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“Nem isto, nem aquilo”:

trajetória e características da
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política nacional de segurança


pública (2000-2012)
“Nem isto, nem aquilo”: trajetória e características da
política nacional de segurança pública (2000-2012)
Fabio de Sá e Silva

Fabio de Sá e Silva
Fabio de Sá e Silva é graduado (USP) e mestre (UnB) em Direito e doutorando em Direito, Política e Sociedade pela Northeastern
=VQ^MZ[Q\aMU*W[\WV-[\ILW[=VQLW[.WQLQZQOMV\MVW,MXMV52MKWV[]T\WZMUXZWRM\W[^WT\ILW[¼UMTPWZQILW[Q[\MUILM

R][\QÃIKZQUQVITLW[Q[\MUIXMVQ\MVKQ½ZQWMLIXWTÉ\QKIXÖJTQKILM[MO]ZIVÃIVW*ZI[QT)\]ITUMV\MÅ\ÅKVQKWLMXTIVMRIUMV\WM
pesquisa e chefe de gabinete da Presidência do Ipea.

IPEA – Brasília - DF - Brasil


fabio.saesilva@ipea.gov.br

Resumo
-UJWZIW\MUILI[MO]ZIVÃIXÖJTQKI\MVPIQV[XQZILWQVÖUMZW[M[\]LW[IKILÆUQKW[M\ÅKVQKW[IWTWVOWLW[ÖT\QUW[
IVW[XW]KII\MVÿW\MU[QLWLILI¼[UMLQLI[ILW\ILI[XMTW[OM[\WZM[XÖJTQKW[VI\MV\I\Q^ILMQV\MZ^QZ[WJZMW[
XWV\W[KZÉ\QKW[QLMV\QßKILW[VIY]MTI[I^ITQIÃÑM[MZMàM\QLW[VIXZÏXZQIWXQVQ¿WXÖJTQKI-[\MIZ\QOWJ][KILM[KZM^MZ
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86;8MV\ZMM

Palavras-Chave
8WTÉ\QKI[XÖJTQKI[#;MO]ZIVÃIXÖJTQKI

412 Rev. bras. segur. pública | São Paulo v. 6, n. 2, 412-433 Ago/Set 2012
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E mbora o tema da segurança pública te-
nha inspirado inúmeros estudos acadê-
micos e técnicos ao longo dos últimos anos, a
ciativas necessárias para enfrentá-lo) não resul-
ta de escolhas puramente “racionais” – ou seja,
baseadas no estabelecimento da melhor relação
maior ênfase desta produção tem recaído sobre possível entre meios e fins. Ao contrário, esse

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a dinâmica do crime e da violência e os proble- processo dialoga com fatores sociais, políti-
mas (culturais, gerenciais e operacionais) que cos, culturais, econômicos e institucionais que
acometem as organizações atuantes no setor, delimitam sensivelmente o campo de escolha
notadamente as polícias – ver, por exemplo, dos gestores (STONE, 1999; 2002; MILLER;
Lima, Misse e Miranda (2000). Pouca aten- BARNES, 2004; KINGDON, 1995; VAN
ção tem sido dada, assim, às medidas adotadas HORN, BAUMER; GORMLEY JR., 2001).
pelos gestores públicos na tentativa de intervir
sobre os pontos críticos identificados naquelas Assim é que, quando se alude a uma polí-
avaliações e refletidos na própria opinião pú- tica nacional de segurança pública (PNSP) no
blica. O presente artigo busca descrever este contexto brasileiro, dois desses fatores pare-
campo ainda pouco delimitado (o da ação dos cem mais sensíveis. O primeiro é a particula-
governos no tema da segurança pública), re- ridade da forma federativa do país, que, após
construindo a trajetória e delineando as prin- a CF/1988, busca equilíbrio entre as virtudes
cipais características do que se pode chamar de da descentralização (maiores oportunidades
uma “política nacional de segurança pública” de accountability, dada a maior proximidade
(PNSP).1 Para tanto, o texto baseia-se não entre gestores locais e cidadãos; maior capa-
apenas nas escassas referências disponíveis na cidade de adequação de soluções a realidades
literatura, mas também no histórico de acom- específicas, etc.) e as virtudes da centraliza-
panhamento do setor pelo Ipea.2 ção (maior capacidade de indução a mudan-
ças nas realidades locais, sobretudo quando
Política pública é expressão que, em prin- isto significa contrariar forças hegemônicas;
cípio, pode qualificar qualquer conjunto de compromisso com a redução das desigualda-
iniciativas sistemáticas conduzidas a partir de des regionais, etc.). Como anotam Abrucio,
órgãos de governo, com vistas a alterar uma re- Franzese e Sano (2010), o aprendizado insti-
alidade considerada problemática ou imperfei- tucional nesse terreno
ta (GOODIN; REIN; MORAN, 2006). Mas, tem levado os níveis de governo a entender
como a literatura contemporânea da área suge- os limites do modelo descentralizador me-
re, a formação de uma política pública (com a ramente municipalista e da prática intergo-
definição do problema e a identificação das ini- vernamental compartimentalizada [que se

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observou nos primeiros anos após a promul- dade da ação ostensiva de organizações policiais
gação da CF/88], com cada nível de governo na agenda dos governos estaduais, traduzida por
agindo apenas nas suas “tarefas”, sem entrela- bordões como “Rota na rua” e endossada, ainda
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çamento em problemas comuns. que por omissão, pelo governo federal.3

Assim, a construção de “políticas nacionais” De FHC a Lula: avanços e limites na


requer, em princípio, a elaboração de instrumen- construção de uma PNSP
tos de financiamento e estratégias de governança O governo do então presidente Fernando
que estimulem a cooperação entre os vários entes Henrique Cardoso (1994-2002) instituiu três
– algo que, na visão dos autores, parece ter sido condições importantes, mas ainda tímidas,
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mais bem realizado no âmbito dos sistemas de po- para enfrentar aquele legado: criação da Secre-
lítica pública, tendo como caso paradigmático o taria Nacional de Segurança Pública (Senasp),
Sistema Único de Saúde (SUS). no Ministério da Justiça (MJ), estabelecendo
unidade de coordenação de proposições refor-
Outra variável importante é a plena vigên- mistas até então dispersas na agenda federal;
cia de uma ordem democrática. Neste contexto, construção, em 2000, do I Plano Nacional de
não apenas a sociedade civil – em suas várias Segurança Pública (O Brasil Diz Não à Violên-
formas de expressão, como alerta Gurza-Lavalle cia); e criação do Fundo Nacional de Seguran-
(2010) –, mas também especialistas e veículos ça Pública (FNSP), o qual instituiu, no plano
de mídia são interlocutores importantes e per- federal, maior poder de indução e articulação
manentes no processo de formação das políticas sistêmica de iniciativas.
públicas. Por meio de sucessivas coalizões (SA-
BATIER, 2007), estes atores desestabilizam cer- De um ponto de vista mais técnico, o plano
tezas e impulsionam mudanças de paradigma do governo FHC tinha vários defeitos, incor-
no campo, ainda que de maneira incremental. porando, por exemplo, iniciativas fragmentadas
(eram 15 compromissos e 124 ações) e com di-
Até o início dos anos 2000, o panorama reções potencialmente contraditórias (p. ex., a
brasileiro na segurança pública era marcado por “eliminação de chacinas e execuções sumárias”,
duas características que estabeleciam franca ten- no compromisso no 9, e a “inibição de gangues
são com estas variáveis. A primeira era a divisão e combate à desordem social”, no compromisso
rígida de competências no plano federativo, a no 8). No entanto, alguns de seus pontos abri-
qual conferia aos Estados grande autonomia na ram oportunidades relevantes de experimen-
concepção e na execução de suas próprias me- tação em temas que mais tarde revelar-se-iam
didas e iniciativas no setor. A ação do governo estruturais nos debates da área. É o caso: da
federal resumia-se, basicamente, à mobilização “integração operacional das polícias” (ação 8 do
da Polícia Federal (PF) e da Polícia Rodoviária compromisso no 1, “combate ao narcotráfico e
Federal (PRF), não raro de maneira desarticu- ao crime organizado”); e da busca pela “integra-
lada da ação das forças estaduais (OLIVEIRA ção de programas sociais de prevenção”, decor-
JR., 2010b). A segunda correspondia à centrali- rentes da implementação da ação 3 do compro-

