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Racionalidade e problemas selvagens no projeto de cidades inteligentes

Conference Paper · March 2016


DOI: 10.13140/RG.2.1.5003.6887

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1 author:

Gil Barros
University of São Paulo
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1o COLÓQUIO INTERNACIONAL ICHT 2016
Imaginário: Construir e Habitar a Terra
Cidades ‘Inteligentes’ e Poéticas Urbanas

1er COLLOQUE INTERNATIONAL ICHT 2016


Imaginaire: Construire et Habiter la Terre
Villes ‘Inteligentes’ et Poétiques Urbaines

Atas
Actes

Artur Simões Rozestraten


Gil Barros
Vladimir Bartalini
Karina Oliveira Leitão

São Paulo, 2016 – 1ª edição


FAUUSP – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade de São Paulo
© FAUUSP, São Paulo, Brasil, 2016.

Universidade de São Paulo


REITOR Marcos Antonio Zago
VICE-REITOR Vahan Agopyan
PRÓ-REITORIA DE CULTURA E EXTENSÃO Maria Arminda do Nascimento Arruda
PRESIDENTE AUCANI Raul Machado Neto

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo


DIRETORA Maria Angela Faggin Pereira Leite
VICE-DIRETOR Ricardo Marques de Azevedo

Atas do 1º Colóquio Internacional ICHT 2016 – Imaginário: Construir e Habitar a Terra


ORGANIZAÇÃO Artur Simões Rozestraten, Gil Barros, Vladimir Bartalini, Karina Oliveira Leitão
CAPA André Menezes
PROJETO GRÁFICO Ana Lua Contatore
IDENTIDADE VISUAL Lorran Siqueira
PRODUÇÃO GRÁFICA E IMPRESSÃO Laboratório de Produção Gráfica - LPG FAUUSP,
José Tadeu de Azevedo Maia
REVISÃO E COORDENAÇÃO Gil Barros, Fabiana Imamura

Dados para Catalogação:

C719 Colóquio Internacional ICHT (1., 2016: São Paulo, SP).


Atas do 1º Colóquio Internacional ICHT, 16 a 17 de março, 2016,
São Paulo, SP, Brasil. Imaginário: construir e habitar a Terra; cidades ‘inteligentes’
e poéticas urbanas.
Organização Artur Simões Rozestraten, Gil Barros, Vladimir Bartalini
e Karina Oliveira Leitão
São Paulo: FAU/USP, 2016.
650 p.

ISBN: 978-85-8089-082-2

1. Arquitetura Moderna (eventos) 2. Paisagem Urbana (aspectos sociais) 3. Cidades (aspectos


urbanísticos) 4. Espaço Público 5. Imaginário I. Rozestraten, Artur Simões, org. II. Barros, Gil,
org. III. Bartalini, Vladimir, org. IV. Leitão, Karina Oliveira, org. V. Título

Índices para catálogo sistemático:


Atas do 1º Colóquio Internacional ICHT, 16 a 17 de março, 2016, São Paulo, SP, Brasil.
Imaginário: construir e habitar a Terra; cidades ‘inteligentes’ e poéticas urbanas.

Ficha catalográfica elaborada pelo Serviço Técnico de Biblioteca da FAUUSP


Mesa-redonda 2
Imaginário e proposição projetual
Table-ronde 2: Imaginaire et proposition projetual

Racionalidade e problemas selvagens no


projeto de cidades inteligentes
Gil Barros
Universidade de São Paulo, Brasil
gil.barros@usp.br

paradigma reflexivo, paradigma racional, problemas ‘selvagens’, pensamento


projetual, prática profissional, gestão projetual
O artigo parte da observação que frequentemente as propostas para cidades
‘inteligentes’ acabam por negar o projeto em sua totalidade, procurando partir
de problemas que já estariam bem estabelecidos, ou seja, problemas ‘domes-
ticados’. Para entender melhor esta questão tomamos como ponto de partida
dois paradigmas propostos para as atividades de projeto, o paradigma racional
de resolução de problema e o paradigma da prática reflexiva, que são comple-
mentares e ambos utilizados em projeto. A partir desta análise procuramos evi-
denciar a importância do paradigma reflexivo para a atividade de projeto, pois
ele se mostra mais adequado a lidar com problemas ‘selvagens’, que costumam
estar diretamente ligados às questões essenciais em projeto. No entanto tam-
bém parece existir uma inversão de valores com uma predominância do para-
digma racional, o que pode leva a uma distorção e provável depreciação da ati-
vidade de projeto. Indicamos então algumas direções que podem ser tomadas
para corrigir esta distorção, como uma melhor compreensão de cada um destes
paradigmas, suas reais potencialidades e seus modos de operação.

Introdução
“A Racionalidade Técnica depende de uma concordância sobre objetivos. Quando
os objetivos estão fixos e claros, então a decisão para agir pode se apresentar
como um problema instrumental. Mas quando os objetivos são confusos e con-
flitantes, ainda não há nenhum ‘problema’ para se resolver.” (SCHÖN 1983, p. 47)

Dentre os diversos estudos desenvolvidos sobre o tema de “cidades inte-


ligentes” nos últimos anos, podemos perceber o surgimento de uma linha que
julgamos como mais acertada, que extrapola as questões estritamente técnicas,

