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JOÃO PESSOA
2013
1
JOÃO PESSOA
2013
2
TERMO DE RESPONSABILIDADE
RG 2.840.260 SSP-PB
3
BANCA EXAMINADORA
_________________________________
Orientadora
________________________________________
1º Examinador
________________________________________
2º Examinador
JOÃO PESSOA
2013
4
AGRADECIMENTOS
A Deus, que é Pai, Filho e Espírito Santo pelo dom da vida e pelas maravilhas
concedidas a mim, e também a Nossa Senhora Aparecida por sua intercessão.
Aos meus pais pela educação que me proporcionaram, pelo apoio em todas as minhas
escolhas e por terem me escolhido como filha.
A toda a minha família, em especial aos meus avôs maternos pelo carinho e amor.
A todos que fazem a Fundac e a Casa Educativa pela colaboração na minha pesquisa
de campo.
A todos os mestres e doutores citados neste trabalho que muito concorreram para o
meu conhecimento.
A Diágoras que divide comigo ao longo de dezessete anos momentos importantes das
nossas vidas.
Aos meus amigos da Paróquia São José por mudarem completamente a minha rotina
nos fins de semana.
Enfim, a minha sincera gratidão a todos que contribuíram para a realização de mais
uma etapa da minha vida.
6
RESUMO
ABSTRACT
This monograph aims analyze the educational measure of internment against the
construction of citizenshipin the Educational House of Development Foundation for
Children and Adolescents in the State of Paraíba. The idea to conduct this study
stemmed from the absence of studies in educational measure of female internment to
bring specific principles for the application of a measure worthy, and soon proportional
promoting education, without forgetting the response required by the State in order to
obtain an effective rehabilitation. As well as that of awakening for the right regulatory and
coercive exist it is necessary that people abide by their core values, and that
citizenshipin its various dimensions is the means for the realization of these rights. The
survey data was conducted through a questionnaire with open and closed questions to
both the internal and the management unit, addition to literature, using theoretical social
sciences and law. The methodology used was analysis of field data. The sample
universe comprised fifteen internal teenagers in July 2013 who wished to participate.
Through field research conducted at the female internment unit we identify how
adolescents received or exercised the right and citizenship inside that house, according
to the specific laws that regulate them. We also sought to define the profile of
adolescents who commit criminal acts, we analyzed the breach of legal rules with in
historical in congruities that create and recreate the social reality of juvenile delinquency
and examine the aspects socioeconomic demographic. We point out some reflections
without the ambition to exhaust the subject and the perceived results. Finally, do not
want to victimize the adolescent, but raise that there are several factors that come
together in the setting of social vulnerability of the women, both in early life as well as in
residential institutions preventing the effective exercise of citizenship and thus the right.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................ 14
2 MEDIDA SOCIOEDUCATIVA....................................................... 17
2.1 A RELAÇÃO HISTÓRICA DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES
COM AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS..................................... 17
2.2 ESPÉCIES DA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA E OS PRINCÍPIOS
NORTEADORES DA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE
INTERNAÇÃO................................................................................. 21
3 A MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO NO ESTADO
DA PARAÍBA................................................................................. 29
3.1 A UNIDADE FEMININA DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE
INTERNAÇÃO NO ESTADO DA PARAÍBA.................................... 31
3.2 DIREITO E CIDADANIA.................................................................. 33
3.2.1 Reflexos na população feminina em medida socioeducativa de
internação no Estado da Paraíba..................................................... 33
4 DESCRIÇÃO DA PESQUISA DE CAMPO..................................... 37
4.1 AMOSTRA.................................................................................... 37
4.2 PROCEDIMENTO......................................................................... 38
4.3 INSTRUMENTO............................................................................ 39
4.4 RESULTADO E DISCUSSÃO......................................................... 40
4.4.1 Dados socioeconômicos demográfico....................................... 40
4.4.2 Representação e prática social................................................... 48
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................ 52
REFERÊNCIAS .............................................................................. 55
APÊNDICES
APÊNDICE A: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para
Responsável pela Adolescente....................................................... 60
APÊNDICE B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para
as Gestoras..................................................................................... 64
10
LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE SIGLAS
1 INTRODUÇÃO
O problema que nos incomodou e tornou possível pensar neste tema para a
monografia foi saber em que medida a unidade socioeducativa no estado da Paraíba
tem gerenciado o direito e a cidadania na internação feminina; seria a maneira que está
sendo administrada em nosso Estado que facilitará ou não o processo de
ressocialização das internas possibilitando a diminuição da reincidência infracional.