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misso no 15, que deu origem a uma iniciativa Um dos principais pressupostos do plano
específica e bastante vanguardista, o Plano de adotado no primeiro governo Lula era de que
Integração e Acompanhamento de Programas a PNSP carecia de planejamento e gestão. O

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Sociais de Prevenção da Violência (Piaps). modelo alternativo a ser induzido envolvia
bom diagnóstico da violência e da criminali-
As possibilidades abertas pela criação dade, o qual alimentaria “ações preventivas,
da Senasp e do FNSP, por sua vez, só foram estratégicas, orientadas e permanentemente
exercitadas muito lentamente. Alguns passos monitoradas” por atores da segurança públi-
importantes foram dados a partir do primei- ca e do sistema de justiça criminal (Figura 1).
ro governo do então presidente Luiz Inácio Dessa forma, ao invés de reagir a demandas

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Lula da Silva (2003-2006). Sob a inspiração por aparelhamento das organizações estaduais,
de outro “plano nacional” para o setor, agora o governo federal passava a induzir e articular
elaborado no âmbito do Instituto Cidadania políticas reformistas e mais complexas, que en-
e adotado como plataforma de campanha do volviam componentes como coleta sistemática
ex-presidente, a Senasp enunciou linhas mais de dados em matéria criminal, pactuação das
estratégicas e estruturantes para sua atuação e a diretrizes nacionais de formação de policiais e
mobilização dos recursos do FNSP, escapando fomento a projetos de prevenção à violência e
ao binômio viaturas/armamento. à promoção dos direitos humanos (Figura 2).

Figura 1 - Pressupostos para uma Política de Segurança Eficiente

SEM GESTÃO NÃO HÁ POLÍTICA DE SEGURANÇA IMPLICA


POLÍTICA DE SEGURANÇA. INTEGRAÇÃO SISTÊMICA DAS INSTITUIÇÕES.

GESTÃO COMO FERRAMENTA PARA PROMOVER AÇÕES PREVENTIVAS,


ESTRATÉGICAS, ORIENTADAS E PERMANENTEMENTE MONITORADAS:

Dados Diagnóstico Planejamento Avaliação


qualificados rigoroso sistemático regular

Rotinas, funções, processos e


estruturas ágeis e adequadas
ao cumprimento das metas.

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Figura 2 - Diretrizes da Política Nacional de Segurança Pública
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Programas de Reforma das


Instituições de Segurança Pública

Valorização e Estruturação e
Formação Modernização
Profissional da Perícia
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Gestão do
Prevenção
Conhecimento

Controle Externo
Reorganização Sem prejuízo da pauta e Participação
Institucional
dos Estados Social

Um dos mais altos pontos deste plano foi nome de Sistema Único de Segurança Públi-
a proposição de institucionalidade própria, à ca (Susp) (Figura 3). Nas palavras de Soares
qual caberia a tarefa de coordenar a integra- (2007):
ção de forças, abordagens e níveis de governo. O SUSP não implicaria a unificação das polícias,
Os Gabinetes de Gestão Integrada (GGIs) mas a geração de meios que lhes propiciassem
surgiam, assim, nos Estados e municípios, trabalhar cooperativamente, segundo matriz
como “foros deliberativos e executivos, com- integrada de gestão, sempre com transparência,
postos por representantes das agências de se- controle externo, avaliações e monitoramento
gurança pública e justiça criminal, que operam corretivo. Nos termos desse modelo, o trabalho
por consenso, sem hierarquia, respeitando a policial seria orientado prioritariamente para a
autonomia das instituições que o compõem” prevenção e buscaria articular-se com políticas
(BRASIL, 2003b). sociais de natureza especificamente preventiva.

Supervisionados por comitês gestores nos Parece desnecessário dizer que a indução
Estados e na União, os GGIs eram a base desse novo modelo demandaria audaciosos
de estrutura de governança modelada como programas de reforma das instituições da segu-
sistema de política pública, ao qual se deu o rança, permeados pela integração operacional e

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Figura 3 - Criação do Sistema Único de Segurança Pública

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Política Nacional de Segurança Pública

Princípios Metas Pressupostos Diretrizes

GGI

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Coordenação do SUSP
Não implica unificação,
Um fórum deliberativo e
mas Integração prática
executivo, composto por
das agências de justiça representantes das agências
criminal dentro dos SUSP de segurança pública
justiça criminal, que opera
e

marcos legais vigentes


por consenso, sem
hierarquia, respeitando a
autonomia das instituições
que o compõem.

cultural entre forças (polícias e guardas) e abor- tituições, o modelo de polícia que desejam,
dagens (repressiva e preventiva), ao longo dos precisam e/ou podem ter. Sendo assim, cada
diversos níveis de governo, sob algum crivo de estado estaria autorizado a mudar ou manter o
“participação” e “controle social”, por meio de status quo, conforme julgasse apropriado. Isto é,
ouvidorias independentes e até mesmo conse- poderia manter o quadro atual, caso avaliasse
lhos. Assim é que, como uma espécie de pano que a ruptura do ciclo do trabalho policial, re-
de fundo do plano, havia a curiosa proposta de presentada na organização dicotômica, Polícia
experimentalismo nas formas organizacionais Militar [PM] – Polícia Civil, estivesse funcio-
de prestação dos serviços de segurança, sobre- nando bem. Caso contrário, se a avaliação fosse
tudo as polícias. Conforme o longo, porém ne- negativa – caso se constatasse desmotivação dos
cessário, depoimento de Soares (2007): profissionais e falta de confiança por parte da
Paralelamente à aludida institucionalização do população, ineficiência, corrupção e brutali-
SUSP, o Plano Nacional de Segurança Pública dade –, mudanças poderiam ser feitas e novos
do primeiro mandato do presidente Lula pro- modelos seriam experimentados. Por exemplo,
punha a desconstitucionalização das polícias, a unificação das atuais polícias estaduais; ou a
o que significa a transferência aos Estados do criação de polícias metropolitanas e municipais
poder para definirem, em suas respectivas cons- (pelo menos nos municípios maiores) de ciclo

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completo; ou a divisão do trabalho entre polícias ta, com consequências a serem debatidas mais
municipais, estaduais e federais, de acordo com adiante. O tema da gestão do conhecimento ca-
a complexidade dos crimes a serem enfrentados, minhou razoavelmente, com a estruturação de
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sabendo-se, entretanto, que todas atuariam em pesquisas e a coleta de dados que, no entanto,
regime de ciclo completo, ou seja, investigando pouco informaram a gestão estratégica original-
e cumprindo o patrulhamento uniformizado. mente proposta. A articulação entre repressão
e prevenção também teve algum progresso, re-
Esse aspecto estruturante do plano não é sultando na celebração de convênios com vários
trivial, dado o longo histórico de críticas ao municípios em torno de projetos preventivos. Já
funcionamento das polícias no Brasil, que, em a formação dos profissionais da segurança pú-
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outros tempos, já havia ensejado até mesmo blica ganhou grande visibilidade, com a promo-
propostas de extinção de categorias específi- ção de iniciativas de capacitação a distância e o
cas, como a Polícia Militar. Nesse aspecto, o surgimento da Rede Nacional de Altos Estudos
plano sugeria via intermediária para lidar com em Segurança Pública (Renaesp).
a desilusão acerca das formas organizacionais
existentes, estimulando o surgimento de novos O quadro geral da política, no entanto,
desenhos de polícia, mas induzindo-lhes a in- ainda sugeria mudanças modestas. O Gráfico
tegração no âmbito dos GGIs. 1, extraído de estudo de Costa e Grossi (2007)
sobre os desembolsos do FNSP no período
A implementação desse plano ocorreu ape- 2000-2005, demonstra que a compra de equi-
nas em parte, com alguns deslocamentos rele- pamentos para as polícias permaneceu como
vantes na agenda. O tema das reformas orga- a linha hegemônica, com notável distância de
nizacionais foi retirado completamente da pau- outros componentes da política.

