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ABREU, Regina. O enigma de Os Sertões. Rio de Janeiro: Funarte: Rocco, 1998.

Pg.
20 A autora busca refletir sobre a escolha de “Os Sertões” como uma obra que é ao
mesmo tempo um patrimônio e um símbolo nacional, sendo citada
recorrentemente como “autenticamente brasileira” ao longo de quase cem anos.
23 A hipótese é que independentemente da produção editorial e publicitária em torno
da obra e do seu autor, a perpetuação do sucesso de determinada obra está
relacionada a demandas sociais. “Ao ser transformada em monumento, símbolo
nacional ou ‘lugar de memória’, uma grande obra literária extrapola suas
características iniciais, desempenhando funções sociais que ultrapassam seu valor
puramente literário.” O livro de Euclides da Cunha, segundo a autora, teria sido
tombado e a partir de então, adquiriu uma forte carga simbólica. Assim, para além
das características literárias de “Os Sertões”, a obra adquiriu um significado que
extrapola suas qualidades literárias.
24 Ao ser colocado como um “clássico brasileiro”, Os Sertões assume a ideia de
singularidade e originalidade de uma nação particular. Está associado, portanto à
ambiguidade da ideia de nação moderna, que, se por um lado, remete às noções de
progresso, civilização e humanidade, que remetem ao universalismo, por outro
lado, a nação também evoca atributos singulares, originais e únicos.
25 Louis Dumont aponta que a história das nações modernas no Ocidente pode ser
lida a partir de duas ênfases diferenciadas. Ele aponta a tensão entre essas duas
vertentes: a iluminista, que atribui valor ao homem e a romântica, cuja ênfase recai
sobre a sociedade, a cultura e o coletivo. Tais vertentes afirmaram-se durante todo
o século XIX, chegando ao século XX como as mais potentes correntes de
pensamento do mundo ocidental moderno. Peter Burke relata o trabalho de
colecionadores no resgate de antigas tradições populares em vias de desaparecer
com a ascensão de uma ideia de nação moderna e unificadora.
26 Os românticos alemães, como Herder, acreditavam na existência de alguma
substância que guardava a “alma nacional”. A tarefa dos intelectuais era identificá-
la.
27 A metáfora da semente é ilustrativa do pensamento romântico. Um povo é uma
semente que pode florescer em nação se plantada em terreno adequado e adubado.
Não é qualquer povo que poderia florescer e formar uma nação próspera. Por esse
motivo, era necessário saber que povo plantar, de forma a fazer florescer a nação.
28 Para compreender o significado de Os Sertões para o estabelecimento de uma
tradição nacional, a autora tomou dois fios condutores complementares: o primeiro
foi realizar um estudo da trajetória de Euclides da Cunha e de sua consagração
como escritor. O segundo consistiu em reconhecer de que maneira tal consagração
se mantém atual por quase um século.
Com relação ao primeiro fio condutor, a autora busca compreender que razões e
critérios levaram à consagração de Os Sertões e quem foram os agentes dessa
consagração.
29 A autora toma Os Sertões como um “estudo de caso” para estudar o processo de
fabricação de um “clássico nacional”.
No capítulo 2, a autora analisa o que chama de “espaço dos possíveis”, ou seja, as
condições materiais e intelectuais da sociedade brasileira na segunda metade do
século XIX. A autora procura perceber que opções estavam disponíveis a Euclides
em uma configuração onde vigorava o espírito da “sociedade de corte”. Procura
ainda mostrar as principais características do campo da literatura na segunda
metade do século XIX, enfocando as trajetórias de José de Alencar e Machado de
Assis, considerados grandes escritores do período.
42 A autora que vigorava no Brasil em que Euclides da Cunha nasceu, uma
verdadeira “sociedade de corte”.
OBS: O primo de Pedro Calmon já se destacou na República por meio de seu
talento na política. Na República o status deveria se sustentar sobre outras bases
que não apenas as do pertencimento a uma família de renome.
43 O ingresso no serviço público foi a alternativa mais importante para os
“marginais” do sistema econômico agrário escravagista. (Importante!)

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