47
frequentemente associadas a equipamentos ditos “inteligentes”, como celula-
res ou termostatos. Este enfoque incorpora à discussão as questões humanas e
sociais, como a economia, meio-ambiente, política, habitação, ativismo e capa-
cidade de inovação (KOMNINOS, PALLOT, SCHAFFERS 2013; ZYGIARIS 2013).
No entanto uma parcela significativa dos estudos na área, particular-
mente dentro da área de tecnologias de informação e comunicação (TICs)
trata o assunto como se fosse um problema exclusivo de infraestrutura técnica
(PERERA et al. 2014; VLACHEAS et al. 2013), onde a cidade ‘inteligente’ está
essencialmente vinculada a questão de “sensores, dispositivos embarcados,
grandes conjuntos de dados e informação e resposta em tempo real” (KOMNI-
NOS, PALLOT, SCHAFFERS 2013). Esta visão é reforçada tanto pelo uso exage-
rado do termo ‘inteligente’ na atualidade quanto por iniciativas da mídia (Esta-
dão Projetos Especiais 2015), que colocam as cidades contemporâneas como
entidades desorganizadas e as soluções tecnológicas como a grande solução
para os problemas urbanos contemporâneos.
Este segundo enfoque trata os problemas da cidade como questões já defi-
nidas, e não como problemas abertos à interpretação e com abordagens e valo-
res complementares e normalmente conflitantes. Parecem mais soluções em
busca de um problema do que uma análise de fato sobre como estas tecnologias
podem estar integradas à novas soluções para os problemas das cidades con-
temporâneas. É uma visão bastante preocupante, pois pode direcionar grandes
investimentos do setor público na direção da aquisição e implantação de infraes-
truturas caras e complexas, mas que não atendem as nossas reais necessidades.
Uma das formas de se demonstrar a fragilidade deste enfoque da tecnola-
tria é explorar a natureza do processo de projeto. Para isto, neste artigo vamos
partir de dois paradigmas complementares que analisam as atividades de pro-
jeto, analisar as particularidades destes dois enfoques e depois estabelecer uma
relação deles com o processo de projeto como um todo.
O artigo tem um foco particular em arquitetura e urbanismo, mas a abor-
dagem utilizada, que é a mesma presente em diversos estudos que o baseiam,
tem um escopo mais aberto e se aplica para diversas disciplinas que trabalham
com a atividade de projeto de maneira geral, como programação visual, pro-
jeto de produto, design de serviços e outras. Portanto uma distinção frequente-
mente utilizada em português, que separa design de outras atividades de pro-
jeto, não é seguida neste artigo. Por isto usamos o termo projetista ao invés de
arquiteto e a tradução que adotamos das palavras design e designer são projeto
e projetista, respectivamente.

Dois paradigmas complementares: racional e reflexivo


Em um trabalho que busca compreender como ocorre o processo de projeto, Dorst
(1997) chega a dois paradigmas complementares que descrevem o projeto como:
t um processo racional de resolução de problemas ou;
t um processo de reflexão-em-ação.

Neste artigo estes paradigmas são denominados de paradigma racional e


reflexivo, respectivamente e podem ser caracterizados da seguinte forma.

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Paradigma racional
O paradigma racional tem origem nas teorias positivistas e teve muita influên-
cia na “primeira geração” de métodos de projeto que surgiram logo no início do
Design Methods Movement, no começo dos anos 60, que busca encaixar o pro-
jeto dentro do quadro lógico-positivista das ciências, predominante na época.
Neste paradigma prevalece uma visão de projeto como um processo racio-
nal, ou ao menos racionalizável, e busca-se uma observação “objetiva” sobre o
objeto de estudo e resultados que sejam generalizáveis.
Ele está inserido no contexto de sua época, e é bem exemplificado no livro
Sciences of the Artificial, do economista Herbert Simon (1996) e originalmente
publicado em 1969, que propõe que o projeto pode ser visto de um modo mais
rigoroso, sistematizado e universal. Este paradigma foi uma importante base
comum para o forte desenvolvimento das metodologias projetuais dos anos 70
e 80 e ainda as influencia fortemente nos dias de hoje.
Este paradigma tem relação direta com os modelos lineares, que separam
o processo em etapas distintas, normalmente em análise, síntese e avaliação
(BUCHANAN 1992). A etapa de análise busca uma definição do problema, que
é particionado em subproblemas e então são levantados os requisitos particu-
lares para cada um deles. Já na síntese elabora-se a solução para o problema,
através da combinação e comparação dos requisitos em busca do melhor equi-
líbrio possível, que deveria ser a melhor solução de todas.
A figura 1 mostra um esquema deste modelo, onde um problema grande pode
ser subdividido em vários menores e estes podem ser resolvidos sucessivamente.

Figura 1: Esquema do modelo linear utilizado no paradigma racional.

Ao analisar o paradigma racional, Dorst e Dijkhuis (1995) apontam que ele


é adequado em situações onde os problemas estão razoavelmente bem defini-
dos e é possível estabelecer uma estratégia clara de ação para resolvê-los. Tanto
a situação quanto os procedimentos podem ser bastante complexos, mas eles
são recorrências de situações muito similares e já existem procedimentos ade-
quados para lidar com eles. É mais comum que este paradigma seja adotado no
final das etapas de um projeto.

Paradigma reflexivo
Já o paradigma reflexivo tem suas origens na abordagem construtivista e surge
como uma proposta alternativa ao paradigma racional, buscando uma “epis-
temologia da prática implícita nos processos artísticos, intuitivos que alguns
profissionais trazem para situações de incerteza, instabilidade, singularidade e
conflito de valores”. (SCHÖN 1983, p. 50)

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Em seu livro, The Reflective Practitioner, o filósofo Donald Schön (1983) parte
de uma crítica à visão preponderante racionalista que existe no ensino. Ele pro-
põe que esta visão limita muito o ensino quando se colocam questões práticas,
pois ele essencialmente lida com conhecimentos genéricos, sem muita atenção
ao problema crucial de como aplicá-los em situações reais, que fica relegado a
um nível de questões do “conhecimento da prática” dos profissionais experien-
tes e que portanto não poderia ser descrito ou generalizável de forma adequada.
No entanto em alguns casos, como nas situações de projeto da arquitetura,
urbanismo e design, esta aplicação é justamente um ponto crucial da atividade,
e portanto Schön considera que o paradigma racional é simplesmente insufi-
ciente (SCHÖN 1983, p. 49).
Portanto ele propõe o paradigma reflexivo, particularmente ligado ao pro-
jeto, onde o profissional está tendo uma “conversa reflexiva com a situação” e
onde os problemas são ativamente estabelecidos ou “enquadrados” (do inglês
framed) pelos projetistas, que fazem “jogadas” (do inglês ‘moves’) e avaliam o
processo, para desenvolver uma solução.
Neste paradigma análise e síntese são inseparáveis, e a atividade de definir
o problema é tão propositiva quanto a de se encontrar uma solução, portanto
a separação entre análise e síntese não faz mais sentido. O projetista alterna
entre enquadrar, mover e avaliar, sem ordem predefinida, conforme ilustrado
na figura 2.