Gráfico 1 - Execução do FNSP, por tipo de despesa


2000-2005

Capacitação Projetos Inovadores


3% 7%

Instalações
4%

Equipamentos
86%

.WV\M"+W[\IM/ZW[[Q

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O capítulo subsequente na construção da o programa também incorria em fragmentação,
PNSP é formado pelo Programa Nacional de compreendendo nada menos que 94 ações, cuja
Segurança com Cidadania (Pronasci), criado responsabilidade de execução encontrava-se dis-

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no segundo governo Lula (2007-2010), quan- persa entre vários órgãos de governo. Outra era
do da gestão do ex-ministro Tarso Genro na a de que, quando apropriado localmente, não
pasta da Justiça. Propondo intervir “não [nas] era raro que o programa perdesse suas virtudes
consequências, mas [nas] causas da criminali- conceituais. Em análise do desempenho do Pro-
dade” (HAMÚ, 2009) e adotando como foco nasci datada de 2009 e baseada na experiência
prioritário jovens de 18 a 24 anos, o Pronasci do município do Rio de Janeiro, por exemplo,
deslocou o equilíbrio de prioridades entre re- Rodrigues (2009) destaca que:

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pressão e prevenção e valorizou o protagonis- O governo municipal não aderiu volunta-
mo dos municípios na elaboração e na execu- riamente ao programa, a despeito da adesão
ção da PNSP. do governo estadual e, portanto, o GGIM
não foi criado. Cabe notar que o GGIM se-
Para tanto, mediante o aporte de volume ria o órgão responsável pela gestão integrada
até então inédito de recursos federais no setor, do programa, inclusive com participação de
o programa agiu em quatro frentes principais. membros do MJ.
Primeiro, financiou projetos voltados para “ga- Os projetos do Pronasci no município fo-
rantir o acesso dos moradores de territórios em ram conduzidos por secretarias distintas do
que há ausência de coesão social às políticas governo do estado, notadamente a Secretaria
que visam garantir o exercício da justiça e da de Segurança Pública, com projetos relativos
cidadania” (HAMÚ, 2009). Segundo, atribuiu à segurança, e a Secretaria de Assistência So-
a Gabinetes de Gestão Integrada Municipais cial e Direitos Humanos, com projetos so-
(GGIMs) a tarefa de identificar os projetos a se- ciais, tais como: Mulheres da Paz, Protejo e
rem implantados no nível local, com o apoio de Espaços Urbanos Seguros. Ainda que as duas
especialistas, induzindo a formação destas insti- secretarias pertencessem ao mesmo governo,
tucionalidades em contextos em que estas não não houve criação de fórum comum do Pro-
existiam. Terceiro, estimulou ações de “polícia nasci que permitisse articulação das ações das
de proximidade”, o que originou, por exemplo, duas secretarias e das suas respectivas equipes.
os projetos de Unidades de Polícia Pacificadora
do Rio de Janeiro (UPPs). Quarto, aprofundou Além disso:
algumas medidas de formação e valorização dos Os projetos da área de segurança pública in-
profissionais da segurança pública – sobretudo cluíam implantação do policiamento comuni-
com o advento do Bolsa Formação, que ofere- tário em algumas áreas da cidade. Foram defi-
ce incentivo econômico para a participação em nidas como prioritárias para policiamento co-
cursos oferecidos pela Renaesp. munitário as seguintes comunidades/bairros:
Morro Santa Marta, Cidade de Deus e Favela
Vale notar, em todo caso, que o Pronasci não do Batan. Tais áreas também correspondiam
passou imune a críticas. Uma destas era a de que às áreas foco do Pronasci tanto em termos de

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indicadores de violência quanto em termos de reformista, no nível das estruturas organiza-
indicadores sociais e urbanos. Entretanto, não cionais –, o status quo policial e, mais am-
eram as mesmas áreas selecionadas para pro- plamente, o quadro fragmentário das insti-
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jetos de prevenção. Houve, portanto, descasa- tuições da segurança pública acabam sendo
mento das ações de policiamento comunitário assimilados. Desse modo, naturaliza-se o le-
e dos projetos sociais mais importantes do Pro- gado da ditadura, chancelando-se a transição
nasci. (RODRIGUES, 2009) incompleta como a transição possível. O Pro-
nasci resigna-se a ser apenas um bom plano
Note-se que essa crítica remete a duas caracte- destinado a prover contribuições tópicas.
rísticas potencialmente problemáticas do Pronas-
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ci. Por um lado, o programa operava mediante a Como saldo dessa história institucional rela-
oferta de soluções pré-concebidas aos municípios tivamente curta, mas repleta de inovações, po-
parceiros, que a este “aderiam”. Neste caso, era de-se então indicar um quadro de avanços nada
fundamental para o sucesso do programa que os desprezíveis. Dois apresentam maior destaque:
municípios “aderentes” não apenas avaliassem a de um lado, a instalação de maior capacidade de
adequação das soluções aos problemas que viven- indução e coordenação da PNSP no âmbito fe-
ciavam, mas também partilhassem da visão que deral, com a criação do FNSP e a maior capila-
inspirou a formulação destas soluções no nível ridade federativa e societal das ações executadas
central.4 Por outro lado, o Pronasci não dispunha no âmbito do Pronasci; de outro, a mudança de
de um adequado monitoramento de processo, paradigma no setor – ou seja, da maneira pela
que permitisse identificar distorções substantivas qual atores nele relevantes definem o problema
e propor medidas corretivas. e selecionam alternativas de ação.

Mas a crítica mais comum e, ao mesmo Isto fica visível no Gráfico 2, produzido
tempo, mais contundente levantada contra por pesquisadores da Fundação Getulio Vargas
o Pronasci era de que este não incorporou a (FGV), o qual classifica os projetos aprovados
agenda de reformas nas organizações da segu- pelo MJ no âmbito do Pronasci em 2008 em
rança pública. Neste sentido, Soares (2007) três categorias: segurança preventiva, seguran-
anota que, no programa, ça repressiva e segurança defensiva.
O tema decisivo, as reformas institucionais,
não é sequer mencionado – provavelmente Para a classificação dos projetos, segundo
por conta de seu caráter politicamente con- esclarece o texto:
trovertido, dada a indefinição das lideranças Foram considerados como segurança repres-
governamentais a respeito do melhor mode- siva os projetos destinados a ações típicas de
lo a adotar, e de seu potencial desagregador, policiamento ostensivo (...) Como segurança
derivado das inevitáveis reações corporativas defensiva foram considerados os projetos vol-
que suscitaria. Assim, com o SUSP anêmico tados para a implementação de policiamento
e sem o seu complemento institucional – a comunitário, capacitação dos profissionais de
desconstitucionalização ou alguma fórmula segurança, valorização profissional e incre-

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Gráfico 2 - Valor dos projetos aprovados no Ministério da Justiça no
âmbito do Pronasci
2008

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Segurança defensiva Segurança preventiva
R$ 254.210.800,00 R$ 195.577.929,00

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Segurança repressiva
R$ 16.076.935,99

.WV\M".]VLIÿW/M\]TQW>IZOI[!

mento dos projetos de gestão. Por fim, foram governança e monitoramento. A emergência do
considerados como segurança preventiva os governo federal como coordenador da política, a
projetos voltados a ações sociais e relaciona- ampliação do entendimento sobre o que é pro-
dos aos diversos atores públicos envolvidos duzir segurança pública e a participação mais
nessas políticas (2009). ativa dos municípios na PSNP criam demanda
por mais investimentos na área. O Pronasci teve
Embora essa agregação ainda possa mas- o mérito de incrementar substancialmente os re-
carar alguns problemas, como o peso do Bol- cursos disponíveis no nível federal, tendo recebi-
sa Formação em relação a outras iniciativas do previsão de R$ 6,7 bilhões, entre 2008 e 2012.
(INESC, 2010), fato é que o gráfico representa No entanto, trata-se ainda de um programa cujo
deslocamento já bem mais significativo do eixo orçamento – diferentemente do FNSP – não se
de prioridades da PSNP para além do binômio beneficia de receitas fixas. Assim, os recursos do
armamento/viaturas. Em outras palavras, após Pronasci devem ser negociados a cada ano junto
uma década de PNSP, já não se pode mais di- ao Congresso Nacional e podem ser facilmente
zer que os Estados e as polícias de ação osten- contingenciados ou redirecionados pela cúpula
siva são os únicos interlocutores na construção do governo. Isto sem falar na baixa capacidade
de estratégia para a produção de segurança. de financiamento em nível subnacional, que tem
interditado, por exemplo, debates sobre o “piso
Mas é preciso também reconhecer a existência salarial” das polícias. A fórmula hoje existente,
de ao menos três limites na formação da PNSP, portanto, pode não ser inconveniente para as
indicados no Quadro 1. O primeiro refere-se à ações imediatas, mas prejudica sensivelmente o
falta de condições adequadas de financiamento, planejamento de mais longo prazo.

