciplinas não cog-
no modelo de VAD, VOD, mo- Paulo e contou com o apoio do órgão nitivas”, disse Marcio Boruchowski.
bilidade, automação e cloud. e a presença do secretário da educa- O evento ocorreu no momento em
Nos últimos anos, a Ingram ção, José Renato Nalini. que propostas de reformas educacionais
Micro imprimiu um ritmo ace- O simpósio reuniu 24 das princi- são sugeridas e em que é discutida a fal-
lerado de mudanças no Brasil, pais empresas na área de educação, ta do interesse dos alunos pela escola.
com a ampliação do portfólio teve parcerias como a Microsoft, a Para o fundador da Hackademia, a tec-
em diversas verticais do merca- Nova Escola e o Instituto Ayrton Sen- nologia é uma ferramenta para qualquer
do e várias soluções de big data na e contou com palestras, debates e reforma, além de algo que vem perme-
e advanced analytics, security, apresentação de cases de empresas e ando a atual sociedade.
cloud, customer experience, IoT, startups. O intuito do evento, segun- “Eu acredito que ela contribui mui-
estrutura convergente e mobili- do a Hackademia, foi o de mostrar to, até porque a pessoa que está utili-
dade. Além dos serviços de dis-
resultados alcançados até 2016, já zando, os estudantes iniciantes, são
tribuição de soluções e produ-
que em 2014 a iniciativa afirmou que nativos digitais, eles gostam do meio.
tos, oferece apoio para o desen-
a escola estava parada na Revolução E eu acho que a tecnologia tem que
volvimento de seu ecossistema,
Industrial e em 2015 declarou que a ser agnóstica, tem que funcionar em
com benefícios exclusivos, re-
tecnologia mudaria a educação. diversos modelos. Não todas. Uma
cursos de logística e de mobili-
“Muita coisa ocorreu e a gente es- tecnologia funciona em um modelo,
dade, suporte profissional técni-
colheu as maiores e melhores empre- outra em outro, mas no ecossistema
co e soluções financeiras, atu-
sas de tecnologias educacionais para elas contribuem como um todo”, con-
ando como um elo vital na ca-
deia de valor de tecnologia. organizar o evento, mostrar um pou- cluiu Boruchowski.

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 73


AGENDA

SXSWedu acontecerá em março, em Austin, TX


A ideia do SXSWEdu é reunir profis- questão muito simples: os professores rante o painel, estratégias para engajar
sionais criativos e incentivar que a pai- não eram ouvidos neste processo. estudantes na cocriação e implementação
xão pelo futuro de educar e aprender Por acreditarem que esse diálogo é im- de inovações educacionais. Para isso, será
seja compartilhada. Para que isso acon- portante, essa questão foi colocada como apresentada a pesquisa Nossa Escola em
teça, o evento divide sua programação prioridade. O processo passou por uma (Re)Construção, que ouviu mais de 135
em apresentações (os chamados Keyno- investigação profunda sobre os diferentes mil jovens de diversos estados do país para
tes, designados para inspirar, iluminar e perfis de professores, onde e como con- entender como gostariam que a escola
informar), workshops, fóruns, reuniões, sumiam informação e quais as estratégias fosse e como gostam de aprender.
exibições de filmes, entre outros. Este e conteúdos mais atraentes para gerar en- A discussão contará com a presença
ano, o evento contará com a participa- gajamento entre eles e, assim, colocá-los de Mailson Cruz de Aguiar, estudante
ção de mais atores brasileiros, que es- no centro do debate educacional. de 19 anos que participou da constru-
tão fazendo a inovação em educação O Porvir também foi selecionado para ção do questionário da consulta e da
acontecer no país. organizar um painel no evento, chama- análise dos resultados. A inovadora so-
A Fundação Lemann e a Nova Esco- do Students as Education Innovators (Es- cial Bruna Waitman, do Media Educati-
la escolheram o diálogo com professo- tudantes como Inovadores da Educação), on Lab (MEL), levará para o debate a
res como tema para um painel de deba- através da ferramenta PanelPicker, que experiência na construção e aplicação
te do SXSWedu 2017. No painel, será permite e incentiva que a comunidade de uma metodologia de escuta e cocri-
mostrado sobre como dialogaram com do SXSWEdu participe da elaboração da ação em São Miguel dos Campos, em
mais de 1 milhão de professores todos programação submetendo propostas ao Alagoas, e em uma escola ocupada em
os dias. Isso porque, em 2014, a Funda- voto popular. Neste ano, quase 40 mil Goiânia, em Goiás, disponíveis na pla-
ção Lemann levantou a hipótese de que votos avaliaram cerca de 1.300 seções taforma Faz Sentido. A mediação do
muitas políticas educacionais não che- inscritas para compor a edição de 2017. debate será feita pela diretora do Inspi-
gavam à prática nas escolas por uma A proposta do Porvir é construir, du- rare, Anna Penido.