Figura 2: Esquema do modelo triangular utilizado no paradigma reflexivo.

No caso do paradigma reflexivo, Dorst e Dijkhuis (1995) propõem que este


é mais adequado para situações onde existem muitas indefinições e não exis-
tem estratégias estabelecidas para lidar com eles. Neste caso o projetista é obri-
gado a elaborar de forma simultânea tanto o que está sendo projetado quanto a
estratégia que utiliza para desenvolvê-lo (DORST 2010). É mais comum que este
paradigma seja adotado no início das etapas de um projeto.
Como podemos ver, os dois paradigmas são opostos e complementares,
e mais do que isto, nos estudos de Dorst (1997) fica claro que eles são intima-
mente interligados e se alternam ao longo da atividade de projeto. O projetista,
portanto deve tanto dominar ambos quanto ser capaz de alternar entre eles,
conforme sua leitura da situação.
Este quadro sugere uma situação aparentemente simétrica entre os dois
paradigmas, no entanto isto não ocorre na prática, e para isto podemos aumen-
tar nosso enfoque. Até o momento a preocupação foi em observar como o pro-
jetista trabalha, e não como as diversas etapas de um projeto estão encadeadas,
e para isto podemos usar o modelo de produtos.

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Modelo de produtos
Um modelo muito frequentemente utilizado na área de Arquitetura, Engenharia
e Construção (AEC) é descrito na NBR 13531/1995 e é composto pelas seguintes
etapas de projeto: levantamento, programa de necessidades, estudo de viabili-
dade, estudo preliminar, anteprojeto, projeto legal, projeto básico e projeto para
execução (Associação Brasileira de Normas Técnicas 1995).
A partir deste modelo o Conselho de Arquitetura e Urbanismo desenvolveu
um modelo descrito em sua Tabelas de Honorários de Serviços de Arquitetura
e Urbanismo do Brasil (Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil 2014).
Este modelo inclui o projeto legal dentro da etapa de anteprojeto e apenas reco-
menda (por motivos legais) excluir o projeto básico, incorporando este dentro
do projeto executivo.
Desta forma o processo de projeto ficaria estruturado da seguinte forma:
Levantamento de dados (LD), Programa de necessidades (PN), Estudo de viabili-
dade (EV), Estudo preliminar (EP), Anteprojeto (AP), Projeto básico (PB), Projeto
para execução (PE).
O modelo também adiciona os serviços de Coordenação e compatibilização
de projeto (CO), Coordenação de equipe multidisciplinar (CE), Assessoria para
aprovação de projeto (AS), Assistência à execução da obra (AE) e “As built” (AB).
Dispondo estas etapas no tempo, seguindo a estrutura de um diagrama de
Gantt para um projeto hipotético, ficaríamos com um gráfico semelhante ao
visto na figura 3.

Figura 3: Etapas do processo de projeto no tempo, as etapas opcionais são tracejadas e


a etapa de execução aparece interrompida para não associar sua duração à do projeto.

Esta estruturação do projeto é bastante comum e tem equivalentes em diver-


sos países, como o Reino Unido, França e Canadá, entre outros. Ao analisar equi-
valente britânico deste modelo, o Plan of Work do RIBA, Lawson (2005, p. 36) evi-
dencia que o objetivo do modelo não é mostrar as etapas do processo, mas sim os
produtos e serviços que devem ser entregues em cada etapa. Por este motivo esco-
lhemos a denominação de modelo de produtos, ao invés de modelo de etapas.
De fato os documentos do CAU/BR e RIBA trazem uma visão geral do que
precisa ser feito e para cada etapa ou serviço procuram enumerar todos os
resultados parciais esperados, dividindo o projeto completo em processos
menores e mais facilmente gerenciáveis.

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O objetivo do modelo portanto é facilitar a gestão do projeto e a comuni-
cação entre intervenientes, e não representar como um projeto se desenvolve.
A partir dele ficam mais claras as interdependências entre etapas os produtos
esperados, assim como a coordenação entre profissionais e destes com clientes
e outros atores envolvidos.
Considerando a complexidade e o número de atores envolvidos em obras
de arquitetura e urbanismo ficou evidente a necessidade de modelos como este
e não é surpresa que eles existam em diversos países. Eles são mais que desejá-
veis, são necessários. Mas é fundamental ressaltar que o objetivo aqui é facilitar
a gestão e não descrever como é o processo de projeto de fato.

