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UFRRJ – BRASIL III

TEXTO 2: MELLO, Maria Tereza de Chaves. A Modernidade Republicana. PUC. Rio de Janeiro:
2008.
Maria Tereza Chaves de Mello em A modernidade Repúblicana estuda como a República
incorporou em sua propaganda a ideia de democracia e cientificismo e paralelamente desenvolveu
uma imagem dicotômica entre o Império – sendo esse retrogrado e não permitia um
desenvolvimento econômico. A autora busca penetrar no social, avaliando a extensão da difusão da
nova cultura que desde de 1870, vinha varrendo a visão de mundo da direção imperial.
A proclamação da república é um episódio da modernização à brasileira. A incorporou ao
vocabulário republicano ideias como: liberdade, progresso, ciência, democracia ocasiona uma
relação dicotômica entre república e monarquia e ao mesmo tempo liga-se com todas as classes,
pois isto era o desejado. O historiador alemão, R. Koselleck chama atenção para a força que essa
imagem estabeleceu, sendo um instrumento de argumentação que estampam jornais, artigos e a
literatura.
(…) à monarquia vão se colocando termos tais como: tirania,
soberania de um, chefe hereditário, sagrado e inimputável, privilégios,
súditos, apatia, atraso, centralização, teologia. Em contra posição, à
república são a são associadas as ideias de liberdade, soberania
popular, chefe eleito e responsável, talento ou mérito, cidadania,
energia, progresso, federalismo, ciência. p.16.

A década de 1880 fora marcada por tensões entre a monarquia e os propagandistas da


república. A monarquia era retratada pelos mesmos como privilegiada, posicionando-se assim longe
do espírito do progresso, porém, a monarquia atacava a república utilizando do discurso de
estabilidade, paz e progresso do Brasil com a anarquia e a barbárie das repúblicas sul-americanas.
O Novo Partido Liberal de 1869 culminou um sentimento de reforma ou revolução. Esse
sentimento tornou-se generalizado diante da impressa que anunciou que as reformas não eram
possíveis com a monarquia. O regime monárquico mantinha-se pelas forças, porque o mesmo não
tinha um projeto ou uma perspectiva para o futuro. Maria Tereza busca analisar a nova cultura que
se estabeleceu desde 1870 eliminando a visão de mundo da direção imperial.
Maria Tereza chama de crise da direção monarquia – seguindo o princípio de hegemonia de
A. Gramsci. Uma classe só consegue exercer hegemonia sobre um conjunto social, ou seja, impor a
ele sua visão de mundo apenas se a mesma for acompanha da direção, o que significa dizer, manter
um controle sobre uma rede simbólica. Entretanto, as propagandas republicanas provocam uma
mudança dos símbolos e das referências positivas da monarquia, mudando-se a direção.
A geração de 1880 posiciona-se para discutir o conteúdo da identidade nacional, sendo
assim, uma geração que deseja encaminhar o país para o progresso e civilizando: o futuro.
Algo que deve-se dar ênfase é o fato das novas ideias ligarem-se ao positivismo e ao
evolucionismo de Spencer que era instrumentalizado nas teorias de Darwin para interpretar as
sociedades humanas. A cultura científica e democrática gerada a partir desta instrumentalização
colocou o regime republicano como uma necessidade política e este pensamento circulou todo um
amplo público através da imprensa – especialmente jornais independentes que se formavam naquele
momento. Os debates sobre a nova cultura política ganhavam espaços na literatura, jornais, ruas e
cafés. A nova cultura tornava-se atraem. A revolução não ocorreu por meio de armas, mas ocorria
uma revolução das ideias. Mudava-se a mentalidade do povo. Mudava-se a ideia da população sobre
o que era monarquia e o que seria a república.
A geração da 70 – os intitulados livres pensadores – compreendeu quais os elementos
utilizados pelo público monárquico para sua propaganda e utilizou-se dos mesmos usando para se
manifestar suas ideias cientificistas e de progresso. Exemplo isto é a poesia. A monarquia
vinculava-se a visão romântica e difundia sua visão de mundo. A implementação do cientificismo
neste campo gerou a poesia social que ampliou o público – que outrora era apenas feminino – e
ganhou prestígio social. A poesia social tornou-se uma revolucionária e combatente, posicionando-
se contra o regime monárquico e a religião. Um grande exemplo da poesia científica é Martins
Junior.
A atuação da imprensa para difusão da direção republicana fora importante. A Revista
Ilustrada buscou a partir de seu discurso secularização completa do Estado e da sociedade
brasileira. Seus discursos e imagens sobre o clero – retratavam esses como animais, figuras de
burros – anunciavam sua falta de conhecimento científico e o atraso para nação.
Para Coelho Neto um grande personagem é a rua:
“Sabe de tudo – é repórter, é lance use, é corretora, é crítica, é
revolucionária. Espalha notícias, impõe o gosto, eleva o câmbio, consagra o
poeta, depõe os governos, decide as questões à palavra ou a murro, à tapona
ou a tiro”. p.18.

