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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

‘JÚLIO DE MESQUITA FILHO’


CAMPUS DE ILHA SOLTEIRA
unesp PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA

“CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL DO

METAL DE SOLDA DEPOSITADO POR

ARCO SUBMERSO

EM CHAPAS DE AÇO-CARBONO ESTRUTURAL”

Ilha Solteira
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
‘JÚLIO DE MESQUITA FILHO’
CAMPUS DE ILHA SOLTEIRA
unesp PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA

CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL DO METAL DE SOLDA


DEPOSITADO POR ARCO SUBMERSO
EM CHAPAS DE AÇO-CARBONO ESTRUTURAL

Márcia Regina Vieira de Araújo

Orientador: Prof.Dr. Juno Gallego

Dissertação apresentada à Faculdade de Engenharia de


Ilha Solteira da Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho”, como parte dos requisitos exigidos para
a obtenção do título de Mestre em Engenharia
Mecânica.

Ilha Solteira, Outubro de 2006


FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação - Serviço


Técnico de Biblioteca e Documentação da UNESP - Ilha Solteira.

Araújo, Márcia Regina Vieira de


A663c Caracterização microestrutural do metal de solda depositado por arco submerso em
chapas de aço-carbono estrutural / Márcia Regina Vieira de Araújo. -- Ilha Solteira :
[s.n.], 2006
118 p. : il.

Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Engenharia de


Ilha Solteira, 2006

Orientador: Juno Gallego


Bibliografia: p. 112-118

1. Arco de soldagem submersa. 2. Microestrutura. 3. Aço - Inclusões.


4. Solda e soldagem.
..................................................................................................................Publicações

ARAÚJO, Márcia Regina Vieira de; POLIDO, Rafael Saito; VENTRELLA, Vicente Afonso;
GALLEGO, Juno. Microstructural Analysis of Submerged-Arc Weldment in Low-Carbon Steel
by Scanning Electron Microscopy. Brazilian Journal of Morphological Sciences, Campinas, v.
22, n. (Suppl.), p. 355-356, 2005.

MUSARDO, Gustavo Borges; ARAÚJO, Márcia Regina Vieira de; BARELA, Renato; ARTONI,
Mário Alberto Almeida; VENTRELLA, Vicente Afonso; GALLEGO, Juno. Microestrutura de
Revestimentos Empregados na Reabilitação de Perfis Hidráulicos Erodidas pela Cavitação. In:
CONSOLDA 2005, São Paulo. Anais do XXXI Congresso Nacional de Soldagem. São Paulo:
Associação Brasileira de Soldagem, 2005. p. 1-10.

MUSARDO, Gustavo Borges; ARAÚJO, Márcia Regina Vieira de; YAMAKAMI, Wyser José;
VENTRELLA, Vicente Afonso; GALLEGO, Juno. Recuperação de Turbinas Hidráulicas
Cavitadas por Depositação de Revestimentos a Base de Cobalto - Aspectos Microestruturais. In:
ABM 2005, Belo Horizonte. Anais do 60. Congresso Anual da Associação Brasileira de
Metalurgia e Materiais. São Paulo: Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais, 2005. p.
2764-2773.

C JÚNIOR, Donizeth A; POLIDO, Rafael Saito; VIOTO JÚNIOR, Leonildo; ARAÚJO, Márcia
Regina Vieira de; GALLEGO, Juno. Adaptação de uma Fonte Inversora Multiprocessos para
Soldagem por Arco Submerso. In: XII CREEM, 2005, Ilha Solteira. Anais do XII Congresso
Nacional dos Estudantes de Engenharia Mecânica. 2005. p. 1-2.

POLIDO, Rafael Saito; C JÚNIOR, Donizeth A; VIOTO JÚNIOR, Leonildo; ARAÚJO, Márcia
Regina Vieira de; GALLEGO, Juno. Caracterização da Zona Termicamente Afetada em Aço
Estrutural Submetido à Soldagem por Arco Submerso. In: XII CREEM, 2005, Ilha Solteira.
Anais do XII Congresso Nacional dos Estudantes de Engenharia Mecânica. 2005. p. 1-2.

VIOTO JÚNIOR, Leonildo; C JÚNIOR, Donizeth A; ARAÚJO, Márcia Regina Vieira de;
POLIDO, Rafael Saito; GALLEGO, Juno. Estudo da Deposição do Metal de Solda através do
Processo de Soldagem por Arco Submerso. In: XII CREEM, 2005, Ilha Solteira. Anais do XII
Congresso Nacional dos Estudantes de Engenharia Mecânica. 2005. p. 1-2.

VIEIRA DE ARAÚJO, M. R.; ASSELLI, A. A. C.; YAMAKAMI, W. J.; TOKIMATSU, R. C.;


VENTRELLA, V. A.; GALLEGO, J. Estudo das inclusões não-metálicas formadas no metal de
solda depositado por arco submerso. Trabalho a ser apresentado no XVII CBECIMAT -
Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais, que será realizado entre os dias 15 e
19 de novembro de 2006 no Hotel Mabu em Foz do Iguaçu/PR.
Dedico
a minha mãe Aparecida e meu pai Luiz
a minha irmã Marcela e meu irmão Giuliano
a minha avó Adelina Andrioli Vieira
aos meus avós Encarnacion e Geraldo (in memorian)
com muito amor e carinho.
Agradecimentos

Agradeço a Deus pela minha vida abençoada e pela vida das pessoas
que amo e que me são muito caras: meus pais, meu irmão, minha irmã, tios
e tias, primos, primas e amigos.

A minha tia e querida amiga Maria Lúcia de Araújo Poiati pelo apoio
constante em todo o meu crescimento profissional e pessoal.

Ao meu noivo, Ângelo Martins da Silva, pela compreensão, apoio e


incentivo.

Ao meu orientador de Mestrado Prof. Dr Juno Gallego, pelos preciosos


ensinamentos, orientação, experiência e comprometimento durante todo
o período de pesquisa e execução dos trabalhos.

Ao Prof. Dr Vicente Afonso Ventrella, por gentilmente ceder a máquina


fotográfica digital, possibilitando assim a aquisição de imagens para
realização deste trabalho

A CAPES pela concessão da bolsa de Mestrado possibilitando a realização


dos trabalhos.

Aos técnicos e funcionários do Departamento de Engenharia Mecânica


em especial ao Sr. Marino Teixeira Caetano pela execução de corpos de
prova e incontestável apoio durante ensaios de soldagem.
A todos os funcionários da empresa SERVTEC de Ilha Solteira, pela
utilização do laboratório para realização dos ensaios de soldagem e todo
apoio disponibilizado pela empresa para realização deste trabalho.

À empresa ICEC de São José do Rio Preto, pela doação de material de


pesquisa para elaboração dos ensaios deste trabalho.

Ao Laboratório de Caracterização Estrutural do Departamento de


Engenharia de Materiais da Universidade Federal de São Carlos, pela
utilização do Laboratório para realização de ensaios.

Aos alunos de graduação Rafael Saito Polido, Donizeth Aparecido de


Carvalho Júnior, Leonildo Vioto Júnior, Gabriel Agreli de Melo, Marcelo
Silveira Linhares pela participação e colaboração durante a realização
deste trabalho.

Aos funcionários e estagiários do NAC da Pós-Graduação do


Departamento de Engenharia Mecânica, em especial ao Técnico em
Informática, Sr. Elias Amaral dos Santos pelo contínuo suporte em software
e hardware.

A Pró Reitoria de Pós Graduação e Pesquisa da UNESP, pelo auxílio


financeiro nas participações em eventos científicos.

A todos os funcionários do Serviço de Biblioteca e Documentação da


Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, em especial ao bibliotecário
Sr.João Josué Barbosa pela orientação e constante acompanhamento da
redação dos capítulos Revisão Bibliográfica e Referências Bibliográficas.
Resumo

ARAÚJO, M. R. V. Caracterização Microestrutural do Metal de Solda Depositado por Arco

Submerso em Chapas de Aço-Carbono Estrutural. Ilha Solteira, 2006. 96p. Dissertação

(Mestrado em Engenharia Mecânica) – Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, Universidade

Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”.

O processo de soldagem por Arco Submerso é um dos processos de soldagem mais

importantes na fabricação de modernas estruturas de engenharia, utilizado na fabricação metálica

como tubos, navios, perfis, vasos de pressão e trocadores de calor, diferencia-se dos demais

processos de soldagem pela utilização de um fluxo granular composto basicamente de

componentes minerais como óxidos e silicatos. Este fluxo é alimentado à região de solda

proporcionando uma solda sem respingos, luminosidade e radiação, além de proteger a região de

solda da oxidação atmosférica. As propriedades mecânicas dependem da microestrutura do metal

de solda, neste sentido, estudos realizados demonstram que a microestrutura ferrita acicular

possui uma ótima combinação entre resistência mecânica e tenacidade. Inclusões não metálicas

presentes no metal de solda podem promover a formação da ferrita acicular durante a

transformação de fase, no entanto há nucleação de outras microestruturas.. A microestrutura

ferrita acicular (AF) depende da composição e tamanho das inclusões não metálicas presentes no

metal de solda. Estas inclusões são geralmente óxidos, silicatos que são formados durante o

processo de soldagem. Algumas substâncias como a zircônia e zirconita são potenciais

nucleadores da ferrita acicular, neste sentido adicionou-se no metal de base a zircônia, zirconita e

alumina para análise de uma eventual participação destes aditivos na formação da

microestrututura do metal de solda. .Os ensaios de soldagem foram realizados com controle e
monitoramento dos parâmetros elétricos, visto que estes são fatores importantes na formação da

geometria do cordão de solda. Os materiais utilizados como metal de base foi uma chapa de aço

estrutural do tipo ASTM A36, como metal de adição o AWS E70S-6, além do fluxo granular

comercial usado na soldagem por Arco Submerso. A alta densidade de inclusões presentes em

metais de solda assegura uma densidade alta de locais de nucleação da ferrita acicular, assim o

presente trabalho desenvolve-se analisando a quantidade de inclusões formadas no metal de solda

depositado por Arco Submerso em diferentes condições de soldagem. Os demais parâmetros

analisados foram a geometria do cordão de solda com base nas diferentes energias de soldagem

utilizadas e análise quantitativa das microestruturas presentes no metal de solda. Avaliou-se a

quantidade de ferrita acicular formada para vinte e quatro condições diferentes de soldagem, além

da ferrita acicular outros microconstituintes estão presentes nos contornos de grão do metal de

solda, como a ferrita poligonal intragranular PF(I) e ferrita de contorno de grão PF(G).que são

microestruturas prejudiciais a tenacidade.

Palavras-chave: Arco Submerso, Microestrutura, Inclusões, Geometria do cordão de solda.


Abstract
___________________________________________________________________

ARAÚJO, M. R. V. Microstructural Characterization of Weld Metal Deposited by

Submerged-Arc-Welding. Ilha Solteira, 2006. 96p. Master of Science Dissertation in

Mechanical Engineering – Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, Universidade Estadual

Paulista “Júlio de Mesquita Filho”.

Submerged-Arc Welding (SAW) is one of the most important welding processes applied

in the fabrication of modern engineering structures. During the deposition of molten steel, which

is protected against oxidation by agglomerated flux layer, the microstructure of the weldment

undergoes considerable changes because of the heating and cooling cycles directly related to the

welding process were employed. Mechanical properties of welded joint can be improved by a

well design welding microstructure. Some studies have shown that acicular ferrite provides an

optimum combination of strength and toughness in steel weld metal. The flux formulations are

prepared using mineral compounds, such as oxides and silicates, and it is possible to increase the

content of acicular ferrite by higher quantity of intragranular nucleation sites. So, dispersed non-

metallic inclusions can promote the formation of acicular ferrite during phase transformation, at

the expense of other undesirable weld phases such as allotriomorphic and Widmanstätten ferrite.

In experimental procedure ASTM A36 steel grade was used as a metal base, together AWS E70-

S6 solid wire and a commercial active flux commonly applied for SAW processing. Bead on

plate welding was performed in flat position and nominal heat input changed from 1.0 to 3.3

kJ/mm. Transverse sections of weld deposit were prepared according standard grinding (up to

1200-grit SiC paper) and polishing (1.0 µm alumina) methods, followed by moderate etching in
2% nital for optical microscopy (OM). So, it was possible to determine some important weld

bead geometry parameters such as penetration, reinforcement and bead width. Using quantitative

metallography techniques allowed that some microstructure features were determined too, when

inclusion size distribution and volume fraction of microphases were obtained. Heat input

variations were considered main responsible for significant changes of bead geometry, which

behavior have shown increase when higher energy levels were applied to welding process.

Inclusion size distribution has also been affected by heat input and it was possible to define that

inclusions mean size decrease from 6 to 4µm without significant changes in volume fraction,

which was estimated approximately 2%. The analysis carried out on the samples after chemical

etching was able to attain both qualitative and quantitative information about weld metal

microstructure. The microstructure of weld metal showed that acicular ferrite was surrounded by

grain boundary proeutectoid (allotriomorphic) ferrite. Further constituent reveals the prior

austenite grain boundaries, which have shown a characteristic columnar grain growth. Acicular

ferrite, allotriomorphic and idiomorphic ferrite were determined be main constituents of weld

metal microstruture, being very small decrease of volume fraction of acicular ferrite with raising

heat input. The volume fraction of these main constituents were calculated 60%, 20% and 10%,

respectively, and meaning that is a good combination between microstructure and mechanical

properties of submerged arc weld metal can be obtained during the experimental development.

Keywords: submerged-arc-welding, microstructure, weld bead geometry, inclusions.


Lista de Ilustrações

Figura 2.1 - Processos de soldagem a arco idealizado por Bernardos e Zerener............................29

Figura 2.2 - Processos de soldagem a arco idealizado por Slavianoff e Kjellberg.........................30

Figura 2.3 - Processo de soldagem com arco protegido.................................................................30

Figura 2.4 - Ilustração do processo de soldagem por arco submerso.............................................32

Figura 2.5 - Variação da tensão no cordão de solda.......................................................................34

Figura 2.6 - Esboço do processo de soldagem com arco submerso...............................................41

Figura 2.7 - Parâmetros geométricos do cordão de solda...............................................................44

Figura 2.8 - Fotomicrografia do metal de solda, destacando ferrita acicular (AF) formada

intragranularmente e ferrita de contorno de grão (GF), aumento de 320 x, ataque Nital...............49

Figura 2.9-Fotomicrografia do metal de solda,destacando a ferrita poligonal (PF)formada nos

contornos de grão da austenita, ferrita acicular (AF) e pequena quantidade de perlita (P), aumento

de 80 x, ataque Nital.......................................................................................................................49

Figura 2.10-Fotomicrografia do metal de solda, mostrando em detalhe ferrita de segunda fase não

alinhada (NAC), aumento de 320 x................................................................................................50

Figura 2.11 - Fotomicrografia do metal de solda com multíplice constituintes da microestrutura,

ferrita e carbonetos (FC), ferrita de contorno de grão (GF), perlita (P), ferrita acicular (AF),

aumento de 150 x, ataque Nital......................................................................................................50

Figura 2.12 - Fotomicrografia do metal de solda, no destaque a ferrita de segunda fase alinhada

(AC), este constituinte tem sido encontrado na martensita, austenita e carbonetos entre as lamelas

de placas laterais de ferrita, aumento 320 x, ataque Nital..............................................................51


Figura 2.13-Fotomicrografia do metal de solda, neste caso utilizou-se solução de Picral, o

equivalente a 4%, onde pode-se observar fases retidas de austenita e martensita..........................51

Figura 2.14 - Aspectos típicos das ferritas Acicular (a) e de Widmanstatten (b). Aumento: 360

X.....................................................................................................................................................52

Figura 2.15 - Favorecimento da formação da ferrita acicular com aumento de grão austenítico,

que reduz potencialmente a nucleação da bainita nesses sítios Figura 2.16 - Micrografia

eletrônica de transmissão de plaquetas de ferrita acicular num aço soldado..................................54

Figura 2.16 - Micrografia eletrônica de transmissão de réplicas de extração em filme de carbono,

identificando as agulhas de ferrita acicular num aço soldado........................................................55

Figura 3.1 - Processo de ponteamento da junção da barra de aço estrutural usado como metal base

no processo de soldagem. Início da união das barras e retalhos para fixação na bancada de

soldagem (a). Processo de ponteamento finalizado (b)..................................................................61

Figura 3.2 - Aplicação dos aditivos sobre a superfície do metal base............................................62

Figura 3.3 - Montagem na seqüência (a), (b), (c) e (d) dos materiais para o ensaio de soldagem.63

Figura 3.4-Fonte utilizada nos ensaios de soldagem (a). Cabeçote de alimentação do arame (b).64

Figura 3.5 - Trator de soldagem com velocidade ajustável............................................................65

Figura 3.6 – Planejamento para preparação de amostras a serem analisadas.................................67

Figura 3.7 - Cordões de solda depositados na barra de aço estrutural ASTM A36........................68

Figura 3.8 - Amostra usada para a análise metalográfica...............................................................69

Figura 3.9 - Aspecto da amostra após a preparação macrográfica, revelando as regiões de solda.