Predominância do paradigma racional


Ao mostrar a evolução do projeto no tempo em um diagrama linear, pode pas-
sar uma ideia muito errada de que o processo de projeto em si é linear e, pior
ainda, constante. Ao contrário dos diagramas que mostram as atividades nos
paradigmas racional e reflexivo, este diagrama está mais próximo de uma tran-
sação comercial, que mostra para o cliente o que o arquiteto deve entregar, mas
não diz como ele vai fazer isto (LAWSON 2005, p. 36).
O perigo então é que justamente ao utilizar este modelo como uma fer-
ramenta de gestão o paradigma racional é posto em evidência e o paradigma
reflexivo, que envolve processos cíclicos e menos ordenados, pode acabar
sendo visto pelo gestor ou cliente apenas como uma distorção do processo, ou
muito pior, como incompetência do projetista.
Aqui temos um exemplo da falta de simetria que pode ocorrer entre os
paradigmas onde, para um olhar não treinado, o paradigma racional se coloca
como o “correto” e o reflexivo como um “erro de planejamento” ou uma “falha
de processo”. Ao lidar com projeto é fundamental a clareza de que um modelo
de produtos (ou de etapas) é uma visão abstrata e idealizada do processo, mas
que a cada momento os paradigmas racional e reflexivo serão utilizados alter-
nadamente, e isto não um erro, é o esperado e acima de tudo correto.
E para reforçar esta assimetria podemos imaginar que, de maneira geral,
o paradigma racional predomina ao longo do processo. Pela natureza das suas
atividades o paradigma reflexivo é mais concentrado em momentos mais cur-
tos, como durante a concepção, enquanto que o paradigma racional predomina
em etapas mais longas, como durante o detalhamento, onde é feito um refina-
mento em menor escala. Portanto o projetista passaria mais horas no modo
racional, o que pode reforçar a desvalorização do paradigma reflexivo como um
procedimento autêntico.
Mais forte do que pode parecer, esta distorção dos modelos lineares é
muito atrativa pois sugere uma precisão metodológica universal. Muitos gesto-
res, cientistas e até mesmo projetistas acham esta visão sedutora, para alguns
até irresistível, pois apostam nela como a única esperança de uma compreen-
são “lógica” do processo de projeto (BUCHANAN 1992). De fato, se o projeto
seguisse esta lógica linear seria muito mais previsível e facilitariam muito o pro-
cesso de gestão e controle. Mas ele não segue, conforme veremos mais adiante.
Esta sedução se manifestou com força logo no surgimento do próprio
Design Methods Movement, no ímpeto racionalizante dos anos 60. Em alguns
anos foram criados muitos modelos para se descrever um processo de projeto,

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todos mais baseados em um ideal de como o projeto deveria ser do que de fato
em como ele é (LAWSON 2005, p. 40).
Provavelmente o maior e mais elegante esforço neste sentido foi o Syste-
matic Method for Designers proposto por Bruce Archer e composto por nove
fases e 229 passos. Ele buscava mostrar as diversas bifurcações e retroalimen-
tações do processo, para poder servir como uma lista de verificação para o pro-
jetista (DUBBERLY 2004, p. 98).
No Brasil um dos vetores de divulgação desta vertente foi o livro do desig-
ner Bruno Munari que praticamente iguala o processo de projeto a uma receita
de arroz verde, apontando a visão de projeto como uma sequência de etapas
altamente predeterminadas a serem seguidas, de forma linear e unidirecional
(MUNARI 2008, p. 54). O processo proposto é ilustrado na figura 4.

Figura 4: O processo de projeto apresentado por Munari (2008, p. 54).

Ao propor estes modelos idealizados os teóricos da época não se mostram


ingênuos ou desinformados. Normalmente encontramos ressalvas dizendo que
o processo na prática é mais complexo, como retroalimentações não previstas,
mas isto é visto mais como uma interferência e não como a etapa onde pode
ocorrer a maior contribuição dentro de um projeto.
Influenciados pelo seu tempo, estes diagramas procuram antes de tudo
mostrar que o projeto não era uma atividade mágica e misteriosa, mas procu-
ram evidenciar um rigor metodológico e a existência de procedimentos a serem
seguidos, e que muitos deles eram universais. O projeto não surgia do nada,
precisava de um processo, deixar isto claro já era um ganho.
No entanto a predominância do paradigma racional no Design Methods
Movement acabou por afastar o interesse de muitos arquitetos pelo assunto.
Os estudos eram abstratos demais ou traziam resultados apenas para situações
onde o problema estava melhor definido, como nas engenharias ou em etapas
finais de projeto de produto. De maneira geral pouco ajudavam os arquitetos e
eventualmente até atrapalhavam (BROADBENT, WARD 1969).
O arquiteto Christopher Alexander, um forte entusiasta no início do movi-
mento chegou a fazer a seguinte afirmação: “Eu me dissociei do campo… Há tão
pouco no que é chamado ‘métodos projetuais’ que diga algo de útil sobre como

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projetar edifícios que eu nem sequer leio mais a literatura específica… Eu diria
esqueça, esqueça tudo”1. (ALEXANDER 1971 apud CROSS 2007, p. 42)
Esta reverberação dos métodos projetuais da “primeira geração” que são
essencialmente racionais, e até mesmo a negação deles por arquitetos “meto-
dólogos” como Christopher Alexander passam até hoje a ideia de que estes
métodos operam apenas no paradigma racional, são prescritivos, limitantes e
procuram por um caminho único e ideal (ROZESTRATEN 2009). Vale observar o
livro de Munari é de 1981, mas foi reeditado no Brasil em 1998 e novamente em
2008, 27 anos depois de escrito. É importante que seja lido com este cuidado.
Este efeito chicote é outro exemplo da falta de simetria entre os paradig-
mas, pois indica que mesmo dentro do campo da arquitetura, o que é bem mais
preocupante, o paradigma reflexivo é mal compreendido, ou simplesmente
desconhecido. O processo de projeto é visto, ao menos por parte dos projetis-
tas, como exclusivamente racional.

Problemas selvagens
Mas esta insatisfação com as limitações do paradigma racional também esti-
mulou outros estudiosos a procurar compreender melhor em que situações o
paradigma não era adequado. Horst Rittel, professor de planejamento urbano,
propôs que a dificuldade é que em projeto se lida essencialmente com pro-
blemas “selvagens”2 (do inglês “wicked” problems), que podem ser descritos
como “(…) uma classe de problemas sociais que são mal formulados, onde a
informação é confusa, onde há muitos clientes e tomadores de decisão com
os valores conflitantes, e onde as ramificações no sistema como um todo são
absolutamente confusas” (CHURCHMAN 1967).
É interessante perceber o contraste entre as propostas abstratas e idealiza-
dos dos anos 60, e esta descrição, muito mais próxima do cotidiano real enfren-
tado pelos projetistas. Isto demonstra um outro no enfoque, que busca uma
aproximação entre o estudo das metodologias projetuais e da prática de fato.
Ao procurar descrever estes problemas em um artigo aplicado ao planeja-
mento urbano, Rittel e Webber (1973) elencam 10 características que os defini-
riam. Entre elas são interessantes para este artigo as seguintes:
1. Problemas selvagens não têm formulação definitiva, mas cada formulação
de um problema selvagem corresponde à formulação de uma solução.
2. Problemas selvagens não têm regras para determinar seu fim.
3. Soluções para problemas selvagens não pode ser verdadeiras ou falsas,
apenas boas ou ruins.
4. Na resolução de problemas selvagens não existe uma lista exaustiva de
operações admissíveis.
6. Cada problema selvagem é um sintoma de outro problema, em nível “mais alto”.
9. Cada problema selvagem é único.

