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REVISÃO

REAÇÕES DE DIELS-ALDER ENTRE COMPOSTOS CARBONÍLICOS α,β -INSATURADOS E CICLOPENTADIENO

Fernanda Ferraz Camilo e Jonas Gruber


Instituto de Química - Universidade de São Paulo - CP 26077 - 05599-970 - São Paulo - SP

Recebido em 6/3/98; aceito em 30/7/98

DIELS-ALDER REACTIONS BETWEEN α,β-INSATURATED CARBONYL COMPOUNDS AND


CYCLOPENTADIENE. We review herewith the use of solids such as activated alumina and other
modern Lewis acid catalysts, as well as the influence of different solvents, including water, on the
title reactions, described in the last seven years.

Keywords: Diels-Alder reaction; Lewis acid; cyclopentadiene.

INTRODUÇÃO

A reação de Diels-Alder é certamente uma das reações mais


estudadas em química orgânica sintética devido à facilidade com
que ligações C-C e anéis de seis membros podem ser formados.
O presente artigo discute os principais resultados publica-
dos na literatura entre 1990 e 1997, de reações de Diels-Alder Esquema 1
entre ciclopentadieno e compostos carbonílicos α,β -insaturados
aquirais, realizadas em diferentes meios reacionais e com o
emprego de diversos ácidos de Lewis.
Vale ressaltar que, apesar de as reações de Diels-Alder te-
rem sido descobertas no início deste século, essas continuam
sendo extensivamente estudadas até hoje. Por exemplo, consul-
tando um banco de dados 1 disponível pela Internet, que abran-
ge os principais periódicos de química, encontra-se mais de
seis mil citações que possuem a palavra chave “Diels-Alder”
em seu título ou abstract, nos últimos sete anos, o que corres-
ponde, em média, a mais de dois artigos novos por dia!
Cabe ressaltar que apenas trabalhos originais foram consi-
derados para a elaboração desta revisão. Porém, é importante
citar algumas das várias monografias de revisão2-19 e capítulos
em livros-texto20-22 de química orgânica, que tratam desse as-
sunto tão relevante.
A presente revisão foi dividida em três partes. A primeira Figura 1
abrange reações de Diels-Alder realizadas em condições hete-
rogêneas como, por exemplo, reações sobre alumina, sílica, e
argila. Na segunda parte é discutido o emprego de ácidos de Experimentos demonstraram que os adutos endo (3) e exo (4)
Lewis em condições homogêneas. Finalmente, a última parte é epimerizam. Dois mecanismos foram propostos para o processo
dedicada a efeitos de solventes com ênfase a reações de Diels- de epimerização: via enolato e via retro Diels-Alder. A ocorrên-
Alder em meio aquoso. cia da epimerização via retro Diels-Alder foi confirmada quando
o aduto endo (3) tratado com alumina na presença de fumarato
de dimetila (5) (dienófilo mais reativo do que acrilato de metila)
REAÇÕES DE DIELS-ALDER EM CONDIÇÕES
gerou, além dos adutos endo (3) e exo (4) esperáveis, o aduto
HETEROGÊNEAS
correspondente a reação de ciclopentadieno com fumarato de
Em 1990, Hondrogiannis et al. 23 estudaram a reação de dimetila (6), conforme mostrado no Esquema 2.
Diels-Alder entre acrilato de metila (1) e ciclopentadieno (2)
sobre alumina ativada a diferentes temperaturas (Esquema 1),
notando a existência de uma forte dependência da proporção
endo:exo com a temperatura de ativação da alumina. Nota-se
na Figura 1 que quanto maior a temperatura de ativação da
alumina, maior a proporção endo:exo. Uma explicação dada
para este fato é que a alumina não-ativada contém uma camada
exterior de grupos hidroxila e uma camada interior de cátions
alumínio. Sob aquecimento, os grupos OH adjacentes reagem
para produzir água, expondo cátions alumínio na superfície, o
que proporciona o caráter de ácido de Lewis à alumina.

e-mail: jogruber@iq.usp.br Esquema 2

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No ano seguinte, Bains et al.24 mostraram a dependência da 700 oC por 20 horas, à temperatura ambiente e obterem os
diastereosseletividade endo e exo nas reações de Diels-Alder adutos recuperados (8), (9) e (6) extensivamente deuterados.
entre ciclopentadieno (2) e maleato de dimetila (7) com a tem- Análises cuidadosas de espectros de massa desses
peratura de ativação da alumina (Esquema 3), destacando que norbornenos revelaram que eles foram deuterados exclusi-
a proporção endo:exo aumentava acentuadamente com o au- vamente nos dois carbonos adjacentes aos grupos carbome-
mento da temperatura de ativação da alumina. tóxi (Esquema 4).

Esquema 4

Esquema 3 Um fato bastante curioso é que, conforme dito anteriormen-


te, a epimerização dos adutos obtidos entre ciclopentadieno (2)
e acrilato de metila (1) ocorre via retro Diels-Alder, enquanto
Um resultado bastante interessante obtido pelos autores foi que com fumarato de dimetila (6) ou com maleato de dimetila
que na reação entre maleato de dimetila (7) e ciclopentadieno (7) ocorre via enolato. A presença de um segundo grupo car-
(2) sob alumina ativada a 700oC, além dos adutos esperados bometóxi, sacador de elétrons, torna os hidrogênios em β sufi-
(8) e (9), o aduto (6) correspondente à reação entre ciclopen- cientemente ácidos, facilitando a ocorrência da epimerização
tadieno (2) e fumarato de dimetila (5), isômero geométrico do desses adutos (8), (9) e (6) via enolato.
maleato de dimetila foi também encontrado. Mediante este fato, Pagni et al.25, em 1993, estudaram a reação entre acrilato de
os três adutos obtidos (8), (9) e (6) foram tratados, isolada- metila (1) e ciclopentadieno (2) sobre aluminas de várias ativida-
mente, com alumina ativada a 700oC por 20 horas, à tempera- des, ressaltando que a proporção massa:massa entre os reagentes
tura ambiente (Tabela 1). Cada um desses compostos gerou e a alumina causa mudança significativa na diastereosseletivida-
dois outros adutos sob essas condições, com a ordem de reati- de endo:exo da reação (Tabela 2). Os resultados apresentados
vidade sendo: (8) > (9) > (6). Desse modo, os autores conclu- na Tabela 2 mostram que quando a proporção massa:massa
íram que os adutos (8) e (9) resultantes da reação entre maleato entre os reagentes e a alumina é inferior a 1:2,5, a razão
de dimetila e ciclopentadieno, bem como o aduto (6) da ciclo- endo:exo permanece praticamente constante, enquanto que
adição de fumarato de dimetila, epimerizam nessas condições. quando a massa de reagentes torna-se inferior à massa de
Eles consideraram a ocorrência da epimerização dos adutos (8), alumina, a razão endo:exo passa a acompanhar o aumento da
(9) e (6) sobre alumina ativada a 700oC por três mecanismos: proporção massa:massa.
via enolato, retro Diels-Alder e isomerização maleato de dime-
tila/fumarato de dimetila. Eles concluíram que a epimerização
ocorria preferencialmente via enolato ao tratarem uma mistura Tabela 2. Efeito da proporção massa:massa entre alumina não-
de norbornenos (8) e (9) sobre alumina deuterada, ativada a ativada e reagentes sobre a diastereosseletividade da reação
entre ciclopentadieno (2) e acrilato de metila (1) a 50 oC.
Al2O 3: reagentesa Rendimento b Endo (3):exo (4)
Tabela 1. Tratamento dos ésteres (8), (9) e (6), separada- (massa:massa) (%)
mente, em alumina ativada a 700o C por 20 horas à tempera-
tura ambiente. 1:33 54 2,9:1
1:20 57 2,9:1
Produtos 1:10 53 3,0:1
Porcentagem (%) 1:2,5 55 2,8:1
Reagentes 8 9 6 5:1 60 4,5:1
7:1 57 4,2:1
10:1 62 5,8:1
a Quantidades equimolares de acrilato de metila (1) e ciclopen-
59,1 13,3 27,6 tadieno (2) foram utilizadas.
b
O rendimento global dos adutos endo (3) e exo (4) foi mo-
desto devido à perda de ciclopentadieno por dimerização.
6,4 84,1 9,5
Baseando-se no trabalho de Berson26 em que a polaridade
de um solvente pode ser estimada por Ω, definido como log
(N:X), onde N e X são as quantidades de adutos endo e exo
1,6 2,3 95,6 formados na reação de ciclopentadieno (2) e acrilato de metila
(1) no solvente de interesse a 20 o C, Pagni et al. estimaram
este valor de Ω para a alumina não-ativada.

