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Redução da Maioridade Penal

Discute-se a redução da idade da responsabilidade criminal para o jovem. A


maioria fala em 16 anos, mas há quem proponha até 12 anos como idade-limite.
Propõe-se também punições mais severas aos infratores, que só poderiam deixar as
instituições onde estão internados quando estivessem realmente “ressocializados”. O
tempo máximo de permanência de menores infratores em instituições não seria três
anos, como determina hoje a legislação, mas até dez anos. Fala-se em reduzir a
maioridade penal somente quando o caso envolver crime hediondo e também em
imputabilidade penal quando o menor apresentar "idade psicológica" igual ou superior
a 18 anos.

ARGUMENTOS PRÓS:
1. Os adolescentes infratores não recebem a punição devida, pois o Estatuto da
Criança e do Adolescente é muito tolerante com os infratores e não intimida os
que pretendem transgredir a lei.
2. Se o próprio legislador-constituinte reconhece aos maiores de dezesseis e
menores de dezoito anos lucidez e discernimento na tomada de decisões ao
lhes conferir capacidade eleitoral ativa (art. 14, § 1º, inciso II, alínea c, da CF),
o jovem deve ter também idade suficiente para responder diante da Justiça por
seus crimes.
3. Em países como Estados Unidos e Inglaterra não existe idade mínima para a
aplicação de penas. Nesses países são levadas em conta a índole do
criminoso, tenha a idade que tiver, e sua consciência a respeito da gravidade
do ato que cometeu. Em Portugal e na Argentina, o jovem atinge a maioridade
penal aos 16 anos. Na Alemanha, a idade-limite é 14 anos e na Índia, 7 anos.
4. A maioria dos jovens menores que praticam alguma infração penal apresentam
“idade psicológica” igual ou superior a 18 anos, possuindo discernimento
mental para entender o caráter ilícito do fato.
5. Evolução crescente do número de adolescentes na prática de atitudes
criminosas, os quais já não mais se limitam ao cometimento de pequenos
delitos. A imprensa noticia com freqüência o envolvimento de menores em
crimes hediondos, como homicídio qualificado, tráfico de entorpecentes,
estupro, extorsão mediante seqüestro, latrocínio etc.
6. Quando se fala em maturidade para efeitos penais, não se busca inteligência
destacada, capacidade de tomar decisões complexas, mas tão-somente a
formação mínima de valores humanos que uma pessoa deve ser dotada,
podendo discernir entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, entre o que
constitui crime e a atipicidade (livre-arbítrio). É a imputabilidade, que se faz
presente quando o sujeito compreende a ilicitude de sua conduta e age de
acordo com esse entendimento. Para esse grau de compreensão, bastam
inteligência e amadurecimento medianos, tranqüilamente verificáveis nos
adolescentes entre 16 e 18 anos.

