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O exame fecal permite evidenciar e identificar os parasitas que ratório e processamento laboratorial.2
utilizam as fezes como veículo das suas formas de dissemi- As técnicas laboratoriais frequentemente utilizadas em copro-
nação no exterior. Os parasitas do aparelho digestivo e seus logia parasitária são simples e fiáveis, permitindo um diagnósti-
órgãos anexos, como fígado, assim como do aparelho respira- co parasitológico qualitativo rápido assim como uma avaliação
tório produzem ovos ou larvas que abandonam o hospedeiro quantitativa da infecção parasitária.3
através das fezes.1
Para se proceder a um correcto exame coprológico é ne- COLHEITA DE FEZES
cessário considerar os procedimentos básicos de colheita da O procedimento de colheita da amostra fecal, a sua conserva-
amostra fecal, assim como da sua conservação, envio ao labo- ção e envio ao laboratório, assim como o seu processamento
laboratorial podem condicionar o diagnóstico coprológico.4
A colheita de fezes para exame parasitológico pode ser indi-
vidual ou em grupo e sempre que possível a partir da ampola
Dr. Sérgio Sousa
rectal do animal. É facilmente realizada por palpação digital nos
Estudante de Doutoramento em Ciências Veterinárias da Fa-
pequenos animais ou por palpação rectal nos grandes animais,
culdade de Medicina Veterinária (FMV), Universidade de Lisboa
com o auxílio de luva obstétrica descartável ou saco de plástico,
(UL).
com lubrificante para reduzir o desconforto do animal.5
Bolseiro da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT),
A colheita da amostra fecal a partir do solo é menos recomen-
Bolsa de Doutoramento SFRH/BD/65407/2009.
dada do que a anterior e deve ser realizada colhendo pequenas
Docente de Parasitologia e Patologia e Clínica das Doenças
porções da superfície e do interior da matéria fecal recentemen-
Parasitárias da Escola Universitária Vasco da Gama (EUVG).
te emitida.1 A exposição e permanência da amostra fecal às
Escola Universitária Vasco da Gama (EUVG), Av. José R.
condições ambientais pode, não só alterar a sua composição
Sousa Fernandes, Campus Universitário, Bloco B, Lordemão
como, permitir a sua invasão por organismos coprófagos de
3020-210 Coimbra, Portugal.
vida livre, que contaminam a amostra com ovos e larvas e ain-
Centro de Investigação Interdisciplinar em Sanidade Animal
da permitir o desenvolvimento dos organismos parasitas pre-
(CIISA), Faculdade de Medicina Veterinária (FMV), Universidade
sentes, alterando a sua viabilidade e morfologia.6 As alterações
de Lisboa (UL), Pólo Universitário do Alto da Ajuda, Avenida da
morfológicas das formas parasitárias presentes na amostra
Universidade Técnica, 1300-477 Lisboa, Portugal.
fecal podem dificultar um correcto diagnóstico parasitológico.4
A colheita de fezes a um grupo de animais deve ser feita de
Prof. Doutor Adolfo Paz Silva
forma a se obter uma amostra representativa. Pelo que devem
Professor Titular do Departamento de Patologia Animal.
ser colhidas amostras a cerca de 10% dos animais, alguns dos
Faculdade de Veterinária de Lugo, Universidade de Santiago
quais doentes e outros saudáveis.1,6
de Compostela.
A cada animal deve-se colher entre 50 a 100 gramas de fe-
Faculdade de Veterinária, Departamento de Patoloxia Animal,
zes. No entanto, sempre que possível deve-se respeitar a indi-
Campus Universitario, s/n, 27002 Lugo, España.
cação de 500 g de fezes para equídeos e bovinos, 100 a 50 g
para pequenos ruminantes, suínos e canídeos, e de 50 a 20 g
Prof. Doutor Luís Madeira de Carvalho
Professor Associado com Agregação de Parasitologia e Doen-
de fezes para gatos.6
ças Parasitárias, Departamento de Sanidade Animal, Faculda-
de de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa.
