Você está na página 1de 141

DANIEL

Original em inglês:

DANIEL -

The Book of Daniel

Commentary by A.R. Faussett

Tradução: Carlos Biagini

Introdução

Daniel 1 Daniel 4 Daniel 7 Daniel 10

Daniel 2 Daniel 5 Daniel 8 Daniel 11

Daniel 3 Daniel 6 Daniel 9 Daniel 12


Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 2
INTRODUÇÃO

Daniel, quer dizer, Deus é meu juiz; provavelmente de sangue real


(veja-se Dn_1:3, com 1Cr_3:1, onde um filho de Davi chama-se assim).
Jerusalém teria podido ser o lugar de seu nascimento (embora Dn_9:24,
"sua cidade Santa" não dá a entender isto necessariamente). Foi levado à
Babilônia entre os cativos hebreus levados para lá por Nabucodonosor na
primeira deportação no quarto ano de Jeoaquim. Como ele e seus três
companheiros se chamam (Dn_1:4) "jovens", não teria tido mais de doze
anos, quando foi posto em preparação, segundo a etiqueta oriental, para
ser um cortesão (Dn_1:3, 6). Recebeu então um nome novo, pelo qual
era costume assinalar uma mudança na condição de alguém (2Rs_23:34;
2Rs_24:17; Ed_5:14; Et_2:7), Beltessazar, "príncipe favorecido por
Bel". Sua piedade e sabedoria chegaram a ser proverbiais entre seus
patrícios num período muito cedo; provavelmente, devido a esta nobre
prova que deu de fidelidade, combinada com sua sabedoria, em abster-se
de tomar os alimentos enviados da mesa do rei, por estar contaminados
com as idolatrias comuns nos banquetes dos gentios (Dn_1:8-16). De
modo que as referências dele por Ezequiel, são precisamente da classe
que esperaríamos: uma coincidência que tem que ser feita sem intenções
ulteriores. Ezequiel refere-se a ele não como a um escritor, mas sim
como que exibia um caráter justo e sábio em discernir segredos, naquelas
circunstâncias, agora achadas em seu livro, as quais são anteriores ao
tempo em que escreveu Ezequiel. Assim como José no Egito se elevou
por ter interpretado os sonhos do Faraó, assim Daniel, por interpretar os
de Nabucodonosor, foi promovido a governador de Babilônia, e
presidente da casta de sacerdotes e magos.
Sob Evil-Merodaque, sucessor de Nabucodonosor, como uma
mudança de funcionários frequentemente acompanha o advento de um
novo rei, parece que Daniel teria passado a ocupar um posto inferior, o
que ocasionalmente o teria levado fora de Babilônia (Dn_8:2, 27). Outra
vez veio a lugar de importância, quando decifrou a escritura mística da
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 3
queda de Belsazar, na parede, a noite da festa ímpia daquele monarca.
Berosus chama o último rei babilônico Nabonido, e diz que não foi
morto, mas sim foi proporcionada uma residência honorável na
Carmania, depois de haver-se rendido voluntariamente em Borsippa.
Rawlinson esclareceu esta discrepância por meio das inscrições em
Nínive. Belsazar foi co-regente com seu pai, Evil-Merodaque ou
Nabonido (chamado Minus nas inscrições), de quem era subordinado.
Ele se encerrou na cidade, enquanto que o outro rei se refugiou em outra
parte, quer dizer, em Borsippa. Berosus dá o relato caldeu, o qual
suprime todo o concernente a Belsazar, pois era de desonra nacional. Se
Daniel tivesse escrito seu livro mais tarde, sem dúvida, teria usado o
relato posterior do Berosus. Se tivesse dado uma história que diferisse da
que era corrente em Babilônia, os judeus daquela região não a teriam
recebido como verídica. Dario o medo, ou Ciáxares II, subiu ao trono e
reinou dois anos. A menção do reinado deste monarca, quase
desconhecido na história profana, como que foi eclipsado pelo esplendor
de Ciro, é uma prova incidental, de que Daniel escreveu como
historiador contemporâneo de acontecimentos que ele conhecia, e que
não tomava emprestado o material de outros. No terceiro ano de Ciro,
Daniel viu as visões (Daniel 10-12) a respeito de seu povo, até os dias
finais e a futura ressurreição dos mortos. Teria tido como oitenta e quatro
anos de idade naquele então. A tradição diz que Daniel morreu e foi
sepultado em Susã. Embora sua idade avançada não permitiu que ele se
achasse entre os judeus que retornaram a Palestina, entretanto, nunca
deixou de ter os interesses de seu povo muito perto de seu coração
(Daniel 9 e Dn_10:12).

A Autenticidade do Livro de Daniel. Dn_7:1, 28; Dn_8:2;


Dn_9:2; Dn_10:1, 2; Dn_12:4, 5, testificam que foi composto pelo
próprio Daniel. Não se mencionou a si mesmo nos seis primeiros
capítulos, que são históricos; porque nestes não é o autor mas sim os
acontecimentos o assunto proeminente. Nos seis últimos, que são
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 4
proféticos, o autor dá-se a conhecer, porque aqui era necessário, porque a
profecia é a revelação de palavras a certos homens. O livro ocupa um
terceiro lugar no cânon hebraico não entre os profetas, mas nos
Hagiógrafa (no hebraico, escritos "sagrados"), entre Ester e Esdras,
livros parecidos que contam do cativeiro; porque ele não pertenceu
estritamente aos que tinham exclusivamente a profissão de "profetas" na
teocracia, mas sim era um "vidente", tendo o dom, mas não o ofício de
profeta. Se o livro fosse uma obra interpolada, sem dúvida teria sido
posto entre os profetas. Sua localização atual é uma prova de sua
genuinidade, como que foi deliberadamente posto numa posição onde
não esperaríamos achá-lo. Colocado entre Ester, e Esdras e Neemias,
este livro separava os livros históricos dos tempos depois do cativeiro.
De modo que Daniel foi, conforme o chama Bengel, o político, o
cronólogo e o historiador entre os profetas. Os Salmos também, embora
muitos deles são proféticos, estão classificados nos Hagiógrafa, e não
com os profetas; o Apocalipse de João está separado de suas epístolas,
como Daniel está separado dos profetas do Antigo Testamento. Em vez
de escrever no meio do povo da aliança e de fazer dele o primeiro plano
de seu quadro, escreve numa corte pagã, e os reinos mundiais ocupam o
primeiro plano, e o reino de Deus forma o fundo, embora finalmente faz-
se o mais importante. Sua posição peculiar numa corte pagã se reflete em
sua posição peculiar no cânon. Assim como as "profecias" no Antigo
Testamento, as epístolas dos apóstolos no Novo foram escritas para seus
contemporâneos por homens divinamente inspirados. Mas Daniel e João
não estavam em relação imediata com a congregação, mas sim isolados e
sós com Deus, o um numa corte pagã, o outro numa ilha solitária
(Ap_1:9).
Porfírio, o atacante do cristianismo no terceiro século, sustentou
que o livro de Daniel era uma falsificação feita no tempo dos Macabeus,
170-164 a.C., um tempo em que confessadamente não havia profetas;
escrito depois dos acontecimentos quanto à Antíoco Epifânio, os quais o
livro professa predizer; sustentou-o porque os detalhes são muito exatos.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 5
Isto é uma prova concludente da inspiração de Daniel, se se pode provar
que suas profecias tinham sido feitas antes dos acontecimentos. Agora
sabemos por Josefo, que os judeus nos dias de Jesus, reconheciam o livro
de Daniel como parte do cânon. Zacarias, Esdras e Neemias, séculos
antes de Antíoco, fazem referências ao livro. Jesus refere-se a ele em Seu
título característico: "Filho do Homem", Mt_24:30 (Dn_7:13); também
expressamente pelo nome, e como "profeta", em Mt_24:15 (veja-se
Mt_24:21 com Dn_12:1, etc.); e no momento que decidiu Sua vida
(Mt_26:64) ou Sua morte, quando o sumo sacerdote Lhe conjurou pelo
Deus vivo. Também, em Lc_1:19-26, "Gabriel" menciona-se, cujo nome
não aparece em nenhum outro lugar das Escrituras exceto em Dn_8:16;
Dn_9:21. Além das referências a ele no Apocalipse, Paulo confirma a
parte profética do livro, quanto ao rei blasfemo (Dn_7:8, Dn_7:25;
Dn_11:36), em 1Co_6:2; 2Ts_2:3-4; a parte narrativa, a respeito da
libertação milagrosa de "os leões" e "do fogo", em Hb_11:33-34. De
modo que o livro é expressamente testemunhado pelo Novo Testamento
sobre os três pontos que formavam a pedra de tropeço dos modernistas:
as predições, o relato de milagres, e as manifestações dos anjos.
Deu-se princípio a uma objeção à unidade do livro, quer dizer, que
Jesus não cita nenhuma parte da primeira metade de Daniel. Mas
Mt_21:44 seria um enigma, se não fosse uma referência à "pedra que
feriu a imagem" (Dn_2:34-35, Dn_2:44-45). De modo que o Novo
Testamento sanciona os caps. 2, 3, 6, 7 e 11. O intento dos milagres nas
cortes pagãs onde estava Daniel, como os de Moisés no Egito, foi o de
levar a potência mundial, que parecia vitoriosa sobre a teocracia, a ver a
essencial superioridade interna do aparentemente caído reino de Deus a
essa mesma potência e o de mostrar a Israel prostrado, que o poder de
Deus era o mesmo como antes no Egito.
O primeiro livro de Macabeus (veja-se 1Mc_1:24; 1Mc_9:27,
1Mc_9:40, com Dn_12:1; Dn_11:26, da LXX) refere-se a Daniel como
livro acreditado, e até refere-se à Versão Alexandrina, a LXX dele. O
fato de que Daniel tem seu lugar na LXX, demonstra que era recebido
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 6
pelos judeus em geral, antes dos tempos dos Macabeus. A LXX se
desvia tão arbitrariamente do Daniel hebreu, que a Versão de Teodósio
foi substituída por ela na antiga igreja cristã. Josefo (Antiguidades,
11.7.5) menciona que Alexandre Magno, planejava castigar os judeus
por sua fidelidade a Dario, mas que Jadua (332 a.C.), o sumo sacerdote,
encontrou-o à cabeça de uma procissão, e apartou sua ira mostrando-lhe
a profecia de Daniel de que um monarca grego derrotaria a Pérsia. É
verdade que Alexandre favoreceu os judeus, e a afirmação de Josefo dá
uma explicação do fato; pelo menos demonstra que os judeus nos dias de
Josefo, creram que o livro de Daniel existia nos dias de Alexandre,
muito dos Macabeus. Com Jadua (sacerdote de 341 a 322 a.C.), termina
a história do Antigo Testamento (Ne_12:11). (O registro dos sacerdotes e
levitas não foi escrito por Neemias, quem morreu perto de 400 a.C., mas
foi inserido com sanção divina, pelos compiladores do cânon mais
tarde).
Uma objeção à autenticidade de Daniel, tem-se apoiado em umas
poucas palavras gregas que aparecem no livro. Mas estas são, em sua
maior parte nomes de instrumentos de música gregos, os quais eram
importados pelos gregos do Oriente, e vice-versa. Algumas das palavras
são derivadas do tronco comum indo-germânico, tanto do grego como do
caldeu; e portanto aparecem em ambas as línguas. Também, uma que
outra, terão vindo através dos gregos da Ásia Menor ao idioma caldeu. O
fato de que do versículo quatro do capítulo dois até o fim do capítulo
sete, o idioma do livro é caldaico, e o resto hebraico, não é um
argumento contra mas a favor de sua autenticidade. Assim também em
Esdras se acham os dois idiomas.
A obra, se for de um só autor, teria sido composta por alguém que
estivesse nas mesmas circunstâncias de Daniel, quer dizer, por alguém
conhecedor dos dois idiomas. Nenhum hebreu, nascido na Palestina, que
não tivesse vivido na Caldeia, teria conhecido o caldeu tão bem para usá-
lo com a mesma liberdade idiomática que sua língua nativa; as mesmas
impurezas gramaticais no uso que Daniel faz em ambas as línguas, eram
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 7
tão naturais para alguns em suas circunstâncias, mas não naturais para
alguns de tempos posteriores, ou para alguns que não fossem meio
hebraico e meio caldeu quanto à sua residência, como o era Daniel.
Aquelas partes de Daniel, que concernem ao mundo inteiro, são
principalmente caldeus, naquele então o idioma de um império mundial.
Assim o grego foi feito o idioma do Novo Testamento, que foi destinado
a todo mundo. As partes que concernem aos judeus, estão em sua
maioria no hebraico; e este não é tão impuro como a linguagem de
Ezequiel. O caldeu deste, é uma mescla de hebraico e aramaico. Duas
predições sós são suficientes para nos convencer de que Daniel era
profeta verdadeiro. (1) Que suas profecias alcançam além de Antíoco,
quer dizer, ele predisse o desenvolvimento de quatro grandes
monarquias: Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e Roma (sendo a de Roma
desconhecida nos dias de Daniel, além dos limites da Itália, mais
corretamente, de Lazio), e que nenhum outro reino terrestre conquistaria
o quarto, Roma, em vez disso dividir-se-ia em partes. Tudo isto se
cumpriu. Nenhuma quinta monarquia se levantou, embora se tenha feito
a tentativa, como por Carlos Magno, Carlos V e Napoleão. (2) O tempo
da vinda do Messias, como datada desde certo decreto; que seria
rejeitado, e que a cidade de Jerusalém seria destruída. "Quem nega as
profecias de Daniel — disse Sir Isaque Newton — mina os alicerces do
cristianismo, que se baseia sobre as profecias de Daniel a respeito de
Cristo."

Características de Daniel. O modo da revelação por visões é a


exceção com os demais profetas, mas é a regra em Daniel. Em Zacarias
(Zacarias 1 a 6), quem viveu depois de Daniel, aparece o mesmo modo,
mas a outra forma do capítulo 7 até o fim. O Apocalipse de João só é
perfeitamente paralelo com Daniel, que se pode chamar o Apocalipse do
Antigo Testamento. No conteúdo, também, há a diferença notada acima,
que ele contempla o reino de Deus do ponto de vista das monarquias
mundiais, o desenvolvimento das quais é seu grande tema. Esta maneira
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 8
de contemplá-lo foi apropriada a sua própria posição numa corte pagã, e
apropriada também à relação de sua dependência das potências mundiais
em que se achava o povo da aliança. Não se introduzem incidentalmente
as potências individuais do mundo, mas sim as monarquias universais
são o tema principal, no qual o princípio mundano, contrário ao reino de
Deus, se manifesta plenamente. O próximo e o longínquo não são vistos
na mesma perspectiva, como pelos demais profetas, os quais olhavam
todo o futuro, do ponto de vista escatológico; mas em Daniel se dão os
detalhes históricos daquele desenvolvimento das potências mundiais,
que devem acontecer antes do advento do reino. [Auberlen.]

A Significação do Cativeiro Babilônico. O exílio é a base


histórica das profecias de Daniel, como ele dá a entender no primeiro
capítulo, as quais começam com o princípio do cativeiro, e terminam
com o fim do mesmo, (Dn_1:1, 21; compare-se com Dn_9:1, 2). Uma
etapa nova na teocracia começa com o cativeiro. Nabucodonosor fez três
incursões a Judeia. A primeira sob Jeoaquim (606 a.C.), na qual foi
levado Daniel; sujeitou a teocracia ao poder mundial de Babilônia. A
segunda (598 a.C.), foi quando Joaquim e Ezequiel foram levados. A
terceira (588 a.C.), na qual Nabucodonosor destruiu Jerusalém e levou
Zedequias.
Originalmente, Abraão foi "levantado" dentre "o mar" (Dn_7:2) das
nações, como uma ilha santa a Deus, e sua semente escolhida como
mediadora de Deus, em sua relação de amor para com a humanidade.
Sob Davi e Salomão, a teocracia, como oposta ao poder pagão, chegou
ao seu apogeu no Antigo Testamento, sendo não só independente, mas
também senhora das nações vizinhas de modo que o período destes dois
reis foi feito dali o tipo do reino messiânico. Mas quando o povo de
Deus, em vez de descansar em Deus, buscou a aliança com o poder
mundial, aquele mesmo poder é feito o instrumento de seu castigo. Então
Efraim (722 a.C.), caiu sob Assíria; e Judá também, atraído à esfera dos
movimentos mundiais do tempo de Acaz, quem buscou ajuda da Assíria
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 9
(740 a.C., Isaías 7), enfim caiu sob Babilônia, e desde então esteve mais
ou menos dependente das monarquias mundiais, e portanto não foi
favorecido com revelações do tempo de Malaquias, durante 400 anos, até
a chegada do Messias. Assim, desde o começo do exílio, a teocracia, no
sentido estrito, cessou sobre a terra, sendo suplantada pelas potências
mundiais. Mas a aliança de Deus com Israel fica firme (Rm_11:29);
portanto, prediz-se agora um período de bênção sob o Messias como
logo a seguir seu longo castigo. O desterro assim, é o ponto decisivo na
história da teocracia, a qual Roos divide assim: (1) Desde o Adam ao
Êxodo do Egito. (2) Do Êxodo ao começo do cativeiro babilônico. (3)
Do cativeiro até o milênio. (4) Do milênio até o fim do mundo.
A posição de Daniel na corte babilônica, estava ao uníssono com as
relações mudadas da teocracia e o poder mundial, relação que devia ser o
tema de sua profecia. Profetas anteriores, do ponto de vista de Israel,
tratavam a Israel em suas relações com as potências mundiais; Daniel,
desde Babilônia, o centro da potência mundial de então, trata as
potências mundiais em sua relação com Israel. Sua residência de setenta
anos em Babilônia e sua alto posto ali, davam-lhe um conhecimento
interno da política mundial, o que o capacitava para ser o recipiente de
revelações políticas; enquanto que suas experiências espirituais, ganhas
na humilhação de Nabucodonosor, a queda de Belsazar e a rápida
decadência do mesmo império babilônico, como também os livramentos
milagrosos dele e de seus companheiros (Daniel 3-6), prepararam-no
para considerar as coisas do ponto de vista espiritual, do qual o poder
mundial parece passageiro, mas a glória do reino de Deus, eterna. Assim
como sua posição política era o corpo, a escola de magos na qual
estudou por três anos (Dn_1:4, 5) era a alma; e sua mente, forte na fé e
alimentada pelas profecias anteriores (Dn_9:2), o espírito de sua
profecia, que só esperava a revelação de cima para acendê-lo. Assim
Deus prepara Seus órgãos para a obra deles. Auberlen compara a Daniel
com José: um no princípio da história judia da revelação, o outro no fim
dela; os dois representantes de Deus e Seu povo em cortes pagãs; os dois
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 10
intérpretes dos pálidos pressentimentos da verdade, expressos em sonhos
enviados por Deus, e por este motivo elevados para honra pelos poderes
do mundo; representando assim a chamada de Israel a ser luz para
iluminar o mundo gentil inteiro, como prediz Rm_11:12, Rm_11:15.
Assim como Aquiles no princípio da história grega e Alexandre no fim,
são espelhos da vida inteira do povo helênico, José e Daniel o são na
história de Israel.

O Conteúdo do Livro. A introdução histórica e biográfica no


primeiro capítulo. Daniel, cativo e banido, é representante de sua nação
em sua servidão e exílio; enquanto que por sua percepção celestial nos
sonhos, que em muito sobrepujava a dos magos, representa a
superioridade divina do povo da aliança sobre seus senhores pagãos. As
altas honras, até neste mundo, que ele alcançou pelo seu saber, tipificam
a entrega no fim do reino mundial "ao povo dos santos do Altíssimo"
(Dn_7:27). Assim a história pessoal de Daniel é a base típica de sua
profecia. Os profetas tiveram que experimentar em suas próprias
pessoas, e em sua idade, algo do que elas prediziam a respeito dos
tempos futuros; assim como Davi sentiu muito dos sofrimentos de Cristo
em sua própria pessoa (veja-se Os_1:2-9, Os_1:10, 11; Os_2:3). Assim
também Jonas, Daniel 1, etc. [Roos.]
Por isso entre suas profecias estão incluídas as notícias biográficas
de Daniel e seus amigos. Os caps. 2 a 12 contêm a substância do livro, e
constam de duas partes. A primeira, caps. 2 a 7, representa o
desenvolvimento das potências mundiais, de um ponto de vista histórico.
A segunda, caps. 8 a 12, seu desenvolvimento com relação a Israel,
especialmente no futuro imediatamente anterior à vinda de Cristo,
predito em Daniel 9. Mas a profecia olha para além do futuro imediato
até o cumprimento completo nos últimos dias, pois as partes individuais
na história orgânica da salvação, não podem entender-se senão em
conexão com a salvação inteira. Também Israel olhava para frente aos
tempos messiânicos, não só pela salvação espiritual, mas também pela
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 11
restauração visível do reino que nós até agora esperamos. A profecia que
eles precisavam deve compreender, pois, ambas as coisas, e tanto da
história do mundo quanto transcorreria antes da consumação final.
O período das profecias de Daniel é, portanto, aquele que começa
com a queda da teocracia até a restauração final dela: o período do
domínio das potências mundiais, não abolidas pela primeira vinda de
Cristo (Jo_18:36; porque o ter tomado então o reino terrestre, teria sido
tomá-lo das mãos de Satanás, Mt_4:8-10), para ser sobrepujado por seu
reino universal e eterno em Sua segunda vinda (Ap_11:15). De modo
que, o exame geral do desenvolvimento e destino final das potências
mundiais (caps. 2 ao 7), adequadamente antecede aos descobrimentos
quanto ao futuro imediato (caps. 8 aos 12). Daniel faz ver a divisão por
escrever a primeira parte em caldeu, e a segunda e a introdução em
hebraico; a primeira, referente às potências do mundo, escreveu-a no
idioma da potência mundial naquele então dominante, sob a qual ele
vivia; a segunda parte, referente ao povo de Deus, escreveu-a em sua
própria língua. Um interpolador, em tempos posteriores, teria usado o
hebraico, o qual sempre foi o idioma dos profetas antigos; ou se tivesse
usado em alguma parte o aramaico, para ser entendido assim por seus
contemporâneos, o teria usado na segunda parte, em vez de na primeira,
como se tivesse uma referência mais imediata a seus próprios tempos.
[Auberlen.]
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 12
Daniel 1

Vv. 1-21. Começa o Cativeiro Babilônico; a Educação de Daniel


em Babilônia, etc.
1. ano terceiro — Veja-se Jr_25:1, “o quarto ano”; Jeoaquim subiu
ao trono no final do ano, que Jeremias considera como o primeiro ano;
mas Daniel não o tem em conta, sendo ano incompleto: assim, em
Jeremias, é “o quarto ano”; em Daniel, o “ano terceiro”. [Jahn.]
Entretanto, Jeremias (Jr_25:1; Jr_46:2) simplesmente diz que o quarto
ano de Jeoaquim coincide com o primeiro de Nabucodonosor, quando
este venceu os egípcios em Carquemis; e não que a deportação dos
cativos de Jerusalém fosse no quarto ano de Jeoaquim; esta
provavelmente sucedeu no fim do terceiro ano de Jeoaquim, um pouco
antes da batalha de Carquemis. [Fairbairn]. Nabucodonosor levou os
cativos como reféns pela submissão dos hebreus. As Escrituras
históricas não dão nenhum relato positivo desta primeira deportação,
com a qual o cativeiro babilônico, quer dizer, a sujeição de Judá a
Babilônia por setenta anos (Jr_29:10), começa. Mas 2Cr_36:6-7 diz que
Nabucodonosor pensava levar a Jeoaquim a Babilônia, e que levou para
lá os “vasos da casa do Senhor”. Mas Jeoaquim morreu em Jerusalém,
antes que o propósito do vencedor fosse levado a efeito (Jr_22:18-19;
Jr_36:30), e que seu cadáver. como se havia predito, foi arrastado fora
das portas pelos sitiadores caldeus, e deixado sem ser sepultada. A
segunda deportação sob Jeoaquim foi oito anos mais tarde.
2. Sinar — o antigo nome de Babilônia (Gn_11:2; Gn_14:1;
Is_11:11; Zc_5:11). Nabucodonosor tomou só “dos vasos”, quer dizer,
alguns deles, visto que não pensava derrubar o estado, mas sim fazê-lo
tributário, e deixar de tais vasos tantos quantos fossem necessários para o
culto público de Jeová. Mais tarde todos foram levados, e foram
restaurados sob Ciro (Ed_1:7).
seu deus — Bel. Seu templo, como com frequência sucedia entre os
pagãos, foi feito “a casa do tesouro” dos reis.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 13
3. chefe dos seus eunucos — chamado na Turquia o “Kislar Aga”.
da linhagem real — Veja-se profecia, 2Rs_20:17-18.
4. jovens sem nenhum defeito — A forma corporal bela, nas ideias
orientais, associava-se com o poder mental. “Jovens” quer dizer
jovenzinhos de doze a quatorze anos.
instruídos … a língua dos caldeus — sua idioma e literatura,
aramaica babilônica. Que seu ensino pagão não era totalmente inútil, vê-
se nos magos egípcios que se opunham a Moisés, e nos magos do Oriente
(Mt_2:1), que buscavam Jesus e que poderiam ter conhecido a tradição a
respeito do “Rei dos judeus”, por meio de Dn_9:24, etc., escrita no
Oriente. Assim como Moisés foi educado no conhecimento dos sábios
egípcios, assim Daniel no dos caldeus, para familiarizar sua mente com o
ensino misterioso e assim desenvolver o seu dom de entender visões,
dado por Deus (vv. 4, 5, 17).
5. a comida do rei — É costume dos reis do Oriente, tratar com
atenção com comida de sua mesa, a muitos partidários e cativos reais
(Jr_52:33-34). No hebraico “comida”, quer dizer “iguarias”.
assistiriam diante do rei — como cortesãos assistentes; não como
eunucos.
6. filhos de Judá — a tribo mais nobre, sendo a tribo à qual
pertencia “a linhagem do rei” (veja-se v. 3).
7. pôs outros nomes — propostos para assinalar sua nova relação,
a fim de que se esquecessem de sua religião anterior e sua pátria
(Gn_41:45). Mas como no caso de José, a quem Faraó chamou Zafenate-
Panéia, assim no de Daniel, o nome indicativo de sua relação com a corte
pagã (“Beltessazar”, quer dizer, “príncipe de Bel”), por lisonjeiro que
fosse, não é o nome retido pelas Escrituras, mas sim o nome que indica
sua relação com Deus (“Daniel”, Deus meu juiz, o tema de suas profecias
é o juízo de Deus sobre as potências mundiais pagãs).
Ananias — quer dizer, “A quem Jeová favoreceu”.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 14
Sadraque — de Rak”, em babilônico, “o rei”, quer dizer, “o sol”; a
mesma raiz como em Abrec (Gn_41:43), “Inspirado ou iluminado pelo
deus-sol”.
Misael — quer dizer, “Quem é o que Deus é”? Quem é comparável
a Deus?
Mesaque — Os babilônios retiveram a primeira sílaba de Misael, o
nome hebraico; mas El, quer dizer, Deus, substituíram “Sac”, o nome da
deusa babilônica, chamada Sesaque (Jr_25:26; Jr_51:41), que
correspondia à Terra, ou se não Vênus, a deusa do amor e alegria, foi no
meio da festa dela que Ciro tomou Babilônia.
Azarias — quer dizer, “A quem Jeová ajuda”.
Abede-Nego — quer dizer, “Servo do fogo resplandecente”. De
modo que, estes jovens servos de Jeová, em lugar de estar dedicados a
Jeová, foram dedicados pelos pagãos a seus quatro deuses principais
[Heródoto, Clio]. Bel, o chefe dos deuses, o deus sol, a deusa terra e o
deus do fogo. A este último foram entregues, quando se negaram a
adorar a imagem de ouro (Daniel 3). A Versão Caldeia traduz “Lúcifer”,
em Is_14:12, Nogea, outra forma de Nego. Deste modo os nomes no
próprio início são significativos do aparente triunfo dos poderes pagãos
perante Jeová e Seu povo, mas da segura ruína daqueles.
8. Resolveu Daniel, firmemente, não contaminar-se com as finas
iguarias do rei — Especifica-se a Daniel como o iniciador no
“propósito” (a palavra dá a entender uma resolução decidida), de abster-
se da contaminação, o que indica um caráter já formado para as funções
proféticas. Os outros três, sem dúvida, participavam do propósito dele.
Era costume atirar sobre a terra uma pequena porção dos alimentos,
como oferta iniciadora aos deuses, para consagrar a eles o festim inteiro
(veja-se Dt_32:38). O ter participado de semelhante festa teria sido
sancionar a idolatria, o que era proibido mesmo depois que se ter abolido
a distinção legal entre carnes limpas e carnes contaminadas (1Co_8:7,
1Co_8:10; 1Co_10:27-28). De modo que a fé destes três jovens fez-se
instrumental para rebater o mal predito contra os judeus (Ez_4:13;
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 15
Os_9:3), à glória de Deus. Daniel e seus três amigos, diz Auberlen,
destacam-se como oásis no deserto. Como Moisés, Daniel “escolheu
antes ser afligido com o povo de Deus, que desfrutar dos prazeres
temporais do pecado” (veja-se Daniel 9). Quem tem que interpretar
revelações divinas, não deve alimentar-se das iguarias nem beber a taça
embriagante deste mundo. Isto fez com que seu nome fosse tão querido a
seus compatriotas, como o de Noé e Jó, os quais também se mantiveram
sós em sua piedade, em meio de uma geração perversa (Ez_14:14,
Ez_28:3).
pediu — embora estejamos decididos quanto a princípios, devemos
buscar nosso objeto por meio da suavidade, antes que por um
testemunho vanglorioso, o qual, sob pretexto de fidelidade, desperta a
oposição.
9. Deus fez que Daniel achasse graça (TB) — o favor de outros
para com os piedosos é obra de Deus. Foi assim no caso de José
(Gn_39:21), e especialmente para com Israel (Sl_106:46; Veja-se
Pv_16:7).
10. rostos mais tristes — parecendo menos sãos.
jovens da vossa idade — de sua idade; lit. “círculo”.
condenarão … minha cabeça — algum déspota oriental, num
arrebatamento de ira de que suas ordens fossem desobedecidas, mandaria
que o ofensor fosse decapitado imediatamente.
11. Melsar — antes, “o mordomo”, ou “mordomo principal”,
encarregado por Aspenaz de prover a ração diária aos jovens.
[Gesênius.] A palavra ainda está em uso na Pérsia (Irã).
12. que se nos deem legumes — a palavra hebraica expressa
qualquer vegetal produzido de semente, quer dizer, alimentação vegetal
em geral. [Gesênius].
13-15. Que ilustra Dt_8:3: “O homem não viverá só de pão, mas de
tudo o que sai da boca do Senhor”.
17. Deus deu o conhecimento — (Êx_31:2-3; 1Rs_3:12; Jó_32:8;
Tg_1:5, Tg_1:17).
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 16
a Daniel deu inteligência de todas as visões e sonhos — Deus fez
com que um de Seu povo desprezado eclipsasse os sábios caldeus em
toda ciência, da qual eles se gloriavam. Foi assim com José na corte de
Faraó (Gn_40:5; Gn_41:1-8). Daniel, em louvor de seu próprio
“conhecimento”, não fala por vaidade, mas por mandado de Deus, como
alguém arrebatado fora de si. Veja-se minha Introdução, “Conteúdo do
Livro”.
18. os trouxe à presença de Nabucodonosor — quer dizer, não só
a Daniel e a seus três amigos, mas sim a outros jovens também (v. 3 e 19,
“entre todos eles”).
19. passaram a assistir diante do rei — quer dizer, foram
promovidos a uma posição de favor perto do trono.
20. dez vezes — lit., “dez mãos”.
magos — corretamente, “escribas sagrados, expertos nos escritos
sagrados, uma classe de sacerdotes egípcios” [Gesênius]; de uma raiz
hebraica, “uma pena” (de escrever). Os magos formavam uma das seis
divisões dos medos.
astrólogos — heb., “encantadores”, de uma raiz, “esconder”,
praticantes de artes ocultas.
21. Daniel continuou até ao primeiro ano do rei Ciro —
(2Cr_36:22; Ed_1:1). Não que ele não continuasse além daquele ano,
mas sim a expressão tinha por motivo assinalar o fato de que aquele que
era um dos primeiros cativos levados a Babilônia, viveu até ver o fim do
cativeiro. Veja-se minha Introdução. “O Significado do Cativeiro
Babilônico”. Em Dn_10:1, é mencionado Daniel como vivendo “no
terceiro ano de Ciro”. Veja-se Nota Marginal, sobre o uso de “até”,
Sl_110:1; Sl_112:8.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 17
Daniel 2