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Quadro 1 - Avanços e limites na formação da PNSP
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Avanços Limites

% Maior capacidade de % Falta de mecanismos adequados de


coordenação e indução de financiamento, governança e monitoramento
mudanças no nível local, por
parte do governo federal % Limitação do espaço de participação social a
iniciativas de prevenção, diagnóstico ou prêmios
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% Construção de paradigma
para o setor, o da “segurança % Inexistência de reformas estruturais nas
cidadã” organizações, como originalmente proposto

Fonte: Elaborado pelo autor.

Paralelamente à garantia de recursos, é neces- execução destas ações, no entanto, foi modesta
sário instituir espaços de deliberação e revisão, e desarticulada (SÁ E SILVA, 2010). Isto não é
em caráter permanente, das prioridades a serem de surpreender, tendo em vista que, na carteira
consideradas na mobilização destes recursos – ou de ações do Pronasci ofertadas aos gestores locais,
seja, de espaços de governança bem informada. A havia opções que rendiam menos desgaste e ge-
fragmentação na oferta de apoio pela gestão fede- ravam mais dividendos políticos que o investi-
ral e a distorção substantiva de projetos pelas ges- mento em presos e presídios. É preciso, pois, que
tões locais são dois lados de um problema: o da as prioridades sejam não apenas mais bem espe-
falta de clareza, entre todos os atores relevantes na cificadas, de um ponto de vista técnico e geren-
PNSP, sobre quais devem ser os focos principais cial, mas também mais bem construídas, de um
de investimento, seja porque falta informação, ponto de vista político, sob pena de que algumas
seja porque faltam metodologias de pactuação. delas se esvaziem na execução.

Isso não inviabiliza a construção de soluções O segundo limite resulta do fato de que, ao
criativas e efetivas, mas traz o risco de que estas longo de toda a trajetória da PNSP, os espaços
acabem relegadas a uma posição marginal ou de participação não apenas têm sido escassos,
instrumental, sobretudo quando expressam ver- mas também portadores de escopo de atuação
dadeira mudança paradigmática na política. Um bastante delimitado, que jamais alcançou o ci-
exemplo, no Pronasci, está na área penitenciária clo de gestão da política.
e, mais especificamente, prisional. Entre as 94
ações que compunham o programa, estavam: Desde que foram previstos como parte inte-
construção de presídios “diferenciados” para o grante do Susp, no PNSP do primeiro governo
público jovem; “qualificação de agentes peniten- Lula, os GGIs têm sido questionados por não
ciários”; e “formação profissional de presos”. A possuírem espaço para organizações da sociedade

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civil. A reação a este argumento afirma que os de efetividade do Conasp, considerando a sua
GGIs têm natureza operacional, e não de gestão, composição no biênio 2010-2012 (SÁ E SIL-
o que não comporta a participação social, embo- VA; DEBONI, 2012), esta questão ficou mais

Artigos
ra não afaste a necessidade de controle externo, que evidente. Entre as expectativas mantidas
por meio de órgãos como ouvidorias – ver, por pelos(as) conselheiros(as), ganhou destaque o
exemplo, Soares (2009). Ainda assim, o Susp pre- enfrentamento de problemas “estruturais” do
via comitês de gestão em níveis estadual e nacio- setor, como pré-condição para galgar avanços
nal, e nenhum destes contemplava a presença de importantes. Nas palavras de um entrevistado:
integrantes da sociedade civil. Fala-se hoje da integração de esforços nas três
esferas federativas, mas o SUSP tinha um ob-

“Nem isto, nem aquilo”: trajetória e características da


política nacional de segurança pública (2000-2012)
Fabio de Sá e Silva
Apesar da associação retórica que fez entre se- jetivo muito maior. O sistema de segurança
gurança pública e cidadania, o Pronasci tampou- pública seria resultado de amplas reformas nas
co foi construído e implementado com base em organizações policiais, incluindo as guardas
mecanismos de participação social. As 94 ações municipais, e a partir desta nova composição
previstas para o programa foram definidas exclu- nós criaríamos um sistema novo. A integração
sivamente por seus formuladores e, a partir daí, seria um resultado final, e não inicial, que é
pactuadas entre os órgãos de governo por estas o que se fala hoje. O SUSP se resumiu a um
responsáveis, sem qualquer tipo de consulta am- sistema de integração das policiais, e quem o
pliada. Nesse aspecto, a segurança pública tem se defende hoje não fala em reforma das orga-
constituído como área na qual as políticas e deci- nizações policiais. Acho que a concepção do
sões estratégicas têm sido historicamente restritas SUSP foi mal interpretada por alguns gestores.
aos gestores (dirigentes de instituições públicas,
bem como chefes e comandantes de instituições E, de outro:
policiais). O advento de instituições participa- Não dá para falar tão rapidamente sobre a
tivas que incorporam trabalhadores e sociedade PNSP, cujos pressupostos datam de uma dé-
civil e incidem sobre a PSNP, como a I Conferên- cada antes do governo Lula, [mas] as caracte-
cia Nacional de Segurança Pública – I Conseg e rísticas mais fortes do período atual são indu-
o novo Conselho Nacional de Segurança Pública ção [alcançada no primeiro governo Lula] e
– Conasp, é, portanto, efetiva inovação no cam- investimento [por conta da maior disponibi-
po, com um potencial que, até o início de 2011, lidade de recursos no segundo governo Lula].
ainda não havia sido plenamente exercitado.5 O problema é que uma PNSP não implica
só indução e investimento. Avançamos pouco
O terceiro limite está associado, enfim, à sobre um novo modelo de segurança e sobre
postergação no debate sobre as reformas nas as mudanças legais necessárias a isso – por
organizações da segurança pública. As contro- exemplo: padrões de policiamento, grandes
vérsias, riscos e custos políticos deste debate são questões sobre financiamento, ouvidorias,
quase autoevidentes, mas a demanda ainda mo- corregedorias, ciclo completo de polícias e
biliza muitos atores que participam do “cam- presos provisórios. Estas questões estão em
po” da PNSP. Em pesquisa sobre as condições aberto. (...) Na sua lógica, a PNSP não efetiva

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o “novo paradigma” do texto base da CON- Segurança Pública” 8 formulado nesta primeira
SEG. O próximo governo vai fazer o quê? metade do governo Dilma está estruturado em
Efetivar o novo paradigma ou contentar-se sete eixos – ou sobre sete componentes:
Artigos

com a lógica de indução e de financiamento? 1. Plano estratégico de fronteiras;


2. Programa Crack, é possível vencer;
Essa é, pois, a herança (nem tão “maldita”, 3. Combate às organizações criminosas;
nem tão “bendita”) deixada pelos governos 4. Programa nacional de apoio ao sistema
FHC e Lula no campo da PNSP.6 A próxima prisional;
seção descreve e analisa as medidas adotadas a 5. Plano de segurança para grandes eventos;
partir de então pelo governo da presidenta Dil- 6. Sinesp – Sistema Nacional de Informa-
“Nem isto, nem aquilo”: trajetória e características da
política nacional de segurança pública (2000-2012)
Fabio de Sá e Silva

ma Rousseff, tomando por base os primeiros ção em Segurança Pública;


documentos e manifestações assim produzidos 7. Programa de enfrentamento à violência.
pelas autoridades do setor. Como parte deste último eixo, além de um
“programa de prevenção e redução de acidentes
Contornos indiciários da PNSP no de trânsito”, consta também um “programa de
governo Dilma redução da criminalidade violenta”. A Figura 4,
Lançado de maneira bem mais discreta baseada em material do próprio Ministério da
que seus antecessores,7 o “Plano Nacional de Justiça, ilustra esse novo pacote de iniciativas.

