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trajetória e características da
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Fabio de Sá e Silva
Fabio de Sá e Silva é graduado (USP) e mestre (UnB) em Direito e doutorando em Direito, Política e Sociedade pela Northeastern
=VQ^MZ[Q\aMU*W[\WV-[\ILW[=VQLW[.WQLQZQOMV\MVW,MXMV52MKWV[]T\WZMUXZWRM\W[^WT\ILW[¼UMTPWZQILW[Q[\MUILM
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pesquisa e chefe de gabinete da Presidência do Ipea.
Resumo
-UJWZIW\MUILI[MO]ZIVÃIXÖJTQKI\MVPIQV[XQZILWQVÖUMZW[M[\]LW[IKILÆUQKW[M\ÅKVQKW[IWTWVOWLW[ÖT\QUW[
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86;8MV\ZMM
Palavras-Chave
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E mbora o tema da segurança pública te-
nha inspirado inúmeros estudos acadê-
micos e técnicos ao longo dos últimos anos, a
ciativas necessárias para enfrentá-lo) não resul-
ta de escolhas puramente “racionais” – ou seja,
baseadas no estabelecimento da melhor relação
maior ênfase desta produção tem recaído sobre possível entre meios e fins. Ao contrário, esse
mais bem realizado no âmbito dos sistemas de po- para enfrentar aquele legado: criação da Secre-
lítica pública, tendo como caso paradigmático o taria Nacional de Segurança Pública (Senasp),
Sistema Único de Saúde (SUS). no Ministério da Justiça (MJ), estabelecendo
unidade de coordenação de proposições refor-
Outra variável importante é a plena vigên- mistas até então dispersas na agenda federal;
cia de uma ordem democrática. Neste contexto, construção, em 2000, do I Plano Nacional de
não apenas a sociedade civil – em suas várias Segurança Pública (O Brasil Diz Não à Violên-
formas de expressão, como alerta Gurza-Lavalle cia); e criação do Fundo Nacional de Seguran-
(2010) –, mas também especialistas e veículos ça Pública (FNSP), o qual instituiu, no plano
de mídia são interlocutores importantes e per- federal, maior poder de indução e articulação
manentes no processo de formação das políticas sistêmica de iniciativas.
públicas. Por meio de sucessivas coalizões (SA-
BATIER, 2007), estes atores desestabilizam cer- De um ponto de vista mais técnico, o plano
tezas e impulsionam mudanças de paradigma do governo FHC tinha vários defeitos, incor-
no campo, ainda que de maneira incremental. porando, por exemplo, iniciativas fragmentadas
(eram 15 compromissos e 124 ações) e com di-
Até o início dos anos 2000, o panorama reções potencialmente contraditórias (p. ex., a
brasileiro na segurança pública era marcado por “eliminação de chacinas e execuções sumárias”,
duas características que estabeleciam franca ten- no compromisso no 9, e a “inibição de gangues
são com estas variáveis. A primeira era a divisão e combate à desordem social”, no compromisso
rígida de competências no plano federativo, a no 8). No entanto, alguns de seus pontos abri-
qual conferia aos Estados grande autonomia na ram oportunidades relevantes de experimen-
concepção e na execução de suas próprias me- tação em temas que mais tarde revelar-se-iam
didas e iniciativas no setor. A ação do governo estruturais nos debates da área. É o caso: da
federal resumia-se, basicamente, à mobilização “integração operacional das polícias” (ação 8 do
da Polícia Federal (PF) e da Polícia Rodoviária compromisso no 1, “combate ao narcotráfico e
Federal (PRF), não raro de maneira desarticu- ao crime organizado”); e da busca pela “integra-
lada da ação das forças estaduais (OLIVEIRA ção de programas sociais de prevenção”, decor-
JR., 2010b). A segunda correspondia à centrali- rentes da implementação da ação 3 do compro-
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misso no 15, que deu origem a uma iniciativa Um dos principais pressupostos do plano
específica e bastante vanguardista, o Plano de adotado no primeiro governo Lula era de que
Integração e Acompanhamento de Programas a PNSP carecia de planejamento e gestão. O
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Sociais de Prevenção da Violência (Piaps). modelo alternativo a ser induzido envolvia
bom diagnóstico da violência e da criminali-
As possibilidades abertas pela criação dade, o qual alimentaria “ações preventivas,
da Senasp e do FNSP, por sua vez, só foram estratégicas, orientadas e permanentemente
exercitadas muito lentamente. Alguns passos monitoradas” por atores da segurança públi-
importantes foram dados a partir do primei- ca e do sistema de justiça criminal (Figura 1).