CONSERVAÇÃO DAS FEZES
Centro de Investigação Interdisciplinar em Sanidade Animal
Quando o diagnóstico parasitológico não pode ser realizado
(CIISA), Faculdade de Medicina Veterinária (FMV), Universidade logo após a defecação, a amostra fecal deve ser acondiciona-
de Lisboa (UL), Pólo Universitário do Alto da Ajuda, Avenida da da e conservada.3
Universidade Técnica, 1300-477 Lisboa, Portugal. A amostra pode permanecer no interior da luva ou saco de
plástico, utilizados na recolha, ou pode ser transferida para
Financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia um frasco de vidro ou de plástico com tampa hermética. O
(FCT), Bolsa de Doutoramento SFRH/BD/65407/2009 recipiente que acondiciona a amostra fecal deve ser estan-
que e impermeável, não deve ser nunca de material poroso
como cartão ou madeira, de forma a impedir a desidratação da
amostra com consequente alteração das formas parasitárias.1 Exame microscópico directo das fezes frescas
A amostra fecal deve permanecer sem ar, de forma a atrasar O exame microscópico directo das fezes frescas, em prepa-
o desenvolvimento das formas parasitárias.2 rações lâmina-lamela, permite fazer um diagnóstico parasito-
A conservação temporária da amostra fecal por refrigeração, lógico correcto, no entanto este exame coprológico apresenta
entre 4 a 5ºC, permite interromper o desenvolvimento das for- uma baixa sensibilidade pela ocorrência frequente de resulta-
mas parasitárias sem as inviabilizar, podendo ocorrer a retoma dos falsos negativos. O facto de se observar uma pequena
o seu desenvolvimento em laboratório.1 amostra fecal numa preparação microscópica com muito re-
Para atrasar ou mesmo interromper o desenvolvimento das síduo, na qual se encontram diluídas as formas parasitárias,
formas parasitárias presentes numa amostra fecal é neces- dificulta o correcto diagnóstico parasitológico.8
sário acondicioná-la em recipiente hermético e refrigerá-la à
temperatura de 4 a 5ºC.4 Com este procedimento é possível Exames fecais de concentração ou enriquecimento
conservar as formas parasitárias durante uma semana sem se Os exames fecais de concentração ou enriquecimento são os
observar alterações morfológicas consideráveis.7 mais frequentemente utilizados em coprologia veterinária.8
A conservação definitiva das fezes com recurso a líquidos Estes exames permitem separar as formas parasitárias dos
fixadores, como etanol a 70% e formaldeido a 10%, não permi- constituintes fecais e concentrá-las de modo a facilitar a sua
te o desenvolvimento posterior das formas parasitárias. Deste observação. Para suspender e separar os constituintes fecais
modo quando se pretende identificar parasitas por coprocultu- é necessária a utilização de uma solução que permita diluir a
ra a conservação definitiva não deve ser utilizada.1,2 amostra fecal. Após obter uma suspensão fecal é possível es-
tratificar os constituintes de acordo com as suas densidades
ENVIO DA AMOSTRA FECAL AO LABORATÓRIO ou gravidade específica. Esta estratificação pode ser lenta,
A amostra fecal deve ser enviada ao laboratório perfeitamente devido apenas à acção da força da gravidade, ou rápida com
acondicionada, conservada e correctamente identificada com a aplicação de uma força centrífuga. A centrifugação permite
a data, número e origem da colheita.8 uma melhor separação entre as formas parasitárias e os res-
A amostra deve ser acompanhada por um relatório com to- tantes constituintes fecais, aumentando a sensibilidade dos
das as indicações importantes para um correcto diagnóstico métodos, sendo particularmente importante quando o número
laboratorial.3 Os dados sobre o animal, o proprietário, o Médi- de formas parasitárias é muito baixo ou quando se utilizam so-
co Veterinário assistente, a localidade, a doença ou parasitose luções viscosas que atrasem a separação dos vários consti-
suspeita, assim como o número de animais afectados ou mor- tuintes fecais.4
tos, sintomas e lesões, podem ser importantes para a realiza- Quando não é possível centrifugar e não se pretende uma
ção de um correcto diagnóstico coprológico.8 diminuição da sensibilidade do exame fecal, é frequente utilizar
uma maior amostra fecal ou um período de repouso mais longo.8
PROCEDIMENTO GERAL DOS EXAMES FECAIS Os exames fecais de concentração mais frequentemente