Figura 4 - Plano Nacional de Segurança Pública


Programa de Redução da Criminalidade Violenta

1. Plano Estratégico de Fronteiras

2. Programa Crack, é possível vencer

3. Combate às Organizações Criminosas

Plano Nacional 4. Programa Nacional de apoio ao Sistema Prisional


de Segurança
Pública 5. Plano de Segurança para Grandes Eventos

6. SINESP – Sistema Nacional de Informação em Segurança Pública

7. Programa de Enfrentamento à Violência

7.1 Programa de Redução da Criminalidade Violenta


Programa de
Enfrentamento à
Violência 7.2 Programa de Prevenção e Redução de Acidentes de Trânsito

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Tomados em conjunto, os componentes do do “plano de ação” para o Estado de Alagoas,
novo plano sugerem algumas inflexões impor- isso parece estar consubstanciado, por exem-
tantes, apresentadas a seguir. plo, na mobilização de peritos da “Força Na-

Artigos
cional de Segurança Pública” para dar apoio ao
Mudança no ponto ótimo de equilíbrio trabalho investigativo das polícias civis em ma-
entre entes federados téria de homicídios. Já no “programa nacional
De várias maneiras, o “Plano Nacional” de apoio ao sistema prisional”, foi o próprio
sugere uma discreta, porém significativa mu- diretor-geral do Departamento Penitenciário
dança no que se considera ser o “ponto ótimo” Nacional quem afirmou, em entrevista de TV,
de equilíbrio na relação entre os entes federa- que “o programa é um programa de apoio. Os

“Nem isto, nem aquilo”: trajetória e características da


política nacional de segurança pública (2000-2012)
Fabio de Sá e Silva
dos. Isso se dá, basicamente, pela afirmação Estados são responsáveis por esse assunto”.11
de competências executivas muito próprias da
União e dos Estados. O “plano estratégico de Priorização
fronteiras” e o “combate às organizações crimi- Ao invés de incluir dezenas de ações e ob-
nosas” têm como lócus de gestão as institui- jetivos, o novo plano aparenta resultar de um
ções federais, como o Exército, as Polícias Fe- esforço mais detido de reflexão estratégica e de
derais e o Ministério Público Federal; enquan- priorização. Esse esforço fica ainda mais evi-
to o “programa de redução da criminalidade dente quando se considera a natureza especí-
violenta” tem como elemento crucial o forta- fica do programa “Crack, é possível vencer” e
lecimento da polícia civil e da perícia, orga- do “plano de segurança para grandes eventos”,
nizações de caráter tipicamente estadual. Já as que respondem mais a preocupações políticas
guardas municipais e programas de prevenção ou conjunturais do que a questões históricas
ou projetos sociais, cujo lócus de gestão é, em ou estruturais do setor.12 Relativizando, por-
geral, municipal, parecem ocupar posição bem tanto, o peso desses componentes, fica claro
mais discreta do que vieram a ocupar no passa- aos gestores e à sociedade o que, do ponto de
do recente.9 No “plano de ação” para o Estado vista do governo federal, são os aspectos mais
de Alagoas, no âmbito do “programa de redu- críticos na produção de (in)segurança no país:
ção da criminalidade violenta”, projetos como fronteiras, crime organizado, sistema prisional,
“Protejo” e “Mulheres da Paz”10 aparecem violência urbana e, como problema de fundo, a
como “outras ações”, junto, por exemplo, com dificuldade na produção de informações confi-
uma “campanha de ouvidoria de polícia”. No áveis sobre criminalidade e segurança pública.
Pronasci, tais projetos já foram praticamente o
centro de gravidade da atuação federal. A análise de cada item do plano, em sua es-
pecificidade, reitera ter havido um notável es-
Ao mesmo tempo, o novo plano parece ba- forço de priorização. O “programa nacional de
seado na concepção de que o governo federal apoio ao sistema penitenciário” põe claro foco
deve desempenhar uma função de “apoio” aos na geração de vagas (construção, reforma ou
governos (estaduais) na produção e gestão de ampliação de unidades prisionais), tendo por
políticas públicas de segurança. No menciona- objetivo desativar as carceragens das delegacias

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de polícia. Já o “plano de ação” para o Estado de a pouco, por um discurso orientado à “inte-
Alagoas, no âmbito do “programa de enfrenta- gração operacional” das forças, respeitadas as
mento à violência”, está estruturado sobre cin- configurações existentes.
Artigos

co componentes principais: fortalecimento da


perícia forense; fortalecimento da polícia civil; Maior ênfase a aspectos de planejamento,
articulação com Judiciário, Ministério Público gestão e monitoramento
e Defensoria Pública; policiamento ostensivo e Espelhando o que parece ser uma caracterís-
de proximidade; e controle de armas. tica estrutural do governo Dilma, o novo plano
dá bastante ênfase a aspectos de planejamento,
Maior ênfase no fortalecimento e na gestão e monitoramento, valorizando diagnós-
“Nem isto, nem aquilo”: trajetória e características da
política nacional de segurança pública (2000-2012)
Fabio de Sá e Silva

articulação institucionais ticos de situação, divisão de responsabilidades e


O novo plano tem no fortalecimento e na estabelecimento de indicadores para o monito-
articulação institucionais uma linha bastante ramento e a aferição dos resultados proporcio-
nítida. Isto é visível, por exemplo, na preo- nados pelas intervenções de política pública. O
cupação com a melhoria da polícia civil e da Sistema Nacional de Informação em Segurança
perícia técnica, bem como na busca pela arti- Pública – Sinesp é, nesse aspecto, uma medi-
culação entre as instituições do sistema de jus- da tão ousada quanto digna de celebração, pois
tiça criminal (polícias, Judiciário, Ministério dá condições adequadas para que o Ministério
Público e até mesmo Defensoria Pública).13 da Justiça centralize a coleta e a sistematização
de informações sobre criminalidade junto dos
Esta abordagem, vale dizer, não é comple- entes subnacionais.15 Agora, por força de lei, re-
tamente inédita. Em muitos de seus discursos cursos federais para segurança pública e para o
e textos à imprensa, o ex-ministro da Justiça sistema prisional só podem ser alocados a Esta-
Marcio Thomaz Bastos costumava dizer que, dos que estiverem “adimplentes” em relação ao
em aspectos relacionados à justiça e à seguran- fornecimento de informações ao Sinesp.16 E a
ça, o arcabouço normativo vigente no Brasil construção de “planos de ação” para cada Esta-
era, em geral, suficientemente avançado, razão do, com base em um diagnóstico das formas e
pela qual o “fortalecimento das instituições” – manifestações da violência, por um lado, e dos
e não a mudança das leis – seria o principal recursos (financeiros e institucionais), por ou-
desafio de sua gestão à frente daquela pasta. tro, mostram um esforço para se trabalhar desde
Sendo ou não de todo correta essa avaliação,14 logo sob a lógica da pactuação e da governança
fato é que ela orienta fundamentalmente a bem informadas.
promoção de mudanças incrementais e de lon-
go prazo, sem a intenção ou o compromisso Mas é também nesses “planos de ação” que
de promover grandes rupturas. Não por coin- a preocupação com planejamento, gestão e
cidência, ao longo da gestão do ex-ministro monitoramento tem vindo a expressar uma fa-
Marcio Thomaz Bastos, o discurso orientado à ceta mais controvertida. Por exemplo, o “plano
reforma das organizações da segurança pública de ação” para o Estado de Alagoas, ao men-
foi perdendo força, sendo substituído, pouco cionar “fortalecimento da polícia civil”, prevê

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a criação de uma “delegacia especializada” em – tendo em vista a divisão de competências
homicídios; já quando fala de “policiamento entre entes federados e a ênfase em aspectos
ostensivo e de proximidade”, chega a estimar institucionais, presentes no mesmo plano –,

Artigos
até despesas com combustível de aeronaves. será que isso não terá como preço uma perda
Ora, sem dúvida delegacias especializadas po- de capacidade de indução pelo governo federal
dem gerar melhores resultados na investigação e uma dissolução do paradigma da “segurança
de crimes, assim como, no longo prazo, a posse cidadã”, a duras penas consolidados no setor?
de indicadores detalhados (como o valor gasto O esforço de priorização é outro dado positivo,
em combustível para aeronaves) pode permitir mas – novamente, quando associado a outras
boas análises dos custos e benefícios incorridos características do plano – não pode acabar em-