Será que a medida socioeducativa de internação representa uma forma de garantir ao
autor da prática de ato infracional o direito e a cidadania para atingir a ressocialização
de forma excepcional, breve, digna, humana e proporcional.
Assim, o primeiro capítulo deste trabalho traz a relação histórica das crianças e
adolescentes com as medidas aplicadas em resposta ao ato infracional cometido,
lembrando um pouco do primeiro Código Penal que tratou dos adolescentes que
tivessem praticado ato ilícito até promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA), que passou a ver a criança e o adolescente como pessoas de direitos especiais.
Destacamos os vários tipos de medida, em especial a de internação e passamos
conhecer um pouco sobre a Casa Educativa.
O segundo capítulo é destinado às reflexões da natureza metodológica
relacionadas ao tema proposto. Buscamos compreender como são construídos o
Direito e a Cidadania dentro da Casa Educativa, a partir do referencial legal, das
próprias adolescentes e também das gestoras. Para tanto, utilizamos as gerações dos
direitos fundamentais, inspirados no modelo francês como referencial teórico.
O terceiro capítulo visa demonstrar os dados socioeconômicos demográfico e as
representações sociais como as adolescentes em cumprimento da medida
socioeducativa de internação que vão além do senso comum, confrontando-se com a
criminalização da pobreza, do vício em drogas, de modo que levam adiante práticas
ilícitas em nome do afeto, amizade, vontade, aceitação no grupo e forma de mostrar
autossuficiência.
Não pretendemos exaurir o tema, sendo os resultados a forma como
percebemos o trabalho ao longo da pesquisa.
17
2 MEDIDA SOCIOEDUCATIVA
1
Quando não vier especificado o termo criança e adolescente, para este trabalho consideramos criança
todo ser humano com menos de dezoito anos de idade, como também é adotado pela Declaração
Universal dos Direitos da Criança.
2
Neste período não se tinha o sentimento pela criança ou jovem, o pai poderia matá-lo, condená-lo à
morte, vendê-lo como escravo, excluí-lo da família, se assim julgasse necessário (ARIÈS, 1981).
18
casas de correção, pelo tempo que ao Juiz parecer, com tanto que o recolhimento não
exceda a idade de dezessete anos”.
Percebemos que esta forma de inserção no Código Penal foi a primeira tentativa
do Brasil-Império em legislar sobre a conduta negativa desses infratores, sendo
privados de sua liberdade e colocado em casas de correção.
Com a implantação da República o país dá início a um novo regime, no qual
perdura até os nossos dias. A sobrevivência continuava difícil para as crianças e
adolescentes, o Código Penal (1890) pouco mudou, mas introduziu no art. 27,
parágrafo primeiro, os inimputáveis, “os menores de 9 anos completos” sem a exceção
do discernimento que figura no parágrafo segundo de mesmo artigo “os maiores de 9 e
menores de 14, que obrarem sem discernimento”.
O Código Penal (1890) inovou ao trazer como estabelecimento disciplinar a
indústria, como traz o art. 49 “a pena de prisão disciplinar será cumprida em
estabelecimentos industriais especiais, onde serão recolhidos os menores até a idade
de 21 anos”. Este código trouxe a pedagogia do trabalho como forma de “regeneração
daqueles que não se enquadravam no regime produtivo vigente” (SANTOS, 2013, p.
216).
