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Distinguir juízos de valor de juízos de facto.

Quando descrevemos algo que aconteceu sem qualquer interpretação ou


apreciação por parte do sujeito, isto é, quando fazemos descrições neutras e
impessoais de acontecimentos reais naquilo que eles são em si mesmos,
estamos a emitir juízos de facto. Estes juízos referem-se a algo que existe e que
pode ser verificado. Têm valor de verdade e este em nada depende daquilo que
pensa a pessoa que o faz. Se descrevem correctamente a realidade e os factos
em questão, são verdadeiros. Caso contrário, são falsos. E a sua veracidade ou
falsidade é objectiva, ou seja, é indiferente da perspectiva do sujeito. A função
básica destes juízos é fornecer informação.

Quando fazemos apreciações de acontecimentos, manifestando as nossas


preferências, ou seja, expressando uma avaliação acerca de certos aspectos da
realidade, emitimos juízos de valor. Estas interpretações feitas por parte do
sujeito são parciais, isto é, cada pessoa tem a sua, sendo cada uma delas parte
de um todo; são relativas, o que quer dizer que se definem por comparação com
algo que é desejável ou digno de estima; e também são subjectivas, pois
diferem de pessoa para pessoa. Estes juízos são discutíveis uma vez que as suas
avaliações diferem de pessoa para pessoa, traduzindo, desta forma, opções de
natureza efectiva e emotiva. A função básica destes juízos é influenciar o
comportamento dos outros e mostrar-lhes como devem olhar para a realidade, o
que significa que, pelo menos em parte, são normativos.

Identificar juízos de valor e juízos de facto.


a) O Holocausto foi moralmente horrível. (JV)

b) O Holocausto é considerado moralmente horrível. (JF)

c) A liberdade é mais importante do que a justiça. (JV)

d) A justiça é mais importante do que a liberdade. (JV)

e) Se a justiça é mais importante do que a liberdade, então a liberdade é


menos importante do que a justiça. (JF)

f) Muitas pessoas valorizam a liberdade. (JF)

g) É bom que muitas pessoas valorizem a liberdade. (JV)

h) Há quem julgue que não é bom que muitas pessoas valorizem a liberdade.
(JF)
Justificação: a), c), d) e g) são juízos de valor uma vez que, são juízos
normativos, pois transmitem uma forma de examinar estes acontecimentos. b),
e), f) e h) são juízos de facto uma vez que, são juízos descritivos, pois
descrevem factos da realidade afirmando que são aprovados por algumas
pessoas.

Esclarecer a questão dos critérios valorativos (problema de


natureza dos valores).
A questão dos critérios valorativos consiste em saber se ao fazer uma avaliação
apresentamos apenas as nossas emoções ou afirmamos algo que é
objectivamente verdadeiro ou falso, ou seja, consiste em saber se a nossa
avaliação se baseia apenas nos factos ou se as nossas crenças e emoções
interferem nesta nossa avaliação.

2.1. Valores e valoração – a questão dos critérios valorativos

Os valores são qualidades que se atribuem aos objetos. Estes orientam a nossa ação, isto é, a

nossa ação é determinada pelos valores; pelo que é considerado justo/injusto;

correto/incorreto pelo sujeito.

Os valores não existem efetivamente nos objetos, ou seja, não são características dos objetos.

Orientam as nossas ações; agimos em função daquilo que gostamos e achamos correto.

Características dos valores

Os valores são:

􀂄 Subjetivos – quando dependem do sujeito, isto é, dois sujeitos perante um objeto podem

ter opiniões diferentes acerca do mesmo. (Ex.: uma pessoa pode achar o objeto bonito e outra

feio).

􀂄 Não são coisas nem características sensíveis dessas mesmas coisas

􀂄 São hierarquizáveis – não têm todos a mesma importância, cada sujeito tem a sua própria

hierarquia.
􀂄 Existem em pólos opostos – existem valores positivos e valores negativos. (Ex.: beleza ≠

fealdade).

􀂄 Valor-fim e valores-meio:

 Valor-fim – são aqueles que valem por si mesmo (encontram-se no topo da hierarquia);

 Valores-meio – são aqueles que nos permitem alcançar o valor-fim.

􀂄 Valores espirituais e valores materiais – produzem prazer sensível

 Valores éticos/morais

 Valores religiosos produzem prazer espiritual

 Valores estéticos

􀂄 São relativos – variam de época para época; de cultura para cultura, não quer dizer que uns

sejam mais corretos que outros.

􀂄 São perenes – não morrem, apesar da sua subjetividade e da sua relatividade estes

continuarão a determinar a visão que o homem tem do mundo e as suas ações.

Critério Valorativo: Juízos e Factos

􀂄 Facto é o aspeto da realidade, aspeto esse que pode ser descrito de uma forma objetiva.

Quando queremos descrever objetivamente um facto, elaboramos os juízos de facto.

􀂄 Juízo é enunciado onde se afirma ou nega uma coisa de outra coisa.

