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CRISE E CONCENTRAÇÃO: QUEM É

QUEM NA INDÚSTRIA DE SÃO PAULO

Alexandre Comin
Francisco de Oliveira
Flávio Mesquita Saraiva
Hélio Francisco Correa Lino

RESUMO
O artigo sintetiza alguns dos principais resultados de pesquisa da área de Estado e Economia
do Cebrap. Mostra como a década de 1980 representou um grande avanço da concentração e
centralização de capitais na economia paulista, sob diversos recortes analíticos. Os resultados
também sugerem que houve mudanças nas posições do poder econômico na indústria
sediada em São Paulo, com avanço do capital estrangeiro na partilha dos lucros. Busca-se
ainda, de forma exploratória, sugerir a adoção de um enfoque mesoeconômico para o estudo
da crise brasileira, no qual a categoria grupo econômico é central para a análise, pois constitui-
se no ator mais importante do processo real.
Palavras-chave: economia industrial; oligopólio; concentração econômica; grupos econômi-
cos; São Paulo.

SUMMARY
This article provides a synthesis of the main results of research undertaken by Cebrap's State
and Economy Studies. It demonstrates how the 1980s involved a strong advance in the
concentration and centralization of capital within the economy of São Paulo, from several
analytical perspectives. The results also suggest that there were changes in the relative
positions of economic power within São Paulo's industrial sector, with foreign capital taking
a greater share of profits. The article also tentatively suggests adopting a mesoeconomic focus
in order to understand the Brazilian crisis, where economic groups become a central category
of analysis, as they represent the most important actors in the in the process.
Keywords: industrial economy; oligopoly; economic concentration; economic groups; São
Paulo (1) Cebrap. Estruturas de poder
econômico na indústria de São
Paulo (Relatório Final de Pes-
quisa). São Paulo: Cebrap,
1992. A equipe de pesquisa é
coordenada por Francisco de
Oliveira; os pesquisadores res-
Apresentação ponsáveis pela organização e
análise dos dados, em diversos
momentos do tempo, foram
Alexandre Comin, Flávio M. Sa-
raiva, Hélio Francisco Corrêa
Lino e Carlos Alberto Bello e
Este artigo apresenta alguns dos principais resultados e conclusões a Silva; colaboraram decisiva-
mente os estagiários Rogério C.
que se chegou na linha de pesquisa sobre o poder econômico que o de Souza, José Celso Cardoso
Cebrap realiza desde 1987. Em particular, este texto procura tornar públi- Jr., Osvaldo Godoi, Marcos Q.
Barreto e Lilian M. Lambert. Os
cas algumas das idéias e descobertas empíricas que aparecem de forma autores agradecem também aos
vários pesquisadores do Ce-
minuciosa em um relatório de pesquisa elaborado pela equipe1. Além de brap que participaram das dis-
cussões deste texto: Adalberto
bastante sintético, o artigo tenta também aliviar o leitor, sempre que M. Cardoso, Alvaro A. Comin,
Elson L S. Pires e Eugenio
possível, dos transtornos comuns à maioria dos relatórios, em geral Diniz. Como de praxe, os auto-
res assumem toda a responsa-
maçantes pelo jargão característico e pela profusão de tabelas e dados. bilidade pelo resultado final.

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CRISE E CONCENTRAÇÃO: QUEM É QUEM NA INDÚSTRIA DE SÃO PAULO

O curso presente dos estudos dessa equipe do Cebrap pode ser resumido
no esforço de fornecer à análise econômica um conjunto de instrumentos teóri-
cos e empíricos que, de um modo geral, passam ao largo dos estudos que habi-
tualmente se fazem. É comum dividir-se a economia em dois âmbitos: um agre-
gado, que trata de fenômenos globais, tais como crescimento, inflação e dese-
quilíbrios no balanço de pagamentos; outro, microscópico, que enfoca os agentes
individuais, famílias e empresas. A lacuna entre os dois níveis constitui aquilo
que poderíamos chamar de mesoeconomia: um espaço conceitual no qual os
agentes econômicos — em particular as empresas, públicas e privadas, bem
como os grupos econômicos que as controlam — aparecem propriamente como
sujeitos do processo econômico, posto que não estão nem subsumidos ao mo-
vimento macro — mensurado sempre a partir de agregados e médias globais —
nem tampouco diluídos na abordagem individualista, maximizadora, simplifi-
cadora, da análise microeconômica.
A tarefa posta aqui portanto é a de estabelecer uma topologia
empresarial, mapear os altos e baixos de uma configuração complexa de
entidades que comumente aparecem de modo plano, isomórfico, sob a
denominação de "setor privado". Trata-se de estabelecer clivagens, entre
grandes e pequenos, nacionais e estrangeiros, dinâmicos e tradicionais,
entre outras.
Em alguma medida, uma parte da microeconomia, sob a denominação
de Organização Industrial (OI), e outras disciplinas correlatas vêm há
décadas buscando captar e explicar estas distinções dentro do setor empresa-
rial. Boa parte do trabalho que aqui se vai expor tem aí suas origens: em
particular, as análises de concentração setorial da produção não são mais do
que velhas análises baseadas em novas informações, abaixo explicitadas.
Mas a pretensão deste trabalho vai além: ao contrário dos estudos convencio-
nais de OI, não tomamos a empresa como objeto de análise por excelência.
Aqui, ela aparece subordinada a condicionantes mais amplos: de um lado, as
clivagens acima referidas encaixam cada caso individual em tipologias várias
que — é a hipótese — ajudam a explicar o comportamento diferenciado das
diversas unidades de capital; de outro, a novidade das bases de informações
de que dispomos nos permite operar uma análise financeira da organização
empresarial, centrada no conceito de grupos econômicos. Este ponto é de
crucial importância e a ele voltaremos na última seção.
A próxima seção trata de apresentar rapidamente o material empírico
com que estamos trabalhando. A segunda seção apresenta o panorama geral
da evolução econômica de São Paulo no período. Em seguida, examinare-
mos diretamente alguns indicadores de concentração econômica. A seção
seguinte tratará de alguns aspectos da participação estrangeira na economia
sediada em São Paulo e da conformação setorial da indústria em termos de
seus principais agentes. A seção 5 procura fazer uma avaliação preliminar
do espaço ocupado pelos maiores grupos econômicos no estado de São
Paulo e das mudanças ocorridas ao longo da década de 80. Por fim, uma
pequena reflexão de natureza conceitual que é sugerida pelas revelações e
conclusões das partes anteriores, bem como uma síntese destas.

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A. COMIN, F. OLIVEIRA, F. M. SARAIVA, HÉLIO F. C. LINO

1. As bases de dados

A pesquisa ora em curso, sob financiamento da Finep, abrange


informações relativas a empresas e grupos econômicos sediados no Estado
de São Paulo. A partir dos dados de balanços do Quem é Quem na Economia
Brasileira, publicados anualmente pela revista Visão, selecionamos 2.689
empresas industriais paulistas, para os anos de 1980, 1985 e 1989. A opção
pela indústria não é casual: aí se encontra o coração da grande empresa.
Ninguém melhor para expressar o poder financeiro, tecnológico e de
mercado das mais importantes frações do capital. Ao conjunto de empresas
diretamente industriais agregaram-se mais dois outros ramos de atividades
que, embora não possam ser encaixados no que se convencionou chamar
de indústria de transformação, mantêm com esta forte vinculação.
De um lado, certos serviços públicos de apoio à indústria (energia,
telecomunicações, transportes, para citar os mais importantes) são cruciais
para o próprio funcionamento e integração da divisão de trabalho da
indústria; movimentam parcelas consideráveis do produto global e do
emprego; e são fortes demandantes de insumos e bens industriais. De outro,
a construção civil, devido a seu considerável peso na estrutura produtiva
global e na estrutura mais geral de poder econômico.
As empresas selecionadas possuem patrimônio líquido superior a 1
milhão de dólares (o que exclui as pequenas e microempresas) e são
bastante representativas do universo industrial paulista e, por extensão,
brasileiro2. (2) Embora cm pequeno nú-
mero, esta amostra represen-
A partir desta amostra, coletamos as informações disponíveis no Atlas tou, na primeira metade da
década de 1980, entre 50% e
Financeiro e no Guia Interinvest relativas à propriedade acionária das 60% do faturamento de toda a
empresas, identificando o(s) agente(s) controlador(es) das mesmas, estabe- indústria paulista, numa com-
paração com dados censitários
lecendo deste modo uma primeira triagem, entre empresas nacionais do IBGE. Mais detalhes no re-
ferido relatório final de pesqui-
privadas, estrangeiras e estatais. A compilação dos dados de propriedade sa, p. 60, doravante citado ape-
nas pela sigla RFP e o número
acionária permitiu ademais criar uma nova categoria analítica, a de grupos da página.
econômicos, mais adiante tratada.
Quanto aos dados da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística, foram utilizados os censos industriais de 1980 e 1985, com o
objetivo de conhecer o pano de fundo da evolução econômica do estado de
São Paulo e do Brasil, que abrange todo o universo de empresas e
representa o movimento geral, a ser contrastado com a performance do
segmento de maiores empresas, captados pela amostra do Quem é Quem.

2. O pano de fundo: crise econômica e estabilidade estrutural

Inicialmente, convém traçar um rápido panorama da evolução geral


da economia brasileira e paulista. Para isto usaremos os dados da FIBGE
sobre produção, para os anos de 1980 e 1985, únicos de que dispomos.