Diferentemente do Império que diferenciava a medida imposta entre meninos e
meninas, pois estas eram recolhidas na Santa Casa (FALEIROS e SILVEIRA
FALEIROS, 2007), neste período o código republicano não fazia nenhuma distinção de
gênero, sendo aplicadas penas iguais para os mesmos crimes, o que gerou grande
polêmica e até argumento por se tratar, segundo os críticos da época, do sexo frágil,
assim:
Para sexos diferentes, diferentes regras. A mulher ainda não atingiu um grau de
mentalidade perfeitamente igual ao de homem. A sua educação não
corresponde ainda às aspirações, a que certo levará a evolução humana. A
diferença mental nos dois sexos é um fato positivo, com inferioridade do sexo
feminino” (SANTOS apud VIEIRA, 2013, p. 218).
Para o referido código cuja doutrina era a da situação irregular do “menor” não se
fazia distinção entre o vulnerável e o infrator, estigmatizava a pobreza como a causa
para o cometimento de atos infracionais, rearranjo familiar como necessidade de
intervenção estatal. A Política Nacional do Bem-Estar do Menor era a de intervenção
estatal direta a tudo que eles considerassem anormal fosse à pobreza, abandono,
família monoparental, nada o impedia em retirar o poder familiar e julgar a reclusão
como melhor forma de integração social.
Com o fim da Ditadura Militar e a mobilização social com a Assembleia
Constituinte (1987) para efetivar uma Constituição cidadã, foi levada a proposta de
direitos especiais para a criança e o adolescente, passariam de objeto a sujeitos de
direitos da pessoa humana. Vale salientar que a Organização das Nações Unidas
(ONU) já desenvolvia a doutrina da proteção integral e que foi um fator preponderante
para que o Brasil passasse a adotá-la na sua constituição democrática.
No ano de 1988 é promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil,
com Direitos Fundamentais e “inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade,
21
Ainda que o adolescente tenha cometido ato infracional o juiz deverá levar em
consideração a sua capacidade em cumprir a medida socioeducativa imposta e que ela
seja proporcional à infração cometida.
A medida socioeducativa de internação não apresenta tempo determinado tem
um limite máximo de três anos, pois ela deve atender a brevidade, sendo aplicada
excepcionalmente, caracterizada pelo caráter educacional. E conclui com a
desinternação que tenderá a ocorrer com a evolução social do interno.
As medidas socioeducativas se apresentam em seis tipos: advertência,
obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida,
inserção em regime de semiliberdade e internação em estabelecimento educacional.
Na advertência (ECA, arts. 112, I e 115) será feita uma leitura do ato infracional
cometido, reduzida a termo e assinada, consistirão no comprometimento de que a
situação não repetirá, como apresenta Ramidoff “é uma admoestação verbal a ser
aplicada judicialmente em audiência especificamente destinada para tal desiderato”
(RAMIDOFF, 2011, p. 109).
A obrigação de reparar o dano (ECA, arts. 112, II e 116), havendo prejuízo ao
patrimônio e possibilidade em ressarci-lo poderá ser determinado ao adolescente que
restitua a coisa, promova o recuperação ou compense o prejuízo da vítima. Ela “deve
ser suficiente para despertar no adolescente o senso de responsabilidade social e
econômica em face do bem alheio” (ISHIDA, 2013, p. 277, grifos do autor). Não
havendo possibilidade em restituir a coisa, ressarcir o dano ou compensar o prejuízo
causado à vítima, a medida poderá ser substituída por outra (RAMIDOFF, 2011).
A prestação de serviços à comunidade (ECA, arts. 112, III e 117) é a realização
de tarefas de interesse geral junto a entidades assistenciais, escolas, hospitais,
programas comunitários ou governamentais, não excedendo o período máximo de 06
meses, jornada máxima de oito horas semanais, sem prejudicar a freqüência escolar ou
à jornada normal de trabalho, compatível com as condições pessoais do adolescente,
excluindo-se o caráter vexatório ou humilhante. Ramidoff alerta que para “a eficácia
jurídica e social [...] depende da construção permanente de comunicação e cooperação
técnica entre o Poder Judiciário e as Equipes Técnicas [...] que [...] [desenvolvem]
26
3
Alice de Almeida, esposa do governador do Estado da Paraíba Rui Carneiro, foi
presidente da Legião Brasileira de Assistência (LBV) (CARNEIRO, 1977).