ro governo do então presidente Luiz Inácio Dessa forma, ao invés de reagir a demandas
Valorização e Estruturação e
Formação Modernização
Profissional da Perícia
“Nem isto, nem aquilo”: trajetória e características da
política nacional de segurança pública (2000-2012)
Fabio de Sá e Silva
Gestão do
Prevenção
Conhecimento
Controle Externo
Reorganização Sem prejuízo da pauta e Participação
Institucional
dos Estados Social
Um dos mais altos pontos deste plano foi nome de Sistema Único de Segurança Públi-
a proposição de institucionalidade própria, à ca (Susp) (Figura 3). Nas palavras de Soares
qual caberia a tarefa de coordenar a integra- (2007):
ção de forças, abordagens e níveis de governo. O SUSP não implicaria a unificação das polícias,
Os Gabinetes de Gestão Integrada (GGIs) mas a geração de meios que lhes propiciassem
surgiam, assim, nos Estados e municípios, trabalhar cooperativamente, segundo matriz
como “foros deliberativos e executivos, com- integrada de gestão, sempre com transparência,
postos por representantes das agências de se- controle externo, avaliações e monitoramento
gurança pública e justiça criminal, que operam corretivo. Nos termos desse modelo, o trabalho
por consenso, sem hierarquia, respeitando a policial seria orientado prioritariamente para a
autonomia das instituições que o compõem” prevenção e buscaria articular-se com políticas
(BRASIL, 2003b). sociais de natureza especificamente preventiva.
Supervisionados por comitês gestores nos Parece desnecessário dizer que a indução
Estados e na União, os GGIs eram a base desse novo modelo demandaria audaciosos
de estrutura de governança modelada como programas de reforma das instituições da segu-
sistema de política pública, ao qual se deu o rança, permeados pela integração operacional e
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Figura 3 - Criação do Sistema Único de Segurança Pública
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Política Nacional de Segurança Pública
GGI
cultural entre forças (polícias e guardas) e abor- tituições, o modelo de polícia que desejam,
dagens (repressiva e preventiva), ao longo dos precisam e/ou podem ter. Sendo assim, cada
diversos níveis de governo, sob algum crivo de estado estaria autorizado a mudar ou manter o
“participação” e “controle social”, por meio de status quo, conforme julgasse apropriado. Isto é,
ouvidorias independentes e até mesmo conse- poderia manter o quadro atual, caso avaliasse
lhos. Assim é que, como uma espécie de pano que a ruptura do ciclo do trabalho policial, re-
de fundo do plano, havia a curiosa proposta de presentada na organização dicotômica, Polícia
experimentalismo nas formas organizacionais Militar [PM] – Polícia Civil, estivesse funcio-
de prestação dos serviços de segurança, sobre- nando bem. Caso contrário, se a avaliação fosse
tudo as polícias. Conforme o longo, porém ne- negativa – caso se constatasse desmotivação dos
cessário, depoimento de Soares (2007): profissionais e falta de confiança por parte da
Paralelamente à aludida institucionalização do população, ineficiência, corrupção e brutali-
SUSP, o Plano Nacional de Segurança Pública dade –, mudanças poderiam ser feitas e novos
do primeiro mandato do presidente Lula pro- modelos seriam experimentados. Por exemplo,
punha a desconstitucionalização das polícias, a unificação das atuais polícias estaduais; ou a