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A primeira observação, em nível bastante agregado, é de que o Valor


Bruto da Produção (VBP, que mede as vendas) da economia como um todo
teve um aumento real de tão-somente 4,24%, evidenciando, do ponto de
vista quantitativo, a estagnação do período. O fato importante é que o Valor
da Transformação Industrial (VTI, que mede o excedente econômico
apropriado como remuneração dos fatores de produção) aumentou num
ritmo superior (11,22%)3. (3) Utilizou-se sempre o Índice
Geral de Preços (IGP-DI, colu-
O ano de 1985 foi atípico na década, na medida em que, puxadas na 2) da Fundação Getúlio Var-
gas para deflacionar os valores
pelas exportações, a economia como um todo e a indústria em particular monetários.
recuperam-se da conjuntura recessiva dos anos anteriores. Mesmo para os
salários este não foi um ano muito ruim. Ainda assim, é possível supor que
o aumento mais do que proporcional do excedente econômico (em relação
à produção) se deve prioritariamente ao aumento das margens de lucro das
empresas. O exemplo mais flagrante (deste fato) está no gênero da indústria
de borracha, um dos mais oligopolizados da indústria brasileira: enquanto
o VBP subiu 14,86%, o VTI cresceu 62,91%!
Os dados de nossa amostra são consistentes com estas informações
censitárias. Eles confirmam a interpretação consensual de que "o ajuste das
margens de lucro assegurou para as empresas mais poderosas a preserva-
ção de níveis de acumulação interna em plena recessão"4. Na verdade, (4) Almeida, Júlio Sérgio Go-
mes & Novais, Luis Fernando.
este movimento de ampliação do excedente cum retração da produção é A empresa líder na economia
brasileira (Ajuste patrimonial
ainda mais forte para as maiores empresas, conforme discutido no próxi- e tendências de "mark-up" -
1954/89). São Paulo: IESP/Fun-
mo item. dap, Textos para Discussão,
6(2), 1991, p. 6.
Quase metade do setor industrial brasileiro encontrava-se no estado
de São Paulo em 1980. O crescimento da indústria paulista, até a metade da
década, é inferior ao verificado na indústria nacional como um todo. A
consequência deste fato é uma pequena redução da participação da
indústria paulista no setor industrial nacional. Em 1985, a indústria paulista
respondia por 43,92% da produção industrial nacional; em 1980, por
46,98%. Estes números dão uma dimensão da economia paulista: ao
falarmos dela estaremos nos referindo a quase metade da indústria nacional,
com um peso ainda maior em setores mais dinâmicos, como material de
transporte, por exemplo.
Descendo para o nível setorial (21 gêneros industriais do IBGE), pode-
se traçar um retrato da estrutura industrial brasileira. No que se refere ao
Valor Bruto da Produção e ao Valor da Transformação Industrial destacam-
se três gêneros da indústria, como os mais representativos. Somados, (5) Há que se fazer a seguinte
ressalva: alguns segmentos ti-
produtos alimentares, metalúrgica e química representam 47,6% do VBP e veram um grande crescimento
na década, cm particular al-
37,74% do VTI em 1980 (RFP 104). Num segundo patamar, estão ainda a guns ramos da indústria de
material elétrico, como produ-
indústria mecânica e a de material de transporte. tos de informática e telecomu-
Entre os anos de 1980 e 1985, não se observaram mudanças significa- nicações. Outros segmentos,
ligados principalmente à agro-
tivas no que diz respeito à participação dos gêneros da indústria na indústria e insumos interme-
diários, puxados pelo esforço
economia nacional, ou seja, manteve-se a mesma estrutura, o que reflete, exportador induzido pela polí-
tica econômica, também sofre-
pela qualidade, a estagnação no intenso processo de desenvolvimento por ram grande crescimento. Tais
movimentos, no entanto não
que passava a economia brasileira até então. Em São Paulo o quadro não é são captados no nível de agre-
gação em que estamos traba-
diferente da estabilidade estrutural observada no âmbito nacional5. lhando.

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3. A concentração em processo

Uma primeira análise, agregada, da concentração do poder econômi-


co foi realizada estabelecendo-se uma clivagem, pelo critério de tamanho
do patrimônio líquido, entre as 10, 100 e 500 maiores empresas da amostra,
que, apenas para dar uma noção de grandeza, tinham em média cerca de 17
mil, 6-7 mil e mil empregados, respectivamente. As indicações, mostradas
nos gráficos 1 (10 maiores), 2 (100 maiores) e 3 (500 maiores), são de que
existe uma elevada concentração econômica na indústria paulista6. No (6) O que estes gráficos não
mostram é a importância eco-
tocante ao patrimônio líquido e ao faturamento, a ampliação desta concen- nômica desses subconjuntos
da amostra. Apenas para se ter
tração não foi muito expressiva, mantendo-se de forma estável a "correlação uma idéia da importância des-
sas empresas no conjunto da
de forças" entre os gigantes empresariais. No que diz respeito ao lucro economia paulista basta dizer
que as 500 maiores empresas,
líquido, ao contrário, verificou-se uma substancial concentração da apro- no ano de 1985, detinham
priação do excedente, sobretudo no estrato das 100 maiores empresas, que, 73,57% do faturamento total da
amostra (RFP 117) que, por sua
partindo de um patamar de pouco mais de 40% do total da amostra em 1980, vez, representava 47,6% do
VBP do estado (RFP 113). Fa-
chegam em 1989 ao fabuloso valor de 60% do total dos lucros, muito acima zendo o cálculo, tem-se que
estas 500 empresas detinham
de sua contribuição na produção, mensurada por sua participação no pouco mais de 35% de todas as
vendas da indústria de São Pau-
faturamento (em torno de 40%). Seguramente foi este estrato que conseguiu lo. Dado que esta cifra repre-
sentava neste ano 43,92% do
melhor se "ajustar" às turbulentas oscilações da economia brasileira do total da indústria brasileira, tem-
se que as 500 maiores foram
período. Para estas maiores empresas, a expressão "década perdida" deve responsáveis por 15,4% de toda
soar estranha. a produção industrial nacional,
ou quase um sexto do total.

Gráfico 1
Dez maiores empresas como proporção total da amostra (%)

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Gráfico 2
Cem maiores empresas como proporção total da amostra (%)

Gráfico 3
Quinhentas maiores empresas como proporção total da amostra (%)

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Este processo de concentração é a contraface do já referido movimen-


to de ampliação das margens de excedente das empresas em meio à crise.
Além de intensa, a retração do mercado afetou as empresas de modo
diferenciado, segundo seu tamanho, provocando moderada concentração.
Para as 500 maiores, sua participação cresce em todo o período. No estrato
superior (10 maiores) a concentração do faturamento foi mais forte,
passando de 7,7% para 11,6% ao longo da década.
Em termos de concentração na apropriação de lucros, é possível
observar que ela ocorre nos três estratos, porém de forma bastante
diferenciada. As 10 maiores, ao fim do período, obtiveram quase 10% do
total do lucro líquido, em comparação com os 7,5% de 1980. Este nível é
bastante inferior à concentração do patrimônio líquido para a classe que é
cerca de três vezes maior (no que as estatais contribuem duplamente,
devido ao elevado imobilizado e aos enormes prejuízos). Para as 500
maiores, os lucros como porcentagem do total também sobem, de 74% para
82,7%, configurando um patamar superior ao do faturamento (72%-76%).
Ao examinar mais de perto o subconjunto das 100 grandes empresas,
podemos constatar que elas operam em alguns dos setores mais oligopoli-
zados da economia brasileira. Em primeiro lugar, vem o setor de química e
petroquímica, com 15 empresas, em seguida papel e papelão com 7,
construção civil (pesada), metalurgia dos não-ferrosos (alumínio, níquel
etc.) e produtos alimentares diversos com 5 empresas cada. Ademais,
podemos encontrar nesta lista (RFP 114) as montadoras de automóveis,
cervejarias, pneumáticos, e outros representantes da grande indústria
brasileira em setores como eletrodomésticos, bens de capital e bens
intermediários para construção civil e indústria.
Este quadro se completa com a presença de grandes estatais nos
serviços industriais de telefonia, eletricidade, saneamento básico e transpor-
tes. Aparecem também algumas empresas estatais ligadas diretamente à
indústria como Ultrafértil, Mafersa (privatizadas no governo Collor) e
Embraer.
Esta seção das 100 maiores da pirâmide industrial revela muito a
respeito da hierarquia dos capitais na indústria brasileira. Nela encontramos
43 empresas nacionais privadas (33 de São Paulo e 10 de outros estados da
federação), 39 empresas multinacionais e 15 empresas publicas7. Por fim, (7) Sobre estas convém frisar
que ocupam o topo da pirâmi-
existem 4 empresas que designamos como sendo de controle compartilha- de: das 10 maiores, 7 são públi-
do, isto é, cujo controle acionário é exercido por dois ou mais sócios cas, em geral ligadas aos servi-
ços públicos.
(sempre de elevada estatura econômica) de forma conjunta. Estas empresas
não são nem públicas nem privadas, nacionais ou estrangeiras, mas resultam
da confluência destas forças naquilo que Peter Evans chamou de tríplice
aliança8. (8) Evans, Peter. A tríplice
aliança (As multinacionais, as
Mais do que isto, é possível constatar uma certa divisão de funções no estatais e o capital nacional no
interior da estrutura produtiva. As empresas estatais certamente predomi- desenvolvimento dependente
brasileiro). 2a ed. Rio de Janei-
nam nos setores de serviços públicos e naqueles tradicionalmente conferi- ro: Zahar Editores, 1982.

dos a elas pelo modelo de industrialização brasileiro: siderúrgico, ferroviá-


rio, portuário, entre outros.