30
4
Atende as medidas de privação de liberdade, provisória e internação, do sexo masculino e também é
denominado de CEA – Centro Educacional do Adolescente.
5
Chamada de Lar do Garoto, a unidade atende a medida de internação do sexo masculino.
6
Atualmente o Abrigo Provisório se encontra em Lagoa Seca (anexa ao Lar do Garoto) por medida
judicial, que interditou a unidade localizada em Campina Grande, atende a privação provisória do sexo
masculino.
7
Sendo uma feminina, nomeada de Casa Educativa, atende a provisória e internação feminina de todo o
Estado; uma masculina excepcional, CEJ – Centro Educacional do Jovem, (18 – 21 anos) que atende a
provisória e a internação masculina e o CEA que atende adolescentes do sexo masculino em situação
jurídica provisória ou internação.
31
A Teoria Pura do Direito nos mostra que para termos o Direito Positivo se faz
necessário que as normas sejam estabelecidas por pessoas, através de atos de
vontade explícitos para essas mesmas pessoas. E que essas vontades podem se
apresentar como normas coercitivas, onde prescreve uma determinada conduta e, caso
necessário, uma execução.
De tal forma, se faz necessário resguardar a vida da pessoa humana
proclamando seus direitos fundamentais individuais. As adolescentes que cometem ato
infracional também precisam desses direitos, que são essenciais para aplicação da
medida socioeducativa internação de forma adequada, digna e mais breve possível.
Os direitos fundamentais nasceram do Direito Natural, apresentando-se em três
gerações, e são aqueles inerentes a pessoa humana, constantes na Constituição
Federal e como pessoas com direitos especiais, também no Estatuto da Criança e do
Adolescente.
pessoa receba uma medida coercitiva reconhecida socialmente a fim de impedir novas
transgressões.
Sabemos que o Direito vive em constante adaptação para atender o progresso
social e este papel de modificar o direito é exercido através da cidadania, portanto:
“Este processo de adaptação externa da sociedade compõem-se de normas jurídicas,
que são células do Direito, modelos de comportamento social, que fixam limites à
liberdade do homem, mediante imposição de condutas” (NADER, 2006, p. 20).
O direito e a cidadania estão intrinsecamente ligados, pois um depende do outro
para sua existência, o direito depende do exercício da cidadania para existir, e esta
depende de um ambiente democrático para nascer. Então, a democracia compreende
as formas do exercício da cidadania, sendo definidos através dos meios diretos ou
indiretos de participação dos cidadãos no exercício do poder (BARACHO, 1995).
Assim também, coaduna Roberto Damatta ao dizer que a cidadania busca a
igualdade de direitos “o papel social de indivíduo (e de cidadão) é uma identidade social
e de caráter nivelador e igualitário. Essa seria sua característica ideal e normativa, de
modo que, como cidadão, eu só clamo direitos iguais aos de todos os outros homens”
(DAMATTA, 1997, p. 67).
Então, mais do que ter o direito de votar, ser votado e o de participar da vida
política, a cidadania é o exercício da luta individual e coletiva para conquistar seus
direitos (HERKENHOFF, 2001). É através dessas lutas que temos o acesso à justiça, a
garantia processual e os princípios constitucionais, aplicação da lei ao caso concreto,
entre outros (BARACHO, 1995).
Sendo assim, no próximo capítulo trataremos da pesquisa de campo, abordando
a metodologia, instrumentos utilizados, fazendo uma discussão dos resultados obtidos
com a aplicação dos questionários às adolescentes e às gestoras da Casa Educativa.
4 DESCRIÇÃO DA PESQUISA DE CAMPO
4.1 AMOSTRA
pelo menos, quatro meses, devido ao fato de se acreditar que a apresentaria melhor
avaliação da vivência e estrutura institucional; e também aceitação após a
apresentação inicial de que se tratava a pesquisa.
Não foi excluída nenhuma adolescente, pois todas as selecionadas aceitaram
participar e concluíram o questionário e também não ocorreu desligamento da unidade
durante a pesquisa.