Vv 1-49. O Sonho de Nabucodonosor; Daniel o Interpreta, e Sua


Promoção.
1. segundo ano … de Nabucodonosor — Dn_1:5, faz ver que
“três anos” tinham transcorrido, desde quando Nabucodonosor tomou
Jerusalém. A solução desta dificuldade é, que Nabucodonosor tinha
governado como subordinado a seu pai Nabopolassar, tempo ao qual se
refere Daniel 1; enquanto que o “segundo ano” em Daniel 2 conta-se
desde sua soberania individual. A mesma dificuldade é uma prova da
genuinidade; tudo estava claro para o escritor e seus leitores originais por
seu conhecimento das circunstâncias, e por isso ele não acrescenta
nenhuma explicação. Um falsificador não introduziria dificuldades; o
autor naquele então não via dificuldade no caso. Nabucodonosor chama-
se “rei” (Dn_1:1) por antecipação. Antes que saísse da Judeia, chegou a
ser rei verdadeiro pela morte de seu pai, e os judeus sempre lhe
chamavam “rei” como comandante do exército invasor.
teve este um sonho — É significativo que não a Daniel, mas ao
então governante mundial, Nabucodonosor, fosse concedido o sonho. O
poder mundial devia conhecer, da parte do primeiro de seus
representantes que tinha conquistado a teocracia, a sorte que lhe esperava
ao ser subjugado para sempre pelo reino de Deus. Assim como esta visão
começa a primeira parte do livro, assim a de Daniel 7 a termina.
Nabucodonosor como vice-gerente de Deus (v. 37; veja-se Jr_25:9;
Ez_28:12-15; Is_44:28; Is_45:1; Rm_13:1), é honrado com a revelação
por meio de um sonho que era uma maneira muito apropriada para
alguém que estava fora do reino de Deus. Foi assim também no caso de
Abimeleque, Faraó, etc. (Gênesis 20 e 41), especialmente porque os
pagãos davam tanta importância aos sonhos. Entretanto, não é ele quem
o interpreta, mas sim um israelita. O paganismo é passivo, mas Israel
ativo, em coisas divinas, de modo que a glória pertence ao “Deus do
céu”.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 18
2. caldeus — aqui, certa ordem de magos sacerdotes, que usavam
uma vestimenta peculiar, como a vista dos deuses e homens deificados
nas esculturas assírias. Provavelmente pertenciam exclusivamente aos
caldeus, a tribo original da nação babilônica, assim como os magos eram
propriamente medos.
3. meu espírito se perturbou por saber o sonho — Despertou
alarmado, lembrando que algo solene lhe tinha sido apresentado num
sonho, sem poder lembrar a forma como se havia adornado. Seu
pensamento na grandeza inaudita a que havia alcançado seu poder (v.
29), fez com que estivesse ansioso por saber qual seria o resultado de
tudo aquilo. Deus responde a este desejo na forma mais acertada para
impressioná-lo.
4. Aqui começa a porção caldeia do livro de Daniel, a qual continua
até o fim de Daniel 7. Nela, trata-se do curso, caráter e a crise do poder
gentio; enquanto que nas outras partes, que estão em hebraico, trata-se de
coisas que devem ver especialmente com os judeus e Jerusalém.
aramaico — o caldeu aramaico, a língua nativa do rei e sua corte;
mencionando-a aqui, o profeta insinua o motivo pelo qual ele a
empregava deste ponto em diante.
vive eternamente — fórmula usada para dirigir-se aos reis, como
nossa frase “viva o rei!” Veja-se 1Rs_1:31.
5. o sonho — quer dizer, “O sonho se me foi”. Gesênius traduz: “O
decreto saiu que mim”, irrevogável (Veja-se Is_45:23), quer dizer, que
vós sereis executados, se não me contarem tanto o sonho como a
interpretação. Nossa versão Almeida Corrigida é mais simples, pois
supõe que o rei mesmo se esqueceu do sonho. Os que fingem ter
conhecimentos sobrenaturais, com frequência trazem sobre si seu próprio
castigo.
sereis despedaçados — (1Sm_15:33).
as vossas casas serão feitas monturo — antes, “montão
lamacento”. As casas de Babilônia eram feitas de tijolos crus; quando
eram destruídas, a chuva convertia tudo num montão de barro, na terra
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 19
úmida, perto do rio. [Stuart]. Quanto à conformidade desta cruel ameaça
com o próprio caráter de Nabucodonosor, veja-se Dn_4:17, “ao mais
humilde dos homens”; Jr_39:5-6; Jr_52:9-11.
6. dádivas — lit. “obséquios derramados em grande abundância”.
8. quereis ganhar tempo — lit. “comprais tempo”. Veja-se
Ef_5:16; Col_4:5, onde o sentido é algo diferente.
o que eu sonhei me tem escapado (RC) — (Veja-se Nota, v. 5).
9. uma só sentença — um só decreto; não pode haver um segundo
decreto, que revogue o primeiro (Et_4:11).
perversas — enganosas.
até que se mude a situação — até que venha um novo estado de
coisas, quer seja que eu deixe de me perturbar pelo sonho ou que venha
uma mudança no governo (o qual a agitação causada pelo sonho fazia
temer a Nabucodonosor, e que assim suspeitasse que os caldeus
conspiravam).
dizei-me o sonho, e saberei que me podeis dar-lhe a
interpretação — Se não puderem contar o passado, um sonho que
realmente foi apresentado, como podem saber, e mostrar, os
acontecimentos futuros incluídos no sonho?
10. Não há mortal ... que possa revelar o que o rei exige — Deus
faz com que os pagãos, por sua própria boca, condenem suas impotentes
pretensões ao conhecimento sobrenatural, para fazer ver em contraste
mais claro o Seu poder para revelar segredos a Seus servos, embora
sejam meros “homens sobre a terra” (veja-se vv. 22, 23).
pois, etc. — quer dizer, se tais coisas pudessem ser feitas pelos
homens, outros príncipes absolutos as teriam conseguido de seus magos;
como não o têm feito, é prova de que tais coisas não podem fazer-se, e
com razão não se pode exigir de nós.
11. os deuses, e estes não moram com os homens — que
corresponde a “homens sobre a terra”; porque havia, segundo sua crença,
“homens no céu”, quer dizer, homens deificados; por exemplo, Ninrode.
Aqui se refere aos deuses supremos, os quais, na crença caldeia, só
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 20
podem resolver a dificuldade, mas que não se comunicam com os
homens. Os deuses inferiores, intermediários entre os homens e os
deuses supremos, são incapazes de resolvê-la. Contraste-se com a ideia
pagã da absoluta separação entre Deus e o homem, Jo_1:14: “E o verbo
se fez carne, e habitou entre nós”; Daniel neste assunto foi feito seu
representante.
12, 13. Parece que Daniel e seus companheiros não tinham sido
contados entre os magos e caldeus, e por isso não foram chamados à
presença do rei. A providência o tinha ordenado de modo que toda
sabedoria meramente humana, fosse mostrada vã, antes que Seu divino
poder fosse manifestado por meio de Seu servo. O v. 24 demonstra que o
decreto de que se matasse os sábios, não se tinha executado, quando se
interpôs Daniel.
14. chefe da guarda do rei — que mandava os verdugos (veja-se
Margem, e Gn_37:36, Margem).
15. Por que razão é ... tão urgente da parte do rei? (TB) — Por
que não fomos consultados todos, antes que o decreto para a execução de
todos fosse publicado?
o decreto (RC) — a perturbação do rei quanto a seu sonho, e sua
consulta abortiva com os caldeus. É evidente por isso que Daniel até
agora ignorava todo o assunto.
16. Daniel entrou (RC) — talvez não em pessoa, mas pela
mediação de algum cortesão que tinha acesso a ele. A primeira entrevista
direta parece ter sido v. 25. [Barnes].
lhe desse tempo (RC) — O rei concedeu “tempo” a Daniel, embora
não o fez com os caldeus, porque eles deixaram ver seu propósito falso
pedindo que o rei lhes contasse o sonho, o que Daniel não fez. A
providência, sem dúvida, influiu em sua mente, já favorável (Dn_1:19,
20), para que mostrasse favor especial a Daniel.
17. Aqui aparece o motivo pelo qual Daniel pediu “tempo” (v. 16),
quer dizer, ele queria comprometer a seus amigos, para que se unissem
com ele em oração a Deus, pedindo que lhe revelasse o sonho.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 21
18. Um exemplo do poder da oração unida (Mt_18:19). A mesma
instrumentalidade resgatou a Pedro de seu perigo (At_12:5-12).
19. revelado … numa visão de noite — (Jó_33:15-16).
20. Daniel falou — respondeu à bondade de Deus com louvores.
nome de Deus — Deus em sua auto-revelação por obra de amor,
“sabedoria e poder” (Jr_32:19).
21. muda o tempo e as estações — “Nestas palavras dá o autor
uma intimação geral preparatória, de que o sonho de Nabucodonosor tem
que ver com os mudanças e sucessões de reinos” [Jerônimo]. Os
“tempos” são as fases e períodos de duração de impérios (Veja-se
Dn_7:25; 1Cr_12:32; 1Cr_29:30); as “estações”, os tempos convenientes
para seu apogeu, decadência e sua destruição (Ec_3:1; At_1:7; 1Ts_5:1).
As vicissitudes dos estados, com seus “tempos” e “estações”, não são
reguladas pelo acaso ou fatalidade, como criam os pagãos, mas por
Deus.
remove reis — (Jó_12:18; Sl_75:6-7; Jr_27:5; cf. 1Sm_2:7-8).
dá sabedoria — (1Rs_3:9-12; Tg_1:5).
22. Ele revela — (Jó_12:22). Assim espiritualmente, Ef_1:17-18.
conhece o que está em trevas — (Sl_139:11-12; Hb_4:13).
com ele mora a luz — (Tg_1:17; 1Jo_1:4). “Apocalipse” (ou
“revelação”) significa uma profecia divina, uma atividade humana. Veja-
se 1Co_14:6, onde se faz distinção entre as duas coisas. O profeta está
com relação ao mundo exterior, dirigindo à congregação as palavras com
as quais o Espírito de Deus o abastece; ele fala no Espírito, mas o
vidente apocalíptico está no Espírito sua pessoa inteira (Ap_1:10;
Ap_4:2). A forma da revelação apocalíptica (a mesma palavra quer dizer
que o véu que cobre o invisível foi tirado) é subjetivamente ou o sonho,
ou, no véu que esconde ao mundo invisível, é plano superior, a visão. A
interpretação do sonho de Nabucodonosor, foi uma educação
preparatória para o próprio Daniel. Por passos graduados, nos quais cada
revelação o preparava para a que devia seguir. Deus o capacitou, para
descobrimentos que se faziam cada vez mais especiais. Nos caps. 2 e 4,
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 22
ele não é mais que o intérprete dos sonhos de Nabucodonosor; então ele
mesmo teve um sonho, mas é só uma visão num sonho da noite (Dn_7:1,
2); logo segue uma visão estando acordado (Dn_8:1-3); enfim, em duas
revelações finais (caps. 9, 10, 11 e 12), o estado enlevado não faz mais
falta. A progressão na forma corresponde à progressão no conteúdo de
sua profecia: no princípio os contornos gerais, e mais tarde estes são
preenchidos com detalhes cronológicos e históricos minuciosos, tais
como não se acham no Apocalipse de João, embora, como convinha no
Novo Testamento, a forma das revelações é a mais elevada, quer dizer,
claras visões que caminham. [Auberlen].
23. eu te rendo graças e te louvo — atribui toda a glória a Deus.
Deus de meus pais — Tu te mostraste o mesmo Deus para mim,
banido cativo, assim como mostraste a Israel antigamente, e isto por
causa da aliança feita com os nossos “pais” (Lc_1:54, Lc_1:56; Veja-se
Sl_106:45).
me deste sabedoria e poder — sendo Tu a fonte de ambas, com
referência ao v. 20. Toda capacidade sábia que eu tenha, para impedir a
execução do cruel decreto do rei, é teu dom.
me fizeste saber o que te pedimos — a revelação foi dada a
Daniel, como “me” dá a entender; entretanto, com justa modéstia, ele
une consigo a seus amigos; porque foram a suas orações unidas e não as
dele individualmente, que ele devia a revelação da parte de Deus.
nos fizeste saber este caso do rei — as mesmas palavras com as
quais os caldeus tinham negado a possibilidade de que homem algum
sobre a terra contasse o sonho (“Não há mortal sobre a terra que possa
revelar o que o rei exige”, v. 10). Os impostores são obrigados pelo Deus
da verdade, a comer suas próprias palavras falsas.
24. Por isso — Melhor, “por causa disto”; porque tinha recebido a
comunicação divina.
introduze-me na presença do rei — dando a entender que antes,
em pessoa, não tinha estado diante do rei, neste assunto (Nota, v. 16).
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 23
25. Achei um dentre os filhos — como todos os cortesãos, ao
anunciar coisas agradáveis, atribui-se a si mesmo o mérito do
descobrimento. [Jerônimo]. Longe de ser uma discrepância o fato de não
ter dito nada do entendimento anterior entre ele e Daniel, ou que não
dissesse nada a respeito da petição de Daniel ao rei (vv. 15, 16), isto é
precisamente o que esperaríamos em semelhantes circunstâncias.
Arioque não se atreveria a dizer a um monarca absoluto que ele tinha
demorado a execução do decreto cruel, sob sua própria responsabilidade;
mas sim, em primeira instância, demorá-la-ia secretamente até que, por
petição do rei, tivesse conseguido o tempo necessário, sem que parecesse
que Arioque soubesse a petição de Daniel, como causa da demora; logo,
quando Daniel recebeu a revelação, Arioque, em nervosa pressa, trá-lo-ia
para o rei, como se fosse pela primeira vez que o tivesse “achado”. A
própria dificuldade, uma vez esclarecida, é uma prova da veracidade do
relato; este detalhe nunca seria introduzido por um falsificador.
27. nem … o podem — sendo entendido em todo o saber dos
caldeus (Dn_1:4), Daniel poderia declarar com autoridade, a
impossibilidade de que um simples homem resolvesse a dificuldade do
rei.
astrólogos — de uma raiz, “cortar”, referindo-se à sua ação de
cortar os céus em divisões, e de acertar os destinos dos homens segundo
o lugar das estrelas no momento de nascer.
28. um Deus — em contraste com os “sábios”, etc. (v. 27).
o qual revela os mistérios — (Am_3:7; Am_4:13). Veja-se
Gn_41:45, “Zafenate-Panéia”, o revelador de segredos, o título dado a
José.
há de ser depois disto — lit., “nos dias depois” (v. 29); “os últimos
dias” (Gn_49:1). Refere-se a todo o futuro, inclusive os dias
messiânicos, que é a dispensação final (Is_2:2).
visões de sua cabeça — conceitos formados no cérebro.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 24
29. Mediante uma revelação Deus Se encontrou com
Nabucodonosor, quem tinha estado meditando no destino futuro de seu
grande império.
30. não porque haja em mim mais sabedoria — não por causa de
alguma sabedoria anterior que eu tivesse manifestado (Dn_1:17, 20). Os
servos de Deus especialmente favorecidos em todas as idades,
desconhecem todo mérito em suas pessoas, e atribuem tudo à graça e ao
poder de Deus (Gn_41:16; At_3:12).
para que entendesses as cogitações da tua mente — seu tema de
pensamento antes de dormir. Ou, talvez a aprovação do caráter de
Nabucodonosor por meio desta revelação, poderá ser o sentido (veja-se
2Cr_32:31; Lc_2:35).
31. O poder mundial em sua totalidade, aparece como uma forma
humana colossal: Babilônia, a cabeça de ouro, Medo-Pérsia, o peito e
dois braços de prata, Greco-Macedônia, o ventre e as coxas, e Roma,
com seus renovos germano-eslavos, as pernas de ferro e pés de ferro e
barro: ainda existente esta quarta parte. Só se mencionam aqueles reinos
que estão em alguma relação com o reino de Deus; destes não se omite
nenhum; o estabelecimento final daquele reino é o propósito do governo
moral do mundo por Deus. O colosso de metal se detém em pés fracos,
de barro. Toda a glória do homem é efêmera e sem valor como a palha
(Veja-se 1Pe_1:34). Mas o reino de Deus, pequeno e desprezado como
uma “pedra” no solo, é sólido em sua unidade homogênea; enquanto que
o poder mundial, em seus elementos constituintes heterogêneos, que
sucessivamente substituem uns aos outros, contém os elementos da
decadência. A relação da pedra com a montanha, é a do reino da cruz
(Mt_16:23; Lc_24:26), com o reino da glória, começando aquele e
terminando este quando o reino de Deus despedaçar os reinos do mundo
(Ap_11:15). O contraste que fez Cristo entre os dois reinos, refere-se a
esta passagem.
uma grande imagem — lit., “uma imagem que foi grande.”
Embora os reinos fossem diferentes, era essencialmente um e o mesmo
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 25
poder mundial sob fases diferentes, assim como a imagem era uma,
embora suas partes fossem de metais diferentes.
32. Nas moedas antigas, os estados frequentemente se representam
sob formas humanas. A cabeça e partes altas, querem dizer os tempos
primitivos; as partes inferiores, os tempos posteriores. Os metais devem
ser cada vez mais ordinários, dando a entender a degeneração
progressiva de mal a pior. Hesíodo, 200 anos antes de Daniel, tinha
comparado as quatro idades com os quatro metais na mesma ordem; a
ideia é sancionada aqui pela Escritura Sagrada. Isto era talvez um
daqueles fragmentos da revelação entre os pagãos, derivados da tradição
a respeito da queda do homem. Os metais baixam em sua gravidade
específica, na medida que descem; a prata não é tão pesada como o ouro,
o bronze não é tão pesado como a prata, e o ferro, não tão pesado como o
bronze, estando dispostos nesta ordem, ao reverso de sua estabilidade.
[Tregelles]. Nabucodonosor recebeu sua autoridade de Deus, não do
homem, nem como responsável ao homem. Mas o rei persa era tão
dependente de outros que não pôde livrar a Daniel dos príncipes
(Dn_6:14, 15); contraste-se com o Dn_5:18, 19, a respeito do poder de
Nabucodonosor derivado de Deus, “a quem queria matava, e a quem
queria conservava em vida” (cf. Ed_7:14; Et_1:13-16). A Macedônia
grega deixa ver seu desmembramento em suas divisões, não unida como
a Babilônia e a Pérsia. O ferro é mais forte que o bronze, mas em outros
aspectos é inferior; assim Roma, sã e forte para pisar as nações, mas
menos régia, mostrava sua principal deterioração em seu último estado.
Cada reino se incorpora e se assimila a seus antecessores (veja-se
Dn_5:28). O poder que estava na mão de Nabucodonosor, foi dado por
Deus (vv. 37, 38), a autocracia, nos reis persas, era o poder de governar
que descansava sobre a nobreza de pessoa e nascimento, sendo os nobres
iguais em posição ao rei, mas não no poder oficial; na Grécia havia uma
aristocracia, não de nascimento, mas sim de influência individual; em
Roma, a autoridade era mais baixa de todas, e dependia inteiramente da
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 26
eleição popular, sendo eleito o imperador, por uma eleição popular
militar.
33. Assim como os dois braços de prata, significam os reis dos
medos e persas [Josefo]; e as duas coxas de bronze, os selêucidas da
Síria e lágidas do Egito, as duas seções principais, nas quais se dividiu a
Macedônia grega, assim as duas pernas significam os dois cônsules
romanos. [Newton]. O “barro” no v. 41, “barro de oleiro”, v. 43, “barro
de lodo” querem dizer “utensílios de barro cozido”, duros mas frágeis
(veja-se Sl_2:9; Ap_2:27, onde se usa a mesma figura do mesmo
acontecimento); os pés são estáveis, enquanto suportam só uma pressão
direta, mas facilmente quebrados em pedaços, por um golpe (v. 34),
como o ferro misturado não detém tal resultado, mas sim o apressa.
34. uma pedra — O Messias e Seu reino (Gn_49:24; Sl_118:22;
Is_28:16). Em Sua relação com Israel, é uma “pedra de tropeço”
(Is_8:14; At_4:11; 1Pe_2:7-8), sobre a qual ambas as casas de Israel se
rompem, mas não se destroem (Mt_21:32). Em Sua relação com a igreja,
a mesma pedra que destrói a imagem, é alicerce da igreja (Ef_2:20). Em
Sua relação com o poder mundial, a pedra é sua destruidora (vv. 35, 44;
veja-se Zc_12:3). Cristo diz (Mt_21:44, referindo-se a Is_8:14-15),
“Aquele que cair sobre esta pedra (quer dizer, tropeçar e ser ofendido
nEle, como o eram os judeus, daqueles que diz: O reino de Deus será
tirado), será quebrantado”; mas (referindo-se aos vv. 34, 35) “sobre
quem ela cair” (referindo-se ao poder mundial, que tinha sido o
instrumento para quebrantar aos judeus), não só o quebrantará, mas
também “o reduzirá ao pó” (1Co_15:24). A queda da pedra sobre os pés
da imagem, não pode referir-se a Cristo em Seu primeiro advento,
porque o quarto reino ainda não estava dividido — os dedos dos pés não
estavam em existência (Veja-se Nota, v. 44).
foi cortada — quer dizer, “da montanha” (v. 45); quer dizer, Monte
Sião (Is_2:2), e antitipicamente, o monte celestial da glória do Pai, de
quem veio Cristo.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 27
sem auxílio de mãos — explicado no v. 44, “levantará o Deus do
céu um reino”, em contraste com a imagem que foi feita com mãos de
homem. O Messias não foi criado por intervenção humana, mas sim
concebido pelo Espírito Santo (Mt_1:20; Lc_1:35; veja-se Zc_4:6;
Mc_14:58; Hb_9:11, Hb_9:24). De modo que “não feita por mãos”, quer
dizer, celestial, 2Co_5:1, espiritual, Col_2:11. Os reinos mundiais foram
levantados por ambição humana; mas este é o “reino dos céus”; “não é
deste mundo” (Jo_18:36). Assim como o quarto reino, ou Roma, foi
representado num estado duplo, primeiro forte, com pernas de ferro, logo
fraco, com dedos em parte de ferro, em parte de barro; assim também o
quinto reino, o de Cristo, vê-se, por sua vez, primeiro insignificante
como uma “pedra”, logo como uma “montanha”, que enchia toda a terra.
Os dez dedos são os dez reinos menores, nos quais o reino romano foi
dividido finalmente. Esta divisão décupla, aqui insinuada, não se
especifica em detalhe, senão no capítulo sete. O quarto império,
originalmente, foi limitado na Europa, mais ou menos pelos rios Rhin e
Danúbio; na Ásia, pelo Eufrates. Na África possuía o Egito e as costas
setentrionais; Bretanha do Sul e Dacia, foram acrescentadas depois, mas
mais tarde deixadas. Os dez reinos não se levantarão enquanto não se
produza uma deterioração (pela mescla de barro com o ferro); eles
existem, quando Cristo chega em glória, e então são quebrantados em
pedaços. buscou-se aos dez, nas hordas invasoras dos quinto séculos e
sexto. Mas, embora muitas províncias foram naquele então separadas de
Roma como reinos independentes, a dignidade de imperador ainda
continuava, e o poder imperial se exercia por Roma mesma, durante dois
séculos. De modo que as divisões décuplas não podem buscar-se antes
de 731 d.C. Mas o Oriente não deve ser excluído, como há cinco dedos
em cada pé. De modo que não se pode fixar um ponto de tempo para a
divisão, antes da derrota do império com a tomada de Constantinopla
pelos turcos (ano 1453). Parece então, que os dez definitivos serão o
desenvolvimento final do império romano, imediatamente antes do
levantamento do Anticristo, quem destruirá três dos reinos, e depois de
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 28
três anos e meio, ele mesmo será destruído, por Cristo em pessoa.
Alguns dos dez reinos serão, sem dúvida, os mesmos, como algumas
divisões passadas e presentes do velho império romano, o que explica a
continuidade entre os dedos e as pernas, não sendo interposta uma
brecha de séculos, como é objetado pelos contrários da teoria futurista.
As listas confeccionadas por estes diferem umas de outras; e são
rejeitadas, pelo fato de que incluem países que nunca foram romanos, e
excluem toda uma seção do império, quer dizer, a seção oriental
[Tregelles].
nos pés — o último estado do império romano. Não “sobre suas
pernas”. Veja-se “nos dias destes reis” (Nota, v. 44).
35. foi juntamente esmiuçado — tudo junto, excluindo uma
existência contemporânea dos reinos do mundo e o reino de Deus (em
sua fase manifesta, como distinguida de sua fase espiritual). O reino de
Deus não deve ir consumindo aquele reino gradualmente, mas sim
destruí-lo de uma vez e completamente (2Ts_1:7-10; 2Ts_2:8).
Entretanto, o hebraico pode traduzir-se, “numa massa discriminada”.
palha — figura dos ímpios, como serão tratados no juízo (Sl_1:4-5;
Mt_3:12).
eiras no estio — O grão era ventilado no Oriente num espaço
elevado, ao ar livre, lançando o grão ao ar com uma pá, de modo que o
vento pudesse levar a palha.
deles não se viram mais vestígios — (Ap_20:11; veja-se Sl_37:10,
Sl_37:36; Sl_103:16).
a pedra … se tornou em grande montanha — cortada da
montanha (v. 45) originalmente, termina por ser uma montanha. Assim o
reino de Deus, vindo originalmente do céu, termina no céu, sendo
estabelecido na terra (Ap_21:1-3).
encheu toda a terra — (Is_11:9; Hb_2:14). É em conexão com
Jerusalém, como a igreja mãe, que deve fazê-lo (Sl_80:9; Is_2:2-3).
36. diremos — nós, Daniel e seus três companheiros.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 29
37. Tu ... és rei de reis (RC) — A concessão de poder, em sua
plenitude mais ampla, pertence a Nabucodonosor pessoalmente, como
fez de Babilônia tão grande império. Vinte e três anos depois dele,
terminou o império: com ele se identifica a grandeza daquele império
(Dn_4:30), seus sucessores não fizeram nada de notável. Não que ele
realmente governasse todas as partes da terra, mas sim Deus lhe
concedeu domínio ilimitável em toda direção que levava sua ambição:
Egito, Nínive, Arábia, Síria, Tiro e seus colônias fenícias (Jr_27:5-8).
Veja-se quanto a Ciro, Ed_1:2.
38. homens, animais … aves — o domínio originalmente proposto
para o homem (Gn_1:28; Gn_2:19-20), perdido pelo pecado; por um
tempo concedido a Nabucodonosor e as potências mundiais; mas como
eles abusaram do cargo para fins egoístas, e não para Deus, ser-lhes-á
tirado pelo Filho do homem, quem o exercerá para Deus, restaurando em
Sua pessoa o homem à herança perdida (Sl_8:4-6, etc.)
tu és a cabeça de ouro — referindo-se às riquezas de Babilônia,
por isso chamada “a cidade áurea” (Is_14:4; Jr_51:7; Ap_18:16).
39. Que o reino de Média e Pérsia seja o segundo, aparece por
Dn_5:28; 8:20. Veja-se 2Cr_36:20; Is_21:2.
inferior — “Os reis da Pérsia eram a pior raça de homens, que
jamais governaram um império”. [Prideaux]. Politicamente, o que é o
principal ponto de vista aqui, o poder do governo central, no qual
participavam os nobres com o rei, debilitado pela crescente
independência das províncias, era inferior ao de Nabucodonosor, cuja
palavra era a lei para todo o império.
bronze — Os gregos (o terceiro império, Dn_8:21; 10:20; 11:2-4),
eram célebres pela armadura bronzeada de seus guerreiros. Jerônimo
caprichosamente pensa que o bronze, sendo metal que ressoa
claramente, refere-se à eloquência pela qual os gregos eram famosos. O
“ventre”, no v. 32, poderá referir-se à embriaguez de Alexandre, e a
luxúria dos Ptolomeus. [Tirino].
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 30
sobre toda a terra — Alexandre ordenava que se lhe chamasse “rei
de toda a terra” (Justin, 12. sec. 16.9; Arrian, Campaigns of Alexander,
7. sec. 15). Os quatro sucessores, que dividiram entre si os domínios de
Alexandre em sua morte, dos quais os selêucidas na Síria e os lágidas no
Egito, eram os principais, dominavam o mesmo império.
40. ferro — esta visão manifesta o caráter do poder romano, antes
que sua extensão territorial. [Tregelles.]
a tudo quebra — Assim, em retribuição justa, este reino mesmo
será quebrantado em pedaços (v. 44) pelo reino de Deus (Ap_13:10).
41-43. pés … dedos … parte … barro — explicado em seguida,
“por uma parte, o reino será forte e, por outra, será frágil” (“frágil”,
como vasos de barro); e o v. 43, “misturar-se-ão com semente humana”
[RC], quer dizer há poder (em sua forma deteriorada, ferro) misturado
com o que é inteiramente humano, e portanto frágil; poder nas mãos de
gente que não tenha estabilidade interna, embora algo ficou da fortaleza
do ferro. [Tregelles]. Newton, quem entende que o império romano está
dividido em dez reinos já, (enquanto que Tregelles faz com que sejam
futuros), explica que a mistura de “barro” é a união das nações bárbaras
com Roma mediante casamentos e alianças, em que não havia uma
amalgamação estável, embora os dez reinos, retinham muito do poder de
Roma. A mistura “com semente humana” (v. 43, RC), parece referir-se a
Gn_6:2, onde os casamentos da descendência do fiel Sete, com as filhas
do infiel Caim, descrevem-se com palavras similares; a referência, pois,
parece ser a união do império romano cristianizado com as nações pagãs,
sendo o resultado uma deterioração. Fizeram-se esforços frequentes, para
reunir as partes em um grande império, como sob Carlos Magno e
Napoleão, mas em vão. Só Cristo efetuará isto.
44. nos dias destes reis — nos dias destes reinos, dos últimos dos
quatro. Assim o cristianismo foi estabelecido, quando Roma tinha
chegado a ser proprietária da Judeia e do mundo (Lc_2:1, etc.).
[Newton]. Antes, “nos dias destes reis”, corresponde a “nos pés” (v. 34),
os dez dedos, ou dez reis, o estado final do império romano. Porque
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 31
“estes reis” não podem indicar as quatro monarquias que sucediam ao
poder, como não coexistem com os possuidores do poder; se tivesse
indicado o quarto, ter-se-ia usado o singular, e não o plural. A queda da
pedra sobre a imagem deve querer dizer, juízo destrutivo sobre o quarto
poder gentio, não a evangelização gradual dele pela graça; e o juízo
destrutivo não pode ser empregado pelos cristãos, porque eles são
ensinados a submeter-se aos poderes que existem, de modo que deve ser
empregado pelo próprio Cristo em Sua vinda final. Estamos vivendo
hoje sob as divisões do império romano, que começaram faz 1.400 anos,
e que serão, no tempo da vinda de Cristo, exatamente dez. E tudo o que
tinha fracassado na mão do homem, deixaria de ser, e o que está
guardado na mão dele, será introduzido. De modo que este segundo
capítulo é o abecedário dos anúncios proféticos seguintes no livro de
Daniel. [Tregelles.]
o Deus do céu suscitará um reino — daí a frase “o reino dos céus”
(Mt_3:2).
não passará a outro povo — como os caldeus tinham sido
obrigados a deixar seu reino aos medos e persas, e estes, aos gregos, e
estes, aos romanos (Mq_4:7; Lc_1:32-33).
esmiuçará … todos — (Is_60:12; 1Co_15:24).
45. sem auxílio de mãos — (Nota, v. 35). A conexão de “da
maneira que”, etc. é “que viu que do monte foi cortada uma pedra”, etc.,
e isto é sinal de que “o grande Deus”, etc., quer dizer, o fato de que vê o
sonho, tal como o tenho trazido à tua memória, é prova de que não é
algum fantasma corriqueiro, mas sim uma representação real para ti
sobre o futuro da parte de Deus. Uma prova similar do acontecimento foi
dada a Faraó, na duplicação de seu sonho (Gn_41:32).
46. Nabucodonosor se inclinou, e se prostrou rosto em terra
perante Daniel — adorando a Deus na pessoa de Daniel. Símbolo da
futura prostração do poder mundial perante o Messias e Seu reino
(Fp_2:10). Como outros servos de Deus rejeitaram tais honras
(At_10:25-26; At_14:13-15; Ap_22:8-9), e como Daniel (Dn_1:8) não
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 32
quis provar da comida contaminada, nem deixar de orar a Deus às custas
de sua vida (Daniel 6), parece provável que Daniel tenha rejeitado as
honras divinas apresentadas pelo rei. O que o rei segue dizendo no v. 47,
dá a entender, que Daniel se havia oposto a estas honras; e em
assentimento a suas objeções, o rei disse: “Certamente, o vosso Deus é o
Deus dos deuses”. Daniel já tinha rejeitado toda ideia de mérito pessoal
no v. 30, dando a Deus toda a glória (veja-se v. 45).
ordenou que lhe fizessem oferta de manjares e suaves perfumes
— Honras divinas (Ed_6:10). Não se diz que seu mandado fosse
executado.
47. Senhor dos reis — O poder mundial finalmente deverá
reconhecer isto. (Ap_17:14; Ap_19:16); assim como Nabucodonosor,
quem tinha sido posto por Deus como “rei dos reis” (v. 37), mas que
tinha abusado de seu cargo, é constrangido pelo servo de Deus, a
reconhecer que Deus é o verdadeiro “Senhor dos reis”.
48. Um motivo pelo qual a Nabucodonosor foi concedido tal sonho,
vê-se aqui, quer dizer, para que Daniel fosse promovido, e o povo cativo
de Deus fosse consolado: o estado de independência dos cativos durante
o exílio e o alívio de suas penúrias, em grande parte se deviam a Daniel.
49. pediu Daniel (RC) — Note o contraste entre este lembro
honorável de seus humildes companheiros em sua elevação, e o espírito
dos filhos do mundo, no caso do copeiro de Faraó (Gn_40:23; Ec_9:15,
16; Am_6:6).
Daniel, porém, permaneceu na corte — o lugar de sessão das
cortes de justiça e de recepções reais no Oriente (Et_2:19; Jó_29:7).
Assim, “a sublime porta” quer dizer o governo dos sultões de Turquia,
pois seus conselhos celebravam-se à entrada de seu palácio. Daniel foi
conselheiro principal do rei, e presidente sobre os governadores de
diferentes ordens, nas quais eram divididos os magos.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 33
Daniel 3