As ruas e das praças da cidade do Rio de Janeiro tornou-se grandes aliadas das campanhas
de Abolição e da República, especialmente a rua do Ouvidor que era o coração da corte na vida do
país. A rua do ouvir participava do dia-a-dia de muitos habitantes do Rio de Janeiro. Quem quisesse
atenção poderia anunciar entre a mesma. O povo fluminense não só a desfrutava como fazia dela o
espaço público por excelência e onde ia depositar suas reivindicações e queixumes:
Essa rua dava visibilidade às modas e aos que buscavam notoriedade.
Tornava nacionais os acontecimentos – e até os incidentes – que nela
ocorriam e era nela que eles quase que necessariamente ocorriam. p.18
A Rua fora capaz de eleger nomes importantes como: José do Patrocínio – com seu jornal
abolicionista. Olavo Bilac, Aluísio Azevedo e seu irmão Artur Azevedo, Luís Murat, Pardal Mallet,
Coelho Neto, Guimarães Passos eram outros nomes. A Rua também comportava a intervenção da
“mocidade militar” que se faziam presente nas campanhas pela Abolição e pela República. A
tornava-se assim valorizadora da opinião pública e o verdadeiro espaço da representação
popular.
A década de 1880 foi marcada pela politização da sociedade. Uma
politização que teve a rua como seu principal e mais querido cenário (…) Na
Revista Ilustrada o tom de reclamação “política na rua, nas conversações,
nos bondes e até nas cozinhas! (…) A rua do Ouvidor com essa saturação,
está quase inabitável”. p.26.

A partir de 1888 a Guarda Negra – instituída para proteger a família real mas que, na
realidade, atuava mesmo era no ataque aos comícios republicanos – o alvo maior da indignação
pública. O que a todos confundia era o fato de que a “ordem” é quem trabalha pela desordem.
A monarquia que outrora posicionava-se com o lema de ordem, atuava de forma agressiva e
violência contra a liberdade expressão. Isto distanciou a monarquia da ordem e ofereceu adjetivos
como: bárbaros, boçais, malfeitores e outros. A atuação desta “classe perigosa” ligou a monarquia
ao mundo da desordem, da anarquia e da barbárie. A confusão que gerou no “mundo do império”
foi um forte fator de desafeição a um regime que se desfigurava.
No quartel final do século XIX apareceram inúmeros textos e imagens a admiração e o
orgulho que os contemporâneos. O discurso que se anunciava era o século da luz, velocidade,
ciência, ideias avançadas. Por todo o lado propagava-se as marcas de Progresso. A República se
constituía-se assim como um futuro que iria desmanchar o passado e tudo o que ele implicava:
monarquia, sociedade do privilégio, escravidão, romantismo, clericalismo e etc. O termo república
tinha, pois uma marca: o sinal do futuro. Como evolução e como revolução. A maior conquista da
propaganda republicana foi a de estabelecer uma sinônima fechada entre os termos república e
democracia.
Maria Tereza Chaves de Mello termina o seu artigo A Modernidade Republicana fazendo
uma crítica ao José Murilo de Carvalho e o seu termo bestializado. O que o segundo autor narra em
uma versão historiografia é uma população não participativa e supostamente adepta ao discurso
monarquista.
A construção da historiografia que fez do “bestializado” mais do que um
simples surpreendido com o resultado de um fato conspiratório, como disse
o tão citado artigo impressionista de Aristides Lobo, e imprimiu nele, como
insistência, a marca distinta de não-participação popular, subentendendo
nessa omissão um índice de adesão do povo à monarquia, não ouviu a
advertência que, contra os alvores dessa interpretação, se levantou Euclides
da Cunha. p.30.
Por fim, Maria Tereza anuncia a partir de seu artigo que o termo república na década de
1880 fora um desejo de futuro, como sinônimo de ciência, democracia. República fora o nome
brasileiro da modernidade.

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