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Como os dados da Tabela 2 apresentavam as reações de Diels- realizadas a baixas temperaturas e sem solventes, onde ocorre
Alder entre ciclopentadieno (2) e acrilato de metila (1) realiza- um reduzido grau de isomerização Z e E.
das a 50oC, as proporções endo:exo obtidas não puderam ser
utilizadas para os cálculos de Ω. Assim, a razão endo:exo foi
redeterminada a 20oC com baixa concentração de reagentes (1:10
proporção massa:massa de reagentes:alumina) e o valor encon-
trado foi 0,740. Eles concluíram que alumina não-ativada era
mais polar que etanol (Ω=0,718) e acetonitrila (Ω=0,692), mas
menos do que água (Ω=0,869) e metanol (Ω=0,845). Não foi
possível determinar Ω para alumina ativada, pois nesse caso a
alumina tem caráter de ácido de Lewis, o que altera a proporção
endo:exo, independentemente da polaridade do solvente.
Uma série de reações foi efetuada sobre alumina não-ativa-
Esquema 5
da e ativada a 200oC, 300 oC e 400o C, em duas proporções
massa:massa entre alumina e reagentes, e a 800oC, em uma
única proporção. Todas as reações foram feitas a 50oC, por Na reação entre ciclopentadieno (2) e (10b), o uso de ácidos
cinco horas, com exceção do ensaio sobre alumina ativada a de Lewis em solução foi descartado devido à extensa conversão
800 oC, o qual foi realizado à temperatura ambiente por para o isômero mais estável Z (10a). Nesta reação o emprego de
24 horas. Em cada caso observou-se um comportamento geral, sílica-gel, alumina tratada com Et2AlCl e alumina tratada com
onde a proporção de aduto endo (3) aumentava gradualmente TiCl4 não foi satisfatório devido à alta taxa de isomerização.
de alumina não-ativada para alumina ativada a 400oC. Inespe- Este inconveniente foi amenizado quando os experimentos fo-
radamente, a proporção endo:exo diminuiu para 0,93 quando a ram realizados a baixas temperaturas, porém este procedimento
reação foi feita sobre alumina ativada a 800oC. Para interpretar também ocasionou a redução da velocidade reacional e, nesses
esse resultado, os autores analisaram a ocorrência de epimeri- casos, baixos níveis de conversão foram encontrados. Cloreto de
zação nas condições reacionais. Eles confirmaram a ocorrência zinco sobre sílica-gel, que não promoveu a reação entre ciclo-
de epimerização quando uma mistura, cuja proporção endo:exo pentadieno (2) e (10a), foi muito eficiente na reação de (10b).
era de 13,8:1, foi submetida à alumina ativada a 800 oC por Sílica-gel tratada com TiCl4 também forneceu bons resultados,
cinco horas a 65 oC , resultando numa proporção de 0,83:1. suprimindo quase completamente a isomerização Z e E.
Dois mecanismos para a ocorrência de epimerização foram Como podemos observar, as reações realizadas na ausência
considerados: via enolato e o outro via retro Diels-Alder. No- de solventes forneceram melhores resultados do que aquelas
vamente, o trapeamento do ciclopentadieno com um dienó- realizadas na presença deles.
filo mais reativo que o acrilato de metila (1), como fumarato Quanto à diastereosseletividade endo e exo, na reação entre o
de dimetila (5), durante o tratamento do aduto endo (3) sobre dienófilo (10a) e ciclopentadieno (2), formou-se preferencialmen-
alumina ativada, confirmou a ocorrência de retro Diels-Alder. te o aduto exo (12a) em todas as condições testadas. No caso de
Em 1995, Cativiela et al.27 estudaram a reação entre ciclopen- (10b), entretanto, esta seletividade dependeu do sólido emprega-
tadieno (2) e os dienófilos (Z)- e (E)-2-fenil-4-benzilideno-5(4H)- do, ou seja, com sólidos pouco eficientes o aduto endo (11b) foi
oxazolona (10) em diferentes condições reacionais (Esquema 5). preferencial, enquanto que com sólidos mais eficientes, foi o pro-
O emprego desses dienófilos em reações de Diels-Alder é um duto exo (12b). Interações estéricas entre dieno e dienófilo podem
tanto limitado devido à isomerização entre os isômeros Z e E na explicar este comportamento. Assim, quando o grupo fenila liga-
presença de ácidos de Lewis ou por aquecimento. Vale lembrar do a dupla ligação está coplanar com o resto da molécula sua
que as reações de Diels-Alder desses dienófilos são passos chaves interação com o grupo metileno do ciclopentadieno torna a abor-
na síntese de α -amino ácidos cíclicos. dagem exo ao grupo fenila difícil, portanto o produto obtido terá
Na Tabela 3 apresentamos os resultados mais relevantes rela- esse grupo em posição endo nos adutos formados. A coordenação
tados pelos autores, onde notamos que o emprego de sílica-gel de um ácido de Lewis com o grupo carbonila não modifica a
tratada com TiCl4 e Et2AlCl foi eficiente apenas nas reações conformação de (10a), mas desvia o grupo fenila da coplanaridade

Tabela 3. Resultados obtidos na reação entre (Z)-2-fenil-4-benzilideno-5-(4H)-oxazolona (10a) e ciclopentadieno (2).


Produtos
Porcentagem (%)
Sólidos ou Solvente T (oC) 10a 10b 11a 12a 11b 12b
Ácidos de Lewis
——- CH2 Cl 2 20 100 ——- ——- ——-
——- ——- 20 100 ——- ——- ——-
TiCl4a CH2 Cl 2 0 ——- 2 14 39 15 30
TiCl 4b CH2 Cl 2 -25 42 ——- 19 39 —-
SiO2 /TiCl4 CH2 Cl 2 20 78 2 ——- 7 13
SiO2 /TiCl4 ——- 20 77 1 4 14 4
SiO2 /TiCl4 ——- -20 20 5 21 54 ——-
SiO 2/Et2AlCl CH2 Cl 2 20 91 3 6 ——-
SiO 2/Et2AlCl ——- 20 90 ——- 3 7
SiO 2/Et2AlCl ——- -20 16 1 26 55 2
K10-Ce(IV) c CH2 Cl 2 20 74 2 6 15 3
K10-Ce(IV) ——- 20 100 ——- ——- ——-
K10-Ag(I) c CH2 Cl 2 20 77 1 5 13 5
K10-Ag(I) ——- 20 100 ——- ——- ——-
a b
Proporção 1:1 de dienófilo:TiCl 4. Proporção 2:1 de dienófilo:TiCl4. c Calcinada a 550oC.

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em (10b). Neste caso, a influência estérica do grupo fenila torna-
se particularmente importante para a parte diênica do dieno quan-
do a abordagem ocorre endo em relação ao grupo fenila.
Muitos outros sólidos, além dos apresentados na Tabela 3,
como sílica, alumina, alumina tratada com TiCl4 ou Et 2AlCl,
ZnCl2 suportado sobre sílica-gel, e K10-montmorilonita modi-
ficada com Ti(IV) e Cu(II) foram testados na reação entre (10a) Esquema 6
e ciclopentadieno (2), no entanto os rendimentos obtidos fica-
ram abaixo de 15%. Al 2O 3 modificadas pelo tratamento com ácidos de Lewis for-
No mesmo ano, os mesmos autores28 continuaram a relatar neceu as maiores taxas de conversão após 24 horas, sendo os
o emprego de inúmeros sólidos, desta vez sobre a reação entre derivados de titânio mais eficientes do que os análogos de alu-
ciclopentadieno (2 e o dienófilo N-acetil-α,β-dehidroalaninato mínio. Entre as argilas, a K10-Ti(IV), calcinada a 500 oC, foi a
de metila (13), (Esquema 6) e (Tabela 4). As reações realiza- que apresentou maior taxa de conversão. Nota-se também que
das na ausência de solvente forneceram porcentagens de con- não foram encontradas alterações relevantes nas proporções
versão, após 24 horas, muito mais elevadas do que aquelas endo:exo com os diferentes sólidos utilizados.
obtidas para reações em solução, na presença do mesmo sóli- McGinnis et al.29 , em 1996, estudaram o emprego de uma
do. Por exemplo, na presença de SiO2 tratada com Et 2AlCl, a série de boronatos de alumina e outros ácidos de Lewis na
reação entre N-acetil-α,β-dehidroalaninato de metila (13) e ci- reação de acrilato de metila (1) com ciclopentadieno (2). Os
clopentadieno (2) em tolueno a 25oC, não ocorreu após 24 horas, resultados obtidos na presença de boronatos de alumina, cloreto
enquanto que a mesma reação, na ausência de solvente, resultou em e brometo de borocatecol, alumina ativada e não-ativada,
95% de conversão após o mesmo período. tricloreto de alumínio e uma solução de perclorato de lítio em
Nas reações sem solvente e a 25oC, o emprego de SiO 2 e éter estão apresentados na Tabela 5.

