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Argumentação
1. Demonstração e argumentação
Neste primeiro tópico, o texto começa falando sobre o desenvolvimento das teorias da
argumentação, e como ele funciona a partir de uma reação à tentativa de transformar a
argumentação em algo próximo da lógica formal. Para o autor, usar de raciocínio
lógico-matemático para desenvolver a argumentação simplifica e reduz o processo, e não
pode ser considerada como argumentação propriamente dita. A lógica formal depende da
demonstração das premissas do raciocínio, que partem de proposições cada vez mais
primitivas, de forma a chegar em máximas inquestionáveis e a argumentação, por outro lado,
não lida necessariamente com premissas tão irredutíveis. O autor explica que, para que a
argumentação funcione, ela deve levar em consideração a adesão daqueles que a ouvem.
Enquanto a prova - pertencente ao domínio da lógica formal - é impessoal, a argumentação é
pessoal.
A partir daí, as diferenças entre a demonstração e a argumentação ficam cada vez
mais claras: o sistema dedutivo é isolado; ignora contexto, ouvintes e até mesmo o próprio
orador para ser demonstrada. A argumentação, por outro lado, depende inteiramente da
comunicação entre orador e auditório para se fazer valer. Essa comunicação é pautada por
inúmeros fatores, alguns dos quais são anteriores ao próprio ato da argumentação (a decisão
do auditório de ouvir ou não o orador é estabelecida muito antes do próprio discurso começar,
por exemplo).
A demonstração também se vale das linguagens artificiais, já que nelas a
possibilidade de ambiguidade é reduzida. A argumentação usa das línguas naturais,
justamente por apresentarem infinitas possibilidades de manipulação em suas construções. Na
demonstração, a verdade é construída a partir de sua própria forma; na argumentação, a
verdade surge unicamente da adesão daqueles que a ouvem, e pode ser eleita “verdade” a
partir de uma série de critérios (sendo que a constatação passa longe de ser um deles): o que é
mais aceitável, justo ou agradável têm mais relevância do que aquilo que é factualmente
verdadeiro.
Para a demonstração, as premissas não podem ser ao mesmo tempo verdadeiras e
contradizentes. Nesse caso, a premissa falsa é descartada completamente. Para a
argumentação, teses incompatíveis são passíveis de interpretação e, portanto, podem se
contradizer. Uma tese pode ser descartada, mas não perde valor, e pode ser reconsiderada a
qualquer momento.
9. Dado e interpretação
Dados e interpretações se opõem: enquanto o primeiro trata daquilo que é unívoco e
indiscutível, a segunda é vista como a escolha entre significações diferentes. Os problemas de
significados e interpretações têm a ver com signos e índices. Índices tratam de erros e
independem do ato comunicativo; signos, por outro lado, formam o ato comunicativo, e,
quando mal formuladas, não constituem um erro, e sim um mal-entendido.
A língua por si só não é capaz de produzir enunciados completamente livres de
interpretação ou ambiguidade; para isso, é preciso encontrar suplementos de informação que
extrapolam a língua. Apesar de ser muito emblemática quando usada de forma poética, a
língua, quando usada normalmente, pode ser igualmente confusa e passível de interpretação.