Vv. 1-30. A Imagem Idolátrica de Nabucodonosor; Sadraque,


Mesaque e Abede-Nego São Livrados do Forno de Fogo.
Entre a visão de Nabucodonosor em Daniel 2, e a de Daniel 7,
introduzem-se quatro relatos da história pessoal de Daniel e seus amigos.
Assim como os caps. 2 e 7 são paralelos, assim os caps. 3 e 6 (o
livramento da cova dos leões), e os caps. 4 e 5. Destes dois últimos
pares, o primeiro manifesta o perto que Deus está para salvar a seus
santos, quando lhe são fiéis, até no mesmo momento em que eles
parecem esmagados pelo poder mundial. O segundo par manifesta, no
caso de dois reis da primeira monarquia, como Deus de repente pode
humilhar o poder mundial, no auge de sua insolência. Este avança da
mera glorificação de si mesmo, no capítulo quatro, para a aberta
oposição a Deus, no quinto. Nabucodonosor exige que se renda
homenagem à sua imagem (Dn_3:1-6), e se gaba seu poder (Daniel 4).
Mas Belsazar vai mais longe, blasfemando contra Deus, ao contaminar
os copos sagrados dEle (Dn_5:2).
Há um progresso similar na conduta do povo de Deus. Sadraque,
Mesaque e Abede-Nego negam uma homenagem positiva à imagem do
poder mundial (Dn_3:12); Daniel não lhe concede nem uma homenagem
negativa, em deixar por um tempo o culto a Deus (Dn_6:10). O poder de
Jeová manifestado a favor dos santos contra o mundo, em histórias
individuais (Daniel 3 a 6), exibe-se nos caps. 2 e 7, em quadros
proféticos de amplitude mundial; o primeiro acentuando o efeito do
último. Os milagres operados a favor de Daniel e seus amigos, foram
uma manifestação da glória de Deus na pessoa de Daniel, como
representante da teocracia perante o rei babilônico, quem se cria
onipotente, num tempo em que Deus não podia manifestá-la em Seu
povo como entidade. Tendiam também estes milagres a assegurar, por
seu caráter impressionante, aquele respeito para o povo da aliança da
parte dos poderes pagãos, respeito que vem à luz no decreto de Ciro, não
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 34
só na restauração dos judeus, mas em render honra ao Deus do céu, e em
mandar edificar o templo (Ed_1:1-4). [Auberlen],
1. uma imagem — A confissão que Nabucodonosor fez de Deus,
não impediu que fosse também adorador de ídolos. Os antigos idólatras
criam que cada nação tinha os seus deuses próprios, e que, além destes,
se poderia adorar a deuses estrangeiros. A religião judaica foi a única
coisa que exigia toda homenagem para Jeová, como o único Deus
verdadeiro. Os homens em tempos de inquietação confessarão a Deus, se
lhes for permitido reter seus ídolos favoritos. A imagem foi a de Bel, o
deus tutelar babilônico; ou antes, o próprio Nabucodonosor, a
personificação e representação do império babilônico, tal como foi
sugerido pelo sonho (Dn_2:38). “Tu és a cabeça de ouro”. O intervalo
entre o sonho e o acontecimento aqui, era de uns dezenove anos. Ele
acabava de retornar e de terminar as guerras judia e síria, os despojos das
quais proveriam os meios para levantar uma imagem tão colossal.
[Prideaux]. A “altura”, 60 côvados, está tão fora de proporção com a
“largura”. sobrepujando-a dez vezes, que parece melhor supor que quer
indicar a espessura do peito à costas, que é exatamente a proporção
correta para um homem bem formado. [Agostinho, De Civitate Dei,
15:20]. Prideaux crê que os 60 côvados se referem à imagem e pedestal
juntos, sendo a imagem de 27 côvados (doze metros), e o pedestal de 33
côvados (quatorze metros). Heródoto (1:183) confirma isto,
mencionando uma imagem similar, de doze metros de altura, no templo
do Belus, em Babilônia. Não é a mesma imagem, porque a mencionada
aqui estava “no campo de Dura”, não dentro da cidade.
2. os sátrapas — sátrapas de províncias. [Gesênius.]
governadores — governantes, não exclusivamente militares.
presidentes — homens entendidos na lei, como o mufti árabe
[Gesênius].
3. estavam em pé diante da imagem — em atitude de devoção.
Tudo o que o rei aprovava, eles todos aprovavam. Não há estabilidade de
princípios nos ímpios.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 35
4. Os argumentos do perseguidor são breves.
5. trombeta — instrumento de sopro, como a corneta francesa, é
indicado.
pífaro — tubos, não tocados soprando o vento transversalmente,
como nossa flauta, mas por uma pipa de cana no cabo.
cítara — instrumento triangular de cordas curtas, que produzia
notas agudas.
saltério — espécie de harpa.
vos prostrareis — para que os recusantes fossem mais facilmente
reconhecidos.
6. Nenhum povo exceto os judeus, sentiria este decreto opressivo;
porque não lhes proibia adorar além a seus deuses próprios. Foi
evidentemente dirigido contra os judeus por aqueles ciumentos de seu
alto posto na corte do rei, os quais, pois, induziram-no a sancionar um
decreto, quanto a todos os recusantes, representando tal negação de
homenagem, como ato de traição a Nabucodonosor como “cabeça” civil
e religiosa do império. Assim também o decreto no tempo de Dario
(Dn_6:7-9), foi dirigido contra os judeus pelos ciumentos da influência
de Daniel. A imagem literal de Nabucodonosor, é uma profecia típica da
“imagem da besta”, associada com a Babilônia mística, em Ap_13:14. A
segunda besta mística ali faz com que a terra e os que nela habitam,
adorem à primeira besta, e que todos os que não quisessem, fossem
mortos (Ap_13:12, Ap_13:15).
fornalha — um modo comum de castigar em Babilônia (Jr_29:22).
Não é necessário supor-se, que a fornalha fosse feita para a ocasião.
Veja-se “fornos de tijolos”, 2Sm_12:31. Qualquer forno para usos
comuns na vizinhança de Dura, serviria. Chardin, em suas viagens (ano
1671-1677), menciona que na Pérsia, para atemorizar aos que tiravam
vantagem da escassez para vender provisões a preços exorbitantes, os
cozinheiros eram assados sobre um fogo lento, e os padeiros lançados
em fornos ardentes.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 36
7. Não parece que nenhum dos judeus estivesse presente, exceto os
oficiais, citados especialmente.
8. acusaram os judeus — lit., “comeram os pedaços dos judeus”
(Veja-se Jó_31:31; Sl_14:4; Sl_27:2; Jr_10:25), frase corrente para
“caluniar”. Provavelmente não a todos os judeus em geral, mas sim,
como diz o v. 12, a Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Por que Daniel
não foi chamado não aparece. Talvez estava em alguma parte distante do
império, por assuntos de estado, e a chamada geral não tinha tempo para
chegar até ele antes da dedicação da imagem. Também, os inimigos dos
judeus acharam mais prudente começar atacando a Sadraque, Mesaque e
Abede-Nego, os quais estavam mais perto e tinham menos influência,
antes de buscarem atacar a Daniel.
9. vive eternamente — Um prefácio de adulação, é muito análogo
à crueldade que segue. Assim, At_24:2-3, etc., onde Tértulo acusa a
Paulo perante Félix.
12. a teus deuses não servem — não só à imagem de ouro, mas
também a nenhum dos deuses de Nabucodonosor.
13. mandou chamar — em vez de ordenar a imediata execução
deles, como no caso dos magos (Dn_2:12), a providência lhe inclinou a
que mandasse que os recusantes fossem trazidos perante ele, de modo
que seu nobre testemunho a favor de Deus, fosse dado diante dos
poderes mundiais “por testemunho a eles” (Mt_10:18), para a edificação
dos crentes em todas as idades.
14. É verdade ...? — antes, como Margem [Teodósio], “É a
propósito que?”, etc. Veja-se o hebraico, Nm_35:20, Nm_35:22. Apesar
de sua “irritação”, seu anterior favor para com eles, dispõe-se a lhes dar a
oportunidade de desculpar-se por motivo de que sua desobediência não
tinha sido intencional; de modo que lhes dá outra prova, para ver se
ainda adorariam à imagem.
15. E quem é o deus que, etc. — assim foi a zombaria de
Senaqueribe (2Rs_18:35) e de Faraó (Êx_5:2).
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 37
16. não necessitamos de te responder — antes, “não temos
necessidade de te responder”; estás de tua parte decidido, e nosso
coração está resolvido a não adorar a imagem: não há, pois, ocasião de
discutir, como se pudéssemos ser movidos em nossos princípios. A
vacilação, ou discussão com o pecado é fatal; a decisão firme é a única
segurança, quando o caminho do dever está claro (Mt_10:19, Mt_10:28).
17. Eis que (RC) — Vatablo traduz: “Certamente”. É frase
condicional: “Se assim for”; se for nossa sorte ser lançados na fornalha,
nosso Deus (citado em Dt_6:4) é capaz de nos livrar (resposta ao desafio
de Nabucodonosor: “E quem é o deus que vos poderá livrar das minhas
mãos?”) e Ele nos livrará, etc. (ou da morte ou na morte, 2Tm_4:17-18).
Confiamos em que nos livrará literalmente, mas com segurança nos
livrará de maneira espiritual.
18. Se não, etc. — unido com o v. 17. “Se nosso Deus nos livrar,
como pode fazê-lo, ou não, não adoraremos a seu deus”. Seu serviço a
Deus não é mercenário em seu motivo. Embora Ele os mate, ainda
confiarão nEle (Jó_13:15). Seu livramento de condescendência
pecaminosa, foi um grande milagre no reino da graça, como o da
fornalha foi no reino da natureza. Sua juventude, e sua situação como
cativos e desterrados sem amigos, perante um potentado absoluto e a
morte horrível que os esperava, se perseverassem, tudo enaltece a graça
de Deus, a qual os levou através de semelhante prova.
19. transtornado o aspecto do seu rosto — Ele lhes tinha
mostrado indulgência (vv. 14, 15), como um favor para com eles, mas
agora, que eles desprezam até sua indulgência, “se encheu de fúria”, e se
manifesta em todo o seu semblante.
sete vezes mais do que se costumava — lit., “pelo que jamais se
esquentou”. Sete é o número perfeito, quer dizer, que se esquentasse todo
o possível. A paixão leva a excessos e frustra seus próprios fins, porque,
quanto mais quente fosse o fogo, tanto mais rápido seriam aliviados da
pena da morte.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 38
21. mantos … túnicas … chapéus — Heródoto (1:195) diz que a
vestimenta babilônica constava de três partes: (1) calças longas e largas;
(2) uma camisa de lã; (3) uma manta exterior com um cinturão. Estes são
todos especificados (Gesênius), “suas calças, túnicas interiores (calças,
ou meias, não se usam comumente no Oriente) e suas mantas exteriores”.
O fato de serem lançados dentro tão apressadamente, com todos os seus
objetos postos, enaltece o milagre em que nem mesmo o aroma do fogo
passou para sua roupa, embora feita de materiais tão delicados e
inflamáveis.
22. as chamas do fogo mataram os homens que lançaram —
(Dn_6:24; Sl_7:16).
23. caíram — não derrubados; porque os que trouxeram os três
jovens, pereceram eles mesmos pelas chamas e não puderam lançá-los
na fornalha. Aqui segue um agregado na LXX e na Siríaca, Árabe e
Vulgata “A oração de Azarias” e “O cântico dos três santos jovens”. Não
está no original caldeu de Daniel. O hino era cantado em todas as igrejas
em suas liturgias, desde tempos primitivos (Rufinus em Commentary on
the Apostles Creed, e Atanásio). O “assombro” de Nabucodonosor no v.
24, é feito um argumento a favor da autenticidade do hino, como se
explicasse a causa de seu assombro, quer dizer, “que eles caminhavam
no meio do fogo louvando a Deus, etc., mas o anjo do Senhor baixou ao
forno” (v. 1 e v. 27 do agregado apócrifo). Mas o v. 25 de nossa versão
explica seu assombro, sem necessidade de nenhum agregado.
24. É verdade, ó rei — Deus arrancou esta confissão da própria
boca de seus inimigos.
25. vejo quatro — embora só três foram lançados.
soltos — embora antes estivessem “atados”. A pergunta de
Nabucodonosor, no v. 24, é como se ele quase não confiasse em sua
própria memória a respeito de um fato tão recente, agora que vê por uma
abertura na fornalha o que parece contradizer sua memória.
que andam passeando dentro do fogo — vista dos santos ilesos e
soltos (Jo_8:36), “no meio da angústia” (Sl_138:7; veja-se Sl_23:3-4).
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 39
Caminhavam daqui para lá no fogo, sem sair dele, esperando no
momento em que Deus os tirasse, assim como Jesus esperou na tumba
como prisioneiro de Deus, até que Deus o libertasse (At_2:26-27). Assim
também Paulo (2Co_12:8-9). Assim esperou Noé na arca (Gn_8:12-18).
semelhante a um filho dos deuses — inconscientemente, como
Saul, Caifás (Jo_11:49-52) e Pilatos, ele é obrigado a pronunciar uma
verdade divina. “Filho de Deus” na boca dele só quer dizer um “anjo” do
céu, como o prova o v. 28. Veja-se Jó_1:6; Jó_38:7; Sl_34:7-8; e a
exclamação do centurião, que era provavelmente pagão (Mt_27:54). Os
caldeus criam famílias de deuses: Bel, o deus supremo, acompanhado
pela deusa Militta, sendo o pai dos deuses; de modo que pela expressão,
ele queria dizer um nascido de e enviado pelos deuses. Realmente foi o
“mensageiro da aliança”, quem aqui deu um prelúdio à Sua encarnação.
26. do Deus Altíssimo — ele reconheceu que Jeová era supremo
sobre outros deuses (não que deixasse de crer nestes); de modo que, ele
volta à sua confissão original, “o vosso Deus é o Deus dos deuses”
(Dn_2:47), da qual enquanto isso se desviou, talvez embriagado por seu
êxito em tomar Jerusalém, cujo Deus creu incapaz de defendê-la.
27. nem foram chamuscados os cabelos — (Lc_12:7; Lc_21:18),
passara sobre eles — cumprindo Is_43:2. Veja-se Hb_11:34, só
Deus é “fogo consumidor” cf. Hb_12:29).
nem cheiro de fogo — veja-se espiritualmente, 1Ts_5:22.
28. Ao dar alguns rasgos melhores do caráter de Nabucodonosor,
Daniel está de acordo com Jr_39:11; Jr_42:12.
não quiseram cumprir a palavra do rei — têm feito vã a tentativa
do rei de obrigá-los à obediência, puseram a um lado sua palavra (assim
“alterar … a palavra”, Ed_6:11) por obediência a Deus. Nabucodonosor
agora admite que a lei de Deus deveria ser obedecida, antes que a dele
(At_5:29).
preferindo entregar o seu corpo — quer dizer, ao fogo.
a servirem — por meio de sacrifícios.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 40
e adorarem — pela prostração do corpo. A decisão a favor de
Deus, no fim ganha o respeito até dos mundanos (Pv_16:7).
29. Este decreto promulgado por todo o vasto império de
Nabucodonosor, teria feito muito a defender os judeus da idolatria no
cativeiro e depois dele. (Sl_76:10).
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 41
Daniel 4

Vv. 1-37. Decreto de Nabucodonosor, que Contém Seu Segundo


Sonho a Respeito de Si mesmo.
Castigado com loucura por seu orgulho, afunda-se até o nível dos
animais (que ilustra Sl_49:6, Sl_49:12). A oposição entre a vida animal e
a humana, aqui apresentada, é uma chave para a interpretação do
simbolismo seu em Daniel 7 a respeito dos animais e o Filho do homem.
Depois de suas conquistas, e depois de edificar em quinze dias um
palácio novo, segundo o historiador profano, Abidenus (268 a.C.), cujo
relato confirma Daniel, ele subiu ao teto de seu palácio (veja-se o v. 29,
Margem), de onde podia ver ao redor da cidade que tinha edificado, e
empossado por alguma deidade, predisse a conquista persa de Babilônia,
acrescentando uma oração de que o chefe persa fosse levado em sua
volta, aonde não houvesse caminho de homens e onde pastassem as
bestas selvagens (linguagem evidentemente tomada por tradição dos vv.
32, 33, embora sua aplicação seja diferente). Em sua loucura, sua mente
excitada, naturalmente pensaria na próxima conquista de Babilônia pelos
medos e persas, conquista já anunciada em Daniel 2.
1. Paz — A saudação comum no Oriente, “Shalom,” no hebraico, e
salaam” em árabe. A revelação primitiva da queda, e o afastamento do
homem de Deus, fez com que se sentisse que a “paz” era primeira e mais
profunda necessidade do homem. Os orientais (como o Oriente foi o
berço da revelação), conservaram a palavra por tradição.
2. Pareceu-me bem — “Foi decoroso diante de mim” (Sl_107:2-8).
sinais — provas significativas da mediação onipotente de Deus.
Usa o plural pois compreende o sonho maravilhoso, a interpretação
maravilhosa dele, e os resultados maravilhosos.
4. estava tranquilo — minhas guerras terminadas, meu reino em
paz.
feliz — “verde”. A semelhança tomada de uma árvore (Jr_17:8).
Próspero. (Jó_15:32)
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 42
6. Poderá parecer estranho que Daniel não fosse chamado primeiro.
Mas foi ordenado pela providência de Deus que ele fosse reservado até o
fim, para que todos os meios humanos se mostrassem vãos, antes de
Deus manifestar Seu poder por meio de Seu servo; assim o orgulhoso rei
foi despojado de todas as seguranças humanas. Os caldeus eram os
intérpretes oficiais de sonhos; enquanto que a interpretação dele em
Dn_2:4-45, tinha sido um caso peculiar, e muitos anos antes; não tinha
sido consultado em tais assuntos desde então.
8. Beltessazar — chamado assim pelo deus Bel ou Belus (veja-se
Nota, Dn_1:7).
9. espírito dos deuses santos — Nabucodonosor fala como pagão,
quem entretanto, absorveu algumas noções do Deus verdadeiro. Fala de
“deuses” no plural, mas acrescenta o epíteto “santos”, que se refere só a
Jeová, pois os deuses pagãos não faziam nenhuma pretensão à pureza,
mesmo na opinião de seus adeptos (Dt_32:31; veja-se Is_63:11). “Eu
sei”, refere-se à habilidade de Daniel de muitos anos antes (Daniel 2), e
por isso o chama “príncipe dos magos”.
nenhum mistério te é difícil — não tens dificuldade para explicá-
lo.
10. uma árvore — Assim o assírio é comparado com um “cedro”
(Ez_31:3; veja-se Ez_17:24).
no meio da terra — assinalando sua situação conspícua como o
centro, do qual a autoridade imperial se irradiava por toda parte.
12. os animais do campo achavam sombra — dando a entender
que o propósito de Deus em estabelecer impérios no mundo, é que eles
sejam como as árvores que dão aos homens “frutos” para “manutenção”,
e “sombra” para o descanso (veja-se Lm_4:20). Mas os poderes
mundiais abusam do cargo por egoísmo; por isso vem o Messias a
plantar a árvore de seu reino evangélico, o qual realizará só o propósito
de Deus (Ez_17:23; Mt_13:32). Heródoto (7.19) menciona um sonho
(provavelmente sugerido pela tradição deste sonho de Nabucodonosor
em Daniel) que teve Xerxes, de que ele foi coroado com a oliveira, e que
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 43
os ramos da oliveira encheram toda a terra, mas que depois desapareceu
a coroa de sua cabeça; o que significava que seu domínio universal logo
terminaria.
13. um vigilante, um santo — antes, “até um santo”. Só um anjo
está indicado, e ele não é um dos ímpios, mas sim dos santos anjos.
Chamado “vigilante”, por estar sempre de guarda para executar a
vontade de Deus [Jerônimo] (Sl_103:20-21). Veja-se quanto à sua
vigilância, Ap_4:8, “cheios de olhos, ao redor e por dentro; não têm
descanso, nem de dia nem de noite noite”. Também vigiam aos homens
bons encomendados a seu cuidado (Sl_34:7; Hb_1:14); e vigilantes após
o véu para apontar seus pecados, e às ordens de Deus, finalmente os
castigam (Jr_4:16-17), “vigilantes” referidos aos instrumentos humanos
da vingança divina. Quanto a Deus (veja-se 9:14; Jó_7:12; Jó_14:16;
Jr_44:27). Num sentido bom (Gn_31:49; Jr_31:28). A ideia de
“vigilantes” celestiais sob o Deus supremo, (chamado na Zendavesta de
Zoroastro persa como “Aúra-Mazda”) fundou-se na revelação primitiva
a respeito de que vigiavam os anjos ímpios, buscando oportunidade até
conseguir tentar o homem para sua ruína, e de que anjos bons
ministravam aos servos de Deus (como Jacó, Gn_28:15; Gn_32:1-2).
Veja-se a vigilância sobre Abraão para o bem, e sobre Sodoma para ira,
depois de tanto buscar em vão a homens bons nela, por amor aos quais a
perdoaria, Gênesis 18, e sobre Ló para o bem, Gênesis 19. Daniel
aptamente põe a expressão em boca de Nabucodonosor, embora não se
ache em outra parte das Escrituras, entretanto, substancialmente é
sancionada por ela (2Cr_16:9; Pv_15:3; Jr_32:19), e natural para ele
segundo os modos orientais do pensamento.
14. Derribai a árvore — (Mt_3:10; Lc_13:7). O “santo” (Jd_1:14)
incita a seus anjos companheiros, a obra por Deus assinalada (veja-se
Ap_14:15, Ap_14:18).
afugentem-se os animais de debaixo dela — Não lhes proverá
mais abrigo (Ez_31:12).
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 44
15. a cepa, com as raízes — o reino ainda é reservado seguro para
ele enfim, como o toco de árvore assegurada por um aro de bronze ou
ferro, para que não se rache por força do calor do sol, na esperança de
que brote (Is_11:1; veja-se Jó_14:7-9). Barnes o refere ao encadeamento
do louco real.
16. o coração — seu entendimento (Is_6:10).
sete tempos — sete anos (Daniel 12:7). “Sete” é o número perfeito:
uma semana de anos: uma completa revolução do tempo que acompanha
uma completa revolução no estado de sua mente
17. ordem — quer dizer, decisão; quanto à mudança à qual está
condenado Nabucodonosor. Supõe-se um conselho solene dos seres
celestiais (veja-se Jó_1:6; Jó_2:1), sobre o qual preside Deus. O
“decreto” ou “palavra” dele pois, diz que são deles (veja-se o v. 24,
“sentença do Altíssimo”): “decreto dos vigilantes” “mandado dos
santos”. Pois ele pôs certos reinos sob a administração de seres
angélicos, sujeitos a Ele (Dn_10:13, 20; 12:1). A palavra “ordem” na
segunda cláusula, expressa uma ideia distinta da primeira. Não só como
membros do conselho de Deus (Dn_7:10; 1Rs_22:19; Sl_103:21;
Zc_1:10) assinam eles ao “decreto” de Deus, mas sim o decreto vem em
resposta a suas orações, nas quais eles ordenam que todo mortal seja
humilhado, quem quer que trate de obscurecer a glória de Deus.
[Calvino]. Os anjos se entristecem, quando são infringidas as
prerrogativas de Deus no mais mínimo. Que horrível que
Nabucodonosor soubesse que os anjos arguem contra ele por seu
orgulho, e o decreto foi sancionado na alta corte do céu para sua
humilhação em resposta às ordens dos anjos! Os conceitos são
amoldados numa forma peculiarmente adaptada aos modos do
pensamento de Nabucodonosor.
os viventes — não como distinguidos dos mortos, e sim como
distinguidos dos habitantes do céu, os quais “conhecem” o que se precisa
ensinar aos homens da terra (Sl_9:16); os ímpios confessam que há um
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 45
Deus, mas alegremente queriam limitá-lo ao céu. Mas, diz Daniel, Deus
se assenhoreia não só ali, mas também “do reino dos homens”.
ao mais humilde dos homens — o mais humilde em condição
(1Sm_2:8; Lc_1:52). Não são os talentos de alguém, nem sua riqueza,
nem seu nobre nascimento, mas sim a vontade de Deus é o que eleva ao
trono. Nabucodonosor abatido até o depósito de lixo, e logo restaurado,
devia ter em si mesmo uma prova disto (v. 37).
19. Daniel … Beltessazar — o uso do nome caldeu como também
o hebraico, longe de ser uma objeção, como alguns tomam, é um sinal
feito sem intenção, de sua veracidade. Na proclamação a “todo povo”, e
proclamação proposta para honrar ao Deus dos hebreus, Nabucodonosor
usaria naturalmente o nome hebraico (derivado de “El”, Deus, o nome
pelo qual, o profeta era melhor conhecido entre seus compatriotas),
como também o nome gentio pelo qual era conhecido no império caldeu.
esteve atônito — afligido com pavor pelo terrível significado do
sonho.
por algum tempo — o original às vezes quer dizer “um momento”,
ou “tempo breve”, como em Dn_3:6, 15.
não te perturbe o sonho — muitos déspotas teriam castigado a um
profeta que se atrevesse a predizer sua ruína. Nabucodonosor assegura a
Daniel de que poderá falar livremente.
o sonho seja contra os que te têm ódio — Devemos desejar a
prosperidade daqueles sob cuja autoridade nos pôs a providência de
Deus (Jr_29:7). O desejo aqui não é tanto contra outros como a favor do
rei: uma fórmula comum (2Sm_18:32). Não é a linguagem de ódio duro.
20. A árvore é o rei. Os ramos são os príncipes. As folhas, os
soldados. Os frutos, as entradas de impostos. A sombra, a proteção
provida para os estados dependentes.
22. és tu, ó rei — A fala explicitamente e sem rodeios (2Sm_12:7).
Enquanto que tinha lástima do rei, com toda firmeza pronuncia sua
sentença de castigo. Devem os ministros de Deus, tomar o meio termo,
por uma parte, condenando os pecadores sob pretexto de ardor, sem sinal
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 46
alguma de compaixão, e por outra, adulando os pecadores sob pretexto
de moderação.
até à extremidade da terra — (Jr_27:6-8). Até o mar Cáspio,
Euxino e o Atlântico.
24. decreto do Altíssimo — o que foi chamado no v. 17 por
Nabucodonosor “o decreto dos vigilantes”, aqui mais acertadamente é
chamado por Daniel “o decreto do Altíssimo”. Aqueles eram apenas os
Seus ministros.
25. serás expulso — A loucura hipocondríaca foi sua doença, a
qual o “levou” sob a imaginação de que ele era um animal, a “morar com
os animais”; o v. 34 prova isto: “tornou-me a vir o entendimento”. A
regência o deixaria vagar nos grandes parques cheios de animais, junto
ao palácio.
dar-te-ão a comer ervas — quer dizer, vegetais, ou ervas em geral
(Gn_3:18).
até que conheças, etc. — (Sl_83:17-18; Jr_27:5).
26. depois que tiveres conhecido, etc. — uma promessa de graça
espiritual a ele, fazendo com que o juízo humilhe, e não endureça o
coração.
os céus dominam (TB) — usa-se o plural, “céus”, como dirigido a
Nabucodonosor, cabeça de um reino terrestre organizado, com vários
principados, sob o governante supremo. Assim “o reino do céu”
(Mt_4:17; grego, “reino dos céus”) é uma organização múltipla
composta de diferentes ordens de anjos, sob o Altíssimo (Ef_1:20-21;
Ef_3:10; Col_1:16).
27. põe termo ... em teus pecados — o original caldeu, “rompe de
ti os teus pecados”, como um jugo que irrita (Gn_27:40); o pecado é uma
carga pesada (Mt_11:28). A LXX e a Vulgata traduzem não tão bem
“redime”, o que se torna um argumento a favor da doutrina romana, de
expiar os pecados por obras meritórias. Embora se traduza assim, a frase
não pode apenas significar: Arrepende-te e mostra a realidade do teu
arrependimento por meio de obras de justiça e caridade (veja-se
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 47
Lc_11:41); de maneira que Deus te remita o teu castigo. Como
consequência, a dificuldade demorará mais antes de chegar, e será mais
curta quando chegar. Veja-se os casos de Ezequias, Is_38:1-5; Nínive,
Jn_3:5-10; Jr_18:7-8. A mudança não está em Deus mas no pecador que
se arrepende. Assim como o rei tinha provocado os juízos de Deus por
seus pecados, assim poderá apartá-los, por um retorno à justiça (veja-se
Sl_41:1-2; At_8:22). Provavelmente, como muitos déspotas orientais,
Nabucodonosor tinha oprimido os pobres, forçando-os a trabalhar em
suas grandes obras públicas sem remuneração adequada.
talvez se prolongue a tua tranquilidade — se felizmente a tua
prosperidade atual se prolongar.
29. doze meses — esta trégua foi concedida para deixá-lo sem
desculpa. Assim foram concedidos os 120 anos antes que chegasse o
dilúvio (Gn_6:3). Ao primeiro anúncio do próximo juízo, o rei se
alarmou, como Acabe (1Rs_21:27), mas não se arrependeu
sinceramente; de modo que, quando o juízo não foi executado
imediatamente, ele creu que não viria nunca, e assim se voltou para seu
orgulho de antes (Ec_8:11).
sobre o palácio — sobre o terraço do palácio, de onde podia
contemplar a magnificência de Babilônia. Assim o relata o historiador
pagão Abidenus. O terraço do palácio foi cenário da queda de outro rei
(2Sm_11:2). O muro exterior do palácio novo de Nabucodonosor,
alcançava dez quilômetros; havia dois muros interiores cercados, uma
torre grande e três portões de bronze.
30. a grande Babilônia, que eu edifiquei — Heródoto atribui a
edificação de Babilônia a Semíramis e Nitocris, tendo-lhe dado seu
informante o relato assírio e persa. Berosus e Abidenus dão o relato
babilônico, de que Nabucodonosor tinha acrescentado muito à velha
cidade, edificando um palácio esplêndido e muros na cidade. Heródoto, o
chamado “pai da história”, nem menciona a Nabucodonosor. (Nitocris, a
quem ele atribui o embelezamento de Babilônia, parece ter sido a esposa
do rei.) Por isso os incrédulos duvidaram que relato bíblico. Mas este é
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 48
apoiado por milhares de tijolos achados na planície, as inscrições dos
quais foram decifradas, cada tijolo marcado, “Nabucodonosor, o filho de
Nabopolassar”. “Edifiquei” quer dizer, restaurei e ampliei (2Cr_11:5-6).
É estranho que todos os tijolos tenham sido achados com a cara
estampada para baixo. Quase não se tirou dos montões de escombros de
Babilônia, nem uma cifra em pedra ou uma placa, enquanto em Nínive
abundam estas coisas; cumprindo-se assim a profecia de Jr_51:37,
“Babilônia se tornará em montões”. O pronome “Eu” é enfático, pelo
qual ele fica no lugar de Deus; assim também “meu poder”, “minha
grandeza”. Ele impiamente opõe seu poder ao de Deus, como se a
ameaça de Deus, pronunciada fazia um ano, nunca devesse cumprir-se.
Ele queria fazer-se mais que homem; Deus, pois, o torna menos que
humano. Repete-se a “queda”; Adão, uma vez o senhor do mundo e das
mesmas bestas (Gn_1:28); assim Nabucodonosor (Dn_2:38), queria ser
um deus (Gn_3:5), por isso deve morrer como os animais (Sl_82:6;
Sl_49:12). O segundo Adão restaura a herança perdida (Sl_8:4-8).
31. Ainda estava a palavra na boca (RC — No mesmo ato de
falar, para que não pudesse haver dúvida quanto à conexão entre o crime
e o castigo. Assim, Lc_12:19-20.
A ti se diz, ó rei — Apesar de seu poder real, a ti agora se
pronuncia a tua condenação, não haverá mais trégua.
33. foi expulso de entre os homens — como maníaco que se cria
animal selvagem. É possível que uma conspiração de seus nobres tenha
cooperado para que fosse “expulso” como proscrito.
os cabelos como ... da águia — seus cabelos enredados, como a
espessa plumagem da águia quebrantosso. As “unhas” deixadas sem
cortar, seriam como garras de aves.
34. levantei os olhos ao céu — de onde tinha saído a “voz” (v. 31),
no princípio de sua visitação. A repentina desarrumação mental
frequentemente tem o efeito de apagar da mente todo o intervalo, de
modo que, quando volta o juízo cabal, o doente se lembra só do
acontecimento que antecedeu imediatamente a sua loucura. O fato de
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 49
Nabucodonosor elevar seus olhos para cima, ao céu, foi o primeiro
sintoma de que seu “sentido” foi “trazido de volta”. Antes, como os
animais, seus olhos se dirigiram rumo à terra. Agora, como os de Jonas
(Jn_2:1, Jn_2:4) uma vez fora do ventre do peixe se elevam ao céu em
oração. Ele se volta para Aquele que o feria (Is_9:13), com um pálido
vislumbre de razão deixado em si, e reconhece a justiça de Deus em seu
castigo.
louvei … ao que vive para sempre — o louvor é um sinal seguro
da alma espiritualmente curada (Sl_116:12, Sl_116:14; Mc_5:15,
Mc_5:18-19).
glorifiquei — dando a entender que a causa de seu castigo foi que
tinha roubado a Deus Sua honra.
cujo domínio é sempiterno — não temporal ou mutável como o
domínio dos reis humanos.
35. todos … são por ele reputados em nada — (Is_40:15,
Is_40:17).
segundo sua vontade — (Sl_115:3; Sl_135:6; Mt_6:10; Ef_1:11).
exército — as hostes celestiais, anjos e círculos estelares (veja-se
Is_24:21).
não há quem lhe possa deter a mão — lit., “fira sua mão”. A ideia
de pegar a mão de alguém, para impedir que faça alguma coisa
(Is_43:13; Is_45:9).
Que fazes? — (Jó_9:12; Rm_9:20).
36. Uma inscrição no museu da Companhia da índia Oriental, lê-se
como descritiva do período da loucura de Nabucodonosor. [G. V. Smith.]
Na inscrição chamada modelo, lida por Sir H. Rawlinson,
Nabucodonosor relata que durante quatro (?) anos ele deixou de planejar
edifícios, ou prover vítimas para o altar do Merodaque ou de limpar os
canais para a irrigação. Nenhum outro caso ocorre nas inscrições
cuneiformes de que um rei relate sua própria inatividade.
buscaram-me ... os meus grandes — desejavam ter-me, como
antes, como cabeça dela, cansados da anarquia que havia durante minha
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 50
ausência (veja-se Nota, v. 33); a probabilidade de uma conspiração dos
nobres se confirma por este versículo.
a mim se me ajuntou extraordinária grandeza — minha
autoridade foi maior que nunca antes (Jó_42:12; Pv_22:4; Mt_6:33,
“acrescentada”).
37. louvo e engrandeço e glorifico (TB) — Amontoa palavra sobre
palavra, como se não pudesse dizer bastante em louvor a Deus.
todas as suas obras são verdadeiras — quer dizer, são verdadeiras
e justas (Ap_15:3; Ap_16:7). Deus não tratou comigo injustamente nem
foi severo demais; tudo que sofri, eu mereci. É sinal de verdadeira
contrição a de condenar-se a si mesmo e justificar a Deus (Sl_51:4).
pode humilhar aos que andam na soberba — verdade que se
manifesta em mim. Ele se condena a si mesmo acima de todo o mundo, a
fim de glorificar a Deus.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 51
Daniel 5

Vv. 1-31. O Banquete Ímpio de Belsazar; a Escritura na Parede


Interpretada Por Daniel, Prediz a Ruína de Babilônia.
1. Belsazar — Rawlinson, por meio das inscrições assírias,
explicou a aparente discrepância entre Daniel e os historiadores profanos
de Babilônia, Berosus e Abidenus, os quais dizem que o último rei
(Nabonido) rendeu-se em Borsippa, depois que foi tomada Babilônia, e
que tinha residência honorável concedida em Caramania. Belsazar foi rei
junto com o pai (nas inscrições chamado Minus), mas subordinado a ele;
por isso o relato babilônico suprime o dado que desacredita a Babilônia,
de que Belsazar se encerrou naquela cidade, e caiu quando foi tomada;
enquanto que relata a rendição do rei principal em Borsippa (veja-se
minha Introdução ao livro de Daniel). A descrição pelo historiador
profano Xenofonte, de Belsazar, concorda com a de Daniel; ele o chama
“cruel”, e ilustra sua crueldade mencionando que matou a um de seus
nobres, simplesmente porque na caçada, o nobre matou a presa antes que
ele. Mandou castrar um cortesão, Gadates, num banquete, porque uma
das concubinas do rei o elogiou por ser lindo. Daniel não exibe por ele
nenhuma simpatia que tinha por Nabucodonosor. Xenofonte confirma a
Daniel quanto ao fim de Belsazar. Winer explica que o “sasar” no nome
como querendo dizer “fogo”.
deu um grande banquete — teimosia enviada por Deus quando a
cidade no mesmo momento era sitiada por Ciro. As fortalezas e
abundantes provisões na cidade, fizeram com que o rei desprezasse aos
sitiadores. Foi dia de solene festividade entre os babilônios [Xenofonte].
bebeu vinho na presença dos mil — O rei, nesta ocasião
extraordinária, deixou seu costume habitual de festejar separado de seus
nobres (veja-se Et_1:3).
2. bebia e apreciava o vinho — enquanto estão sob o efeito do
vinho, os homens fazem o que não se atrevem a fazer quando estão
sóbrios.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 52
Nabucodonosor seu pai — quer dizer, seu antepassado. Assim
“Jesus … filho de Davi, filho de Abraão”. Daniel não diz que outros reis,
mencionados por outros escritores, não reinassem entre Belsazar e
Nabucodonosor, por exemplo, Evil-Merodaque (Jr_52:31), Neriglissar,
seu cunhado, e Laboroso-Arcod (nove meses). Berosus faz com que
Nabonido o último rei tenha sido um do povo, elevado ao trono por uma
insurreição. Como manifestam as inscrições que Belsazar era distinto
daquele e rei junto com ele, isto não está em desacordo com Daniel, cujo
dito de que Belsazar era filho (neto) de Nabucodonosor é corroborado
por Jeremias (Jr_27:7). Seu testemunho comum, mas independente,
como contemporâneos, e de posse dos melhores meios de informação, é
mais digno de confiança que o dos historiadores profanos, se houvesse
alguma discrepância. Evil-Merodaque, filho de Nabucodonosor (segundo
Berosus), reinou só um curto tempo (um ano ou dois), sendo destronado,
por causa de seu mau governo, por uma conspiração de Neriglissar,
marido de sua irmã; portanto Daniel não o menciona. À elevação de
Nabonido como rei supremo, a Belsazar, neto de Nabucodonosor, foi
permitido ser rei subordinado e sucessor, a fim de conciliar o partido
legítimo. Deste modo a aparente discrepância deve ser uma confirmação
da veracidade de Daniel, uma vez esclarecida, porque uma real harmonia
deve ter sido feita sem intenção.
mulheres e concubinas — em geral não presentes nas festas no
Oriente, onde as mulheres do harém são guardadas em isolamento
estrito. Por isto se negou a Vasti o apresentar-se na festa de Assuero
(Ester 1). Mas a corte babilônica, com seus excessos desenfreados,
parece não ter sido tão estrita como a persa. Xenofonte (Cyropaedia, 5.2,
28) confirma a Daniel, representando uma festa de Belsazar, onde
estavam presentes as concubinas. No princípio, parece que só “os
príncipes” (v. 1), para quem se fez a festa estavam presentes; mas, como
progredia a orgia, foram introduzidas as mulheres. Mencionam-se duas
classes delas: aquelas a quem pertenciam os privilégios de “esposas” e as
que eram estritamente concubinas (2Sm_5:13; 1Rs_11:3; Ct_6:8).
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 53
3. Este ato não foi por necessidade, nem por questões de honra, mas
sim de profanação desenfreada.
4. deram louvores — cantaram e gritaram louvores a “deuses”.
que, sendo de ouro, “são testemunhas” de si mesmos (Is_44:9).
5. No mesmo instante — Para que a causa da visitação de Deus
fosse evidente, quer dizer, a profanação de seus vasos e santo nome.
uns dedos de mão — Deus não o admoesta por um sonho (como
tinha sido advertido Nabucodonosor) nem por uma voz, mas por “dedos
que saíram”, realçando o impressionante da terrível cena, a invisibilidade
daquele que movia os dedos, testemunhando a mão do Ser Invisível, sua
ruína aos olhos do mesmo e de seus companheiros de orgia.
defronte do candeeiro — onde poderiam ser vistos melhor os
caracteres místicos. Barnes, pela proximidade da escritura ao candelabro
tirado do templo de Jerusalém, faz com que a recriminação seja dirigida
diretamente contra o sacrilégio.
na caiadura da parede do palácio real — escrito em letras
cuneiformes sobre pranchas nas paredes e sobre os próprios se acha o
relato sempre repetido de títulos, vitórias e façanhas, para lembrar ao
espectador a cada passo a grandeza real. É significativo, que na mesma
parede onde o rei estava acostumado a ler as lendas lisonjeiras de sua
própria magnificência, ele contempla a inscrição misteriosa que prediz
sua queda (veja-se Pv_16:18; At_12:21-23).
6. se mudou o semblante — lit., “claridade”, quer dizer, sua
aparência brilhante.
as juntas dos seus lombos — “as vértebras de suas costas”
[Gesênius.]
7. Chama os magos, os que mais de uma vez tinham sido
descobertos em enganos. Deixa de invocar a Deus ou chamar Daniel,
cuja fama como intérprete estava bem estabelecida. O mundo quer ser
enganado, e fecha os olhos à luz. [Calvino]. Os hebreus creem que as
palavras eram caldeias, mas nas velhas letras hebraicas (como as do
Pentateuco Samaritano).
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 54
o terceiro — o primeiro lugar correspondia ao rei; o segundo, ao
filho do rei ou da rainha, o terceiro, ao principal dos sátrapas.
8. As palavras eram em tal caráter para ser ilegíveis aos caldeus,
reservando Deus esta honra para Daniel.
10. a rainha — a rainha mãe, ou avó, Nitocris, não tinha estado
presente até agora. Ela era esposa ou de Nabucodonosor ou do Evil-
Merodaque, e daí seu conhecimento dos serviços de Daniel. Ela
completou as grandes obras que tinha começado o rei anterior. Por isso
Heródoto as atribui apenas a ela. Isto explica a consideração dada a ela
por Belsazar. (Veja-se minha Nota, Dn_4:36). Veja-se a posição similar
dada a rainha mãe entre os hebreus, 1Rs_15:13.
11. espírito dos deuses santos — Ela se lembra da linguagem de
Nabucodonosor, e a repete (Dn_4:8, 9, 18). Como Daniel, segundo
costume oriental, foi privado provavelmente de seu posto, ao qual o tinha
promovido Nabucodonosor, como “senhor dos magos” (Dn_4:9), por
ocasião da morte do rei, facilmente Belsazar ignoraria seus serviços.
teu pai, o rei — A repetição assinala com gravidade enfática tanto
as excelências de Daniel como o fato de que Nabucodonosor, a quem
Belsazar devia reverenciar, tinha buscado de Daniel conselhos em
circunstâncias similares.
13. cativos de Judá — os judeus cativos residentes em Babilônia.
17. Este versículo não é inconsequente com o v. 29. Porque aqui ele
declara que sua interpretação das palavras não é por desejo de
recompensa. As honras do v. 29, sem dúvida, eram impostas sem seu
desejo, em tal forma que ele não pôde com delicadeza rejeitá-los. Se as
tivesse rejeitado, depois de anunciar a queda do reino, teria sido suspeito
como culpado de covardia ou de traição.
18. Deus … deu — Não foi seu próprio nascimento nem talentos os
que lhe deram o vasto império, como ele pensava. O ato de o fazer
esquecer seu pensamento soberbo, foi o objetivo da visitação de Deus
sobre ele.
grandeza — aos olhos de seus súditos.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 55
glória — como suas vitórias.
majestade — pelo engrandecimento e embelezamento da cidade.
19. Uma monarquia puramente absoluta. (Jr_27:7).
21. o seu coração foi feito semelhante ao dos animais — lit., “ele
fez com que seu coração fosse como os animais”, quer dizer, desejava
habitar com elas.
22. Não erraste por ignorância, mas por um desprezo deliberado
contra Deus, embora tiveste diante dos seus olhos as advertências
assombrosas dadas no caso de teu avô.
23. em cuja mão está a tua vida e todos os teus caminhos —
(Jr_10:23).
24. Então — Quando te levantaste contra o Senhor.
aquela mão — com os dedos.
da parte dele foi enviada — quer dizer, da presença de Deus.
25. MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM — lit., numerado,
pesado e divisores.
26. Deus fixou o número de anos de seu império, e aquele número
agora está completo.
27. Pesado foste na balança — Os egípcios criam que Osíris
pesava as obras dos mortos numa balança literal. Os babilônios terão tido
talvez a mesma ideia, o que daria uma peculiar aptidão à figura usada
aqui.
achado em falta — muito leve diante de Deus, Aquele que pesa as
ações (1Sm_2:3; Sl_62:9). Como ouro ou prata falsos (Jr_6:30).
28. Peres — a explicação de “divisores” (v. 25), sendo usado ali o
particípio ativo plural em lugar do particípio passivo singular,
“divisores” por “dividido”. A palavra “Peres” faz alusão também à
palavra similar “Pérsia”.
Dividido — quer dizer, entre os medos e persas [Maurer]; ou
“afastado” de ti. [Grocio].
29. mandou Belsazar que vestissem Daniel de púrpura — Sair
da presença de um príncipe em roupa apresentada como prêmio, ainda se
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 56
considera uma grande honra no Oriente. Assim Daniel foi restaurado à
posição semelhante à que tinha sob Nabucodonosor (Dn_2:48). A
fidelidade a Deus, a qual, conforme parece, traria a vingança como neste
caso, frequentemente é recompensada até nesta vida. Fazendo a
promessa, o rei teria vergonha de violar sua palavra na presença de seus
cortesãos. Belsazar talvez teria fingido desprezar a profecia de sua ruína,
como uma ameaça vã. Quanto ao motivo de Daniel em aceitar agora o
que antes tinha rejeitado, veja-se Nota, v. 17. As insígnias de honra
seriam testemunhas à glória de Deus perante o mundo, de que pela ajuda
de Deus ele tinha interpretado os caracteres místicos. A causa de sua
elevação também asseguraria o favor da nova dinastia (Dn_6:2) tanto
para ele como para os seus compatriotas cativos. Como a tomada da
cidade por Ciro não se realizou senão à luz do dia, não havia falta de
tempo naquela noite memorável para fazer tudo o que aqui se relata. A
tomada da cidade tão imediatamente depois da profecia a respeito dela
(seguindo ao sacrilégio de Belsazar), assinalou mais enfaticamente acima
de tudo o mundo, a relação entre o pecado de Babilônia e seu castigo.
30. Heródoto e Xenofonte confirmam a Daniel quanto ao repentino
do acontecimento. Ciro desviou o rio Eufrates a um canal novo, e guiado
por dois desertores, partindo pelo leito seco penetrou à cidade, enquanto
os babilônios estavam embriagando-se em sua festa anual aos deuses.
Veja-se também Is_21:5; Is_41:27; e Jr_50:38-39; e 51:36. Também
quanto a ter sido morto Belsazar, veja-se Is_14:18-20; Is_21:2-9;
Jr_50:29-35; Jr_51:57.
31. Dario, o medo — quer dizer, Ciáxares II, filho e sucessor de
Astíages, 569-635 a.C. Embora Koresh, ou Ciro, tenha sido o dirigente
do ataque, tudo foi feito, entretanto, em nome de Dario; portanto, ele só á
mencionado aqui; mas o Dn_6:28 demonstra que Daniel não ignorava a
parte de Ciro na tomada de Babilônia. Is_13:17; Is_21:2, confirmam a
Daniel em que ele faz com que os medos fossem a nação principal na
destruição de Babilônia. Veja-se também Jr_51:11, Jr_51:28. Pela outra
parte, Heródoto omite mencionar a Dario, como aquele rei, sendo fraco e
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 57
sensual, entregou toda autoridade a seu sobrinho enérgico Ciro
(Xenofonte, Cyropaedia, 1.5; 8.7).
de sessenta e dois anos — Isto está de acordo com Xenofonte
(Cyropaedia, 8.5, 19), a respeito do Ciáxares II.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 58
Daniel 6

