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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

INSTITUIÇÕES DE DIREITO III

Prof. VANESSA VARGAS

BLOCKCHAIN

Aluno
MARCELO ALVES TEIXEIRA

AGOSTO 2018
1- A Esperança sobre a Blockchain

Hoje dependemos completamente de grandes intermediários, como bancos, governos, grandes


empresas de mídia social, de cartão de crédito, e assim por diante. Da autenticação e identificação
de pessoas até compensação, liquidação e manutenção de registros. Mas há problemas crescentes.
Para começar, são centralizadose podem ser hackeados. JP Morgan, o governo federal dos EUA, e
outros descobriram isso da pior maneira. Eles excluem bilhões de pessoas da economia global que
não tem dinheiro suficiente para abrir uma conta bancária. Pode levar dias para o dinheiro se movi-
entar pelo sistema bancário numa cidade. Cobram 10 a 20% para enviar dinheiro a um outro país.
Eles capturam nossos dados, e não podemos monetizá-los ou usá-los para gerenciar melhor nossa
vida. Nossa privacidade está sendo minada. Eles se apropriaram da era digital de forma assimétrica:
temos criação de riqueza, mas temos desigualdade social crescente.
Em 2008, a indústria financeira entrou em colapso com a crise dos sub-prime americanos e uma
pessoa anônima chamada Satoshi Nakamoto criou um artigo no qual desenvolvia um protocolo para
um dinheiro digital chamado Bitcoin. e a tecnologia chamada originalmente Chain of Blocks
(corrente de blocos). Não foi a primeira iniciativa, foi um aperfeiçoamento. Antes existiram outras:
O DigiCash (1989), fundado por David Chaum para criar um sistema de moeda digital que permitia
aos usuarios realizar transações irrastreáveis e anônimas e faliu em 1998. O E-Gold (1996) era las-
treada por ouro fisico mas o fundador, Douglas Jackson, foi condenado por lavagem de dinheiro. O
Ripple Pay (2004) iniciou como sistema de trasferência digital entre partes confiáveis. O Reusable
Proofs of Work (RPOW) (2004) foi um protótipo de um sistema para emissão do tokens que podia
ser negociado em troca de trabalho de computação intensivo. Foi em parte inspírado pelo Bit-gold e
criado pelo segundo usuario do bitcoin, Hal Finney.

2- Fundamentos da blockchain

1º: Base de dados distribuída.


Cada indivíduo do Blockchain tem acesso integral à base de dados e seu histórico. Não é possí-
vel controlar os dados e informações, e cada indivíduo pode verificar os registros dos parceiros das
transações diretamente, sem intermediário.

2º: Comunicação de transmissão peer-to-peer (par a par)


A Comunicação acontece diretamente entre os pares ao invés de um ponto ou plataforma central.
Cada ponto ou plataforma armazena e encaminha informação para as demais plataformas.
3º: Transparência com quase-anonimato
Toda transação e seu valor são visíveis para qualquer um que tenha acesso ao sistema. Cada pon-
to, plataforma ou usuário do Blockchain tem um endereço alfanumérico com mais de 30 caracteres.
Os usuários podem optar por permanecer anônimos ou fornecer uma prova de sua identidade. As
transações ocorrem entre os endereços do Blockchain.

4º: Irreversibilidade dos registros


Quando uma transação é inserida no banco de dados e as contas são atualizadas, os registros não
podem ser alterados, pois estão vinculados a cada registro de transação que lhes foi apresentado.
Vários algoritmos e abordagens computacionais são implantados para garantir que a gravação no
banco de dados seja permanente, cronologicamente ordenada e disponível para os outros na rede.

5º: Lógica computacional


A natureza digital do livro-razão significa que as transações do Blockchain podem ser vinculadas
à lógica computacional e, em essência, programadas. Assim, os usuários podem configurar algori-
tmos e regras que desencadeiam automaticamente transações entre nós.

3 – Possibilidades na Economia e na Sociedade

Quando se passa um cartão, o fluxo de dados passa através de uma dúzia de empresas, cada uma
com seu próprio sistema, alguns deles sendo mainframes da década de 70, e três dias depois, ocorre
uma “liquidação". Com uma indústria financeira de blockchain, não haveria nenhuma liquidação,
porque o pagamento e a liquidação são a mesma atividade, uma alteração no livro de registro.
A tecnologia não cria prosperidade, as pessoas criam. E é uma oportunidade de reescrever o po-
der econômico e a velha ordem das coisas, e resolver alguns dos problemas mais difíceis do mundo.
Existem maneiras de como a bloockchain pode reduzir o problema da desigualdade.

A) 70% das pessoas no mundo que têm terra, não tem escritura. Hernando de Soto, economista
latino-americano, diz que este é o problema número um do mundo em termos de mobilidade eco-
nômica, porque sem escritura, a terra, não pode garantir empréstimos. Então, hoje, as empresas
estão trabalhando com os governos para colocar escrituras de terras e imóveis em um blockchain. E
uma vez que está lá, isso é imutável. Isso cria as condições de prosperidade para bilhões de pessoas.

