Antes de mais nada, gostaria de agradecer a indicação de meus colegas e
dizer que me sinto comprometida com esta indicação e que este é o motivo que me move a propor um projeto de gestão para a área de Artes/Música. A primeira coisa que salta aos olhos de quem analisa a avaliação do quadriênio, é a baixa média dos programas em termos de comparação com os níveis internacionais. Como estive em mais de uma oportunidade estudando e pesquisando em universidades e instituições consagradas e de alto nível, não posso deixar de me surpreender com esta constatação. Somos realmente tão ruins e medíocres? Qual a dificuldade que nos impede de ter melhores avaliações? Do ponto de vista empírico, não observo esta inferioridade nas pesquisas e nos produtos. Então, investigar as causas das avaliações terem resultados tão fracos seria um de meus objetivos. Fui consultar outras áreas e observei que, independente do modelo prescrito para todas as áreas ser o mesmo, há grande autonomia em cada uma para estabelecer seus critérios de excelência. Alguns, muito interessantes e que nunca nos ocorreram. A área de filosofia, por exemplo, avalia a faixa etária e o gênero dos integrantes do programa. Pode ser que este levantamento não leve a conclusões muito quantificáveis em termos de produção acadêmica, mas, me pergunto: qual a faixa etária de nossos programas? Em que ela influencia na avaliação, ou melhor, na produtividade dos programas? Os mais jovens, ingressantes ou pós-docs, têm suas teses recentes, com farto material de publicação; os de meia idade, têm a energia da liderança de grupos de pesquisa ativos. Surpreendentemente, este fator é importante e poderia ser mais um elemento a ser observado. Como estimular a maior participação de docentes em faixas etárias mais produtivas. A área de linguística e literatura incluiu em seus gráficos a origem da formação de seus quadros e o perfil característico de seus membros. Uma observação interessante, que me chamou a atenção, foi o percentual de docentes com formação em universidades estrangeiras. Neste caso, a origem destes docentes poderia nos apoiar no sentido de fortalecimento de laços para a internacionalização. Este critério, infelizmente, pode estar sendo ameaçado pela recente decisão de cortes no financiamento na pesquisa e principalmente no Ciência sem Fronteiras. A internacionalização depende não apenas de programas específicos para sua implantação, mas no efetivo contato humano e nos laços que são criados entre os participantes das trocas internacionais, em termos de pós- doc e de bolsas- sanduíche. Apoiar a internacionalização será assim mais uma meta que deverá se basear no espírito de colaboração. Lendo a avaliação da área, é possível pressentir que falta um sentimento de colaboração. A impressão, na leitura dos textos, é de que há mais competividade do que colaboração entre os programas. O intercâmbio entre os programas é muito pequeno e se limita a participação em bancas, muitas vezes porque esta é uma exigência. Os projetos de pesquisa colaborativos também são em pequeno número. Poucos professores em atividade participando de programas como professor visitante, mesmo entre os aposentados que prestariam grandes serviços para programas com dificuldades de crescimento. Os períodos de professor visitante, além dos benefícios aos programas receptores, serviriam como períodos de dedicação à pesquisa, com tempo para apoiar o programa que os recebe e para aprofundar suas próprias pesquisa, longe do excesso de carga horária e de atividades administrativas que impedem o bom desenvolvimento intelectual e artístico. Encontrar meios de fomentar a colaboração entre os programas, além das colaborações Minter e Dinter, ou mesmo, manter os laços entre os programas que ofereceram e que se formaram a partir destes tipos de colaboração e que são imediatamente abandonados graças ao espírito não colaborativo instaurado na área. No que se deve às publicações, me parece que esta área está muito bem definida pelos órgãos que fazem seu acompanhamento e as publicações da área têm acompanhado estas demandas. Talvez, o ideal fosse, mais uma vez, que as publicações com dificuldades se apoiassem e integrassem os conselhos editoriais de publicações que já alcançaram seu potencial. Como exigir da área uma produção qualitativa da área com tantas opções de veículos e poucos de boa qualificação? Há meios de publicar em livros, capítulos de livros e haveria um enxugamento do número de periódicos não muito bem avaliados. Agora é preciso enfrentar a maior dificuldade de nossa área: o qualis artístico. A maior conquista de nossa área é o qualis artístico. Entretanto, este fator não tem colaborado para melhorar a avaliação dos cursos. Pelo contrário, estatisticamente está prejudicando pois a grande maioria das produções artísticas foram classificadas como C. A avaliação C não pontua para os programas e dá a ilusão ao artista performer ou visual que esta atividade está servindo como elemento de valorização quando está e tornando um elemento de punição. A avaliação e a formulação do qualis artístico, que é nossa ferramenta mais importante, tem de servir para valorizar os programas e seus integrantes e não para julgamento produtivista. A ideia de que publicar muito e apresentar muitos produtos artísticos cai na armadilha do produtivismo que tem prejudicado a saúde física e emocional de docentes e discentes dos programas e cursos de pós graduação. Como cabe à área definir os seus critérios de avaliação, cabe a nós nos inserirmos ou não no produtivismo que tem nos pressionado e prejudicado. As chamadas avaliações qualitativas tem encontrado grande dificuldade de se impor, uma vez que ela própria, muitas vezes vem travestida de quantitatividade. Somos artistas e devemos defender nossa identidade, sem entretanto, transformar o artístico na mística do artista. Nós sabemos que a arte é difícil, que leva tempo para amadurecer, que as ideias custam a aparecer, que temos de nos preparar para enfrentar os desafios de produzir obras expressivas, que precisamos da reflexão e do sobre o fazer. Que temos de entender o mundo em que vivemos e estar à altura deste tempo. Que cada sub área do conhecimento, sua sociologia, sua antropologia e sua psicologia são importantes na transversalidade de seus devires e não na verticalidade de suas posições. Que as tecnologias estão para serem trabalhadas e desenvolvidas e não fetichizadas. Que o pensamento está presente em tudo e que ele não virá com facilidade. Com este plano-desbafo, espero ter me apresentado para a área que teve a generosidade de me indicar.