􀂄 Os Juízos de facto são proposições onde se descrevem objetivamente os aspetos da

realidade (factos). Descrevem a realidade tal como ela é, fornecendo assim informação sobre o

mundo. São objetivos pois não dependem da perspetiva do sujeito que os enuncia,

dependendo exclusivamente do objeto ou do facto.


􀂄 Pelo facto de eles serem objetivos possuem valor de verdade. Quando o conteúdo do juízo

corresponde verdadeiramente aos factos, é verdadeiro; quando, pelo contrário, não

corresponde, é falso.

􀂄 Os juízos de facto são os únicos que aparecem nas ciências (Ex.: leis científicas)

􀂄 Estes são descritivos, descrevendo certos aspetos da realidade.

􀂄 Os Juízos de valor servem para expressar/traduzir/mostrar a avaliação, positiva ou negativa,

que cada um de nós faz da realidade.

Contrariamente aos juízos de facto que são objetivos, os juízos de valor são subjetivos, porque

dependem exclusivamente da avaliação que cada sujeito faz da realidade.

Ao fazer a sua avaliação, o sujeito pretende influenciar os outros, levando-os a fazer o mesmo

tipo de avaliação de um acontecimento sendo, por isso, parcialmente, normativos.

􀂄 Assim temos:

Exemplos:
􀂄 Os juízos morais são os juízos de valor mais discutidos pelos filósofos.

Estas são duas questões importantes sobre a natureza desses juízos:

1. Os juízos morais têm valor de verdade?

2. Se têm valor de verdade, são verdadeiros ou falsos independentemente da perspetiva de

quaisquer sujeitos?

􀂄 As teorias objetivistas respondem afirmativamente a ambas as questões.

􀂄 Vamos examinar apenas teorias que não são objetivistas.

Subjetivismo

􀂄 Subjetivismo: Os juízos morais têm valor de verdade, mas o seu valor de verdade depende

da perspetiva do sujeito que faz o juízo.

􀂄 Existem factos morais, mas estes são subjetivos, pois só dizem respeito às atitudes de

aprovação ou reprovação das pessoas.

Duas razões para ser subjetivista:

􀂄 Se as distinções entre o certo e o errado não forem fruto dos sentimentos de cada pessoa,

então serão imposições exteriores que limitam as possibilidades de ação de cada indivíduo. O

subjetivismo preserva a liberdade individual.

􀂄 Quando percebemos que as distinções entre o certo e o errado dependem dos sentimentos

de cada pessoa e que os sentimentos de uma não são melhores nem piores que os de outra,

tornamo-nos mais capazes de aceitar as ações contrárias às nossas preferências.


O subjetivismo promove a tolerância entre indivíduos.

Objeções ao subjetivismo:

􀂄 O subjetivismo permite que qualquer juízo moral seja verdadeiro.

Por exemplo, se uma pessoa pensa que devemos torturar inocentes, então para essa pessoa é

verdade que devemos torturar inocentes.

􀂄 O subjetivismo compromete-nos com uma educação moral que consiste apenas em ensinar

que devemos agir de acordo com os nossos sentimentos.

􀂄 O subjetivismo tira todo o sentido ao debate moral. Torna absurdo qualquer esforço

racional para encontrar os melhores princípios éticos e fundamentá-los perante os outros.

Para aprofundar esta última objeção, vejamos como o subjetivista entende os casos de

desacordo moral:

􀂄 Se a tradução do subjetivista é correta, então não há qualquer desacordo genuíno entre o

João e a Maria. Mas há um desacordo genuíno entre o João e a Maria. Logo, a tradução do

subjetivista não é correta. (Portanto, o subjetivismo é falso.)

􀂄 Emotivismo: Os juízos morais são apenas frases em que as pessoas exprimem os seus

sentimentos de aprovação ou reprovação ou tentam suscitar esses mesmos sentimentos nos

outros.
􀂄 Os juízos morais não têm valor de verdade. Não são proposições.

Vantagens do emotivismo sobre o subjetivismo:

􀂄 Não implica que qualquer juízo moral pode ser verdadeiro.

􀂄 Proporciona um modelo mais aceitável da educação moral: esta pode ser vista como a

tentativa de influenciar os sentimentos das crianças de várias maneiras.

􀂄 Não implica que não há desacordos genuínos e, portanto, não exclui totalmente a

possibilidade do debate moral.

Duas objeções emotivismo:

􀂄 Os juízos morais nem sempre estão de acordo com os nossos sentimentos de aprovação ou

reprovação.

􀂄 Os juízos morais nem sempre exprimem emoções.

Definição dos conceitos nucleares

Valor: não é uma propriedade dos objetos em si, mas uma propriedade adquirida por esse
objetos graças à sua relação dom o Homem como ser social, embora os objetos, para poderem
valer, tenham de possuir realmente certas propriedades objetivas.

Juízo de facto: são juízos que descrevem a realidade, sendo por isso considerados objetivos,
verificáveis e suscetíveis de serem considerados verdadeiros ou falsos.

Juízo de valor: Expressam uma apreciação de alguém a respeito de algo, traduzindo uma
opção de natureza emotiva e afetiva; são subjetivos, discutíveis e relativos.

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