Tabela 4. Resultados obtidos na reação entre N-acetil-α,β-dehidroalaninato de metila (13) e ciclopentadieno (2).
Sólido Solvente T ( oC) %Conversão após Exo(15) : endo(14)
24 h
SiO 2a tolueno 60 22 73:27
SiO 2/Et2 AlCl tolueno 25 0 ——-
SiO 2/Et2 AlCl ——- 60 50 72:28
SiO 2/TiCl4 tolueno 25 4 ——-
SiO 2/TiCl4 ——- 60 58 65:35
K10-Zn(II) b tolueno 25 1 ——-
K10-Ti(IV) b tolueno 25 7 ——-
K10-Ce(IV) b tolueno 25 7 ——-
SiO2 ——- 25 34 72:28
Al 2O 3 ——- 25 65 63:37
SiO 2/Et2 AlCl ——- 25 95 65:35
SiO 2/TiCl4 ——- 25 100 68:32
Al2O 3/TiCl4 ——- 25 77 68:32
K10-Zn(II) b ——- 25 25 68:32
K10-Ti(IV) b ——- 25 49 66:34
K10-Ce(IV) b ——- 25 22 69:31
a
Ativada a 140 oC sob vácuo. b
Calcinada a 500oC.

Tabela 5. Resultados obtidos nas reações entre acrilato de metila (1) e ciclopentadieno (2) em diferentes condições reacionaisa.
Condições reacionais Endo (3) : exo (4) Rendimento (%)
BF3e/Al2O 3 - tolueno 24:1 31b
BCl1,5f/Al2O 3 - tolueno 12:1 78b
BBr g/Al2O 3 - tolueno 13:1 88b
BBr/Al 2O3 8:1 18c
BIh /Al2O 3 - tolueno 16:1 47b
MeCN 4,9:1 ——
Al2O 3 não-ativada 5,8:1 ——
Al 2O 3 ativada a 400 oC 52:1 ——
Cloreto de borocatecol-CH 2Cl 2 19:1 47d
Brometo de borocatecol-CH 2Cl 2 19:1 49d
AlCl 3-benzeno 99:1 ——
LiClO4-éter 8:1 ——
a b c d
Reações feitas à temperatura ambiente. 1h de reação. 4h de reação. 1,5 h de reação.

QUÍMICA NOVA, 22(3) (1999) 385


Nota-se que os maiores rendimentos foram alcançados nas endo de Alder. Apenas o dienófilo (17a) continuou a fornecer
reações realizadas com solvente. Por exemplo, sobre BBr/ maior proporção de aduto endo (20a).
Al2O 3, um rendimento de 88% foi conseguido em tolueno após No ano seguinte, Dols et al. 31 estudaram a reação entre
uma hora, no entanto apenas 18% foi obtido na ausência de 4-acetoxiciclopentenona (22) e ciclopentadieno (2), na pre-
tolueno após quatro horas. Para os três outros boronatos de sença de diferentes ácidos de Lewis. A subseqüente elimi-
alumina (BF3 /Al2O 3, BCl1,5 /Al2O 3, BI/Al 2O3 ), não mais do que nação induzida por base do grupo β-acetóxi a partir dos
1% de rendimento foi obtido na ausência de solvente. As rea- adutos (23) ou (24) levou à triciclo enona (25), conforme
ções realizadas na presença de boronatos de alumina em Esquema 8. É interessante notar que a rota aparentemente
tolueno, com exceção da reação na presença de BF3/Al2O 3, mais direta para o produto (25) seria através da cicloadição
forneceram bons rendimentos. entre ciclopentadienona e ciclopentadieno, entretanto, esta
Quanto à diastereosseletividade endo:exo, observamos que não foi a escolhida, pois o dienófilo utilizado nesse caso,
as proporções endo:exo encontradas para as reações realizadas ciclopentadienona, tem forte tendência a polimerizar. As-
na presença de boronatos de alumina em tolueno eram simila- sim, a 4-acetoxiciclopentenona (22) foi considerada como
res àquelas encontradas nas reações catalisadas por brometo e um possível equivalente sintético da ciclopentadienona em
cloreto de borocatecol (ácidos de Lewis muito fortes) porém reações de Diels-Alder. Ácidos de Lewis foram empregados
acentuadamente inferiores àquelas obtidas nas reações com devido à baixa reatividade do dienófilo (22). Exemplifican-
cloreto de alumínio e alumina ativada a 400 oC. Assim, embo- do, na presença de cloreto de alumínio, a reação ocorreu
ra a acidez de Lewis desempenhe um papel fundamental na rapidamente, fornecendo diretamente o produto (25) com
reação de Diels-Alder por modificar a magnitude da energia do 61% de rendimento. Entretanto, com um ácido de Lewis mais
orbital LUMO do dienófilo e, portanto, facilitar a ocorrência fraco, como cloreto de zinco, obtiveram-se os adutos (23) e
de reações de Diels-Alder, neste caso não existe nenhuma cor- (24) na proporção de 3:1, os quais após o tratamento com
relação direta entre acidez e seletividade endo:exo. Exemplifi- uma solução 1 mol.L-1 de hidróxido de potássio forneceram o
cando, BBr/Al2O 3 e BI/Al 2O 3 com Ho ≤ -13,2 forneceram produto (25). A proporção maior do aduto (23) pode ser raci-
menor diastereosseletividade endo:exo do que alumina ativada onalizada, em termos de efeito estérico, ou seja, o estado de
a 400 oC que possui Ho ≤ -8,2. transição que leva ao aduto (24) apresenta maior impedimen-
to estérico do que foi aquele encontrado em (23), Figura 2.
REAÇÕES DE DIELS-ALDER EM CONDIÇÕES
HOMOGÊNEAS

Em 1990, Rao et al. 30 reportaram o uso de fermento de pão


nas reações entre ciclopentadieno (2) e os dienófilos (16) e
(17), Esquema 7 e Tabela 6.
Como podemos observar, na ausência do biocatalisador, a mai-
oria das reações forneceu misturas de isômeros com predominân-
cia do aduto endo, em meio aquoso e orgânico. No entanto, nas
reações entre os dienófilos (16a), (16b) e (17b) e ciclopentadieno, Esquema 8
na presença da enzima, obtiveram-se predominantemente adutos
exo (19a), (19b) e (21b), respectivamente, contrariando a regra

Esquema 7 Figura 2

Tabela 6. Diastereosseletividade nas reações entre ciclopentadieno (2) e os dienófilos (16) e (17) sob várias condições a.
Dienófilo Meio Orgânico Meio Aquoso Meio aquoso na presença de
fermento de pão b
endo:exo endo:exo endo:exo Rendimento
(%)
16a 80(18a):20(19a) 98:2 0:100 74
16b 73(18b):27(19b) 93:7 0:100 78
17a 70(20a):30(21a) ——- 90:10 72
17b 50(20a):50(21b) ——- 3:97 76
a
Ao fermento de pão (0,8 g) é adicionado o dienófilo (2,5 mmol) em etanol 30% e em seguida ciclopentadieno (2,5 mmols). A
mistura é mantida incubada a 37 oC por 48 horas.
b
Fermento (Saccharomyces cerevisiae, Tipo 1) foi obtido da Sigma Chemical Co., U.S.A.

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Outros dienos menos reativos do que o ciclopentadieno, tais aumento na quantidade de aduto (36), e quando introduzido na
como cicloexadieno e 2,3-dimetilbutadieno, foram testados, reação, entretanto, o resultado não foi tão relevante, comparado
porém nessas reações houve a necessidade do emprego de altas às reações não-catalisadas, já que a proporção de adutos (35) e
pressões, além do uso de ácidos de Lewis. (36) sofreu apenas uma pequena alteração. Outros ácidos de
Dois anos depois, Howarth et al.32 relataram as reações de Lewis duros ocasionaram uma maior alteração na proporção de
Diels-Alder entre ciclopentadieno (2) e crotonaldeído (26), adutos (35):(36), em favor do endo-éster (36). Por exemplo, o
metacroleína (27), metilvinilcetona (28) e metacrilato de metila emprego de BCl3 forneceu este produto (36) quase que exclusi-
(29) na presença de quatro compostos de enxofre (30)–(33), vamente, ao mesmo tempo que causou substancial aceleração na
Esquema 9 e Tabela 7. velocidade da reação. Ácidos de Lewis moles apresentaram ten-
dência inversa. Exemplificando, com trifluormetanossulfonato de
cobre(II), obteve-se uma razão de 90:10 em favor do aduto endo-
tionéster, indicando que a complexação do ácido de Lewis ocor-
reu preferencialmente no grupo tiocarbonílico.