4.2 PROCEDIMENTO
A coleta de dados realizada na Casa Educativa com as gestoras nos permitiu ter
uma visão ampla de todas as 19 internas durante o mês de julho como também a parte
estrutural, pedagógica, rotina e gestão socioeducativa da unidade. As perguntas foram
respondidas pelas gestoras, pedagoga e assistente social da casa.
Durante o mês de julho a lotação atual da unidade era de 19 adolescentes;
sendo a média mensal de 25. Se compararmos as médias estatísticas dos anos 2010,
2011 e 2012, obtidas através Fundac perceberemos o aumento de internações
femininas.
Gráfico 1 - Média de Internações Femininas9
10
O descumprimento de medida é uma internação com tempo determinado de três meses. No momento
da pesquisa não havia nenhuma adolescente cumprindo esse tipo de medida socioeducativa.
11
Frequência dos Dados das Adolescentes N = 15 / Frequência dos Dados da Gestão N = 19.
42
12
O IBGE utilizou a idade média ao casar para pessoas de 15 anos ou mais de idade, com base na
técnica Singulate Mean Age at Marriage - SMAM, desenvolvida por Hajnal (1953).
13
Frequência dos Dados das Adolescentes N = 15 / Frequência dos Dados da Gestão N = 19
43
Embora o gráfico acima nos mostre que a maioria das adolescentes se considere
solteira, Alba Zaluar apresenta que as mulheres são iniciadas ao mundo ilícito através
do companheiro ou namorado.
Ainda que os dados obtidos na Casa Educativa nos indiquem que a maioria das
adolescentes internas está solteira, isto não quer dizer que não foram incentivadas pelo
e para o masculino. Constantino (2001) nos diz além do grupo feminino iniciado pelo
masculino existe um
outro distinto grupo de garotas que se envolve no tráfico o faz de forma mais
independente de maridos e namorados, podendo ter a entrada facilitada por
parentes ou amigos. Essa forma de inserção não indica que tenham excluído a
influência masculina em suas vidas, mas que este não é o fator determinante da
entrada e continuidade na atividade infracional (CONSTANTINO, 2001, p. 12).
14
Frequência dos Dados das Adolescentes N = 15
45
Os dados acima nos fazem refletir quão são as razões para o abandono escolar
pelas adolescentes, que além do mero desinteresse pelos estudos, esta evasão está
ligada a fatores subjetivos que, muitas vezes, estão arraigados a sua infância, ou seja,
ao início da sua vida escolar, onde os abusos são mais frequentes, seja através da
46
Com relação ao nível econômico nos chamou atenção o fato de que na família
de uma adolescente ninguém exercia atividade remunerada e recebiam auxílio
governamental no valor de R$ 300,00 (trezentos reais), através do Programa Bolsa
Família16; três delas nos disseram que viviam abaixo de um salário mínimo brasileiro 17 e
não faziam parte do programa de assistência do governo; cinco adolescentes falaram
que a família tinha uma renda acima de dois salários mínimos e sete famílias
sobreviviam com a renda de um salário mínimo por mês. Somente uma adolescente
apontou participar mais de um Programa governamental que era o Bolsa Família e o
Programa de Erradicação ao Trabalho Infantil (PETI) 18; três disseram não fazer parte do
15
Frequência dos Dados das Adolescentes N = 15
16
“É um programa de transferência direta de renda que beneficia famílias em situação de pobreza e de
extrema pobreza em todo o país. O Bolsa Família integra o Plano Brasil Sem Miséria, que tem como foco
de atuação os 16 milhões de brasileiros com renda familiar per capita inferior a R$ 70 mensais e está
baseado na garantia de renda, inclusão produtiva e no acesso aos serviços públicos” ( site do Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome).
17
Atualmente o valor do salário mínimo brasileiro é de R$ 678,00 (seiscentos e setenta e oito reais) (site
do Portal Brasil).
18
É “um conjunto de ações para retirar crianças e adolescentes com idade inferior a 16 anos da prática
do trabalho precoce, exceto quando na condição de aprendiz, a partir de 14 anos. O programa
compreende transferência de renda – prioritariamente por meio do Programa Bolsa Família –,
acompanhamento familiar e oferta de serviços socioassistenciais, atuando de forma articulada com
estados e municípios e com a participação da sociedade civil” (site do Ministério do Desenvolvimento
48
programa assistencialista e somente uma disse que não deseja que o serviço social da
unidade fizesse o encaminhamento para a inscrição no município onde residem.
