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A Fábula Das Abelhas PDF
A Fábula Das Abelhas PDF
PAPERS
Nº 05 - 1994
A Fábula das Abelhas
Eduardo Giannetti da Fonseca
A Colméia Ruidosa, ou os
Canalhas que se Tornaram Honestos 14
BRAUDEL
PAPERS
Fernand Braudel Institute
of World Economics
Associated with FAAP
(Fundação Armando Alvares Penteado)
03 A fábula das abelhas
Rua Ceará, 2 – 01243-010 (Eduardo Giannetti da Fonseca)
São Paulo, SP – Brazil “Vícios privados, benefícios públicos?”
Phone: 55- 11 3824-9633
e-mail: ifbe@braudel.org.br
www.braudel.org.br
14 A colméia ruidosa, ou os
Conselho Diretor: Rubens Ricupero (Presidente), Beno canalhas que se tornaram honestos
Suchodolski (Vice-Presidente), Roberto Paulo César de (Bernard Mandeville)
Andrade, Roberto Appy, Alexander Bialer, Diomedes “Uma grande colméia, de abelhas repleta,
Christodoulou, Roberto Teixeira da Costa, Edward T. Que viviam em luxuosidade completa,...”
Launberg, Carlos Alberto Longo, Luiz Eduardo Reis de
Magalhães, Idel Metzger, Mailson da Nóbrega, Yuichi
Tsukamoto e Maria Helena Zockun.
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Eduardo Giannetti da Fonseca é professor da Faculdade de Economia da USP e realizou este trabalho como Professor de Pesquisa Octávio Gouvêa de
Bulhões no Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial. Esta pesquisa está publicada em seu livro Vício privados, benefícios públicos? pela Companhia
das Letras.
Embora o enxame a fértil colméia abarrotasse, Assim, o vício em cada parte vivia,
Essa multidão fazia com que ela prosperasse; Mas o todo, um paraíso constituía;
Milhões procuravam dar satisfação Temidos na guerra, na paz incensados,
Mútua a sua cupidez e ostentação; Pelos estrangeiros era respeitados,
Outros tantos entravam na lida E, de riquezas e vidas abundante,
Para ver sua obra destruída. Entre as colméias era a preponderante.
Abasteciam o mundo com sobra, Tais eram as bênçãos daquele estado;
Mas tinham mais trabalho que mão-de-obra. Seus crimes tomavam-no abastado;
Alguns, com pouco esforço e grande capital, E a virtude, que com a politicagem
Faziam negócios de lucro monumental; Aprendera bastante malandragem,
Outros, condenados a foices e espadas Tomara-se, pela feliz influência,
E a todas essas árduas empreitadas Amiga do vício; por conseqüência,
Em que, voluntariamente, infelizes suavam O pior elemento em toda a multidão
Para poder comer, as forças esgotavam; Realizava algo para o bem da nação.
Outros ainda a mistérios estavam votados, (...)
Aos quais poucos aprendizes eram encaminhada
www.braudel.org.br BRAUDEL PAPERS 14
Assim, o vício fomentava o engenho Vede agora na colméia renomada
Que, unido ao tempo e ao bom desempenho, Honestidade e negócios de mão dada;
Propiciava da vida as comodidades, O show terminou; foi-se rapidamente,
Seus prazeres, confortos e facilidades, E mostrou-se tom face bem diferente>
A tal extremo que mesmo os miseráveis Pois não apenas foram-se embora
Viviam melhor que os ricos do passado, Os que gastavam muito a toda hora,
E nada podia ser acrescentado. Como multidões, que deles dependiam,
Como é vã dos mortais a felicidade! Para viver, forçadas, também partiam.
Soubessem eles da precariedade, Era inútil buscar outra profissão,
E de que, cá embaixo, a perfeição Pois vaga não se achava em toda nação.
Não pode dos deuses ser concessão, Enquanto que orgulho e luxo minguavam,
Teriam os animais se contentado Gradativamente os mares deixavam,
Com ministros e governo instalados. Não os mercadores, mas companhias
Porém eles, a cada sobrevento, Fábricas fechavam todos os dias.
Como seres perdidos e sem tento, Artes e ofícios mortos estão.
os políticos e as armas maldiziam, Ruína da indústria, a satisfação
Enquanto “Abaixo os desonestos!” rugiam. Faz com que apreciem o que possuem
Os próprios defeitos podiam tolerar, E nada mais cobicem ou busquem.
Mas dos demais, barbaramente, nem pensar! Assim, poucos na colméia ficaram,
(...) Nem centésima parte conservaram
Contra os ataques de inimigos vários,
A menor coisa que um erro mostrasse, A quem sempre enfrentavam, temerários,
Ou que os negócios públicos trancasse, Até encontrar algum refúgio forte,
E todos os velhacos gritavam aos céus: Onde se defendiam até a morte.
“Se ao menos houvesse honestidade, oh Deus!” Em suas forças não houve mercenários;
Mercúrio sorria ante o descaramento, Valentemente, lutaram eles próprios.
Já outros chamavam de falta de tento Sua coragem e integridade total
Protestar sempre contra o mais amado. Foram coroadas com a vitória final.
Mas Júpiter, de indignação tomado Triunfaram, porém não sem azares,
E, por fim, irritado, jurou de vez Pois as abelhas morreram aos milhares.
Livrar a colméia da fraude. E assim fez. Calejadas de árdua lida e exercício,
No mesmo momento em que ela partia Consideraram a comodidade um vício,
De honestidade o coração se enchia; O que aperfeiçoou sua moderação
Tal como para Adão, se lhes revelaram Tanto, que para evitar dissipação
Aqueles crimes dos quais se envergonharam, Instalaram-se duma árvore na cavidade,
Que então, em silêncio, confessaram, Abençoadas com satisfação e honestidade.
E ante sua torpeza coraram,
Como menino de mau comportamento
Que pela cor denuncia o pensamento,
Imaginando, ao ser olhado,
Que os outros vêem o seu passado.
(...)