1
Alexander, C 1971. The state of the art in design methods DMG Newsletter Vol 5 No 3 pp 3-7.
2
A tradução de wicked para o português seria traiçoeiro, vil, mal intencionado. No entanto Rittel
propõe que o oposto de ‘wicked’ problems são os ‘tame’ problems, ou seja, problemas mansos ou
domesticados. Adoto então o termo “selvagem”, proposto por Caio Vassão, pois concordo que seja
mais interessante para descrever este tipo de problema.

54
A combinação destas características permite algumas deduções interessan-
tes. Combinando as características 1 e 6 vemos que estes problemas não tem
um ponto de partida bem definido, pois eles tem múltiplas formulações e que
são problemas de uma escala contidos dentro de problemas de uma escala
maior. Ou seja, em ambos os casos não está preestabelecido por onde o proje-
tista deve começar.
Já no caso das características 2 e 3 vemos que também não está bem defi-
nido um parâmetro para encerrar o projeto. Ou seja, o projetista também não
sabe quando deve parar de projetar.
E no caso da característica 4 vemos que o processo para enfrentá-lo tam-
bém não é definido, e junto com 9 podemos supor que cada vez será um pro-
cesso diferente.
Para enfrentar estes problemas, que Buchanan (1992) chama de indetermi-
náveis, Dorst (2010) propõe que não basta apenas a abdução, mas que é neces-
sário um “segundo tipo” de abdução, onde é necessário criar o objeto que se
deseja (o que), e ao mesmo tempo elaborar a forma de trabalho para se chegar
a este objetivo (como). “Este passo criativo exige que o projetista elabore pro-
postas para o ‘o que’ e ‘como’, e as teste conjuntamente.”
Portanto podemos dizer que problemas comuns de projeto não tem início
nem fim bem definidos, que exigem um processo único e sempre desconhe-
cido, e que este processo precisa ser criado ao mesmo tempo que se desen-
volve o objeto que está sendo projetado. Colocado desta forma, explicitamente,
o desafio pode parecer hercúleo, até mesmo insuperável.

Práticas reflexivas
No entanto isto não é muito diferente do que projetistas fazem há muitos anos
e um dos grandes méritos dos estudos em pesquisa projetual a partir de mea-
dos dos anos 80 foi evidenciar esta forma de trabalho e, respeitando sua diver-
sidade, procurar padrões e procedimentos comuns. Em contraste com o esforço
que teve início nos anos 60 de se “cientificizar” o projeto, este novo enfoque
procurou entender o que seriam os modos particulares de trabalho utilizados
em projeto (CROSS 2007).
Desta iniciativa temos muitos estudos que procuraram entender como de
fato projetistas trabalham (CROSS, CROSS 1996; CROSS 2001, 2002, 2003, 2004;
DORST 1997; DORST, CROSS 2001; GOLDSCHMIDT 1991, 2004; LAWSON 2004a,
2005; VERSTIJNEN et al. 1998), em contraste com a postura típica dos anos 60,
baseada em abstrações de como eles deveriam trabalhar. O objetivo agora seria
entender os “modos projetuais” (do inglês designerly ways) ou o “pensamento
projetual” (do inglês design thinking), que se tornaram expressões bastante
comuns na área de estudos de pesquisa em metodologias de projeto.
A partir destas pesquisas temos diversos procedimentos e enfoques que
são encontrados recorrentemente em projeto. Mesmo sem compor um quadro
completo eles podem ser vistos como “boas práticas” e apresentam o tipo de
procedimento que parece ser necessários para um profissional desempenhar
suas atividades.

Conversa reflexiva
Segundo as observações de Schön (1983), a conversa reflexiva é um modo de

55
trabalho que não dissocia o processo em análise e síntese. Ao invés disto propõe
que o processo se dá num processo interativo, como em uma “conversa com a
situação” (SCHÖN 1983, p. 79). Nesta “conversa” ocorrem diversas atividades,
mas sem uma predefinição da sequência entre elas, apenas com uma alternân-
cia entre atividades de enquadramento, onde o projetista procura enxergar o
problema por um ângulo favorável, e de jogadas, onde uma proposta de altera-
ção ao problema é feita, quase como uma aposta ou lance, tomando como base
o enquadramento anterior. Lawson descreve o processo da seguinte forma:
“Esta atividade envolve olhar seletivamente para a situação de projeto de um
modo particular por um período ou fase. Este foco seletivo permite que o proje-
tista lide com a enorme complexidade e as inevitáveis contradições no projeto,
dando estrutura e direção para pensar, ao mesmo tempo que suspende tempo-
rariamente alguns problemas” (LAWSON 2005, p. 292).

Na verdade, escolher quando parar uma atividade e para qual atividade ir


em seguida é uma das grandes qualidades que um projetista deve desenvolver
(CROSS 2004). Esta é justamente a reflexão-em-ação (do inglês reflection-in-
action) de um projetista, que transforma um simples diálogo em uma “conversa
reflexiva” (SCHÖN 1983, p. 79).
Este conceito tem muita ressonância com uma descrição do processo de
projeto, apresentado por Moggridge (2007, p. 730) e visto na Figura 5, que
representa uma visão geral do processo de projeto conforme praticado em sua
empresa. Ele seria composto por dez elementos em um processo cíclico (setas
em cinza). No entanto, como é ilustrado pelas linhas no centro do gráfico (em
preto), “o processo mais produtivo é geralmente fora de ordem; ele pode às
vezes parecer quase aleatório” (MOGGRIDGE 2007, p. 729).

Figura 5: O processo de projeto segundo Moggridge (2007, p.730).