“Nem isto, nem aquilo”: trajetória e características da


política nacional de segurança pública (2000-2012)
Fabio de Sá e Silva
em cada “plano de ação”. Mas, em ambos os pobrecendo o repertório da política? Faz senti-
casos, excesso de expectativas pode levar à frus- do, por exemplo, centrar o “programa nacional
tração: a ideia de especialização pode demorar de apoio ao sistema penitenciário” na geração
a se enraizar e, portanto, demorar a dar os re- de vagas, sem incluir medidas para a reinte-
sultados esperados; e a simples análise de cus- gração social e o apoio ao egresso? Faz sentido
tos e benefícios dos diversos “planos de ação” articular com a Defensoria Pública para a rea-
tende a dizer pouco sobre os fatores de sucesso lização de mutirões nas delegacias sem mostrar
ou fracasso em cada caso.17 disposição para a construção de um sistema de
alternativas ao encarceramento – em especial
Considerações finais ao encarceramento provisório, na esteira da
Passados quase 25 anos da promulgação da “lei das cautelares”?18 O fortalecimento e a ar-
CF/1988, a construção de uma PNSP segue ticulação das instituições, previstos no plano,
sendo objeto de um longo e difícil aprendizado. também podem ter aspectos positivos. Mas
Ainda é cedo para prever o impacto das medidas faz sentido fortalecer a polícia civil e a perícia
e da estratégia adotada pelo governo Dilma na forense, bem como articulá-las melhor com o
trajetória da PNSP, mas, como definiu Soares Poder Judiciário e o Ministério Público, sem
(2007), por ocasião de outro período de tran- levar em conta as críticas ao inquérito policial
sição do setor, também há, aqui, “razões para como instrumento de investigação e produção
otimismo e para cautela”. Alguns avanços do da verdade no processo penal (MISSE, 2010)?
período recente, se não chegam a ser desconsi- Em outras palavras, é prudente – ou até mes-
derados, são sucedidos por novas abordagens e mo “correto” – investir nas instituições da jus-
proposições com as quais não necessariamente tiça e da segurança, sem exigir que, ao menos
chegam a compor uma história coerente. em alguma medida, elas se reinventem?

A governança bem informada, por exem- Diante de todas essas (e outras) perguntas
plo, é um déficit histórico do setor que pode possíveis, é oportuno regressar à inspiração do
ser mais bem confrontado a partir de elemen- título deste artigo: o poema “Ou isto, ou aqui-
tos do novo plano, tais como a ênfase em pla- lo”, no qual Cecília Meireles (2001) ilustra a
nejamento, gestão e monitoramento. Todavia dificuldade de fazermos escolhas.19 O passado

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recente da PNSP fez com que, por diversas e sem a consciência crítica da realidade, embora
distintas razões, ainda tenhamos um campo cotidiana – que marcam o poema de Meireles.
bastante aberto, em larga medida “sem isto, Ao governo, aos especialistas, aos trabalhado-
Artigos

nem aquilo” – ou seja, sem a solução “sistêmi- res e à sociedade, convém, assim, manter a vi-
ca”, com a qual muitos de nós sonhamos na úl- gilância e o engajamento nas discussões sobre
tima década. Mas isso não quer dizer que, dia o novo plano, com suas virtudes e limites, mas,
após dia, não estejamos fazendo escolhas, com sobretudo, com suas oportunidades e ameaças
ou sem as angústias – mas também com ou para a construção de uma verdadeira PNSP.
“Nem isto, nem aquilo”: trajetória e características da
política nacional de segurança pública (2000-2012)
Fabio de Sá e Silva

1. -[\MIZ\QOWM[\½JI[MILWMUIV½TQ[M[IV\MZQWZM[LM[MV^WT^QLI[MU;½M;QT^IM,MJWVQ

2. Isso imprime ao texto a natureza de “artigo” e não de “ensaio”. Embora o trabalho tenha um caráter marcantemente
tQV\MZXZM\I\Q^Wu[]I[KWVKT][ÑM[M[\¿WJI[MILI[VWIKWUXIVPIUMV\W[Q[\MU½\QKWMKWTM\Q^WLIKWV[\Z]ÿWLIXWTÉ\QKIXÖJTQKI
LM[MO]ZIVÃIVW¾UJQ\WLW1XMIJMUKWUWVI^ITQLIÿWXMZIV\MIZMLMLMM[XMKQITQ[\I[M`\MZVW[KWUIY]ITM[\IQV[\Q\]QÿW
QV\MZIOM6ILILQ[[WXWZÅUZM\QZIIZM[XWV[IJQTQLILMM`KT][Q^ILWI]\WZXMTWKWV\MÖLWLW\M`\WMUIQ[Y]MQ[[WXWZ[]I[
QVM^Q\½^MQ[NITPI[W]QV[]ßKQÆVKQI[

3. 6¿W[M\ZI\IKWUQ[\WLMIßZUIZY]MI[XWTÉKQI[LM^MZQIU\MZUMVWZQUXWZ\¾VKQIVI86;87XZWJTMUIMZIIKZMVÃILMY]M
]UILM[]I[NWZUI[M[XMKÉßKI[LMI\]IÿWWKPIUILWXWTQKQIUMV\WW[\MV[Q^WLM^MZQI[MZWMTMUMV\WKMV\ZITLM[\IXWTÉ\QKI
Y]IVLW"QIUMUÏZQILWXMZÉWLWI]\WZQ\½ZQWQV[XQZI^IXZWN]VLILM[KWVßIVÃILW[KQLIL¿W[MUZMTIÿWIM[\M\QXWLMI\]IÿW#MQQ
estudos e experimentos no nível local – a esta altura, já amparados por extensa literatura no nível internacional – revelavam que,
na produção de mais segurança, políticas de prevenção da violência, melhorias na gestão das organizações policiais e adoção de
W]\ZW[UWLMTW[LMXWTQKQIUMV\WMZIUM^MV\]ITUMV\MUIQ[QUXWZ\IV\M[LWY]MWXWTQKQIUMV\WW[\MV[Q^W741>-1:)2:I

4. O caso mais bem-sucedido de implementação do Pronasci, neste aspecto, parece ser o da cidade de Canoas, no Rio Grande do Sul,
K]RWXZMNMQ\WV¿WXWZIKI[W\ZIJITPW]R]V\WKWUWM`UQVQ[\ZW<IZ[W/MVZW5I[Y]IVLW[M\ZI\ILMKWV[\Z]QZ]UIXWTÉ\QKIXÖJTQKI
[][\MV\½^MTVW\MUXWMVWM[XIÃWÅM^QLMV\MY]MV¿W[MXWLMßKIZZMNÅULM[\M\QXWLMKWQVKQLÆVKQI

5. ;WJZMI1+WV[MO^MZ;IXWZQM;½M;QT^I;WJZMW+WVI[X^MZ;½M;QT^IM,MJWVQ;W]bIM3WXQ\\SM
)VRW[M7TQ^MQZI

6. 7ZMK]Z[WY]ITQßKILWI]UIM`XZM[[¿W]\QTQbILIVW[LMJI\M[MTMQ\WZIQ[UIQ[ZMKMV\M[XIZI[MZMNMZQZIWTMOILWLMOW^MZVW[
IV\MZQWZM[\MUXWZWJRM\Q^WQVLQKIZR][\IUMV\MWZMTI\Q^WI\ZI[WVWY]IT[M[Q\]II[MO]ZIVÃIXÖJTQKIMUZMTIÿWIW]\ZI[½ZMI[
LMXWTÉ\QKI[XÖJTQKI[\IQ[KWUWI½ZMI[WKQITMI\ÅUM[UWILMQVNZIM[\Z]\]ZI-U\WLI[M[[I[½ZMI[PW]^M[MV[É^MTI]UMV\WVW[
investimentos e melhorias institucionais – a exemplo do Bolsa Família, do PAC e do “Minha Casa, Minha Vida” – que simplesmente
não têm paralelo no setor de segurança.