DA
DATTAS DE EVENTOS DE TECNOLOGIA & EDUCAÇÃO

„ SXSWEDU CONFERENCE & FESTIVAL 2017 Mercado e Carreira „ XVI COLÓQUIO INTERNACIONAL DE GESTÃO
Um dos maiores eventos de educação e inova- Data: 6 a 9 de dezembro de 2016 UNIVERSITÁRIA – GESTÃO DA PESQUISA E
ção do mundo realizado anualmente durante Inscrições: congressodeti.com.br COMPROMISSO SOCIAL DA UNIVERSIDADE
quatro dias que promove e celebra as inovações Data: 23 a 25 de novembro de 2016
na aprendizagem através do acolhimento de uma „ 1º CONGRESSO EM ACESSIBILIDADE E Local: Arequipa, Peru
comunidade diversificada e participantes chei- INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO (CAIE) - Inscrições: www.inpeau.ufsc.br
os de energia por meio de uma variedade de ex- PESQUISAS E PRÁTICAS EM ACESSIBILIDADE
periências na educação. E INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO „ BETT BRASIL EDUCAR 2017
Data: 6 a 9 de março de 2017 A qualidade da Educação e da Escola e sua con-
Discutir, compartilhar experiências facilitadoras
Local: Austin, TX sequente relação com a melhoria da vida e da
para a educação, apresentar tecnologias soci-
Informações: sxswedu.com prática social. Inovação, uso de tecnologia e in-
ais, materiais, estudos, cases, projetos, propos-
clusão são temas transversais aos cinco eixos
tas que ajudem a tornar o ambiente escolar aber-
„ XII CONFERÊNCIA INTERNACIONAL GUIDE norteadores do evento.
to e acessível a todos.
- APRENDIZAGEM ON-LINE NO SÉCULO 21: Data: 10 a 13 de maio de 2017
Data: 9 a 11 de novembro de 2016
PRÁTICA, PROBLEMAS E PERSPECTIVAS Local: São Paulo Expo, Rod. dos Imigrantes, s/nº -
Local: Instituto Federal de Educação, Ciência e
Data: 15 e 17 de fevereiro de 2017, em Orlando, Vila Água Funda
Estados Unidos Tecnologia de São Paulo, campus Cubatão Infor mações: contato@bettbrasileducar.com.br
Informações:
Inscrições: interessados em participar como es- Inscrições: www.caieifsp.com
pectador ou orador devem acessar a página de ins- „ 2017 MICROSOFT WORLDWIDE
crições do evento (www.guideassociation.org). O „ 15º SEMINÁRIO NACIONAL DE PARTNER CONFERENCE
prazo final para envio dos resumos das apresenta- HISTÓRIA DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA As conexões que você precisa para gerar futuros ne-
ções é 21 de novembro. Conferências, mesas redondas, minicursos, lança- gócios. Os insights que você deseja obter a vanta-
mentos de livros e eventos culturais gem competitiva. As parcerias que importam para
„ 5ª EDIÇÃO DE CONGRESSO DE TI - Data: 16 a 18 de novembro de 2016 entregar os resultados do cliente de classe mundial.
EVENTO ONLINE E GRATUITO PARA Local: Campus da Universidade Federal de Santa Data: 9 a 13 de julho
PROFISSIONAIS E ESTUDANTES DE TI Catarina, em Florianópolis Local: Washington, D.C
Desenvolvimento, Infra-Estrutura, Tendências, Inscrições: www.15snhct.sbhc.org.br Inscrições: wpc2017.eventcore.com

74 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016


INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 75

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