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As empresas de capital privado nacional encontram-se distribuídas


entre os mais diferentes setores: construção civil, máquinas, madeira,
vestuário, papel e papelão, bebidas etc. Pode-se ressaltar que as paulistas
concentram-se nos setores de bens intermediários, aparecendo de forma
também significativa nos setores de bens de consumo não-durável.
As empresas estrangeiras ocupam seu lugar na estrutura industrial em
conformidade com a superioridade tecnológica e mercadológica que trazem
de seus países de origem: elas estão no alto da pirâmide econômica porque
ocupam os nichos oligopólicos de bens de consumo durável e bens
intermediários que conferem maturidade à indústria brasileira; ao contrário
do capital nacional, não baseiam, salvo raras exceções, sua pujança
financeira na exploração dos segmentos mais tradicionais da indústria,
ligados aos bens de consumo não-durável. Nesta subseção da pirâmide
encontramos praticamente todas as montadoras de veículos automotores
(Mercedes Benz, Volkswagen, General Motors, Ford e Caterpillar) bem
como segmentos a montante, como pneumáticos e vidros; gigantes do ramo
químico (como Rhodia, Ciba Geigy, Hoechst, Bayer, Basf, Dow, ICI), de
eletrônica de consumo (Philips) e industrial (Siemens), de bens intermediá-
rios (alumínio, papel e celulose, materiais para construção) e bens de capital
(Brown Boveri). Aparecem também alguns líderes mundiais em setores
mais tradicionais, como alimentos (Nestlé, Bunge y Born, Cargill), têxtil
(Bunge y Born) e conglomerados altamente diversificados na área de bens
de consumo não-durável (Johnson & Johnson e Gessy Lever, também
conhecido como Unilever).
Quanto às quatro empresas de capital compartilhado, cabe destacar
que elas fazem parte de dois setores que já mereceram significativo
destaque nesta análise, a saber: o setor de química (com três empresas) e o
setor de papel e papelão (com uma empresa). O que vemos aqui é o
resultado da estratégia do II Plano Nacional de Desenvolvimento: a busca do
amadurecimento da estrutura industrial mediante a formação de alianças
nos setores de insumos intermediários através da associação entre capitais
nacionais, públicos e privados, e estrangeiros.
Esta topografia complexa, que mapeia a altitude do poder econômico
concentrado juntamente com as latitudes da estrutura industrial, se completa
com uma análise mais detida no plano setorial. Para não sobrecarregar o
leitor com cifras e nomes, nos limitaremos a alguns setores-chaves, sem
reproduzir a análise mais detalhada já realizada (RFP 72) para os 56 setores
da Quem é Quem.
Seguindo a tradição dos estudos de OI, calculamos a evolução ao
longo da década de 1980 da participação no total do faturamento dos 4
maiores integrantes de cada um destes setores. Este índice mostra que não
só a concentração nos mercados é espantosamente alta, mas que ela cresce
vertiginosamente ao longo do período.
Apenas para se ter uma idéia, em 1980, 40 setores apresentavam mais
de 50% de seu faturamento concentrado em suas quatro maiores empresas
(RFP 118/119). Esses dados tornam-se mais expressivos quando se verifica

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que, para esse mesmo ano, em 19 setores as 4 maiores empresas abocanha-


vam mais de 80% do faturamento e, em 15, mais de 90%! Em 1989, esses
números aumentam sensivelmente em relação a 1980, com 44 setores acima
dos 50%, 24 acima dos 80% e 18 acima dos 90%.
Nos estratos superiores do tecido industrial, isto é, nos oligopólios
concentrados de bens de consumo durável, bens de capital e bens
intermediários, a imagem de uma economia de muito poucos concorren-
tes aparece nitidamente. Em certos segmentos, a ampliação da concentra-
ção é insignificante posto que o ponto de partida já estava, em 1980,
colocado em níveis extremamente elevados. Os melhores exemplos pro-
vêm do segmento de material de transporte (veículos automotores, cons-
trução naval, material ferroviário e aviões), ápice da evolução do com-
plexo metalmecânico, todos oscilando entre 90% e 100% de concentração
nos 4 maiores produtores em cada setor (quando não há menos de 4
participantes)9. (9) Dentro do segmento de
material de transporte, somen-
No segmento de bens intermediários, o quadro difere apenas em grau. te no setor de tratores e imple-
Patamares superiores ou próximos a 70% de concentração nos 4 maiores mentos agrícolas, mais diversi-
ficado e com maior número de
(borracha, cal e cimento, não-ferrosos), ou mesmo 80%, são comuns. participantes, é que o nível da
concentração dos 4 maiores está
Nestes, ou bem o nível se mantém ou até sofre alguma ampliação. abaixo dos 90%: foi de 64% em
1980 e de 79% em 1989.
A estes se poderiam agregar os "monopólios institucionais" represen-
tados pelas empresas estatais em setores industriais básicos: siderurgia
(concentração em torno de 65%, com tendência de alta), refino de petróleo
(80%, em alta) e gás natural (cerca de 95%, estável). Juntamente com os
"monopólios naturais", nos serviços públicos, todos com concentração
próxima de 100%, compõem o segmento público do grande capital
oligopolizado da indústria brasileira.
Os dados destes setores refletem, para o conjunto, uma relativa
estabilidade da concentração. No entanto, outros oligopólios mostram que
houve, setorialmente, uma ampliação considerável do poder de poucas
empresas sobre importantes mercados. Talvez o exemplo mais impressio-
nante seja do setor de produtos farmacêuticos, medicinais e veterinários,
onde em 1980 as 4 maiores empresas detiveram 32,36% do faturamento e,
em 1989, aumentaram esta participação para 63,53%.
A especificidade brasileira, de um desenvolvimento fechado, domi-
nado por um punhado de grandes conglomerados, se evidencia também
em outros setores, fora do circuito privilegiado dos oligopólios diferencia-
dos, voltados para o consumo durável, ou dos oligopólios homogêneos,
de bens intermediários, nos quais a concentração crescente é uma regra
geral. Mesmo em setores tradicionais, ligados à agricultura, não necessaria- (10) A respeito do desenvolvi-
mente intensivos em tecnologia e/ou escala, a elevada oligopolização mento rápido deste complexo
agroindustrial sob o comando
aparece como um aspecto distintivo do hipercentralizado capitalismo financeiro do Estado brasileiro
no tempo da ditadura militar,
brasileiro. ver Comin, Alexandre & Mul-
ler, Geraldo. Crédito, moderni-
Grandes redes empresariais, sob o controle centralizado de grupos zação e atraso (O crédito rural
na modernização e no atraso da
econômicos solidamente estruturados do ponto de vista financeiro, fazem agricultura brasileira no pe-
ríodo 1965-84). Cadernos Ce-
do agribusiness brasileiro mais um espaço privilegiado, concentrado, brap, Nova Série. São Paulo:
crescentemente excludente, do big business10. Cebrap, 1985.

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Isto é particularmente evidente em ramos do complexo agroindustrial


que foram moldados pelas diversas políticas, agrícolas e industriais, do
regime ditatorial, como açúcar e álcool (leia-se Proálcool) e óleos vegetais
(leia-se soja), onde a concentração dos 4 maiores, em termos médios, passa
de um patamar de 50% no início da década de 1980 para cerca de 70% no
final. Em outros ramos, cuja base agrícola é bastante antiga e não foi
fortemente afetada pelas políticas governamentais dos anos 70 e 80, como
café, moinhos e carnes frigorificadas e industrializadas, as cifras não
destoam do movimento geral: elas apontam para um crescimento contínuo
(exceto moinhos após 1985) da concentração, que chega a patamares
próximos a 70% e 80%.
Devido a certas limitações intrínsecas do material empírico utilizado
até agora (basicamente a restrição em termos espaciais e o elevado grau de
agregação setorial), seria conveniente mostrar algumas poucas informações
adicionais com o intuito de dimensionar melhor o elevado grau de
concentração da indústria brasileira. São informações que não fazem parte
da pesquisa e serão aqui rapidamente apresentadas apenas como um
complemento, sem a menor pretensão de estender o escopo original do
projeto.
Em primeiro lugar, procura-se comparar o grau de concentração
industrial do Brasil com o de outros países, em particular, EUA, ex-
Alemanha Ocidental e França. Para isto foi montado o gráfico 4, com base
nos dados de Holanda Filho11, que mostra a concentração das 4 maiores (11) Hollanda Filho, Sério Buar-
que de. Estrutura industrial no
empresas em diversos gêneros industriais nestes 4 países. Brasil: concentração e diversifi-
cação. Rio de Janeiro: IPEA/
A primeira constatação que salta aos olhos é a razoável similaridade INPES, 1983, p. 100.
nos níveis de concentração, para os diversos países, em cada gênero. Isto
sugere que cada um destes sofre processos de concentração que são
específicos às condições tecnológicas e comerciais do setor. Deste modo,
em praticamente todos os países, são os mesmos gêneros que aparecem
como os mais concentrados (material elétrico, material de transporte,
borracha e fumo) e menos oligopolizados (madeira e mobiliário, seguidos
de couros e peles, têxtil e vestuário).
A segunda evidência que se pode extrair deste gráfico, malgrado suas
deficiências12, é que, numa comparação com países mais desenvolvidos, a (12) Em termos de tempo;
abrangência do tecido indus-
indústria brasileira é significativamente mais concentrada. Apenas em um trial; de diversidade do grau de
terço dos gêneros (mecânica, mobiliário, couros e peles, têxtil e fumo) o desenvolvimento econômico e
de grau de abertura comercial
Brasil não figura como o mais concentrado; nestes 5 casos, é o segundo dos diversos países; não-ho-
mogeneidade da variável utili-
colocado. Em outros gêneros (borracha, alimentos, bebidas e editorial e zada para cada país. Dados
mais recentes para os EUA (não
gráfica) apresenta níveis de concentração bastante superiores aos dos diretamente comparáveis aos
do gráfico 4) podem ser en-
demais países contrados em Brozen, Yale.
Concentration, mergers and
O segundo conjunto de informações, que também não possuem um public policy. Nova Iorque: Ma-
cMillan Publishing Inc, 1982.
caráter sistemático, apenas ilustrativo, diz respeito à concentração de
mercado em alguns produtos básicos de consumo no Brasil. Apresentados
na tabela 1, estes dados representam o mais baixo grau possível de
agregação e fornecem uma pequena noção dos níveis extremos de oligopo-
lização a que chegou a economia brasileira.