Ataque com reativo de iodo. Metal de solda sem aditivo.Energia de soldagem 1,5 kJ/mm..........69
Figura 3.10 - Tratamento digital de imagens do cordão de solda mostrado onde estão definidas as

áreas do metal de solda e ZTA em (a), apenas o metal de solda em (b) e a região de diluição em

(c)....................................................................................................................................................70

Figura 3.11 - Esquema ilustrativo do mapeamento do metal de solda.......................................... 71

Figura 3.12 - Exemplo de distribuição de inclusões no metal de solda observadas na imagem

original da superfície polida (a) e após o tratamento de imagem (b). Amostra com aditivo zircônia

soldada com energia de soldagem 3,0 kJ/mm................................................................................72

Figura 3.13 - Microestrutura do metal de solda; aditivo alumina, energia de soldagem de 1,0

kJ/mm, amostra com e sem a grade de pontos de contagem..........................................................74

Figura 4.1 – Planejamento para preparação de amostras a serem analisadas.................................76

Figura 4.2 - Efeito da energia de soldagem sobre a geometria dos cordões: (a) reforço; (b)

penetração; (c) profundidade da ZTA; (d) largura do cordão de solda feito por arco submerso.80

Figura 4.3: - Efeito da energia de soldagem sobre a área da zona fundida (ZF) (a); a razão entre as

áreas da ZTA e ZF (b); a taxa de diluição (c) e a taxa de deposição (d)........................................83

Figura 4.4 – Micrografia de amostra soldada com energia de soldagem de 1 kJ/mm. Lâmina fina

observada no MET..........................................................................................................................84

Figura 4.5 - Distribuição de freqüência dos tamanhos das inclusões encontradas no metal de solda

das amostras, soldadas sem aditivo mas com diferentes energias de soldagem: (a) 1,0 kJ/mm; (b)

1,5 kJ/mm; (c) 2,0 kJ/mm; (d) 2,5 kJ/mm; (e) 3,0 kJ/mm e (f) 3,3 kJ/mm....................................86

Figura 4.6 - Distribuição de freqüência dos tamanhos das inclusões encontradas no metal de

solda, usando alumina como aditivo e diferentes energias de soldagem: (a) 1,0 kJ/mm; (b) 1,5

kJ/mm; (c) 2,0 kJ/mm; (d) 2,5 kJ/mm; (e) 3,0 kJ/mm e (f) 3,3 kJ/mm.........................................87
Figura 4.7 - Distribuição de freqüência dos tamanhos das inclusões encontradas no metal de

solda, usando zircônia como aditivo e diferentes energias de soldagem: (a) 1,0 kJ/mm; (b) 1,5

kJ/mm; (c) 2,0 kJ/mm; (d) 2,5 kJ/mm; (e) 3,0 kJ/mm e (f) 3,3 kJ/mm..........................................88

Figura 4.8 - Distribuição de freqüência dos tamanhos das inclusões encontradas no metal de

solda, usando zirconita como aditivo e diferentes energias de soldagem: (a) 1,0 kJ/mm; (b) 1,5

kJ/mm; (c) 2,0 kJ/mm; (d) 2,5 kJ/mm; (e) 3,0 kJ/mm e (f) 3,3 kJ/mm..........................................89

Figura 4.9 - Variação de parâmetros relativos à distribuição de inclusões. (a) quantidade; (b)

tamanho médio; (c) fração em área; (d) fração volumétrica; (e) número de inclusões por unidade

de área observada; (f) número de inclusões por unidade de volume..............................................93

Figura 4.10 - Detalhe da microestrutura do metal de solda apresentando diferentes morfologias da

ferrita após o ataque metalográfico das amostras feito com nital 2%............................................97

Figura 4.11 - Exemplos da microestrutura do metal de solda observada nas amostras soldadas

sem aditivo e com diferentes energias de soldagem: (a) 1,0 kJ/mm; (b) 1,5 kJ/mm; (c) 2,0 kJ/mm;

(d) 2,5 kJ/mm; (e) 3,0 kJ/mm e (f) 3,3 kJ/mm. Aumento padrão de 250 vezes. Ataque

metalográfico feito com nital 2%...................................................................................................98

Figura 4.12 - Exemplos da microestrutura do metal de solda observada nas amostras soldadas

com aditivo (alumina) mas com diferentes energias de soldagem: (a) 1,0 kJ/mm; (b) 1,5 kJ/mm;

(c) 2,0 kJ/mm; (d) 2,5 kJ/mm; (e) 3,0 kJ/mm e (f) 3,3 kJ/mm. Aumento padrão de 250 vezes.

Ataque metalográfico feito com nital 2%.......................................................................................99

Figura 4.13 - Exemplos da microestrutura do metal de solda observada nas amostras soldadas

com aditivo (zircônia) mas com diferentes energias de soldagem: (a) 1,0 kJ/mm; (b) 1,5 kJ/mm;

(c) 2,0 kJ/mm; (d) 2,5 kJ/mm; (e) 3,0 kJ/mm e (f) 3,3 kJ/mm. Aumento padrão de 250 vezes.

Ataque metalográfico feito com nital 2%.....................................................................................100


Figura 4.14 - Exemplos da microestrutura do metal de solda observada nas amostras soldadas

com aditivo (zirconita) mas com diferentes energias de soldagem: (a) 1,0 kJ/mm; (b) 1,5 kJ/mm;

(c) 2,0 kJ/mm; (d) 2,5 kJ/mm; (e) 3,0 kJ/mm e (f) 3,3 kJ/mm. Aumento padrão de 250 vezes.

Ataque metalográfico feito com nital 2%.....................................................................................101

Figura 4.15 - Variação média da fração volumétrica dos diferentes microconstituintes

encontrados no metal de solda em (a). Efeito da energia de soldagem sobre AF em (b); PF(G) em

(c); PF(I) em (d); FS em (e) e de outros constituintes em (f). A dispersão está representada

graficamente pelo desvio padrão dos resultado dos grãos desta morfologia de ferrita................105

Figura 4.16 - Análise comparativa da variação da fração volumétrica de microconstituintes com a

energia de soldagem, baseada nos resultados apresentados por Basu e Raman (2002) e Schumann

e French (1997) para a ferrita acicular AF (a) e de contorno de grão PF(G) (b)..........................109
Lista de Tabelas

Tabela 2.1 - Corrente aplicada em soldagem de aço com baixo teor de carbono...........................33

Tabela 2.2 - Classificação do fluxo para Arco Submerso segundo a composição química...........40

Tabela 2.3 - Microconstituintes ferrita e carbonetos na soldagem de aço de baixa liga................48

Tabela 3.1 - Composição química nominal em porcentagens de massa do metal base e do metal

de solda utilizados nos ensaios de soldagem..................................................................................60

Tabela - 4.1 – Energia de soldagem, parâmetros elétricos e velocidade de solda relativa aos

cordões de solda..............................................................................................................................75

Tabela 4.2 - Dimensões, em milímetros, do reforço medido nos cordões soldados.......................77

Tabela 4.3 - Dimensões, em milímetros, da penetração medida nos cordões soldados.................77

Tabela 4.4 - Dimensões, em milímetros, da profundidade da zona termicamente afetada medida

nos cordões soldados......................................................................................................................78

Tabela 4.5 - Dimensões, em milímetros, da largura medida nos cordões soldados.......................78

Tabela 4.6 - Efeito qualitativo dos parâmetros de processo sobre a geometria do cordão.............80

Tabela 4.7 - Área da zona fundida medida nos cordões de solda [mm2]........................................81

Tabela 4.8 - Área da região de diluição medida nos cordões de solda [mm2]................................81

Tabela 4.9 - Área da zona termicamente afetada nos cordões de solda [mm2]..............................82

Tabela 4.10 – Microanálise dos constituintes presentes nas inclusões no cordão de solda............85

Tabela 4.11 - Número total de partículas N observadas em 25 campos contíguos, correspondendo

a uma área analisada de 1,8 mm2....................................................................................................90

Tabela 4.12 - Tamanho médio das inclusões d [µm]....................................................................90


Tabela 4.13 - Fração em área das inclusões AA..............................................................................90

Tabela 4.14 - Número de inclusões por unidade de área NA [mm-2]..............................................91

Tabela 4.15 - Número de inclusões por unidade de volume NV [mm-3]........................................91

Tabela 4.16 - Fração volumétrica das inclusões não metálicas VV.................................................91

Tabela 4.17 - Resultados extraídos da literatura sobre a metalografia quantitativa das inclusões

não metálicas..................................................................................................................................94

Tabela 4.18 - Fração volumétrica de ferrita acicular AF no metal de solda [%]..........................102

Tabela 4.19 - Fração volumétrica de ferrita poligonal PF(G) no metal de solda [%]..................102

Tabela 4.20 - Fração volumétrica de ferrita poligonal PF(I) no metal de solda [%]....................103

Tabela 4.21 - Fração volumétrica de ferrita FS no metal de solda [%]........................................103

Tabela 4.22 - Fração volumétrica de outros microconstituintes no metal de solda [%]...............103

Tabela 4.23 - Coletânea de resultados extraídos da literatura sobre as diferentes morfologias da

ferrita que compõe a microestrutura do metal de solda................................................................106


Lista de Símbolos

AF Ferrita acicular

ASTM American Standard Testing Mechanical

AWS American Welding Society

A ampère

aC Antes de Cristo

D Penetração do cordão de solda

E Energia de soldagem [kJ/mm]

FS(A) Ferrita com segunda fase alinhada

FS(NA) Ferrita com segunda fase não alinhada

H Reforço do cordão de solda

IB Índice de Basicidade

I Corrente elétrica [A]

IIW Institute International Welding

MIG Metal Inert Gás

Mn Manganês

OM Optical microscopy

PF Ferrita primária

PF(G) Ferrita de contorno de grão ou primária

PF(I) Ferrita poligonal intragranular ou idiomórfica

SAW Submerged Arc Welding

Si Silício
TIG Tungsten Inert Gás

v velocidade de soldagem [mm/s]

V tensão ou voltagem em volts [V]

W largura do cordão de solda [mm]

Z medida geométrica da ZTA [mm]

ZTA Zona Termicamente Afetada


Sumário

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO.......................................................................................23

CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................27

2.1 Histórico da soldagem ..............................................................................................27

2.2 Processos de soldagem por fusão ...........................................................................31

2.3 Soldagem por Arco Submerso .................................................................................31

2.4 Microestrutura de solda ............................................................................................42

2.4.1 Decomposição da austenita ........................................................................47

2.4.2 Ferrita acicular ............................................................................................52

CAPÍTULO 3 – MATERIAIS E MÉTODOS .....................................................................60

3.1 Materiais ...................................................................................................................60

3.2 Ensaios de soldagem ...............................................................................................65

3.3 Análise metalográfica das amostras .........................................................................68

CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................75

4.1 Condições de soldagem ...........................................................................................75


4.2 Geometria do cordão de solda .................................................................................77

4.3 Distribuição de inclusões no metal de solda ............................................................84

4.4 Análise da microestrutura no metal de solda ...........................................................96

CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES ...................................................................................110

CAPÍTULO 6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................112


Capítulo 1 – Introdução. 23

Capítulo 1
______________________________________________________________________________

INTRODUÇÃO

O processo de soldagem por Arco Submerso é um dos processos mais importantes

aplicado na fabricação de modernas estruturas de engenharia, empregado em grande escala na

indústria devido a sua facilidade de operação e produtividade. Pode ser utilizado na fabricação

metálica como tubos, navios, perfis, vasos de pressão, trocadores de calor, caldeiras e todo tipo

de equipamento pesado. Este processo utiliza um fluxo granular que é alimentado à região da

solda produzindo uma completa cobertura do arco e da poça de fusão, permitindo que a soldagem

se desenvolva sem respingos, luminosidades e radiação. O fluxo também é responsável pela

proteção química contra oxidação e controle da composição química e da microestrutura do metal

de solda. O fluxo granular age como elemento desoxidante para remover contaminantes como o

oxigênio, nitrogênio e enxofre da poça de fusão (OGBORN, 1993).

Uma característica importante do processo de soldagem por Arco Submerso é a eficiência

de deposição, que aproxima-se de 100%, pois não há perdas de metal por projeção. A perda de

calor através do arco é baixa devido ao efeito de isolamento térmico proporcionado pela camada

de fluxo.

O uso de elevada intensidade de corrente (até 2000A) aliado à elevada densidade de

corrente encontrada (60 a 100A/mm2), oferece ao processo elevada taxa de deposição. Essas

características tornam a soldagem por Arco Submerso um processo econômico e rápido. Em

média gasta-se em Arco Submerso 1/3 do tempo de soldagem requisitado para se fazer um

mesmo trabalho com eletrodo revestido.


Capítulo 1 – Introdução. 24

As soldas por Arco Submerso apresentam boa dutilidade, boa uniformidade e uma

excelente aparência do cordão de solda. Obtêm-se propriedades mecânicas compatíveis com às

do metal base (PARANHOS; SOUZA, 1999).

A principal limitação da soldagem por Arco Submerso é que o processo não permite a

soldagem fora da posição plana ou horizontal. De fato, a ação da gravidade, que sustenta a

camada de fluxo sobre a poça de solda, impede a soldagem fora de posição. O uso de

posicionadores de soldagem muitas vezes torna-se necessário em caso de soldas circunferenciais

(PARANHOS; SOUZA, 1999).

A alta quantidade de energia de soldagem faz com que usualmente chapas com espessura

acima de 6,4mm de espessura sejam utilizadas para o processo de soldagem por Arco Submerso

(OGBORN, 1993).

