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N O B R A S IL
uma histôria do
Modemismo na Pinacoteca
de Sào Paulo
ISMAEL
NERY
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de 1927, Nery adota uma linguagem moderna, deri-
vada dos ensinamentos cubistas: os personagens sâo
geomet rizados e fragmentados em pianos, e a diferen-
ciaçao entre figura e fundo é ténue. Figuras em azul,
em particular, é construida por meio de uma paleta
monoeromâtica, procedimento recorrente nos pri-
mciros anos da produçâo cubista de Georges Braque
e Pablo Picasso.
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Naeional de Bêlas Artes -, com esse titulo. Porém,
a nos mais tarde passou a ser conhecida como Adal-
gisa e o artista. Tendo em vista os fundamentos do
essencialismo, pouco importa se as figuras represen-
tadas silo ele prôprio e a esposa ou ele mesmo e uma
irmà im aginària;4 sào expressôes das polaridades fe-
minina e m asculina constitutivas de cada individuo,
da fusào entre o eu e o outro, de elementos opostos e/
ou complementares.
R.T.B.
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CICERO
DIAS
M am oeiro ou Dançarino, 1946 O mais longevo dos modernistas, com uma carreira
que se estendeu por mais de oitenta anos, Cicero Dias
ôlco sobre tela
128 x 96,2 cm foi um artista que, em seus melhores momentos, soube
Acervo da Fundaçâo José unir tendências do surrealismo a um imaginârio ad-
c Paulina Ncmirovsky. vindo de sua infância rural, passada no engenho per-
Obra em comodato com
a Pinacoteca do Estado nambucano Jundiâ. Criou paisagens oniricas tingidas
de Sâo Paulo. de um misto de saudade e deslocamento, um surrea
lismo embalado pelas memôrias infantis de um Brasil
agrârio que desaparecia a largos passos. Em um livro
de memôrias publicado postumamente, intitulado
Eu ui o mundo, Dias descreve suas lembranças dos
grandes corredores das casas-grandes dos engenhos,
das ladainhas, dos carros de cavalo com lanternas
de prata vindos de Londres, dos doces de tacho, das
casas de santo, e do contato com o mundo por meio
dos almanaques que lia na biblioteca de seu avô ba-
râo. Essas experiências e memôrias, meio lembradas
meio esquecidas - o artista ficou em Pernambuco
até os treze anos, quando transferiu-se para o Rio de
Janeiro -, formam a matéria-prima sensivel com base
na quai o mundo pictôrico de Cicero Dias é construi-
do. Como ele prôprio escreveu: “Minha memôria nào
obedece a leis, mas à saudade que tenho dos doces de
caju em calda”.1
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E3CAÛA. *>t 19C' - 300S
OCERO04*5
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o artista aprcsentou uni grande numéro de aquarela-,
que vlriam a caracterlzar parle de seu l rahalho al<*su;i
transferênda para a Europa, carregado de nostalgie
peloseuesl ado natal eform ando.com oesc reveu Màrlo
de And rade, um “‘outro m undo’ comoventfsslmo em
que as représentâm es atingem as vexes uma simplill
caçâotaodeslum brantequeperdem todaacaracterlza
çâosenstvcl".2 Nesse momento, Diasjâestava bastante
envolvido com os intelectuais e artistas modernis
tas no Rio de Janeiro como Manuel Bandeira (1886
1968), Murilo Mendes, Ismael Nery e Graça Aranha
(1868 1931), este ültimo seu grande incentivador,
que havia rompido dram atieam ente com a Academia
Brasileira de Letras em 1924, dizendo “se a Academia
nào se rénova, morra a Academ ia!”. No mesmo perio
do travou amizade com o sociûlogo Gilberto Freyre
(1900-1987) e ilustrou sua obra mâxima, Casa grande
e senzala, de 1933, com um desenho representando 0
velho engenho Noruega, que o artista tinha conheci
do em sua infâneia. Em 1937, partiu para Paris mo
tivado por uma forte oposiçào ao governo ditatorial
de Getülio Vargas. La o artista criou um novo nücleo
intelectual que incluiria nào sô brasileiros como Di
Cavalcanti e Paulo Prado, mas também estrangeiros
como Pablo Picasso, de quem foi grande amigo, e 0
poeta Paul Valéry (1871-1945). Permaneceu em Paris
durante a Segunda Guerra Mundial e foi preso pelo
exército alemâo em 1942, sendo trocado, mais tarde,
por prisioneiros alemâes mantidos no Brasil. Mudou
-se para Lisboa, onde permaneceria até o tim do con
flito, quando entào voltou a Paris, e là fixou residèneia
até o fini da vida.
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Baker (1906-1975) ou como uma simples vegetaçâo, o
que também influi na leitura que se fazdas hastes, ora
pernas, ora troncos. A ambiguidade progride à medi
da que o olhar do espectador sobe. Vemos suspensas
das hastes, agora unidas, formas ovoides. mamôes,
cabeças. cristas. Tudo se funde em uma linguagem
difusa, cuja execuçào - em alguns pontos da tela o ar-
tista aplicou tinta diretamente do tubo, sem recorrer
ao uso do pincel, como se pode ver claramente no chu-
maço e nas linhas geometrizadas à esquerda - remete
à velocidade e ao instintivo.
G.H.
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Arte no Brasil : um a histôria do M odernism o na
Pinacoteca de Sào Paulo : gu ia de visitaçâo
curadoria Regina Teixeira de Barros ; apresentaçào
Ivo Mesquita e Fernando M auro Barrueco ; textos
Giancarlo Hannud ... [et al.]. Sâo Paulo : Pinacoteca
do Estado, 2013.
ISBN 978-85-8256-016-7
Exposiçâo realizada na Estaçâo Pinacoteca.
CDD 709.81
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