Tendo em vista o ano do Censo do IBGE ter sido realizado em 2010, o valor
referente ao salário mínimo deste ano era de R$ 510,00 (quinhentos e dez reais), a
pesquisa mostrou que a Paraíba tinha grande parte da população com salário entre o
um a dois salários mínimos. Quando recorremos ao mapa do rendimento por área
urbana e rural verificamos que esta percebe até um salário pouco maior que um salário
mínimo, enquanto na área urbana o mais comum é perceber até dois salários mínimos.
cobrança de dívida com drogas para terem asseguradas sua permanência no tráfico
(CONSTANTINO, 2001).
Bourdieu trata a questão da dominação masculina,
Esta relação de poder sobre a mulher submetida como se fosse algo natural, que
fora construído socialmente, que tenta trocar a identidade feminina pela masculina, o
homem submete a mulher a esta inversão a fim de exercer exclusivamente essa
dominação.
É sob esta dominação também que mesmo sem a troca da identidade a mulher
passa a fazer parte do mundo ilícito através de influência de amigos, namorados,
companheiros, ou seja, do poder masculino.
Em nossa pesquisa, como demonstramos rapidamente no ponto que discutimos
os dados socioeconômicos demográficos, trouxemos que oito adolescentes afirmaram
que praticaram o ato ilícito por influência de más amizades, uma adolescente por
influência do namorado e quatro através de amigos e duas disseram que praticaram por
vontade própria.
Outra questão relevante é a relação dessas adolescentes com as técnicas que
fazem o atendimento individual (assistente social, psicóloga e defensora pública) que
unanimemente classificada como ótima. Com relação às gestoras a classificação foi
ótima para 90% delas, onde somente uma adolescente categorizou como regular. Este
vínculo de aceitação e confiança das adolescentes para com as técnicas é importante
porque favorece um ambiente de reconstrução do meio social através da percepção
individual de cada uma.
Assim como as influências negativas é um grande fator para o desenvolvimento
de distúrbios de comportamento na adolescência; as influências positivas podem ser
50
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar dos problemas que observamos como a estrutura física da unidade, ficou
evidenciada que as adolescentes procuram romper as dificuldades através do exercício
da cidadania. Através da freqüência escolar, da participação em cursos
profissionalizantes e entender que ambos a preparam para um futuro melhor.
Ao buscar a cidadania as adolescentes colocam em prática o direito, pois se o
direito não existe sem a cidadania, é necessária a consciência de que devemos lutar
para obter algo. Além disso, o processo de responsabilização deve ser trabalhado
durante todo o tempo da internação para que as adolescentes tenham a consciência do
52
último, é preciso que os órgãos e a sociedade em geral busque maior concordância para a
elaboração de novas oportunidades as adolescentes internas.
REFERÊNCIAS
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VIEZZER, Moema. O Problema não está na Mulher. São Paulo: Cortez, 1989.
____________________________________________
email: wclorenzo@terra.com.br
____________________________________________
Assinatura do (a) Responsável
___________________________________________
Testemunha (em caso de analfabeto)
____________________________________________
Assinatura da Pesquisadora
Em caso de dúvidas com respeito aos aspectos éticos deste estudo, você poderá consultar:
Pesquisadora Responsável: Wânia Cláudia Gomes Di Lorenzo Lima
E-mail: wclorenzo@terra.com.br
63
O motivo que nos leva a estudar esse assunto é o fato da medida socioeducativa
de internação feminina na Paraíba ter aumentado consideravelmente, merecendo maior
preocupação do Estado e da sociedade, sendo assim, verifica-se a necessidade de
investigar componentes das infrações, bem como, os fatores sociais interligados a
prática infracional em questão.