158 NOVOS ESTUDOS N.° 39


Gráfico 4
Índices de concentração das quatro maiores empresas,
por gênero industrial, em países selecionados, vários anos (%)

FONTE: Estados Unidos


— Weiss (1973, p. 239)
apud Hollanda Filho
(1983, p. 100) França e
ex-República Federal da
Alemanha — George &
Ward (1975, p. 22), apud
Hollanda Filho (1983, p.
100). Obs.: os dados des-
tes países se referem ao

JULHO DE 1994
número de empregados.

159
CRISE E CONCENTRAÇÃO: QUEM É QUEM NA INDÚSTRIA DE SÃO PAULO

Tabela 1
Participação dos principais grupos na produção de
bens de consumo selecionados, Brasil, 1993, (%).

produto nº de % de grupos (marcas/empresas)


grupos vendas
sabão em pó 1 74 Gessy Lever
presunto 2 68 Sadia, Perdigão
salame 2 51 Sadia, Perdigão
leite em pó 3 88 Nestlé, Itambé, Fleischman Royal
detergentes 2 92 Cragnotti & Partners (Bombril e
Orniex), Gessy Lever
caldo de Nestlé (Maggi), Refinações de
galinha 2 92 Milho Brasil (Knorr)
refrigerante 3 78 Brahma, Antárctica, Coca
cerveja 3 94 Brahma, Antárctica, Coca (Kaiser)
creme dental Anakol (Kolynos), Colgate-
3 100 Palmolive, Gessy Lever (Signal e Aim)
margarina 4 80 Gessy Lever, Sanbra, Sadia, Ceval
sabonete 1 62 Gessy Lever
cigarros 2 98 Souza Cruz, Phillip Morris
leite (só Parmalat, Mansur (Leco, Vigor,
grande São 3 85 Flor da Nata), Paulista
Paulo)
óleo de soja 3 48 Ceval (Soya), Cargill (Liza), Sadia
sorvete Phillip Morris (Kibon), Nestlé
2 96 (Gelato, Yopa)
FONTE: Folha de S. Paulo, 20.3.94, p. 1-8 e Veja, 9.3.94, pp. 30-7.

Duas observações podem ser feitas a partir da tabela 1. Em primeiro


lugar, impressionam os elevados níveis de concentração nas mãos de um
número tão restrito de grupos empresariais. Percentagens tão altas quanto
90% ou 100% sob o controle de apenas 1, 2 ou 3 grupos, caracterizam uma
(13) As duas matérias usadas
situação em que o poder oligopólico, em termos de preço, negociação de como fontes na tabela 1 mos-
prazos com clientes etc., pode ser exercido sistematicamente, independente- tram exatamente isto: foi justa-
mente nestes setores altamente
mente da conjuntura e dos esforços de estabilização da política econômica13. oligopolizados que ocorreram
as maiores altas de preços (bem
A segunda observação diz respeito à repetição dos nomes de alguns acima dos níveis gerais de in-
flação) tanto às vésperas do
grupos como parte das configurações oligopólicas de diversos produtos. Se lançamento da Unidade Real
de Valor quanto no período
alguns grupos aparecem em ramos de produção muito próximos do ponto subsequente. Está claro neste
momento que, do ponto de
de vista técnico e comercial (como, por exemplo, Sadia e Perdigão nos vista econômico, o comporta-
mento destes e de outros oligo-
embutidos de carne, ou Brahma em bebidas), outros, ao contrário, detêm pólios é a maior ameaça à con-
posições de destaque em mercados não correlatos (aqui o melhor exemplo tinuidade do plano de estabili-
zação econômica.

160 NOVOS ESTUDOS N.° 39


A. COMIN, F. OLIVEIRA, F. M. SARAIVA, HÉLIO F. C. LINO

é a Gessy Lever, que produz sabão em pó, detergentes, creme dental,


sabonete e margarina, além de outros que não constam da tabela 1).
Tais recorrências de nomes, que poderiam se multiplicar às dezenas
num estudo mais abrangente da indústria brasileira, apontam para a forma
grupo como um fenômeno específico, não redutível às dimensões conven-
cionais da microeconomia, tais como mercado, produto, firma. Somente
sob este ângulo novo é que a conformação do poder econômico pode ser
captada em toda sua extensão. Voltaremos a este ponto na seção 5, que trata
especificamente dos grupos.
Por ora, gostaríamos apenas de frisar o seguinte: a intensa concentra-
ção econômica verificada no âmbito das variáveis resultado (patrimônio,
lucros e faturamento) acima evidenciada, ainda que esteja condicionada por
múltiplas determinações, encontra na esfera da produção uma sólida base
explicativa14. Em outras palavras, o poder de mercado é a base sobre a qual (14) Importante acrescentar
que a tabela 1, montada ape-
se ergue a estrutura do poder econômico. nas com intuito ilustrativo, mui-
to provavelmente expressa uma
Como conclusão geral do que foi examinado até agora sobre a condição generalizada. Basta
dizer que apenas 200 fornece-
economia paulista, podemos afirmar que se trata de uma estrutura altamente dores são responsáveis por
mais de 70% de tudo que é
concentrada e em forte processo de concentração, devido a uma crise que, vendido em um grande super-
de tão longa e poderosa, deixou de ser conjuntural para ter efeitos mercado (Veja, 9.3.94, p. 33).

estruturais de longo prazo. Se de um lado a crise restringe o investimento


produtivo e engessa os grandes contornos da estrutura industrial, de outro
lado ela também é responsável por um reforço do poder econômico do
grande capital, cujos detalhes ainda podemos examinar sob outros ângulos.

4 . As distintas reações à crise segundo a origem de capital

Vejamos mais de perto quem são esses sócios bilionários do poder. Se,
de um lado, eles são solidários financeira e politicamente no intento de
preservar sua posição privilegiada no organograma econômico da nação, de
outro, estão divididos internamente, dada a heterogeneidade de sua
composição setorial, tecnológica e de origem de capital. Em particular, os
dados da pesquisa permitem perceber uma importante clivagem: o compor-
tamento e o desempenho dos grandes capitais foi diverso entre empresas
públicas e privadas, nacionais e estrangeiras.
O primeiro destaque cabe aos donos da casa. Os indicadores financei-
ros analisados (RFP 125/127) mostram o amplo domínio das empresas de
origem de capital paulista em todos os indicadores para os três anos
considerados. Em 1989 estas empresas eram responsáveis por 44,7% do
patrimônio líquido total da amostra, 49,6% do total de faturamento, 52,4%
do total de lucro líquido e 61,6% do total de empregados.
As empresas de origem estatal mantiveram uma participação aproxi-
madamente constante em número de empresas e patrimônio líquido (com
relação ao total da amostra), embora este último tenha crescido, em termos
reais e absolutos, aproximadamente 20% no período de análise. Apresenta-