7. 6¿WKWV[\IY]MI\ÅIOWZI\MVPI[QLWZMITQbILIY]ITY]MZKMZQUÐVQIW]M^MV\WXIZIWTIVÃIUMV\WLM[\Mt8TIVW6IKQWVITuIW
contrário do que ocorreu com outros planos presidenciais. Embora enunciados como parte de um todo coerente, os componentes
LWXTIVW\ÆU[QLWTIVÃILW[QVLQ^QL]ITUMV\MMMUITO]V[KI[W[KWUWWLWtXZWOZIUILMMVNZMV\IUMV\W¼^QWTÆVKQIuLMUIVMQZI
fragmentada, com um “Plano de Ação” para cada Estado.

8. )LMVWUQVIÿWLMtXTIVWuXIZMKMIJ[WT]\IUMV\MILMY]ILILWXWV\WLM^Q[\I\ÅKVQKWXWQ[[MV¿W[M\ZI\IUIQ[LM]UÖVQKW
programa, também não se trata, propriamente, de uma política. O que há é um conjunto de objetivos concretos e de estratégias
para alcançá-los, tudo o quanto, obviamente, poderá ajudar, no médio/longo prazo, a conformar uma política. Mas para que
o plano venha a alcançar o status de política, faltará incorporar soluções de caráter mais estruturante, em aspectos como o do
ßVIVKQIUMV\WWY]ITI\ÅWVLM[MXWLMXMZKMJMZKWV\QV]II][MV\MLIIOMVLINMLMZITMWLIXIZ\QKQXIÿWIY]ITIXM[IZLI
reforma do Conasp, não se traduziu na incorporação de atores sociais ao ciclo de gestão da PNSP, tanto assim que o novo plano foi
elaborado sem grande interlocução com aquele colegiado).

9. Uma exceção é o programa “Crack, é possível vencer”, mas, nesse caso, o desenho de caráter “municipalista” parece resultar mais
LIIJWZLIOMULM[IÖLMXÖJTQKIIXTQKILIIWXZWOZIUILWY]MLM]UILMKQ[¿WLM[MKWV[QLMZIZWU]VQKÉXQW]UTÏK][XZQ^QTMOQILW
para as políticas de segurança.

428 Rev. bras. segur. pública | São Paulo v. 6, n. 2, 412-433 Ago/Set 2012
10. 6ILMßVQÿWLW5QVQ[\ÅZQWLI2][\QÃIWt8ZWRM\W5]TPMZM[LI8IbÅ]UIQVQKQI\Q^ICEQV[\Q\]ÉLIXMTI4MQVM
XMTW,MKZM\WV! Y]MWJRM\Q^IMUTQVPI[OMZIQ[IKIXIKQ\IÿWLMU]TPMZM[I\]IV\M[VIKWU]VQLILMXIZIY]M[M
KWV[\Q\]IUQV[\Q\]KQWVITUMV\MKWUWUMLQILWZI[[WKQIQ[IßULMNWZ\ITMKMZI[XZ½\QKI[XWTÉ\QKI[M[WKQWK]T\]ZIQ[LM[MV^WT^QLI[
pelas e para as mesmas, a partir do empoderamento feminino, além de construir e fortalecer redes de prevenção da violência
LWUÅ[\QKIMMVNZMV\IUMV\W¼[^QWTÆVKQI[Y]MKWUXÑMUIZMITQLILMTWKITMY]MMV^WT^IURW^MV[MU]TPMZM[)[5]TPMZM[LI8Ib

Artigos
são mulheres da própria comunidade, capacitadas em temas como gênero e direitos da mulher, direitos humanos e cidadania,
violências, fatores de risco e protetivos e prevenção a drogadição, para agirem como multiplicadoras do Programa, tendo como
incumbência prevenir a violência juvenil e o envolvimento dos jovens com as drogas, bem como a violência de gênero”. Já o
8ZWRM\W8ZW\MÿWLM2W^MV[MU<MZZQ\ÏZQW>]TVMZ½^MT8ZW\MRWtNWQQV[\Q\]ÉLWXMTWOW^MZVWNMLMZITVWIVWLM\IUJÅUXWZ
QV\MZUÅLQWLI4MQVMQV\MOZII[IÃÑM[LW5QVQ[\ÅZQWLI2][\QÃI\MVLWKWUWWJRM\Q^WOMZIT[MTMKQWVIZMIKWUXIVPIZ
RW^MV[MV\ZMMIVW[MU[Q\]IÿWLMZQ[KWW]^]TVMZIJQTQLILMNIUQTQIZM[WKQITMOZM[[W[LW[Q[\MUIXZQ[QWVITW]K]UXZQVLW
UMLQLI[[WKQWML]KI\Q^I[KWU^Q[\I[¼LM[MV^WT^MZXMZK]Z[W[NWZUI\Q^W[XIZIIXZWUWÿWLIKQLILIVQILQZMQ\W[P]UIVW[
Y]ITQßKIÿWXZWß[[QWVITMQVKT][¿W[WKQITXIZIIXZM^MVÿWLI^QWTÆVKQILIKZQUQVITQLILMMLWMV^WT^QUMV\WKWULZWOI[)
formação desses jovens é realizada por intermédio de um Percurso Social Formativo que inclui temas como: formação cidadã e
[WKQWR]ZÉLQKI^QWTÆVKQI[ZM[WT]ÿWV¿W^QWTMV\ILMKWVàQ\W[IUXTQIÿWLWTM\ZIUMV\WML]KIÿWIUJQMV\ITM[][\MV\IJQTQLILM

“Nem isto, nem aquilo”: trajetória e características da


política nacional de segurança pública (2000-2012)
Fabio de Sá e Silva
[M`]ITQLILMI]\WM[\QUIQVNWZU½\QKIM\MKVWTWOQIXZM^MVÿW¼LZWOILQÿWQV\ZWL]ÿWIWU]VLWLW\ZIJITPWITÅULMI\Q^QLILM[
K]T\]ZIQ[MM[XWZ\Q^I[u1VNWZUIÃÑM[LQ[XWVÉ^MQ[MU"$___UROW^JZ&IKM[[WMU!;M\

11. +NWXZWOZIUIt+MVI[LW*ZI[QTuLI<>6*:LM!LQ[XWVÉ^MTMU"$P\\X"aW]\]JM-0AP@YKZS&+WVNWZUMI[QVWX[MLW
XZWOZIUI"t7UQVQ[\ZWLI2][\QÃI2W[Å-L]IZLW+IZLWbWTIVÃW]MUVW^MUJZWLMW8ZWOZIUI6IKQWVITLM)XWQWIW;Q[\MUI
8ZQ[QWVIT)QVQKQI\Q^I\MUL]I[UM\I[XZQVKQXIQ["bMZIZWLÅßKQ\LM^IOI[NMUQVQVI[MZML]bQZWVÖUMZWLMXZM[W[MULMTMOIKQI[
LMXWTÉKQI\ZIV[NMZQVLWXIZIKILMQI[XÖJTQKI[7OW^MZVWNMLMZIT\IUJÅUIV]VKQI]UI[ÅZQMLMVW^I[VWZUI[KWUWWJRM\Q^WLM
melhorar a gestão do sistema prisional, como a criação da Estratégia Nacional de Alternativas Penais. A expectativa é gerar, pelo
UMVW[UQT^IOI[IUXTQIVLWW]KWV[\Z]QVLWVW^W[M[\IJMTMKQUMV\W[-[[M\W\IT[MLQ^QLMMUUQTNMUQVQVI[MUQTMU
KILMQI[XÖJTQKI[UI[K]TQVI[8IZ\QKQXIZIULWXZWOZIUIWLQZM\WZLW,MXIZ\IUMV\W8MVQ\MVKQ½ZQW6IKQWVIT,MXMV)]O][\W:W[[QVQ#
e o diretor-executivo da Fundação Nacional de Amparo ao Preso (Funap), Adlaberto Monteiro”.

12. 1[[WV¿WY]MZLQbMZY]MM[\M[KWUXWVMV\M[ZMÖVIUUMLQLI[LMK]Z\WXZIbWW]MNÆUMZI[UI[Y]MNIbMU]ULQZMKQWVIUMV\W
M[XMKÉßKWLMZMK]Z[W[MM[NWZÃW[LMKWWZLMVIÿWMUN]VÿWLMLMUIVLI[UIQ[XZMUMV\M[IL^QVLI[LWLMJI\MMTMQ\WZITWKI[W
do “crack”) ou de eventos certos no tempo (Copa e Olimpíadas).