o que significa a transferência aos Estados do criação de polícias metropolitanas e municipais
poder para definirem, em suas respectivas cons- (pelo menos nos municípios maiores) de ciclo
sabendo-se, entretanto, que todas atuariam em pesquisas e a coleta de dados que, no entanto,
regime de ciclo completo, ou seja, investigando pouco informaram a gestão estratégica original-
e cumprindo o patrulhamento uniformizado. mente proposta. A articulação entre repressão
e prevenção também teve algum progresso, re-
Esse aspecto estruturante do plano não é sultando na celebração de convênios com vários
trivial, dado o longo histórico de críticas ao municípios em torno de projetos preventivos. Já
funcionamento das polícias no Brasil, que, em a formação dos profissionais da segurança pú-
“Nem isto, nem aquilo”: trajetória e características da
política nacional de segurança pública (2000-2012)
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outros tempos, já havia ensejado até mesmo blica ganhou grande visibilidade, com a promo-
propostas de extinção de categorias específi- ção de iniciativas de capacitação a distância e o
cas, como a Polícia Militar. Nesse aspecto, o surgimento da Rede Nacional de Altos Estudos
plano sugeria via intermediária para lidar com em Segurança Pública (Renaesp).
a desilusão acerca das formas organizacionais
existentes, estimulando o surgimento de novos O quadro geral da política, no entanto,
desenhos de polícia, mas induzindo-lhes a in- ainda sugeria mudanças modestas. O Gráfico
tegração no âmbito dos GGIs. 1, extraído de estudo de Costa e Grossi (2007)
sobre os desembolsos do FNSP no período
A implementação desse plano ocorreu ape- 2000-2005, demonstra que a compra de equi-
nas em parte, com alguns deslocamentos rele- pamentos para as polícias permaneceu como
vantes na agenda. O tema das reformas orga- a linha hegemônica, com notável distância de
nizacionais foi retirado completamente da pau- outros componentes da política.
Instalações
4%
Equipamentos
86%
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O capítulo subsequente na construção da o programa também incorria em fragmentação,
PNSP é formado pelo Programa Nacional de compreendendo nada menos que 94 ações, cuja
Segurança com Cidadania (Pronasci), criado responsabilidade de execução encontrava-se dis-
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no segundo governo Lula (2007-2010), quan- persa entre vários órgãos de governo. Outra era
do da gestão do ex-ministro Tarso Genro na a de que, quando apropriado localmente, não
pasta da Justiça. Propondo intervir “não [nas] era raro que o programa perdesse suas virtudes
consequências, mas [nas] causas da criminali- conceituais. Em análise do desempenho do Pro-
dade” (HAMÚ, 2009) e adotando como foco nasci datada de 2009 e baseada na experiência
prioritário jovens de 18 a 24 anos, o Pronasci do município do Rio de Janeiro, por exemplo,
deslocou o equilíbrio de prioridades entre re- Rodrigues (2009) destaca que:
jetos de prevenção. Houve, portanto, descasa- tuições da segurança pública acabam sendo
mento das ações de policiamento comunitário assimilados. Desse modo, naturaliza-se o le-
e dos projetos sociais mais importantes do Pro- gado da ditadura, chancelando-se a transição
nasci. (RODRIGUES, 2009) incompleta como a transição possível. O Pro-
nasci resigna-se a ser apenas um bom plano
Note-se que essa crítica remete a duas caracte- destinado a prover contribuições tópicas.