Esquema 10

Tabela 8. Proporção dos adutos obtidos na reação entre (34) e


ciclopentadieno (2) na presença de diferentes ácidos de Lewis.
Esquema 9
Ácido de Lewisa T(o C), solvente Proporção dos adutos
Os resultados da Tabela 7 mostram que os compostos (30) 35:36
e (31) são bons catalisadores, fornecendo bons rendimentos e
alta seletividade endo:exo, em apenas uma hora de reação, (32) —- 25, CDCl3 70:30
e (33) têm eficiência menor. Segundo os autores, futuras in- —- 25, DMSO 71:29
vestigações seriam realizadas para estabelecer em que exten- BF3·Et 2O -26, CDCl 3 94:6
são esses ácidos de Lewis poderiam ser usados em processos Cu(OTf)2 b 25, CDCl3 89:11
sintéticos e a natureza de suas interações. TiCl4 0, CH2 Cl2 52:48
No mesmo ano, Braddock et al.33 estudaram a reação entre Eu(fod)3c -26, CH2 Cl2 50:50
ciclopentadieno (2) e monotionofumarato de dimetila (34) na Et 2AlCl -20, CH2 Cl2 21:79
presença de uma ampla variedade de ácidos de Lewis (Esque- BCl3 0, CDCl 3 4:96
ma 10 e Tabela 8). O interesse nessa reação é que o dienófilo a Todas as reações foram feitas com 1 equivalente de ácido de
em questão possui dois grupos susceptíveis a complexação por Lewis. b Tf: SO3CF 3.
ácidos de Lewis, o grupo carbonila C=O e o grupo tiocarboní- c Fod: 6,6,7,7,8,8,8-heptafluor-2,2-dimetil-3,5-octanodionato.
lico C=S. Nas reações onde o ácido de Lewis empregado
complexar com o grupo C=O, maior proporção do aduto (36)
será obtido, cujo grupo C=O encontra-se em posição endo. Na presença de BF3·Et 2O uma proporção de 94:6 foi obser-
Entretanto, se a complexação ocorrer no grupo C=S, o produto vada a favor do endo-tionéster (35), indicando que o átomo de
(35) será formado preferencialmente. enxofre foi o sítio preferido da complexação do BF 3 durante
Os autores observaram que sem o emprego de ácidos de esta cicloadição. Esse resultado foi inesperado pois haletos de
Lewis, as reações entre o dienófilo (34) e ciclopentadieno forne- boro são considerados ácidos de Lewis duros 34 . Cabe ressaltar
ceram proporções dos adutos (35):(36) similares, independente- que na literatura existem inúmeros relatos contraditórios sobre
mente do solvente utilizado. A maior porcentagem do aduto (35) a preferência da complexação do átomo de boro com o grupo
indicou que o grupo tiocarbonílico apresenta maior tendência carbonílico ou tiocarbonílico 35 .
em ocupar a posição endo do que o grupo carbonílico. No ano seguinte, Maruoka et al.36 elaboraram um estudo
Realizando estudos de RMN 1H, os autores notaram que no para a obtenção de seletividade exo, usando um ácido de Lewis
espectro do composto (34) na presença de Eu(fod)3 apenas os recentemente desenvolvido. Eles estudaram as reações de Diels-
prótons metila do grupo éster tinham seu deslocamento químico Alder entre diferentes compostos carbonílicos α,β-insaturados
alterado. Isto indicou que o Eu(fod)3 ligava-se exclusivamente (37) e ciclopentadieno (2) na presença de tris(2,6 difenilfeno-
ao grupo carbonílico e portanto deveria resultar em um grande lato) de alumínio (ATPH), Esquema 11 e Tabela 9.

Tabela 7. Resultados obtidos nas reações entre ciclopentadieno e os dienófilos (26)–(29) na presença dos compostos (30)–(33)a.
30 b 31b 32c 33d
Composto ηe endo:exo η endo:exo η endo:exo η endo:exo
26 72 87:13 70 88:12 65 95:5 70 89:11
27 58 8:92 90 6:94 65 12:88 78 9:91
28 71 90:10 89 76:24 71 97:3 58 88:12
29 57 30:70 46 25:75 não reage não reage
a b c d
20 mol % dos compostos (30)-(33). Tempo reacional = 1 h. Tempo reacional = 14 h. Tempo reacional = 3 h.
e
η: rendimento (%).

QUÍMICA NOVA, 22(3) (1999) 387


Baseando-se em dados de RMN 1H e raios-X, os autores
propuseram uma conformação plausível do complexo isopro-
penilmetilcetona/ATPH e um possível estado de transição para
a reação de Diels-Alder entre esse complexo e ciclopentadieno
(2). No complexo sugerido (40), a dupla ligação C=C é estabi-
lizada por uma interação π com um dos anéis aromáticos do
ATPH o que ocasiona o posicionamento de um segundo grupo
fenila numa posição tal que o ataque do ciclopentadieno por
este lado torna-se difícil.
No mesmo ano, Weghe e Collin 37 interessaram-se pelo em-
prego de diiodeto de samário, SmI2 , nas reações de Diels-Alder
de diferentes compostos carbonílicos α,β-insaturados com ciclo-
pentadieno em diclorometano (Tabela 11). Como podemos no-
tar, nas reações entre a maioria dos dienófilos (41), (28), (1) e
(42) e ciclopentadieno (2), o produto endo foi sempre o isômero
majoritário, exceto na reação com o dienófilo (27), onde o
isômero exo apresentou-se como produto principal.
Comparado a outros derivados de lantanídeos, SmI2 apre-
sentou uma ampla atividade. Por exemplo, cloretos de lantaní-
deos (III) não catalisam a reação de Diels-Alder entre ciclo-
pentadieno e acroleína (41) ou acrilato de metila (1), e Yb(fod)3
não induz qualquer reação entre ciclopentadieno (2) e cetonas
Esquema 11 α,β-insaturadas.
Considerando as condições reacionais brandas e a pequena
quantidade necessária, SmI2 é um ótimo catalisador, podendo
Tabela 9. Resultados obtidos nas cicloadições entre ciclopen- ser empregado, com sucesso, como alternativa ao uso de
tadieno (2) e diferentes dienófilos (37) na presença de ATPHa. Eu(fod)3 ou Yb(fod)3.
Dienófilo Rendimento (%) Endo (38): exo (39) Kobayashi et al.38, em 1995, interessaram-se pela preparação
de alguns amidetos metálicos e pelo emprego desses compostos
CH 2=C(Me)COPh 81 4:96 na reação de Diels-Alder entre ciclopentadieno (2) e metilvinil-
CH 2=CHCOPh 72 27:73 cetona (28) em diclorometano ou éter dietílico a 20 oC (Esque-
CH 2=C(Me)COMe 87 13:87 ma 12). Os resultados encontrados em éter dietílico estão apre-
CH 2=C(Me)COMe b 80 18:82 sentados na Tabela 12 e em diclorometano na Tabela 13. Obser-
CH 2=C(Br)COMe 84 9:91 vando os resultados, nota-se que os amidetos metálicos foram
CH 2=CHCOSiMe 3 55 28:1 mais efetivos do que os correspondentes cloretos e triflatos.
CH 2=CHCN 72 22:78
a
As reações entre ciclopentadieno e o dienófilo (37) ou
acrilonitrila foram realizadas com 1,1-1,5 equivalente de ATPH
em CH2Cl 2 a -78→0 oC. b Utilizou-se 0,3 equivalente de ATPH.

Estudos de RMN 1H do complexo isopropenilmetilcetona/


ATPH (40), Figura 3, em solução de diclorometano a 20oC, Esquema 12
mostraram que o ATPH protege o carbono carbonílico, ocasi-
onando um deslocamento para campo mais alto dos prótons do Em diclorometano (Tabela 13), o decréscimo da solubili-
dienófilo. Particularmente, os prótons dos grupos metila (CH3a dade dos amidetos de magnésio e lantânio, devido à presença
e CH3d ) adjacentes ao carbono carbonílico são os mais atingi- de grupos perfluoroalquilsulfonila mais longos, ocasionou o
dos, possivelmente por causa da proximidade da nuvem eletrô- decréscimo da atividade catalítica desses amidetos, em ambas
nica dos anéis aromáticos do catalisador (Tabela 10). as concentrações, 1 e 9 mol %, de catalisadores (kobs relativo:
Mg(NTf2 )2 > Mg(NTfSO 2 C4 H 9) 2> Mg(NTfSO 2 C8 H 17 )2 ;
La(NTf2)3 > La(NTfSO2 C4H 9) 3> La(NTfSO 2C8 H17 )3 ). Por ou-
tro lado, em éter etílico (Tabela 12), com 1 mol % de
amidetos de lantânio, a ordem da atividade catalítica foi in-
versa (La(NTfSO2C 8H 17) 3 > La(NTfSO 2C4 H9 )3 > La(NTf 2) 3),
o que está de acordo com a estabilidade intrínseca dos ânions
amidetos em fase gasosa.29 Entretanto, nas reações realizadas
com 9 mol % de catalisador em éter etílico, a menor solubi-
lidade de La(NTfSO2C8 H 17) 3 causou decréscimo da atividade
catalítica em comparação ao La(NTfSO2 C4H 9) 3.
Figura 3 Nas reações entre metilvinilcetona (28) e ciclopentadieno

Tabela 10. Dados de RMN 1H para o dienófilo isopropenilmetilcetona complexado e não-complexado por ATPH a 20o C.
δ (ppm)
Isopropenilmetilcetona CH 3a Hb Hc CH 3d
não-complexadaa 1,87 5,83 5,99 2,33
Complexada 1,16 5,48 5,74 1,01
a
Utilizou-se 1 equivalente de ATPH.