13. ¦M`XZM[[WILMUIQ[MUKIZ½\MZ\M`\]ITVWtXTIVWLMIÿWuXIZIW-[\ILWLM)TIOWI[K]RWWJRM\Q^WM[XMKÉßKWÅMV]VKQILW
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redução dos índices de violência e criminalidade no estado”.

14. Apesar de esta avaliação ser formulada em termos bastante razoáveis, parece mais que justo colocá-la sob suspeição, pois
nem o próprio ex-ministro Marcio Thomaz Bastos levou-a a ferro e fogo. Ao contrário, Thomaz Bastos cuidou de fazer grandes
mudanças institucionais quando assim entendeu ser correto, como no caso da chamada “Reforma do Judiciário”, que enfrentou
KWZXWZI\Q^Q[UW[MXWTÆUQKI[R½LM[LMIKZQIÿWLM]UI]VQLILMM[XMKÉßKIVW5QVQ[\ÅZQWLI2][\QÃIXIZITQLIZKWUW\MUII
Secretaria de Reforma do Judiciário.

15. )ZQOWZM[[IXW[[QJQTQLILMR½M[\I^IOIZIV\QLIXMTW+ÏLQOWLM8ZWKM[[W8MVIT+8+K]RWIZ\ !XZM^QIIKZQIÿWLM]UtJWTM\QU


QVLQ^QL]ITuXIZIKILIXZWKM[[WK]RW[LILW[IOZMOILW[[MZQIUtTIVÃILW[CEMUUIXIMZMUM\QLW[IW;MZ^QÃWLM-[\I\É[\QKI
,MUWOZ½ßKI5WZITM8WTÉ\QKILW5QVQ[\ÅZQWLI2][\QÃIu6WMV\IV\WWLQ[XW[Q\Q^WKIZMKQILMUMKIVQ[UW[LMMNM\Q^IÿW)4MQLW
;QVM[XWNMZMKMM[[M[UMKIVQ[UW[VI[^½ZQI[LQUMV[ÑM[MUY]MMTM[[¿WVMKM[[½ZQW[M[XMKQITUMV\M"LMßVQÿWLIIZY]Q\M\]ZIMLI
OW^MZVIVÃILW[Q[\MUI#UMKIVQ[UW[LMMV\ZILI\ZIV[UQ[[¿WM^ITQLIÿWLW[LILW[#MKZQ\ÅZQW[UMQW[MXZWKMLQUMV\W[XIZII
publicização das informações coletadas e armazenadas no sistema.

16. +N4MQV LMIZ\—…—"t7QV\MOZIV\MY]MLMQ`IZLMNWZVMKMZW]I\]ITQbIZ[M][LILW[MQVNWZUIÃÑM[VW


;QVM[XV¿WXWLMZ½ZMKMJMZZMK]Z[W[VMUKMTMJZIZXIZKMZQI[KWUI=VQ¿WXIZIßVIVKQIUMV\WLMXZWOZIUI[XZWRM\W[W]IÃÑM[LM
[MO]ZIVÃIXÖJTQKIMLW[Q[\MUIXZQ[QWVITVINWZUILWZMO]TIUMV\Wu

17. 8IZIM[[MßUR]V\WKWU8QZM[M4WXMb2Z\MVPWLMNMVLQLWIQUXWZ\¾VKQILM]UIIJWZLIOMUUIQ[Y]ITQ\I\Q^IVW[XZWKM[[W[
de monitoramento e avaliação, sem a qual não é possível entender os mecanismos que respondem pela trajetória de uma política
XÖJTQKI

18. -[[I[UMLQLI[XIZMKMUIQVLIUIQ[ZMTM^IV\M[Y]IVLW[MKWV[QLMZIUI[LQßK]TLILM[XIZIIKWV[\Z]ÿWLMXZM[ÉLQW[Y]MMV^WT^MU
desde a localização de terrenos e a aceitação das comunidades do entorno até problemas típicos de processos licitatórios em
construção: ao centrar fogo na construção de presídios, o governo corre um grande risco de insucesso no alcance dos seus
objetivos, ou seja, retirar presos provisórios das carceragens de delegacias de polícia. As medidas aqui citadas ajudariam a “gerar
^IOI[u[MUIKWV[\Z]ÿWLMVW^I[]VQLILM[XZQ[QWVIQ[IXMVI[UMLQIV\M"QWKWUJI\M¼ZMQVKT][¿WMQQIXZWL]ÿWLI[MO]ZIVÃI
VMKM[[½ZQI¼]\QTQbIÿWXMTW[2]ÉbM[LI[UMLQLI[KI]\MTIZM[V¿WZM[\ZQ\Q^I[LMTQJMZLILM

19. Ou se tem chuva e não se tem sol/ ou se tem sol e não se tem chuva!/ Ou se calça a luva e não se põe o anel,/ ou se põe o anel
MV¿W[MKITÃIIT]^I 9]MU[WJMVW[IZM[V¿WßKIVWKP¿WY]MUßKIVWKP¿WV¿W[WJMVW[IZM[¦]UIOZIVLMXMVIY]M
não se possa/ estar ao mesmo tempo nos dois lugares!/ Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,/ ou compro o doce e gasto
o dinheiro./ Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…/ e vivo escolhendo o dia inteiro!/ Não sei se brinco, não sei se estudo,/ se saio
KWZZMVLWW]ßKW\ZIVYØQTW5I[V¿WKWV[MO]QMV\MVLMZIQVLIY]ITÅUMTPWZ"[MÅQ[\WW]IY]QTW

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“Nem isto, nem aquilo”: trajetória e características da
política nacional de segurança pública (2000-2012)
Artigos

Fabio de Sá e Silva

Resumen Abstract
“Ni esto, ni lo otro”: trayectoria y características de la “Neither this nor that”: the evolution and features of
“Nem isto, nem aquilo”: trajetória e características da
política nacional de segurança pública (2000-2012)
Fabio de Sá e Silva

política nacional de seguridad pública (2000-2012) Brazil’s national public safety policy (2000-2012).
)]VY]M MT \MUI LM TI [MO]ZQLIL XÖJTQKI PIaI QV[XQZILW The topic of public safety has inspired a large number
innumerables estudios académicos y técnicos a lo largo de WN IKILMUQK IVL \MKPVQKIT [\]LQM[ QV \PM TI[\ NM_ aMIZ[
TW[ ÖT\QUW[ IÍW[ PI [QLW XWKI TI I\MVKQÏV LMLQKILI I TI[ 0W_M^MZTQ\\TMI\\MV\QWVPI[JMMVLM^W\ML\W\PMUMI[]ZM[
UMLQLI[ ILWX\ILI[ XWZ TW[ OM[\WZM[ XÖJTQKW[ MV MT QV\MV\W that government managers have adopted to address the
LMQV\MZ^MVQZMVTW[X]V\W[KZÉ\QKW[QLMV\QßKILW[MVIY]MTTI[ SMa Q[[]M[ ZIQ[ML QV \PM[M [\]LQM[ IVL ZMàMK\ML QV X]JTQK
M^IT]IKQWVM[aZMàMRILW[XWZTIXZWXQIWXQVQÏVXÖJTQKI-[\M WXQVQWV<PQ[XIXMZ[MMS[\WLM[KZQJMIPIZLTaM`XTWZMLßMTL
IZ\ÉK]TWQV\MV\ILM[KZQJQZM[\MKIUXWIÖVXWKWLMTQUQ\ILWMT of research, namely that of government action in the realm
de la acción de los gobiernos en el tema de la seguridad of public safety, and to outline both the evolution and major
XÖJTQKI ZMKWV[\Z]aMVLW TI \ZIaMK\WZQI a LMTQVMIVLW TI[ features of Brazil’s “national policy for public safety” (PNSP)
principales características de lo que se puede llamar de una JM\_MMVIVL
tXWTÉ\QKIVIKQWVITLM[MO]ZQLILXÖJTQKIu86;8MV\ZM
a Keywords: 8]JTQKXWTQKQM[#X]JTQK[INM\a

Palabras clave: 8WTÉ\QKI[XÖJTQKI[#;MO]ZQLILXÖJTQKI

Data de recebimento: 10/07/2012


Data de aprovação: 07/08/2012

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