Independentemente do procedimento laboratorial a desen- utilizados baseiam-se na sedimentação ou na flutuação das
volver, é necessário respeitar as regras básicas de higiene de formas parasitárias.1,2
forma a diminuir o risco de zoonoses parasitárias assim como
a disseminação de formas parasitárias para o meio ambiente.2 Métodos de sedimentação
Em helmintologia, a coprologia recorre frequentemente à ob- Os métodos de sedimentação utilizam soluções diluidoras me-
servação directa da amostra fecal assim como à identificação nos densas do que as formas parasitárias e mais densas do que
morfológica das formas parasitárias como ovos, larvas e para- os restantes constituintes fecais. A diluição da amostra fecal em
sitas adultos. Deste modo o conhecimento da sua morfologia é água, solução com gravidade específica de 1, permite a sedi-
necessário para um correcto diagnóstico parasitológico directo.4 mentação de formas parasitárias mais densas e a flutuação dos
restantes constituintes fecais, menos densos do que a água. As
Exame macroscópico das fezes formas parasitárias concentram-se no sedimento de onde são
O exame macroscópico das fezes pode auxiliar e orientar o diag- facilmente recuperadas e observadas.8 Estes métodos de sedi-
nóstico parasitológico. A aparência geral das fezes, a sua con- mentação são frequentemente utilizados para pesquisa de ovos
sistência e cor devem ser normais para o hospedeiro em causa.4 de tremátodes, cuja densidade é superior a 1.4, sendo os ovos
A alteração destas características pode indicar alguma infecção de nemátodes e céstodes, de densidade inferior a 1.2, frequen-
parasitária.8 O exame macroscópico das fezes permite realizar o temente observados em métodos de flutuação.3
diagnóstico parasitológico directo avaliando a presença de para-
sitas adultos ou fragmentos destes na amostra de fezes.2 Métodos de flutuação
Os métodos que se fundamentam na flutuação utilizam solu-
Exame microscópico das fezes ções mais densas do que as formas parasitárias e menos den-
A identificação das formas parasitárias cujas dimensões são inferio- sas do que os restantes constituintes fecais de modo a estra-
res ao limite de resolução do olho humano, como ovos e larvas de tificá-los e separá-los de acordo com a gravidade específica.
helmintes, só é possível por observação microscópica das fezes.2 Deste modo as formas parasitárias concentram-se à superfície
Detritos
Ovos
Ovos
Detritos
Ovos FIGURA 2. Preparação lâmina-lamela. As setas indicam que a prepa-
ração deve ser observada de forma sistemática.3
Detritos
Escala
Lâmina micrométrica
Ocular micrométrica
FIGURA 3. Exemplo de lâmina e ocular micrométricas.5 FIGURA 4. Exemplo de calibração de uma ocular micrométrica com
uma objectiva de 4x e uma ocular de 10x. As 45 divisões da ocular
suas subdivisões dependem do fabricante e são diferentes de micrométrica correspondem a 0,76 mm (760 µm) da escala da lâmina
ocular para ocular. A lâmina micrométrica é uma lâmina de vi- micrométrica. Cada divisão da escala da ocular micrométrica corres-
ponde a 16,9 µm (760 µm/45).5
dro sobre a qual se encontra gravada uma escala de 1 mm
dividida em 100 partes iguais, sendo que cada divisão é igual
a 1 mm/100 = 10 µm (Figura 3).8
Para que possa ser utilizada a ocular micrométrica deve ser
calibrada individualmente com cada objectiva, sendo que a ca-
libração ocorre apenas para uma objectiva e um microscópio
particular1, visto que a ampliação real difere com o microscópio.5
A ocular micrométrica é inserida no tubo da ocular do mi-
croscópio óptico e a lâmina micrométrica é colocada na platina
do microscópio. A escala da lâmina micrométrica é focada e
ajustada com a escala da ocular micrométrica de forma que
ambas as escalas se sobreponham e se alinhem, com a linha
do zero. Contam-se as divisões na escala da ocular micromé-
trica e medem-se com a escala da lâmina micrométrica, como
exemplifica o esquema da Figura 4.8
A ocular micrométrica deve ser calibrada com objectivas em
ampliação crescente (4x, 10x ...) sendo que quanto maior for
a ampliação da objectiva mas largas serão as linhas da esca-
la da lâmina micrométrica (Figura 5) e mais rigorosa e precisa
será a medição.3
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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