Vv. 1-28. O Decreto de Dario: a Desobediência de Daniel e Sua


Entrega aos Leões: Seu Livramento por Deus, e o Novo Decreto de
Dario.
1. Dario — Grotefend tem lido nas inscrições cuneiformes em
Persépolis este nome como Darheush, isto é, Rei Senhor, nome dado em
comum a muitos reis medo-persas. Aparecem três com aquele nome:
Dario Histaspes (ano 521 a.C.) em cujo reinado foi levado a efeito o
decreto para a reedificação do templo (Ed_4:5; Ag_1:1); Dario
Codomano (336 a.C.), quem venceu Alexandre, chamado “o persa”
(Ne_12:22), expressão usada depois que foi estabelecido o governo da
Macedônia; e Dario Ciáxares II, entre Astíages e Ciro (Aeschylus, The
Persians, 762, 763).
cento e vinte — sátrapas; postos sobre as províncias conquistadas
(inclusive Babilônia) por Ciro (Xenofonte, Cyropaedia, 8.6.1). Sem
dúvida, Ciro operou sob Dario, como na tomada de Babilônia; de modo
que Daniel com razão atribui a nomeação a Dario.
3. Daniel se distinguiu — provavelmente por haver predito tão
maravilhosamente a queda de Babilônia. Portanto a mesma expressão
usada pela rainha mãe naquela ocasião (Dn_5:12) usa-se aqui, “porque
nele havia um espírito excelente”.
o rei pensava em estabelecê-lo sobre todo o reino — de acordo
com o caráter de Dario, fraco e adverso a assuntos de negócio, os quais
preferiam delegar a seus favoritos. Mas Deus preponderou nisto tanto
para o bem de Daniel e, por meio dele, para o de Seu povo.
4. procuravam ocasião para acusar a Daniel a respeito do reino
— um pretexto para acusação quanto à sua administração (Ec_4:4).
5. É o mais alto testemunho na conduta do homem piedoso, quando
seus ardilosos inimigos não podem achar causa de censura senão que ele
caminha de acordo com a lei de Deus, até onde esta se opõe aos
caminhos do mundo.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 59
6. foram juntos — lit., “reuniram-se apurada e tumultuosamente”.
Se tivessem vindo mais ordenadamente, o rei teria podido rejeitar sua
petição; mas não lhe deram tempo para consideração, declarando que seu
decreto de prova era necessário para a segurança do rei.
vive eternamente — Arrian [Alexander, 4] relata que Ciro foi o
primeiro perante quem se cumpria a prostração. É sinal sincero de
veracidade o fato de Daniel não mencionar prostração diante de
Nabucodonosor ou Dario (Veja-se Nota, Dn_3:9).
7. O rei persa era considerado o representante do deus principal,
Aúra-Mazda; os sete príncipes próximos a ele representavam aos sete
Amshaspands diante do trono de Aúra-Mazda; por isso Mardoqueu
rejeitou tal homenagem a Hamã (Et_3:4), o primeiro-ministro do rei,
como inconsequente com o que se deve apenas a Deus. Um déspota
fraco, como Dario, sob o poder de seus príncipes, facilmente seria
persuadido de que semelhante decreto poria à prova a obediência dos
caldeus recentemente conquistados, suavizaria seu espírito soberbo. Tão
absoluto é o rei no Oriente, que é considerado não somente como
governante, mas sim como o dono do povo.
Todos os presidentes … governadores, etc. — aqui se especifica a
vários funcionários, não mencionados nos vv. 4 e 6. Evidentemente eles
exageram o caso perante o fraco rei, como se a petição deles fosse a de
todos os funcionários do império.
cova dos leões — uma cova ou oco subterrâneo, coberto com uma
pedra. É prova não intencionada da veracidade, o fato de que aqui não se
faz com que “a fornalha de fogo” seja o meio de castigo, como em
Daniel 3; porque os persas eram adoradores do fogo, o que não eram os
babilônios.
8. interdito — decreto, ou interdito.
para que não seja mudada — (Et_1:19; Et_8:8). Esta
imutabilidade dos mandados dos reis foi peculiar aos medos e persas;
devia-se a que eles o consideravam como infalível como o representante
de Aúra-Mazda, não foi assim entre os babilônios.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 60
lei dos medos e dos persas — na ordem dos nomes é sinal de que o
livro seja genuíno. Ciro, o persa, governava subordinado a Dario, o medo
quanto à sua dignidade, embora exercia mais poder verdadeiro. Depois
da morte de Dario, a ordem é “os persas e medos” (Et_1:14, Et_1:19,
etc.)
9. Semelhante decreto despótico é bem explicável, se se lembrar
que o rei, como a encarnação de Aúra-Mazda, poderia exigir tal ato de
obediência religiosa como prova de lealdade. As leis de perseguição
sempre se baseiam em falsos pretextos. Em lugar de queixas amargas
contra os homens, Daniel ora a Deus. Embora tivesse imensas
obrigações como governante, achava tempo para orar três vezes por dia.
Os três companheiros de Daniel (Daniel 3) não se mencionam aqui, nem
outros judeus, os quais escrupulosamente teriam feito caso omisso do
decreto, visto que os conspiradores só se interessavam em Daniel (v. 5).
10. Daniel, pois, quando soube que a escritura estava assinada
— e que, portanto, lhe tinha sido tirado o poder de aconselhar ao rei em
sentido contrário.
entrou em sua casa — retirando-se desta corte que desonrava a
Deus.
janelas abertas — não em vanglória, senão para que não houvesse
impedimento a sua vista da direção em que estava Jerusalém, o assento
terrestre de Jeová sob o Antigo Testamento, e para que aos olhos dos
céus tirasse sua mente dos pensamentos terrestres. A Cristo no templo
celestial dirijamos os nossos olhos em oração, desde esta terra de nosso
cativeiro (1Rs_8:44, 1Rs_8:48, 2Cr_6:29, 2Cr_6:34, 2Cr_6:38; Sl_5:7).
seu quarto — peça no piso alto, onde geralmente os judeus faziam
a oração (At_1:13). Nem sobre a terraço (At_10:9), onde estaria visível.
de joelhos — as atitudes humildes convêm a suplicantes humildes.
três vezes por dia — (Sl_55:17). A terceira hora, sexta e nona;
nossas horas nove, doze e quinze (At_2:15; At_10:9; At_3:1; At_10:30;
veja-se 9:21).
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 61
como costumava fazer — não o fazia como ato de menosprezo ao
mandado do rei.
11. foram juntos — como no v. 6, “foram juntos” ou “correram
apressadamente”, para sobrevir a Daniel de repente e descobri-lo no ato.
12. Eles põem introdução a seu ataque, chamando atenção ao
decreto do rei, para fazer com que ele volte a confirmá-lo sem mudança,
antes de mencionar o nome de Daniel. O não violar uma promessa
ímpia, não constitui firmeza, mas sim obstinação culpada (Mt_14:9;
Mc_6:26).
13. Esse Daniel — Lit., “Aquele Daniel”, depreciativamente.
dos exilados de Judá — há pouco, cativo entre seus servos, os
babilônios, um a quem convém a obediência humilde. Assim eles
exageram sua culpabilidade, omitindo toda menção de que é primeiro-
ministro, o que só lembraria a Dario os serviços de Daniel ao estado.
não faz caso de ti — porque fazia caso de Deus (At_4:19;
At_5:29).
14. ficou muito penalizado — por ter permitido ser enganado em
fazer um decreto tão ligeiro (Pv_29:20). De um lado, ele estava em
apuros pela imutabilidade da lei, por temor de que os príncipes
conspirassem contra ele, e o desejo de operar a favor de sua própria fama
e não parecer volúvel; por outro, por consideração a Daniel, e seu desejo
de salvá-lo dos efeitos de seu próprio decreto apressado.
até ao pôr-do-sol — O rei tomou este tempo para deliberar,
pensando que depois de posto o sol, Daniel seria perdoado até a manhã, e
que enquanto isso se apresentaria algum meio de evitá-lo. Mas (v. 15) os
conspiradores se reuniram tumultuosamente (literalmente) para evitar
esta demora na execução, a fim de que o rei, enquanto isso, não mudasse
o decreto.
16. O Deus teu … que ele te livre — Os pagãos criam na
interposição dos deuses às vezes, em defesa de seus adoradores. Dario
reconhecia ao Deus de Daniel como um deus, mas não como o único
Deus verdadeiro. Tinha ouvido do livramento dos três jovens em Daniel
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 62
3, e por isso augura o livramento de Daniel. Não sou dono de mim
mesmo, e não posso te livrar, por mais que o desejasse. “O teu Deus, a
quem tu continuamente serves, que ele te livre.” Os reis são escravos de
seus aduladores. Os homens admiram em outros a piedade para com
Deus, embora eles mesmos não lhe dão importância.
17. uma pedra … selou-a — típico da sepultura de Cristo sob um
selo (Mt_27:66). Isto certamente foi uma ordem divina, de modo que o
livramento fosse tanto mais surpreendente.
com o seu próprio anel e ... dos seus grandes — O acordo dos
príncipes era necessário para fazer leis. Nisto, o poder real tinha decaído
desde quando estava em mãos de Nabucodonosor. O rei medo é um
boneco em mãos dos príncipes; eles exigem a segurança do selo deles
como também dele, para que Daniel não fosse libertado. O selo do rei
garantia que Daniel não seria morto por eles, em caso de que escapasse
dos leões.
18. não deixou trazer à sua presença instrumentos de música,
etc. — Gesênius traduz (corretamente), “concubinas”. Que Daniel
mencione como coisa extraordinária de Dario, que nem se aproximou à
mesa nem a seu harém, concorda com o quadro que Xenofonte faz dele,
como afeiçoado ao vinho e às mulheres, frívolo e sem domínio de si
mesmo. Ele sente o mal que ele mesmo causou, mas não toma medidas
para remediá-lo. Há muitos que vacilam entre o bem e o mal, os quais
estão incômodos em seus pecados, mas avançam neles, e são arrastados
por outros.
19. Sua tristeza venceu seu temor dos príncipes.
20. Deus vivo — que tem vida em si, e é capaz de conservar sua
vida; em contraste com os ídolos sem vida. Dario tomou emprestada a
frase de Daniel; nisto Deus arranca de um idólatra uma confissão de
verdade.
a quem tu continuamente serves — em tempos de perseguição
como em tempos de paz.
tenha podido livrar-te — linguagem de dúvida, mas de esperança.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 63
21. Daniel teria podido permitir-se uma resposta de ira ao rei, mas
não: seu único pensamento é que a glória de Deus manifestou-se em seu
livramento.
22. seu anjo — o instrumento, não o autor de seu livramento
(Sl_91:11; Sl_34:7).
fechou a boca aos leões — (Hb_11:33). Assim, espiritualmente
Deus fechará a boca de leões rugidores (1Pe_5:8) para seus servos.
porque foi achada em mim inocência diante dele — não
absolutamente (no Dn_9:7, 18, ele rejeita semelhante pretensão), mas
sim relativamente neste caso. Deus testemunhou a justiça de minha causa
em continuar em Seu culto, me livrando. Então, o “porque” não justifica
a doutrina de Roma de que as obras mereçam a salvação.
contra ti — A obediência a Deus é em sentido mais estrito,
compatível com a lealdade ao rei (Mt_22:21; 1Pe_2:17). A
desobediência de Daniel ao rei era aparente, não real, porque ele operou,
não por desacato ao rei, mas por sua lealdade ao Rei dos reis (veja-se
At_24:16).
23. porque crera no seu Deus — Diz-se em Hb_11:33 que a “fé”
foi seu princípio atuante: um prelúdio ao evangelho. Sua confiança não
foi tendo em vista um livramento milagroso. Fechou os olhos quanto ao
evento, encomendando a custódia de sua alma a Deus, fazendo o bem,
como ao fiel Criador (1Pe_4:19), seguro de um livramento a uma vida
melhor, se não nesta.
24. (Dt_19:19; Pv_19:5).
acusado — lit., “comeram os ossos e carne”. Foi justo que aqueles
que tinham lesado o caráter de Daniel e buscaram destruir sua pessoa,
fossem por sua vez despedaçados (Pv_11:8).
seus filhos — entre os persas, toda a parentela considerava-se
envolta na culpa do crime individual. A Lei mosaica expressamente
proibiu isto (Dt_24:16; 2Rs_14:6).
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 64
ainda não tinham chegado ao fundo da cova — O fato de os
leões terem poupado a Daniel, não pôde ser porque estivessem cheios,
como demonstraram nos acusadores o agudo de sua fome.
26. Mais forte que o decreto de Dn_3:29. Aquele foi negativo; este
positivo; não simplesmente que não se dissesse “nada contra” Deus, mas
sim “tremam e temam perante o Deus de Daniel”.
28. Foi no terceiro ano de Ciro que foram dadas as visões de Daniel
(Daniel 10, 11, 12). Daniel “foi prosperado” por causa de suas profecias
(Ed_1:1-2).
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 65
Daniel 7

Vv. 1-28. A Visão dos Quatro Animais.