JULHO DE 1994 161


CRISE E CONCENTRAÇÃO: QUEM É QUEM NA INDÚSTRIA DE SÃO PAULO

ram crescimento em faturamento, que praticamente dobrou, em relação ao


total da amostra, embora em termos reais tenha declinado. O número de
empregados sofreu acréscimo (ao contrário do ocorrido com as demais
categorias de empresas) e houve, ainda, diminuição em seus prejuízos
líquidos, sendo necessário frisar que em nenhum dos anos considerados
registrou-se lucro líquido positivo para o conjunto das empresas estatais.
Outro aspecto marcante diz respeito à pequena integração das
empresas brasileiras (nacionais privadas porém não paulistas) à estrutura
industrial de São Paulo. A participação destas empresas cresce ao longo do
período, mas chega em 1989 apenas ao nível de 8,6% do faturamento total
da amostra.
As estrangeiras, ao contrário, evidenciam uma inserção privilegiada na
estrutura industrial paulista. Em 1989, estas empresas, representando
apenas 10% dos casos na amostra, detinham quase 27% da produção e 40%
dos lucros. Essas discrepâncias, embora não tão acentuadas para os anos
anteriores, são a regra: em outras palavras, o capital internacional é
particularmente concentrado em poucas empresas e é capaz de se apropriar
de uma parcela proporcionalmente alta do excedente, dada sua participação
na produção.
Numa apreciação geral, cabe destacar que a década de 80 se
caracterizou por anos de considerável queda na atividade econômica, o que
se refletiu nesta amostra através de queda acentuada no faturamento. Em
meio a essa diminuição, destaca-se o aumento em termos percentuais do
faturamento das empresas paulistas e a diminuição dos seus percentuais de
lucro líquido. No caso das empresas estrangeiras ocorre exatamente o
contrário, e é justamente isso que deve ser enfatizado. Seria ocioso citar aqui
depoimentos que comprovam a "choradeira" generalizada das empresas
multinacionais: a economia brasileira seria hostil ao capital estrangeiro, ele
estaria indo embora daqui, estaria perdendo dinheiro etc. Os dados da
pesquisa mostram que estas empresas avançaram na economia paulista,
apropriando-se de parcelas crescentes do excedente econômico. Seu
mecanismo básico de ajuste é o mesmo — ganhar mais sobre uma produção
menor — porém seu poder de barganha com as demais frações do capital,
bem como com o Estado, trabalhadores e consumidores, é seguramente
maior.
Esta diferença entre empresas paulistas e estrangeiras é fundamental
e evidencia o fato de que, entre as primeiras, estão incluídas empresas
pertencentes a grandes grupos econômicos e possuidoras de grande poder
de mercado, e empresas de tamanho mais reduzido, que na maioria das
vezes não são pertencentes a grupos econômicos (doravante chamadas de
empresas individuais) e participam de mercados menos oligopolizados. Esta
diversidade explica em parte a perda de posição relativa das empresas
paulistas, pois o comportamento oligopólico das grandes acaba sendo
diluído (em termos do resultado agregado) pelo das empresas individuais.
Já no caso das firmas estrangeiras, estão incluídas empresas que são
em sua totalidade partes constitutivas de poderosos grupos econômicos
n

162 NOVOS ESTUDOS N.° 39


A. COMIN, F. OLIVEIRA, F. M. SARAIVA, HÉLIO F. C. LINO

(15) Some-se a isto uma políti-


internacionais que normalmente se encontram numa posição oligopólica e, ca de incremento de lucros não-
portanto, num momento de retração da economia conseguem manter ou operacionais, via desendi-
vidamento e aplicações no mer-
ampliar sua rentabilidade com maior facilidade, lançando mão, em graus cado financeiro (Almeida e No-
vais, op. cit., p. 11).
diversos, de várias práticas, a saber: corte de empregos, manutenção de (16) Novamente a comparação
capacidade ociosa, remarcação de preços num ritmo superior ao da internacional parece adequa-
da. Num levantamento feito por
inflação15. Desta forma, pode-se dizer que houve um deslocamento dos Reinaldo Gonçalves ("Investi-
mento externo direto e empre-
lucros líquidos da amostra, do capital de origem paulista para o capital de sas transacionais no Brasil: uma
visão estratégica e prospecti-
origem internacional. va". Ciências Sociais Hoje,
Anpocs/Vértice, 1991, p. 235),
Quanto a este, cabe ainda uma análise mais detida, centrada nos três o Brasil é um dos países em
principais blocos de capital: o norte-americano, o alemão e o japonês. Essa desenvolvimento com maior
penetração estrangeira. Medi-
escolha deve-se ao fato de que estes três blocos de capital, somados, do pela participação de em-
presas multinacionais na pro-
representaram mais da metade do subgrupo de empresas estrangeiras em dução no final dos anos 70, o
Brasil (32%) só perde para a
termos de todos os indicadores analisados (RFP 128/131). Venezuela (35,9%) entre os 8
principais países latino-ameri-
Em 1989, as empresas japonesas eram responsáveis por 24,1% do total canos. Confrontado com ou-
tros 7 países em desenvolvi-
de empregos oferecidos pelo capital internacional em contraposição a 4,8% mento da Ásia, o Brasil só per-
de para Cingapura (62,9%) e
em 1980. No que diz respeito ao lucro líquido, o salto é mais espantoso, de Malásia (44%). A Coréia, tida e
4,8% em 1980 para 35,5% em 1989. No caso das empresas cuja origem de havida como modelo de de-
senvolvimento aberto, possuía
capital é norte-americana, nota-se o declínio de 45,4% no patrimônio líquido apenas 19,3% de sua produção
controlada por empresas es-
ao longo de nove anos. Em termos de participação percentual no total da trangeiras.

amostra, nota-se também uma diminuição em todos os indicadores. No caso (17) Há que se observar, no
entanto, que este padrão extre-
das empresas alemãs (na época, pertencentes à República Federal da mamente especializado de
atuação não existia em 1980.
Alemanha), nota-se uma razoável estabilidade da participação em todos os Ele foi sendo gestado ao longo
da década mediante a redução
indicadores, em torno de 20% do total do capital internacional, embora elas da participação propriamente
sejam apenas cerca de 15% do número de empresas deste tipo. industrial do setor público. Em
1980, as estatais, refletindo a
Em resumo, pode-se afirmar que, durante a década de 1980, ocorreu na estratégia de desenvolvimento
do II Plano Nacional de Desen-
economia sediada em São Paulo uma ascensão da participação do capital volvimento, obtinham quase
40% de suas receitas nos gêne-
japonês e um declínio da participação do capital norte-americano, manten- ros de química e metalúrgica,
em proporções iguais entre os
do-se o capital alemão num honroso segundo posto. Em outras palavras, a dois. Em 1985, o patamar em
cada um dos 2 ramos cai para
economia paulista e, por extensão, a brasileira, dados seus elevados níveis de menos de 15%, e para menos de
integração produtiva com as principais potências capitalistas16, refletem, a 10% em 1989. Há que acres-
centar que, a partir do governo
Collor (1990), este padrão de
seu modo, as mudanças na correlação de forças que ocorrem no âmbito especialização se acentua, com
mundial. a privatização de segmentos
quase inteiros do setor público,
Adicionalmente, um cruzamento das informações setoriais (24 gêneros do na siderurgia, petroquímica e
fertilizantes, entre outros. Dado
IBGE) com as de origem de capital permitiria descrever padrões de especiali- que a pesquisa se encerra em
1989, este assunto está além dos
zação produtiva que podem ser claramente visualizados para os diversos tipos limites deste trabalho. No
entanto, pode-se acrescentar, de
de capital (RFP 132/137). A falta de espaço impede a reprodução integral desta passagem, que o processo de
privatização, do modo como
rica análise. Mencionaremos alguns traços essenciais. está sendo executado, está en-
sejando a formação de podero-
É possível perceber uma razoável permanência do padrão de distribui- sos oligopólios privados nas
ção do capital segundo sua origem entre os gêneros industriais. áreas críticas de insumos inter-
mediários. Um estudo mais de-
No caso das empresas estatais, como era de se esperar, sua atuação se talhado sobre isto é necessário
para que a sociedade brasileira
dá basicamente nos serviços públicos, onde seu predomínio é quase possa, no mínimo, repensar o
modelo de desestatização, ago-
absoluto17. ra que ele ameaça avançar para
segmentos ainda mais sensí-
Para o capital estrangeiro, temos um padrão de especialização veis da economia, como tele-
comunicações e energia. Para
bastante definido, como também seria de se esperar, e que se mantém uma sinopse do Programa Na-
cional de Desestatização, ver
praticamente inalterado em todo o período. Nos três anos, as empresas Indicadores IESP, nº 26, março
estrangeiras de São Paulo concentraram suas atividades, numa proporção de 1994, pp. 8-10.

JULHO DE 1994 163


CRISE E CONCENTRAÇÃO: QUEM É QUEM NA INDÚSTRIA DE SÃO PAULO

que oscila entre 60% e 70% de todo o faturamento, em 4 gêneros, a saber:


produtos alimentares, mecânica, química e material de transporte.
(18) O percurso teórico da ca-
A ampla predominância do capital paulista na indústria do estado é tegoria grupo econômico deve
ter início pela noção de capital
confirmada pelo fato de ele deter mais de 50% do faturamento em 14 dos financeiro, isto é, pela contri-
buição pioneira de Rudolf Hil-
24 gêneros analisados, voltados basicamente para o consumo não-durável, ferding (O capital financeiro.
São Paulo: Nova Cultural, Cole-
característicos daquilo que se costuma chamar de indústria leve. ção Os Economistas, 1985). As
Como contrapartida da poderosa ocupação de espaços dos demais referências mais recentes in-
cluem, necessariamente, os se-
tipos de capital, pode-se observar a escassa penetração do capital originário guintes trabalhos: Zeitlin, Mau-
rice. "Corporate ownership and
de outros estados na indústria paulista: ele não é predominante em nenhum control: (The large Corporation
and the Capitalist class)". Ame-
dos 24 gêneros. Realizou pequenas incursões em São Paulo (com destaque rican Journal of Sociology.
Chicago, University of Chicago
para o setor de construção civil), que, no entanto, não alteram essencial- Press, 79(5), pp. 1073/1119,
1974; Chevalier, Jean Marie. La
mente a fraca posição destes capitais no pólo mais dinâmico da economia economia industrial en cues-
tión. Madri: H. Blume Edicio-
brasileira. nes, 1979; Bellon, Bertrand.
De forma bastante sintética, foi possível constatar na pesquisa algumas Groupes et ensembles finan-
ciers en France (Evolution,
mudanças nas relações de força e no padrão de ocupação de espaços structure strategic). Tese de
doutorado, Universidade D'A-
econômicos na economia sediada em São Paulo. A predominância dos miens, 1979; Scott, John. Cor-
porations, classes and capita-
capitais locais se manteve, tendo inclusive se ampliado em alguns setores lism. Londres: Hutchinson &
Co., 1979; Grou, Pierre. La
antes dominados pelo capital estrangeiro. Este, ainda que cedendo terreno structure financière du capita-
lisme multinational. Paris: Pres-
em alguns ramos, permanece soberano em vários dos principais mercados ses de la Fondation Nationale
des Sciences Politiques, 1983;
oligopolizados da economia: a economia interna espelha um padrão Montmorillon, Bernard de. Les
groupes industriels (Analyse
altamente concentrado de controle econômico que se formou e se reproduz structurelle et stratégique). Pa-
continuamente no âmbito do capitalismo global. Espelha também as ris: Economica, 1986.