As condições de soldagem são importante para a geometria do cordão de solda, fator

determinante na qualidade da solda realizada. A inspeção dos cordões de solda resume-se a

ensaios não destrutivos (visual, líquido penetrante, partículas magnéticas, radiografia e ultrasom)

e ensaios destrutivos (ensaios de tração, impacto, dobramento, fadiga e dureza) que são

empregados no desenvolvimento da engenharia e no procedimento de soldagem. Além disso,

deseja-se que os cordões possuam determinada geometria, como valores determinados de largura,

reforço e penetração. Observando a geometria do cordão, nota-se que quanto maior a velocidade

de soldagem, mantendo-se constante a tensão e a corrente, menor será a energia de soldagem

(aporte térmico) e, portanto menor a largura da poça de fusão (LIMA et al., 2005)

A engenharia moderna requer, em escala crescente, materiais com elevados níveis de

resistência mecânica, tenacidade e trabalhabilidade, sem comprometimento do preço e

disponibilidade. Nesse sentido, o estudo da microestrutura de solda mostra-se importante com


Capítulo 1 – Introdução. 25

intuito de melhorar a qualidade da solda e consequentemente as propriedades mecânicas dos

materiais. A microestrutura ferrita acicular demonstra-se como microconstituinte que melhora a

tenacidade do material sem prejuízos significativos da resistência mecânica. A ferrita acicular

ocorre no interior do grão de austenita prévia, apresenta uma morfologia de grãos emaranhados,

bem como contorno de alto ângulo e elevada densidade de discordâncias, também pode ocorrer

isoladamente como ripa (DE MELLO, 2003).A ferrita acicular depende para sua nucleação, de

fatores como o tamanho e composição química das inclusões presentes nos cordões de solda.

O metal de solda típico possui cerca de 1018 m-3 inclusões com tamanhos maiores do que

0,5µm e que estão distribuídas na microestrutura. As inclusões são formadas no metal de solda

líquido pela reação do oxigênio com elementos desoxidantes como silício, alumínio e titânio

(BHADESHIA, 2001). As inclusões não metálicas são fundamentais na nucleação da ferrita

acicular, não só pelo fato de serem sítios de nucleação heterogênea, mas, também, por conterem

óxidos que influenciam muito a nucleação deste constituinte. O titânio e o zircônio são poderosos

desoxidantes na poça de fusão, e influenciam decisivamente a composição química das inclusões

de óxidos formadas.

A ferrita acicular se forma principalmente por nucleação heterogênea em inclusões não

metálicas de óxidos. Estas inclusões se formam na poça de fusão ainda líquida e no decorrer do

processo de solidificação, como resultado das reações entre os elementos de liga metálicos e não

metálicos. As inclusões em metais de solda, que usualmente tem uma composição química muito

complexa, são normalmente constituídas de misturas de óxidos e sulfetos. A composição química

tem grande influência no poder destas partículas em nuclear a ferrita acicular. A comparação do

potencial de adições do titânio-boro para a nucleação da ferrita acicular com o zircônio-boro

permitiu constatar que o zircônio pode formar inclusões eficazes para a nucleação da ferrita

acicular (DE MELLO, 2003).


Capítulo 1 – Introdução. 26

Outros constituintes além da ferrita acicular podem se formar no metal de solda de aços

carbono, e são identificáveis em microscópio ótico e classificados segundo a terminologia do

Instituto Internacional de Soldagem (IIW/IIS,1998), tais como a ferrita primária (PF) como sendo

de contorno ou interior dos grãos, onde denomina-se PF(G) a ferrita de contorno de grão ePF (I) a

ferrita poligonal intragranular, além destes constituintes pode-se encontrar no metal de solda a

ferrita com segunda fase alinhada FS(A) e ferrita com segunda fase não alinhada FS(NA). A

ferrita acicular é constituinte que favorece muito a tenacidade, pois não propicia caminhos

preferenciais para propagação de trincas, exigindo, ao contrário da ferrita de contorno de grão,

grande dispêndio de energia para a propagação de uma trinca, na medida em que suas ripas

obrigam a trinca a mudar de direção constantemente (DE MELLO, 2003). No presente trabalho

será feita a caracterização do metal de solda depositado por arco submerso e o papel das

inclusões não metálicas na formação da ferrita acicular será investigado e discutido.


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 27

Capítulo 2
______________________________________________________________________________________________

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Histórico da soldagem

Acredita-se que o processamento dos metais tenha sido originado junto à descoberta do

fogo (8000 a.C.). Há 5000 anos na cidade de Ur, Caldéia, onde uniam-se peças de ouro,

considerado o primeiro metal obtido e utilizado, por meio de brasagem. Há 3000 anos, o homem

inventou o processo de forjar a quente, concentrando o calor na zona da peça que queria ligar,

seguido de martelamento.

A utilização do ferro foi por volta de 2000 a.C. Descobertas arqueológicas indicam que o

início do desenvolvimento do metal deu-se na Mesopotâmia, de onde foi para China e Índia e

depois para o Egito, Grécia e Roma. Nesse período o homem começou a fabricar utensílios de

duas ou mais partes por meio de união por forjamento a quente, colocando uma peça sobre a

outra até o caldeamento.

Uma das mais antigas notícias que se tem sobre a soldagem remonta ao forjamento da espada

de Damasco (1300 a.C.) e ao uso de uma espécie de maçarico soprado pela boca usando álcool ou

óleo como combustível. Esta técnica usada pelos egípcios para fundir e soldar bronze foi

transmitida a gregos e romanos (SILVA, 1997).

Após a revolução industrial no século XIX surgiram novos processos de junção metálica. A

soldagem moderna teve seu nascimento a partir da descoberta do arco elétrico em 1801, por Sir

Humphrey Davis, o mesmo que em 1836 descobriu o acetileno. Historicamente os seguintes fatos

também foram importantes: (SILVA, 1997)


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 28

x 1877, Thompson estuda a soldagem por resistência elétrica.

x 1885, Bernardos e S. Olszewski depositaram a primeira patente do processo de soldagem

por arco elétrico, que obtiveram utilizando um eletrodo de grafite. Iniciou-se assim a

soldagem nos moldes como se apresenta hoje.

x 1889, N G Slavianoff e C. Coffin registraram a substituição do eletrodo de grafite por

arame metálico.

x 1898, Linde desenvolveu o processo de oxicombustível.

x 1901, Fouche e Picard ; primeiro maçarico industrial.

x 1919, C.J. Halsag introduziu a corrente alternada em processo de soldagem.

x 1929, H.M Hobart e P.K Denver utilizaram gás inerte como proteção ao arco elétrico .

x 1932, uso do fluxo granular, que se funde em contato com o calor do arco elétrico e dá

origem a escória protetora da poça de fusão.

x 1935, Soldagem com eletrodo revestido de tungstênio protegido por gás inerte (Tungsten

Inert Gas –TIG) e soldagem por arco submerso (Submerged Arc Welding) SAW.

x 1948, H. F. Kennedy desenvolve a soldagem com arame protegido por gás (Metal Inert

Gas -MIG)

Os principais processos de soldagem são os processos por fusão e por pressão. Os

processos de soldagem por fusão consistem em processos por chama, arco, em banho de

escória, aluminotérmico e raio laser, enquanto que por pressão são os processos na forja a

resistência elétrica, indução, ultra-som e atrito. (CENTRO DE INFORMAÇÃO METAL

MECÂNICA, 2006)

O processo de soldagem à chama utiliza o calor gerado pela queima de um gás, com o

material de adição introduzido separadamente. Atualmente é o processo mais rudimentar de


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 29

soldagem. A fusão por soldagem elétrica a arco voltaico origina-se da ação direta de um arco

voltaico que permite obter elevadas temperaturas limitando a zona de influência calorífica,

além de permitir o uso de qualquer atmosfera gasosa, que quando neutra proporciona menor

contaminação do banho metálico. O processo de soldagem por arco foi introduzido em 1887

por N. R. Bernardos, onde no princípio era um arco voltaico entre um eletrodo de carvão e a

peça e fusão ocorria sem consumir o eletrodo. Em 1889, Zerener introduziu no processo um

segundo eletrodo, fazendo o arco entre os dois eletrodos, sendo que a corrente não mais

percorria a peça, permitindo, portanto a soldagem de materiais não condutores. A Figura 2.1

ilustra estes processos.

Figura 2.1 - Processos de soldagem a arco idealizado por Bernardos e Zerener. (CENTRO DE
INFORMAÇÃO METAL MECÂNICA, 2006)

O processo de Slavianoff de 1892 introduziu a conexão elétrica na própria vareta do

material de adição, tornado o eletrodo consumível. Em 1905, Kjellberg criou o eletrodo revestido,

que permitiu incorporar substâncias, para produzir efeitos especiais na solda, como se pode

observar na Figura 2.2


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 30

Figura 2.2 - Processos de soldagem a arco idealizado por Slavianoff e Kjellberg. (CENTRO DE
INFORMAÇÃO METAL MECÂNICA, 2006)

O processo de soldagem com arco protegido iniciou-se com a utilização do hidrogênio,

processo conhecido como soldagem com "hidrogênio atômico" ou soldagem "arcatômica",

utilizava um arco voltaico em atmosfera de hidrogênio, entre dois eletrodos permanentes de

tungstênio, como mostra a Figura 2.3.

Figura 2.3 - Processo de soldagem com arco protegido. (CENTRO DE INFORMAÇÃO METAL
MECÂNICA, 2006)

O hidrogênio se dissocia no arco elétrico, passando para o estado atômico com absorção

de energia. Em contato com o metal de solda, o hidrogênio volta ao estado molecular, liberando

calor e aumentado o rendimento térmico do processo. A chama produzida pela queima do

hidrogênio também contribui para o rendimento térmico. A fonte de energia era um

transformador especial para produzir uma tensão de 70 volts para iniciar o arco. O processo caiu

em desuso quando gases neutros passaram a ser usados com atmosfera de soldagem.
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 31

Além dos processos de fusão, também há os processos de soldagem por pressão, onde a

energia é aplicada para provocar uma tensão no metal de base capaz de produzir a solubilização

na fase sólida.

No presente trabalho enfatizou-se os processos por fusão e em especial o processo de

soldagem por Arco Submerso. Inicialmente fez-se uma caracterização breve dos principais

processos de soldagem por fusão.

2.2 Processos de soldagem por fusão

Soldagem por fusão é um processo de união de metais no qual a coalescência destes é

conseguida por fusão e diferem-se dos processos de soldagem no estado sólido (soldagem por

explosão e soldagem por atrito) pelo fato de nestes últimos não haver fusão. Nos processos de

soldabrasagem e brasagem, no fato de que nestes processos somente o metal de adição é fundido,

enquanto que nos processos de soldagem por fusão, ambos, o metal de adição e o de base

fundem-se. (CENTRO DE INFORMAÇÃO METAL MECÂNICA, 2006)

2.3 Soldagem por Arco Submerso

A soldagem por arco submerso ou Submerged Arc Welding (SAW) é um processo de

soldagem automático no qual o calor é fornecido por um arco desenvolvido entre um eletrodo de

arame sólido ou tubular e a peça-obra. Tanto o metal base quanto a poça de fusão ficam

totalmente submersos em um fluxo granulado que garante a proteção contra os efeitos da

atmosfera. O fluxo granulado funde-se parcialmente, formando uma camada de escória líquida

que depois é solidificada.


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 32

Além das funções de proteção e limpeza do arco e do metal depositado, o fluxo na forma

granular funciona como um isolante térmico garantindo uma excelente concentração de calor que

caracteriza a alta penetração obtida por meio do processo. Uma vez que fica completamente

coberto pelo fluxo, o arco elétrico não é visível, e a solda se desenvolve sem faíscas,

luminosidades ou respingos, que caracterizam os processos de soldagem em que o arco é aberto

(RAMALHO; JÚNIOR, 1997). A Figura 2.4 ilustra o processo de soldagem por arco submerso.

Figura 2.4 - Ilustração do processo de soldagem por arco submerso (RAMALHO; JÚNIOR,
1997).

No Brasil a soldagem por arco submerso é utilizada na indústria de equipamentos

metálicos como tubos, navios, perfis, plataformas marítimas, trocadores de calor, além de

recuperação de peças como cilindros de laminação e peças rodantes de tratores. O arco submerso

é comumente usado para soldar chapas ou perfis de aço-carbono, os aços ligados também podem

ser soldados utilizando processo de arco submerso observando o limite de aquecimento para que

não ocorram danos na zona termicamente afetada (PARANHOS, 1999). O processo de arco

submerso também pode ser usado para união de peças de aço inoxidável e ligas de níquel, porém

não é recomendado para soldagem de alumínio, titânio, cobre, magnésio e suas ligas.
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 33

Os parâmetros a serem considerados na soldagem por arco submerso podem ser aqueles

pré-determinados como tipo e espessura do metal de base e propriedades requeridas para o metal

de solda, além dos parâmetros decididos na fase inicial da produção e em alguns casos,

determinados em função da disponibilidade de equipamentos, como tipo do equipamento, projeto

da junta, posicionamento da peça e do eletrodo, e os parâmetros primários, tais como corrente,

tensão, velocidade de soldagem, polaridade, combinação eletrodo-fluxo, diâmetro do arame,

distância bico-peça ou extensão livre do eletrodo e distribuição do fluxo (RAMALHO; JÚNIOR,

1997).

A corrente de soldagem atua diretamente na deposição do eletrodo, na profundidade de

penetração e na quantidade do metal de base fundido. Se a corrente é muito alta para uma dada

velocidade de soldagem, o excesso de penetração tende a furar ou vazar o metal de base. Altas

correntes produzem um reforço de solda excessivo, cujas tensões de concentração induzem à

maiores distorções. A Tabela 2.1 possui valores máximos e mínimos de correntes de soldagem

para aço com baixo teor de carbono.

Tabela 2.1 - Corrente aplicada em soldagem de aço com baixo teor de carbono (RAMALHO;
JÚNIOR, 1997).
Diâmetro Faixa de
do eletrodo Corrente (A)
pol mm mínima Máxima
5/64 2,0 200 600
3/32 2,4 230 700
1/8 3,2 300 900
5/32 4,0 420 1000
3/16 4,8 480 1100
7/32 5,6 600 200
¼ 6,4 700 600
5/16 8,0 1000 2500
3/8 9,5 1500 4000
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 34

A polaridade do eletrodo influencia a forma e dimensão da poça de fusão, além de afetar o

tipo de transferência e a estabilidade do arco elétrico. O eletrodo com polaridade inversa (+),

produz melhor penetração e um cordão mais bem feito, no entanto, se estiver conectado na

polaridade direta (-), proporcionará uma maior taxa de deposição com diminuição da penetração.

Com corrente alternada (±) a penetração e a taxa de fusão são médias, mas existe a vantagem de

utilizar eletrodos maiores e correntes mais elevadas.

Para soldagem com Arco Submerso recomenda-se o uso de polaridade direta, pois este

tipo de polaridade diminui a formação de poros, melhor controle do formato e aparência do

cordão de solda e maior penetração do cordão.

A tensão de soldagem influencia o formato da seção transversal do cordão e sua aparência

externa, como se pode observar na Figura 2.5. Um aumento da tensão resulta em um cordão mais

largo, menor penetração e em maior consumo de fluxo.

Figura 2.5 - Variação da tensão no cordão de solda (RAMALHO; JÚNIOR, 1997).

A velocidade de soldagem controla principalmente o tamanho do cordão e a penetração.

Uma vez que a corrente está relacionada à velocidade de soldagem, é preciso ajustá-la para
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 35

conseguir a penetração adequada sem que ocorra o transpasse da junta (vazamento). Velocidades

de soldagem excessivamente altas aumentam a tendência a mordeduras, porosidade, trincas e

cordões com formato não uniforme e velocidades de soldagem excessivamente baixas produzem

cordões sujeitos à trincas e poças de fusão excessivamente largam, resultando num cordão áspero

e com possíveis inclusões de escória. O uso de velocidades de soldagem excessivamente baixa

produz um cordão em forma de chapéu, que é sujeito a trincas, além da formação da poça de

solda muito grande em torno do arco elétrico, resultando em um cordão rugoso, com respingos e

inclusões de escória.