Este capítulo trata o mesmo tema que o segundo capítulo. Mas lá os
quatro reinos e o reino final do Messias, consideraram-se quanto a seus
aspectos políticos externos, mas aqui quanto à mente de Deus a respeito
deles e seus rasgos morais. A história política externa em suas linhas
gerais tinha sido mostrada ao governante mundial, cuja situação o
capacitou para receber tal revelação. Mas aqui, o profeta de Deus recebe
manifestações quanto aos caracteres dos poderes do mundo, do ponto de
vista religioso, adequadas à posição dele e à sua capacidade de as
receber. De modo que no segundo capítulo, as imagens são tomadas da
esfera inanimada, enquanto que no sétimo se tomam da esfera de seres
animados.
Nabucodonosor viu superficialmente o poder mundial como uma
figura humana esplêndida, e o reino de Deus como uma pedra no
princípio. Agora Daniel vê os poderes mundiais em sua essência interna,
como da natureza animal inferior mais baixa que a humana, estando
afastado de Deus; e que só no reino de Deus (“o Filho do homem” o
homem representativo) é realizada a verdadeira dignidade do homem.
Então, contrastado com a visão de Nabucodonosor, o reino de Deus
aparece a Daniel, desde o princípio, superior ao reino mundial. Na força
física os animais superam o homem, porque o homem tem poderes
essencialmente espirituais. A imagem colossal de Nabucodonosor,
representa o homem em seu próprio poder, mas só o homem externo.
Daniel vê o homem degradado espiritualmente ao nível animal, guiado
por impulsos cegos, por causa de seu afastamento de Deus. Só de cima
vem o perfeito Filho do homem, e no Seu reino o homem chega a seu
verdadeiro destino. Compare-se o Salmo 8 com Gn_1:26-28. A
humanidade é impossível sem a divindade: desce à bestialidade (Sl_32:9;
Sl_49:20; Sl_73:22). As nações pagãs obstinadas, comparam-se com
“touros” (Sl_68:30). Egito com o dragão no Nilo (Is_27:1; Is_51:9;
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 66
Ez_29:3). O animal com toda sua astúcia sempre olha ao solo, sem
conhecer nenhuma relação com Deus. O que eleva o homem, é a
comunhão com Deus, em voluntária sujeição a Ele. No momento que
busca exaltar-se a si mesmo para ser independente de Deus, como
Nabucodonosor (Dn_4:30), desce até o nível da besta. O conhecimento
que teve Daniel, das figuras colossais de animais em Babilônia e Nínive,
foi uma preparação psicológica para suas visões de animais. A passagem
de Os_13:7-8, vinha-lhe à mente enquanto contemplava aqueles
símbolos do poder mundial. Veja-se Jr_2:15; Jr_4:7; Jr_5:6.
1. Belsazar — os bons manuscritos hebraicos têm “Belsazar”, que
quer dizer “Bel devem ser queimado com fogo hostil” (Jr_50:2;
Jr_51:44). Na história chama-se por seu nome comum; e na profecia,
que dá seu destino verdadeiro, chama-se por seu nome correspondente
mediante a mudança de uma letra.
visões ante seus olhos — não “sonhos” confusos, mas sim imagens
distintas vistas enquanto sua mente estava tranquila.
a suma — um resumo. Nas predições, geralmente os detalhes não
constam tão completos como para não deixar lugar para o livre exercício
da fé, e a espera paciente para que Deus manifeste Sua vontade no
acontecimento. Ele o “escreveu” para os crentes de todos os tempos; ele
o “relatou” para o consolo de seus compatriotas cativos.
2. os quatro ventos — que correspondem aos “quatro animais” e
seus variados conflitos nas quatro direções do mundo.
combatiam (RC) — estalaram (do abismo) [Maurer].
mar — os poderes mundiais surgem dentre as agitações do mar
político (Jr_46:7-8; Lc_21:25; veja-se Ap_13:1; Ap_17:15; Ap_21:1); o
reino de Deus e o Filho do homem vêm das nuvens do céu (v. 13; veja-se
Jo_8:23). Tregelles crê que “o mar Grande” quer dizer, como sempre em
outras partes das Escrituras (Js_1:4; Js_9:1), o Mediterrâneo, o centro
territorial dos quatro reinos da visão, com o qual todos são limites, e que
têm sujeita a si a Jerusalém. Babilônia não limitava com o Mediterrâneo,
nem governava a Jerusalém, senão até o tempo de Nabucodonosor,
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 67
quando sucederam ambas as coisas simultaneamente. Pérsia encerrava
mais este mar, quer dizer, do Helesponto até Cirene. Grécia não chegou
a ser monarquia antes do tempo de Alexandre, mas logo, sucedendo a
Pérsia, chegou a ser proprietária de Jerusalém. Encerrou ainda mais o
Mediterrâneo, acrescentando as costas da Grécia à parte possuída por
Persis. Roma, sob Augusto, realizou três coisas de uma vez: chegou a ser
monarquia; chegou a ser proprietária da última das quatro partes do
império de Alexandre (simbolizado pelas quatro cabeças do terceiro
animal), e de Jerusalém; Roma encerrou todo o Mediterrâneo.
3. animais — não “animais viventes”, como os quatro querubínicos
de Ap_4:7 (porque o original é uma palavra diferente de “animais”, que
deveria traduzir-se “animais viventes”). Os querubínicos animais
viventes representam a homens redimidos, combinando em si as formas
mais elevadas da vida. Mas os “animais” aqui representam os poderes
mundiais, em seu caráter bestial e servil. É sobre a harmonia
fundamental entre a natureza e o espírito; entre os três reinos da
natureza, a história e a revelação, em que descansa o simbolismo das
Escrituras. A seleção dos símbolos não é arbitrária, mas sim baseada na
essência das coisas.
4. leão — o símbolo da força e a coragem; o principal entre os
reinos, como o leão entre os animais. Nabucodonosor é chamado “o
leão” (Jr_4:7).
asas de águia — que dá a entender um império extenso e
rapidamente adquirido (Is_46:11; Jr_4:13; Lm_4:19; Hb_1:6).
arrancadas — sua capacidade para conquistas longínquas
desapareceu sob Evil-Merodaque, etc. [Grocio]. Mais particularmente,
durante o tempo em que Nabucodonosor foi privado do trono, durante
sua loucura.
foi levantado da terra — levantado de sua posição rasteira.
posto em dois pés, como homem — enquanto Nabucodonosor, em
soberba altiva, confiava em seu próprio poder, perdia a verdadeira
dignidade de homem, e foi portanto rebaixado ao nível dos animais.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 68
Veja-se Dn_4:16: “Seja mudada a sua mente, para que não seja mais a de
homem, e lhe seja dada mente de animal”. Mas depois que aprendeu por
meio desta disciplina dolorosa, que “o Altíssimo tem domínio sobre o
reino dos homens” (Dn_4:17, 37), fez-se uma mudança à inversa, “foi
dado coração de homem em lugar de seu coração anterior de animal, e o
rei chega à verdadeira posição de homem, a de ser conscientemente
dependente de Deus.” Veja-se Sl_9:20.
5. urso — que simboliza a vida austera dos persas em suas
montanhas, como também sua crueldade (Is_13:17-18; Cambises, Oco e
outros dos príncipes persas eram notavelmente cruéis; as leis persas
complicavam pela ofensa de um homem, a toda sua parentela e
vizinhança em destruição, Dn_6:24) e em rapacidade. “O urso é um
animal que tudo devora” [Aristóteles, 8:5]. (Jr_51:48, Jr_51:56)
se levantou sobre um dos seus lados — O hebraico diz: “Levantou
um domínio.” Os medos, povo antigo, e os persas tribo moderna,
formaram uma soberania unida em contraste com os reinos terceiro e
quarto, originalmente um, e mais tarde dividido. A Versão Almeida: “se
levantou sobre um dos seus lados”, é o resultado da pequena mudança de
uma letra. Então a ideia seria: “estava deitado sobre uma perna e
levantado sobre a outra”; figura que ainda se vê sobre uma pedra de
Babilônia (Munter, Religion of Babylon, 112); dando a entender um
reino que tinha estado tranquilo, mas agora levantando-se para
conquistas. Média é o lado inferior, passividade; Pérsia, o lado
levantado, o elemento ativo [Auberlen]. As três costelas em sua boca são
Média, Lídia e Babilônia, colocadas sob o poder da Pérsia. Antes,
Babilônia, Lídia e Egito, não propriamente parte do corpo, mas tomadas
pela Medo-Pérsia. [Sir Isaque Newton]. Chamadas “costelas” porque
fortaleciam ao império medo-persa. “Entre seus dentes” como sendo
muito moídas por ele.
devora muita carne — quer dizer, subjuga muitas nações.
6. leopardo — menor que o leão; veloz (Hb_1:8); cruel (Is_11:6), o
contrário de manso; que salta repentinamente de seu esconderijo sobre
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 69
sua presa (Os_13:7); manchado. Assim Alexandre, um rei pequeno de
um reino pequeno, Macedônia, atacou a Dario cabeça de um vasto
império que se estendia desde o mar Egeu até as Índias. Em doze anos
subjugou parte da Europa e toda a Ásia desde o Ilírico e o Adriático até o
rio Ganges, nem tanto pelejando como conquistando. [Jerônimo].
Portanto, enquanto que se representa a Babilônia com duas asas,
Macedônia tem quatro, porque suas conquistas foram tão rápidas. As
“manchas” representam as distintas nações incorporadas em seu império
[Bochart]; ou as mesmas variações no caráter de Alexandre, uma vez
manso, logo cruel, ora moderado, ora bêbado e dissoluto.
quatro cabeças — explicado no Dn_8:8, 22; os quatro reinos dos
diádocos ou “sucessores”, entre os quais foi dividido o império por
ocasião da morte de Alexandre: Macedônia e Grécia sob Cassandro,
Trácia e Bitínia sob o Lisímaco, Egito sob Ptolomeu, e Síria sob Seleuco.
foi-lhe dado domínio — por Deus; não pelo poder de Alexandre.
Porque quão improvável foi que 30.000 homens derrotassem a várias
centenas de milhares! Josefo (Antiguidades, 11:6) diz que Alexandre
adorou ao sumo sacerdote de Jerusalém, dizendo que em Dium,
Macedônia, tinha visto uma visão de Deus vestido como sacerdote, o
qual o convidou a ir à Ásia e lhe prometeu êxito.
7. Como Daniel vivia sob o reino do primeiro animal, por isso não
precisava descrevê-la; como a segunda e terceira se descrevem
completamente na segunda parte do livro, a ênfase principal cai sobre a
quarta. Também a profecia detém-se sobre o fim, que é a consumação
das séries de acontecimentos anteriores. Só na quarta série o poder
mundial manifesta plenamente sua natureza contrária a Deus. Enquanto
que os três e primeiros reinos se designaram respectivamente como leão,
urso e leopardo, não se especifica nenhum animal como a imagem do
quarto; porque Roma é tão terrível, que não se pode descrever por
nenhum, mas combina em si tudo o que possamos imaginar como
indescritivelmente feroz em todos os animais. Então três vezes (vv. 7, 19,
23) repete-se que a quarta era “diferente de todos os animais”. À modo
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 70
de introdução: “olhando nas visões”, ocorre aqui como no v. 2 e outra
vez no v. 13, assim dividindo a visão toda em três partes: a primeira, que
abrange os três reinos, a segunda o quarto reino e sua ruína, e a terça
parte, o reino do Messias. Os três primeiros reinos se estendem por uns
poucos séculos; o quarto, milhares de anos. Toda a metade inferior da
imagem em Daniel 2 dedica-se ao quarto reino. E enquanto que os outros
reinos consistem num só material, este consiste em dois, ferro e argila
(sobre os quais se faz muita ênfase, Dn_2:41-43); os “grandes dentes de
ferro” aqui se referem a um dos materiais do quarto reino da imagem.
dez chifres — É com a crise do quarto reino, , antes, que com o
curso, que este capítulo sete tem que ver. Os dez reis (v. 24, os “chifres”
representam poder), quer dizer, reinos, em que Roma foi dividida
quando incorporou as tribos germânicas e eslavas, e novamente na
Reforma, são indicados aqui, conforme creem muitos. Mas a variação da
preparada de dez e seu desconhecimento completo da metade oriental do
império, e a existência do papado antes do desmembramento do império
ocidental, em vez de que surja o “chifre pequeno” depois dos outros dez,
estão contra esta opinião. O império ocidental continuou até o ano 731, e
o oriental até 1453. Os dez reinos, pois, simbolizados pelos dez “dedos”
(veja-se Ap_13:1; Ap_17:12; com o Dn_2:41) são os dez reinos em que
será dividida Roma finalmente, quando aparecer o Anticristo.
[Tregelles.] Estes provavelmente são prefigurados pelo número dez, que
era aquele que prevalecia no momento da mudança principal da história
romana.
8. chifre, pequeno (NVI) — no princípio pequeno, mas mais tarde
crescendo para ser maior que todos os outros. Ele deve ser buscado
“entre eles”. O império romano não se representava a si mesmo como
uma continuação do de Alexandre; mas o império germânico chama-se a
si mesmo “O Santo Império Romano”. A monarquia universal tentada
por Napoleão, era declaradamente romana: o filho dele era chamado o
rei de Roma. O czar da Rússia (czar vem de “César”) também professava
representar a metade oriental do império romano. A civilização, a igreja,
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 71
o idioma e lei romanos, são os elementos principais da civilização
germânica. Mas o elemento românico busca império universal, enquanto
que o elemento germânico busca a individualização. Por isso as
monarquias universais tentadas pelo papado, Carlos Magno, Carlos V e
Napoleão fracassaram, pois o ferro não se amalgama com a argila. No rei
simbolizado pelo “chifre pequeno”, o espírito do mundo, soberbo,
contrário a Deus, representado pela quarta monarquia, acha seu
desenvolvimento mais intenso. “O homem do pecado”, “o filho da
perdição” (2Ts_2:3). O anticristo (1Jo_2:18, 1Jo_2:22; 1Jo_4:3). É a
evolução completa do mau princípio introduzido pela queda.
três dos primeiros chifres foram arrancados — O Exarcado de
Ravena, o reino dos lombardos e o estado de Roma, que constituíam o
princípio dos domínios do papa; conseguidos pelos Papas Zacarias e
Estêvão II, em troca de reconhecer ao usurpador Pepino como rei
legítimo da França [Newton]. Veja-se as objeções de Tregelles, v. 7,
“dez chifres”, Nota. O “chifre pequeno”, segundo ele, deve ser o
Anticristo, quem se levantará três anos e meio antes do segundo advento
de Cristo, tendo derrubado primeiro a três dos dez reinos
contemporâneos, entre os quais a quarta monarquia, sob a qual estamos
vivendo, será finalmente dividida. Parece que o papismo é um
cumprimento da profecia em muitos detalhes, como o Papa pretende ser
um deus sobre a terra e superior a todos os domínios terrestres; mas o
espírito do Anticristo, prefigurado pelo papismo, provavelmente
culminará num indivíduo, quem será destruído à chegada de Cristo;
aquele será o produto dos poderes políticos mundiais, enquanto que o
papismo, que prepara o caminho para o Anticristo, é uma igreja feita
mundana.
olhos de homem — Os olhos expressam inteligência (Ez_1:18);
assim (Gn_3:5) foi a promessa da serpente, que os olhos do homem
“seriam abertos”, se ele se rebelasse contra Deus. O Anticristo
consumará a apoteose de si mesmo, começada na queda, uma cultura
intelectual alta, independente de Deus. Os metais que representam a
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 72
Babilônia e Medo-Pérsia, ouro e prata, são mais preciosos que o bronze e
o ferro, que representam a Grécia e Roma; mas estes metais são mais
úteis à civilização (Gn_4:22). A argila, que representa o elemento
germânico, é o material mais plástico. Há um progresso na cultura; mas
este não é necessariamente um progresso na dignidade mais verdadeira
do homem, quer dizer, sua união e semelhança a Deus. Ao contrário,
aquele progresso o levou para mais longe de Deus, a uma confiança em
si mesmo e ao amor do mundo. Os princípios da civilização eram entre
os descendentes de Caim (Gn_4:17-24; Lc_16:8). Antíoco Epifânio, o
primeiro Anticristo, veio da Grécia civilizada e era amante da arte.
Assim como a civilização helênica produziu o primeiro Anticristo, assim
a civilização moderna sob a quarta monarquia produzirá o último
Anticristo. A “boca” e os “olhos” são os do homem, enquanto que o
símbolo no resto é brutal; usurpará a verdadeira dignidade do homem,
quer dizer, usará a máscara do reino de Deus (o qual vem como o Filho
do homem de cima), enquanto que é na realidade bestial, afastado de
Deus. O Anticristo promete as mesmas coisas que Cristo, mas de uma
maneira contrária. Será uma caricatura de Cristo, que oferecerá um
mundo regenerado sem a cruz de Cristo. Babilônia e Pérsia em sua
religião tiveram mais reverência pelas coisas divinas que a Grécia e
Roma nas etapas imperiais de sua história. O coração humano dado a
Nabucodonosor (Dn_4:16) ao arrepender-se, faz contraste com os olhos
humanos do Anticristo, o falso filho do homem, quer dizer, a cultura
intelectual, enquanto que o coração e a boca blasfemarão de Deus. A
deterioração política corresponde: o primeiro reino, uma unidade
orgânica; o segundo, dividido entre medos e persas; o terceiro faz quatro
ramos; e o quarto, em dez divisões. Os dois reinos orientais são
assinalados por metais mais nobres; os dois ocidentais, por metais mais
desprezíveis; a individualização e divisão aparecem nestes; e são estes os
que produzem os dois Anticristos.
9. Continuei olhando, até que — continuava olhando até, etc.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 73
foram postos uns tronos — Antes, “tronos foram postos” [A
Vulgata e Lutero], quer dizer, para os santos e anjos aos quais “foi dado
o juízo” (v. 22), como assessores do Juiz. Veja-se o v. 10, “milhares de
milhares o serviam” (Mt_19:28; Lc_22:30; 1Co_6:2-3; 1Tm_5:21;
Ap_2:26; Ap_4:4). Na Versão inglesa os tronos tombados são aqueles
dos reis previamente mencionados que dão lugar ao Messias.
Ancião de Dias — “O pai eterno” (Is_9:6). Ele é o juiz aqui, como
o Filho não julga em Sua própria causa, e é a Sua causa que está por
apresentar-se contra o Anticristo.
se assentou — a atitude do juiz que está para dar sua sentença.
veste era branca — que indica a pureza judicial de Juiz e de todas
as coisas junto a Ele (Ap_1:14).
suas rodas — como os tronos orientais se movem sobre rodas.
Como a chama veloz, os juízos de Deus são mais rápidos em cair onde
Ele quer (Ez_1:15-16). O juízo aqui não é o juízo final, porque então não
haverá animal, e o céu e a terra passaram; mas é aquele contra o
Anticristo (o último desenvolvimento do quarto reino), típico do juízo
final: Cristo vindo para substituir o reino milenial de glória pelo da cruz
(Ap_17:12-14; Ap_19:15-21; Ap_11:15).
10. milhares de milhares o serviam — assim foi ao ser dada a lei
(Dt_33:2; Sl_68:17; Hb_12:22; Jd_1:14).
miríades de miríades ... diante dele — semelhança tomada do
Sinédrio, no qual o pai do consistório se sentava com seus assessores a
cada lado, em forma de semicírculo, e o povo de pé diante dele.
assentou-se o tribunal — os juízes se assentavam de costume
(Ap_20:4).
se abriram os livros — (Ap_20:12). Uma imagem forense: todos
os documentos da causa a tratar-se, quanto à condenação do Anticristo e
seu reino, e o estabelecimento do reino messiânico. A sentença tem que
pronunciar-se contra o mundo como sob a maldição, antes que venha a
glória; mas o Anticristo oferece a glória sem a cruz, um mundo renovado
sem que o mundo seja julgado.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 74
11. Aqui se apresenta a execução sobre a terra, do juízo
pronunciado na invisível corte celestial de justiça (vv. 9, 10).
corpo … entregue … queimado pelo fogo (RC) — (Ap_19:20).
12. Os “outros animais”, quer dizer, os três primeiros não se tinham
ido mediante juízos diretos destrutivos, tais como os que consumiram o
chifre pequeno, por ser este o mal completamente amadurecido da quarta
besta. Aqueles continuavam existindo, mas “foi-lhes tirado o domínio”;
enquanto que o quarto animal deixou completamente de ser, sendo
invalidado pelo reino do Messias.
até certo tempo — Não só o triunfo dos animais sobre os crentes,
mas também a própria existência deles está limitada a um tempo
definido, e aquele tempo será o justamente conveniente (veja-se
Mt_24:22). Provavelmente um período definido é indicado por “até certo
tempo” (veja-se v. 25; Ap_20:3). É surpreendente que a quarta
monarquia, embora cristianizada durante os 1500 anos passados, não se
distinga das anteriores monarquias pagãs, nem da parte pagã de si
mesma. Com efeito, representa-se como a mais contrária a Deus que
todas e que culmina no final no blasfemo Anticristo. O motivo disso é
que o reino de Cristo agora não é deste mundo (Jo_18:36), e só no
segundo advento de Cristo deverá ser um poder externo do mundo. Por
isso Daniel, cuja missão foi profetizar a respeito dos poderes mundiais,
não trata do cristianismo enquanto este não chegar a ser um poder
mundial, na segunda vinda de Cristo. O reino de Deus é um reino
escondido enquanto não Jesus vier outra vez (Rm_8:17; Col_3:2-3;
2Tm_2:11-12). Roma era mundana enquanto era pagã, e ficou mundana,
embora foi cristianizada. Então o Novo Testamento contempla o atual
“eón” ou idade do mundo como essencialmente pagão, o qual não
podemos amar sem abandonar a Cristo (Rm_12:2; 1Co_1:20; 1Co_2:6,
1Co_2:8; 1Co_3:18; 1Co_7:31; 2Co_4:4; Gl_1:4; Ef_2:2; 2Tm_4:10;
veja-se 1Jo_2:15, 1Jo_2:17). O objetivo do cristianismo não é tanto o de
cristianizar o mundo presente como o de salvar almas dentre o mundo,
para que não sejam condenadas com o mundo (1Co_11:32), mas sim
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 75
reinem com Ele em Seu milênio (Mt_5:5; Lc_12:32; Lc_22:28-30;
Rm_5:17; 1Co_6:2; Ap_1:6; Ap_2:26-28; Ap_3:21; Ap_20:4). Esta deve
ser a nossa esperança, não a de reinar no atual curso do mundo
(1Co_4:8; 2Co_4:18; Fp_3:20; Hb_13:14). Tem que haver uma
“regeneração” do mundo, como do indivíduo, uma morte prévia a uma
ressurreição, uma destruição dos reinos mundiais antes que possam
surgir de novo como os reinos de Cristo (Mt_19:28). Até o milênio não
desarraigará completamente a corrupção do mundo, e virão outra
apostasia e outro juízo (Ap_20:7-15) no qual o mundo da natureza tem
que ser destruído e renovado, assim como foi o mundo da história antes
do milênio (2Pe_3:8-13); logo virão o perfeito mundo e céus perfeitos
(Ap_21:1). Assim há um progresso constante, e o cristão está esperando
a consumação (Mc_13:33-37; Lc_12:35-36, Lc_12:40-46; 1Ts_1:9-10),
também está “esperando” a seu Senhor. (Hb_10:13).
13. Filho do Homem — (Veja-se Nota, Ez_2:1). Não meramente
Filho de Davi, e Rei de Israel, mas sim Cabeça da humanidade
restaurada (que corresponde com o amplo horizonte da profecia de
Daniel); a semente da mulher, que esmagará o Anticristo, a semente da
serpente, segundo o proto-evangelho no Paraíso (Gn_3:15). O homem
representativo então realizará o destino original do homem como Cabeça
da criação (Gn_1:26, Gn_1:28); o centro de unidade para Israel e os
gentios. A besta, que tomada conjuntamente representa as quatro bestas,
sobe do mar (Dn_7:2; Ap_13:1); o Filho do homem desce do “céu”,
Satanás, como serpente, é a cabeça representativa de todo o bestial; o
homem, seguindo à serpente, veio a ser bestial. Deus, pois, devem vir a
ser homem, para que o homem deixe de ser bestial. Quem quer que
rejeite ao Deus encarnado, será julgado apenas pelo Filho do homem,
porque Ele é o Filho do homem (Jo_5:27). Este título sempre se associa
com Sua nova vinda, porque o reino que O espera então, é aquele que
Lhe pertence como o Salvador do homem, o Restaurador da herança
perdida. “Filho do homem” expressa seu estado VISÍVEL, antes em Sua
humilhação, mais tarde em Sua exaltação. Ele “dirigiu-se ao Ancião de
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 76
Dias” para ser investido de Seu reino. Veja-se Sl_110:2; “O SENHOR
enviará de Sião o cetro do seu poder (o Messias).” Esta investidura foi
em Sua ascensão “sobre as nuvens do céu” (At_1:9; At_2:33-34; Sl_2:6-
9; Mt_28:18), que é uma garantia de Sua volta “assim” “sobre as
nuvens” (At_1:11; Mt_26:64), e “com as nuvens” (Ap_1:7). O reino foi
dado então em titulo e exercício invisível; a Sua segunda vinda será em
administração visível. Ele o justificará pelo desgoverno daqueles que o
receberam para o ter por Deus e sob Ele, mas que desconheciam Sua
supremacia. O Pai sustentará Seu direito pelo Filho, o herdeiro, quem o
terá para Ele (o Pai) (Ez_21:27; Hb_1:2; Ap_19:13-16). Tregelles crê
que a investidura aqui antecede imediatamente à próxima vinda de
Cristo; porque está sentado à mão direita de Deus até que Seus inimigos
sejam postos como estrado de seus pés, então é dado o reino ao Filho em
Sua real investidura, e Ele virá para esmagar o estrado preparado para
Seus pés. Mas as palavras “nas nuvens” e o poder universal, realmente
Lhe é dado, embora será invisível naquele então (Ef_1:20-22), concorda
melhor com Sua investidura na ascensão, a qual, na visão profética salta
acima do intervalo de idades, é a precursora de Sua vinda visível para
reinar, como não sucede nenhum acontecimento de importância no
intervalo.
15. meu corpo (AV) — lit., “a vagem”, como o corpo é a vagem da
alma.
17. reis — quer dizer, reinos, Veja-se v. 23, “o quarto reino”;
Dn_2:38; 8:20-22. Cada um dos quatro reis representa uma dinastia.
Nabucodonosor, Alexandre, Antíoco e o Anticristo, embora
mencionados individualmente, são representantes de tendências
características
18. do Altíssimo — o título enfático de Deus nesta profecia, quem
delega Seu poder primeiro a Israel, e logo aos gentios (Dn_2:37, 38),
quando Israel deixa de realizar o ideal da teocracia; e finalmente, ao
Messias, quem reinará verdadeiramente em lugar de Deus, recebendo o
domínio dos poderes gentios mundiais, cuja história é uma história da
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 77
degeneração contínua que culmina no último dos reis, o Anticristo. Aqui
na interpretação, são “os santos” aqueles que tomam o reino, mas na
visão (vv. 13, 14), é o Filho do homem quem toma; porque Cristo e Seu
povo são um no sofrimento e um na glória. Tregelles traduz “lugares
muito altos” (Ef_1:3; Ef_2:6). Embora os santos são oprimidos pela
besta e o chifre pequeno, eles não pertencem à terra de onde se levantam
os quatro animais, mas sim aos lugares muito altos.
19. Balaão, arameu, habitante sobre o Eufrates, no começo da
história independente de Israel, e Daniel no final dela, profeticamente
exibem aos poderes mundiais hostis, a Israel como triunfante sobre eles
no fim, embora os poderes mundiais do Oriente (Assur) e do Ocidente
(Quitim) atropelem tudo o que está diante deles e afligem a Héber (ou
Israel) por um tempo (Nm_23:8-10, Nm_23:28; Nm_24:2, Nm_24:7-9,
Nm_24:22-24). Ao “Assur” de Balaão correspondem os dois reinos
orientais de Daniel, Babilônia e Medo-Pérsia; e “Quitim”, os dois reinos
ocidentais, Grécia e Roma (Veja-se Gn_10:4, Gn_10:11, Gn_10:22). Em
Babel, Ninrode o caçador (rebelde) funda o primeiro reino do mundo
(Gn_10:8-13). O poder mundial babilônico assume a corrente de história
interrompida na edificação da torre, e o reino de Ninrode. Assim como
em Babel, assim também em Babilônia o mundo se une contra Deus;
Babilônia, o primeiro poder mundial, deve ser o tipo do mundo que se
opõe a Deus. A quarta monarquia consuma a maldade; ela é “diferente”
das demais só na universalidade mais ilimitada. As três primeiras não
eram monarquias universais no sentido mais completo. A quarta o é; de
sorte que nela o princípio de oposição a Deus acha seu pleno
desenvolvimento. Toda a história se move dentro das nações românicas,
germânicas e eslavas; continuará assim até o segundo advento de Cristo.
A quarta monarquia representa ao universalismo exteriormente; o
cristianismo o representa interiormente. Roma é Babilônia plenamente
desenvolvida. É o poder mundial que corresponde em contraste com o
cristianismo, e portanto contemporâneo com ele (Mt_13:38; Mc_1:15;
Lc_2:1; Gl_4:4).
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 78
20. parecia mais robusto do que os seus companheiros — quer
dizer, que o de outros chifres.
21. fazia guerra contra os santos — perseguia os crentes de Cristo
(Ap_11:7; Ap_13:7).
prevalecia contra eles — mas não finalmente. O limite está
assinalado por “até que” (v. 22). O chifre pequeno continuará, sem
interrupção, a perseguir até a segunda vinda de Cristo (Ap_17:12,
Ap_17:14; Ap_19:19-20).
22. Ancião de Dias — o título dado ao Pai no v. 13, aqui se refere
ao Filho; quem se chama “Pai eterno” (Is_9:6). Nunca se diz que o Pai
“vem”; é o Filho quem vem.
foi dado o juízo aos santos (RC) — juízo inclui governo; o “reino”
no fim deste versículo (1Co_6:2; Ap_1:6; Ap_5:10; Ap_20:4). Cristo
primeiro recebe “juízo” e o “reino”, logo os santos com Ele (vv. 13, 14).
24. dez chifres — que correspondem aos dez “dedos” (Dn_2:41).
daquele mesmo reino — dentre o quarto reino se levantam outros
dez, seja qual for o território exterior que possua algum deles (Ap_13:1;
Ap_17:12).
depois deles, se levantará outro — mas contemporâneo com eles;
os dez são contemporâneos. O Anticristo se levanta depois deles, no
princípio “pequeno” (v. 8); mas depois de destruir três dos dez, ele deve
ser maior que todos eles (vv. 20, 21). Tendo-se ido os três, ele deve ser o
oitavo (veja-se Ap_17:11); cabeça distinta, mas “dos sete”. Assim como
os poderes mundiais anteriores tiveram suas respectivas cabeças
representativas (Babilônia, Nabucodonosor; Pérsia, Ciro; Grécia,
Alexandre), assim o quarto reino e seus Anticristos terão sua maldade
concentrada num Anticristo final. Assim como Antíoco Epifânio, o
Anticristo do terceiro reino em Daniel 8, era o inimigo pessoal de Deus,
assim o Anticristo final do quarto reino, será seu antítipo. A igreja sofreu
uma perseguição pagã e perseguição papal; fica para ela uma
perseguição atéia geral, que a purificará e cimentará. [Cecil]. Não
somente ficará em lugar de Cristo, em nome de Cristo, como faz o
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 79
papismo, mas sim “nega o Pai e o Filho” (1Jo_2:22). A perseguição deve
continuar até a segunda vinda de Cristo (vv. 21, 22); por isso o chifre de
blasfêmia não pode ser passado; porque atualmente há quase uma
cessação completa de perseguição.
25. Três atributos do Anticristo se especificam: (1) A civilização e
sabedoria mundanas mais elevadas. (2) A união de todo o mundo baixo
seu domínio. (3) O ateísmo, antiteísmo e autoteísmo em seu
desenvolvimento mais completo (1Jo_2:22). Portanto, não só é o poder
tirado da quarta besta, como no caso dos outros três, mas sim Deus
destrói o poder mundial em geral, por um juízo final. O atual
cristianismo externo devem dar lugar a uma apostasia quase universal.
pensará — lit., “levará dentro de si como se fosse uma carga de
pensamento”.
mudar os tempos — prerrogativa só de Deus (Dn_2:21); blasfêmia
assumida pelo Anticristo. “Os tempos e a lei” aqui querem dizer os de
ordenanças religiosas; tempos estabelecidos de festas. [Maurer]. Talvez
existem incluídos os tempos atribuídos por Deus para a duração dos
reinos. Ele se levanta contra tudo o que chama-se deus (2Ts_2:4),
impondo sua própria “vontade” acima dos tempos e as leis estabelecidos
por Deus (Dn_11:36, 37). Mas os “tempos” de sua perversidade são
limitados por amor dos escolhidos (Mt_24:22).
os santos lhe serão entregues nas mãos — para ser perseguidos.
tempo, dois tempos e metade de um tempo — um ano, dois anos
e meio ano: três anos e meio, ou seja 1.260 dias (Ap_12:6, Ap_12:14);
quarenta e dois meses (Ap_11:2-3). Que sejam literalmente três anos e
meio o termo da perseguição pelo Anticristo, é favorecido por Dn_4:16,
23, onde a teoria de dia-ano seria impossível. Se a igreja, ademais,
tivesse sido informada que 1260 anos deveriam passar antes do segundo
advento, estaria fora de lugar a atitude de expectativa inculcada
(Lc_12:38; 1Co_1:7; 1Ts_1:9-10; 2Pe_3:12) devido à incerteza do
tempo. A palavra original “tempo” indica um período dado ou festa
estabelecida; ou o intervalo de uma festa fixa a sua repetição, quer dizer,
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 80
um ano [Tregelles]; Lv_23:4, “tempo determinado”; Lv_23:44, “festas”.
As passagens que favorecem a teoria de dia-ano são Ez_4:6 [RC; na RA:
Ez_4:7], onde cada dia dos quarenta que Ezequiel estava deitado sobre
seu lado direito, é definido por Deus como querendo dizer um ano. Veja-
se Nm_14:34, onde um ano de extravio no deserto foi fixado por cada
dia dos quarenta que os espias exploravam Canaã; mas os dias, nestes
dois casos, eram simplesmente o tipo ou a razão dos anos, os quais eram
anunciados como deviam ser cumpridos. Na parte profética de
Nm_14:34, os anos são literais. Se se aplicasse o sistema de dia-ano
nestes casos, seriam 14.400 anos! Em Ez_4:4-6, se dia quisesse dizer
ano, Ezequiel teria ficado deitado sobre seu lado direito quarenta anos!
O contexto aqui nos vv. 24, 25, não é simbólico. O Anticristo não mais é
chamado “chifre” mas um “rei” que subjuga a três dos dez reis (não
chamados mais “chifres”, vv. 7, 8). Assim em Dn_12:7, onde “tempo,
tempos e meio tempo” voltam a ocorrer, não há nada simbólico no
contexto. De modo que não há razão por que fossem assim os três anos e
meio.
Durante os quatro e primeiros séculos os “dias” se interpretavam
literalmente; um sentido místico dos 1.260 dias então começou. Walter
Brute sugeriu primeiro a teoria dia-ano no fim do século quatorze. Os
setenta anos do cativeiro babilônica preditos por Jeremias (Jr_25:12;
Jr_29:10) eram entendidos por Daniel (Dn_9:2) como anos literais, e não
simbólicos, o que teria sido 25.200 anos! [Tregelles.] É possível que a
teoria dia-ano e a teoria dia-dia sejam as duas verdadeiras. Os sete
(simbólicos) tempos das monarquias gentios (Lv_26:24) durante o
rechaço de Israel, terminarão nos sete anos do Anticristo. Os 1.260 anos
do desgoverno papal no nome de Cristo, podem ser representados por
três anos e meio de aberto anticristianismo e perseguição, antes do
milênio. Igrejas que testificam, poderão ser seguidas por indivíduos que
testifiquem ocupando aquelas o tempo mais longo, e estes o período
mais curto (Ap_11:3). O princípio dos 1:260 anos é fixado por Elliot
pelo ano 529 ou 533 d.C., quando o decreto do Justiniano reconheceu o
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 81
Papa João II como cabeça da Igreja. Por Lutero pelo ano 606, quando
Focas confirmou a concessão do Justiniano. Mas o ano 752 é a data mais
provável, quando começou o domínio temporal dos papas pela
concessão de Pepino a Estêvão II (pelo reconhecimento de seu título
como rei da França por Zacarias, o antecessor de Estêvão), confirmada
por Carlos Magno. Porque foi então que o chifre pequeno arrancou três
chifres, e assim veio a ser a prolongação do quarto reino secular.
[Newton]. Isto nos traria até o ano 2.000 depois de Cristo, sete mil anos
da criação. Mas Clinton fixa o ano 1.862 como o sétimo milenário, o que
poderá favorecer a data desde 529 d.C..
26. destruir ... consumir — uma dupla operação. O Anticristo tem
que ser gradualmente “consumido”, como o papado vem consumindo-se
há 400 anos, e especialmente em anos recentes. Ele será “arruinado”
subitamente por Cristo em Sua vinda; o homem do pecado, plenamente
desenvolvido (2Ts_2:3) ou o falso profeta que faz um último esforço
desesperado em aliança com a “besta” (Ap_16:13-14, Ap_16:16) ou o
poder secular do império romano, será destruído no Armagedom,
Palestina.
27. majestade dos reinos debaixo de todo o céu — quer dizer, o
poder que possuíam todos aqueles reinos, será tudo transferido ao reino
do Messias. “Debaixo de todo o céu” dá a entender que será um reino na
terra, não no céu.
ao povo dos santos do Altíssimo — os judeus, o povo com o qual
os santos mantêm uma relação especial. Os santos são reunidos dentre os
judeus e os gentios, mas o tronco da igreja é judio (Rm_9:24;
Rm_11:24); a fidelidade de Deus a esta igreja escolhida é assim
essencialmente fidelidade a Israel, e um objeto de Sua futura bênção
nacional. Cristo confirma este fato, embora reserva para si, ou para Seu
Pai, a data.
reino eterno — Se for eterno, como pode o reino aqui se referir a
um reino milenário? Resposta. Daniel viu o tempo inteiro de futura bem-
aventurança como um só período. A luz mais clara do Novo Testamento,
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 82
distingue o período inteiro, o milênio e o tempo dos novos céus e nova
terra (veja-se Ap_20:4 com 21:1 e 22:5). O reino de Cristo é “eterno”.
Nem mesmo o juízo final o terminará, mas só lhe dará uma aparência
mais gloriosa, quando a Nova Jerusalém descerá do céu, com o trono de
Deus e do Cordeiro dentro de si (veja-se Ap_5:9-10; Ap_11:15).
28. os meus pensamentos muito me perturbaram — mostrando
que o Espírito Santo pensava que muito mais devia compreender-se
pelas palavras de Daniel, pelo que Daniel mesmo entendeu. Não
devemos limitar o significado das profecias ao que os próprios profetas
entendiam (1Pe_1:11-12).
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 83
Daniel 8

Vv. 1-27. Visão do Carneiro e o Bode. Os 2.300 Dias em que o


Santuário Tinha Sido Pisado.
Com este capítulo começa a parte hebraica do livro, e continua
como o idioma do livro até o fim; como as visões têm a ver totalmente
com os judeus e Jerusalém. A cena aqui fica mais estreita, das profecias
de alcance mundial, às quais afetam só ao povo da aliança durante os
cinco séculos entre o cativeiro e a vinda de Cristo. O Anticristo tem um
futuro mais imediato assim como um mais remoto. A visão do capítulo 8
dá princípio, e a dos capítulos 10 a 12 termina o relato a respeito do
Anticristo do terceiro reino. Entre as duas visões, está colocado o
capítulo 9, a respeito do Messias e o povo da aliança no fim do meio
milênio (setenta semanas de anos).
1. uma visão — uma espécie de revelação superior ao sonho.
depois daquela que eu tivera a princípio — aquela em Dn_7:1.
2. Susã — embora naquele então fosse insignificante, foi destinada
a ser a capital da Pérsia depois do tempo de Ciro. Então Daniel é
transferido para lá, pois é a capital do reino assinalado pelo carneiro de
dois chifres (Ne_1:1; Et_1:2-5).
Elão — o original diz “Elão”, Pérsia ocidental, a leste de Babilônia
e ao sul da Média. Daniel não estava presente ali em pessoa, mas em
visão.
Ulai — chamado por Plínio “Euleo”; pelos gregos, “Choaspes”.
Perto do Kerah, ou Karasu. Assim em Dn_10:4 [RC] recebe uma visão
perto de outro rio, o Hidéquel. Assim como Ezequiel (Ez_1:1) no
Quebar. Talvez porque estavam acostumados a edificar as sinagogas
perto dos rios visto que antes de orar os judeus lavavam as mãos na água
[Rosenmuller], (Sl_137:1).
3. dois chifres — a palavra hebraica está no número dual, “dois
chifres”. “Chifre” no Oriente é símbolo de poder e realeza.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 84
um, mais alto do que o outro; e o mais alto subiu por último —
A Pérsia, que era de pouca importância até o tempo de Ciro, se tornou
então predominante sobre a Média, o reino mais antigo. Dario tinha
sessenta e dois anos quando começou a reinar (Dn_5:31); durante seu
reinado de dois anos, sendo ele um rei fraco (Daniel 6), o governo estava
quase completamente em mãos de Ciro. Por isso Heródoto não menciona
a Dario; mas Xenofonte o menciona sob o nome do Ciáxares II. O
“carneiro” daqui corresponde ao “urso” (Dn_7:5), que simboliza uma
firmeza tosca. O rei da Pérsia levava uma cabeça de carneiro com jóias
em lugar de diadema, como as que se veem nos pilares de Persépolis.
Também a palavra hebraica carneiro se deriva da mesma raiz que “Elão”
ou Pérsia. [Newton]. A frase “um chifre … mais alto que o outro”,
corresponde com o urso “que se levantava de um lado” (veja-se Nota.
Dn_7:5).
4. o carneiro dava marradas para o ocidente — A Pérsia
conquistou rumo ao oeste a Babilônia, Mesopotâmia, Síria, Ásia Menor.
a norte — Cólquide, Armênia, Ibéria e aos moradores sobre o Mar
Cáspio.
para o meio-dia (RC) — Judeia, Egito, Etiópia, Líbia; também a
Índia, sob Dario. Ele não diz a este, porque os próprios persas vieram do
Este (Is_46:11).
fazia conforme a sua vontade — (Dn_11:3, 16; veja-se Dn_5:19).
5. bode — Greco-Macedônia.
chifre notável — Alexandre. “Sem tocar no chão” dá a entender a
rapidez incrível de suas conquistas; invadiu a todo mundo em menos de
doze anos. O bode corresponde ao leopardo (Dn_7:6). Caranus, o
primeiro rei da Macedônia, diz-se, foi guiado por cabras a Edessa, a qual
fez sede de seu governo, chamada Ege, quer dizer, a cidade cabra.
6. o qual eu tinha visto diante do rio — Ulai. Ele foi ao “rio”
Grânico onde Alexandre pelejou sua primeira batalha vitoriosa contra
Dario, ano 334 a.C.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 85
7. foi movido de cólera contra ele (TB) — lit., “foi movido com
ira contra ele”. Alexandre representou a ira concentrada da Grécia contra
a Pérsia devido às invasões da Grécia pelos persas; também pela
crueldade persa aos gregos, e as tentativas de Dario de seduzir os
soldados de Alexandre à traição.
o lançou por terra — No ano 331 a.C. Alexandre derrotou a Dario
Codomano, e em 330 acendeu a Persépolis e completou a conquista da
Pérsia.
não houve quem pudesse livrar — nem as imensas hostes da
Pérsia puderam salvá-la contra o pequeno exército de Alexandre
(Sl_33:16).
8. na sua força, quebrou-se-lhe o grande chifre — O império
estava em sua plenitude de poder quando morreu Alexandre de febre em
Babilônia, e parecia naquele então o menos propenso a cair. Entretanto
foi “quebrado”. Seu irmão natural Filipe Arideus e seus dois filhos
Alexandre Ego e Hércules foram assassinados em quinze meses.
quatro chifres ... para os quatro ventos do céu — Seleuco, no
oriente, tomou Síria, Babilônia, Média, etc., Cassandro, no oeste, tomou
a Macedônia, Tessália, Grécia; Ptolomeu, no sul, ao Egito, Chipre, etc.;
Lisímaco, no norte, tomou a Trácia, Capadócia e as partes setentrionais
da Ásia Menor.
9. chifre pequeno — que não deve confundir-se com o chifre
pequeno do quarto reino em Dn_7:8. O chifre pequeno de Daniel 7 vem
como um décimo primeiro chifre depois de dez chifres anteriores. Em
Daniel 8 não é um quinto chifre independente, depois dos quatro
anteriores, mas sim surge dentre um dos quatro chifres existentes. * Este
chifre se explica (v. 23) como “um rei altivo de rosto”, etc. Antíoco
Epifânio é indicado. Grécia, com toda sua elegância, produz o primeiro
Anticristo, o do Antigo Testamento. Antíoco possuía um amor

*
Para ser exato, segundo o hebraico o texto de Dn_8:8, 9 (ver NVI, AV, etc.), o chifre pequeno veio
de um dos quatro ventos do céu. – Nota do Tradutor.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 86
extraordinário pela arte, o qual se expressou nos grandes templos que fez
construir. Quis substituir o Zeus Olímpico por Jeová em Jerusalém.
Deste modo a civilização pagã de baixo, e a religião revelada de acima,
chegaram a um conflito. Identificando-se com o Júpiter, seu propósito
foi o de tornar universal o culto a si mesmo (veja-se v. 25 com
Dn_11:36); tão louco estava com isto que era chamado Epímanes
(maníaco) em lugar do Epifânio. Nenhum dos governantes mundiais
anteriores: Nabucodonosor (Dn_4:31-34), Dario (Dn_6:27, 28), Ciro
(Ed_1:2-4), Artaxerxes Longímano (Ed_7:12), opuseram-se
sistematicamente ao culto religioso dos judeus. Daí a necessidade de
uma profecia que os preparasse para a vinda de Antíoco. A luta dos
Macabeus foi um fruto da profecia de Daniel (1Mc_2:59). Antíoco é o
precursor do Anticristo final, ocupando a mesma relação com a primeira
vinda de Cristo que o grande Anticristo, com a segunda vinda. Os
pecados de Israel que deram origem ao Anticristo grego, eram que
alguns judeus adotaram costumes gregos (veja-se Dn_11:30, 32),
erigindo teatros e considerando iguais todas as religiões, sacrificando a
Jeová, mas ao mesmo tempo enviando dinheiro para os sacrifícios a
Hércules. Tal será o estado do mundo quando estiver amadurecido para a
vinda do Anticristo. Nos vv. 9 e 23 a descrição passa do Antíoco literal a
rasgos que, parcialmente atribuídos àquele, são verdadeiros, em seu
sentido mais completo, só com relação a seu antítipo, o Anticristo do
Novo Testamento. Pode incluir-se também o Anticristo maometano,
correspondendo aos dos “cavalos” do Eufrates (turcos) (Ap_9:14-21),
soltos “uma hora, um dia, um mês, um ano” (391 anos, segundo a teoria
dia-ano), os quais deviam castigar aos cristãos idólatras. No ano 637 d.C,
foi fundada a mesquita maometana do Omar no lugar do templo, “o lugar
do seu santuário foi deitado abaixo” (Dn_8:11-13), e lá ainda permanece.
A primeira vitória dos turcos sobre os cristãos foi em 1281 d.C., e 391
anos depois que chegaram ao ponto culminante de seu poder e
começaram a decair, quando Sobieski os derrotou em Viena. Maomé II,
chamado “o conquistador”, reinou de 1451 a 1481 d.C., período no qual
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 87
caiu Constantinopla; os 391 anos depois chegam até nossos dias, quando
a queda da Turquia está iminente.
se tornou muito forte para o sul — (Dn_11:25). Antíoco lutou
contra Ptolomeu Filométer e Egito, quer dizer, rumo ao sul.
para o oriente — lutou contra os que buscaram uma mudança de
governo na Pérsia.
para a terra gloriosa — Judeia, “a terra gloriosa” (Dn_11:16, 41,
45; veja-se Sl_48:2; Ez_20:6, Ez_20:15). Seu principal rasgo como
“desejável” consistia em que era a terra do povo escolhido de Deus
(Sl_132:13 : Jr_3:19). A ela Antíoco fez sua invasão depois de sua volta
do Egito.
10. Cresceu até atingir o exército dos céus — explicado no v. 24,
“fortes e povo de santos”, quer dizer, os judeus (Dn_7:21) e seus
sacerdotes (veja-se Is_24:21). O serviço dos levitas é chamado “guerra”
(Margem, Nm_8:24-25). Os grandes poderes civis e religiosos são
simbolizados por “estrelas” (Mt_24:29). Veja-se 1Mc_1:25, etc.;
1Mc_2:35, etc.; 1Mc_5:2, 1Mc_5:12-13. Tregelles refere “estrelas”
àqueles judeus cuja porção da parte de Deus é glória celestial (Dn_12:3),
sendo crentes nAquele que está acima, à mão direita de Deus; não os
judeus cegados.
das estrelas lançou por terra — assim Babel (ou Babilônia), como
tipo do Anticristo, é descrito (Is_14:13-14); “Acima das estrelas de Deus
exaltarei o meu trono”. Veja-se Ap_12:4: 2Mc_9:10 quanto a Antíoco.
11. até ao príncipe do exército — quer dizer, o próprio Deus, o
Senhor de Sabaoth, as hostes do céu e da terra, estrelas, anjos e ministros
terrestres. Assim o v. 25, “levantar-se-á contra o Príncipe dos príncipes”;
“contra o Deus dos deuses” (Dn_11:38; veja-se Dn_7:8). Opõe-se não só
ao antigo povo de Deus, mas também ao próprio Deus.
o contínuo sacrifício (RC) — ofertado de amanhã e de tarde
(Êx_29:38-39).
foi tirado (RC) — por Antíoco (1Mc_1:20-50).
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 88
o lugar do seu santuário foi deitado abaixo — embora fossem
roubados os seus tesouros, não foi estritamente “lançado por terra” por
Antíoco. De modo que um cumprimento mais completo é futuro.
Antíoco tirou por uns anos os sacrifícios diários; os romanos, por muitas
idades, e “lançaram por terra” o templo; e o Anticristo, em cooperação
com Roma, o quarto reino, fá-lo-á outra vez, depois que os judeus em
sua própria terra, ainda incrédulos, o tiverem reedificado e restabelecido
o ritual mosaico, havendo-os entregue Deus “por causa das
transgressões” (v. 12), quer dizer, não aceitando o culto assim rendido
[Tregelles], e então, a oposição do “chifre” à “verdade” menciona-se
especificamente.
12. O exército — quer dizer, o povo santo foi entregue às suas
mãos. Assim no v. 10 usa-se “o exército”; e outra vez no v. 13, onde se
usa “põe” por “entregar” para destruição (veja-se Dn_11:6). [Maurer.]
o sacrifício contínuo (RC) — antes, (o exército foi entregue para
ser pisado), “junto com o contínuo sacrifício” (v. 13).
por causa das transgressões— 1Mc_1:11-16 atribui todas as
calamidades sofridas sob Antíoco à “prevaricação” de certos judeus que
tinham introduzido, imediatamente antes, costumes pagãos em
Jerusalém. Mas a “prevaricação” não se teria completado (v. 23) no
tempo de Antíoco; porque Onias, o sumo sacerdote, administrava as leis
piedosamente naquele então (2Mc_3:1). Portanto a “prevaricação” deve
referir-se à dos judeus que se estabeleceriam outra vez na Palestina
apesar de sua incredulidade.
a verdade — o culto ao Deus verdadeiro. Is_59:14, “a verdade
anda tropeçando pelas ruas”.
o que fez prosperou — tudo o que empreendia, prosperava (v. 4;
Dn_11:28, 36).
13. um santo — Daniel não conheceu os nomes dos dois santos
anjos, mas só viu que um falava com o outro.
Até quando durará a visão do contínuo sacrifício (RC) — Por
quanto tempo ficará suspenso o sacrifício diário?
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 89
transgressão assoladora — quer dizer, a profanação desoladora do
templo por Antíoco (Dn_11:31; 12:11). Veja-se quanto a Roma e o
último Anticristo. Mt_24:15.
14. Ele me disse — A resposta é para Daniel, não a quem fez a
pergunta em nome de Daniel, como o “santo” ou o “anjo” (Jó_15:15;
Sl_89:6-7), fala da visão concedida a Daniel, como se tivesse sido
concedida a ele mesmo. Os homens santos nas Escrituras se representam
como tendo anjos acompanhantes, com aqueles que eles em certo modo
se identificam em interesses. Se a conversação tivesse sido limitada aos
anjos, não teria podido ser de uso para nós. Mas Deus a comunica a
homens proféticos para nosso bem, por meio do ministério de anjos.
duas mil e trezentas tardes e manhãs — lit., “manhãs e tardes” ** ,
especificadas com relação aos sacrifícios da manhã e da tarde. Veja-se
Gn_1:5. São seis anos e 110 dias. Isto inclui não só os três anos e meio
durante os quais os sacrifícios diários eram proibidos por Antíoco
(Josefo, Guerras Judias, 1:1.1), mas sim toda a série de acontecimentos
durante os quais eram praticamente interrompidos, começando com “o
chifre pequeno … cresceu … rumo à terra gloriosa” e “parte do exército
do céu … lançou por terra” (vv. 9, 10); quer dizer, quando no ano 171
a.C., ou no mês Sivã do ano 142 da era dos selêucidas, começou-se a
descuidar os sacrifícios, devido ao fato de que o sumo sacerdote Jasom
introduzia em Jerusalém costumes e diversões gregas, a palestra e o
ginásio; terminando com a morte de Antíoco, ano 165 a.C., ou o mês
Sebate, no ano 148 da era selêucida. Veja-se 1Mc_1:11-15; 2Mc_4:9,
etc. A razão pela maior minúcia de atos e datas históricas, dada nas
profecias de Daniel, que no Novo Testamento, é que, não tendo Israel
ainda as vistas claras que temos os cristãos, a respeito da imortalidade e
a herança celestial, só podiam ser dirigidos para com um futuro terrestre;
porque era sobre a terra que devia aparecer o esperado Messias, e a soma
e tema da profecia do Antigo Testamento era o reino de Deus sobre a