388 QUÍMICA NOVA, 22(3) (1999)


Tabela 11. Reações de Diels-Alder entre ciclopentadieno e diversos dienófilos na presença de SmI 2a.
Dienófilo T (oC) t (h) Produto Endo:exo Rendimento (%)

-30 2 80:20 80

-30 2 10:90 80

-30 18 90:10 62

25 24 90:10 92

25 24 80:20 70

a
Condições reacionais: ciclopentadieno (10 mmol) e o dienófilo (5 mmol) foram adicionados a uma suspensão de SmI2 (0,25
mmol) em 10 ml de diclorometano a –30o C por 2 horas.

Tabela 12. Reações entre ciclopentadieno (2) e metilvinilceto- Lewis (Esquema 13) e (Tabela 14). Na ausência de catalisador,
na (28), em éter dietílico, na presença de diferentes o dienófilo (43b) forneceu uma mistura de adutos endo e exo,
catalisadores. sendo o aduto endo (44b) o principal. Cabe ressaltar que a
diastereosseletividade endo:exo foi inversa, quando a reação
Catalisador Mol % kobs relativo Endo:exo
foi realizada na presença de ácidos de Lewis. Nas mesmas
nenhum 0 1 4:1 condições reacionais, os rendimentos encontrados na presença
La(OTf)3 ·H2O a 1 2 4,7:1 de BF3 ·Et2 O, foram mais baixos do que aqueles encontrados na
La(NTf 2)3 ·H2O 1 17 3,8:1 presença de cloreto de zinco.
La(NTfSO 2C4 H9 )3·2H 2O 1 35 3,7:1
La(NTfSO 2C8H 17 )3·1,5H2O 1 59 3,7:1
La(NTf) 3·H2 O 9 4 6:1
La(NTf 2)3 ·H2O 9 347 3,6:1
La(NTfSO 2C4 H9 )3·2H 2O 9 872 3,5:1
La(NTfSO 2C8H 17 )3·1,5H2O 9 705 3,5:1
a
Tf: SO2CF 3.
Tabela 13. Reações entre ciclopentadieno (2) e metilvinilcetona
(28), em diclorometano, na presença de diferentes catalisadores.
Esquema 13
Catalisador Mol % kobs relativo Endo:exo
nenhum 0 1 6:1 Na ausência de ácido de Lewis, a reação com o dienófilo
LiNTf2a 1 2 7:1 (43c) apresentou diastereosseletividade inferior àquela encontra-
Ba(NTf2)2 1 2 7:1 da para o dienófilo (43b), e o isômero exo (45c) foi o principal.
Ca(NTf2)2 1 5 7:1 Entretanto, na presença de ácidos de Lewis, a seletividade exo
Mg(NTf 2)2 1 18 12:1 obtida foi similar à encontrada nas reações com (43b).
Mg(NTfSO2 C4H 9)2 1 6 10:1 Dentre os quatro confôrmeros possíveis do composto (43), os
Mg(NTfSO 2C8H 17 )2 1 2 7:1 autores encontraram, baseados em cálculos MNDO, a conforma-
Mg(NTf 2)2 9 380 12:1 ção mais estável (Figura 4). Para a conformação mais estável do
ZnCl2 1 23 19:1 composto (43b), os autores estimaram que o coeficiente do car-
Zn(NTf2)2 1 125 16:1 bono carbonílico benzoíla era maior do que do carbono carboní-
La(OTf) 3·H2 O 1 1 6:1 lico do éster e consequentemente sua interação secundária com
La(OTf) 3·H2 O 9 1 6:1 o dieno era mais forte e, portanto, o composto (44b) foi formado
La(NTf 2)3 ·H2O 1 1440 12:1 preferencialmente (Figura 5). No caso do composto (43c), entre-
La(NTfSO 2C4 H9 )3·2H 2O 1 248 8:1 tanto, o coeficiente do carbono carbonílico acetila é maior do
La(NTfSO 2C8H 17 )3·1,5H2O 1 114 9:1 que o coeficiente do carbono carbonílico benzoíla e é esse que
a Tf: SO3CF3 . mantém uma interação secundária mais forte com o dieno, resul-
tando no produto (45c), conforme a Figura 6.

(2) na presença de amidetos de lantânio, as velocidades reacio-


nais aumentaram em ambos os solventes testados. Entretanto, a
seletividade endo:exo não teve o mesmo comportamento nos
dois solventes, aumentando em diclorometano, mas reduzindo
em éter dietílico, em comparação com os resultados das rea-
ções não-catalisadas.
No ano seguinte, Yamauchi et al.40 reportaram o estudo das
reações de Diels-Alder entre os dienófilos (43a)-(43c) e ciclo-
pentadieno (2) na ausência e na presença de diversos ácidos de Figura 4

QUÍMICA NOVA, 22(3) (1999) 389


Tabela 14. Resultados obtidos nas reações de Diels-Alder entre ciclopentadieno (2) e os dienófilos (43) com o emprego de
diferentes ácidos de Lewis.
Dienófilo Ácido de T (oC) t (h) Rendimento (%) 44:45
Lewis
43 a —- 25 5 70 —-
43b —- 25 5 67 79:21
43b BF3·OEt 2a 0 1 30 25:75
43b BF3·OEt 2a -40 3 54 17:83
43b BF3·OEt 2a -78 7 50 9:91
43b ZnCl2 b 25 0,2 47 12:88
43b ZnCl2 b -40 3 75 5:95
43b ZnCl2 b -78 7 73 4:96
43c —- 25 0,5 80 32:68
43c ZnCl2 b 0 1 80 15:85
43c ZnCl2 b -15 1.5 80 14:86
43c ZnCl2 b -40 3 80 11:89
43c ZnCl2 b -78 7 81 6:94
a b
Utilizou-se 1 equivalente de ácido de Lewis. Utilizou-se 1,5 equivalente de ácido de Lewis.

Em 1996, Caulier e Reisse 41 estudaram a influência do


ultrassom na velocidade e diastereosseletividade da reação de
Diels-Alder entre ciclopentadieno (2) e metilvinilcetona (28),
Tabela 15. Vale ressaltar que as reações foram realizadas em
condições completamente homogêneas, portanto o efeito mecâ-
nico de agitação provocado pelo ultrassom não foi levado em
Figura 5 consideração. Como podemos notar, tanto o rendimento como a
proporção endo:exo das reações realizadas em solventes clorados
e bromados aumentaram na presença de ultrassom, enquanto que
não foram afetados em solventes não-halogenados.
Para explicar o efeito acelerador do ultrassom nas reações
realizadas em solventes halogenados, os autores sugeriram que
essas estavam sujeitas à catálise ácida realizada por um haleto
de hidrogênio, gerado na sonólise das moléculas de solvente,
Figura 6 seguido por abstração de um hidrogênio42 . Para confirmar essa
hipótese os autores decidiram realizar alguns experimentos re-
Já, para explicar a predominância do isômero exo nas reações sumidos na Tabela 16.
realizadas na presença de ácidos de Lewis, os autores recorreram
a cálculos de mecânica molecular, onde estimaram a conformação Tabela 16. Influência de ácido clorídrico sobre o rendimento e
mais estável do complexo dienófilo-ácido de Lewis. Esse comple- a seletividade endo e exo na ausência de ultrassom.
xo possui o anel aromático perpendicular a dupla ligação, provo-
cando a obstrução da abordagem do ciclopentadieno por esse lado, Tratamento do solvente Rendimento a (%) Endo:exo
assim nas reações entre os dienófilos (43a)-(43c) e ciclopentadie- 1h de pressonicação 15 13,5:1
no na presença de ácidos de Lewis os produtos majoritários terão + HCl (5 mmol/L) 10 12,6:1
o anel aromático em posição exo (Figura 7).
a Após 1 hora a 10 oC.

A pressonicação do solvente ou a solubilização de uma pe-


quena quantidade de HCl gasoso em diclorometano na ausên-
cia de ultrassom, antes do início da reação, resultou em efeitos
cinéticos e estereoquímicos similares àqueles obtidos com
ultrassom em solventes halogenados, confirmando a hipótese
sugerida pelos pesquisadores.
Figura 7 Em 1997, Garrigues et al. 43 investigaram os primeiros

Tabela 15. Influência de ultrassom sobre rendimento e diastereosseletividade endo:exo em vários solventes orgânicos.
Rendimento a (%) Endo:exo
Solvente Ausência de Ultrassom Ausência de Ultrassom
Ultrassom Ultrassom
CH 3OH 17 17 11,5:1 11,5:1
C6H 5CH 3 3 3 5,0:1 4,9:1
CHCl 3 7 15 7,2:1 12,7:1
CH 2 Cl2 4 18 6,7:1 15,5:1
CH 2Br 2 7 58 6,5:1 19,5:1
a Após 1 h a 10 o C.