alterações entre capitalismos nacionais que ocorrem neste âmbito, a saber, (19) Na literatura brasileira, o
pioneirismo na discussão teóri-
a ascensão do capital japonês. ca e empírica sobre os grupos
econômicos privados atuantes
no Brasil cabe a Queiroz, Mau-
rício Vinhas. "Os grupos multi-
bilionários". Revista de Ciên-
cias Sociais. Rio de Janeiro,
5. Os 50 maiores grupos econômicos 2(1), pp. 47-78, 1965. A contri-
buição teórica mais recente e
abrangente sobre o tema está
em Gonçalves, Reinaldo. "Gru-
pos econômicos: uma análise
Até agora, o objeto de análise foram as empresas — unidades jurídicas conceitual e teórica". Revista
Brasileira de Economia. Rio de
autônomas, publicamente reconhecidas enquanto tal. Mas é preciso superar Janeiro: Fundação Getúlio Var-
gas, 45(4), pp. 489-656,1991. A
esta base teórica tradicional: há muito que ela se subordina a outra, mais respeito das relações entre sis-
tema financeiro e setor indus-
ampla, que determina o rumo e o potencial de acumulação de cada trial, o destaque cabe aos traba-
lhos de Braga, José Carlos de
componente. Trata-se dos grupos econômicos, a expressão mais desenvol- Souza & Mazzucchelli, Frederi-
co. "Notas introdutórias ao ca-
vida de um conjunto complexo de movimentos de concentração e centrali- pitalismo monopolista". Revis-
zação da propriedade capitalista que têm início no final do século passado18. ta de Economia Política. São
Paulo: Ed. Brasiliense, 1(2), pp.
Podemos defini-los como uma unidade de propriedade e controle que se 57-65, 1981 e Zoninsein, Jonas.
Atitudes nacionais e financia-
estende por um conjunto de empresas. Pode assumir a forma de holdings— mento da indústria: A expe-
riência brasileira. Texto para
caso muito comum no Brasil19 — ou não. Constitui-se de vários tipos de Discussão, 63. Rio de Janeiro:
IE/UFRJ, 1984. Para uma análi-
ligação de propriedade — a começar daquelas que surgem a partir do se qualitativa de alguns dos
principais grupos privados na-
mercado acionário — e financeiras que se cristalizam em relações de cionais, no período mais re-
cente, ver Suzigan, Wilson
comando e de apropriação econômica entre pessoas físicas — as grandes (org.). Estratégia e desenvolvi-
mento de C&T nas empresas
famílias proprietárias — e jurídicas. Em uma frase, o grupo é a estrutura privadas nacionais. Relatório
empresarial que combina a centralização do poder e da apropriação de Pesquisa. Campinas: IE/Uni-
camp, 1989 e Ruiz, Ricardo
econômica com a descentralização na gestão e na ocupação de espaços Machado. Reestruturação dos
grupos industriais brasileiros.
econômicos (regionais, nacionais, setoriais etc.). Campinas, 1994, mimeo.

164 NOVOS ESTUDOS N.° 39


A. COMIN, F. OLIVEIRA, F. M. SARAIVA, HÉLIO F. C. LINO

Esta dupla subordinação — pela hierarquia do comando centralizado


e pelo circuito de recursos financeiros mais amplo do que a magnitude do
cash flow de cada empresa — implica teoricamente atributos diferentes para
a empresa que pertence a um grupo com relação àquela que não pertence.
Para nossos propósitos, cabe ressaltar dois deles, referentes ao desempenho
contábil das empresas que estamos examinando. De um lado, o potencial de
acumulação de cada empresa não está contido nos limites de si própria,
posto que ela pode contar com recursos — sobretudo financeiros, mas
também humanos, tecnológicos, entre outros — que pertencem ao grupo.
De outro, as transferências intragrupos, nem todas explicitadas em balanços,
mascaram a performance de cada ente individual.
Estes seriam, prima facie, motivos analíticos suficientes para justificar
um estudo centrado nos grupos econômicos. Mas são também motivos
teóricos: é esta entidade abrangente que expressa, pela agregação das
partes, o real comportamento dos agentes econômicos, o efetivo potencial
de acumulação de um capital que é multissetorial, multifuncional e, em
muitos casos, multinacional. Ainda que os dados não captem toda esta
diversidade, porque se concentram em alguns setores produtivos (indústria)
e não contemplam outras funções (comercial e bancária) nem a atuação em
outros locais que não São Paulo, sua agregação por grupos representa um
primeiro passo rumo à compreensão da sinergia que resulta unicamente da
forma grupo. É neste ponto que a análise mesoeconômica começa propria-
mente a alçar vôo: ao observar a paisagem industrial pelo alto, capta as
interconexões entre setores e ramos produtivos, revelando a dimensão mais
ampla da acumulação de capital numa economia dominada não por grandes
empresas, mas por grandes coalizões de firmas estruturadas como grupos.
Nosso objetivo primordial é localizar e dimensionar o poder econômi-
co justamente no locus onde ele efetivamente se materializa, os grupos, a
entidade que reúne o patrimônio — financeiro, de penetração de mercado,
tecnológico etc. — formalmente disperso entre diversas empresas juridica-
mente independentes.
No curso da pesquisa, procuramos agregar as empresas da amostra
nestas unidades mais amplas, procurando enxergar não mais o movimento
das partes mas sim do conjunto. Numa tentativa preliminar, criamos vários
grupos pela agregação simples de empresas a eles pertencentes (maioria do
controle acionário), isolamos os 50 maiores dentre eles e comparamos sua
performance com o restante da amostra20. Seguem-se algumas das princi- (20) Algumas complicações
pais conclusões daí derivadas, tendo como foco as variáveis com as quais metodológicas implicaram um
quadro um pouco mais com-
vimos operando até aqui (patrimônio líquido, faturamento, lucro líquido), plexo do que aquele aqui des-
crito. Dificuldades na apuração
acrescidas do indicador número de empregados, para os 50 maiores grupos, das intricadas ligações de pro-
priedade em algumas empre-
discriminados tão-somente segundo sua origem de capital. sas descaracterizam alguns
agrupamentos econômicos en-
Um primeiro nível de análise, ainda sem individualizar os grupos, diz quanto tal. Felizmente são de
menor importância no conjun-
respeito à relação entre os maiores grupos listados e o conjunto da amostra. to da amostra e aqui passare-
mos por cima destes detalhes.
Ela nos dá uma outra radiografia do grau de concentração da economia O leitor mais interessado é re-
sediada em São Paulo. Pode-se observar que o patrimônio líquido dos metido à discussão sobre estes
problemas, no RFP, pp. 94 e ss.
maiores grupos como percentagem do total da amostra passa de 63,5% em

JULHO DE 1994 165


CRISE E CONCENTRAÇÃO: QUEM É QUEM NA INDÚSTRIA DE SÃO PAULO

1980 para 69% em 1989 (RFP 138/143). Para as demais variáveis os cálculos
revelariam proporções um pouco menores, mas ainda assim bastante
elevadas21, evidenciando a existência de uma distribuição bastante concen- (21) No caso do lucro líquido, o
percentual passa de 49% para
trada do poder econômico na indústria de São Paulo. 65,7% ao longo do período. Em
suma, os grandes grupos de-
Tomemos inicialmente, com o objetivo de estabelecer um contraste, a têm entre 60% e 70% do patri-
mônio líquido e entre metade e
empresa individual (isto é, a agregação de todas as empresas que não dois terços dos lucros de toda a
pertencem a grupos) como foco de análise. É possível perceber nitidamente amostra.