**
Errado; é o contrário, no hebraico está ereb boqer, que significa “tarde manhã” – Nota do Tradutor.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 90
terra. A minúcia da revelação do destino terrestre de Israel, era para
compensar pela ausência no Antigo Testamento, de vistas da glória
celestial. Assim, em Daniel 9, os tempos do Messias são preditos até o
próprio ano; em Daniel 8 os tempos de Antíoco, até mesmo o dia; e em
Daniel 11, as lutas siro-egípcias em detalhes muito exatos.
Tregelles crê que os 2.300 dias correspondem com a semana de
anos (Dn_9:27), durante a qual o príncipe destruidor faz uma aliança que
ele viola no meio da semana (quer dizer, no fim de três anos e meio). Os
sete anos excedem aos 2.300 dias por muito mais de meio ano. Este
período do excedente dos sete anos sobre os 2.300 dias pode ser
destinado aos preparativos necessários para estabelecer o culto no
templo, com a permissão de Antíoco aos judeus restaurados, segundo sua
“aliança” com eles; os 2.300 podem contar-se desde o estabelecimento
do culto. Mas, diz Auberlen, quanto mais exatas, até o dia, sejam as
datas a respeito de Antíoco, tão menos deveríamos dizer que os 1.200, ou
1.335 dias (Dn_12:11, 12) correspondam com a meia semana (mais ou
menos), e os 2.300 com o todo. O acontecimento, entretanto, no caso do
Anticristo, poderá mostrar uma relação entre os dias dados aqui e em
Dn_9:27, tal como não é ainda aparente. O termo 2.300 dias, não pode
referir-se aos 2.300 anos, de que seria pisado o cristianismo pelo
maometismo, como isto deixaria a parte maior ainda futura; enquanto
que o maometismo está decaindo rapidamente. Se os … 2.300 dias
querem dizer anos, contando das conquistas de Alexandre, anos 334 a
323 a.C. chegaríamos como no fim do sexto milênio do mundo, assim
como os 1.260 anos (Dn_7:25) do decreto do Justiniano chegaria ao
mesmo fim. A tradição dos judeus representa o sétimo mil como o
milênio. Cumming observa que o ano 480 a.C., é a data do decaimento
do império persa diante da Grécia; restando 480 de 2.300, temos 1.820; e
em 1.821, a Turquia, a sucessora do império grego, começou a decair, e
a Grécia veio a ser um reino independente. Veja-se Nota, Dn_12:11.
purificado — lit., “justificado” vindicado da profanação. Judas
Macabeu celebrou a festa da dedicação depois da purificação, no dia
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 91
vigésimo quinto do nono mês, Quisleu (1Mc_4:51-58; 2Mc_10:1-7;
Jo_10:22). Quanto à dedicação antitípica do novo templo, veja-se
Ezequiel 43, etc.; também Am_9:11-12.
16. Gabriel — que quer dizer, “a fortaleza de Deus”.
17. se refere ao tempo do fim — lit., “(Será) o tempo do fim da
ira”. Assim no v. 19; Dn_11:35, 36, 40. Como o acontecimento tem que
suceder “ao tempo do fim”, estabelece a probabilidade de que o
Anticristo mencionado ultimamente (além da referência imediata a
Antíoco) neste capítulo, e o de Dn_7:8, sejam um e o mesmo. A objeção
de que o mencionado em Daniel 7 provenha das dez divisões do império
romano e de que o quarto reino, o dos capítulos 8 e 11 provenha de uma
das quatro divisões do terceiro reino, Grécia, resolve-se desta maneira:
As quatro divisões do império grego, que tinha chegado a ser parte do
império romano, no final formarão quatro de suas dez divisões.
[Tregelles.] Entretanto, a origem dentre uma das quatro partes do
terceiro reino, poderá limitar-se a Antíoco, que é o tema imediato dos
caps. 8 e 11, enquanto a última referência típica destes capítulos, quer
dizer, o Anticristo, poderá pertencer a uma das dez divisões romanas,
não necessariamente a uma anterior às quatro divisões do terceiro reino.
O próprio acontecimento, o futuro o dirá. “O tempo do fim” poderá
referir-se ao tempo de Antíoco. Porque esta é a frase profética pelo
tempo de cumprimento, visto sempre no fim do horizonte profético
(Gn_49:1; Nm_24:14).
19. último tempo da ira — o desagrado de Deus com os judeus por
causa de seus pecados. Para seu consolo lhes diz que as calamidades que
estão por vir, não devem ser para sempre. O “tempo” está limitado
(Dn_9:27; 11:27, 35, 36; 12:7; Hb_2:3).
21. o primeiro rei — Filipe foi rei da Macedônia antes de
Alexandre, mas este foi o primeiro que, como generalíssimo da Grécia,
subjugou ao império persa.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 92
22. não com força igual à que ele tinha — não com o poder que
tinha Alexandre. [Maurer]. Um império unido, como sob Alexandre, é
mais poderoso que um dividido, como sob os quatro sucessores dele.
23. quando os prevaricadores acabarem — Isto não é verdade
quanto aos tempos de Antíoco, mas sim dos tempos finais da
dispensação cristã. Veja-se Luc_18:8, e 2Tm_3:1-9, quanto à maldade
do mundo em geral, imediatamente antes da segunda vinda de Cristo. A
culpa de Israel, também, estará cheia então, quando os que tiverem
rejeitado ao Cristo, receberão ao Anticristo; cumprindo as palavras de
Jesus: “Eu vim em nome de meu Pai, e não me recebeis; se outro vier em
seu próprio nome, certamente, o recebereis” (Veja-se Gn_15:16;
Mt_23:32; Jo_5:43; 1Ts_2:16).
feroz de cara (RC) — (Dt_28:50); um que não perdoará nem
velhos nem jovens.
especialista em intrigas — antes, “em artifícios”. [Gesênius.]
Antíoco fez-se dono sucessivamente do Egito e de Jerusalém por astúcia
(1Mc_1:30, etc.; 2Mc_5:24, etc.).
24. não por sua própria força — a qual no princípio era
“pequena” (v. 9; Dn_7:8); mas ganhando a outros por astúcia, o chifre
uma vez pequeno, veio a ser “poderoso” (veja-se v. 25; Dn_11:23), o
que será realizado plenamente pelo Anticristo. Ele operará pelo poder de
Satanás, a quem então se permitirá operar por meio dele com licença sem
limites, tal como não tem feito até agora (Ap_13:2); daí que os dez reis
darão seu poder à besta (2Ts_2:9-12; Ap_17:13).
prosperará e fará — terá êxito em tudo o que empreender (v. 12).
o povo santo — suas perseguições são dirigidas especialmente
contra os judeus.
25. por causa da tranquilidade (RC) — fingindo “paz” e amizade,
“no meio da segurança” [Gesênius], repentinamente pegando o golpe
(veja-se Nota, Jr_15:8). “Um destruidor ao meio-dia”.
contra o Príncipe dos príncipes — não somente contra os judeus
(v. 11; Dn_11:36).
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 93
será quebrado sem esforço de mãos humanas — por uma
visitação especial de Deus. A pedra “cortada da montanha sem auxílio de
mãos”, quer dizer, Cristo, deve ferir a imagem do poder mundial em seus
pés (Dn_2:34), quer dizer, em seu último desenvolvimento (veja-se
Dn_7:11). A horrível morte de Antíoco por vermes e úlceras, quando
estava no caminho a Jerusalém, pensando vingar-se pela derrota de seus
exércitos pelos Macabeus, foi um cumprimento primeiro, prefigurando o
juízo de Deus sobre o último inimigo da Igreja judia.
26. preserva a visão — dando a entender que não seria
compreendido no momento. Em Ap_22:10 diz-se: “Não seles as palavras
da profecia deste livro; porque o tempo está perto.” O que no tempo de
Daniel estava escondido, foi esclarecido mais completamente no
Apocalipse, e à medida que se aproxime o tempo, será ainda mais claro.
porque se refere a dias ainda mui distantes — refere-se a tempos
remotos (Ez_12:27).
27. estive enfermo — por pesar por causa das calamidades que
vinham sobre o meu povo e a igreja de Deus (veja-se Sl_102:14).
então, me levantei e tratei dos negócios do rei — aquele que
mantém a comunhão mais íntima com o céu, melhor poderá cumprir os
deveres da vida comum.
não havia quem a entendesse — tinha ouvido de reis, mas não
conhecia seus nomes; previu os acontecimentos, mas não o tempo em
que deviam suceder; portanto só podia sentir-se “espantado”, e deixar
tudo com o Deus Onisciente. [Jerônimo].
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 94
Daniel 9

Vv. 1-27. A Confissão de Daniel e Sua Oração por Jerusalém;


Gabriel o Consola Com a Profecia das Setenta Semanas.
Aqui os poderes mundiais se retiram da vista; Israel, e a salvação
pelo Messias prometido, são o tema da revelação. Israel naturalmente
tinha esperado a salvação no fim do cativeiro. A Daniel, pois, é dito que,
depois de setenta anos de cativeiro, deverão correr setenta vezes sete, e
que até então o Messias não viria em glória, como os judeus, por
equívoco, poderiam esperar, por meio de profetas anteriores, mas sim
morrendo condenaria o pecado. Este capítulo nove (de profecia
messiânica) está entre duas visões do Anticristo do Antigo Testamento,
para consolar aos “sábios”. No intervalo entre Antíoco e Cristo, não fazia
falta mais revelação; portanto, como na primeira parte do livro, assim na
segunda, Cristo e o Anticristo em conexão, são o tema.
1. No primeiro ano de Dario — Ciáxares II, em cujo nome Ciro,
seu sobrinho, genro e sucessor, tomou a Babilônia no ano 538 a.C. A
data deste capítulo, pois, é 537 a.C., um ano antes que Ciro permitisse
que os judeus voltassem do exílio, e sessenta e nove anos depois de
Daniel ter sido levado cativo no princípio do cativeiro, ano 606 a.C.
filho de Assuero — chamado Astíages por Xenofonte. Assuero foi
nome comum a muitos dos reis da Medo-Pérsia.
foi constituído rei — a frase dá a entender que Dario deveu o
reino, não a sua própria fortaleza, mas sim a de outro, quer dizer, a Ciro.
2. entendi, pelos livros — antes, “cartas”; quer dizer, a carta de
Jeremias (Jr_29:10) aos cativos em Babilônia; também Jr_25:11-12;
veja-se 2Cr_36:21; Jr_30:18; Jr_31:38. As promessas de Deus são o
alicerce no qual nós, como Daniel, devemos basear nossa esperança; não
para fazer inúteis nossas orações, mas sim para as alentar.
3. com oração e súplicas — lit., “intercessões … súplicas por
misericórdia”. Orando pedindo bênçãos e alívio dos males.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 95
4. confessei — segundo as promessas de Deus em Lv_26:39-42,
que se Israel no desterro se arrependesse e confessasse, Deus Se
lembraria por isso de sua aliança com Abraão (veja-se Dt_30:1-5;
Jr_29:12-14; Tg_4:10). A promessa de Deus foi absoluta, mas também
se ordenou a oração como anterior a seu cumprimento, sendo esta
também a obra de Deus em Seu povo, tanto como a restauração exterior
que devia seguir. Assim será na restauração final de Israel (Sl_102:13-
17). Daniel toma o lugar de seus compatriotas na confissão de pecados,
identificando-se com eles, e como seu representante e sacerdote
intercessor, “aceita o castigo da iniquidade deles”. Assim tipifica ele o
Messias, o grande intercessor e portador dos pecados do mundo. A vida
e as experiências do próprio profeta formam um ponto de partida apto
para sua profecia a respeito da expiação do pecado. Ele ora pela
.restauração de Israel como associado aos profetas (veja-se Jr_31:4,
Jr_31:11-12, Jr_31:31, etc.), na esperança do Messias. A revelação agora
concedida, analisa em suas partes sucessivas o que os profetas, em
perspectiva profética, antes viram juntos em um, quer dizer, a redenção
do cativeiro e a redenção messiânica completa. Os servos de Deus, que,
como o pai de Noé (Gn_5:29), esperavam muitas vezes que agora o
Consolador de suas aflições estivesse próximo, tiveram que esperar de
século em século, para ver em cumprimentos sucessivos como garantia
da vinda dAquele a quem ardentemente desejavam ver (Mt_13:17);
assim como agora os crentes cristãos que creem que a segunda vinda do
Senhor está próxima, devem continuar esperando, assim Daniel é
informado de um longo período de setenta semanas proféticas antes da
chegada do Messias, em vez de setenta anos, poderia ter pensado (veja-
se Mt_18:21-22).[Auberlen.]
Deus grande e temível — como sabemos por experiência pelas
calamidades que sofremos. A grandeza de Deus e Seu terrível ódio ao
pecado deveriam preparar os pecadores para um reconhecimento,
reverente e humilde, da justiça de seu castigo.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 96
que guardas a aliança e a misericórdia — quer dizer, “a aliança
de sua misericórdia”, pela qual prometeste nos livrar, não por nossos
méritos mas por Tua misericórdia (Ez_36:22-23). Tão fraco e
pecaminoso é o homem, que qualquer pacto para o bem da parte de Deus
com ele, para ser eficaz, deve depender só da graça divina. Se Ele for um
Deus para ser temido por Sua justiça, Ele o é para ser “de confiança” por
Sua misericórdia.
te amam e guardam os teus mandamentos — o guardar os Seus
mandamentos é a única prova de amor a Deus (Jo_14:15).
5. Veja-se Neemias 9, a confissão de Neemias.
pecamos … iniquidade … impiamente … rebeldes (RC) — Grau
ascendente. Erramos em ignorância … pecado por fraqueza … habitual
e voluntariamente cometido maldade … e como rebeldes declarados e
obstinados nos temos oposto a Deus.
6. profetas … falaram aos nossos reis … a todo o povo — sem
temor eles advertiram a todos sem respeito de pessoas.
7. confusão de rosto, como no dia de hoje — a vergonha por
nossa culpa, manifestada em nosso semblante, o que nos cabe; como
testemunha o castigo nosso “no dia de hoje”.
quer os de perto, quer os de longe — o castigo, entretanto,
variava, sendo lançados alguns judeus mais longe que outros, mas todos
eram iguais na culpa.
9. misericórdia — o plural “as misericórdias” no original
intensifica a força; misericórdia manifestada de inúmeras maneiras.
Assim como é humilhante lembrar que “a justiça é de Deus”, assim é
consolador saber que “ao Senhor, nosso Deus, pertence a misericórdia”.
pois nos temos rebelado contra ele — antes, “desde que”, etc.
[Vulgata.] (Sl_25:11). Nosso castigo não é inconsequente com Suas
“misericórdias”, desde que nos rebelamos contra Ele.
10. suas leis, que nos deu — não ambígua mas sim claramente, de
modo que estávamos sem desculpa.
11. todo — (Sl_14:3; Rm_3:12).
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 97
a maldição e as imprecações … na Lei — a maldição contra
Israel, se fosse desobediente, que Deus ratificou com juramento
(Lv_26:14-39 : Dt_27:15-26; Dt_28:15-68; Dt_28:29).
12. confirmou a sua palavra — demonstrado pelos castigos que
sofremos, que Suas palavras não eram ameaças vãs.
nunca, debaixo de todo o céu, aconteceu o que se deu em
Jerusalém — (Lm_1:12).
13. não temos implorado o favor do SENHOR — lit., “não
abrandamos o rosto de Jeová”. Nem mesmo nosso castigo nos ensinou
arrependimento (Is_9:13; Jr_5:3; Os_7:10). Doentes desprezamos a
medicina saudável.
para nos convertermos das nossas iniqüidades — A oração pode
ser aceita só quando vem acompanhada pelo desejo de voltar-se do
pecado a Deus (Sl_66:18; Pv_28:9) e
nos aplicarmos à tua verdade — atentamente considerar Tua
fidelidade em cumprir Tuas promessas e também Tuas ameaças
[Calvino.] “Tua lei” (Dn_8:12). [Maurer.]
14. cuidou em trazer sobre nós o mal — que expressa vigilância
constante para que os pecados de seu povo não escapem de seu juízo,
como o vigilante de guarda dia e noite (Jó_14:16; Jr_31:28; Jr_44:27). O
fato de Deus vigiar o castigo dos judeus, forma um contraste notável
com os judeus que dormem em seus pecados.
justo é o SENHOR, nosso Deus — Os arrependidos verdadeiros
“justificam” a Deus, “atribuindo justiça a ele”, em vez de queixar-se de
Seus castigos por serem muito severos (Ne_9:33; Jó_36:3; Sl_51:4;
Lm_3:39-42).
15. tiraste o teu povo da terra do Egito — uma prova a todas as
idades de que os descendentes de Abraão são Seu povo da aliança.
Aquele benefício antigo nos dá a esperança de que nos concederá agora
um benefício similar sob circunstâncias similares (Sl_80:8-14; Jr_32:21;
Jr_23:7-8)
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 98
16. tuas justiças — não justiça austera em castigar, mas sim Tua
fidelidade a Tuas promessas de misericórdia aos que em ti confiam
(Sl_31:1; Sl_143:1).
tua cidade — escolhida como Tua na eleição de graça, a qual não
muda.
por causa das iniquidades de nossos pais — (Êx_20:5). Ele não
impugna a justiça de Deus nisto, como faziam os murmuradores
(Ez_18:2-3; veja-se Jr_31:29).
teu povo opróbrio — povo que causa opróbrio a Teu nome.
“Todos em nosso redor” dirão que Tu, Senhor, não pudeste salvar a Teu
povo favorito. Assim o v. 17, “por amor do Senhor”; o v. 19, “por amor
de ti mesmo” (Is_48:9, Is_48:11).
17. faze resplandecer o rosto — metáfora tirada do sol, que alegra
tudo o que seus raios tocam (Nm_6:25; Ml_4:2).
18. lançamos as nossas súplicas — (Veja-se Nota, Jr_36:7).
19. As exclamações entrecortadas e as repetições, indicam o intenso
ardor de suas súplicas.
não te retardes — dá a entender que os setenta anos já estão quase
terminados.
por amor de ti mesmo — frequentemente repetido, por ser a
súplica mais forte (Jr_14:21).
20. Falava eu ainda — repetido no v. 21; enfaticamente
assinalando que a resposta foi dada, antes de ser terminada a oração,
assim como Deus prometeu (Is_30:19; Is_65:24; Sl_32:5).
21. que eu tinha observado na minha visão ao princípio — quer
dizer, na visão anterior ao lado do rio Ulai (Dn_8:1, 16).
veio rapidamente, voando — lit., “com fadiga”, quer dizer, move-
se rapidamente, como um sem alento e cansado de correr velozmente
[Gesênius.] (Is_6:2; Ez_1:6; Ap_14:6).
hora do sacrifício da tarde — a nona hora, ou as três da tarde
(veja-se 1Rs_18:36). Assim como anteriormente, quando estava em pé o
templo, esta hora era dedicada aos sacrifícios, assim agora à oração.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 99
Daniel, durante todo o cativeiro até o fim, com um piedoso patriotismo,
nunca se esqueceu do culto do templo de Deus, mas fala de seus ritos por
longo tempo abolidos, como se ainda estivessem em uso.
22. para fazer-te entender — (Dn_8:16). Em Dn_8:26 manifesta
que a visão simbólica não tinha sido entendida. Deus pois agora dá
“entendimento” diretamente, e não por símbolo, o qual necessitava
interpretação.
23. No princípio das tuas súplicas, etc. — A promulgação do
decreto divino foi feita no céu aos anjos, quando começou Daniel a orar.
eu vim — do trono divino; assim o v. 22.
és mui amado — muito amado (veja-se Ez_23:6, Ez_23:12); objeto
do deleite divino. Assim como o profeta apocalíptico do Novo
Testamento, era “o discípulo a quem Jesus amava”, assim o profeta
apocalíptico do Antigo Testamento era “mui amado” diante de Deus.
a visão — uma revelação mais a respeito do Messias com relação à
profecia de Jeremias quanto aos setenta anos do cativeiro. A mudança
para “entende” é o mesmo como em Mt_24:15, onde em primeiro termo
refere-se a Roma, e em último termo ao Anticristo (veja-se Nota, v. 27,
abaixo).
24. Setenta semanas — quer dizer, de anos; lit., “setenta setes”;
setenta “héptadas”, ou hebdômadas; 490 anos; expresso em forma do
definitivo “oculto” [Hengstenberg], costume usual com os profetas. O
cativeiro babilônico é um ponto decisivo na história do reino de Deus,
pois deu fim à livre teocracia do Antigo Testamento. Até naquele tempo,
Israel, às vezes oprimido, era povo livre como regra geral. Do cativeiro
babilônico, a teocracia nunca recuperou sua liberdade completa até
mesmo sua completa supressão por Roma; e este período de
subordinação aos gentios deve continuar até o milênio (Apocalipse 20),
quando Israel será restaurado como cabeça da teocracia do Novo
Testamento, a qual abrangerá toda a terra. A teocracia livre deixou de
existir no primeiro ano de Nabucodonosor, e o quarto de Jeoaquim; o
ano do mundo 3.338, o ponto onde começam os setenta anos do
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 100
cativeiro. Antes Israel tinha o direito, se era subjugado por algum rei
gentio, a sacudir o jugo (Juízes 4 e 5; 2Rs_18:7) como jugo ilegal, na
primeira oportunidade. Mas os profetas declararam (Jr_27:9-11) que era
a vontade de Deus que eles se submetessem a Babilônia. Por isso cada
esforço de Jeoaquim, Jeconias e Zedequias por rebelar-se era vão.
O período dos poderes mundiais e da humilhação de Israel, do
cativeiro babilônico até o milênio, embora abunde em aflições (por
exemplo, as duas destruições de Jerusalém, a perseguição por Antíoco e
as que sofreram os cristãos), contém tudo o bem dos tempos anteriores,
reunido este todo em Cristo, mas visível só ao olho da fé. Visto que
Cristo veio como servo, escolheu para Sua apresentação o período mais
obscuro de todos para o estado temporal de Seu povo. Sempre novos
perseguidores estiveram levantando-se, cujo fim é destruição, e assim
será com o inimigo final, o Anticristo. Assim como a época de Davi foi o
ponto da maior glória do povo da aliança, assim o cativeiro é o de sua
humilhação mais profunda. Por conseguinte, os sofrimentos do povo se
refletem no quadro do Messias sofredor. Ele não se apresenta mais como
o Rei teocrático, o antítipo de Davi, mas sim como o Servo de Deus e o
Filho do homem; e ao mesmo tempo a cruz é o caminho à glória (comp.
Daniel 9 com Dn_2:34, 35, 44, e Dn_12:7). Nos capítulos dois e sete, a
primeira vinda de Cristo não se menciona, porque o objetivo de Daniel
foi o de profetizar à sua nação a respeito do período inteiro da
destruição, até o restabelecimento de Israel; mas este capítulo nove
detalhadamente prediz a primeira vinda de Cristo, e seu efeito no povo
da aliança.
As setenta semanas se contam desde treze anos antes da
reedificação de Jerusalém; porque então o restabelecimento da teocracia
começou, quer dizer na volta de Esdras a Jerusalém, ano 457 a.C. Assim
começam os setenta anos de cativeiro, segundo Jeremias, no ano 606 a.C.,
dezoito anos antes da destruição de Jerusalém, porque então deixou de
existir Judá como teocracia independente, tendo caído sob o poder de
Babilônia.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 101
Dois períodos mencionam-se em Esdras: (1) A volta do cativeiro
sob Jesua e Zorobabel, e a reedificação do templo, o que foi a primeira
ansiedade da nação teocrática. (2) A volta de Esdras (considerado pelos
judeus como um segundo Moisés) da Pérsia a Jerusalém, a restauração
da cidade, a nacionalidade e a lei. Artaxerxes, no ano sete de seu
reinado, deu-lhe a comissão que virtualmente inclui a permissão de
reedificar a cidade, permissão depois confirmada e executada por
Neemias no ano vinte (Ed_9:9; Ed_7:11, etc.); o v. 25, “desde a saída da
ordem para restaurar e para edificar Jerusalém”, prova que se refere ao
segundo dos dois períodos.
As palavras no v. 24 não são “determinadas sobre a tua santa
cidade”; mas sim “sobre o teu povo e tua santa cidade”, assim então a
restauração da política religiosa nacional e da lei (a obra interna
cumprida por Esdras o sacerdote), e a reedificação das casas e muros (a
obra exterior de Neemias, o governador), estão incluídas as duas coisas
no v. 25, “restaurar e edificar a Jerusalém”. “Jerusalém” representa tanto
a cidade, o corpo, como a congregação, a alma do estado. Veja-se
Salmos 46, 48 e 87.
O ponto de partida das setenta semanas se contava dos oitenta e um
anos depois que Daniel recebeu a profecia: sendo o objetivo não o de
fixar para ele definitivamente o tempo, senão para a igreja: a profecia
ensinou a ele que a redenção messiânica, que ele cria próxima, estava
separada dele por meio milênio, pelo menos. Mantinha-se
suficientemente viva a expectativa pelo conceito geral do tempo; não só
os judeus mas também muitos gentios esperavam que se levantaria da
Judeia algum grande Senhor da terra naquele mesmo tempo (Tácito,
História 5:13; Suetônio, Vespasiano, 4). Que Esdras tenha posto a
Daniel imediatamente antes de seu próprio livro e o de Neemias, talvez
se devia à sua convicção de que ele mesmo tinha efetuado o princípio do
cumprimento da profecia (Daniel 9). [Auberlen.]
determinadas — lit., “cortadas”, quer dizer, de todo o curso do
tempo, para que Deus tratasse de uma maneira particular com Jerusalém
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 102
teu … tua — Daniel em sua oração tinha falado repetidas vezes de
Israel como “teu povo, tua santa cidade”; mas em resposta Gabriel fala
deles como o povo e cidade de Daniel (“teu povo … tua santa cidade”),
dando Deus a entender desta maneira que enquanto não for trazida “a
justiça eterna” pelo Messias, Ele não poderia reconhecê-los como Seus
[Tregelles] (Veja-se Êx_32:7). Antes, como Deus quer consolar a Daniel
e os judeus piedosos, “o povo a favor do qual estás orando com tantas
ânsias”; tanto peso dá Deus às intercessões dos justos (Tg_5:16-18).
cessar a transgressão — lit., “encerrar”; tirar da vista de Deus,
abolir (Sl_51:9). (Lengkerke). Os setenta anos de exílio foi um castigo
pelos pecados do povo, mas não uma expiação completa deles; a
expiação não viria senão depois de setenta semanas proféticas, por meio
do Messias.
dar fim aos pecados — O hebraico diz: “roubar”, quer dizer,
esconder da vista (pelo costume de selar coisas para ser escondidas,
veja-se Jó_9:7), é a tradução que tem melhor apoio.
expiar a iniquidade — lit., “cobrir”, tampar como com betume
(Gn_6:14). Veja-se Sl_32:1.
trazer a justiça eterna — quer dizer, a restauração do estado
normal entre Deus e o homem (Jr_23:5-6); a continuar eternamente
(Hb_9:12; Ap_14:6).
selar a visão e a profecia — lit., selar “o profeta”. Para dar o selo
de confirmação ao profeta e sua visão por meio do cumprimento.
ungir ao Santo dos Santos — primeiro, “ungir” ou consagrar
depois de sua profanação, o lugar Santíssimo; mas também ungir ao
Messias, o antítipo do lugar Santíssimo (Jo_2:19-22). O propiciatório no
templo (a mesma palavra grega expressa o assento de misericórdia e
propiciação, Rm_3:25), que os judeus esperavam na restauração em sua
volta de Babilônia, terá sua verdadeira realização no Messias. Porque só
quando for dado fim “ao pecado”, pode manifestar-se perfeitamente a
presença de Deus. A respeito de “ungir”, veja-se Êx_40:9, Êx_40:34. O
Messias foi ungido pelo Espírito Santo (At_4:27; At_10:38). Assim,
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 103
mais tarde o Messias Deus “ungirá” ou consagrará com Sua presença o
lugar santo em Jerusalém (Jr_3:16-17; Ez_37:27-28), depois de sua
profanação pelo Anticristo, do qual foi um tipo, a festa de dedicação
depois da profanação por Antíoco.
25. desde a saída da ordem — quer dizer, o mandado da parte de
Deus, onde teve sua origem o decreto do rei persa (Ed_6:14). Auberlen
faz notar que há um Apocalipse em cada Testamento. O propósito em
cada um é o de recapitular todas as profecias anteriores, antes dos
“tempos angustiantes” dos gentios, quando não devia ter revelação.
Daniel recapitula toda a profecia messiânica anterior, separando em suas
fases individuais o que os profetas haviam visto numa mesma
perspectiva, o livramento temporal do cativeiro e o final livramento
messiânico antitípico.
As setenta semanas estão separadas em três partes desiguais: sete,
sessenta e duas, e uma. O septuagésimo ano é a consumação dos
períodos anteriores, assim como o dia sabático de Deus segue aos dias de
trabalho; uma ideia sugerida pela divisão em semanas. Nas sessenta e
nove semanas é restaurada Jerusalém, e assim um lugar é preparado para
o Messias aonde efetuar sua obra sabática (vv. 25, 26) de “confirmar a
aliança” (v. 27). O tempo messiânico é o “sábado sagrado” da história de
Israel, no qual tinha o oferecimento de todas as misericórdias de Deus,
mas no qual Israel é cortado por um tempo por causa de seu rechaço das
mesmas misericórdias. Assim como as setenta semanas terminam com
sete anos, ou uma semana, assim começam com sete vezes sete, quer
dizer, sete semanas. Assim como a septuagésima semana está separada
das demais, como período de revelação, assim poderá ser com as sete
semanas. O número sete sempre se associa com a revelação; porque os
sete espíritos de Deus são os mediadores de todas seus revelações
(Ap_1:4; Ap_3:1; Ap_4:5). Dez é o número do que é humano; quer
dizer, os poderes mundiais em dez cabeças e dez chifres (Dn_2:42; 7:7).
Setenta é dez multiplicado por sete, a humana moldagem pelo divino. Os
setenta anos de desterro simbolizam o triunfo dos poderes mundiais
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 104
sobre Israel. Nas sete vezes setenta anos está contido também o número
mundial dez, quer dizer, o povo de Deus ainda está sob o poder do
mundo (“tempos angustiosos”); mas o número divino é multiplicado por
si mesmo; sete vezes sete anos, no princípio de um período de revelação
do Antigo Testamento ao povo de Deus por meio de Esdras, Neemias e
Malaquias, cujos trabalhos se estendem sobre quase meio século, ou sete
semanas, e cujos escritos são os últimos do cânon; e no fim, sete anos, o
período da revelação do Novo Testamento no Messias. As sete semanas
de anos que começam a revelação do Novo Testamento, passam-se
rapidamente, a fim de que a ênfase principal descanse na semana
messiânica. Entretanto, as sete semanas da revelação do Antigo
Testamento, são assinaladas por sua separação das sessenta e duas, para
estar acima das sessenta e duas, quando não devia haver revelação.
ao Ungido, ao Príncipe — Heb., Nagid, “Ungido”. Messias é o
título de Jesus com relação a Israel (Sl_2:2; Mt_27:37, Mt_27:42).
Nagid, como Príncipe dos gentios (Is_55:4). Nagid refere-se a Tito, só
como representante de Cristo, quem designa a destruição romana de
Jerusalém como num sentido, sua vinda (Mateus 24; Jo_21:22). Messias
indica a Sua chamada; Nagid, o Seu poder. Ele deve ser “cortado, e não
haverá nada para ele”. (Assim deve traduzir-se do hebraico o v. 26, “não
por si”). Entretanto, Ele é “o príncipe”, que há de “vir”, por Seu
representante primeiro para impor justiça, e no fim em pessoa.
o muro — a “trincheira”, ou “baluarte escarpado”. [Tregelles]. As
“praças e as circunvalações” incluem a completa restauração da cidade
exterior e interiormente, que se fazia durante as sessenta e nove semanas.
26. Depois das sessenta e duas semanas — Neste verso e v. 27, o
Messias faz-se o sujeito proeminente, enquanto que a sorte da cidade e
do santuário é secundária, sendo mencionados só nas segundas metades
dos versículos. O Messias aparece num aspecto duplo: salvação aos
crentes, juízos sobre os incrédulos (Lc_2:34; comp. Ml_3:1-6; Ml_4:1-3).
Repetidas vezes, durante a Semana Santa, Ele se associava com a
destruição da cidade, como causa e efeito, de que fora Ele “cortado”
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 105
(Mt_21:37-41; Mt_23:37-38; Luc_21:20-24; Lc_23:28-31). Israel
naturalmente poderia esperar o reino glorioso do Messias, se não depois
dos sessenta anos de cativeiro, pelo menos no fim das setenta e duas
semanas; mas em lugar disto, haverá a morte e a destruição subsequente
de Jerusalém.
não por si — antes, “não haverá nada para ele” [Hengstenberg];
não que seja frustrado o real objetivo de sua vinda (seu reino espiritual);
mas sim o reino terrestre esperado pelos judeus, no momento ficaria no
nada, e não realizado naquele então. Tregelles refere o título “o
Príncipe” (v. 25) ao tempo de sua entrada a Jerusalém montado num
asno, sua única apresentação como rei, e que seis dias depois foi morto
como “o rei dos judeus”.
o povo de um príncipe — quer dizer, os romanos, capitaneados
por Tito, o representante dos poderes mundiais, finalmente a ser
transferido ao Messias, “o Príncipe”; assim chamado pelo título do
Messias, como também por ser enviado por Ele, como Seu instrumento
de juízo (Mt_22:7).
o seu fim — do santuário. Tregelles crê que quer dizer “o fim do
Príncipe”, a última cabeça do poder romano, o Anticristo.
num dilúvio — quer dizer, de guerra (Sl_90:5; Is_8:7-8; Is_28:18).
Dando a entender o completo da catástrofe, “não será deixada aqui uma
pedra sobre outra”.
até ao fim haverá guerra — antes, “até o fim há guerra”.
27. Ele fará firme aliança — Cristo. A confirmação da aliança é
referida a Cristo em outros lugares. Is_42:6: “E te farei mediador da
aliança com o povo” (quer dizer, Aquele em quem a aliança entre Israel
e Deus se expressa pessoalmente); veja-se Luc_22:20: “A nova aliança
em meu sangue”; Ml_3:1: “o anjo da aliança”; Jr_31:31-34, descreve a
aliança messiânica em pleno. Contraste Dn_11:30, 32, “se indignará
contra a santa aliança”; “violadores da aliança”. A profecia de que o
Messias “fará firme aliança com muitos”, consolará os fiéis nos tempos
de Antíoco, os quais sofriam em parte pelas perseguições dos inimigos, e
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 106
em parte por falsos amigos (Dn_11:33-35). Daí resulta a semelhança da
linguagem aqui e em Dn_11:30, 32, com relação a Antíoco, o tipo do
Anticristo.
com muitos — (Is_53:11; Mt_20:28; Mt_26:28; Rm_5:15,
Rm_5:19; Hb_9:28).
na metade da semana — as setenta semanas se estendem até o ano
33 d.C. Israel não foi destruído literalmente senão no ano 79 d.C.,
embora virtualmente fosse no ano 33 d.C., como três ou quatro anos
depois da morte de Cristo, quando o evangelho foi pregado
exclusivamente aos judeus. Quando os judeus perseguiram a igreja e
apedrejaram a Estêvão (At_7:54-60), o prazo da graça terminou
(Luc_13:7-9). Tendo rejeitado Israel a Cristo, foi rejeitado por Cristo, e
desde então conta-se como morto (comp. Gn_2:17 com Gn_5:5;
Os_13:1-2), sendo a literal destruição por Tito a consumação do traslado
do reino de Deus de Israel aos gentios (Mt_21:43), o qual não deve ser
restaurado a Israel senão na segunda vinda de Cristo, quando Israel
estará à cabeça da humanidade (Mt_23:39; At_1:6-7; Rm_11:25-31;
Rm_11:15). O intervalo forma para o povo da aliança um grande
parêntese.
fará cessar o sacrifício e a oferta — distinto do “tirar”
temporariamente o “contínuo sacrifício” por Antíoco (Dn_8:11; 11:31).
O Messias fará com que cessem completamente todos os sacrifícios e as
ofertas em geral. Há aqui uma alusão só ao ato de Antíoco; para consolar
ao povo de Deus, quando o culto do sacrifício há de ser pisado, dirigindo
sua atenção aos tempos messiânicos quando viria a salvação completa, e
entretanto cessariam os sacrifícios. Este é o mesmo consolo que davam
Jeremias e Ezequiel, quando se ameaçava a destruição de Jerusalém por
Nabucodonosor (Jr_3:16; Jr_31:31; Ez_11:19). Jesus morreu na metade
da última semana, ano 30 d.C. Sua vida profética durou três anos e meio;
o mesmo tempo durante o qual “os santos são entregues em mão” do
Anticristo (Dn_7:25). Três e meio não indicam, como os dez, o poder do
mundo em sua plenitude, mas sim (enquanto oposto ao poder divino o
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 107
qual se expressa por sete) quebrado e derrotado em seu aparente triunfo;
porque imediatamente depois das três vezes e meia, o juízo cai sobre os
vitoriosos poderes mundiais (Dn_7:25, 26). Assim a morte de Jesus
parecia o triunfo do mundo, mas foi na realidade sua derrota (Jo_12:31).
A ruptura do véu do templo assinalou a cessação dos sacrifícios pela
morte de Cristo (Lv_4:6, Lv_4:17; Lv_16:2, Lv_16:15 : Hb_10:14-18).
Não pode haver aliança sem sacrifício (Gn_8:20; Gn_9:17; Gn_15:9,
etc.; Hb_9:15). Mas aqui a velha aliança deve ser confirmada, mas de
uma maneira peculiar ao Novo Testamento, quer dizer, pelo único
sacrifício, que poria fim a todos os sacrifícios (Sl_40:6, Sl_40:11).
Assim quando os ritos levíticos se aproximavam de seu fim, Jeremias,
Ezequiel e Daniel, com uma clareza cada vez maior, opõem a nova
aliança espiritual aos elementos terrestres e passageiros da velha aliança.
a asa das abominações — Por causa das “abominações” cometidas
pelo povo perverso com o Ser Santo, este não só destruirá a cidade e o
santuário (v. 25), mas sim continuará sua desolação até o tempo
“determinado” por Deus (a frase citada de Is_10:22-23), quando
finalmente o poder mundial será julgado e o domínio será dado aos
santos do Altíssimo (Dn_7:26, 27). Auberlen traduz: “Por causa do ápice
desolador de abominações (veja-se Dn_11:31; 12:11; assim a repetição
da mesma coisa como no v. 26 é evitada); e até a consumação que está
determinada, se derramará (a maldição, v. 11, predita por Moisés) sobre
o povo desolado”. Israel chegou ao ápice de abominações, que
trouxeram a desolação (Mt_24:28), sim, e o que é a própria desolação,
quando depois de assassinar ao Messias, eles ofereciam sacrifícios
mosaicos em forma, mas pagãos em espírito (Veja-se Is_1:13; Ez_5:11).
Cristo Se refere a esta passagem (Mt_24:15): “Quando, pois, virdes
o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar
santo,” (estas últimas palavras se dão por entendidas em “abominações”
como cometidas contra o santuário). Tregelles traduz: “Sobre a asa de
abominações haverá o que causa desolação”; quer dizer, um ídolo
colocado sobre uma asa ou pináculo do templo (veja-se Mt_4:5) pelo
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 108
Anticristo, quem faz uma aliança com os judeus restaurados para a
última das setenta semanas de anos (cumprindo as palavras de Jesus: “Se
outro vier em seu próprio nome, recebê-lo-eis”), e pelos três primeiros
anos e meio o guarda, e logo no meio da semana o viola, causando a
cessação dos sacrifícios diários. Tregelles assim identifica a última meia
semana com o tempo, tempos e a metade de um tempo das perseguições
do chifre pequeno (Dn_7:25). Mas desta maneira há uma brecha de
1.830 anos pelo menos posta entre as sessenta e nove semanas e a
septuagésima semana. Sir Isaque Newton explica a asa (“espalhadora”)
de abominações como as insígnias (águias) romanas trazidas à porta
oriental do templo, e ali tendo sacrifícios dedicados a elas pelos
soldados; a guerra, que terminou na destruição de Jerusalém, durou da
primavera do ano 67 d.C. até o outono do 70 d.C., isto é, exatamente três
anos e meio, ou a última meia semana de anos (Josefo, Guerras Judias,
6:6).
será derramado sobre o assolador (RC) — Tregelles traduz: “o
causador de desolação”, quer dizer, o Anticristo. Veja-se “abominação
espantosa” (Dn_12:11), ou “abominação desoladora”. Talvez as duas
interpretações da passagem inteira serão em parte verdadeiras; sendo o
desolador, Tito, um tipo do Anticristo, o final desolador de Jerusalém.
Bacon (The Advancement of Learning, 2.3), diz: “As profecias são da
natureza do Autor, com quem mil anos são como um dia; e por este
motivo não são cumpridas pontualmente, mas sim tendo um
desenvolvimento de germinação e broto através de muitos anos, embora
a altura e plenitude delas, podem referir-se a uma só idade.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 109
Daniel 10

Vv. 1-21. Daniel Confortado Por Uma Visão Angélica.