rísticas potencialmente problemáticas do Pronas-
“Nem isto, nem aquilo”: trajetória e características da
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ci. Por um lado, o programa operava mediante a Como saldo dessa história institucional rela-
oferta de soluções pré-concebidas aos municípios tivamente curta, mas repleta de inovações, po-
parceiros, que a este “aderiam”. Neste caso, era de-se então indicar um quadro de avanços nada
fundamental para o sucesso do programa que os desprezíveis. Dois apresentam maior destaque:
municípios “aderentes” não apenas avaliassem a de um lado, a instalação de maior capacidade de
adequação das soluções aos problemas que viven- indução e coordenação da PNSP no âmbito fe-
ciavam, mas também partilhassem da visão que deral, com a criação do FNSP e a maior capila-
inspirou a formulação destas soluções no nível ridade federativa e societal das ações executadas
central.4 Por outro lado, o Pronasci não dispunha no âmbito do Pronasci; de outro, a mudança de
de um adequado monitoramento de processo, paradigma no setor – ou seja, da maneira pela
que permitisse identificar distorções substantivas qual atores nele relevantes definem o problema
e propor medidas corretivas. e selecionam alternativas de ação.
Mas a crítica mais comum e, ao mesmo Isto fica visível no Gráfico 2, produzido
tempo, mais contundente levantada contra por pesquisadores da Fundação Getulio Vargas
o Pronasci era de que este não incorporou a (FGV), o qual classifica os projetos aprovados
agenda de reformas nas organizações da segu- pelo MJ no âmbito do Pronasci em 2008 em
rança pública. Neste sentido, Soares (2007) três categorias: segurança preventiva, seguran-
anota que, no programa, ça repressiva e segurança defensiva.
O tema decisivo, as reformas institucionais,
não é sequer mencionado – provavelmente Para a classificação dos projetos, segundo
por conta de seu caráter politicamente con- esclarece o texto:
trovertido, dada a indefinição das lideranças Foram considerados como segurança repres-
governamentais a respeito do melhor mode- siva os projetos destinados a ações típicas de
lo a adotar, e de seu potencial desagregador, policiamento ostensivo (...) Como segurança
derivado das inevitáveis reações corporativas defensiva foram considerados os projetos vol-
que suscitaria. Assim, com o SUSP anêmico tados para a implementação de policiamento
e sem o seu complemento institucional – a comunitário, capacitação dos profissionais de
desconstitucionalização ou alguma fórmula segurança, valorização profissional e incre-
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Gráfico 2 - Valor dos projetos aprovados no Ministério da Justiça no
âmbito do Pronasci
2008
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Segurança defensiva Segurança preventiva
R$ 254.210.800,00 R$ 195.577.929,00
.WV\M".]VLIÿW/M\]TQW>IZOI[!
mento dos projetos de gestão. Por fim, foram governança e monitoramento. A emergência do
considerados como segurança preventiva os governo federal como coordenador da política, a
projetos voltados a ações sociais e relaciona- ampliação do entendimento sobre o que é pro-
dos aos diversos atores públicos envolvidos duzir segurança pública e a participação mais
nessas políticas (2009). ativa dos municípios na PSNP criam demanda
por mais investimentos na área. O Pronasci teve
Embora essa agregação ainda possa mas- o mérito de incrementar substancialmente os re-
carar alguns problemas, como o peso do Bol- cursos disponíveis no nível federal, tendo recebi-
sa Formação em relação a outras iniciativas do previsão de R$ 6,7 bilhões, entre 2008 e 2012.
(INESC, 2010), fato é que o gráfico representa No entanto, trata-se ainda de um programa cujo
deslocamento já bem mais significativo do eixo orçamento – diferentemente do FNSP – não se
de prioridades da PSNP para além do binômio beneficia de receitas fixas. Assim, os recursos do
armamento/viaturas. Em outras palavras, após Pronasci devem ser negociados a cada ano junto
uma década de PNSP, já não se pode mais di- ao Congresso Nacional e podem ser facilmente
zer que os Estados e as polícias de ação osten- contingenciados ou redirecionados pela cúpula
siva são os únicos interlocutores na construção do governo. Isto sem falar na baixa capacidade
de estratégia para a produção de segurança. de financiamento em nível subnacional, que tem
interditado, por exemplo, debates sobre o “piso
Mas é preciso também reconhecer a existência salarial” das polícias. A fórmula hoje existente,
de ao menos três limites na formação da PNSP, portanto, pode não ser inconveniente para as
indicados no Quadro 1. O primeiro refere-se à ações imediatas, mas prejudica sensivelmente o
falta de condições adequadas de financiamento, planejamento de mais longo prazo.