390 QUÍMICA NOVA, 22(3) (1999)


exemplos de reações de Diels-Alder catalisadas por deriva- como diclorometano e tolueno aumentam a acidez de Lewis
dos de bismuto(III), em comparação com alguns ácidos de desses cátions.
Lewis análogos bem conhecidos pela sua eficiente atividade Em contraste ao efeito catalítico do CuCl2·2H 2O, a eficiência
catalítica. Estudando a reação entre ciclopentadieno (2) e me- de Cu(NTf2 )2 foi tão extraordinária que a reação realizada com
tilvinilcetona (28), os pesquisadores relataram que, na presen- 1 mol % de Cu(NTf 2)2 seco terminou em minutos a 20oC. Se-
ça de 10 mol % de Sc(OTf)3 , obtiveram 96% de rendimento gundo os pesquisadores, a investigação do mecanismo da reação
após 12 horas. Sob as mesmas condições, 1 mol % de Bi(OTf)3 catalisada por Cu(NTf 2)2 está em andamento.
forneceu 87% de rendimento após quatro horas, 10 mol % de Gruber e Camilo45 , estudaram as reações de Diels-Alder de
BiCl3 resultaram no mesmo rendimento após apenas duas ho- tiocinamatos (46) e cinamatos (47) de metila p-susbtituídos com
ras e a seletividade endo:exo foi um pouco mais alta (93:7 e ciclopentadieno na presença de brometo de borocatecol (um
95:5, respectivamente) do que com Sc(OTf)3 (89:11). equivalente), Esquema 14. Os autores obtiveram altos rendi-
Outras reações de Diels-Alder entre diferentes dienos (2,3- mentos para todos os tiocinamatos p-substituídos estudados,
dimetilbutadieno e isopreno) e vários dienófilos (etilvinilceto- exceto p-metoxitiocinamato de metila (46d), além de total
na, acroleína (41) e metacroleína (27)) foram efetuadas na pre- diastereosseletividade endo. No caso dos ésteres, a diastereos-
sença de derivados de bismuto(III). Frente a todos os resulta- seletividade encontrada foi menor, identificando-se pequenas
dos obtidos, os autores afirmaram que sais de bismuto (III) são quantidades de aduto exo para os cinamatos de metila cloro-
ácidos de Lewis mais eficientes do que os análogos de Sc, Ti, (47b), nitro-(47e) e não-substituído (47a). Exceto para p-
Sm ou Yb por fornecerem maior rendimento e diastereossele- metilcinamato de metila (47c) e p-metoxicinamato de metila
tividade endo:exo. (47d), todos os outros três cinamatos forneceram bons rendi-
Em 1997, Nie et al. 44 reportaram o uso de Cu(NTf 2)2 e mentos. Cabe ressaltar que muitos outros ácidos de Lewis, tais
outros amidetos metálicos na reação entre ciclopentadieno (2) como Ti(OBu-n) 4, ZnCl2, BF3 ·OEt2, TiCl4 , BBr3, AlCl3 foram
e metilvinilcetona (28) em diclorometano, determinando as testados, no entanto nenhum deles foi eficiente.
constantes de velocidade observadas (kobs) relativas e as pro-
porções endo:exo, Tabela 17. Analisando os resultados, obser-
va-se que a ordem crescente de atividade catalítica, em diclo-
rometano, dos metais alcalinos e alcalinos terrosos é Mg2+>
Ca2+> Li+ . A hidratação do sal de magnésio causou redução na
velocidade reacional, devido ao fato de que moléculas de água
diminuíram a acidez do íon metálico.

Tabela 17. Resultados obtidos na reação entre ciclopentadieno


(2) e metilvinilcetona (28), em diclorometano, na presença de Esquema 14
diferentes catalisadores.
Catalisador Mol % kobs relativa Endo: exo Segundo os autores, a baixa reatividade dos dienófilos em
——- 0 1 6:1 questão deve-se à presença do anel aromático conjugado à
LiNTf2a 1 2 7:1 dupla, o qual cede elétrons a essa, tornando-a pouco susceptí-
Ca(NTf2)2 ·1,5 H2O 1 5 7:1 vel ao ataque do dieno.
Ca(NTf2)2 1 5 7:1 Para explicar a eficiência do brometo de borocatecol frente às
Mg(NTf 2)2·3 H 2O 1 5 12:1 reações testadas, os autores levantaram duas hipóteses. A primei-
Mg(NTf2) 2 1 18 12:1 ra refere-se à forte complexação do oxigênio carbonílico com o
Mg(NTf 2)2·3 H 2O 9 150 12:1 átomo de boro do ácido de Lewis, deixando a dupla conjugada
Mg(NTf2) 2 10 380 12:1 carente de elétrons e mais susceptível ao ataque do dieno e, a
ZnCl2 1 23 19:1 segunda, à estabilização do estado de transição decorrente da
Zn(NTf2 )2·7 H2 O 1 125 16:1 interação secundária entre o átomo de boro (a) do brometo de
Zn(NTf2)2 1 125 16:1 borocatecol e a dupla ligação incipiente (b) (Figura 8).
La(OTf) 3·H2 O 1 1 6:1
La(OTf) 3·H2 O 9 1 6:1
La(NTf2) 3·H2O 1 1440 12:1
CuCl 2·2H 2O 1 1 7:1
Cu(NTf2 )2·nH 2O 1 > 1770 13:1
Cu(NTf2) 2 1 > 1370 16:1
a Tf: SO 3CF3 .

Os amidetos de metais de transição e lantanídeos, tais como Figura 8


Zn(NTf2)2, La(NTf 2) 3 e Cu(NTf2)2 mostraram-se como ácidos
de Lewis mais efetivos do que os correspondentes cloretos e
triflatos, tais como ZnCl2, La(OTf)3, CuCl2 , respectivamente. INFLUÊNCIA DE SOLVENTES SOBRE REAÇÕES DE
A maior reatividade do La(NTf2)3 comparada a do La(OTf)3 é DIELS-ALDER
um bom exemplo da eficiência de amidetos metálicos como
ácidos de Lewis. Essa eficiência deve-se ao ânion NTf2-, fraca- Em 1991, Blokzijl et al. 46, relataram um estudo detalhado
mente coordenante, cujo centro aniônico é altamente delocali- das reações intermoleculares entre ciclopentadieno (2) e os
zado e estabilizado por grupos triflatos. Vale a pena ressaltar dienófilos alquilvinilcetonas (28) e (48) e 1,4-naftoquinonas
que a interação entre o cátion e o ânion emprega um papel (49a)–(49c), e da reação intramolecular do ácido N-furfuril-N-
muito importante na atividade catalítica do complexo metálico, metilmaleâmico (50), em meio aquoso (Esquema 15).
ou seja, o íon metálico pareado com ânions não-coordenantes Os autores relataram que as constantes de velocidade de
ou pouco-coordenantes em solventes fracamente coordenantes segunda-ordem obtidas para a cicloadição dos dienófilos (28) e

QUÍMICA NOVA, 22(3) (1999) 391


(48) e (49a)–(49c) com ciclopentadieno (2) em água eram, res- a redução da superfície hidrofóbica e do volume de hidratação
pectivamente, aproximadamente 200 e 5800 vezes maiores do durante o processo de ativação ocasionaria ganhos de entropia e
que em n-hexano, e a cicloadição intramolecular do substrato (50) entalpia suficientes para que o processo global fosse favorável.
apresentava similar aceleração. A diastereosseletividade endo:exo, Os autores anteciparam que reações orgânicas de substratos
em meio aquoso, foi significativamente diferente do que em neutros acompanhadas de redução significativa de volume mo-
solventes orgânicos convencionais, sendo o produto endo, já do- lecular, bem como da área superficial acessível ao solvente
minante nesses solventes, ainda mais favorecido em água. A pre- durante o processo de ativação, seriam consideravelmente ace-
ferência do produto endo em meio aquoso foi facilmente raciona- leradas em meio aquoso.
lizada, baseando-se no fato de que o complexo ativado que con- Em 1992, Katagiri et al.47 realizaram inúmeras reações entre
duz ao aduto endo é significativamente mais compacto do que o ciclopentadieno (2) e acetoximetilenomalonato de dimetila (51)
que leva ao aduto exo e, portanto, acarreta uma contribuição em uma ampla variedade de solventes, contendo perclorato de
entrópica favorável durante esse processo de ativação. lítio e sob alta pressão sem catalisador (Esquema 16), a fim de
avaliarem o motivo pelo qual perclorato de lítio acelera conside-
ravelmente reações de Diels-Alder (Tabela 18). Nota-se que o
emprego de perclorato de lítio, independentemente do solvente
ou da concentração, na maioria dos casos forneceu altos rendi-
mentos e proporção endo:exo igual a dois. Em metanol, obser-
vou-se apreciável decréscimo do rendimento. Vale ressaltar que
embora os rendimentos encontrados na presença de perclorato
de lítio sejam menores do que aqueles obtidos sob alta pressão,
a diastereosseletividade endo:exo é muito superior.