Os capítulos 10 a 12, descrevem mais completamente a visão de
Daniel 8, mediante uma segunda visão sobre o mesmo tema, assim como
a visão no Daniel 7 explica melhor a do segundo capítulo. O Daniel 10 é
o prólogo da profecia; o 11, a própria profecia; e o 12 o epílogo. O
capítulo dez revela o mundo espiritual como o fundo do mundo histórico
(Jó_1:7; Jó_2:1, etc.; Zc_3:1-2; Ap_12:7), e os anjos como ministros do
governo divino dos homens. Assim como no mundo da natureza (Jo_5:4;
Ap_7:1-3), assim no da história aqui, Miguel, o campeão de Israel, e
com ele outro anjo, cujo fim é o de realizar a vontade de Deus no mundo
pagão, resistem ao espírito do mundo o qual é contrário a Deus. As lutas
não são meramente simbólicas, mas sim reais (1Sm_16:13-15;
1Rs_22:22; Ef_6:12).
1. No terceiro ano de Ciro — dois anos depois que saiu o decreto
de Ciro para a restauração dos judeus, de acordo com a oração de Daniel
em Daniel 9. Esta visão dá não simples esboços gerais, ou símbolos, mas
sim detalhes minuciosos do futuro, enfim, detalhes que predizem os
acontecimentos da história. É uma expansão da visão de Daniel 8. O que
então “não havia quem entendesse”, ele diz aqui que “ele entendeu”;
tendo sido enviado o mensageiro para isto (vv. 11, 14), para lhe fazer
entender. Provavelmente Daniel não estava mais no posto oficial da
corte; porque em Dn_1:21, diz-se que Daniel continuou “até o ano
primeiro do rei Ciro”; não que morrera então. Veja-se Nota ad hoc.
trata de uma guerra prolongada (RC) — “A profecia se referia a
uma grande calamidade [Maurer]; ou “guerra longa e calamitosa”
[Gesênius.]
2. estive triste (RC) — quer dizer, afligia-me com jejuns, me
privando “manjar desejável ... nem carne nem vinho” (v. 3), como sinal
de pesar, mas não por amor do pesar em si. Veja-se Mt_9:14; “jejum”
que responde a “luto” (v. 15). Veja-se 1Co_8:8; Timóteo 4:3, que
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 110
provam que o jejum não é uma obrigação cristã indispensável, mas sim
meramente uma expressão externa de pesar, e separação das alegrias
comuns da vida, para entregar-se à oração (At_13:2). A tristeza de
Daniel foi provavelmente a favor de seus compatriotas, que achavam
muitos obstáculos na edificação do templo, da parte de seus adversários
na corte persa.
3. Manjar desejável não comi — “pães asmos, pão de aflição”
(Dt_16:3).
nem me ungi com óleo — os persas usavam muitos unguentos.
4. primeiro mês — Nisã, o mês mais apto para a consideração das
calamidades de Israel, sendo o mês no qual a festa dos pães asmos lhes
lembravam sua escravidão egípcia. Daniel lamentava não só os sete dias
assinalados (Êx_12:18), da tarde do dia quatorze até o dia 21 de Nisã,
mas sim três vezes sete, para assinalar seu pesar extraordinário. Sua
tristeza terminou no dia vinte e um, o dia que terminava a festa pascal;
mas a visão não veio até o dia vinte e quatro, por causa da oposição do
“príncipe da Pérsia” (v. 13).
eu estava à borda do grande rio Hidéquel (RC) — na realidade,
não em êxtase (v. 7); quando era mais jovem, ele via o futuro em
imagens, mas agora na velhice, recebe revelações de parte de anjos na
língua comum, quer dizer, do modo apocalíptico. No período patriarcal,
Deus aparecia frequentemente visível, teofania. Nos profetas, no período
seguinte, o caráter interno da revelação é proeminente. A consumação é
quando o vidente levanta o olhar da terra ao mundo invisível, e tem o
futuro lhe mostrado por anjos, apocalipse. Assim no Novo Testamento
há um progresso paralelo: Deus na carne, a atividade espiritual dos
apóstolos e o apocalipse. [Auberlen].
Hidéquel (RC) — o rio Tigre.
5. levantei os olhos — desde o solo aonde estavam fixos em seu
luto.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 111
um homem — Um anjo da mais alta ordem; porque em Dn_8:16
este ordena a Gabriel que faça entender a Daniel a visão, e em Dn_12:6,
um dos dois anjos lhe pergunta quando será o fim predito.
linho — a vestimenta de sacerdotes, sendo símbolo de santidade,
por ser mais puro que a lã (Êx_28:42); também dos profetas (Jr_13:1), e
de anjos (Ap_15:6).
cingidos de ouro — um cinturão entretecido com ouro (Ap_1:13).
6. berilo — pedra da Espanha. Pedra preciosa idêntica ao crisólito
ou topázio, importada ao Oriente de Társis, e por isso chamada também
“a pedra de Társis.”
7. fugiram — espantados pela presença dos anjos
8. não restou força — lit. “vigor”, quer dizer, expressão e cor
vivas.
meu rosto mudou de cor — mortalidade, palidez cadavérica
(Dn_5:6; 7:28).
9. a voz das suas palavras — o som de suas palavras.
ouvindo-a, caí sem sentidos — “Me afundei em sonho profundo”.
[Lengkerke].
10. certa mão — quer dizer, de Gabriel, quem interpretou outras
revelações a Daniel (Dn_8:16) [Theodoret].
me pôs sobre os meus joelhos — Gesênius traduz: “fez-me girar
sobre meus joelhos”, etc.
11. homem muito amado — (Nota, Dn_9:23).
está atento — Veja-se Dn_8:17, 18.
12. Não temas — Não te assustes com a minha presença.
aplicaste o coração a compreender — o que deve suceder ao teu
povo nos tempos finais (veja-se v. 14).
a humilhar-te perante o teu Deus — (vv. 2, 3).
foram ouvidas as tuas palavras — (At_10:4). A oração é ouvida
imediatamente no céu, embora a resposta perceptível pareça atrasar-se.
O mensageiro de Deus foi detido no caminho (v. 13) pela oposição dos
poderes das trevas. Se em nossas orações em meio de longas tristezas,
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 112
crêssemos que o anjo de Deus está no caminho até nós, que consolação
nos daria!
por causa das tuas palavras — por causa de suas orações.
13. príncipe … da Pérsia — anjo das trevas que representava o
poder mundial persa, ao qual Israel estava sujeito naquele então. Este
versículo explica por que, sendo ouvidas as palavras de Daniel “desde o
primeiro dia” (v. 12), não veio o bom anjo a ele, enquanto não passassem
mais de três semanas (v. 4).
vinte e um dias — que correspondem às três semanas da tristeza de
Daniel (v. 2).
Miguel — quer dizer, “quem é semelhante a Deus?” Embora um
anjo, “um dos primeiros príncipes”. Miguel não se devia comparar a
Deus.
para ajudar-me — Miguel, como patrão de Israel diante de Deus
(v. 21; At_12:1), “ajudou” a influir no rei persa, para que permitisse a
volta dos judeus a Jerusalém.
eu obtive vitória — Eu fui detido ali com os reis da Pérsia, quer
dizer, com o anjo dos governantes persas, com aqueles que tive que
disputar, e daqueles que não me haveria libertado, se não fosse pela
ajuda de Miguel. Gesênius traduz: “Obtive a ascendência” ganhei meu
pleito contra o anjo contrário da Pérsia, de tal modo que influiu com as
autoridades persas para facilitar a restauração de Israel.
14. o que há de suceder ao teu povo nos últimos dias — uma
insinuação de que a profecia, além de descrever as obras de Antíoco,
chega até as calamidades finais da história de Israel, antes da plena
restauração da nação na vinda de Cristo — calamidades das quais as
perseguições de Antíoco eram o tipo.
a visão se refere a dias ainda distantes — se estende longe no
futuro.
15. dirigi o olhar para a terra — em reverência humilde
(Gn_19:1).
calei — com temor entristecedor.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 113
16. me tocou os lábios — a mesma ação significativa com que o
Filho do homem acompanhou o restabelecimento do homem mudo
(Mc_7:33). O solo pode dar pronunciamento espiritual (Is_6:6-7; 9:19),
que capacitasse a alguém, a “abrir a boca com valor.” O mesmo que faz
o mudo (v. 15), abre-lhe a boca.
dores — lit., “torceduras”, como de uma mulher de parto.
17. Como, pois, pode o servo do meu senhor falar com o meu
senhor? — “Como poderá o servo de meu Senhor (quer dizer. como
poderei eu, que sou tão fraco?) falar com este meu Senhor (quem é tão
majestoso)?” Assim Daniel dá a razão pela qual é tão afligido com o
temor. [Maurer].
18. me tornou a tocar — Gradualmente Daniel foi recuperando
suas forças. Aqui fazia falta outro segundo toque da mão do anjo, para
que pudesse ouvi-lo com mais tranquilidade.
19. Paz seja contigo — Deus está favorável para contigo e com teu
povo Israel. Veja-se Jz_13:21-22, quanto ao temor de algum mal que
pudesse resultar de uma visão de anjos.
20. Sabes por que eu vim a ti? — Depois que Daniel recuperou
sua tranquilidade de ânimo, o anjo pergunta se havia entendido o que foi
revelado (v. 13). Como por seu silêncio Daniel dava a entender que tinha
compreendido, o anjo declara que retornará a renovar a luta com o anjo
mau, o príncipe da Pérsia. Isto indica novas dificuldades para a
restauração dos judeus, as quais surgiriam na corte persa, mas que seriam
frustradas por Deus, mediante o ministério de anjos.
príncipe da Grécia — Alexandre Magno, quem conquistou a
Pérsia e favoreceu aos judeus [Calvino]. Antes, assim como o príncipe
da Pérsia é um anjo, representando o poder mundial hostil, assim o
príncipe da Grécia seria um novo adversário angélico, representando a
Grécia. Quando eu tiver ido conquistar ao inimigo persa, se levantará um
novo, o poder mundial que sucederá a Pérsia, quer dizer, a Grécia:
Antíoco Epifânio e seu antítipo o Anticristo, mas ele também, com a
ajuda de Miguel, campeão de Israel, vencerei [Gejer].
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 114
21. expresso na escritura da verdade — no livro secreto dos
decretos de Deus (Sl_139:16; Ap_5:1), os quais são verdade, quer dizer,
as coisas que mais certamente acontecerão, sendo determinadas por Deus
(veja-se Jo_17:17).
ninguém … a não ser Miguel — dos anjos só a ele foi delegado o
encargo de proteger a Israel, em concerto com o orador angélico; todos
os poderes mundiais estavam contra Israel.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 115
Daniel 11

Vv. 1-45. A Derrota da Pérsia pela Grécia. As Quatro Divisões do


Reino de Alexandre. Conflitos Entre os Reis do Sul e os do Norte, os
Ptolomeus e Selêucidas. Antíoco Epifânio.
Este capítulo é uma ampliação do oitavo.
1. eu — o anjo (Dn_10:18).
primeiro ano de Dario — Ciáxares II; o ano da conquista de
Babilônia (Dn_5:31). Ciro, quem exercia o poder verdadeiro, mas em
nome subordinado a Dario, naquele ano promulgou o decreto para a
restauração dos judeus, pela qual estava orando Daniel naquele então
(Dn_9:1, 2, 21, 23).
me levantei — indicando prontidão em lhe ajudar (Sl_94:16).
para o fortalecer — quer dizer, Miguel; assim como Miguel
(Dn_10:21, “fortalecia-se comigo”) ajudou ao anjo, unindo os seus dois
poderes a favor de Israel. [Rosenmuller]. Ou, Dario, “confirmando a ele”
o anjo em seu propósito de bondade a Israel.
2. três reis se levantarão na Pérsia — Cambises, o falso Esmerdis
e Dario Histaspes. (Assuero, Artaxerxes e Dario, em Ed_4:6-7,
Ed_4:24). O Assuero de Ester (veja-se Nota, Dn_9:1) identifica-se com
Xerxes, tanto na história grega como nas Escrituras, aparecendo
orgulhoso, voluntarioso, descuidado de violar os costumes persas,
apaixonado e volúvel (v. 2).
o quarto será cumulado de grandes riquezas … contra o reino
da Grécia — Xerxes, cujas riquezas eram proverbiais. Pérsia chegou a
sua maior glória e mostrou seu poder maior, em sua invasão da Grécia
no ano 480 a.C., sob Xerxes. Depois de sua derrota em Salamina, Pérsia
via-se como politicamente morta, embora ainda tinha uma existência.
Por isso, o terceiro versículo, sem mencionar os sucessores de Xerxes,
ocupa-se em seguida com Alexandre, sob quem primeiro o terceiro reino
mundial, Grécia, chegou à sua culminação, e veio a ser importante
quanto ao povo de Deus.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 116
agitará todos — quatro anos foram ocupados em juntar seu
exército desde todas as partes de seu vasto império, o qual chegou a
contar com dois milhões seiscentos e quarenta e dois mil soldados.
[Prideaux, Connexion, 1.4. l. 410]
3. rei poderoso … fará o que lhe aprouver — que corresponde ao
“chifre notável” do bode (Dn_8:6, 7, 21). Alexandre invadiu a Pérsia no
ano 334 a.C., para vingar-se dos males que sofreu a Grécia da parte da
Pérsia pela invasão de Xerxes (como Alexandre disse numa carta a Dario
Codomano, Arrian, Alexander 2, 14:7).
4. seu reino … repartido para os quatro ventos — a quádrupla
divisão do reino de Alexandre por ocasião de sua morte (Dn_8:8, 22),
depois da batalha de Ipsos, no ano 301 a.C.
não para a sua posteridade — (Notas, Dn_8:8, 22).
nem tampouco segundo o poder com que reinou — nenhum dos
sucessores de Alexandre teve tão amplo domínio como ele.
outros fora de seus descendentes — além dos filhos de Alexandre.
Hércules por Barsine, filha de Dario, e Alexandre por Roxana, os quais
foram assassinados. [Maurer]. Antes, “fora dos quatro sucessores às
quatro divisões principais do império, haverá outros chefes menores, os
quais tomarão para si porções menores do império macedônico.
[Jerônimo].
5. Aqui o profeta deixa a Ásia e a Grécia, e se ocupa com o Egito e
a Síria, como estas estariam em conflito contínuo sob os sucessores de
Alexandre, causando muita miséria na Judeia, que estava situada entre
elas. As Escrituras Sagradas tratam da história externa só no que tem
relação com o povo de Deus, Israel. [Jerônimo]. Tregelles põe uma
brecha entre os vv. 4 e 5, fazendo aqui a transição ao Anticristo final, o
que corresponde (em sua opinião), com a brecha de Dn_8:22, 23.
O rei do Sul — o Egito (Dn_8:42), Ptolomeu Soter, filho de Lago.
Ele tomou para si o título de “rei,” enquanto Lago não foi mais que
“governador.”
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 117
um de seus príncipes — Seleuco, no princípio um sátrapa de
Ptolomeu Lago, mas desde o ano 312 a.C., rei do império maior depois
do de Alexandre (Síria, Meia, etc.), e chamado portanto Nicator,
Conquistador. Então unam-se as palavras do versículo assim: “E um de
seus príncipes (dá Ptolomeu), até ele (Seleuco) sobrepujar-lhe-á” (a
Ptolomeu, seu amo de antes.)
6. ao cabo de anos — quando o tempo predito se consumou (v. 13,
Margem; Dn_8:17; 12:13).
a filha do rei do Sul — Berenice, filha de Ptolomeu Filadelfo do
Egito. Este, para terminar sua guerra com Antíoco Theos, “rei do norte”
(lit., “meia-noite”: nome profético pela região de onde veio a aflição a
Israel, Jr_1:13-15; Jl_2:20), quer dizer, Síria, deu Berenice a Antíoco,
quem então divorciou de sua esposa anterior, Laodice, e deserdou o filho
dela, Seleuco Calínico. O título “rei do norte” e “rei do sul” dá-se quanto
a Judeia, como ponto de vista. O Egito é mencionado pelo nome (vv. 8,
42), embora não o é Síria; porque aquela era no tempo de Daniel um
reino florescente, enquanto que Síria era então uma simples dependência
da Assíria e Babilônia; uma prova feita sem deliberação do genuíno do
livro de Daniel.
concórdia — lit., “direitos”, quer dizer, para pôr coisas em ordem
entre os beligerantes.
não conservará a força — ela não poderá efetuar o propósito da
aliança, quer dizer, que ela fosse o apoio principal da paz. Como tinha
morrido Ptolomeu, Antíoco voltou a tomar Laodice, quem o envenenou e
fez com que Berenice e o filho dela fossem mortos, e que seu próprio
filho, Seleuco Nicator, fosse elevado ao trono.
ele não permanecerá — o rei do Egito não conseguirá o seu ponto
em seu desejo de pôr sua linhagem no trono da Síria.
nem o seu braço — no qual confiava. Quer dizer, em Berenice e
seu filho.
os que a trouxeram — os que a acompanharam do Egito.
seu pai — que foi morto.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 118
o que a tomou por sua — no original achamos o número singular;
“aquele que estava de parte dela”, ou literalmente, “aquele que a
fortalecia”; Antíoco Theus, quem devia casar-se com ela (depois de
divorciar-se de Laodice) nos tempos preditos. [Gejer].
7. de um renovo da linhagem dela … em seu lugar — Ptolomeu
Energetes, irmão de Berenice, sucedendo “sobre a cadeira” de Filadelfo,
vingou a morte dela, invadindo toda Síria, até mesmo o Eufrates.
e avançará — tratará aos sírios segundo sua vontade. Ele matou
Laodice.
8. aos seus deuses … levará como despojo para o Egito, etc. —
Ptolomeu, ouvindo de uma rebelião no Egito, retornou com 40.000
talentos de prata, copos preciosos e 2.400 imagens, inclusive alguns
ídolos egípcios, que Cambises tinha levado do Egito a Pérsia. Os
egípcios idólatras estavam tão agradecidos que o nomearam Energetes, o
Benfeitor.
por alguns anos, ele deixará em paz o rei do Norte — Ptolomeu
seguiu vivendo quatro anos depois da morte de Seleuco, reinando um
total de quarenta e seis anos. Maurer traduz: “Então desistirá por vários
anos de disputar com o rei do norte” (veja-se v. 9).
9. avançará contra o reino — no Egito: não só com impunidade
mas com grandes despojos.
10. Os seus filhos — os dois filhos do rei do norte, Seleuco
Calínico, a sua morte por uma queda de seu cavalo, quer dizer, Seleuco
Cerauno e Antíoco o Grande.
reunirão numerosas forças — tendo morrido Cerauno, Antíoco só
prosseguiu a guerra com Ptolomeu Filopater, filho do Energetes, até
recuperar todas as partes da Síria subjugadas pelo Energetes.
arrasará — passará pela terra como uma inundação (vv. 22, 26. 40;
Is_8:8). Antíoco penetrou até Dura, perto de Cesareia, onde deu a
Ptolomeu uma trégua de quatro meses.
voltando à guerra — renovará a guerra no fim da trégua (v. 13).
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 119
a levará até à fortaleza — a de Ptolomeu: Ráfia, uma fortaleza
sobre a fronteira contra as invasões por via de Edom e a Arábia Pétrea,
perto de Gaza; aqui foi vencido Antíoco.
11. este se exasperará, sairá e pelejará contra ele, contra o rei
do Norte — por tão grandes perdas, lhe sendo arrebatada a Síria e
perigando seu próprio reino, embora no resto fosse homem indolente, ao
que se deviam seus desastres, como também ao ódio de seus súditos
contra ele pelo assassinato de seu pai, mãe e irmão, pelo qual com ironia
lhe chamavam Filopater, “amador do pai.”
este porá em campo grande multidão — Antíoco, rei da Síria,
cujo exército contava 70.000 homens de infantaria e 5.000 de cavalaria.
a sua multidão será entregue nas mãos daquele — em mãos de
Ptolomeu: 10.000 homens do exército de Antíoco foram mortos e 4.000
tomados prisioneiros.
12. o coração dele se exaltará — em vez de prosseguir a guerra
depois de sua vitória, para fazer-se dono de toda a Síria, fez as pazes
com Antíoco, e se entregou a uma vida dissoluta [Políbio 87; Justino
30:4], e profanou o templo de Deus entrando no lugar santíssimo.
[Grocio].
ele derribará miríades — quer dizer, subjugou uma multidão de
soldados de Antíoco.
porém não prevalecerá — perderá o poder ganho na vitória por
sua indolência e desenfreio.
13. o rei do Norte tornará — a renovar a guerra contra o Egito.
ao cabo do tempo de anos — quatorze anos depois de sua derrota
em Ráfia. Depois de campanhas afortunadas contra a Pérsia e a Índia,
Antíoco fez guerra contra Ptolomeu Epifânio, filho de Filopater, que
ainda era menino.
14. se levantarão muitos contra o rei do Sul — Filipe, rei da
Macedônia, e rebeldes no próprio Egito, combinaram suas forças com as
de Antíoco contra Ptolomeu.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 120
os dados à violência dentre o teu povo — quer dizer, facciosos
dentre os judeus se levantarão, desertando de Ptolomeu, e se unirão com
Antíoco; os judeus ajudaram com provisões ao exército de Antíoco,
quando de volta do Egito, pôs sítio à guarnição egípcia deixada em
Jerusalém (Josefo, Antiguidades 12:3.3).
para cumprirem a profecia — Aqueles judeus turbulentos, sem o
saber, ajudarão a cumprir o propósito de Deus, quanto às provas que
esperavam a Judeia, segundo a visão.
mas cairão — embora ajudem a cumprir a profecia, fracassarão em
seu propósito de tornar a Judeia independente.
15. O rei do Norte — Antíoco o Grande.
tomará cidades fortificadas — Escopas, o general egípcio,
encontrou-se com Antíoco em Paneas, perto das fontes do Jordão, e foi
derrotado fugindo a Sidom, “cidade forte”, onde foi obrigado a se render.
seu povo escolhido — o exército seleto do Egito foi enviado sob
Eropo, Menocles e Damoxeno, a livrar a Escopas, mas em vão.
[Jerônimo].
16. O que, pois, vier contra ele — Antíoco que vem contra
Ptolomeu Epifânio.
terra gloriosa — Judeia (vv. 41, 45; Dn_8:9; Ez_20:6, Ez_20:15).
tudo estará em suas mãos — lit., “aperfeiçoada”; quer dizer,
completamente colocada sob o seu domínio, Josefo (Antiguidades,
12:3.3), demonstra que o sentido não é que os judeus fossem totalmente
destruídos; porque Antíoco os favoreceu pela parte que tomaram contra
Ptolomeu, mas sim sua terra lhe seria sujeita. [Lengkerke]. Grocio
traduz: “será aperfeiçoada por ele”, florescerá sob ele. Mas nossa versão
dá o sentido correto, que Judeia era muito “consumida” ou desolada por
ser areia do conflito entre os combatentes, os da Síria e os do Egito.
Tregelles refere o v. 14, “esbanjadores de seu povo”, os gentios, alguma
vez opressores que tratam de restaurar os judeus em sua terra por meio
de esforços meramente humanos, enquanto que isto deve ser efetuado só
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 121
pela interposição divina; sua tentativa foi frustrada (v. 16) pelo rei
cabeçudo, quem faz da Judeia o cenário de suas operações militares.
17. Resolverá — terá propósito firme. O propósito de Antíoco,
entretanto, foi mudado de ataque aberto pela astúcia, para sua guerra
com os romanos, num esforço por estender seu reino aos limites que
tinha sob Seleuco Nicator.
entrará em acordo com ele — mais corretamente, “e justos
(homens) com ele”. “Jasher”, ou “Jesurum” (Dt_32:15; Is_44:2); epíteto
referido pelos hebreus à sua nação. Aqui não se usa em louvor; porque
no v. 14 (veja-se Nota) os chama “esbanjadores”, ou “roubadores”;
homens de violência, facciosos; é a designação geral de Israel, como que
tem a Deus por Deus dele. Provavelmente se usa aqui como uma
repreensão aos que deveriam ser “os justos” de Deus, por haver-se
confederado com pagãos, sem Deus, em atos de violência (em contraste
com o termo do v. 14, que favorece esta interpretação).
e lhe dará — em vez de invadir em seguida ao país de Ptolomeu
com “toda sua força”, prepara sua maneira de fazê-lo com o plano
seguinte: ele dá a Ptolomeu Epifânio sua filha Cleópatra em casamento,
lhe prometendo Coele-Síria e Judeia como dote, assegurando assim sua
neutralidade na guerra com Roma: ele esperava por meio de sua filha
conseguir Síria, Cilícia e Lícia, e até o Egito no final; mas Cleópatra
favoreceu a seu marido antes que a seu pai, e assim estragou a mutreta
dele [Jerônimo]. “Não estará nem será por ele”. Cleopatra
18. as terras do mar — Ele “tomou muitas” das ilhas do mar Egeu
em sua guerra com os romanos, e cruzou o Helesponto.
um príncipe fará cessar-lhe o opróbrio — Lúcio Escipio
Asiático, o general romano, derrotando a Antíoco em Magnésio (190
a.C.), fez cessar a recriminação que ele ofereceu a Roma ao infligir
danos aos aliados de Roma. Ele o fez para sua própria glória.
19. voltará para as fortalezas da sua própria terra — obrigado
pelos romanos a ceder todo seu território a oeste de Taurus, e a pagar os
gastos da guerra, pôs guarnições nas cidades para ele deixadas.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 122
tropeçará, e cairá — tratando de roubar o templo de Júpiter em
Elimais de noite, seja por avareza ou por falta de dinheiro para pagar o
tributo imposto por Roma (mil talentos), foi morto com seus soldados
numa insurreição dos habitantes [Justino, 32:2].
20. em lugar dele — em lugar de Antíoco: seu sucessor, Seleuco
Filopater, seu filho.
pela terra mais gloriosa do seu reino — quer dizer, herdando-o
por direito hereditário. Maurer traduz: “Um que fará com que passe o
cobrador de impostos (Eliodoro) pela glória do reino”, Judeia, “a terra
gloriosa” (vv. 16, 41; Dn_8:9). Simão, benjamita, por ódio contra Onias
III, o sumo sacerdote, deu informe dos tesouros do templo judeu; e
Seleuco tendo unido a Síria a Coele-Síria e Palestina, o dote antes dado
por Antíoco o Grande a Cleópatra, esposa de Ptolomeu, enviou a
Eliodoro a Jerusalém para despojar o templo. Isto está narrado em
2Mc_3:4, etc. Contraste-se Zc_9:8: “Não passará mais sobre eles o
opressor”.
em poucos dias, será destruído — depois de um reinado de doze
anos, que eram “poucos” em comparação com os trinta e sete anos do
reinado de Antíoco. Eliodoro, o instrumento do sacrilégio de Seleuco, foi
feito por Deus o instrumento de seu castigo. Buscando a coroa para si, na
ausência do único filho e herdeiro de Seleuco em Roma, Eliodoro
envenenou a Seleuco. Mas Antíoco Epifânio, irmão de Seleuco, com a
ajuda do Eumenes, rei de Pérgamo, seguiu-lhe no trono, no ano 175 a.C.
sem ira nem batalha — nem em tumulto popular, nem em batalha
aberta.
21. um homem vil — Antíoco, chamado Epifânio, “o ilustre”, por
vindicar os direitos da linhagem real contra Eliodoro, foi motejado, por
um jogo de sons, Epímanes, “o maníaco”, devido a seus caprichos
loucos, contrários à dignidade de um rei. Embebedava-se com os mais
baixos, banhava-se com eles nos banheiros públicos, e brincava
loucamente e atirava pedras aos transeuntes [Políbio, 26.10]. Daí, como
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 123
também por sua suplantação de Demétrio, o herdeiro legítimo, o chama
“um homem vil”.
ao qual não tinham dado a dignidade real … e tomará o reino,
com intrigas — a nação não lhe conferirá o reino em ato público, mas
ele o conseguirá por astúcia, “lisonjeando” a Eumenes e Atalo de
Pérgamo a que lhe ajudassem e, como tinha visto fazer candidatos em
Roma, solicitando votos, um por um, do povo sírio, alto e baixo, com
abraços. [Lívio, 41.20.]
22. serão arrasadas de diante dele — Antíoco Epifânio invadirá o
Egito com forças armadas esmagadoras.
príncipe da aliança — Ptolomeu Filométer, filho de Cleópatra,
irmã de Antíoco, quem estava unido na aliança com ele. Os tutores de
Ptolomeu, enquanto era menor de idade, trataram de recuperar de
Epifânio, Coele-Síria e Palestina, que tinham sido prometidas por
Antíoco o Grande como dote de Cleópatra em casamento com Ptolomeu
Epifânio. Daí surgiu a guerra. Os generais de Filométer foram
derrotados, e Pelúsio, chave do Egito, foi tomada por Antíoco, no ano
171 a.C.
23. Tregelles nota três divisões na história do “homem vil”, que
continua até o fim do capítulo: (1) Sua ascensão ao poder (vv. 21, 22).
(2) O tempo desde quando fez a aliança até quando tirou os sacrifícios
diários e estabeleceu a abominação de desolação (vv. 23-31). (3) Sua
carreira de blasfêmia até sua destruição (vv. 32-45); os dois períodos
finais correspondem à “semana” de anos de sua “aliança com muitos”
(quer dizer, em Israel) (Dn_9:27), sendo a última a meia semana final de
Daniel 9. Mas o contexto concorda tão justamente com as relações de
Antíoco com Ptolomeu, que a referência primária parece ser a “aliança”
entre eles. Antitipicamente, as relações do Anticristo com Israel
provavelmente são traçadas. Veja-se Dn_8:11, 25, com v. 22 aqui,
“príncipe da aliança”.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 124
usará de engano — fingindo amizade com Ptolomeu, como se
quisesse ordenar seu reino para ele, tomou possessão de Mênfis e todo o
Egito (“aos lugares mais férteis”, v. 24), até Alexandria,
com pouca gente — no princípio, para evitar suspeitas, suas forças
eram poucas.
24. Virá também caladamente — lit., “inesperadamente”; sob a
máscara de amizade, apoderou-se de Ptolomeu Filométer.
fará o que nunca fizeram seus pais — seus antecessores, reis da
Síria, sempre tinham cobiçado o Egito, mas em vão; só ele fez-se dono
dele.
repartirá entre eles a presa — entre os seus soldados (1Mc_1:19).
maquinará os seus projetos contra as fortalezas — formará um
plano estudado para fazer-se dono das fortalezas egípcias. Tomou todas,
com exceção de Alexandria, que com êxito pôde resistir. Retendo
Pelúsio para si, retirou-se a Judeia, onde, em vingança pelo regozijo
manifestado pelos judeus ao relatório falso da sua morte, o qual os
induziu a uma revolta, subjugou a Jerusalém por assalto e estratégia.
por certo tempo — sua irritação não será para sempre; só será por
um tempo limitado por Deus. Calvino entende “por tempo” como em
antítese a “inesperadamente”, no princípio do versículo. Repentinamente
se apoderou das cidades fracas; mas teve que “formar desígnio” mais
pausadamente (“por certo tempo”) de como ganhar as fortalezas mais
poderosas.
25. Um detalhe mais completo do que se diz sumariamente nos vv.
22-24. Esta é a primeira invasão de três (v. 29) ao Egito que fez Antíoco.
contra o rei do Sul — contra Ptolomeu Filométer.
Subsequentemente, foi feito rei pelos egípcios Ptolomeu Fiscon, ou
Euergetes II, visto que Ptolomeu Filométer estava em mãos de Antíoco.
à frente de grande exército — como distinto de “pouca gente” (v.
23) com a qual veio a primeira vez. Esta foi sua primeira invasão aberta;
foi animado pelo êxito da mesma. Antíoco “entrou no Egito com uma
multidão arrasadora, com carros, elefantes e cavalaria” (1Mc_1:17).
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 125
sairá à batalha — por necessidade, embora fosse homem por
natureza indolente.
não prevalecerá — Filométer foi derrotado.
maquinarão projetos contra ele — seus próprios nobres farão
planos traiçoeiros contra ele (v. 26). Euleu e Leneu administraram seus
assuntos imperfeitamente. Quando Antíoco enfim foi detido em
Alexandria, deixou em Mênfis a Filométer como rei, fingindo que todo
seu motivo era o de apoiar as pretensões do Filométer contra o usurpador
Fiscon.
26. Os que comerem os seus manjares — aqueles de quem
naturalmente poderiam esperar ajuda, seus íntimos e protegidos
(Sl_41:9; Jo_13:18), seus ministros e tutores.
o exército dele será arrasado — o exército de Filométer será
dissipado como água. A frase usa-se de números “inundantes”,
geralmente num sentido vitorioso, mas aqui no sentido de derrota, os
mesmos números que ordinariamente asseguram a vitória, aqui
facilitaram a derrota pela má administração.
muitos cairão traspassados — (1Mc_1:18; “muitos caíram feridos
à morte”). Quando Antíoco teria podido matar a todos na batalha perto
de Pelúsio andou mandando que o inimigo fosse tomado vivo, o fruto de
qual proceder foi que logo ganhou Pelúsio e todo o Egito [Diodorus
Siculus, 26.77]
27. estes dois reis se empenharão em fazer o mal — mutuamente.
a uma só mesa falarão mentiras — sob a aparência de intimidade,
em Mênfis buscarão enganar-se mutuamente (Notas, vv. 3, 25).
isso não prosperará — nem um nem o outro ganhará seu objetivo
neste momento.
o fim virá no tempo determinado — “o fim” da contenda entre
eles está reservado para “o tempo determinado” (vv. 29, 30).
28. (1Mc_1:19-20, etc.).
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 126
contra a santa aliança — em sua volta a Síria, atacou Jerusalém,
metrópole do povo da aliança de Jeová, matou 80.000 homens e tomou
40.000 prisioneiros e vendeu 40.000 como escravos (2Mc_5:5-14).
ele fará — alcançará seu propósito. Guiado por Menelau, o sumo
sacerdote, entrou em santuário com blasfêmias, tirou os copos de prata e
ouro, sacrificou porcos no altar e derramou o caldo de sua carne pelo
templo (2Mc_5:15-21).
29. No tempo determinado — “o tempo” mencionado no v. 27.
tornará — sua segunda invasão aberta ao Egito. Ptolomeu
Filométer, suspeitando dos desígnios de Antíoco com Fiscon, alugou
mercenários da Grécia. Então Antíoco avançou com frota e exército,
exigindo a cessão a ele do Chipre, Pelúsio e a terra junto à boca
pelusíaca do Nilo.
não será … como foi na primeira — a expedição não terá tanto
êxito como a primeira. Pompílio Leoas, o embaixador romano,
encontrou-se com ele em Elêusis, a seis quilômetros de Alexandria, e lhe
apresentou o decreto do senado. Quando Antíoco respondeu que
consideraria o que devia fazer, Pompílio traçou uma linha ao redor dele
com uma vara, e disse: “Necessito resposta para o senado, antes que
saias deste círculo.” Antíoco se submeteu, retirou-se do Egito e suas
frotas de Chipre.
não será nesta última — a mencionada nos vv. 42, 43. [Tregelles].
Ou, sendo esta a terceira expedição, o sentido é “não como a primeira ou
a segunda” expedições. [Piscator]. Antes, “não como a primeira, assim
será esta a última expedição”. [Grocio].
30. navios de Quitim — chegando os embaixadores romanos em
navios gregas (veja-se Nota, Jr_2:10). Quitim, propriamente Ciprias,
assim chamadas por uma colônia fenícia em Chipre; logo as ilhas e
costas do Mediterrâneo em geral.
lhe causarão tristeza — humilhado e desanimado por temor dos
romanos.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 127
se indignará contra a santa aliança — indignada de que o culto a
Deus tivesse sido restaurado em Jerusalém, dá saída para sua ira contra
os judeus, ao ver-se embaraçado por Roma.
atenderá aos que tiverem desamparado a santa aliança — quer
dizer, aos apóstatas da nação (1Mc_1:11-15). Menelau e outros judeus
instigaram o rei contra a religião e o país deles, tendo aprendido dos
filósofos gregos que todas as religiões são bastante boas para ter o povo
em sujeição. Eles rejeitaram a circuncisão e a religião de Jeová pelos
costumes gregos. Antíoco, em caminho a casa, enviou a Apolônio (ano
167 a.C.) com 20.000 homens, a destruir a Jerusalém, dois anos depois
de ele próprio a tomar. Apolônio matou a multidões do povo,
desmantelou e saqueou a cidade. Então, de uma fortaleza que tinham
construído, que dominava o templo, atacaram e mataram aos adoradores,
de sorte que o culto do templo foi suspenso. Além disso, decretou
Antíoco que todos, sob pena de morte, se conformassem com a religião
grega, e o próprio templo foi consagrado ao Júpiter Olímpico.
Identificando-se ele com aquele deus, com altivez fanática, quis fazer
universal o culto a si mesmo (1Mc_1:41; 2Mc_6:7). Este foi o perigo
mais grave que jamais antes tinha ameaçado a religião revelada, ao povo
santo e a teocracia na terra, porque nenhum dos governantes mundiais
anteriores se havia oposto ao culto religioso do povo da aliança, quando
esteve sujeito a eles (Dn_4:31-34; 6:27, 28; Ed_1:2, Ed_1:4; Ed_7:12;
Ne_2:18). Daí surgiu a necessidade de tal advertência do povo escolhido
quanto a ele, advertência exata que Porfírio, adversário da revelação, viu
que foi inútil negar sua correspondência com a história, mas sim
argumentou pela mesma exatidão dela, que necessariamente terá sido
escrita em tempo subsequente ao acontecimento. Mas tal como os
acontecimentos messiânicos são preditos em Daniel, os judeus,
adversários de Jesus, nunca teriam forjado as profecias que confirmam as
Suas pretensões. O capítulo nove foi escrito para consolar os judeus fiéis,
em meio das “abominações” contra “a aliança”, com a perspectiva do
Messias, quem “confirmaria a aliança”. Ele mostraria, trazendo salvação,
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 128
mas abolindo os sacrifícios, que os serviços do templo, pelos quais eles
lamentavam tanto, não eram absolutamente necessárias; assim a
correspondência da fraseologia sugeriria consolo (compare-se Dn_9:27
com Dn_11:30, 31).
31. forças — quer dizer, do corpo humano; não armas, mas sim
forças humanas.
tirarão — as hostes de Antíoco confederadas com os israelitas
apóstatas; estes chegam ao cúmulo de culpabilidade, quando não só
como antes, “tiverem desamparado a santa aliança” (v. 30), mas sim
operam imperfeitamente contra ele (v. 32), tornando-se puros pagãos.
Aqui as atuações de Antíoco são descritas num linguagem que vai para
além dele, o tipo, ao Anticristo em antítipo [Jerônimo] (assim como no
Salmo 72, dizem-se muitas coisas de Salomão o tipo, que só são
aplicáveis a Cristo o antítipo); incluindo talvez a Roma, Maomé e o
Anticristo pessoal final. Sir Isaque Newton refere o resto deste capítulo
aos romanos, traduzindo, “depois dele braços (quer dizer, os romanos) se
levantarão”; no mesmo tempo em que Antíoco deixou o Egito, os
romanos conquistaram a Macedônia, terminando assim o reinado da
terceiro animal de Daniel; de modo que aqui o profeta naturalmente
prossegue ao quarto animal. A opinião de Jerônimo é mais simples,
porque o relato parece continuar a história de Antíoco, embora com
rasgos só em tipo aplicáveis a ele, mas plenamente ao Anticristo.
o santuário, a fortaleza (RC) — não só naturalmente um lugar de
fortaleza, pelo qual pôde resistir até o fim contra os sitiadores, mas
também principalmente a fortaleza espiritual do povo da aliança
(Sl_48:1-3, Sl_48:12-14). Apolônio o “profanou” com altares a ídolos e
sacrifícios de carne de porcos, depois de ter “tirado o sacrifício diário”
(Veja-se Nota, Dn_8:11).
estabelecendo a abominação desoladora — quer dizer,
abominação que contamina o templo (Dn_8:12, 13). Antes, “a
abominação do desolador”, Antíoco Epifânio (1Mc_1:29, 1Mc_1:37-
49). Veja-se Dn_9:27, onde a abominação desoladora antitípica de
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 129
Roma (o estandarte da águia, a ave de Júpiter, adorada com sacrifícios
pelos soldados de Tito dentro do lugar sagrado, na destruição de
Jerusalém), de Maomé e do Anticristo final, é predito. 1Mc_1:54 usa a
mesma frase: “No dia quinze do mês de Casleu, do ano cento e quarenta
e cinco, edificaram a abominação da desolação por sobre o altar”; quer
dizer, um altar de ídolos e a imagem do Júpiter Olímpico, edificados
sobre o altar de holocaustos de Jeová. “Abominação” é o nome comum
por ídolo no Antigo Testamento. A construção de um templo ao Júpiter
Capitolino pelo imperador Adriano, onde tinha estado o templo de Deus,
ano 132 d.C., também a construção da mesquita maometana de Omar no
mesmo lugar (é notável que o maometismo começou a prevalecer em
610 d.C., só três anos do tempo em que o papismo assumiu o poder
temporal); e a idolatria da Igreja de Roma no templo espiritual, e a
blasfêmia final do Anticristo pessoal no templo literal (2Ts_2:4) — a
todos estes pode referir-se antitipicamente aqui sob Antíoco o tipo, e o
Anticristo do Antigo Testamento.
32. (1Mc_1:52).
perverterá — seduzirá à apostasia.
com lisonjas — promessas de favores.
o povo que conhece ao seu Deus — os macabeus e seus seguidores
(1Mc_1:62-63).
33. Os sábios — que conhecem e guardam a verdade de Deus
(Is_11:2).
ensinarão a muitos — em seu dever para com Deus e a lei, para
que não apostatem.
todavia, cairão — como Eleazar (2Mc_6:18, etc.). Serão
terrivelmente perseguidos, até à morte (Hb_11:35 36, Hb_11:37; 2
Macabeus 6 e 7). Seus inimigos se valeram do sábado para matá-los
nesse dia, quando não pelejavam. Tregelles pensa, mediante comparação
com o v. 35, que é o povo que “cai”, e não os de entendimento. Mas o v.
35 diz que estes “cairão”, e não é uma repetição sem sentido; no v. 33
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 130
eles caem (morrem) pela perseguição; no v. 35 caem (espiritualmente)
por um tempo devido à sua própria fraqueza.
pelo fogo — nas covas aonde se retiraram para guardar o sábado.
Antíoco fez com que alguns fossem assados vivos (2Mc_7:3-5).
por algum tempo — melhor, “certos dias”, como em Dn_8:27.
Josefo (Antiguidades, 12:7.6, 7) diz-nos que a perseguição durou por três
anos (1Mc_1:59; 4:54: 2Mc_10:1-7).
34. pequeno socorro — a liberdade conseguida pelos heróis
macabeus para os judeus foi de pouca duração. Eles logo caíram sob os
romanos e herodianos, e sempre desde então toda tentativa de livrá-los
do domínio gentílico, só agravou sua triste sorte. O período dos tempos
“mundiais” (governo gentílico) é o período da depressão da teocracia o
qual se estende do desterro em Babilônia até o milênio. [Ross]. A
referência mais imediata parece ser às forças de Matatias e seus cinco
filhos que originalmente era poucos (1 Macabeus 2).
muitos se ajuntarão a eles — como foi o caso sob Judas Macabeu,
quem assim foi capaz de fazer frente a Antíoco.
com lisonjas — aqueles que tinham desertado da causa judia
durante as perseguições, agora, quando o êxito acompanhava as armas
judias, juntavam-se com o estandarte macabeu, por exemplo, José, filho
de Zacarias, Azarias, etc. (1Mc_5:55-57; 2Mc_12:40; 2Mc_13:21).
Maurer o explica a respeito dos que por temor à severidade dos
Macabeus contra os apóstatas se juntavam com eles, embora preparados
a desertar se convinha a seu propósito. (1Mc_2:44; 1Mc_3:58).
35. para serem provados, purificados — o propósito das aflições.
Uma imagem tomada dos metais provados no fogo. Até nos “eleitos” há
escória que precisa ser purificada (1Pe_1:7). Por isto se permite que
caiam por um tempo; mas não finalmente (2Cr_32:31; Luc_22:31).
Figura tomada da debulha do trigo assim limpo da palha.
embranquecidos — figura tomada da roupa (Ap_7:9).
no tempo determinado — Deus não permitirá que Seu povo seja
perseguido sem limite (1Co_10:13). Os fiéis devem esperar com
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 131
paciência “o fim” do “tempo” de provas; porque tem que durar até o
“tempo determinado” por Deus.
36. O rei voluntarioso aqui, embora em primeiro lugar será Antíoco,
é antitípica e principalmente o Anticristo, a sétima cabeça da besta de
sete cabeças e dez chifres do Apocalipse 13, e a “besta” do Armagedom
(Ap_16:13, Ap_16:16; Ap_19:19). Alguns o identificam com o
restabelecido império francês, a oitava cabeça da besta (Ap_17:11),
quem deve usurpar a dignidade real de Cristo, assim como o papa
usurpou a dignidade sacerdotal, quer dizer, o falso Messias dos judeus,
quem “plantará seu tabernáculo entre os mares, no santo monte”,
“levantando-se contra tudo o que se chama Deus” (2Ts_2:4; Ap_13:5-6).
Esta última cláusula será verdade quanto a Antíoco, só em parte, porque,
embora tenha tomado para si honras divinas, identificando-se com o
Júpiter Olímpico, entretanto foi para aquele deus que os exigiu; e se
refere a ele como o tipo.
contra o Deus dos deuses falará coisas incríveis — assim
Dn_7:25, a respeito do “chifre pequeno”, o que aparentemente os
identifica a ambos os dois (veja-se o Dn_8:25). Antíoco por decreto
proibiu o culto a Jeová, decreto “maravilhoso” por sua maldade: assim
ele é um tipo do Anticristo. Veja-se o Dn_7:8, “uma boca que falava
grandes coisas”.
até que a ira se complete (RC) — a visitação da ira de Deus sobre
os judeus por seus pecados (Dn_8:19).
aquilo que está determinado será feito — (Dn_9:26, 27; 10:21).
37. Não terá respeito … ao desejo de mulheres — (Veja-se
Ez_24:16, Ez_24:18). A esposa, como o desejo dos olhos do homem, é o
símbolo das relações mais tenras (2Sm_1:26). Antíoco nem mesmo faria
caso dos rogos delas, de que cessasse seu ataque ao culto de Jeová.
[Polano]. Maurer o refere ao ataque de Antíoco ao templo da Vênus
Síria, adorada pelas mulheres (1Mc_6:1, etc; 2Mc_1:13). Newton o
refere à “proibição de casar-se” de Roma. Elliot corretamente faz a
referência antitípica ao Messias. As mulheres judias desejavam ser mães
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 132
com miras a Ele, a prometida semente da mulher (Gn_30:23; Luc_1:25,
Luc_1:28).
nem a qualquer deus — (2Ts_2:4).
38. deus das fortalezas — Provavelmente Júpiter Capitolino, a
quem Antíoco começou a levantar um templo em Antioquia [Lívio,
2Ts_41:20.] Traduza-se: “Honrará em seu lugar o deus das fortalezas”.
Newton traduz: “e ao deus Mahuzzim” (guardiões, quer dizer, santos
adorados como “protetores” nas igrejas gregas e romanas) honrará”.
honrará com ouro, etc. — Veja-se Ap_17:4, quanto ao antítipo de
Antíoco, o Anticristo.
39. Newton traduz: “aos defensores de Mahuzzim (os frades e
sacerdotes que defendem o culto dos santos), junto com deuses estranhos
aos quais reconhecerá, multiplicará ele honras”. Nossa versão é mais
correta: Fará façanhas nas fortalezas (quer dizer, terá êxito contra elas)
com um deus estranho (sob os auspícios de um deus que não tinha
adorado antes, Júpiter Capitolino, cujo culto importou a seus domínios
de Roma). Antíoco teve êxito contra Jerusalém, Sidom, Pelúsio, Mênfis.
fá-los-á reinar — Antíoco fez com que seus sequazes e os
apóstatas “governassem a muitos” judeus, tendo “repartido sua terra”
“por lucro” (quer dizer, como recompensa por sua submissão a seus
planos).
40. A dificuldade em reconciliar isto com a história de Antíoco, é
que nenhum historiador exceto Porfírio, menciona uma expedição dele
ao Egito rumo ao fim de seu reinado. Este v. 40, pois, poderá ser uma
recapitulação dos atos da primeira expedição ao Egito (171-170 a.C.),
nos vv. 22, 25, e 41; a invasão anterior a Judeia, nos vv. 28, 42 e 43; a
segunda e terceira invasões ao Egito (anos 169 e 168 a.C.) nos vv. 23,
24, 29 e 30. Auberlen aceita em vez disso a declaração de Porfírio, de
que Antíoco, no décimo primeiro ano de seu reinado (166-165 a.C.)
invadiu o Egito outra vez, e tomou a Palestina de passagem. As “novas”
(v. 44) a respeito da revolta de nações tributárias, então o levaram ao
oriente. A declaração de Porfírio de que Antíoco saindo do Egito, tomou
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 133
a Arade em Judá, e assolou toda a Fenícia concorda com o v. 45; então
voltou para refrear a Artaxias, rei de Armênia. Morreu Antíoco na cidade
persa do Tabes, em 164 a.C., como dizem tanto Políbio como Porfírio.
Sem dúvida, antitipicamente, o Anticristo final e seu antecessor Maomé,
estão indicados aos quais é mais aplicável a linguagem que a Antíoco o
tipo. Os árabes sarracenos “do sul” “empurraram” o imperador grego
Heraclio, e o privaram do Egito e Síria. Mas os turcos “do norte” não só
empurraram mas também destruíram o império grego; por isto se diz
mais destes que dos sarracenos. Especifica-se seus “cavaleiros”, por ser
sua força principal. Ainda seus estandartes são caudas de cavalo. Seus
“navios”, também com frequência ganharam a vitória sobre Veneza, o
grande poder naval da Europa naquele tempo. Eles “inundaram” a Ásia
ocidental, e logo “passaram” a Europa, fixando a sede de seu império em
Constantinopla sob Maomé II. [Newton].
41. Antíoco, segundo Porfírio, partindo contra Ptolomeu, embora se
tenha desviado de seu curso para descarregar sua cólera sobre os judeus,
não se colocou com Edom, Moabe nem Amom ao lado da Judeia. Em
1Mc_4:61; 1Mc_5:3, etc., diz-se que ele se valeu da ajuda deles para
esmagar os judeus, dos quais eram eles inimigos antigos. Veja-se
Is_11:14, quanto à futura retribuição de Israel, assim como os macabeus
fizeram a guerra contra eles como amigos de Antíoco (1 Macabeus 5).
Antitipicamente, os turcos sob Selim entraram em Jerusalém a caminho
do Egito, e retêm a “terra gloriosa” da Palestina até hoje. Mas eles nunca
puderam conquistar os árabes, os quais são parentes de Edom, Moabe e
Amom (Gn_16:12). Assim será no caso do Anticristo final.
42, 43. Egito; os líbios e os etíopes — Estes dois, sendo aliados
daquele, serviram sob Antíoco, quando ele conquistou o Egito.
Antitipicamente o Egito, embora pôde resistir longo tempo sob os
mamelucos, em 1517 d.C., caiu sob os turcos.
o seguirão — (Êx_11:8, Margem; Jz_4:10).
44. rumores do Oriente e do Norte — Artaxias, rei da Armênia,
seu vassalo, rebelou-se no norte, e Arsaces, dirigente dos partos, no
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 134
Oriente (1Mc_3:10, etc., 37; Tácito, História 5:8). Em 147 a. do J. C.,
Antíoco empreendeu uma expedição contra eles, a sua volta da qual
morreu.
com grande furor — contra os judeus, por causa de seus êxitos sob
Judas Macabeu, onde ele quis preencher sua tesouraria com meios para
prosseguir a guerra contra eles; também contra Artaxias e Arsaces e seus
respectivos sequazes. De Burgh pensa que “as novas que despertaram
sua ira, eram a respeito da restauração dos judeus: tal poderá ser a
referência antitípica.
45. Armará ... entre os mares — entre o Mar Morto e o
Mediterrâneo.
as suas tendas palacianas — suas carpas militares semelhantes a
palácios, tais como aquelas com as quais viajam os príncipes orientais.
Veja-se Nota do v. 40, a respeito do tempo do ataque de Antíoco contra
Judeia, e seu “fim” subsequente em Tabes, o qual foi causado por seu
desgosto ao ouvir que suas forças sob Lísias, foram vencidas pelos
judeus, e pelo fracasso de sua expedição contra o templo de Elimais
(2Mc_9:5).
monte santo — Jerusalém e o Monte Sião. Refere-se à desolação
do santuário por Antíoco, como também à profanação da terra
consagrada ao redor de Jerusalém, pelas insígnias idolátricas dos
romanos e pela mesquita maometana, e finalmente, pelo último
Anticristo. De modo que o último Anticristo deve sentar-se sobre o
“monte do testemunho” (Is_14:13), mas “será rebaixado ao inferno”
(veja-se Nota, Dn_7:26; 2Ts_2:8).
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 135
Daniel 12