um perfil econômico-financeiro que caracteriza estas empresas de menor


porte e que não estão integradas ao circuito de acumulação dos grupos em
termos de propriedade do capital. Em 1980, as 1.126 empresas não
pertencentes a grupos detinham, como proporção dos 50 grupos, pouco
mais de 15% do patrimônio líquido, 22,1% do faturamento e quase 30% do
emprego. Em 1989, a desproporção se acentua ligeiramente, com o
patrimônio líquido subindo um pouco e o percentual do emprego atingindo
praticamente o patamar de um terço22. Estas cifras, por oposição àquelas dos (22) Este aumento na propor-
ção do emprego não foi obtido
maiores grupos, indicam claramente um padrão de organização da produ- pela geração de novos postos
de trabalho, mas, ao contrário,
ção intensivo em mão-de-obra e de baixa capitalização. por uma redução menor do que
Outro aspecto importante quanto ao papel ocupado por esta miríade o conjunto dos 50 grupos na
oferta de empregos. A crise
de empresas de menor porte diz respeito à parcela dos lucros por elas obtida implicou também para estas
empresas de menor tamanho
em relação aos grupos. Calculando a proporção dos lucros desta empresas um corte em pessoal, da ordem
de quase 20 mil pessoas, dado
no conjunto dos maiores grupos, percebe-se que esta relação, que era de que o contingente de trabalha-
dores passa de 574,2 mil em
25% em 1980, passa para cerca de 20% em 1989. Ou seja, um dos efeitos da 1980 para 554,4 mil em 1989.
Para o conjunto dos 50, a
crise econômica foi o de deslocar parcelas expressivas do excedente global perda de empregos foi de 33,3
mil.
das empresas que não pertencem a grupos para os grandes agrupamentos
de empresas. Isto sugere ao menos duas observações, ainda que não
permita uma demonstração cabal.
Primeiro, falando-se de grupos econômicos, a referência não é a de
uma simples multiplicação da empresa individual em novas unidades. Os
grupos são a centralização de entidades já caracterizadas pelo grande porte,
pela penetração em setores mais oligopolizados e pelo poder financeiro; não
são a soma de quaisquer empresas. Neste sentido, o deslocamento de lucros
das empresas individuais para os grupos é mais uma dimensão da concentra-
ção de excedente nos estratos superiores da hierarquia empresarial.
Segundo, os grupos econômicos representam mais do que agregação
de unidades entre si homogêneas. Ao combinar frações diferentes do capital
— comercial, produtivo e financeiro — passam a se movimentar por uma
lógica diferente. Ao concentrar recursos líquidos de várias unidades diferen-
tes, em setores diversos, as holdings que controlam os grupos passam a
desempenhar funções financeiras que estão muito além das possibilidades
econômicas dos empreendimentos isolados; os grupos podem assim se
dirigir ao mercado financeiro de modo privilegiado e compor uma equação
capital produtivo/capital-dinheiro muito mais eficaz. Dado o peso da
acumulação financeira no conjunto da reprodução do capital que caracteri-
zou os anos 80, isto faz toda a diferença.
Ademais, os grupos econômicos, em muitos casos, são eles próprios
parte do mercado financeiro, através de seus bancos (frequentemente à
n

166 NOVOS ESTUDOS N.° 39


A. COMIN, F. OLIVEIRA, F. M. SARAIVA, HÉLIO F. C. LINO

frente de todo grupo), corretoras e outras instituições financeiras; nestes


casos, são os grupos uma engrenagem central da ciranda financeira,
alavancando ficticiamente sua acumulação numa magnitude impensável
para o capital individual.
Partindo para uma análise individual dos grupos, o primeiro tipo de
informação relevante é quanto à continuidade de alguns grupos, ao longo
de toda a década, no ranking dos 50 maiores. Ao todo, foram identificados
29 grupos que aparecem nos três anos; eles formam o núcleo duro do poder
econômico na indústria de São Paulo. Ao contrário de outros grupos, que
saem do conjunto dos 50, ou nele entram em algum momento do período
1980-89, estes 29, devido a sua permanência, constituem um subconjunto à
parte, o daqueles blocos de capital que resistiram à crise e lograram manter-
se no topo do ranking. Não é possível oferecer uma explicação única para
esta distinção: haveria que examinar cada grupo em particular para saber
por que razão saíram, entraram ou permaneceram nesta lista específica que
é, desde logo, arbitrária. Apenas com as informações de que dispomos, a
permanência destes 29 grupos é, em si, uma distinção importante.
Os 29 grupos estão divididos, segundo a origem do capital, da
seguinte forma: 2 são estatais, 10 são estrangeiros e 15 paulistas. Há que
ressaltar que os grupos brasileiros não figuram neste rol seleto, o que
sugere, por um novo ângulo, a pequena integração dos grupos de outros
estados à economia paulista23. Convém mencionar cada um destes grupos. (23) Na verdade, para os três
anos de análise da década, apa-
Comecemos pelos grupos não-privados. Sob o comando do Executivo recem 10 grupos brasileiros,
federal encontram-se 3 grandes estatais: Petrobrás, Siderbrás e Telebrás, elas sendo que nenhum deles con-
segue se manter ao longo de
próprias 3 grandes holdings, que, neste sentido, poderiam, numa análise todo o período.

mais detida, ser enfocadas como 3 grupos independentes, devido à relativa


autonomia operacional e financeira de que dispõem. A presença destas
empresas gigantes indica o peso do setor público estatal nas atividades de
apoio industrial (energia e telecomunicações) e na indústria de base
(siderurgia) no estado mais industrializado do país.
O outro grupo do setor público é o Estado de São Paulo, que aparece
em todos os anos como o primeiro do ranking. Sua participação no
patrimônio líquido do conjunto dos 50 grupos não é nunca inferior a 20%.
Isto significa, efetuando os cálculos, que este grupo representa algo em
torno de 15% do total geral da amostra. Em outras palavras, entre os grandes
de São Paulo, figuram no topo as empresas do próprio governo do estado.
Entre as 13 empresas deste grupo (para o ano de 1989), figuram
algumas das principais concessionárias do sistema Eletrobrás (CESP, CPFL e
Eletropaulo), algumas das maiores empresas de transportes do país (Cia. do
Metropolitano de São Paulo e Fepasa) e outros serviços públicos (Sabesp e
Comgás). A composição setorial do grupo explica seu peso na economia
sediada em São Paulo: reproduz no plano estadual a complementaridade
entre indústria e serviços industriais; e as concentrações regionais de ambos
se condicionam mutuamente.
O peso das empresas do governo paulista no faturamento e no número
de empregados, por outro lado, não atinge nunca o patamar de 7% do total
n

JULHO DE 1994 167


CRISE E CONCENTRAÇÃO: QUEM É QUEM NA INDÚSTRIA DE SÃO PAULO

dos 50 grupos em ambos os indicadores. Para completar o quadro, resta


dizer que o setor produtivo paulista é deficitário em todos os anos. Estas
cifras ilustram o papel deste segmento do setor público para a acumulação
industrial no estado: alta intensidade de capital (tanto em relação ao fator
trabalho quanto ao produto) e rentabilidade negativa. A primeira caracterís-
tica se explica pela concentração em setores onde prevalecem grandes
aportes de capital e longos prazos de maturação do investimento. A péssima
rentabilidade, para além das questões vinculadas à eficiência operacional,
está fortemente associada às injunções da política econômica e à eterna
"vocação" do setor público de subsidiar o setor privado, sobretudo pela
contenção de preços/tarifas.
Em resumo, percebe-se uma peculiar inserção do capital público na
economia paulista. Em seu estrato superior, figura uma holding pública que,
em seu conjunto, transfere recursos para o resto da economia; somada às três
holdings federais acima mencionadas (no conjunto lucrativas, mas numa
proporção irrisória para seu patrimônio e faturamento) compõe um quadro
que diz muito a respeito da importância e da funcionalidade do capital
público no capitalismo brasileiro. Quase sempre impedidas de exercer seu
poder oligopólico (ou monopólico) na formação de seus preços, e impossibi-
litadas de fazer o ajuste financeiro devido a uma dívida anterior — contraída
menos em função de suas próprias necessidades e muito mais devido às
estratégias de captação de crédito externo dos últimos governos militares —,
as empresas estatais são gigantes acorrentados, divididos entre o objetivo de (24) A respeito das contradi-
ções que envolvem a acumula-
acumulação para si e os desígnios das políticas macroeconômicas24. ção de capital das empresas
estatais ver Dain, Sulamis. Em-
Entre os 10 grupos estrangeiros, encontram-se nomes bem conhecidos presa estatal e capitalismo con-
do público brasileiro, quase todos de países capitalistas avançados. Três temporâneo. Tese de doutora-
mento. Campinas: Unicamp,
destes são alemães25. França, Itália, Suíça, Canadá e Bélgica comparecem 1980. Sobre a vinculação entre
dívida externa e desajuste das
com um grupo cada26. Por último, aparece um grupo de um país em empresas estatais, ver Cruz,
Paulo Davidoff . Dívida exter-
desenvolvimento27. na e política econômica (A ex-
periência brasileira nos anos
Ao contrário do que se poderia esperar, não figura nenhum grupo setenta). São Paulo: Brasilien-
se, 1984, especialmente pp. 173-
americano entre o subconjunto de 29 grupos ora estudado. Vale mencionar 4.
que em alguns anos figuram 6 grupos dos EUA28. Ainda mais curiosa é a (25) A saber, Daimler Benz,
quase completa ausência de grupos japonesas. O único a aparecer, e apenas Hoechst e Siemens.

em 1989, é o Fuji Bank Ltd., braço brasileiro de um dos maiores conglome- (26) Respectivamente, Saint
Gobain, Pirelli, Nestlé, Alcan e
rados japoneses. Solvay. Aparece também o gru-
po Unilever, que resulta de uma
Entre os 15 grupos nacionais privados, todos eles do estado de São associação entre o capital inglês
e o holandês.
Paulo, figuram alguns dos maiores e mais conhecidos grupos privados do
(27) Trata-se do grupo Bunge y
país, como Votorantim, Matarazzo, Antárctica, Villares, Vidigal e Alpargatas. Born (mais conhecido pelo
nome de Santista), de naciona-
Outros, menos conhecidos, podem ser citados: Termomecânica, Suzano lidade argentina, há muito tem-
po instalado no Brasil e atuan-
Feffer, Severino Pereira da Silva. Há outros com forte participação na do nos setores de alimentos e
agroindústria (com diversificação para os setores de bens de capital conexos têxtil.