56
Análise através da síntese
Ao comparar arquitetos (estudantes) com cientistas percebeu-se que estes dois
públicos tratavam os problemas de maneiras distintas. Os cientistas primeiro
tentavam entender as variáveis do problema, para depois desenvolver uma
solução. Já os arquitetos faziam propostas não necessariamente para solucioná-
lo, mas utilizavam estas propostas como degraus para avançar aos poucos em
direção a uma solução. Esta estratégica pode ser chamada de “análise através
da síntese” e parece ser uma característica específica do estilo cognitivo dos
projetistas (LAWSON 2005, p. 44).

Geradores primários
Considerando que o projeto ocorre em um ciclo de enquadramentos e jogadas
que se retroalimentam reciprocamente, temos o problema de escolher por onde
começar, ou seja, quais parâmetros utilizar para o primeiro ciclo?
Para resolver esta questão os projetistas elencam alguns parâmetros “uni-
versais” que consideram como bons pontos de partida, e o utilizam como “gera-
dores primários” para iniciar o processo de conversa reflexiva com o problema
(CROSS 2002).
Estes princípios podem ser regras gerais de um corolário, com “a forma
segue a função” ou podem ser extraídos do próprio problema em questão como
um terreno que se mostra muito desafiador ou uma situação que aponta par um
sistema estrutural em particular. De qualquer forma, o projetista usa estes prin-
cípios como ponto de partida para dar início ao processo de conversa reflexiva.

Coevolução do par problema-solução


Dentro deste ciclo interativo de análise através da síntese, o processo de com-
preensão do problema e desenvolvimento de soluções é altamente interligado.
Um determinado enquadramento ou jogada provoca uma resposta do pro-
blema que leva simultaneamente a uma nova proposta e uma melhor compre-
ensão do problema.
Observando projetistas trabalhando, Dorst e Cross exemplificam o pro-
cesso de coevolução do par problema-solução da seguinte forma:
“Os projetistas começam por explorar o [espaço do problema], e encontrar, des-
cobrir, ou reconhecer uma estrutura parcial. Essa estrutura parcial é então usada
para fornecer-lhes também uma estruturação parcial do [espaço da solução].
Eles consideram as implicações da estrutura parcial no [espaço da solução], uti-
lizam-na para gerar algumas ideias iniciais para a forma de um conceito de pro-
jeto, e assim estender e desenvolver a estruturação parcial (…). Eles transferem
a estrutura parcial desenvolvida de volta para o [espaço do problema], e, nova-
mente consideram as implicações e estendem a estruturação do [espaço do
problema]. Seu objetivo (…) é criar um par problema-solução correspondente”
(DORST, CROSS 2001).

Em algumas situações, apenas depois da criação de uma possível solução é


que o problema passa a ser de fato compreendido (LAWSON 2005, p. 48). Além
da complexidade frequentemente presentes nos projetos, um fator que reforça
esta situação é a dificuldade que os próprios clientes e/ou usuários tem em des-
crever o problema nas etapas iniciais (LAWSON 2005, p. 35). Tipicamente eles

57
tem muita dificuldade em apontar requisitos importantes no início do processo
e apenas após o projetista apresentar alguma solução é que os requisitos e cri-
térios vão ficando mais claros (CROSS 1990).
Estes desenvolvimento gradativo do problema é um grande desafio para o
desenvolvimento do projeto, pois evidencia a fragilidade de procurar especificar
com precisão o problema no início do processo. O mais adequado é entender o
levantamento de dados e o documento de diretrizes (briefing) como um processo
contínuo, e não uma etapa ou documento fechado, limitado ao início do projeto.

Representação como ferramenta


O processo de projeto envolve a geração de muitas representações do que está
sendo elaborado, e pode-se dizer que o objetivo último do projeto é “atingir uma
representação satisfatória da entidade sendo projetada” (GOLDSCHMIDT 2004).
No entanto estas representações tem naturezas muito distintas (Lawson
2005, p. 33) e para o ponto em questão uma diferenciação é fundamental: o seu
valor enquanto produto ou como suporte para viabilizar um processo (BARROS,
VELLOSO, COSTA 2013).
Nas representações mais conhecidas, o valor principal está no produto
final, ou seja, na capacidade da representação de registrar e comunicar o ente
projetado, como é o caso dos desenhos técnicos finais ou em desenhos explica-
tivos para mostram o produto final.
Entretanto podemos propor que as representações mais importantes para
o projeto são as representações “de trabalho”, onde o mais importante é o pro-
cesso que elas propiciam. Neste caso elas não são um produto mas uma fer-
ramenta utilizada para o desenvolvimento do projeto, independentemente do
suporte (CARLI, BARROS, COSTA 2012) ou de ser um processo individual ou
coletivo (BARROS, VELLOSO 2013; CARNEIRO, BARROS, COSTA 2011).
Este é o caso de desenhos de esboço feitos na elaboração de uma ideia ou
de representações feitas para discussão e validação em uma reunião. Findo o
processo, estas representações perdem sua função e normalmente são descar-
tadas ou arquivadas.
Dentro da conversa reflexiva esta segunda categoria de representações,
como ferramentas, tem um papel fundamental. No ciclo de enquadramentos
e jogada elas servem como um suporte físico intermediário onde o projetista
pode externalizar um pensamento para poder olhar para ele, como uma exten-
são de sua memória de trabalho (FISH 2004). Lawson descreve desta forma:
“As evidências sugerem que o desenho funciona como uma espécie de memó-
ria externa neste respeito. (…) Ao explorar um complexo conjunto de questões
para as quais não existem subdivisões lógicas ou teóricas corretas, o dese-
nho pode servir como uma forma de ‘congelar’ algumas características por um
momento enquanto outras são exploradas. O desenho propositivo é também
uma forma que o projetista tem para fazer, registrar e testar hipóteses. O esboço
propositivo se torna uma espécie de ferramenta gráfica para o ‘e se’”. (no original:
“a sort of graphical ‘what if’ tool”) (LAWSON 2004b, p. 52)