Esquema 16

Levando-se em conta que os acréscimos nos rendimentos das


reações realizadas na presença de perclorato de lítio independiam
de sua concentração, os autores sugeriram que este sal seria efi-
ciente não apenas em sua solução etérea 5M, onde haveria um
pressão interna elevada como afirmaram Grieco et al.48
Assim, os pesquisadores, baseando-se na similaridade das
Esquema 15
proporções endo :exo obtidas para as reações realizadas na pre-
sença de tetracloreto de titânio e perclorato de lítio, sugeriram
O empacotamento hidrofóbico entre dieno e dienófilo, que que perclorato de lítio poderia estar atuando como tetracloreto
até então era freqüentemente sugerido como o principal motivo de titânio, ou seja, um ácido de Lewis bidentado (Figura 9).
da aceleração de velocidade em reações de Diels-Alder em água,
era difícil de conciliar com o aumento de velocidade, obtido na
reação intramolecular de (50), que era da mesma magnitude que
o encontrado em reações intermoleculares. Assim, os autores
sugeriram uma outra hipótese, levando-se em conta parâmetros
termodinâmicos envolvidos na reação em meio aquoso. Eles pro-
puseram que, nas reações de Diels-Alder em meio aquoso, ape-
sar da formação de uma cavidade em água para acomodar um
soluto apolar ser um processo entrópica e entalpicamente
desfavorável, a formação da camada de hidratação hidrofóbica e Figura 9

Tabela 18. Resultados obtidos na reação de acetoximetilenomalonato de dimetila (51) com ciclopentadieno (2).
Meio reacional T (o C) t (h) Rendimento (%) Endo:exo
(Pressão)a
éter 25 20 0 2:1
éter (1M LiClO 4) 25 20 74 2:1
éter (3M LiClO 4) 25 20 83 2:1
éter (5M LiClO 4) 25 20 82 2:1
CH 3CN (sat. LiClO4 ) 25 2 50 2:1
CH 3CN (sat. LiClO4 ) 25 5 65 2:1
CH 3CN (sat. LiClO4 ) 25 10 75 2:1
CH 3CN (sat. LiClO4 ) 25 20 74 2:1
MeOH (sat. LiClO4) 25 20 39 2:1
Tolueno 15 (13 kbar) 60 95 0,4:1
Tolueno (TiCl 4) -15 4 74 1,5:1
Benzeno 70-80 72 80 0,3:1
a
Pressão ambiente quando não indicada.

392 QUÍMICA NOVA, 22(3) (1999)


Otto e Engberts, 49 em 1995, investigaram a reação entre 3- aumento de velocidade em todas as reações quando água é utili-
(p-nitrofenil)-1-(2-piridil)-2-propeno-1-ona (52a) e ciclopenta- zada como solvente. Entretanto, como esse aumento foi distinto
dieno (2) na presença de diferentes ácidos de Lewis em vários para cada grupo R, o autor afirmou que a aceleração de velocida-
solventes (Esquema 17) e (Tabela 19). de em água depende acentuadamente da natureza do dienófilo.
Entre os álcoois empregados como solventes, nota-se que as mai-
ores constantes de velocidades foram obtidas na presença daque-
les com maior capacidade em formar ligação de hidrogênio. En-
tretanto, o aumento de velocidade em água, menos ácida do que
o HFP, foi o mais alto entre todos os solventes testados, provavel-
mente devido ao seu tamanho pequeno e a disponibilidade de dois
sítios doadores de hidrogênio.

Esquema 17

Tabela 19. Constantes de velocidade de segunda-ordem obti-


das para a reação entre (52a) e ciclopentadieno (2).
Meio reacionala k2 (M-1 s-1 )
acetonitrila 1,32 x 10 -5
etanol 3,83 x 10 -5
água 4,02 x 10 -3 Esquema 18
0,010 M Cu(NO3 )2 em água 3,25
0,010 M Cu(NO 3)2 em etanol 0,769
a Tabela 20. Constantes de velocidade de segunda-ordem obtidas
Todos os experimentos foram realizados a 25 oC.
na reação de (49a), (49b) e (53a)–(53c) com ciclopentadieno (2)
em solventes orgânicos e meios aquosos a 25 oC.
Nota-se que a reação de (52a) com ciclopentadieno (2) é 103 ·k2 (M-1 ·s-1)
bastante lenta em etanol e acetonitrila, entretanto um aumento
significativo na velocidade reacional foi observado em meio Solvente 49a 49b 53a 53b 53c
aquoso. A introdução de pequenas quantidades de ácidos de n-hexano 1,08 0,435 21,2 5,37 0,509
Lewis, particularmente cobre(II), levou a reações ainda mais acetonitrila 6,28 3,90 92,2 21,6 5,35
rápidas. Os autores sugeriram que as reações em questão na etanol 14,8 12,2 158 45,0 10,0
presença de ácidos de Lewis procediam via um complexo ati- 1-propanol 19,6 14,8 c 228 64,9 c 13,2 c
vado esquematicamente apresentado na Figura 10. TFE ª 438 326 3520 867 291
HFP b 1690 1880 13100 3080 988
água 4950 5560 25000 8870 3690
ª 1,1,1-trifluoretanol. b 1,1,1,3,3,3-hexafluor-2-propanol.
c Em 2-propanol.

Parâmetros de ativação termodinâmicos foram outro tópico


estudado pelo autor. Ele os determinou para as reações entre
ciclopentadieno (2) e os dienófilos (49a), (49b) e metilvinilce-
tona (28) em água e 1-propanol (Tabela 21). As energias de
Gibbs de ativação foram 10–15 kJ·mol -1 mais favoráveis em
água do que em 1-propanol e ambos, entropias e entalpias de
Figura 10 ativação contribuíram para esta redução de ∆ ‡G θ, porém, geral-
mente, o termo entrópico contribuiu mais.
Comparando as constantes de velocidade de segunda-ordem
obtidas para a reação de (52a) com ciclopentadieno (2) em Tabela 21. Parâmetros de ativação isobáricos obtidos para as
soluções 0,010 M de nitrato de cobre(II) em etanol e água, os reações de Diels-Alder dos dienófilos (49a), (49b) e (28) com
autores observaram que o efeito acelerador da água ainda esta- ciclopentadieno (2) em 1-propanol e água a 25 oC.
va presente na reação com ácido de Lewis.
Dienófilo ∆‡ Gθ ∆‡ Hθ -T·∆‡ Sθ
Segundo os pesquisadores, resultados preliminares mostraram
que a reação em questão é acelerada por outros ácidos de Lewis, kJ·mol -1 kJ·mol-1 kJ·mol -1
como Co(NO3)2, Ni(NO 3)2 , Zn(NO3) 2, embora sejam menos efi- 49a 83,05 ª 42,9 40,1
cientes do que Cu(NO3)2. A ordem relativa da atividade catalí- 69,42 b 36,6 32,8
tica dos ácidos de Lewis testados (Co2+ < Ni2+ < Cu2+ >> Zn 2+) 49b 83,44 ª 43,3 40,2
está em acordo com as constantes de estabilidade reportadas para 68,91 b 40,5 28,4
complexos desses íons metálicos com vários agentes quelantes50. 28 90,37 ª 45,1 45,3
No mesmo ano, Engberts 51 apresentou um estudo abrangen- 80,35 b 39,4 40,9
te sobre o efeito da água em reações de Diels-Alder, estudando a b
várias reações sob inúmeros pontos de vista. Os principais tó- 1-propanol. água.
picos sumarizados desse artigo estão relatados abaixo.
Inicialmente, o autor descreveu as reações entre ciclopentadi- Para interpretar o efeito da água em reações de Diels-Alder, o
eno (2) e naftoquinonas 5-substituídas, (49a), (49b) e (53a)–(53c), autor decidiu estudar, baseando-se em parâmetros termodinâmicos,
em meio aquoso (Esquema 18) e (Tabela 20). Observa-se um a reação de Diels-Alder entre ciclopentadieno (2) e etilvinilcetona