ARGUMENTOS CONTRA:
1. A redução da maioridade não traria resultados na diminuição da violência,
somente acentuaria a exclusão de parte da população. Como alternativa, o
mais eficiente seria melhorar o sistema socioeducativo dos infratores, investir
em educação de uma forma ampla e também mudar a forma de julgamento de
menores muito violentos.
2. O tratamento recebido pelos menores nas instituições onde são internados não
cumpre com o objetivo principal: a ressocialização. O melhor seria que
ocoresse a aplicação adequada da legislação vigente.
Repita-se que no Brasil temos uma legislação de excelente qualidade,
reconhecida por diversos paises como uma das mais evoluídas, que é o ECA,
o qual possui bons comandos legais. Porém, o que é falha é a seriedade na
aplicação do mesmo. O ECA, além de medidas sancionadoras, possui as
medidas de caráter protetivo que jamais foram implementadas pelo Estado
Brasileiro. Neste caso, deveria a população exigir do Estado primar pela lei
existente, através da correta aplicação, ao invés de buscar outras alternativas
instáveis e inseguras.
3. A aplicação de medidas punitivas destinadas por lei aos adultos no caso de
menores infratores somente contribuiria para inserir completamente o jovem na
criminalidade, posto que o sistema prisional brasileiro não cumpre com o
propósito de ressocialização, apenas contribui para o aumento da
marginalidade. Na exposição de motivos da nova parte geral do Código Penal
(Item 23), o então Ministro da Justiça Ibrahim Abi-Ackel justificou a opção
legislativa aduzindo que "De resto, com a legislação de menores recentemente
editada, dispõe o Estado dos instrumentos necessários ao afastamento do
jovem delinqüente, menor de 18 (dezoito) anos, do convívio social, sem sua
necessária submissão ao tratamento do delinqüente adulto, expondo-o à
contaminação carcerária". Não precisa ser um especialista em política criminal
para perceber que o sistema é ineficiente para punir, além do que não se
entrará no mérito do atendimento dado aos presos fazendo-se análise tão-só
das estatísticas. Assim, implementar a redução da maioridade penal é
aumentar em muito o número de apenados e, portanto, será estar diante de um
monstro cuja capacidade de resposta é ineficiente e ineficaz.
4. Defender esta postura de redução é andar na contramão da historia, pois se
sabe da falência da pena de prisão. As sociedades mais evoluídas estão
defendendo no sentido de minimizar a intervenção estatal, impondo cada vez
mais a diminuição de penas restritivas de liberdade, pois os sistemas prisionais
existentes não cumprem seu papel, porquanto se tornaram centros de
depósitos humanos antiquados, que não tem conseguido ressocializar
ninguém, muito pelo contrario, tem aumentado mais a revolta desta população
encarcerada.
5. Fala-se na adoção do sistema biopsicológico (ou biopsicológico normativo ou
misto), onde as pessoas nessa faixa etária necessariamente serão submetidas
a avaliação psiquiátrica e psicológica para aferir o seu grau de
amadurecimento. Entretanto, como é cediço, inexiste em nosso País estrutura
organizacional para a realização desses exames. Em cada crime ou
contravenção praticada por adolescente nessa faixa etária, ter-se-ia de
providenciar perícia médico-psicológica para apurar a imputabilidade ou
inimputabilidade, mesmo em se cuidando de delito de bagatela. Ora, isso
atrasaria sobremaneira a instrução do processo, congestionaria a rede pública
de saúde e obstaria por completo a entrega da prestação jurisdicional. De
salientar que em grande parte das comarcas do interior do Brasil não há
profissionais habilitados para tal. Haveria, então, necessidade de transportar os
menores para centro maior, aumentando os riscos de resgate, fuga, além de
considerável ônus para o Estado.
6. Outro aspecto falacioso é afirmar que os menores não são punidos por seus
atos, porque a imputação existe, há apenas uma diferença do ponto de vista da
conseqüência jurídica, onde ao maior aplica-se pena, e quando menor, aplica-
se medida sócio-educativa. Então temos a pena como conseqüência para
quem pratica crime, e medidas sócio-educativas para quem comete ato
infracional. Portanto, o que o Estatuto da Criança e do Adolescente quer é
proteger a criança excluída socialmente como já foi visto, da realidade do
sistema prisional brasileiro, onde se constata a sua ineficiência para a clientela
que possui, ainda mais agora, para atender os adolescentes, se tal proposta
vier a ser implementada.
7. Cabe ao Estado mantenedor da ordem pública, representante dos interesses
coletivos, responsável pela elaboração e aplicação das leis, chamar para si a
responsabilidade pelo crescimento do numero de menores infratores, e
certamente perceberá a flagrante omissão e a total falta de políticas que
propiciem condições dignas às famílias de menor poder aquisitivo.
8. O discurso da redução da maioridade penal, manipulado muitas vezes por
interesses políticos demagógicos que vêm ao encontro a uma sociedade
assustada, além de ser de uma política imediatista, é sem sobra de dúvida um
retrocesso de uma legislação moderna e emancipadora como é o ECA. Ao
mesmo tempo ferem de morte os direitos humanos daqueles que não têm e
nunca tiveram a oportunidade de inclusão social.
9. Outro aspecto que há de ser levando em consideração, são os dados
estatísticos que apontam para impossibilidade da recepção de mais presos no
atual sistema prisional, senão vejamos: o sistema prisional nacional tem
331.457 presos, para um total de vagas de 180.950, ou seja, já possui uma
superlotação. Existe déficit de aproximadamente 70.852 vagas (Estatística
Criminal de 2004).

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