ou não), como Cutrale, Dedini, Biagi e Ometto. Completam a lista uma (28) A saber, Dow Química,
Cargill, Caterpillar, Champion
grande construtora, a Camargo Correa, e um grande conglomerado financei- Intl., Ford e General Motors.
Esta última, maior "empresa"
ro, o Grupo Itaú. do mundo, saiu da amostra em
1989. Motivo: deixou de ser
Estes grupos, atuando nos mais diversos setores da economia — com uma empresa de capital aberto e
parou de divulgar seus dados
destaque para os conglomerados altamente diversificados Votorantim, o contábeis.
n

168 NOVOS ESTUDOS N.° 39


A. COMIN, F. OLIVEIRA, F. M. SARAIVA, HÉLIO F. C. LINO

maior grupo privado nacional, e Matarazzo, que já ocupou este posto no


passado29 —, representam metade do núcleo duro de grupos da economia (29) O grupo Matarazzo é um
caso à parte: a decadência (re-
paulista e espelham a pujança do capital local, em contraste com a parca lativa) que já era visível nos
anos 80, converteu-se na dé-
penetração do capital de outros estados, e mantendo uma posição de cada atual em um verdadeiro
processo de desestruturação in-
liderança mesmo frente aos enormes grupos estrangeiros citados que, em dustrial. Atualmente, as ativi-
dades industriais do grupo se
boa medida, permanecem encastelados nos oligopólios que dominam no resumem basicamente à meta-
lurgia (Ruiz, R. M., op. cit., p.
plano mundial. 20).

6. Quem é quem na crise brasileira

A discussão que vimos fazendo procurou basicamente resumir os


resultados empíricos que nossa equipe foi capaz de sistematizar até agora.
Nesta última seção, mais abaixo, faremos uma síntese final dos grandes
movimentos da economia paulista. Antes, porém, gostaríamos de alinhavar
alguns comentários de natureza conceitual, sugeridos pela pesquisa.
A noção de um espaço teórico mesoeconômico, que buscaria integrar
análises já existentes num corpo conceitual único, ao qual seriam acrescen-
tadas dimensões novas, vive ainda sua infância. Muita reflexão e trabalho
empírico são ainda necessários para que se prove sua necessidade e
pertinácia ao estudo das economias contemporâneas.
Desde já, no entanto, é possível delinear seus traços básicos, reconhe-
cer seu objeto, sugerir algumas hipóteses preliminares. Como ponto de
partida, é possível afirmar que a mesoeconomia deveria se ocupar de duas
ordens de fenômenos fortemente associados. De um lado, é preciso estudar
as inter-relações produtivas entre os setores econômicos que estão na base
do desenvolvimento econômico, particularmente na indústria e na confluên-
cia desta com a agricultura (agroindústria). O objeto aqui são a matriz de
relações intersetoriais, as sinergias comerciais e tecnológicas entre setores
correlatos, as condições enfim que nos permitiriam identificar clusters
industriais, isto é, construir as mediações necessárias entre os mercados
(nível micro) e a estrutura produtiva (nível macro).
De outro lado, a mesoeconomia precisa identificar os agentes econô- (30) A questão não é nova: ela
aparece desde o princípio da
micos que operam — isto é, que comandam — este complexo mosaico que industrialização brasileira. Fer-
nando H. Cardoso é explícito
é a divisão do trabalho numa economia que já atingiu um certo grau de sobre este ponto, adicionando
as dimensões sociais e políticas
desenvolvimento interno. O objeto aqui são as relações de propriedade de que não estamos tratando
aqui: "o desenvolvimento eco-
(acionária e financeira) e apropriação (privada ou estatal, individual ou nômico do Brasil como proces-
so político-econômico-social
grupal) que, variantes ao longo do tempo e variáveis segundo os diversos implica não apenas a formação
de uma indústria de bens de
contextos nacionais, regulam, constrangem, possibilitam o desenvolvimen- capital e o automatismo do
to daquela divisão técnica do trabalho acima referida. A montagem de ramos crescimento econômico, como
a formação e dinamização de
da produção (petróleo, automóveis, petroquímica) é simultaneamente a novas classes capazes de rede-
finir o equilíbrio tradicional de
construção de agentes econômicos e sociais (grupo estatal, grupo multina- poder e de romper a estagna-
ção econômica"; Cardoso, Fer-
cional, tripé) que os tornam possíveis30. nando Henrique. Empresário
industrial e desenvolvimento
Se a primeira dimensão da mesoeconomia se inscreve na longa e viva econômico no Brasil. São Pau-
lo: Difusão Européia do Livro,
tradição da Organização Industrial, a segunda procura recuperar alguns 1972, p. 84.

JULHO DE 1994 169


CRISE E CONCENTRAÇÃO: QUEM É QUEM NA INDÚSTRIA DE SÃO PAULO

aspectos da Economia Política que, ao contrário, parecem perdidos no


tempo: é bastante reduzida a atenção que os processos de concentração e
centralização dos capitais têm recebido de uma ciência econômica hegemo-
nizada pelo paradigma neoclássico. A concorrência intercapitalista, ao
perpassar estas duas dimensões, é a chave para entender as relações de causa
e efeito que entre elas se estabelecem. Mas não é a concorrência isomorfa e
reducionista da microeconomia neoclássica: não isolamos os agentes em
firmas e mercados abstratos. Ao contrário, os atores aqui se distinguem pelo
tamanho, pela origem de capital, por suas articulações internas e externas,
pelo poder econômico e político de que dispõem; os mercados são
determinados fortemente pelo desenvolvimento de outros mercados, com os
quais mantêm relações, e se distinguem também pela dinâmica da concorrên-
cia neles prevalecente (inclusive em termos da predominância deste ou
daquele tipo de capital, da presença de grupos etc.).
Em resumo, a proposta de um espaço mesoeconômico, mais do que
uma ruptura com a teoria econômica, é uma tentativa de aglutinar dentro de
um corpo teórico coerente um conjunto de análises que, amiúde, aparecem
dissociadas. Nossa aposta é a de que, particularmente no caso do Brasil, o
enfoque mesoeconômico pode contribuir decisivamente para a compreen-
são da presente crise de desenvolvimento.
À luz destas considerações, nos parece oportuno sintetizar algumas
das principais conclusões a que chegamos até o momento. São elas a prova
dos noves de um espaço conceitual ainda em construção.
Quanto às mudanças na estrutura produtiva paulista, nosso elevado
grau de agregação setorial e a falta de dados censitários não nos permitem
uma análise detalhada. A conclusão mais geral a que se pode chegar neste
tema é de que a crise econômica congelou, ao menos no início dos 80 e em
seus contornos mais gerais, a estrutura industrial.
No âmbito da concorrência econômica a pesquisa revela que houve
um intenso aprofundamento da concentração: os grandes se agigantaram às
custas dos participantes menores e mais fracos da indústria sediada em São
Paulo.
Este processo não se deu aleatoriamente. Ao contrário, parece ter
influído, de vários modos, sobre a correlação de forças entre os diversos
segmentos empresariais. Alguns traços de continuidade e de mudança se
destacam.
Primeiramente, o capital público, dada sua inserção sui generis, acima
discutida, acirrou algumas das contradições que caracterizam o setor
produtivo estatal há algumas décadas. A centralidade de sua inserção
produtiva continuou se chocando com o caráter subordinado do capital
público, tanto com relação à política econômica, quanto à estrutura de
acumulação do capital como um todo.
Em segundo lugar, o balanço entre o capital paulista e o de outros
estados da federação, aqui atuantes, não parece ter se alterado essencial-
mente. O capital local conserva sua primazia, apesar de algumas incursões
pontuais do capital brasileiro em certos setores. Recebido para publicação em
março de 1994.

170 NOVOS ESTUDOS Nº 39


A. COMIN, F. OLIVEIRA, F. M. SARAIVA, HÉLIO F. C. LINO

Em terceiro lugar, não se pode dizer que tenha havido grandes


mudanças na inserção do capital estrangeiro (como um todo) na economia
Alexandre Comin é pesqui-
sediada em São Paulo. O peso global da produção sob controle internacio- sador do Cebrap, professor da
PUC e consultor do IESP/
nal e a distribuição setorial desta produção sofreram poucas mudanças. Por Fundap.
outro lado, a participação deste tipo de capital na apropriação do excedente Francisco de Oliveira é profes-
sor da FFLCH da USP e presi-
econômico cresceu substancialmente, indicando uma capacidade maior de dente do Cebrap. Já publicou
se adaptar aos graves desequilíbrios macroeconômicos, o que em parte se nesta revista "O surgimento do
antivalor" (Nº 22).
explica pelas características técnicas e competitivas dos setores onde atua Flávio Saraiva é professor da
preferencialmente. FEA/PUC.
Por último, nossos dados mostram claramente a ascensão dos blocos Hélio Francisco Corrêa Lino é
professor da Universidade São
de capital organizados como grupos, em prejuízo dos demais. Esta evidên- Judas Tadeu.
cia, juntamente com aquelas relativas à concentração econômica, parece
indicar que houve também um forte processo de centralização de capital.
Em outras palavras, para além da concentração que resultou da concorrên- Novos Estudos
CEBRAP
cia oligopólica em boa parte dos mercados, outros mecanismos econômicos
N.° 39, julho 1994
atuaram no sentido de provocar uma centralização geral do poder econômi- pp. 149-171
co que transcende as realidades setoriais.

JULHO DE 1994 171

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