QUÍMICA NOVA, 22(3) (1999) 393


(48) em 1-propanol/água sob uma ampla variedade de frações Tabela 22. Constantes de velocidade de segunda-ordem para a
molares, obtendo resultados que são apresentados graficamente na reação entre (52a) com ciclopentadieno (2) em diferentes
Figura 11. Como podemos notar, o estado inicial foi fortemente solventes a 25 oC.
desestabilizado na região rica em água (x(H2O) > 0,8), contrastan-
Solvente k 2 (M-1 s-1 ) k relativa
do com o estado de transição, que apresentou pequenas alterações
no ∆G θ sobre toda faixa de composição do solvente. Desse modo, acetonitrila 1,40 x 10-5 1
em meios aquosos ou altamente aquosos, o estado de transição é etanol 3,83 x 10-5 2,7
menos desestabilizado do que o estado inicial e, portanto, as rea- água 4,02 x 10-3 287
ções são mais rápidas do que em solventes não-aquosos. Para ex- 2,2,2-trifluoretanol 6,75 x 10-3 482
plicar essa diferença de comportamento entre o estado de transição
e o estado inicial, o autor sugeriu dois fatores: (a) ligação de hidro-
gênio: o estado de transição é mais polarizado do que o estado Tabela 23. Constantes de velocidade de segunda-ordem para a
inicial, assim o grupo carbonílico polarizado no estado de transição reação entre (52c) e ciclopentadieno (2) na presença de Cu2+
foi melhor estabilizado por ligação de hidrogênio do que o grupo em diferentes solventes a 25 oC.
carbonílico do estado inicial; (b) interação hidrofóbica forçada: o
processo de ativação da cicloadição concertada envolve uma redu- Solvente [Cu2+] (mM) k2 (M-1 s -1)
ção da área superficial hidrofóbica, o que leva a um ganho de acetonitrila 10 0,472
entropia que é expresso pelo decréscimo da energia de Gibbs. etanol 10 0,309
água 10 1,11
2,2,2-trifluoretanol 0,10 3,22

pelo solvente na reação não-catalisada é, dessa vez, assumida


pela complexação do ácido de Lewis com o dienófilo, for-
mando um quelato.
As constantes de velocidade das reações catalisadas por
cobre(II) entre (52a)–(52e) e ciclopentadieno (2) em quatro
solventes foram determinadas para verificar a influência dos
substituintes. Os pesquisadores encontraram boas correlações
de Hammett com σ+ em todos os quatro solventes, indicando
uma interação do substituinte, através de ressonância direta,
com um centro reativo positivo.
O efeito do solvente sobre a diastereosseletividade endo:exo
Figura 11
na reação catalisada e não-catalisada por cobre(II) entre (52c) e
ciclopentadieno (2) também foi estudado (Tabela 24). Na reação
não-catalisada, o isômero endo foi predominante, sendo esta ten-
Em 1996, Otto et al. 52 estudaram as reações entre 3-fenil- dência mais pronunciada em solventes mais polares. Entretanto,
1-(2-piridil)-2-propen-1-onas (52a)–(52e) e ciclopentadieno nas reações catalisadas por cobre(II), a diferença entre a diaste-
(2) em água e outros solventes orgânicos na presença de di- reosseletividade endo:exo nos quatro solventes foram muito
ferentes ácidos de Lewis (Esquema 19), avaliando a influên- menores, sugerindo que neste caso não há efeito de solvente.
cia da água e dos ácidos de Lewis simultaneamente.
Tabela 24. Influência na diastereosseletividade endo:exo da
reação entre (52c) e ciclopentadieno (2) a 25 oC na presença e
na ausência de Cu2+.
Solvente Ausência de Cu 2+ 10 mM Cu2+
endo:exo endo:exo
acetonitrila 67:33 94:6
etanol 77:23 96:4
água 84:16 93:7
2,2,2-trifluoretanol 87:13 ——
Esquema 19

Inicialmente, eles verificaram o efeito de solventes na reação Segundo os pesquisadores, o sucesso da catálise por ácidos
de (52a) com ciclopentadieno (2) (Tabela 22). Nota-se que a de Lewis nas reações entre (52a)–(52e) e ciclopentadieno (2)
reação em questão é muito rápida em água e, surpreendentemen- deve-se ao caráter bidentado do dienófilo, já que compostos
te, é ainda mais rápida em 2,2,2-trifluoretanol, provavelmente relacionados a ele, sem a capacidade de formar quelato com
devido a sua maior capacidade em formar pontes de hidrogênio. ácidos de Lewis, reagem com ciclopentadieno na presença de
Posteriormente, para avaliarem o efeito de solventes em catalisadores a velocidades até três vezes menores.
reações realizadas na presença de ácidos de Lewis, os autores Finalmente, em 1997, Wijnen e Engberts53 estudaram a reação
determinaram as constantes de velocidade da reação entre de retro Diels-Alder do composto (54), a fim de avaliar qual efei-
(52c) e ciclopentadieno (2) em diferentes solventes na pre- to, interação hidrofóbica forçada ou ligação de hidrogênio, era o
sença de Cu2+ (Tabela 23). Observa-se um grande aumento de mais significativo para explicar o aumento de velocidade observa-
velocidade, independentemente dos solventes utilizados. É do em reações de Diels-Alder realizadas em meio aquoso, esque-
interessante notar que o grande efeito de solvente observado ma 20. Essa reação foi escolhida, pois a interação hidrofóbica
na reação não-catalisada (Tabela 22) foi reduzido na reação forçada é praticamente inexistente nesse caso, pois não existe
catalisada (Tabela 23), sugerindo que a aceleração de veloci- mudança significativa da área superficial acessível ao solvente
dade ocasionada pela ligação de hidrogênio feita até então durante o processo de ativação, assim apenas a capacidade de

394 QUÍMICA NOVA, 22(3) (1999)


formar ligações de hidrogênio pode ser citada como causa de 19. Dias, L. C.; J. Braz. Chem. Soc. 1997, 8 , 289.
qualquer aumento de velocidade em meios aquosos. 20. March, J.; Advanced organic chemistry: reactions, me-
chanisms and structure, Wiley; New York, NY, 4 a ed.
1992.
21. Smith, M. B.; Organic synthesis, McGraw-Hill; New
York, NY 1994.
22. Carey, F. A.; Sundberg, R. J.; Advanced organic
chemistry, Plenum Press; New York, NY, 3a ed.; parte A
e B 1990.
23. Hondrogiannis, G.; Pagni, R. M.; Kabalka, G. W.;
Esquema 20 Anosike, P.; Kurt, R.; Tetrahedron Lett. 1990, 31, 5433.
24. Bains, S.; Pagni, R. M.; Kalbalka, G. W.; Tetrahedron
Lett. 1991, 32, 5663.
Realizando inúmeros experimentos, onde compararam au- 25. Pagni, R. M.; Kabalka, G. W.; Hondrogiannis, G.; Bains,
mentos de velocidade observados na reação de retro Diels-Alder S.; Anosike, P.; Kurt, R.; Tetrahedron 1993, 49, 6743.
em questão, com aumentos observados em reações de Diels- 26. Berson, J. A.; Hamlet, Z.; Mueller, W. A.; J. Am. Chem.
Alder normal e intramolecular, os autores concluíram que rea- Soc. 1962, 84, 297.
ções de Diels-Alder realizadas em meio aquoso são afetadas 27. Cativiela, C.; García, J. I.; Mayoral, J. A.; Pires, E.;
por interações hidrofóbicas, entretanto, a formação de ligações Brown, R.; Tetrahedron 1995, 51, 9217.
de hidrogênio representa pelo menos uma contribuição igual- 28. Cativiela, C.; García, J. I.; Mayoral, J. A.; Pires, E.; Royo,
mente importante. A. J.; Tetrahedron 1995, 51, 1295.
29. McGinnis, M. B.; Vagle, K.; Green, J. F.; Tan, L. C.;
CONCLUSÃO Palmer, R.; Siler, J.; Pagni, R. M.; Kabalka, G. W.; J.
Org. Chem. 1996, 61, 3496.
A reação de Diels-Alder continua sendo objeto atual de estu- 30. Rao, K. R.; Srinivasan, T. N.; Bhanumathi, N.; Tetrahe-
do, buscando novos catalisadores/ativadores e meios reacionais. dron Lett. 1990, 31, 5959.
Neste artigo exemplificamos esses fatos, voltando a nossa 31. Dols, P. P. M. A.; Lacroix, L.; Klunder, A. J. H.; Zwa-
atenção para a reação de Diels-Alder entre ciclopentadieno e nenburg, B.; Tetrahedron Lett. 1991, 32, 3739.
compostos carbonílicos α,β -insaturados. 32. Howarth, J.; Helmchen, G.; Kiefer, M.; Tetrahedron Lett.
O emprego de sólidos, como alumina, sílica-gel e outros, 1993, 34, 4095.
como meio reacionais, além de novos ácidos de Lewis, permite 33. Braddock, D. C.; Brown, J. M.; Guiry, P. J.; J. Chem.
obter adutos em condições suaves, com alta diastereosseletivi- Soc. Chem. Commun. 1993, 1244.
dade e baixo índice de polimerização dos substratos. 34. Drago, R. S.; Struct. Bond. 1973, 15, 73.
Diferentes solventes, como água por exemplo, passaram a 35. Brown, H. C.; Mandal, A. K.; J. Org. Chem. 1992, 57, 4970.
ser utilizados, oferecendo a diminuição do tempo reacional em 36. Maruoka, K.; Imoto, H.; Yamamoto, H.; J. Am. Chem.
condições brandas. Soc. 1994, 116, 12115.
37. Weghe, P. V.; Collin, J.; Tetrahedron Lett. 1994, 35 , 2545.
AGRADECIMENTOS 38. Kobayashi, H.; Nie, J.; Sonoda, T.; Chem. Lett. 1995, 307.
39. Koppel, I. A.; Taft, R. W.; Anvia, F.; Zhu, S.-Z.; Hu, L.-
À FAPESP e ao CNPq pelas bolsas concedidas. Q.; Sung, K.-S.; DesMarteau, D. D.; Yagupolskii, L. M.;
Yagupolskii, Y. L.; Ignat’ev, N. V.; Kondratenko, N. V.;
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QUÍMICA NOVA, 22(3) (1999) 395

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