A energia de soldagem é calculada baseada nos parâmetros de corrente, tensão e

velocidade de soldagem e identifica a quantidade de calor adicionada a um material por unidade

de comprimento linear, pode ser representada pelas letra E (ou H, de “heat input”). É usualmente

expressa em kJ/mm, podendo também ser apresentada em kJ/cm ou J/mm. Para a soldagem a

arco elétrico o valor de E, em J/mm, é dado pela equação 2.1 (FORTES; ARAÚJO, 1994).

V .I
E K (2.1)
v

Onde:

K - eficiência de transferência, que depende do processo;

V - tensão em volts (V);

I - corrente elétrica em ampères (A);

v - velocidade linear de soldagem, em mm/s.

Qualquer fonte de calor concentrada pode ser utilizada em um processo de soldagem e a

intensidade da fonte permite definir a capacidade do processo em concentrar a energia para

promover a fusão, ou seja, dá a idéia da potência (em W) utilizada para fundir uma determinada
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 36

área (em cm2), e sabe-se que para fundir a maioria dos metais é necessário utilizar uma fonte cuja

capacidade seja superior a 1000W/cm2.

O fluxo de calor durante a soldagem, pode afetar as transformações de fase durante a

soldagem e portanto, a microestrutura e as propriedades resultantes do metal de solda. Além de

ser responsável por tensões residuais e distorções.

O diâmetro do eletrodo também influencia na geometria do cordão de maneira geral,

mantendo-se todos os outros parâmetros constantes, uma diminuição no diâmetro do eletrodo

acarretará uma maior penetração, cordões mais altos e estreitos e uma maior taxa de deposição.

Para um valor de corrente igual, a mudança para um diâmetro de arame maior permite uma

melhor ligação de juntas mal ajustadas.

Finalmente, a camada de fluxo deve possuir uma altura mínima de maneira que o arco

fique totalmente submerso, pois se a camada for muito alta, o arco fica muito confinado e os

gases tem dificuldade para sair, o aspecto superficial do cordão é irregular. Por outro lado, se a

camada for muito rasa, o arco não ficará complemente submerso no fluxo, podendo vir a causar

centelhamento e respingos. A aparência do cordão também fica comprometida, assim como a

integridade do interior da solda, uma vez que poderá ocorrer contaminação pelo ar atmosférico.

Os fluxos utilizados no processo de soldagem por arco submerso podem ser classificados

de acordo com o método de fabricação (A), a influência que estes exercem nos elementos de liga

contida na solda depositada e o efeito causado nas propriedades da solda depositada (B) ou

quanto ao índice de basicidade (C) (OGBORN, 1999).


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 37

A - Classificação baseada no processo de fabricação do fluxo, que pode ser fundido,

misturado ou aglomerado.

Fluxo fundido: o fluxo fundido é constituído de óxidos de manganês, silício, alumínio, zircônio

ou cálcio e desoxidantes como ferro-silício, ferro-manganês ou ligas similares. Esses ingredientes

são fundidos em forno para formar um vidro metálico. Após o resfriamento, o vidro é reduzido a

partículas granulares, cujas dimensões requeridas asseguram características apropriadas para a

soldagem. A granulação fina é utilizada na soldagem com correntes baixas, enquanto que a

granulação grossa se presta às correntes mais altas.

Fluxo misturado: o fluxo misturado forma uma mistura mecânica de dois ou mais tipos de fluxos,

em proporções selecionadas de forma a obter uma propriedade definida. A grande desvantagem

deste tipo de fluxo é que não é possível garantir uma perfeita uniformidade dos componentes,

além de que estes podem se separar na embalagem ou na manipulação.

Fluxo aglomerado: o fluxo aglomerado é constituído de compostos minerais finamente moídos,

tais como óxido de manganês, silício, alumínio, zircônio ou cálcio e desoxidantes como ferro-

silício, ferro-manganês, ou ligas similares. A estes ingredientes é adicionado um agente

aglomerante, normalmente silicato de sódio ou potássio. O produto agregado é granular e é

sinterizado em temperaturas entre 600 a 900˚C.


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 38

B - Classificação do fluxo com relação ao efeito aos elementos de liga contido no metal

de solda depositado.

Independente do processo de fabricação, um fluxo pode ser classificado como ativo,

neutro ou fluxo de liga, dependendo da capacidade de mudar a liga contida na solda. Todos os

fluxos num processo de arco submerso variam a tensão do arco. Outras variáveis de solda podem

mudar com uma razão do fluxo consumido, para o eletrodo ou metal de solda depositado de

0,7/0,9 (fluxo/eletrodo). Um aumento desta razão pode ser devido aumento da tensão do arco ou

decréscimo da corrente de solda. Do mesmo modo, um decréscimo da razão fluxo/arame pode ser

causado pelo decréscimo da tensão do arco e acréscimo da corrente de solda.

Fluxo Ativo: contém quantidade controlada de manganês e/ou silício. Esses elementos de liga são

acrescentados no fluxo para melhorar a resistência a porosidade e trincas na solda causada por

contaminantes como oxigênio, nitrogênio e enxofre. Os fluxos ativos são usados principalmente

em soldas de passe único, pois contém desoxidantes como manganês e silício. Os elementos de

liga contidos no fluxo podem alterar a razão fluxo /arame. As quantidades de manganês e silício

depositados no metal de solda podem afetar a resistência ao impacto e propriedades mecânicas

deste metal.

Fluxo Neutro: o fluxo neutro contém pouquíssimo ou nenhum desoxidante, não produz mudança

significativa na composição química do metal de solda em função da grande mudança que ocorre

na voltagem/tensão do arco. Os fluxos neutros são usados em soldas de passos múltiplos em

placas com espessura maiores que 25mm. Para quantificar o fluxo, utiliza-se o número de

neutralidade de Wall (N)


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 39

N 100> '% Si  '% Mn @


(2.2)

onde:

'%Si mudança percentual no peso de silício

'%Mn mudança percentual no peso de manganês.

Fluxo ligado: Este fluxo possui quantidade suficiente de elementos de liga para produzir metal de

solda com eletrodo de aço carbono. É usado com arame de aço inoxidável e eletrodos em tira.

Fluxo com elementos de liga são aplicados na soldagem de aços ligados e recobrimento

superficial.

C - Classificação do fluxo com relação ao índice de basicidade (I.B.)

O índice de basicidade é a razão entre óxido metálico forte e óxido metálico fraco. O índice de

basicidade estabelecido pelo IIW (International Institute of Welding) é definido por:

CaO  CaF2  MgO  K 2 O  Na 2 O  Li 2 O  BaO  SrO  1 / 2( MnO  FeO)


IB (2.3)
SiO2  1 / 2( Al 2 O3  TiO2  ZrO2 )

onde:

Fluxos ácidos: IB < 1,0

Fluxos Semi-básicos: 1,0< IB <1,5

Fluxos Básicos: IB • 1,5.

O índice de basicidade é estimado na quantidade de oxigênio contida no metal de solda e

é usado para prever as propriedades do metal de solda. Os fluxos básicos possuem menor

quantidade de oxigênio no metal de base favorecendo boa tenacidade do metal de solda.


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 40

Uma outra maneira de classificação dos fluxos é através da composição química proposta

pela IIW, onde se apresenta oito diferentes classes, conforme mostra a Tabela 2.2 (PARANHOS;

SOUZA, 1999).

Tabela 2.2 - Classificação do fluxo para Arco Submerso segundo a composição química expressa
em porcentagem mássica (PARANHOS; SOUZA, 1999).
Tipo SiO2 TiO2 Al2O3 MnO CaO MgO CaF2
Ácido
Silicato Ca 50-60 3-5 25-30 8-12 2
Alto SiO2
Neutro 30-40 10-15 0-5 25-30 10-15 5-10
Silicato Ca
Básico
Silicato Ca 30-40 3-5 26-45 0-5 10-15
Baixa SiO2
Totalmente Básico
Baixo SiO2 5-12 10-15 10-15 30-40 20-30
Médio Al2O3
Básico
Alumina
Básico 5-15 0-5 20-50 5-15 0-5 5-15 5-15
Alto Al2O3
Neutro
alumina 10-20 5-15 20-50 10-20 0-5 0-10
Rutilo
Al2O3-TiO2
Básico 5-20 5-25 0-10 5-10 10-20 0-20
Rutilico TiO2
Ácido 30-40 0-10 35-45 0-10 0-10
Silicato Mn

O consumo teórico do fluxo é igual ao consumo do eletrodo, porém os parâmetros de

soldagem influenciam e alteram o consumo de fluxo, por exemplo, o consumo de fluxo aumenta

diretamente com a elevação da tensão de soldagem.

Os eletrodos são arames sólidos ou tubulares. Os arames sólidos são fabricados a partir de

fio-máquina e trefilados até sua dimensão final padronizada de acordo coma intensidade de

corrente. Os eletrodos são classificados de acordo com a sua composição química pelas normas

AWS A.5.17 e A.5.23 (PARANHOS; SOUZA, 1999).


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 41

O equipamento básico para soldagem por arco submerso consiste de uma fonte de energia,

uma tocha de soldagem, um alimentador de arame, um sistema de controle, um dispositivo para

alimentação do fluxo, um par de cabos elétricos e uma garra de fixação do cabo a peça. A Figura

2.6 mostra o desenho esquemático utilizado para arco submerso (RAMALHO; JÚNIOR, 1997).

Figura 2.6 - Esboço do processo de soldagem com arco submerso (RAMALHO; JÚNIOR, 1997).

A fonte de energia utilizada para este processo pode ser corrente contínua ou alternada. A

tocha de soldagem consiste de um bico de contato deslizante, de cobre e ligas, um sistema para

fixação do cabo de saída da fonte e um suporte isolante. O bico de contato deve ser adequado

para cada diâmetro de arame a ser utilizado.

O conjunto alimentador de arame consiste de um suporte para a bobina de arame utilizada

para soldagem, um motor de corrente contínua com controlador de velocidade e um conjunto de

roletes que servem para fazer a alimentação e auxiliar o desempeno do arame. O sistema de

controle permite o ajuste dos diversos parâmetros de soldagem, como por exemplo: velocidade de

alimentação do arame, velocidade de deslocamento da tocha ou da peça, conforme o caso,


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 42

corrente e tensão de soldagem. Estes vários controles podem estar em único painel, ou espalhados

elementos de soldagem.

Os cabos elétricos são chamados de cabos de soldagem quando transportam a corrente

elétrica da fonte de energia ao porta eletrodo e cabo de retorno, quando levam a corrente da peça

de trabalho para a fonte de energia. É necessária que os cabos sejam cobertos por uma camada de

material isolante e resistente a abrasão, a sujeira e a um ligeiro aquecimento que se deve a

resistência e a passagem de corrente elétrica. Os diâmetros dos cabos dependem basicamente da

corrente de soldagem, do ciclo de trabalho do equipamento e do comprimento total dos cabos do

circuito.

2.4 Microestrutura de solda

Independentemente de qual seja a região crítica do cordão de solda (metal base, zona

termicamente afetada ZTA ou o metal de adição), vários trabalhos tecnológicos e científicos

foram e ainda está sendo desenvolvido com o propósito de determinar qual seria o melhor

binômio estrutura - propriedades mecânicas . Recentemente, a estrutura ferrítica acicular tem sido

apontada como a microestrutura que melhor possibilita ótimos níveis de tenacidade sem que haja

significativas perdas de resistência mecânica.

A região que envolve o cordão de solda normalmente apresenta uma microestrutura

complexa, com várias morfologias e fases dispersas. Esta região pode ser subdividida em três

zonas (DALLAN; DAMKROGER, 1993):

Não afetada termicamente- constituída pelo metal base (chapa), apresenta a microestrutura típica

dos produtos laminados destinados para esta aplicação. No caso dos aços, ferrita e perlita são

freqüentemente observados.
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 43

Afetada termicamente (ZTA)- constituída pela alteração da microestrutura do metal base pelo

ciclo térmico de soldagem. A energia fornecida é suficiente para promover a austenitização e/ou

dissolução de fase, além do crescimento de grão. Com o resfriamento subsequente, a austenita

formada pode ser transformada em compostos como ferrita não poligonal, bainita ou martensita.

Zona de fusão- é constituída pelo volume fundido de metal base e de adição , cuja composição

química obviamente é diferente daqueles materiais que a originaram. Durante a soldagem esta

região geralmente é protegida por uma camada vítrea, produzida pela fusão de compostos

existentes em um fluxo. O fluxo pode, também, interferir no processo de solidificação, através da

inserção de inoculantes que favorecem a nucleação de fases de interesse tecnológico como a

ferrita acicular.

Os parâmetros de soldagem determinam a geometria final do cordão de solda, como para

altas velocidades de solda, mantendo-se constante tensão e corrente, menor será a energia de

soldagem e portanto, menor a largura do cordão de solda. Alguns trabalhos determinaram a

geometria do cordão de solda, sem a utilização de ensaios mecânicos variando-se valores de

tensão e corrente, concluindo-se que a tensão de soldagem possui grande influência na

penetração, enquanto que a velocidade possui influência significativa na largura do cordão

(LIMA, 2005). A Figura 2.7 ilustra os parâmetros geométricos D (penetração), W (largura), H

(reforço) e Z (medida da ZTA) encontrados nos cordões de solda.


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 44

Figura 2.7 - Parâmetros geométricos do cordão de solda.

A microestrutura do metal de solda é principalmente controlada pela composição química

e a taxa de resfriamento. Um dos principais parâmetros que afetam a microestrutura do metal de

solda é a adição de elementos de liga que influenciam a microestrutura pelo aumento da

temperabilidade, por exemplo, inibindo a transformação da ferrita de contorno de grão PF(G)

pelo controle da quantidade de oxigênio no metal de solda que afetará a composição e

distribuição de inclusões não metálicas.

Para alcançar valores aceitáveis de tenacidade ao impacto em baixas temperaturas de

serviço é necessário evitar a fratura por clivagem pelo controle da microestrutura. Para os metais

de solda, isto pode ser conseguido pelo aumento da quantidade de ferrita acicular através do

controle dos elementos de liga, pelo uso de consumíveis do tipo básico para produzir soldas de

baixo oxigênio com conseqüente diminuição de volume de frações de inclusões e pelo rigoroso

controle de impurezas tais como S, Sb, e N.

Bhadeshia (2001) observou que o efeito do manganês em metais de solda na região como

depositada e regiões reaquecidas e concluiu que aumentando a quantidade de manganês, na faixa

de 0,6 a 1,8% em peso, aumenta-se a quantidade de ferrita acicular e diminui a quantidade de

ferrita intergranular PF(G). Ao mesmo tempo também causa o refinamento da ferrita acicular na
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 45

região de como depositado e o refinamento das zonas reaquecidas de granulação grosseira e fina.

Verificou-se também que o pico de tenacidade é alcançado com aproximadamente 1,5% em peso

de manganês.

O aumento do teor de carbono aumenta o teor de ferrita acicular com o decréscimo da

ferrita de contorno de grão e também afeta a taxa de formação da ferrita com segunda fase

alinhada FS(A). A largura média dos grãos da austenita primária é diminuída com o aumento do

teor de carbono, aumento da quantidade de carbonetos formados, causa o refinamento das regiões

reaquecidas e aumenta a quantidade de segunda fase nas regiões reaquecidas de granulação fina.

O pico de tenacidade ao impacto foi conseguido com a combinação de 0,07% em peso de

carbono e 1,4% em peso de manganês.

