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Plano de trabalho para coordenação da área de

Artes/Música
Carole Gubernikoff
UNIRIO

Antes de mais nada, gostaria de agradecer a indicação de meus colegas e


dizer que me sinto comprometida com esta indicação e que este é o motivo que
me move a propor um projeto de gestão para a área de Artes/Música.
A primeira coisa que salta aos olhos de quem analisa a avaliação do
quadriênio, é a baixa média dos programas em termos de comparação com os
níveis internacionais. Como estive em mais de uma oportunidade estudando e
pesquisando em universidades e instituições consagradas e de alto nível, não
posso deixar de me surpreender com esta constatação. Somos realmente tão
ruins e medíocres? Qual a dificuldade que nos impede de ter melhores
avaliações? Do ponto de vista empírico, não observo esta inferioridade nas
pesquisas e nos produtos. Então, investigar as causas das avaliações terem
resultados tão fracos seria um de meus objetivos.
Fui consultar outras áreas e observei que, independente do modelo
prescrito para todas as áreas ser o mesmo, há grande autonomia em cada uma
para estabelecer seus critérios de excelência. Alguns, muito interessantes e que
nunca nos ocorreram. A área de filosofia, por exemplo, avalia a faixa etária e o
gênero dos integrantes do programa. Pode ser que este levantamento não leve a
conclusões muito quantificáveis em termos de produção acadêmica, mas, me
pergunto: qual a faixa etária de nossos programas? Em que ela influencia na
avaliação, ou melhor, na produtividade dos programas? Os mais jovens,
ingressantes ou pós-docs, têm suas teses recentes, com farto material de
publicação; os de meia idade, têm a energia da liderança de grupos de pesquisa
ativos. Surpreendentemente, este fator é importante e poderia ser mais um
elemento a ser observado. Como estimular a maior participação de docentes em
faixas etárias mais produtivas.
A área de linguística e literatura incluiu em seus gráficos a origem da
formação de seus quadros e o perfil característico de seus membros. Uma
observação interessante, que me chamou a atenção, foi o percentual de docentes
com formação em universidades estrangeiras. Neste caso, a origem destes
docentes poderia nos apoiar no sentido de fortalecimento de laços para a
internacionalização. Este critério, infelizmente, pode estar sendo ameaçado pela
recente decisão de cortes no financiamento na pesquisa e principalmente no
Ciência sem Fronteiras. A internacionalização depende não apenas de programas
específicos para sua implantação, mas no efetivo contato humano e nos laços que
são criados entre os participantes das trocas internacionais, em termos de pós-
doc e de bolsas- sanduíche. Apoiar a internacionalização será assim mais uma
meta que deverá se basear no espírito de colaboração.
Lendo a avaliação da área, é possível pressentir que falta um sentimento de
colaboração. A impressão, na leitura dos textos, é de que há mais competividade
do que colaboração entre os programas. O intercâmbio entre os programas é
muito pequeno e se limita a participação em bancas, muitas vezes porque esta é
uma exigência. Os projetos de pesquisa colaborativos também são em pequeno
número. Poucos professores em atividade participando de programas como
professor visitante, mesmo entre os aposentados que prestariam grandes
serviços para programas com dificuldades de crescimento. Os períodos de
professor visitante, além dos benefícios aos programas receptores, serviriam
como períodos de dedicação à pesquisa, com tempo para apoiar o programa que
os recebe e para aprofundar suas próprias pesquisa, longe do excesso de carga
horária e de atividades administrativas que impedem o bom desenvolvimento
intelectual e artístico. Encontrar meios de fomentar a colaboração entre os
programas, além das colaborações Minter e Dinter, ou mesmo, manter os laços
entre os programas que ofereceram e que se formaram a partir destes tipos de
colaboração e que são imediatamente abandonados graças ao espírito não
colaborativo instaurado na área.
No que se deve às publicações, me parece que esta área está muito bem
definida pelos órgãos que fazem seu acompanhamento e as publicações da área
têm acompanhado estas demandas. Talvez, o ideal fosse, mais uma vez, que as
publicações com dificuldades se apoiassem e integrassem os conselhos editoriais
de publicações que já alcançaram seu potencial. Como exigir da área uma
produção qualitativa da área com tantas opções de veículos e poucos de boa
qualificação? Há meios de publicar em livros, capítulos de livros e haveria um
enxugamento do número de periódicos não muito bem avaliados.
Agora é preciso enfrentar a maior dificuldade de nossa área: o qualis
artístico. A maior conquista de nossa área é o qualis artístico. Entretanto, este
fator não tem colaborado para melhorar a avaliação dos cursos. Pelo contrário,
estatisticamente está prejudicando pois a grande maioria das produções
artísticas foram classificadas como C. A avaliação C não pontua para os
programas e dá a ilusão ao artista performer ou visual que esta atividade está
servindo como elemento de valorização quando está e tornando um elemento de
punição. A avaliação e a formulação do qualis artístico, que é nossa ferramenta
mais importante, tem de servir para valorizar os programas e seus integrantes e
não para julgamento produtivista.
A ideia de que publicar muito e apresentar muitos produtos artísticos cai
na armadilha do produtivismo que tem prejudicado a saúde física e emocional de
docentes e discentes dos programas e cursos de pós graduação. Como cabe à
área definir os seus critérios de avaliação, cabe a nós nos inserirmos ou não no
produtivismo que tem nos pressionado e prejudicado. As chamadas avaliações
qualitativas tem encontrado grande dificuldade de se impor, uma vez que ela
própria, muitas vezes vem travestida de quantitatividade. Somos artistas e
devemos defender nossa identidade, sem entretanto, transformar o artístico na
mística do artista. Nós sabemos que a arte é difícil, que leva tempo para
amadurecer, que as ideias custam a aparecer, que temos de nos preparar para
enfrentar os desafios de produzir obras expressivas, que precisamos da reflexão
e do sobre o fazer. Que temos de entender o mundo em que vivemos e estar à
altura deste tempo. Que cada sub área do conhecimento, sua sociologia, sua
antropologia e sua psicologia são importantes na transversalidade de seus
devires e não na verticalidade de suas posições. Que as tecnologias estão para
serem trabalhadas e desenvolvidas e não fetichizadas. Que o pensamento está
presente em tudo e que ele não virá com facilidade.
Com este plano-desbafo, espero ter me apresentado para a área que teve a
generosidade de me indicar.

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