B) Muitos consideram Airbnb, como parte da economia compartilhada. Na verdade, têm sucesso
porque eles não partilham. Elas agregam serviços e os vendem. Um aplicativo blockchain, ajudaria
a encontrar o quarto certo, ajudaria a fazer a contratação, identificaria os envolvidos, se encarregaria
dos pagamentos, através de pagamentos digitais embutidos no sistema. Lidaria ainda com reputa-
ção, porque, se classificasse um quarto como cinco estrelas, tal avaliação ficaria assim, imutável.

C) O maior fluxo de fundos do mundo é de remessas de dinheiro. São US$ 600 bilhões por ano e as
pessoas pagam em torno de 10%. O dinheiro leva de quatro a sete dias para chegar. Um aplicativo
de blockchain chamado Abra levou minutos e custa 2%. Esta é uma porta para a prosperidade.

D) Os dados são o ativo mais poderoso da era digital. Deixamos esse rastro atrás de nós ao longo
da vida. que formam uma imagem que sabe mais sobre nós que nós mesmos. Na blockchain vamos
varrendo todos esses dados podendo monetizar. E isso ajuda a nossa privacidade.

E) Criadores de conteúdo não recebem uma compensação justa porque o sistema de propriedade
intelectual foi quebrado. Um compositor que há 25 anos conseguiu vender 1 milhão de singles,
poderia ganhar cerca de US$ 45 mil. Hoje, um compositor com 1 milhão de acessos ganha 36 US$.

F) Instituições de ensino podem digitalizar seus certificados e registrar os identificadores únicos de


cada um deles na blockchain. Essa prática torna muito mais fáceis o combate a fraudes e a validação
da autenticidade e podem ser dispensados outros gastos com segurança, impressão de diplomas,
provisão de vias adicionais dos certificados.

G) Negócios ligados a área hospitalar podem emitir versões digitais de documentos e registrá-las na
blockchain, atribuíndo a cada uma delas um registro imutável do dia exato em que foram gerados.
Isso faz com que receituários médicos não sejam fraudados e nem reutilizados

H) Agronegócio e transportes cujo trajeto entre a produção e a entrega ao consumidor final passe
por múltiplas etapas. Pode-se usar a blockchain para guardar certificações de produção orgânica,
rastreio detalhado de safras do produtor ao consumidor, selos de recebimento, segurança da
alimentação, rastreamento de entregas com registro infraudável, transparente e em tempo real.

A partir dessa lógica, é possível imaginar operações bem mais rápidas e baratas envolvendo
automóveis, apartamentos, terrenos rurais, propriedade intelectual e contratos de todo tipo, de forma
indelével.
3- Asituação no Brasil

A) Ausência de jurisprudência
Existe dúvida se podemos dizer que as transações a tecnologia do Blockchain são válidas do
ponto de vista jurídico e se há segurança jurídica nas transações registradas no Blockchain. O foco
não está na formação de direitos e obrigações pela vontade das partes que utilizam uma solução
baseada em Blockchain, mas a possibilidade de disputa sobre direitos e obrigações criados a partir
de registros no Blockchain. Se a validade jurídica de uma transação concebida por aplicação em
Blockchain não for reconhecida em um litígio, as partes envolvidas na transação teriam apenas uma
ilusão de direitos e deveres, supostamente criados com a efetivação do negócio online. A confiança
do público em geral sobre a segurança proporcionada pela estrutura do Blockchain será irrelevante,
caso a fé na solução de Blockchain não se reflita no mundo jurídico e na prática forense.
Para os negócios cuja prova e validade independam de instrumento público ou outra formalidade
exigida em lei, não há por que pensar que o registro em Blockchain enfrentará dificuldades como
meio de prova como referência à regra geral do art. 225 do Código Civil (As reproduções fotográfi-
cas, cinematográficas, os registros fonográficos e, em geral, quaisquer outras reproduções mecâni-
cas ou eletrônicas de fatos ou de coisas fazem prova plena destes, se a parte, contra quem forem exi-
bidos, não lhes impugnar a exatidão) e do art. 369 do Código de Processo Civil (As partes têm o di-
reito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especi-
ficados neste Código, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir
eficazmente na convicção do juiz).Por outro lado, em nosso sistema jurídico a lei exige, às vezes,
solenidades como condição de validade ou eficácia para determinados negócios, como a escritura-
ção de ações nominativas prevista na Lei das S.A. (Lei nº 6.404/76), artigo 31 (A propriedade das
ações nominativas presume-se pela inscrição do nome do acionista no livro de ‘Registro de Ações
Nominativas’ ou pelo extrato que seja fornecido pela instituição custodiante, na qualidade de pro-
prietária fiduciária das ações) ou da propriedade imobiliária prevista no Código Civil, artigo 108
(Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos
que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de
valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País) e na Lei de Registro Públicos
(Lei nº 6.015/73) artigo 172 (No Registro de Imóveis serão feitos, nos termos desta Lei, o registro e
a averbação dos títulos ou atos constitutivos, declaratórios, translativos e extintos de direitos reais
sobre imóveis reconhecidos em lei, ‘inter vivos’ ou ‘mortis causa’ quer para sua constituição, trans-
ferência e extinção, quer para sua validade em relação a terceiros, quer para a sua disponibilidade”.)
A questão se a solenidade (ou a intenção) estaria cumprida pelos negociantes digitais esbarra na dis-
posição legal:“Quando a lei exigir instrumento público como da substância do ato, nenhuma outra
prova, por mais especial que seja, pode suprir-lhe a falta” (Código de Processo Civil, artigo 406).
Existe a dúvida se essa disposição probatória poderia ser superada por expressa vontade das partes,
mediante negócio jurídico processual ou por considerar Blockchain um instrumento público.