O níquel age de maneira similar ao manganês e assim, tem um grande efeito sobre a

temperabilidade. O aumento da quantidade de níquel causa um aumento progressivo na ferrita

acicular, à custa da ferrita primária PF(G). O pico de tenacidade é deslocado de um teor de Mn de

1,4 para 0,6% em peso, quando até 3,5% em peso de níquel é adicionado.

Na região como depositada, o aumento do teor de molibdênio inicialmente aumenta a

acicuralidade e progressivamente diminui a fração volumétrica da ferrita intergranular PF(G). No

último estágio, a ferrita acicular inicial é substituída pela ferrita com segunda fase alinhada

FS(A).

O silício é encontrado em metais de solda devido a grandes quantidades de SiO2 e

silicatos usados como constituintes dos fluxos. Com o aumento do teor de silício no metal de

solda, o teor de oxigênio diminui e a quantidade de ferrita acicular AF nas regiões como

depositada aumenta. Para metais de solda com baixos teores de manganês (0,6% em peso) o

aumento do teor de Si promove a formação de ferrita AF à custa da ferrita de contorno de grão


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 46

PF(G) e da ferrita com segunda fase alinhada FS(A). Para altos teores de manganês (1,4% em

peso), a fração volumétrica da ferrita acicular mantém-se praticamente constante.

Assim como para o silício e o titânio, o alumínio tem um grande efeito na população de

inclusões, mas este elemento tende a reduzir a temperabilidade. Para metais de solda, na condição

de como depositado, o aumento do teor de alumínio diminui a fração de ferrita acicular,

primeiramente aumentando e subsequentemente diminuindo. A quantidade de ferrita de contorno

de grão PF(G) mantém-se relativamente constante e a mudança no teor de ferrita acicular é

compensada pela ferrita FS(A). O alumínio tem ação desoxidante, pois reduz o teor de oxigênio,

formando inclusões.

O boro melhora a temperabilidade quando mantido em solução na austenita, mas na forma

de nitretos ou carbetos reduz a temperabilidade, já que as partículas parecem induzir a nucleação

de ferrita de contorno de grão PF(G).

O grau de acicularidade com adição de nióbio é aumentado. No entanto, o nióbio segrega

para o contorno de grão durante a solidificação e isto causa uma alta temperabilidade local e a

formação de redes isoladas de martensita. Os níveis de nióbio devem ser mantidos o mais baixo

possível, uma vez que ele parece ser deletério à tenacidade devido a formação de carbonitretos.

A adição de vanádio causa o aumento da quantidade de ferrita acicular nas regiões como

depositada à custa das ferritas PF(G) e FS(A) e também promove o refinamento dos grãos nas

regiões reaquecidas de granulação fina pós-solda.

O nitrogênio é conhecido por ter forte efeito prejudicial na tenacidade das soldas. Atuando

conjuntamente com o boro, o níquel aumenta a temperabilidade e não tem forte influência no

desenvolvimento microestrutural quando na ausência de adições de boro. Se o boro estiver

presente, a temperabilidade é melhorada e isto aumenta a oportunidade da austenita transformar-


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 47

se em ferrita acicular, ao invés de PF(G)e FS(A). O nitrogênio pode ser combinado com titânio

para formar nitretos, em vez de óxidos de titânio, que são nucleantes efetivos da ferrita acicular.

O zircônio é um dos principais elementos estabilizadores da ferrita, pode ser encontrado

na forma de óxido (ZrO2) denominado zircônia, possui ponto de fusão de aproximadamente

2700˚C e densidade de 5680 kg.m-3 ou também na forma de silicato denominado zirconita

Zr[SiO4], cuja estrutura cristalina é tetragonal.

2.4.1 Decomposição da austenita

Durante o resfriamento do metal de solda a austenita torna-se instável e decompõe-se em

novos constituintes que dependem da taxa de resfriamento e da composição química. Quando a

taxa de resfriamento é elevada, o processo de transformação deixa de ser difusional e a austenita

se transforma em martensita, por cisalhamento, sendo possível que alguma porcentagem de

austenita continue estável a temperatura ambiente Nos aços C-Mn, que apresentam um limite de

escoamento entre 350-550 MPa o processo no qual a austenita se decompõe sob resfriamento

contínuo pode dar origem a diferentes morfologias de ferrita. Estas morfologias consistem em

alguma combinação de ferrita de contorno de grão PF(G), ferrita com segunda fase alinhada e

ferrita acicular, que geralmente abrange uma distribuição de outras fases finais tais como

austenita retida e martensita. Nos metais de solda com alta resistência e baixo carbono, com

tensão de escoamento superior a 650 MPa, decomposição da austenita resulta em ferrita acicular,

bainita e martensita de baixo carbono (BRAZ, 1999).

Usando microscópio ótico, alguns trabalhos sugeriram uma classificação dos constituintes

das soldas baseados na sua morfologia, que foi adotado com algumas modificações pelo Instituto
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 48

Internacional de Soldagem. A Tabela 2.3 identifica as diversas morfologias da ferrita e suas

respectivas nomenclaturas. As Figuras 2.8 até 2.13 ilustram as morfologias da ferrita descritas

anteriormente na Tabela 2.3.

Tabela 2.3 - Microconstituintes ferrita e carbonetos na soldagem de aço de baixa liga


(DALLAN; DAMKROGER, 1993).
Microconstituintes Outros termos usados na literatura. Descrição Figuras
Ferrita proeutetóide que
Ferrita alotriomórfica;Ferrita cresce longitudinalmente 2.8
Ferrita de contorno intergranular,Ferrita pro-eutetóide, anterior a austenita de
de grão. PF (G) Ferrita Primária. contorno de grão. Pode ser 2.11.
equiaxial ou poligonal e
pode ocorrer nos veios.
Ferrita poligonal que não
Ferrita poligonal (PF) Ferrita Primária . está associada ao contorno 2.9
de grão da austenita.
Ferrita alinhada com
Ferrita com segunda martensita/austenita/carbonetos(MAC) Ferrita com placas laterais 2.12
fase alinhada FS (A) ; Ferrita de Widmanstatten

Ferrita com segunda Ferrita com segunda fase mais não Ferrita com distribuição de
fase não alinhada alinhada FS (NA) microfases ou ferrita de 2.10
FS (NA) placas laterais.
Ferrita/Carbonetos Ferrita-agregados Ferrita fina/estrutura de
agregados (FC) carbonetos(incluindo perlita lamelar) carbonetos, incluindo a 2.11
perlita
Pequenos grãos de ferrita 2.8
Ferrita acicular (AF) Plaquetas de ferrita intragranular; não ligados encontrados 2.9
Ferrita intragranular fina; dentro dos grãos de 2.11
austenita
Solução sólida de carbono
Austenita (A) Austenita Retida no ferro gama e apresenta 2.13.
estrutura de grãos
poligonais irregulares.
colônias de martensita
Martensita (M) adjacentes as ferritas 2.13.
laterais
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 49

Figura 2.8 - Fotomicrografia do metal de solda, destacando ferrita acicular (AF) formada
intragranularmente e ferrita primária (GF), ataque Nital.
(LINNERT,1994)

Figura 2.9-Fotomicrografia do metal de solda,destacando a ferrita primária (PF)formada nos


contornos de grão da austenita, ferrita acicular (AF) e pequena quantidade de perlita (P), ataque
Nital. (LINNERT,1994).
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 50

Figura 2.10-Fotomicrografia do metal de solda, mostrando em detalhe ferrita com segunda fase
não alinhada (NAC). (LINNERT,1994)

Figura 2.11 - Fotomicrografia do metal de solda mostrando vários constituintes microestruturais:


ferrita e carbonetos (FC), ferrita primária (GF), perlita (P), ferrita acicular (AF), ataque Nital.
(LINNERT,1994)
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 51

Figura 2.12 - Fotomicrografia do metal de solda, no destaque a ferrita de segunda fase alinhada
(AC), este constituinte tem sido encontrado na martensita, austenita e carbonetos entre as lamelas
de placas laterais de ferrita, ataque Nital.
(LINNERT,1994)

Figura 2.13-Fotomicrografia do metal de solda, neste caso utilizou-se solução de picral a 4%,
onde pode-se observar fases retidas de austenita e martensita. (LINNERT,1994)

A Figura 2.14 apresenta a morfologia típica observada em microscopia ótica para a ferrita

com segunda fase alinhada FS(A) e ferrita acicular (AF).


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 52

(a) (b)
Figura 2.14 – (a)-Aspectos típicos das ferritas acicular. (b) e ferrita com segunda fase alinhada

FS(A) .

2.4.2 Ferrita acicular

A ferrita acicular é um microconstituinte gerado pelo cisalhamento da matriz austenítica e

pela difusão do carbono para a austenita remanescente. A presença de inclusões intragranulares

pode ser apontada como a principal causa da formação da ferrita acicular e se deve a três fatores

(BHADESHIA, 2001):

x atuando como substrato para a nucleação da ferrita acicular há a destruição de parte da

interface austenita-inclusão, o que reduz a energia interna do sistema;

x o estabelecimento de uma orientação cristalográfica da ferrita com a austenita e a inclusão

promove a formação de uma nova interface de baixa energia;

x mudanças locais de composição química incrementam a força motriz para a

transformação prosseguir.
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 53

Entretanto, a eficácia das inclusões como sítios preferenciais para nucleação é um assunto

complexo, que aparentemente independe do tamanho da partícula pois este substrato é

consideravelmente energicamente menos favorável que a nucleação nos contornos de grão

austeníticos, mas significativamente mais atuante que a possibilidade de nucleação homogênea.

As plaquetas de ferrita acicular nucleiam heterogeneamente em pequenas inclusões não

metálicas e crescem em diferentes direções. A estrutura ferrítica possui forma de agulha, cujo

tamanho é de aproximadamente de 10 Pm de comprimento e 1 Pm de espessura.

Um metal de solda depositado contém aproximadamente 1018 m-3 inclusões de tamanhos

maiores que 0,5 Pm, com tamanho médio de 0,4Pm distribuídos através da microestrutura. O

oxigênio contido no metal de solda reage com fortes elementos desoxidantes, tais como silício,

alumínio e titânio formando as inclusões. Dependendo da natureza das inclusões, estas

promovem a nucleação intragranular de plaquetas de ferrita acicular e conseqüente aumento da

tenacidade sem comprometer a resistência mecânica do material. As inclusões também são

responsáveis pela nucleação de vazios durante a fratura dúctil ou nucleação de trincas por

clivagem durante a fratura frágil. A microestrutura da inclusão é importante, por exemplo, no

metal de solda de um processo de arco submerso onde existem partículas não metálicas com

núcleo de nitreto de titânio encapsuladas por outras fases contendo óxidos de silício, manganês e

alumínio com uma fina linha de sulfeto de manganês cobrindo em parte a superfície das inclusões

(HONEYCOMBE; BHADESHIA, 1995).

O crescimento do grão austenítico, cuja força motriz é a redução de energia interfacial

criada pelo contorno de grão é de fundamental importância para o mecanismo de crescimento da

ferrita acicular. O refino deste grão pode ser obtido através de partículas como carbonitreto de

titânio e nióbio que minimizam a mobilização nos contornos de grão e inibem o seu crescimento
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 54

em altas temperaturas. No entanto não se pode afirmar que os refinos dos grãos austeníticos

favoreçam a formação da ferrita acicular, pois esta não nucleia-se nos contornos de grão onde os

sítios de nucleação são mais favoráveis do que no interior do grão. A Figura 2.15 ilustra

esquematicamente como o aumento do tamanho de grão austenítico contribui para formação e

crescimento do microconstituinte acicular. Esta teoria explica algumas observações feitas em

soldas onde tanto na ZTA como na zona de fusão possuem grandes tamanhos de grãos

austeníticos. Quando aços com inclusões apropriadas são soldados, a razão de ferrita acicular

para bainita é maior na ZTA próximo ao contorno de grão da zona de fusão onde o tamanho de

grão austenítico é máximo. Outra forma de se atenuar o efeito do refino de grão sobre a ferrita

seria a adição de boro (30 ppm) ao aço, o que proporcionaria uma segregação que inibiria a

nucleação heterogênea nos contornos de alto ângulo.

Figura 2.15 - Favorecimento da formação da ferrita acicular com aumento de grão austenítico,
que reduz potencialmente a nucleação da bainita nesses sítios (HONEYCOMBE; BHADESHIA,
1995).

As zonas aciculares e bainíticas não possuem uma transição bem definida, logo, se houver

favorecimento na formação da bainita a microestrutura não será predominantemente acicular.


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 55

Esta reação decresce com o aumento da temperatura na direção de formação da bainita superior

Bs (HONEYCOMBE; BHADESHIA, 1995).

O mecanismo de formação da ferrita acicular como já foi descrito acima é similar ao da

bainita, porém em todas as fases pode haver inclusões onde há nucleação de ferrita de segunda

fase que surge quando não há difusão dos átomos de ferro existentes na matriz. Em termos de

propriedades mecânicas este microconstituinte não é desejável na solda, especialmente porque o

comprimento das placas de ferrita é significativo em relação ao tamanho de grão e constitui um

trajeto preferencial para a propagação de trincas. A Figura 2.16 ilustra agulhas ferrita acicular

num aço soldado.

Figura 2.16 - Micrografia eletrônica de transmissão de réplicas de extração em filme de carbono,


identificando as agulhas de ferrita acicular num aço soldado. (BHADESHIA, 2001):

Inclusões não-metálicas presentes nos aços possuem uma composição complexa, cujas

características são consideradas nocivas às propriedades mecânicas, pois as inclusões agem na

nucleação de sítios por micro-vazios e fratura por clivagem.


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 56

Entretanto, a função de algumas inclusões finas como inoculantes tem atraído muita

atenção nestes últimos anos. O termo inoculante implica que certas inclusões dispersas no aço

possam providenciar sítios com grande potencial de nucleação heterogênea de ferrita

intragranular durante transformação de austenita-ferrita. Uma idéia comum consiste em que

elementos com grande potência de nucleação tenham retículo cristalino que combine com a

ferrita. Podendo existir assim uma reprodução da orientação da relação entre nucleação de

inclusões e plaquetas de ferrita (HONEYCOMBE; BHADESHIA, 1995).

Existem várias inclusões não-metálicas com potencial de nucleação da ferrita acicular, tais

como o óxido de titânio Ti2O3, SiO2, Al2O3, silicatos de manganês como MnO.SiO2, MnS, TiN e

VN. Entretanto a potencialidade de algumas inclusões ainda é contestada, pois algumas inclusões

não-metálicas encontradas em aços comerciais usualmente consistem de diversas misturas

cristalinas e/ou fases amorfas que dificultam na identificação da fase específica responsável pela

nucleação da ferrita acicular.

Há potencialidade nas várias inclusões e precipitados como: SiO2, MnO.Sio2, MnS,

Al2O3, Ti2O3 e VN como nucleadores da ferrita acicular. Entre eles, SiO2, MnO.SiO2, Al2O3 TiN

MnS foram considerados inertes na nucleação da ferrita intragranular abaixo das condições

experimentais. Partículas de Ti2O3 com manganês contido no aço foi o nucleador mais efetivo de

ferrita intragranular, entretanto partículas de Ti2O3 com manganês disperso no aço não foram

efetivos na nucleação. O MnS e Al2O3 com alta quantidade de nitrogênio e vanádio contida no

aço são aparentemente nucleadores de ferrita intragranular (BHADESHIA, 2001):

Óxidos de titânio como (TiO, Ti2O3 e TiO2) são potentes nucleadores da ferrita acicular, o

alumínio é um forte agente oxidante tanto como o titânio, onde a alumina forma-se primeiro

seguida da formação da titânia que pode formar-se como revestimento nas partículas de alumina.