Avanços Limites
% Construção de paradigma
para o setor, o da “segurança % Inexistência de reformas estruturais nas
cidadã” organizações, como originalmente proposto
Paralelamente à garantia de recursos, é neces- execução destas ações, no entanto, foi modesta
sário instituir espaços de deliberação e revisão, e desarticulada (SÁ E SILVA, 2010). Isto não é
em caráter permanente, das prioridades a serem de surpreender, tendo em vista que, na carteira
consideradas na mobilização destes recursos – ou de ações do Pronasci ofertadas aos gestores locais,
seja, de espaços de governança bem informada. A havia opções que rendiam menos desgaste e ge-
fragmentação na oferta de apoio pela gestão fede- ravam mais dividendos políticos que o investi-
ral e a distorção substantiva de projetos pelas ges- mento em presos e presídios. É preciso, pois, que
tões locais são dois lados de um problema: o da as prioridades sejam não apenas mais bem espe-
falta de clareza, entre todos os atores relevantes na cificadas, de um ponto de vista técnico e geren-
PNSP, sobre quais devem ser os focos principais cial, mas também mais bem construídas, de um
de investimento, seja porque falta informação, ponto de vista político, sob pena de que algumas
seja porque faltam metodologias de pactuação. delas se esvaziem na execução.
Isso não inviabiliza a construção de soluções O segundo limite resulta do fato de que, ao
criativas e efetivas, mas traz o risco de que estas longo de toda a trajetória da PNSP, os espaços
acabem relegadas a uma posição marginal ou de participação não apenas têm sido escassos,
instrumental, sobretudo quando expressam ver- mas também portadores de escopo de atuação
dadeira mudança paradigmática na política. Um bastante delimitado, que jamais alcançou o ci-
exemplo, no Pronasci, está na área penitenciária clo de gestão da política.
e, mais especificamente, prisional. Entre as 94
ações que compunham o programa, estavam: Desde que foram previstos como parte inte-
construção de presídios “diferenciados” para o grante do Susp, no PNSP do primeiro governo
público jovem; “qualificação de agentes peniten- Lula, os GGIs têm sido questionados por não
ciários”; e “formação profissional de presos”. A possuírem espaço para organizações da sociedade
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civil. A reação a este argumento afirma que os de efetividade do Conasp, considerando a sua
GGIs têm natureza operacional, e não de gestão, composição no biênio 2010-2012 (SÁ E SIL-
o que não comporta a participação social, embo- VA; DEBONI, 2012), esta questão ficou mais
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ra não afaste a necessidade de controle externo, que evidente. Entre as expectativas mantidas
por meio de órgãos como ouvidorias – ver, por pelos(as) conselheiros(as), ganhou destaque o
exemplo, Soares (2009). Ainda assim, o Susp pre- enfrentamento de problemas “estruturais” do
via comitês de gestão em níveis estadual e nacio- setor, como pré-condição para galgar avanços
nal, e nenhum destes contemplava a presença de importantes. Nas palavras de um entrevistado:
integrantes da sociedade civil. Fala-se hoje da integração de esforços nas três
esferas federativas, mas o SUSP tinha um ob-
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Tomados em conjunto, os componentes do do “plano de ação” para o Estado de Alagoas,
novo plano sugerem algumas inflexões impor- isso parece estar consubstanciado, por exem-
tantes, apresentadas a seguir. plo, na mobilização de peritos da “Força Na-
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cional de Segurança Pública” para dar apoio ao
Mudança no ponto ótimo de equilíbrio trabalho investigativo das polícias civis em ma-
entre entes federados téria de homicídios. Já no “programa nacional
De várias maneiras, o “Plano Nacional” de apoio ao sistema prisional”, foi o próprio
sugere uma discreta, porém significativa mu- diretor-geral do Departamento Penitenciário
dança no que se considera ser o “ponto ótimo” Nacional quem afirmou, em entrevista de TV,
de equilíbrio na relação entre os entes federa- que “o programa é um programa de apoio. Os
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a criação de uma “delegacia especializada” em – tendo em vista a divisão de competências
homicídios; já quando fala de “policiamento entre entes federados e a ênfase em aspectos
ostensivo e de proximidade”, chega a estimar institucionais, presentes no mesmo plano –,
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até despesas com combustível de aeronaves. será que isso não terá como preço uma perda
Ora, sem dúvida delegacias especializadas po- de capacidade de indução pelo governo federal
dem gerar melhores resultados na investigação e uma dissolução do paradigma da “segurança
de crimes, assim como, no longo prazo, a posse cidadã”, a duras penas consolidados no setor?