As 15 adolescentes que participarão desta pesquisa poderão ter idade de 12 a
18 anos, que estejam internas a mais tempo e aceitem livremente participar do
processo de entrevista e assinem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) para o desenvolvimento desta será executado o procedimento de aplicação de
questionário semiestruturado, sem utilização de outros meios, exceto quando a
adolescente não souber ler que será lido por ela e as respostas gravadas para posterior
compilação dos dados.
Para participar desta pesquisa, a adolescente sob sua responsabilidade jurídica
não terá nenhum custo, nem receberá qualquer vantagem financeira. Ela será
esclarecida em qualquer aspecto que desejar e estará livre para participar ou recusar-
se.
A senhora como responsável pela administração da unidade socioeducativa de
internação no estado da Paraíba, poderá retirar seu consentimento ou interromper a
sua participação a qualquer momento. A sua participação é voluntária e a recusa em
participar não acarretará qualquer penalidade ou modificação na forma em que será
atendida pelo pesquisador que irá tratar a sua identidade com padrões profissionais de
sigilo. A senhora não será identificada em nenhuma publicação.
A pesquisa será realizada na Casa Educativa, unidade de cumprimento de
medida socioeducativa de internação no estado da Paraíba, onde as adolescentes de
qualquer município cumprem a medida no período de até 3 anos, sendo abordadas
para esta pesquisa a direção da unidade de forma individual para aplicação do
questionário semiestruturado. Este material é considerado seguro, não oferecendo
riscos à saúde física, podendo trazer somente riscos rotineiros da própria unidade, no
entanto apresentamos o benefício no sentido de mostrar a visão das adolescentes de
como seria o cumprimento da medida socioeducativa digna, breve e proporcional, como
proposto legalmente.
65
____________________________________________
Assinatura da Participante
____________________________________________
Assinatura da Pesquisadora
Em caso de dúvidas com respeito aos aspectos éticos deste estudo, você poderá
consultar:
Pesquisadora Responsável: Wânia Cláudia Gomes Di Lorenzo Lima
E-mail: wclorenzo@terra.com.br
TERMO DE ASSENTIMENTO
________________________________
Assinatura da Adolescente
_________________________________
Assinatura da Pesquisadora
69
IDENTIFICAÇÃO DA UNIDADE
PERFIL DA ADOLESCENTE
ACOLHIMENTO
5 - Há espaço adequado para permanência dos filhos das internas? ( ) Sim ( ) Não
6- Até que faixa de idade é permitida a permanência dos filhos das internas em sua
companhia?
( ) 0 a 6 meses
( ) 7 meses a 1 ano
( ) 1 a 3 anos
ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO
4.1 - Os internos?
( ) Sim
( ) Não
4.2 - As famílias?
( ) Sim
( ) Não
8 - No envio dos relatórios é respeitado o prazo máximo previsto pelo art. 121, §2º (seis
meses), da Lei nº 8.069/90?
( ) Sim
( ) Não
PEDAGOGIA DA UNIDADE
ALIMENTAÇÃO
VESTUÁRIO
MATERIAL DE HIGIENE
REGIMENTO INTERNO
4 - Em caso positivo, esse outro documento análogo prevê regras a serem respeitadas
pelos adolescentes e servidores, descrevendo condutas que caracterizem transgressão
disciplinar e as sanções aplicáveis quando de sua prática?
77
SEGURANÇA
6 – Tem filho(s)?
( ) sim
( ) não
Se sim, quantos?
82
( ) sim
( ) não
Se sim, qual?
( ) Bolsa Família
( ) PETI
( ) Agente Jovem
( ) Auxílio maternidade
( ) outro
Se não, você acha que o Serviço Social da Casa Educativa deve encaminhar sua
família a programas socioassistenciais do governo?
( ) sim
( ) não
19 - Quanto aos tipos de oficinas oferecidas, você acha que elas atendem ao
desejo das adolescentes internas?
( ) sim
( ) não
( ) regular
( ) ruim
23 - Como as adolescentes são separadas aqui (por idade, por amizade - nos
setores e nos quartos)?
24 - Como você acha que é a sua relação com os técnicos: assistente social,
psicóloga...?
( ) ótima
( ) regular
( ) ruim
26 – E, por fim, o que você quer fazer quando sair daqui? O que espera para o
futuro
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