No entanto o óxido de alumínio não é considerado um efetivo nucleador da ferrita acicular.


Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 57

Para formação dos óxidos de titânio a concentração de alumínio deve ser mínima, caso

contrário não haverá formação deste óxido ainda que haja adição de titânio no aço. O oxigênio

pode ser consumido na zona de fusão pelo excesso de alumínio, impedindo a formação do óxido

de titânio desejável. Uma solução seria a diminuição da quantidade de alumínio sem alteração na

quantidade de óxido de titânio presente. O alumínio também influencia no tamanho das inclusões

não-metálicas que pode ser modificado com pequeno aumento na concentração deste elemento.

O nitreto de titânio é frequentemente o primeiro a precipitar-se na fase líquida e é também

considerado nucleante efetivo, mas é menos estável termodinamicamente em altas temperaturas

quando comparado ao Ti2O3.

Uma substância formada pelo enxofre como sulfeto de manganês (MnS) algumas vezes

tem ação de agente de nucleação de sítios heterogêneos. Utilizando-se um aço contendo 0,07% de

enxofre e 0,1% de vanádio produz-se finas partículas de MnS obtidas de sucessivas precipitações

de nitreto de vanádio, carboneto de vanádio e finalmente ferrita poligonal intragranular PF(I). Por

outro lado, em alguns trabalhos os nitretos têm alcançado a nucleação da ferrita através do

mecanismo de ajuste cristalográfico. Os sulfetos estimulam sozinhos a formação da ferrita, assim

nos aços que contém titânio encontram-se precipitados MnS que estimulam a nucleação de ferrita

acicular. A fração de ferrita acicular decresce quando a fração de enxofre é menor que 0,001%.

(HONEYCOMBE; BHADESHIA, 1995).

O fósforo é uma impureza que raramente é acrescentada nos aços, pois sabe-se da

tendência que este elemento possui em fragilizar os contornos de grão. Sua concentração é

usualmente mantida abaixo de 50ppm, mas em soldas a concentração média pode exceder

100ppm e durante a segregação na solidificação induzida pode exceder para 500ppm. Isto pode

alterar a transformação cinética e consequentemente influenciar no desenvolvimento da ferrita

acicular na solda.
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 58

Durante a solidificação da solda, o fósforo segrega-se entre as células de ferrita-į, quando

a solidificação está completa a ferrita- į transforma para austenita a qual nucleia

heterogeneidades į/į no contorno de grão.

Alguns trabalhos sugerem que o contorno de grão da austenita coincide com regiões ricas

em fósforo que então estimulam a formação da ferrita acicular, caso contrário ocorre crescimento

das placas de ferrita nos contornos de grão consumindo a maioria da austenita impedindo a que a

ferrita acicular tenha chance de se desenvolver.

A austenita nos contornos de grão não é coincidente com regiões de fósforo por muito

tempo o que causa a formação da ferrita de Widmanstatten.

O nitrogênio é rigorosamente controlado nos aços nas concentrações entre 20 e 120ppm,

pois causa detrimento da tenacidade. Alguns estudos sugerem que nitrogênio não influencia na

formação da ferrita acicular. Entretanto, outros sugerem mudanças significativas devido à

presença do nitrogênio, por exemplo, em pequenas concentrações nos aços ferríticos

influenciando na transformação Ȗ-Į através de interações cinéticas com fases contendo inclusões.

Na prática, o efeito do nitrogênio no metal de solda deve ser considerado junto do titânio

e do boro, ambos na forma de nitretos. Aparentemente o nitrogênio na ausência do boro não

causa efeito no desenvolvimento da microestrutura. O boro é adicionado para inibir a formação

da ferrita primária a partir dos contornos de grão da austenita e, consequentemente, promover a

formação da ferrita acicular. Alguns estudos indicam que a presença de 100 a 300ppm de Ti e de

10 a 30ppm de B no metal de solda resulta na formação de uma microestrutura constituída

basicamente de ferrita acicular, que lhe confere ótima tenacidade ao impacto, devido a que o

pequeno tamanho de grão e os contornos de alto ângulo desta natureza fazem a propagação de

trinca precisar de freqüentes mudanças de direção, levando a um maior consumo de energia. O Ti

se precipita na forma de TiN e inclusões de óxido, que promovem a nucleação de ferrita acicular
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica 59

no interior do grão austenítico. Além disso, o Ti protege parte do B do oxigênio e do nitrogênio,

permitindo que ele segregue no contorno de grão austenítico, reduzindo assim a energia de

contorno de grão e retardando a nucleação de ferrita primária PF(G). Os níveis ótimos de titânio e

de B parecem depender do teor de elementos microligantes, que aumentam a temperabilidade,

como o Mn, Ni, Mo e Cr bem como do teor de elementos não metálicos e de parâmetros e de

procedimentos de soldagem. Mais especificamente, no arco submerso, o tipo de fluxo, por

exemplo, determina a transferência de elementos de liga para o metal de solda, cuja composição

final depende também das composições químicas do arame e do metal de solda.

Paranhos e colaboradores (1999) estudaram os efeitos da adição de B e Ti ao metal de

solda através do fluxo, sobre a composição química, microestrutura e tenacidade ao impacto em

chapas de aço API5L-X70. Eles concluíram que a presença de 160ppm de titânio e 15ppm de

boro no metal de solda depositado por arco submerso levou a um aumento de 60% da fração

volumétrica de ferrita acicular, em comparação com o metal de solda sem Ti e B, e a um

refinamento da microestrutura do metal de solda reaquecido sem que houvesse uma variação

apreciável do topo e da quantidade de microconstituintes intergranulares.


Capítulo 3 – Materiais e Métodos 60

Capítulo 3
______________________________________________________________________________

MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Materiais

Para realização dos ensaios de soldagem, utilizou-se como metal base uma barra chata de

aço estrutural do tipo ASTM A36, que possui na condição como laminado resistência à tração

entre 400 a 500 MPa e limite de escoamento da ordem de 250 MPa. O metal de adição

selecionado foi o arame sólido de aço-carbono revestido de cobre, classificação AWS E70 S6,

com diâmetro de 1,2 mm. As composições químicas nominais do metal base e metal de adição

encontram-se na Tabela 3.1.

Tabela 3.1 - Composição química nominal em porcentagens de massa do metal base e do


metal de solda utilizados nos ensaios de soldagem.
Materiais C Mn Si P S Cu
(max.) (max.) (max.) (max.)
ASTM A36 0,25 0,8 – 1,20 0,15 -0,40 0,04 0,05 0,20
AWS E70S-6 0,15 1,4 – 1,8 1,0 0,02 0,03 0,50

O fluxo utilizado nos ensaios de soldagem foi do tipo ativo granulado, correspondente à

especificação AWS F7AZ. O metal base constitui-se de barras de aço estrutural com as

dimensões de 400 mm de comprimento, 76 mm de largura e 9,5 mm de espessura, utilizou-se três

barras com essas dimensões para os ensaios de soldagem. Estas barras foram unidas através de

um processo de soldagem por ponteamento onde, primeiramente, foram fixadas através de

sargentos numa bancada, em seguida ponteadas conforme mostra a Figura 3.1. Na seqüência
Capítulo 3 – Materiais e Métodos 61

soldou-se com eletrodo revestido retalhos de barras de aço-carbono como suporte para fixação

das barras durante os ensaios de soldagem como pode ser observado em detalhes no item b da

Figura 3.1. Além das três barras chatas e suportes para fixação, soldou-se também duas chapas de

mesma largura e espessura da chapa de metal base nas duas extremidades com a finalidade de

estabilizar o arco elétrico nos ensaios de soldagem, totalizando assim um comprimento de 1600

mm da barra chata a ser soldada.

Nas operações de soldagem foram aplicados sobre o metal base aditivos como a zircônia,

alumina e zirconita, que foram depositados sobre a superfície da barra através de uma camada de

pó fino emulsificado em etanol, como mostra a Figura 3.2. Estes aditivos foram selecionados

considerando os potenciais efeitos que os mesmo poderiam causar na microestrutura do metal de

solda.

(a) (b)
Figura 3.1 - Processo de ponteamento da junção da barra de aço estrutural usado como
metal base no processo de soldagem. Início da união das barras e retalhos para fixação na
bancada de soldagem em (a). Processo de ponteamento finalizado em (b).
Capítulo 3 – Materiais e Métodos 62

Figura 3.2 - Aplicação dos aditivos sobre a superfície do metal base.

A montagem dos materiais e equipamentos para os ensaios de soldagem pode ser

observada na seqüência através da Figura 3.3, onde o primeiro equipamento a ser fixado na

bancada de solda foi o trilho, seguido do trator de solda juntamente com a extensão do eletrodo,

chapa na forma de viga e barra de soldagem (a), posteriormente foi feita a fixação da barra a ser

soldada através de sargentos (b). Os aditivos de soldagem foram pincelados na barra após sua

fixação na bancada (c) e finalmente a deposição do fluxo granular sobre a superfície da barra de

metal base (d).


Capítulo 3 – Materiais e Métodos 63

(a) (b)

(c) (d)
Figura 3.3 - Montagem na seqüência (a), (b), (c) e (d) dos materiais para o ensaio de soldagem.
Capítulo 3 – Materiais e Métodos 64

Os equipamentos selecionados para o ensaio de soldagem podem ser observados na

Figura 3.4 e consiste em uma fonte de máquina multiprocessos (a), com capacidade de 30kVA,

corrente e tensão máxima de 700 A e 44 V e cabeçote de alimentação do arame (b). A extensão

do eletrodo de soldagem foi modificada com a construção de um bico de contato de 65 mm de

comprimento anexado ao bico da extensão do eletrodo feito de cobre eletrolítico, com objetivo de

passar a corrente elétrica para o arame de soldagem (DONIZETH et al, 2005). Adaptou-se ao

porta eletrodo um trator de soldagem com velocidade ajustável cujo percurso foi definido por um

trilho paralelo ao corpo de prova Figura 3.5.

(
(a) (b)
Figura 3.4-Fonte utilizada nos ensaios de soldagem (a). Cabeçote de alimentação do
arame (b).
Capítulo 3 – Materiais e Métodos 65

Figura 3.5 - Trator de soldagem com velocidade ajustável.

3.2 Ensaios de soldagem

Após a preparação dos materiais e equipamentos na bancada utilizada para os ensaios de

soldagem, usinou-se um gabarito com altura de 20 mm para calibração da extensão do eletrodo

garantindo assim valores de tensão e corrente mais estáveis durante a soldagem de cada cordão.

A energia de soldagem foi determinada em cada ensaio através da equação 3.1.

60.n.V .I
E (3.1)
1000.v

onde:

E = Energia de soldagem [kJ/mm]

n = eficiência

V = tensão [V]

I =corrente [A]

v = velocidade de soldagem [mm/min]


Capítulo 3 – Materiais e Métodos 66

Considerou-se o valor da eficiência de soldagem por arco submerso de

aproximadamente n =1. Para os ensaios de soldagem foram projetadas diferentes energias de

soldagem nos valores de 1,0; 1,5; 2,0; 2,5; 3,0 e 3,3 kJ/mm para cada aditivo contido no metal de

base, conforme pode-se observar no fluxograma ilustrativo das 24 condições de soldagem

identificados na Figura 3.6. Para tanto, os parâmetros elétricos esperados para as determinadas

energias de soldagem foram de corrente e tensão de 240A, 44V e 230A, 43V, corrente e tensão

mínimas.

A obtenção das diferentes energias foi feita principalmente pelo controle da velocidade de

soldagem, selecionada através de testes realizados com o trator de soldagem. Monitorando-se o

tempo com um cronômetro e determinando o percurso do equipamento pode ser calculada a

velocidade de soldagem que seria adequada para obter a energia de soldagem planejada
Capítulo 3 – Materiais e Métodos 67

Energia de soldagem: Energia de soldagem:


1,0 kJ/mm 1,0 kJ/mm

Energia de soldagem: Energia de soldagem:


1,5 kJ/mm 1,5 kJ/mm

Energia de soldagem: Energia de soldagem:


2,0 kJ/mm 2,0 kJ/mm
Sem aditivo.
Alumina
Energia de soldagem: Energia de soldagem:
2,5 kJ/mm 2,5 kJ/mm

Energia de soldagem: Energia de soldagem:


3,0 kJ/mm 3,0 kJ/mm

Energia de soldagem: Energia de soldagem:


3,3 kJ/mm 3,3 kJ/mm

Energia de soldagem: Energia de soldagem:


1,0 kJ/mm 1,0 kJ/mm

Energia de soldagem: Energia de soldagem:


1,5 kJ/mm 1,5 kJ/mm

Energia de soldagem: Energia de soldagem:


2,0 kJ/mm 2,0 kJ/mm
Zircônia.
Zirconita.
Energia de soldagem: Energia de soldagem:
2,5 kJ/mm 2,5 kJ/mm

Energia de soldagem: Energia de soldagem:


3,0 kJ/mm 3,0 kJ/mm

Energia de soldagem: Energia de soldagem:


3,3 kJ/mm 3,3 kJ/mm

Figura 3.6 – Planejamento para preparação de amostras a serem analisadas.


Capítulo 3 – Materiais e Métodos 68

Os ensaios de soldagem foram feitos aos pares em um mesmo corpo de prova,

depositando-se dois cordões de solda sobre a barra chata de aço estrutural ASTM A36, como

pode ser visto na Figura 3.7.

Figura 3.7 - Cordões de solda depositados na barra de aço estrutural ASTM A36.

3.3 Análise metalográfica das amostras

A análise metalográfica das amostras foi feita em duas etapas, sendo análise macro e

micrográfica. Após a soldagem, as chapas foram usinadas na secção transversal dos cordões com

auxílio de uma cortadeira metalográfica com disco abrasivo e em seguida fez-se o embutimento

das amostras em resina termoplástica de cura a frio (poliéster). A Figura 3.8 ilustra uma amostra

embutida, composta por dois cordões de solda. Considerando as diferentes energias e aditivos

utilizados na série de experimentos foram preparadas 24 amostras distintas, conforme

estabelecido no fluxograma da Figura 3.6.


Capítulo 3 – Materiais e Métodos 69

Figura 3.8 - Amostra usada para a análise metalográfica.

Após a preparação das amostras, a primeira etapa da análise metalográfica inicia-se com o

desbaste de cada amostra utilizando lixas de granulação 120, 220, 320, 400, 600 e 1200 para que

a superfície ficasse suficientemente plana. Para revelação das macroregiões dos cordões de solda,

utilizou-se o reativo de Iodo (COLPAERT, 1983), onde as amostras foram imersas por tempo

adequado, sendo em seguida lavadas em água corrente e depois feita a secagem por um jato de ar

quente. A Figura 3.9 ilustra o aspecto típico de uma amostra após o ataque químico.

Figura 3.9 - Aspecto da amostra após a preparação macrográfica, revelando as regiões de


solda. Ataque com reativo de iodo. Metal de solda sem aditivo.Energia de soldagem 1,5 kJ/mm.
Capítulo 3 – Materiais e Métodos 70

Para a documentação macrográfica foi realizada a aquisição das imagens através de um

estereomicroscópio de baixa ampliação e uma máquina fotográfica digital com resolução de 3

megapixels. A análise consistiu na determinação das regiões de solda e de aspectos geométricos

dos cordões de solda preparados. Deste modo as imagens foram tratadas digitalmente para

definição das áreas relacionadas ao metal de solda, zona termicamente afetada e o metal base.