de indicadores detalhados (como o valor gasto O esforço de priorização é outro dado positivo,
em combustível para aeronaves) pode permitir mas – novamente, quando associado a outras
boas análises dos custos e benefícios incorridos características do plano – não pode acabar em-
A governança bem informada, por exem- Diante de todas essas (e outras) perguntas
plo, é um déficit histórico do setor que pode possíveis, é oportuno regressar à inspiração do
ser mais bem confrontado a partir de elemen- título deste artigo: o poema “Ou isto, ou aqui-
tos do novo plano, tais como a ênfase em pla- lo”, no qual Cecília Meireles (2001) ilustra a
nejamento, gestão e monitoramento. Todavia dificuldade de fazermos escolhas.19 O passado
nem aquilo” – ou seja, sem a solução “sistêmi- res e à sociedade, convém, assim, manter a vi-
ca”, com a qual muitos de nós sonhamos na úl- gilância e o engajamento nas discussões sobre
tima década. Mas isso não quer dizer que, dia o novo plano, com suas virtudes e limites, mas,
após dia, não estejamos fazendo escolhas, com sobretudo, com suas oportunidades e ameaças
ou sem as angústias – mas também com ou para a construção de uma verdadeira PNSP.
“Nem isto, nem aquilo”: trajetória e características da
política nacional de segurança pública (2000-2012)
Fabio de Sá e Silva
1. -[\MIZ\QOWM[\½JI[MILWMUIV½TQ[M[IV\MZQWZM[LM[MV^WT^QLI[MU;½M;QT^IM,MJWVQ
2. Isso imprime ao texto a natureza de “artigo” e não de “ensaio”. Embora o trabalho tenha um caráter marcantemente
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estudos e experimentos no nível local – a esta altura, já amparados por extensa literatura no nível internacional – revelavam que,
na produção de mais segurança, políticas de prevenção da violência, melhorias na gestão das organizações policiais e adoção de
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4. O caso mais bem-sucedido de implementação do Pronasci, neste aspecto, parece ser o da cidade de Canoas, no Rio Grande do Sul,
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6. 7ZMK]Z[WY]ITQßKILWI]UIM`XZM[[¿W]\QTQbILIVW[LMJI\M[MTMQ\WZIQ[UIQ[ZMKMV\M[XIZI[MZMNMZQZIWTMOILWLMOW^MZVW[
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investimentos e melhorias institucionais – a exemplo do Bolsa Família, do PAC e do “Minha Casa, Minha Vida” – que simplesmente
não têm paralelo no setor de segurança.