B) Banco Central
COMUNICADO Nº 25.306, DE 19 DE FEVEREIRO DE 2014 - "O Banco Central do Brasil
esclarece, inicialmente, que as chamadas moedas virtuais não se confundem com a “moeda eletrô-
nica” de que tratam a Lei nº12.865, de 9 de outubro de 2013, e sua regulamentação infralegal. "
Essas chamadas moedas virtuais não têm garantia de conversão para a moeda oficial, tampouco são
garantidos por ativo real de qualquer espécie”

C) Comissão de Valores Mobiliários


LEI No 6.385, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1976 - modificada em2001
São valores mobiliários sujeitos ao regime desta Lei:
I - as ações, debêntures e bônus de subscrição;
II - os cupons, direitos, recibos de subscrição e certificados de desdobramento relativos aos valores
mobiliários referidos no inciso II;
V - as cotas de fundos de investimento em valores mobiliários ou de clubes de investimento em
quaisquer ativos;
IX - quando ofertados publicamente, quaisquer outros títulos ou contratos de investimento coletivo,
que gerem direito de participação, de parceria ou de remuneração, inclusive resultante de prestação
de serviços, cujos rendimentos advêm do esforço do empreendedor ou de terceiros."

D) Receita Federal
“MOEDA VIRTUAL – COMO DECLARAR 447 — As moedas virtuais, muito embora não
sejam consideradas como moeda nos termos do marco regulatório atual, devem ser declaradas na
Ficha Bens e Direitos como “outros bens”, uma vez que podem ser equiparadas a um ativo finan-
ceiro. Elas devem ser declaradas pelo valor de aquisição.
“ALIENAÇÃO DE MOEDAS VIRTUAIS 607 — Os ganhos obtidos com a alienação de moedas
“virtuais” Os ganhos obtidos com a alienação de moedas virtuais cujo total alienado no mês
seja superior a R$ 35.000,00 são tributados, a título de ganho de capital, à alíquota de 15%.

E) BNDES
O BNDESToken é mecanismo para rastrear a aplicação de recursos públicos em projetos
de financiamento do BNDES, fornecendo à sociedade a informação de como esses recursos estão
promovendo o desenvolvimento do país. Cada unidade do BNDESToken equivale a um Real (1:1).
Na prática, portanto, o BNDESToken é apenas uma representação digital do Real, análogo a um
título de crédito para futuro recebimento do recurso. Adota-se seis premissas que simplificam a
adoção da proposta.
1) O token não representa aumento da base monetária a economia, pois o BNDES deixa de liberar o
Real, mas o mantém como lastro. Isso diminui o risco jurídico/regulatório da solução.
2) O BNDESToken não pode ser repassado indefinidamente. Essa premissa visa evitar a criação de
um mercado secundário do uso do token, o que poderia introduzir risco regulatório.
3) O total de BNDESToken de uma conta não se modifica ao longo do tempo. Ou seja, não há
correção de inflação no saldo de tokens de uma conta.
4) Apenas pessoas jurídicas com e-CNPJ podem receber BNDESToken.
5) Os tokens são fungíveis. Por facilidade de implementação, não existe um identificador único para
cada BNDESToken. Se for necessário rastrear algum recurso de forma segregada dos demais, será
necessário rever essa última simplificação.
6) Por simplicidade de implementação, os eventos de transferência não são automaticamente
relacionados com marcos do projeto de financiamento.

Bibliografia
1-Tapscott, D. and Tapscott, A. (2016) “Blockchain Revolution: How the Technology
Behind Bitcoin Is Changing Money, Business, and the World”
2-https://www.wired.com/story/guide-blockchain/
3-Blockchain & Direito (PDF e notas de aula) Gabriel Aleixo, pesquisador ITS Rio
4-Aplicações do Blockchain em nosso sistema jurídico -Tozzini Freire Advogados (PDF)
Rodrigo Vieira,Hugo Marinho, Vitor Yeung Casais
4-https://hbr.org/2017/01/the-truth-about-blockchain
5-BNDESToken: Uma Proposta para Rastrear o Caminho de Recursos do BNDES (PDF)
Gladstone Moisés Arantes Júnior, José Nogueira D’Almeida Jr.,Marcio Teruo Onodera,
Suzana Mesquita de Borba Maranhão Moreno, Vanessa da Rocha Santos Almeida

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