Através de um editor de imagens contornou-se da melhor maneira possível os perímetros das

diferentes regiões dos cordões de solda, gerando novas imagens preto e branco onde as áreas

relacionadas ao metal de solda juntamente com a ZTA, somente a ZTA e a área da diluição

fossem caracterizadas, Figura 3.10. Esses arquivos de imagem digital foram, então, analisados

quantitativamente através das ferramentas existentes no freeware Image Tool, disponível

gratuitamente em http://ddsdx.uthsa.edu/dig/itdesc.html (2006). Desta forma puderam ser

determinados parâmetros geométricos como o reforço, a penetração, a profundidade da ZTA e a

largura do cordão de solda, bem como a área da secção do metal de solda, a taxa de deposição e a

taxa de diluição para cada ensaio realizado.

(a) (b) (c)


Figura 3.10 - Tratamento digital de imagens do cordão de solda mostrado onde estão
definidas as áreas do metal de solda e ZTA em (a), apenas o metal de solda em (b) e a região de
diluição em (c).

A segunda etapa de análise metalográfica consistiu na análise quantitativa das inclusões

não metálicas presentes no metal de solda, bem como a revelação de microestrutura e da

determinação da fração volumétrica dos respectivos microconstituintes. A fase inicial de


Capítulo 3 – Materiais e Métodos 71

preparação das amostras foi similar ao realizado para a macrografia. Antes de ser iniciado o

polimento as amostras foram limpas em banho ultrasônico por 2 minutos, seguindo-se o

polimento mecânico com alumina de granulometria 1µm.

Para a aquisição de imagens das distribuições de inclusões existentes no metal de solda foi

utilizado uma bancada metalográfica equipada com acessórios e uma câmera fotográfica digital

com resolução de 3 megapixels. Testes preliminares mostraram que a utilização de uma objetiva

com ampliação 12,5X, fator de ampliação 20X e uma ocular P12,5X permitia a observação de

inclusões maiores que 0,5µm sobre a superfície polida das amostras. Para que houvesse

padronização da região do cordão de solda fotografado, mapeou-se uma região central de cada

cordão através do microscópio, de forma que a área total mapeada de cada cordão foi de 1,8mm2,

corresponde ao mapeamento fotográfico de 25 campos contíguos não sobrepostos que totalizaram

600 imagens distintas para a série de amostras analisadas. A Figura 3.11 ilustra o procedimento

usado no mapeamento do metal de solda.

Figura 3.11 - Esquema ilustrativo do mapeamento do metal de solda.


Capítulo 3 – Materiais e Métodos 72

De maneira análoga foi necessário um tratamento das imagens para a análise quantitativa

das inclusões, como mostrado exemplarmente na Figura 3.12. Com a definição das partículas em

preto foi possível novamente utilizar as ferramentas existentes no freeware Image Tool, sendo

possível coletar o tamanho equivalente (diâmetro de Ferret) e a área das inclusões observadas em

cada campo fotografado. O diâmetro de Ferret d é definido por

4 ˜ área da inclusão
d (3.2)
S

(a) (b)
Figura 3.12 - Exemplo de distribuição de inclusões no metal de solda observadas na
imagem original da superfície polida (a) e após o tratamento de imagem (b). Amostra com aditivo
zircônia soldada com energia de soldagem 3,0 kJ/mm.

A partir dos resultados obtidos pela análise de imagens foi possível determinar vários

parâmetros quantitativos sobre a distribuição de inclusões (GRONG; KLUKEN, 1992). A fração

em área ocupada pelas partículas AA é definida por

área ocupada pelas partículas


AA (3.3)
área total analisada
Capítulo 3 – Materiais e Métodos 73

O número de inclusões por unidade de área NA e o número de partículas por unidade de volume

NV são determinados, respectivamente, por

número total de inclusões observadas na área total analisada


NA (3.4)
área total analisada

NA
NV (3.5)
d

Onde d é o diâmetro de Ferret médio das inclusões. Assim, a fração volumétrica das inclusões

VV não metálicas foi determinado por

S
VV
6

˜ NV ˜ d
3
(3.6)

A revelação da microestrutura das amostras foi realizada com o ataque químico da

superfície polida feito com nital 2%. Nesta fase experimental o objetivo deste procedimento foi

avaliar a quantidade de ferrita em suas variadas morfologias. Nos metais de solda são típicas a

ferrita acicular (AF), a ferrita primária PF(G), a ferrita intragranular ou idiomórfica PF(I) e a

ferrita alinhada com segunda fase FS(A) (GRONG; KLUKEN, 1992). O procedimento utilizado

para a documentação das 25 áreas contíguas no metal de solda foi idêntico ao utilizado para a

caracterização das inclusões não metálicas, de maneira que uma área correspondente a 1,8mm2

foi analisada para cada amostra.

As imagens obtidas foram submetidas novamente ao Image Tool, onde após a inclusão de

uma grade de pontos, aproximadamente 4000 pontos foram analisados e contados revelando as

variadas morfologias da ferrita, como mostra a Figura 3.13.


Capítulo 3 – Materiais e Métodos 74

Figura 3.13 - Microestrutura do metal de solda; aditivo alumina, energia de soldagem de 1,0
kJ/mm, amostra com e sem a grade de pontos de contagem.Ataque Nital 2%.
Capítulo 4 – Resultados e Discussão 75

Capítulo 4
______________________________________________________________________________________________

RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Condições de soldagem

Os resultados discutidos neste trabalho foram obtidos a partir dos parâmetros elétricos

observados na Tabela 4.1, além da velocidade de alimentação do arame que manteve-se constante

com o valor de 660mm/min. A energia de soldagem foi calculada utilizando a equação 3.1

considerando o valor de eficiência de soldagem n=1. As 24 condições de soldagem foram

reapresentadas através da Figura 4.1

Tabela 4.1 – Energia de soldagem, parâmetros elétricos e velocidade de solda relativa aos
cordões de solda.
Parâmetros Elétricos Velocidade de Energia de
soldagem Soldagem
Cordão (mm/min) (kJ/mm)
Tensão (V) Corrente (A)

Cordão 1 43,7 229 400 1,0


Cordão 2 36 231,5 500 1,5
Cordão 3 35,4 232 250 2,0
Cordão 4 43,7 240,3 250 2,5
Cordão 5 41 235 190 3,0
Cordão 6 43,9 241 190 3,3
Capítulo 4 – Resultados e Discussão 76

Energia de soldagem: Energia de soldagem:


1,0 kJ/mm 1,0 kJ/mm

Energia de soldagem: Energia de soldagem:


1,5 kJ/mm 1,5 kJ/mm

Energia de soldagem: Energia de soldagem:


2,0 kJ/mm 2,0 kJ/mm
Zircônia.
Zirconita.
Energia de soldagem: Energia de soldagem:
2,5 kJ/mm 2,5 kJ/mm

Energia de soldagem: Energia de soldagem:


3,0 kJ/mm 3,0 kJ/mm

Energia de soldagem: Energia de soldagem:


3,3 kJ/mm 3,3 kJ/mm

Energia de soldagem: Energia de soldagem:


1,0 kJ/mm 1,0 kJ/mm

Energia de soldagem: Energia de soldagem:


1,5 kJ/mm 1,5 kJ/mm

Energia de soldagem: Energia de soldagem:


2,0 kJ/mm 2,0 kJ/mm
Sem aditivo.
Alumina
Energia de soldagem: Energia de soldagem:
2,5 kJ/mm 2,5 kJ/mm

Energia de soldagem: Energia de soldagem:


3,0 kJ/mm 3,0 kJ/mm

Energia de soldagem: Energia de soldagem:


3,3 kJ/mm 3,3 kJ/mm

Figura 4.1 – Planejamento para preparação de amostras a serem analisadas.


Capítulo 4 – Resultados e Discussão 77

4.2 Geometria do cordão de solda

Os parâmetros geométricos obtidos da análise macrográfica dos cordões de solda e

tratamento das imagens foram os valores das dimensões do reforço, da penetração e da

profundidade da ZTA que podem ser observados nas Tabelas de 4.2 a 4.5. Estes valores foram

obtidos considerando as diferentes energias de soldagem e aditivos utilizados durante os ensaios.

Tabela 4.2 - Dimensões, em milímetros, do reforço medido nos cordões soldados.

energia de soldagem [kJ/mm]


aditivo
1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,3

sem aditivo 2,2 2,2 3,0 3,3 3,7 4,6

alumina 2,4 2,2 3,4 3,1 3,8 3,8

zirconita 2,4 2,2 3,2 3,5 3,9 4,0

zircônia 2,3 3,2 4,1 3,2 2,3 3,6

Tabela 4.3 - Dimensões, em milímetros, da penetração medida nos cordões soldados.

energia de soldagem [kJ/mm]


aditivo
1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,3

sem aditivo 1,7 1,4 1,7 2,1 2,1 3,4

alumina 1,6 1,8 1,8 1,8 1,4 1,3

zirconita 1,9 1,8 1,9 2,5 2,1 3,4

zircônia 1,6 2,5 1,0 1,4 2,2 3,0


Capítulo 4 – Resultados e Discussão 78

Tabela 4.4 - Dimensões, em milímetros, da profundidade da zona termicamente afetada


medida nos cordões soldados.

energia de soldagem [kJ/mm]


aditivo
1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,3

sem aditivo 1,8 1,1 4,1 3,3 5,9 2,3

alumina 1,9 1,0 3,6 3,8 3,5 3,2

zirconita 2,0 1,2 4,0 2,5 5,1 4,0

zircônia 0,9 2,6 3,8 3,9 1,5 2,5

Tabela 4.5 - Dimensões, em milímetros, da largura medida nos cordões soldados.

energia de soldagem [kJ/mm]


aditivo
1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,3

sem aditivo 11,0 9,7 15,9 13,7 15,7 11,8

alumina 12,1 9,6 14,1 15,2 12,9 12,9

zirconita 11,8 9,6 15,0 12,9 15,4 12,5

zircônia 9,5 13,8 12,4 15,2 11,9 14,8

Através da análise de variância (ANOVA) (Costa Neto, 2002), feita com um nível de

significância de 5% observou-se que somente a energia de soldagem causou efeito sobre a

geometria do cordão de solda, desprezando-se assim a influência dos aditivos utilizados nos

ensaios de soldagem. O comportamento médio dos parâmetros geométricos podem ser

observados na Figura 4.2, onde a dispersão foi representada pelo desvio padrão dos resultados

obtidos, os incrementos dos valores da geometria do cordão aumentam com a energia de

soldagem, podendo-se ajustar satisfatoriamente uma regressão linear apenas no aumento do


Capítulo 4 – Resultados e Discussão 79

reforço (R2 = 0,85). Qualitativamente estes resultados são coerentes com trabalhos de soldagem

por arco submerso realizados (BASU; RAMAN, 2002; GUNARAJ; MURUGAN, 2000).

A energia de soldagem depende dos parâmetros elétricos tensão e corrente e da velocidade

de soldagem. Os efeitos causados por estes parâmetros na geometria do cordão de solda podem

ser observados na Tabela 4.6. Durante os ensaios mediu-se valores de tensão de 35 a 44 V e 227 a

240 A para corrente, calculando-se a potência, observa-se que houve variação de 8 a 10,5 kVA. A

diminuição da velocidade de soldagem de 500 para 190 mm/min foi fator de grande influência

nos parâmetros geométricos do cordão de solda, pois aumentou-se o volume de material

depositado para uma mesma velocidade de alimentação do arame (GUNARAJ; MURUGAN,

2000). A exposição do arco elétrico por mais tempo, resultado da diminuição da velocidade de

soldagem, é a principal razão para o aumento da profundidade da zona termicamente afetada,

como se pode observar na Figura 4.2, considerando-se a espessura da chapa e a difusividade

térmica constantes durante os ensaio de soldagem. (BASU; RAMAN, 2002; GUNARAJ;

MURUGAN, 2000; MARQUES; MODENESI; BRACARENSE, 2005; GUNARAJ;

MURUGAN, 2002).
Capítulo 4 – Resultados e Discussão 80

5,0 5,0

4,5 4,5

4,0 4,0

3,5 3,5

penetração [mm]
3,0 3,0
reforço [mm]

2,5 2,5

2,0 2,0

1,5 1,5

1,0 1,0

0,5 2 0,5
R = 0,85 2
R = 0,48
0,0 0,0
0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
energia de soldagem [kJ/mm] energia de soldagem [kJ/mm]

(a) (b)
7,0 18
6,5
17
6,0
5,5 16

5,0 15
profundidade ZTA [mm]

largura do cordão [mm]

4,5
14
4,0
3,5 13
3,0
12
2,5
2,0 11

1,5 10
1,0
9
0,5 2 2
R = 0,49 R = 0,45
0,0 8
0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
energia de soldagem [kJ/mm] energia de soldagem [kJ/mm]

(c) (d)
Figura 4.2 - Efeito da energia de soldagem sobre a geometria dos cordões: (a) reforço; (b)
penetração; (c) profundidade da ZTA; (d) largura do cordão de solda feito por arco submerso.

Tabela 4.6 - Efeito qualitativo dos parâmetros de processo sobre a geometria do cordão.
parâmetro efeito
tipo variação máxima reforço penetração largura
Ÿ tensão + 25% Ÿ Ÿ ź
Ÿ corrente + 6% ź ź Ÿ
ź velocidade - 62% Ÿ Ÿ Ÿ
Nota: ź – redução; Ÿ - aumento.
Capítulo 4 – Resultados e Discussão 81

As áreas das diferentes regiões do cordão da solda foram determinadas através de recursos

computacionais e podem ser observadas nas Tabelas 4.7 a 4.9. A análise de variância foi feita

com nível de significância de 5% (COSTA NETO, 2002) e confirmou que apenas a energia de

soldagem afetou significativamente as superfícies determinadas. Através desta análise, calculou-

se a diluição e taxa de deposição do metal de adição TDP, expressa em kg/h e determinada por:

TDP= (área do reforço).(velocidade de soldagem).(densidade do aço)

Tabela 4.7 - Área da zona fundida medida nos cordões de solda [mm2].
energia de soldagem [kJ/mm]
aditivo
1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,3

sem aditivo 28,5 22,7 47,7 45,9 58,5 64,7

alumina 32,2 24,6 47,7 48,1 46,7 45,2

zirconita 31,7 24,2 50,1 50,1 64,3 61,5

zircônia 23,6 51,5 43,2 47,4 31,9 61,1

Tabela 4.8 - Área da região de diluição medida nos cordões de solda [mm2].
energia de soldagem [kJ/mm]
aditivo
1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,3

sem aditivo 10,7 6,9 15,5 13,6 17,0 23,9

alumina 11,7 9,4 14,1 14,3 10,7 10,6

zirconita 12,0 9,1 16,1 17,6 19,9 26,4

zircônia 7,7 19,6 8,5 13,6 13,0 23,1


Capítulo 4 – Resultados e Discussão 82

Tabela 4.9 - Área da zona termicamente afetada nos cordões de solda [mm2].
energia de soldagem [kJ/mm]
aditivo
1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,3

sem aditivo 24,3 14,5 61,4 47,1 92,4 38,6

alumina 24,7 13,8 53,0 55,3 72,8 51,0

zirconita 30,2 16,1 56,5 38,6 75,2 66,6

zircônia 12,5 45,9 62,2 63,3 24 37,4

Na Figura 4.3 observa-se os valores analisados das regiões do cordão de solda, sendo as

dispersões representadas pelos respectivos valores de desvio padrão. Observou-se que houve um

crescimento linear (R2=0,90) da área da zona fundida com o aumento da energia de soldagem,

como pode ser observado na Figura 4.3 (a), estes resultados são satisfatórios quando comparados

com outros trabalhos (BASU;RAMAN,2002). Na Figura 4.3 (b) pode-se observar um aumento da

ZTA em relação à superfície da zona fundida devido à redução da velocidade de soldagem,

conseqüentemente um aumento da energia disponível para fusão do material. Através da Figura

4.3 (c), observa-se que a taxa média da diluição variou entre 28 a 36%, valores ligeiramente

abaixo dos trabalhos pesquisados na literatura (GUNARAJ; MURUGAN, 2000). Houve também

um pequeno decréscimo da diluição com o aumento da energia de soldagem, devido ao

crescimento do metal de reforço em relação ao metal diluído e que foi favorecido pela queda da

velocidade de soldagem (MARQUES; MODENESI; BRACARENSE, 2005). A Figura 4.3 (d)

mostra a variação entre (3,1 a 4,3 kg/h), (MARQUES; MODENESI; BRACARENSE, 2005) da

taxa média de deposição que diminuiu como o aumento da energia de soldagem, isto pode ter

ocorrido, pois apesar da haver maior quantidade de energia para fundir maior quantidade de metal

de adição, a velocidade de alimentação do arame foi mantida constante durante os ensaios,


Capítulo 4 – Resultados e Discussão 83

limitando assim a massa de metal adicionada ao cordão, mesmo este tendo sofrido alterações na

geometria como mostra a Figura 4.3.