7. 6¿WKWV[\IY]MI\ÅIOWZI\MVPI[QLWZMITQbILIY]ITY]MZKMZQUÐVQIW]M^MV\WXIZIWTIVÃIUMV\WLM[\Mt8TIVW6IKQWVITuIW
contrário do que ocorreu com outros planos presidenciais. Embora enunciados como parte de um todo coerente, os componentes
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fragmentada, com um “Plano de Ação” para cada Estado.
8. )LMVWUQVIÿWLMtXTIVWuXIZMKMIJ[WT]\IUMV\MILMY]ILILWXWV\WLM^Q[\I\ÅKVQKWXWQ[[MV¿W[M\ZI\IUIQ[LM]UÖVQKW
programa, também não se trata, propriamente, de uma política. O que há é um conjunto de objetivos concretos e de estratégias
para alcançá-los, tudo o quanto, obviamente, poderá ajudar, no médio/longo prazo, a conformar uma política. Mas para que
o plano venha a alcançar o status de política, faltará incorporar soluções de caráter mais estruturante, em aspectos como o do
ßVIVKQIUMV\WWY]ITI\ÅWVLM[MXWLMXMZKMJMZKWV\QV]II][MV\MLIIOMVLINMLMZITMWLIXIZ\QKQXIÿWIY]ITIXM[IZLI
reforma do Conasp, não se traduziu na incorporação de atores sociais ao ciclo de gestão da PNSP, tanto assim que o novo plano foi
elaborado sem grande interlocução com aquele colegiado).
9. Uma exceção é o programa “Crack, é possível vencer”, mas, nesse caso, o desenho de caráter “municipalista” parece resultar mais
LIIJWZLIOMULM[IÖLMXÖJTQKIIXTQKILIIWXZWOZIUILWY]MLM]UILMKQ[¿WLM[MKWV[QLMZIZWU]VQKÉXQW]UTÏK][XZQ^QTMOQILW
para as políticas de segurança.
428 Rev. bras. segur. pública | São Paulo v. 6, n. 2, 412-433 Ago/Set 2012
10. 6ILMßVQÿWLW5QVQ[\ÅZQWLI2][\QÃIWt8ZWRM\W5]TPMZM[LI8IbÅ]UIQVQKQI\Q^ICEQV[\Q\]ÉLIXMTI4MQVM
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pelas e para as mesmas, a partir do empoderamento feminino, além de construir e fortalecer redes de prevenção da violência
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Artigos
são mulheres da própria comunidade, capacitadas em temas como gênero e direitos da mulher, direitos humanos e cidadania,
violências, fatores de risco e protetivos e prevenção a drogadição, para agirem como multiplicadoras do Programa, tendo como
incumbência prevenir a violência juvenil e o envolvimento dos jovens com as drogas, bem como a violência de gênero”. Já o
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formação desses jovens é realizada por intermédio de um Percurso Social Formativo que inclui temas como: formação cidadã e
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11. +NWXZWOZIUIt+MVI[LW*ZI[QTuLI<>6*:LM!LQ[XWVÉ^MTMU"$P\\X"aW]\]JM-0AP@YKZS&+WVNWZUMI[QVWX[MLW
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melhorar a gestão do sistema prisional, como a criação da Estratégia Nacional de Alternativas Penais. A expectativa é gerar, pelo
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e o diretor-executivo da Fundação Nacional de Amparo ao Preso (Funap), Adlaberto Monteiro”.
12. 1[[WV¿WY]MZLQbMZY]MM[\M[KWUXWVMV\M[ZMÖVIUUMLQLI[LMK]Z\WXZIbWW]MNÆUMZI[UI[Y]MNIbMU]ULQZMKQWVIUMV\W
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do “crack”) ou de eventos certos no tempo (Copa e Olimpíadas).
13. ¦M`XZM[[WILMUIQ[MUKIZ½\MZ\M`\]ITVWtXTIVWLMIÿWuXIZIW-[\ILWLM)TIOWI[K]RWWJRM\Q^WM[XMKÉßKWÅMV]VKQILW
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redução dos índices de violência e criminalidade no estado”.