Mas este desenho, ao contrário de um desenho de algo que já existe, é um


desenho que ajuda a formar uma imagem. Goldschmidt coloca que “Fazer esbo-
ços, então, não é meramente o ato de representar uma imagem preformulada;

58
no contexto que estamos tratando, é, mais frequentemente, uma busca por esta
imagem.” (GOLDSCHMIDT 1991)
Isto significa que a habilidade do projetista está além da representação, além
da habilidade de se dominar uma ferramenta ou método de representação. É ne-
cessária uma habilidade em outro nível, de poder manipular não apenas os ins-
trumentos de representação, mas as próprias representações como instrumentos.
Portanto sem a habilidade para gerar e manipular estas representações, ou
seja, de “conversar” com a situação, o projetista fica muito debilitado. Talvez
fique até impedido de estabelecer uma conversa de fato reflexiva, e o projeto
como um todo ficaria naturalmente bastante aquém de seu potencial.

Linhas de raciocínio paralelas


Frequentemente os enquadramentos e jogadas utilizados em uma situação não
são compatíveis entre si. De fato, para ter uma visão mais completa é interes-
sante observar a questão de pontos de vista complementares, e muitas vezes
conflitantes e portanto é comum que projetistas desenvolvam mais de uma
solução, excludentes entre si, para um mesmo problema. A questão central aqui
é a “habilidade e vontade de permitir que duas ou mais destas investigações
paralelas aconteçam sem necessariamente tentar resolvê-las prematuramente”
(LAWSON 2005, p. 212).
Portanto, além das habilidades já colocadas, para manter alternativas con-
flitantes em aberto durante um período até bastante longo do projeto o proje-
tista precisa conseguir tolerar um nível razoável de incerteza temporária.

Repertório de manobras
A medida que o projetista desenvolve novos projetos, ele é capaz de perce-
ber que algumas das estratégias que usou ou soluções que gerou são particu-
larmente interessantes, e eventualmente aplicáveis em outros projetos. Com a
experiência é comum que os projetistas montem um repertório de manobras,
onde estas soluções são utilizadas recorrentemente (LAWSON 2004a).
É interessante notar que estas manobras podem passar a ser usadas como
geradores primários, o que faz o projetista ter como ponto de partida em um novo
projeto soluções que considera boas em projetos passados. Este tipo de procedi-
mento pode levar um projetista a desenvolver um “estilo” próprio, caracterizado
por soluções que utiliza recorrentemente, ou ter uma “prática” particular, com-
posta pelas estratégias que considera mais interessantes e adota frequentemente.

Alternância entre atividades


Ao tentar consolidar um modelo de atividades para o projeto, LAWSON e DORST
(2009, p. 50) apresentam a hipótese de que existem cinco atividades básicas: for-
mulação, jogada, representação, avaliação e gerenciamento. Seguindo o para-
digma da conversa reflexiva estas atividades não são encadeadas em nenhuma
forma particular e o projetista alterna entre elas conforme julga necessário, em
um padrão que parece caótico e até randômico, conforme visto na figura 6, mas
que é uma das habilidades desenvolvida pelo projetista.

59
Figura 6: Alternância entre as atividades segundo Lawson e Dorst (2009)

Novamente referenciando a descrição de Moggridge sobre o processo,


ele diz: “O processo não se parece com um diagrama de sistema linear, nem
mesmo um diagrama circular de iterações, mas é mais como uma máquina
de fliperama, onde a bola ricocheteia rapidamente em direções inesperadas”
(MOGGRIDGE 2007, p. 650).
Das cinco atividades é interessante notar que jogada e avaliação se man-
tém e formulação é bastante semelhante ao enquadramento, desta forma este
modelo é uma clara evolução da proposta da conversa reflexiva de Schön
(1983), de alternância entre enquadramento, jogada e avaliação.
Além destes três é incluída a atividade de representação, que tem uma
importância particular, conforme discutimos anteriormente, e a de gerencia-
mento. Esta última atividade merece uma atenção em particular, pois aqui
vemos uma distinção entre o que Schön (1983) chamou de reflexão-em-ação
(reflection-in-action) e reflexão-sobre-a-ação (reflection-on-action).
Como o processo reflexivo não é dado a priori, o projetista precisa controlá-
lo continuamente, e portanto o gerenciamento do processo é parte integral da
atividade. Isto pode ocorrer em um intervalo de segundos, quando está dese-
nhando, até em uma atividade que pode levar muitos dias. Mas esta gestão está
inserida dentro do próprio processo caótico de projeto (em-ação) e é diferente
de quando é feita a gestão do projeto como um todo (sobre-a-ação), e o proje-
tista se distancia das outras atividades (LAWSON, DORST 2009, p. 58).
É interessante notar que Dorst (2010) propõe que o gerenciamento acontece
em três níveis, sendo um dentro do ciclo iterativo de atividades, outro no nível
do projeto como um todo, onde se utiliza o modelo de produtos, e o terceiro no
nível da empresa como um todo.
Este conjunto de práticas mostra que existe uma relação muito próxima
entre o paradigma reflexivo e sua forma de trabalho particular, que é funda-
mental para se trabalhar com o tipo de problemas que costuma lidar, os proble-
mas selvagens. Procuramos desta forma evidenciar que, excluindo o paradigma
reflexivo do processo de projeto, podemos estar excluindo a própria natureza
da atividade de projeto, como ela já é feita.

60
O que vemos, portanto, é que neste caso a assimetria entre os paradigmas,
uma assimetria de valores, evidencia o paradigma reflexivo, colocando-o como
o elemento que diferencia o projeto de outras atividades que trabalham exclu-
sivamente dentro do paradigma racional.
E uma vez que os estudos que evidenciaram estas práticas foram baseados
na observação e análise do trabalho (ou simulações) de projetistas é natural que
eles pareçam muito próximos do que de fato vemos sendo usado na prática dos
profissionais. No entanto é importante notar que esta já era a expectativa dos
arquitetos envolvidos com a área no final dos anos 60, conforme nos diz Broa-
dbent (1969), ao criticar o enfoque excessivamente racionalista dos anos 60 e já
apontar uma direção mais interessante para as pesquisas:
“É provável que os novos métodos de projeto vão ser muito parecidos com o que
os projetistas imaginam que fazem, mas haverá uma diferença. Eles vão aproveitar
todas as técnicas disponíveis de pesquisa operacional, análise de sistemas, com-
putação e a nova matemática. Mas eles não serão dominados por estas técnicas.”