Vv. 1-13. A Conclusão da Visão (Caps. 10 a 12.) e o Epílogo ao


Livro.
Vejam-se os vv. 4, 13, assim como os vv. 6, 7 se referem ao
Dn_7:25, quer dizer, ao tempo do Anticristo, assim os versículos
seguintes 8 a 12 tratam do tempo de Antíoco (compare-se o v. 11 com
Dn_11:31), assim colocando numa revista os dois grandes períodos de
tribulação. A ressurreição política dos judeus sob os Macabeus, é o ponto
de partida da transição à ressurreição literal, que deve seguir à destruição
do Anticristo pela vinda de Cristo em glória. A linguagem aqui passa do
acontecimento próximo ao mais longínquo, ao qual só é totalmente
aplicável.
1. Nesse tempo — tipicamente, rumo ao fim do reinado de
Antíoco; antitipicamente, o tempo em que o Anticristo deve ser destruído
com a vinda de Cristo.
Miguel — o anjo da guarda de Israel (“teu povo”), (Dn_10:13). As
transações sobre a terra que afetam o povo de Deus, têm suas
correspondências no céu, no conflito entre os anjos bons e os anjos
maus; assim na última grande contenda na terra, a qual deve decidir a
ascendência do cristianismo (Ap_12:7-10). É um arcanjo, não o Senhor
Jesus; porque se distingue do “Senhor” em Jd_1:9.
haverá tempo de angústia, qual nunca houve — parcialmente
aplicável ao tempo de Antíoco, quem foi o primeiro subversor da
religião dos judeus, e perseguidor dos que a professavam, o que não fez
outro poder mundial algum. Isto é plenamente aplicável aos tempos do
Anticristo e suas perseguições ao Israel restaurado na Palestina. Satanás
tem permissão de exercer uma energia sem estorvo, e sem paralelo
(Is_26:20-21; Jr_30:7; Mt_24:21; vejam-se Dn_8:24, 25; Dn_11:36).
será salvo o teu povo — (Rm_11:26). A mesma libertação de
Israel como em Zc_13:8-9, “Farei passar a terceira parte pelo fogo …
como se purifica a prata”. O remanescente em Israel será perdoado,
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 136
como não tinha tido parte na blasfêmia anticristã (Ap_14:8-9); que não
deve confundir-se com os que tenham confessado a Cristo antes de Sua
vinda, “um remanescente segundo a eleição da graça” (Rm_11:5), parte
da igreja dos primogênitos, os quais terão parte em Seu reinado milenial
em corpos glorificados; os remanescentes perdoados (Is_10:21)
conhecerão o Senhor Jesus só quando O virem e quando o espírito de
graça e súplica for derramado sobre eles. [Tregelles].
inscrito no livro — o livro do propósito secreto de Deus, como
destinados para libertação (Sl_56:8; Sl_69:28; Lc_10:20; Ap_20:15;
Ap_21:27). Metáfora pela matrícula de revista dos cidadãos (Ne_7:5).
2. Muitos dos que dormem — “Muitos dentre os que dormem …
estes para vida eterna; mas aqueles (os restantes que não despertam
nesse tempo) serão para vergonha”. [Tregelles]. Não se trata da
ressurreição geral, mas sim aquela dos que têm parte na primeira
ressurreição; pois os restantes mortos não se levantarão senão no fim dos
mil anos (Ap_20:3, Ap_20:5-6; veja-se 1Co_15:23; 1Ts_4:16). A
ressurreição nacional de Israel e a primeira ressurreição dos escolhidos
de Cristo, são igualmente associadas com a vinda do Senhor do Seu
lugar para castigar o mundo, em Is_26:19, Is_26:21; Is_27:6; veja-se
Is_25:6-9. Os comentadores judeus apoiam a Tregelles. Auberlen crê que
o único propósito pelo qual se introduz a ressurreição neste versículo, é
um estímulo à perseverança fiel nas perseguições de Antíoco; e que não
há conexão cronológica entre o tempo de angústia no v. 1 e a
ressurreição no v. 2; daí a frase, “naquele tempo”, aparece duas vezes no
v. 1, mas que não fixa o tempo dos vv. 2, 3; mas 2Mc_7:9, 2Mc_7:14,
2Mc_7:23, mostra o fruto desta profecia, em animar à mãe dos macabeus
e seus filhos a desafiar a morte, enquanto confessam a ressurreição em
palavras como estas aqui. Veja-se Hb_11:35. A ideia de Newton de que
“muitos” queira dizer todos, não é tão provável; porque Rm_5:15,
Rm_5:19, que ele cita, não é o caso, visto que o grego é “os muitos”,
quer dizer, todos, mas não está o artigo no hebraico aqui. No Antigo
Testamento só aqui se menciona “vida eterna”.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 137
3. Os que forem sábios — (Pv_11:30). Que responde a “sábios”
(Dn_11:33, 35), a mesma palavra hebraica “maskilim”. Os israelitas
que, em Jerusalém, quando a maldade chega ao cúmulo, são achadas
testemunhas inteligentes contra ela. Assim como naquele então
apareciam rendidos pelas perseguições (tipicamente, as de Antíoco;
antitipicamente, as do Anticristo), assim agora na ressurreição
“resplandecerão como o fulgor do firmamento”. O propósito das aflições
passadas aqui aparece como o de “torná-los brancos” (Mt_13:43;
Ap_7:9, Ap_7:14).
ensinam a justiça (RC) — lit., “justificam”, quer dizer, convertem
muitos à justiça por Cristo (Tg_5:20).
estrelas — (1Co_15:41-42).
4. encerra as palavras e sela o livro — A João, pelo contrário, é
dito que não sele as suas visões (Ap_22:10); porque as profecias de
Daniel se referem a tempo distante, e portanto são obscuras para o futuro
imediato, enquanto que as de João deviam cumprir-se logo (Ap_1:1,
Ap_1:3; Ap_22:6). Israel, a quem Daniel profetizou depois do cativeiro,
com zelo prematuro busca sinais do período predito: a profecia de Daniel
foi proposta para refrear isto. A igreja gentia, pelo contrário, para quem
escreveu João, precisa ser impressionada pela brevidade do período, tal
como é, devido à sua origem, propensa a conformar-se com o mundo e a
esquecer a vinda do Senhor (veja-se Mt_25:13, Mt_25:19; Mc_13:32-37;
2Pe_3:8, 2Pe_3:12; Ap_22:20).
muitos correrão (RC) — não se refere, como pensam alguns, à
rapidez da locomoção moderna, nem aos missionários cristãos que vão
pregar o evangelho ao mundo, o que dificilmente o contexto admite:
enquanto que agora só poucos se preocupam com esta profecia de Deus,
“o tempo do fim”, quer dizer, o tempo de seu cumprimento, “muitos
correrão” para esquadrinhá-lo, percorrendo todas as suas páginas. Veja-
se Hb_2:2 [Calvino]; por isso “a ciência se multiplicará” (quer dizer, o
propósito de Deus revelado na profecia). Isto provavelmente se está
cumprindo agora.
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 138
5. Uma visão de dois anjos mais, um de um lado do Hidéquel ou
Tigre, e o outro do outro lado, dando a entender que em todas partes os
anjos atendem para executar os mandados de Deus. O anjo que se dirige
a Daniel, tinha estado sobre o rio “de cima” (v. 6, Margem).
6. um — dos dois (v. 5).
homem vestido de linho — quem tinha falado até agora. Deus
impeliu o anjo a perguntar, a fim de despertar de nosso torpor, vendo que
os próprios “anjos desejam atentar” as coisas que afetam a redenção do
homem (1Pe_1:12), como esta manifesta a glória do Senhor deles e o
nosso (Ef_3:10).
Quando se cumprirão estas maravilhas? — A pergunta do anjo
refere-se às obras finais de Deus em geral, a derrota do Anticristo, e a
ressurreição. A pergunta de Daniel (v. 8) refere-se ao futuro mais
imediato de sua nação. [Auberlen].
7. levantou a mão direita e a esquerda — geralmente se levantava
a mão direita em afirmação, como um recurso ao céu a confirmar a
verdade (Dt_32:40; Ap_10:5-6). Aqui ambas as mãos são levantadas
para uma confirmação mais completa.
um tempo, dois tempos e metade de um tempo — (Veja-se Nota,
Dn_7:25). Referindo Newton esta profecia à apostasia oriental, o
maometismo, comenta que o mesmo período de três anos e meio, ou
1.260 dias proféticos, está indicado para a apostasia ocidental do chifre
pequeno (Dn_7:25), e assim, diz Prideaux, Maomé começou a forjar sua
impostura, retirando-se à sua caverna, no ano 606 d.C., o mesmo ano que
Focas fez a doação ao bispo de Roma, de onde ele assumiu o título O
Pastor Universal; o Anticristo com seus dois pés sobre a cristandade, um
no Oriente e o outro no Ocidente. Três anos e meio é o tempo do poder
mundial, no qual os reinos terrestres devem governar o reino celestial.
[Auberlen]. “Três e meio” representa a ideia de prova espiritual; (além
deste sentido simbólico, há sem dúvida um sentido cronológico exato, o
qual ainda para nós é duvidoso): é a metade de “sete”, o número
completo, assim um estado semiperfeito, um de prova. A cidade Santa é
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 139
pisada pelos gentios quarenta e dois meses (Ap_11:2), assim o exercício
do poder pela besta (Ap_13:5). As duas testemunhas pregam vestidas de
saco 1.260 dias, e ficam sem ser sepultadas três dias e meio; assim a
mulher no deserto; também por um período de “um tempo, tempos e
metade de um tempo” (Ap_11:3, Ap_11:9, Ap_11:11; Ap_12:6,
Ap_12:14). Quarenta e dois une a igreja com Israel, cuja vacilação no
deserto era de quarenta e dois (Nm_33:1-50). A fome e a seca em Israel
nos dias de Elias foram por “três anos e seis meses” (Lc_4:25; Tg_5:17);
o mesmo período como a perseguição de Antíoco: assim o ministério do
Homem da Dores, o qual cessou no meio de uma semana (Dn_9:27).
[Wordsworth, Apocalipse.]
quando se acabar … do povo santo — “se acabar” aqui
corresponde com “consumação” (Dn_9:27), quer dizer, o
“derramamento” dos sedimentos da maldição sobre o “povo santo”
“desolado”. A humilhação mais baixa de Israel (o completo “acabar a
destruição do poder do povo santo”) é a precursora de sua exaltação,
visto que o leva a buscar ao seu Deus e Messias (Mt_23:39).
8. não entendi — Daniel “entendeu” os rasgos principais da visão a
respeito de Antíoco (Dn_10:1, 14), mas não quanto aos tempos.
1Pe_1:10-12 refere-se principalmente a Daniel, porque ele é quem prediz
“os sofrimentos de Cristo e a glória que viria depois”; ele é quem
profetiza “não para si mesmo, mas sim a nós”; ele é quem
“esquadrinhava em que ponto de tempo significava o Espírito de Cristo
nele.”
9. O desejo de Daniel de saber mais, é deferido “até o tempo do
cumprimento”. O Apocalipse de João, em parte revela o que aqui está
velado. (Nota, v. 4, e Dn_8:26).
10. Não há necessidade de uma explicação mais completa quanto ao
tempo; porque quando as predições até aqui dadas, tiverem
cumprimento, os piedosos serão “purificados” pelas tribulações
profetizadas, e entenderão que o fim está perto, mas os ímpios não
entenderão, e assim se lançarão à sua própria ruína (Dn_11:33-35).
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 140
[Maurer]. O “fim” é primeiro o fim da perseguição de Antíoco;
antitipicamente, o fim da perseguição do Anticristo. É a própria
claridade em geral que faz necessária a escuridão. O cumprimento do
decreto de Deus não é um simples problema para que os profanos
entendam por meio de cálculos aritméticos, mas sim um enigma santo
para estimular a uma observância fiel das obras de Deus, e um estudo
diligente da história do povo de Deus. [Auberlen], A isto Cristo se refere
(Mt_24:15): “Aquele que lê, entenda”.
11. desde o tempo ... contínuo sacrifício for tirado e posta a
abominação desoladora (RC) — (Dt_11:31). Quanto a esta época, que
provavelmente é germinante e múltipla; a profanação do templo por
Antíoco (no mês Ijar do ano 145 a.C. até a restauração do culto por Judas
Macabeu nos dia 25 do nono mês (Quisleu) do ano 148 a.C., segundo a
era selêucida, 1.290 dias; passaram 45 dias mais antes que morrera
Antíoco no mês Sebate de 148 a.C., terminando assim as calamidades
dos judeus [Maurer]; por Roma pagã, depois da morte de Cristo; por
Maomé; pelo Anticristo, a culminação da Roma apóstata. A
“abominação” deve chegar ao seu ápice (veja-se a tradução de Auberlen,
“cúspide”, Dn_9:27), e estiver cheia a medida da iniquidade, antes que
Cristo venha.
mil e duzentos e noventa dias — um mês além de “um tempo, dois
tempos e metade de um tempo” (v. 7). No v. 12 são acrescentados
quarenta e cinco mais, ao tudo 1.335 dias. Tregelles crê que Jesus em
Sua vinda libertará os judeus. Transcorre um intervalo, no qual suas
consciências são despertadas para o arrependimento e fé nEle.
Transcorre um segundo intervalo, no qual os proscritos de Israel são
reunidos, e então sucederá a bênção unida. Estas etapas são assinaladas
pelos 1.260 dias, os 1.290 e os 1.335. Cumming crê que os 1.260 anos,
começam quando Justiniano submeteu às igrejas orientais a João II,
bispo de Roma; terminando em 1.792 quando foi estabelecido o código
de Napoleão e o papa desonrado. 1.290 chegam até 1.822, como o tempo
da decadência do poderio turco, sucessor da Grécia no império do
Daniel (Jamieson-Fausset-Brown) 141
Oriente. Quarenta e cinco anos mais terminam em 1.867, o fim dos
“tempos dos gentios”. Veja-se Lv_26:24. “sete vezes”, quer dizer 7
vezes 360, ou seja 2.520 anos: 652 a.C., é a data do cativeiro de Judá,
começando sob Manassés; 2.520 anos desde esta data terminam em
1.868, harmonizando assim quase com a data anterior, 1.867. Veja-se
nota a Dn_8:14. O sétimo milênio do mundo [Clinton] começa em 1.862.
Sete anos acrescentados a 1869 (a data do segundo advento) constitui o
reinado do Anticristo pessoal; nos últimos três e meio, o período da
tribulação final, Enoque (ou então, Moisés) e Elias, as duas testemunhas,
profetizam vestidos de saco. Esta teoria é muito duvidosa (veja-se
Mt_24:36; At_1:7; 1Ts_5:2; 2Pe_3:10); entretanto só o acontecimento
poderá dizer se estas coincidências cronológicas de tais teorias são
casuais, ou são dados firmes para fixar os tempos futuros. Hales faz com
que os períodos 1.260, 1.290 e 1.335, comecem com a destruição de
Jerusalém pelos romanos e que terminem com a aurora precursora da
Reforma, a pregação por Wycliffe e Huss.
13. descansarás — no sepulcro (Jó_3:17; Is_57:2). Daniel, como
seu povo Israel, devia esperar paciente e confiantemente a bênção para o
tempo que Deus escolhesse. Ele “não recebeu a promessa”, mas teve que
esperar, até que os santos cristãos escolhidos fossem trazidos na primeira
ressurreição, para que ele e outros santos do Antigo Testamento “sem
nós, não fossem aperfeiçoados” (Hb_11:40).
te levantarás — dando a entender justificação para a vida, como
contrária à condenação (Sl_1:5).
tua herança — figura tomada da distribuição da Canaã terrestre.

Você também pode gostar