14. Apesar de esta avaliação ser formulada em termos bastante razoáveis, parece mais que justo colocá-la sob suspeição, pois
nem o próprio ex-ministro Marcio Thomaz Bastos levou-a a ferro e fogo. Ao contrário, Thomaz Bastos cuidou de fazer grandes
mudanças institucionais quando assim entendeu ser correto, como no caso da chamada “Reforma do Judiciário”, que enfrentou
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Secretaria de Reforma do Judiciário.
17. 8IZIM[[MßUR]V\WKWU8QZM[M4WXMb2Z\MVPWLMNMVLQLWIQUXWZ\¾VKQILM]UIIJWZLIOMUUIQ[Y]ITQ\I\Q^IVW[XZWKM[[W[
de monitoramento e avaliação, sem a qual não é possível entender os mecanismos que respondem pela trajetória de uma política
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18. -[[I[UMLQLI[XIZMKMUIQVLIUIQ[ZMTM^IV\M[Y]IVLW[MKWV[QLMZIUI[LQßK]TLILM[XIZIIKWV[\Z]ÿWLMXZM[ÉLQW[Y]MMV^WT^MU
desde a localização de terrenos e a aceitação das comunidades do entorno até problemas típicos de processos licitatórios em
construção: ao centrar fogo na construção de presídios, o governo corre um grande risco de insucesso no alcance dos seus
objetivos, ou seja, retirar presos provisórios das carceragens de delegacias de polícia. As medidas aqui citadas ajudariam a “gerar
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VMKM[[½ZQI¼]\QTQbIÿWXMTW[2]ÉbM[LI[UMLQLI[KI]\MTIZM[V¿WZM[\ZQ\Q^I[LMTQJMZLILM
19. Ou se tem chuva e não se tem sol/ ou se tem sol e não se tem chuva!/ Ou se calça a luva e não se põe o anel,/ ou se põe o anel
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não se possa/ estar ao mesmo tempo nos dois lugares!/ Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,/ ou compro o doce e gasto
o dinheiro./ Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…/ e vivo escolhendo o dia inteiro!/ Não sei se brinco, não sei se estudo,/ se saio
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Fabio de Sá e Silva
Resumen Abstract
“Ni esto, ni lo otro”: trayectoria y características de la “Neither this nor that”: the evolution and features of
“Nem isto, nem aquilo”: trajetória e características da
política nacional de segurança pública (2000-2012)
Fabio de Sá e Silva
política nacional de seguridad pública (2000-2012) Brazil’s national public safety policy (2000-2012).
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innumerables estudios académicos y técnicos a lo largo de WN IKILMUQK IVL \MKPVQKIT [\]LQM[ QV \PM TI[\ NM_ aMIZ[
TW[ ÖT\QUW[ IÍW[ PI [QLW XWKI TI I\MVKQÏV LMLQKILI I TI[ 0W_M^MZTQ\\TMI\\MV\QWVPI[JMMVLM^W\ML\W\PMUMI[]ZM[
UMLQLI[ ILWX\ILI[ XWZ TW[ OM[\WZM[ XÖJTQKW[ MV MT QV\MV\W that government managers have adopted to address the
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IZ\ÉK]TWQV\MV\ILM[KZQJQZM[\MKIUXWIÖVXWKWLMTQUQ\ILWMT of research, namely that of government action in the realm
de la acción de los gobiernos en el tema de la seguridad of public safety, and to outline both the evolution and major
XÖJTQKI ZMKWV[\Z]aMVLW TI \ZIaMK\WZQI a LMTQVMIVLW TI[ features of Brazil’s “national policy for public safety” (PNSP)
principales características de lo que se puede llamar de una JM\_MMVIVL
tXWTÉ\QKIVIKQWVITLM[MO]ZQLILXÖJTQKIu86;8MV\ZM
a Keywords: 8]JTQKXWTQKQM[#X]JTQK[INM\a
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