No entanto esta “naturalidade” encontrada nestas práticas pode ser uma


faca de dois gumes. Se por um lado é familiar para os projetistas, justamente
por ser familiar pode parecer como algo que já é praticado e conhecido, e que
portanto não traz muita novidade nem modifica sua forma de trabalho. Esta
visão pode anular a valorização do paradigma reflexivo que acabamos de expor,
e eventualmente até agir em sentido oposto, desvalorizando o seu reconheci-
mento por ser algo já naturalizado, afinal “sempre foi assim”.

Por um equilíbrio entre os paradigmas


Procuramos mostrar até aqui que o paradigma reflexivo parece não ter o devido
reconhecimento, pois tudo indica que é mais valioso e menos valorizado.
O paradigma racional parece ser sobrevalorizado por ser utilizado em
maior parte do tempo do projeto, ser bastante tentador por sugerir uma preci-
são e previsibilidade que trariam muitos benefícios, se fossem possíveis, e por-
que para um observador menos treinado, como um cliente ou um profissional
de outra área, pode parecer a única forma correta de trabalho, enquanto que o
paradigma reflexivo pode parecer um erro ou imperícia. Finalmente, mesmo
para uma parcela dos projetistas existe apenas o paradigma racional como pos-
sibilidade dentro das metodologias projetuais.
Em contraste, o paradigma reflexivo, que foi elaborado para lidar com situ-
ações de indefinição típicas do projeto e que está intimamente ligado à sua prá-
tica, aparece subvalorizado por ser pouco conhecido por quem não é da área,
e por poder parecer óbvio e restrito à esfera do conhecimento intuitivo e tácito,
não explícitável, para quem o utiliza.
Em uma situação ideal o projetistas e todos os intervenientes teriam cla-
reza da alternância entre os modos de trabalho típicos de cada um dos paradig-
mas, e respeitariam suas especificidades. Na figura 7 mostramos um exemplo
de como esta alternância poderia acontecer, o diagrama superior é uma repe-
tição do diagrama de Gantt mostrado anteriormente e na parte de baixo temos
a alternância das atividades entre os paradigmas racional e reflexivo em dois
momentos do projeto, um com ênfase reflexiva e outro, racional.

61
Figura 7: Exemplo da alternância entre os paradigmas racional e reflexivo ao longo
do projeto.

Para ao menos nos deslocarmos na direção desta situação ideal acreditamos


que seja imprescindível que duas coisas aconteçam. Que o paradigma reflexivo
seja melhor compreendido e mais valorizado pelos próprios projetistas. Que ele
também seja divulgado para os outros atores envolvidos no processo de projeto.
No caso dos próprios projetistas, podemos supor que os profissionais com-
petentes conhecem o paradigma, mas apenas de um modo tácito. Ao com-
preendê-lo de modo explícito o projetista poderia articulá-lo com muito mais
desenvoltura, comunicá-lo com mais facilidade e lidar com ele com a mesma
naturalidade que utiliza no paradigma racional.
Já no caso dos outros atores, como clientes, gestores e outros profissio-
nais, podemos imaginar que a falta de compreensão do paradigma gera uma
falta de valorização do mesmo, o que pode dificultar muito a alocação ade-
quada de recursos para estas atividades. Com uma visão mais clara deste para-
digma ficaria muito mais evidente qual a real contribuição que o projetista pode
dar e onde esta contribuição pode ser melhor aplicada.
Evidentemente uma terceira situação se beneficia com esta visão mais
balanceada, o ensino de projeto. Na situação de profissionais em formação
a visão clara deste enfoque duplo facilita a observação sobre seu desenvolvi-
mento e inclusive sobre o desenvolvimento de suas preferências e aptidões.
Já em situações onde existe um predomínio desmedido do paradigma racio-
nal temos uma condição de perda mútua. O projeto perde pois provavelmente
deixa de lado a oportunidade de receber a maior contribuição que teria, em situ-
ações de prática reflexiva, e a prática projetual perde pois nega a sua natureza e
se desvaloriza, ficando restrita à resolução de problemas bem definidos.

62
Conclusão
Após apresentarmos os dois paradigmas e procurarmos demostrar a assimetria
que existe entre sua importância e sua valorização, retomamos a caso das cida-
des ‘inteligentes’. Nos casos onde o problema aparece como já bem definido
temos naturalmente um caso de desbalanço em favor do paradigma racional e
uma provável depreciação da atividade de projeto.
Retomando a questão da definição dos problemas, os problemas urbanos
continuam sendo “selvagens”, mesmo nas cidades inteligentes, e devem ser tra-
tados como tal. Partindo de um problema já posto, em contraposição aos pro-
blemas a serem ativamente interpretados, acabamos por negar a complexidade
natural e inerente deste tipo de situação e por descartar levianamente as opor-
tunidades de maior chance de impacto. Estamos apenas “enjaulando” proviso-
riamente o problema, mas em sua natureza ele continua “selvagem”, ele não se
tornou manso ou domesticado, e isto é perigoso.
Os problemas urbanos que envolvem tecnologias de informação e comunica-
ção devem ser tratados de maneira similar a outros problemas urbanos que são
também muito complexos e envolvem o uso intensivo de tecnologias. Chamar
este tipo particular de situação de “inteligente” não parece trazer nenhum avanço.
São problemas urbanos, e devem utilizar os modos de trabalho mais ade-
quados, onde problema e a solução são questionados e aprimorados simulta-
neamente. Esta é a grande contribuição que o um projeto inteligente pode trazer
para uma cidade de fato inteligente.

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