2,0
70
1,8
área da secção do metal de solda [mm ]
2

razão (área ZTA)/(área do cordão)


60 1,6

1,4
50
1,2

1,0
40
0,8

30 0,6

0,4
20 0,2 2
2 R = 0,30
R = 0,90
0,0
10 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
energia de soldagem [kJ/mm]
energia de soldagem [kJ/mm]

(a) (b)
0,50
6,0

5,5
0,45
5,0

4,5
taxa de deposição [kg/h]

0,40 4,0
taxa de diluição

3,5

0,35 3,0

2,5

0,30 2,0

1,5

1,0
0,25
0,5 2
2
R = 0,70
R = 0,10 0,0
0,20 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
energia de soldagem [kJ/mm]
energia de soldagem [kJ/mm]

(c) (d)
Figura 4.3: - Efeito da energia de soldagem sobre a área da zona fundida (ZF) (a); a razão entre as
áreas da ZTA e ZF (b); a taxa de diluição (c) e a taxa de deposição (d).
Capítulo 4 – Resultados e Discussão 84

4.3 Distribuição de inclusões no metal de solda

O processo de identificação das inclusões permitiu quantificar um grande número

de inclusões de tamanho maior que 0,5 µm devido à restrição do microscópio óptico; porém,

partículas com esta ordem de grandeza possam ser potenciais nucleadores da microestrutura

ferrita acicular. Identificou-se, como exemplo, algumas amostras analisadas por microscopia

eletrônica de transmissão (MET), como se pode observar na Figura 4.4 (ARAÚJO, 2005). Apesar

desta limitação técnica, a obtenção destes resultados torna-se relevante se for levado em

consideração que as partículas com esta ordem de grandeza possam ter destaque sobre a

nucleação de microconstituintes como a ferrita acicular (BOTT; RIOS, 1998).

Figura 4.4 – Micrografia de amostra soldada com energia de soldagem de 1 kJ/mm.


Lâmina fina observada no MET[ARAÚJO, 2005].
Capítulo 4 – Resultados e Discussão 85

Realizou-se também nesta amostra demonstrativa a microanálise EDS dos constituintes


das inclusões, mostrados na Tabela 4.10.

Tabela 4.10 – Microanálise dos constituintes presentes nas inclusões no cordão de solda
[ARAÚJO,2005]
Elementos Porcentagem em peso (%).
AlK 10,05
SiK 28,45
CaK 2,03
TiK 4,47
MnK 38,37
FeK 11,26
CuK 4,56

O tamanho das inclusões analisadas por microscopia óptica pode ser observado nas

Figuras de 4.5 a 4.8. Essas curvas mostram que a variação dos tamanhos das inclusões pode ser

interpretada como uma distribuição do tipo “log-normal” (ATKINSON; SHI, 2003), confirmada

pela análise estatística dessas curvas que revelou nas mesmas um coeficiente de assimetria

positiva (0,4 < A3 < 13,0). O grau de curtose ou de achatamento A4 das distribuições variou entre

3,2 a 9,0 – valores típicos para distribuições leptocúrticas, onde a frequência modal é bastante

pronunciada (COSTA NETO, 2002). A análise de variância feita com um nível de significância

de 5% confirmou que nem a variação do nível de energia na soldagem e tampouco a mudança dos

aditivos usados nos ensaios mostraram efeito sobre a distribuição dos tamanhos das inclusões

analisadas (COSTA NETO, 2002).

O processamento digital das imagens contendo inclusões permitiu determinar uma série

de indicadores quantitativos sobre as mesmas, além do tamanho médio d , conforme mostram as

Tabelas 4.11 a 4.16. Assim sendo foram também determinados os valores médios e o

correspondente desvio padrão (DP) de parâmetros como a fração em área ocupada pelas inclusões

AA, o total de partículas observadas N, o número de inclusões por área NA, densidade de partículas

por volume NV e a fração volumétrica VV.


Capítulo 4 – Resultados e Discussão 86

40 40
sem aditivo sem aditivo
Energia de soldagem 1,0 kJ/mm Energia de soldagem 1,5 kJ/mm
Frequência relativa [%].

Frequência relativa [%].


30 30

20 20

10 10

0 0
5 10 15 20 25 30 5 10 15 20 25 30
Tamanho da inclusão [Pm]. Tamanho da inclusão [Pm].

(a) (b)

40 40
sem aditivo sem aditivo
Energia de soldagem 2,0 kJ/mm Energia de soldagem 2,5 kJ/mm
Frequência relativa [%].

Frequência relativa [%].

30 30

20 20

10 10

0 0
5 10 15 20 25 30 5 10 15 20 25 30
Tamanho da inclusão [Pm]. Tamanho da inclusão [Pm].

(c) (d)

40 40
sem aditivo sem aditivo
Energia de soldagem 3,0 kJ/mm Energia de soldagem 3,3 kJ/mm
Frequência relativa [%].

Frequência relativa [%].

30 30

20 20

10 10

0 0
5 10 15 20 25 30 5 10 15 20 25 30
Tamanho da inclusão [Pm]. Tamanho da inclusão [Pm].

(e) (f)
Figura 4.5 - Distribuição de freqüência dos tamanhos das inclusões encontradas no metal de solda
das amostras, soldadas sem aditivo mas com diferentes energias de soldagem: (a) 1,0 kJ/mm; (b)
1,5 kJ/mm; (c) 2,0 kJ/mm; (d) 2,5 kJ/mm; (e) 3,0 kJ/mm e (f) 3,3 kJ/mm.
Capítulo 4 – Resultados e Discussão 87

40 40
aditivo: alumina aditivo: alumina
Energia de soldagem 1,0 kJ/mm Energia de soldagem 1,5 kJ/mm
Frequência relativa [%].

Frequência relativa [%].


30 30

20 20

10 10

0 0
5 10 15 20 25 30 5 10 15 20 25 30
Tamanho da inclusão [Pm]. Tamanho da inclusão [Pm].

(a) (b)

40 40
aditivo: alumina aditivo: alumina
Energia de soldagem 2,0 kJ/mm Energia de soldagem 2,5 kJ/mm
Frequência relativa [%].

Frequência relativa [%].

30 30

20 20

10 10

0 0
5 10 15 20 25 30 5 10 15 20 25 30
Tamanho da inclusão [Pm]. Tamanho da inclusão [Pm].

(c) (d)

40 40
aditivo: alumina aditivo: alumina
Energia de soldagem 3,0 kJ/mm Energia de soldagem 3,3 kJ/mm
Frequência relativa [%].

Frequência relativa [%].

30 30

20 20

10 10

0 0
5 10 15 20 25 30 5 10 15 20 25 30
Tamanho da inclusão [Pm]. Tamanho da inclusão [Pm].

(e) (f)
Figura 4.6 - Distribuição de freqüência dos tamanhos das inclusões encontradas no metal
de solda, usando alumina como aditivo e diferentes energias de soldagem: (a) 1,0 kJ/mm; (b) 1,5
kJ/mm; (c) 2,0 kJ/mm; (d) 2,5 kJ/mm; (e) 3,0 kJ/mm e (f) 3,3 kJ/mm.
Capítulo 4 – Resultados e Discussão 88

40 aditivo: zircônia 40 aditivo: zircônia


Energia de soldagem 1,0 kJ/mm Energia de soldagem 1,5 kJ/mm
Frequência relativa [%].

Frequência relativa [%].


30 30

20 20

10 10

0 0
5 10 15 20 25 30 5 10 15 20 25 30
Tamanho da inclusão [Pm]. Tamanho da inclusão [Pm].

(a) (b)

40 aditivo: zircônia 40 aditivo: zircônia


Energia de soldagem 2,0 kJ/mm Energia de soldagem 2,5 kJ/mm
Frequência relativa [%].

Frequência relativa [%].

30 30

20 20

10 10

0 0
5 10 15 20 25 30 5 10 15 20 25 30
Tamanho da inclusão [Pm]. Tamanho da inclusão [Pm].

(c) (d)

40 aditivo: zircônia 40 aditivo: zircônia


Energia de soldagem 3,0 kJ/mm Energia de soldagem 3,3 kJ/mm
Frequência relativa [%].

Frequência relativa [%].

30 30

20 20

10 10

0 0
5 10 15 20 25 30 5 10 15 20 25 30
Tamanho da inclusão [Pm]. Tamanho da inclusão [Pm].

(e) (f)
Figura 4.7 - Distribuição de freqüência dos tamanhos das inclusões encontradas no metal
de solda, usando zircônia como aditivo e diferentes energias de soldagem: (a) 1,0 kJ/mm; (b) 1,5
kJ/mm; (c) 2,0 kJ/mm; (d) 2,5 kJ/mm; (e) 3,0 kJ/mm e (f) 3,3 kJ/mm.
Capítulo 4 – Resultados e Discussão 89

40 40
aditivo: zirconita aditivo: zirconita
energia de soldagem 1,0 kJ/mm energia de soldagem 1,5 kJ/mm
Frequência relativa [%].

Frequência relativa [%].


30 30

20 20

10 10

0 0
5 10 15 20 25 30 5 10 15 20 25 30
Tamanho da inclusão [Pm]. Tamanho da inclusão [Pm].

(a) (b)

40 40
aditivo: zirconita aditivo: zirconita
energia de soldagem 2,0 kJ/mm energia de soldagem 2,5 kJ/mm
Frequência relativa [%].

Frequência relativa [%].

30 30

20 20

10 10

0 0
5 10 15 20 25 30 5 10 15 20 25 30
Tamanho da inclusão [Pm]. Tamanho da inclusão [Pm].

(c) (d)

40 40
aditivo: zirconita aditivo: zirconita
energia de soldagem 3,0 kJ/mm energia de soldagem 3,3 kJ/mm
Frequência relativa [%].

Frequência relativa [%].

30 30

20 20

10 10

0 0
5 10 15 20 25 30 5 10 15 20 25 30
Tamanho da inclusão [Pm]. Tamanho da inclusão [Pm].

(e) (f)
Figura 4.8 - Distribuição de freqüência dos tamanhos das inclusões encontradas no metal de
solda, usando zirconita como aditivo e diferentes energias de soldagem: (a) 1,0 kJ/mm; (b) 1,5
kJ/mm; (c) 2,0 kJ/mm; (d) 2,5 kJ/mm; (e) 3,0 kJ/mm e (f) 3,3 kJ/mm.
Capítulo 4 – Resultados e Discussão 90

Tabela 4.11 - Número total de partículas N observadas em 25 campos contíguos, correspondendo


a uma área analisada de 1,8 mm2.
aditivo
energia
sem média DP
[kJ/mm] alumina zircônia zirconita
aditivo
1,0 1949 1787 2420 1164 1830 519
1,5 2721 1560 2770 1299 2088 767
2,0 2108 1686 1308 1852 1739 335
2,5 4506 2352 1863 6468 3797 2119
3,0 5092 10731 2568 1692 5021 4071
3,3 2912 13937 1225 3836 5478 5742

Tabela 4.12 - Tamanho médio das inclusões d [µm].


aditivo
energia
sem média DP
[kJ/mm] alumina zircônia zirconita
aditivo
1,0 6,1 6,0 5,9 6,6 6,1 0,3
1,5 6,8 5,3 5,2 6,2 5,9 0,8
2,0 6,4 6,8 3,7 3,5 5,1 1,7
2,5 4,0 5,4 4,0 3,8 4,3 0,7
3,0 2,7 2,9 4,0 8,0 4,4 2,4
3,3 2,8 3,4 6,2 3,2 3,9 1,6

Tabela 4.13 - Fração em área das inclusões AA.


aditivo
energia
sem média DP
[kJ/mm] alumina zircônia zirconita
aditivo
1,0 0,0467 0,0458 0,0531 0,0272 0,0432 0,0111
1,5 0,0498 0,0459 0,0505 0,0296 0,0440 0,0098
2,0 0,0442 0,0830 0,0121 0,0158 0,0388 0,0328
2,5 0,0267 0,0860 0,0229 0,0773 0,0532 0,0330
3,0 0,0577 0,0331 0,0270 0,0668 0,0461 0,0191
3,3 0,0695 0,0327 0,0306 0,0307 0,0409 0,0191
Capítulo 4 – Resultados e Discussão 91

Tabela 4.14 - Número de inclusões por unidade de área NA [mm-2].


aditivo
energia
sem média DP
[kJ/mm] alumina zircônia zirconita
aditivo
1,0 993 1083 1344 647 1017 288
1,5 867 1512 1539 722 1160 426
2,0 937 1171 727 1029 966 186
2,5 1307 2503 1035 3593 2110 1177
3,0 5962 2829 1427 940 2789 2261
3,3 7743 1618 681 2131 3043 3190

Tabela 4.15 - Número de inclusões por unidade de volume NV [mm-3].


aditivo
energia
sem média DP
[kJ/mm] alumina zircônia zirconita
aditivo
1,0 162636 181847 226530 98236 167312 53265
1,5 127988 287158 297184 115973 207076 98467
2,0 146432 173352 194011 297609 202851 66108
2,5 329077 462391 261863 933836 496792 303046
3,0 2185621 979872 359837 118231 910890 924061
3,3 2763984 482642 109413 665894 1005483 1194983

Tabela 4.16 - Fração volumétrica das inclusões não metálicas VV.


aditivo
energia
sem média DP
[kJ/mm] alumina zircônia zirconita
aditivo
1,0 0,0194 0,0201 0,0248 0,0147 0,0197 0,0041
1,5 0,0208 0,0219 0,0216 0,0146 0,0197 0,0034
2,0 0,0201 0,0280 0,0053 0,0064 0,0150 0,0110
2,5 0,0108 0,0384 0,0085 0,0279 0,0214 0,0143
3,0 0,0232 0,0123 0,0117 0,0311 0,0196 0,0093
3,3 0,0318 0,0095 0,0138 0,0114 0,0166 0,0103
Capítulo 4 – Resultados e Discussão 92

O aumento do número de inclusões e a redução do tamanho médio destas partículas

podem ser observados na Figura 4.9 onde os valores das tabelas acima também foram utilizados.

Os comportamentos dos parâmetros mostrados nas Figuras 4.9(a) e (b) foram bem ajustados por

regressões lineares, cujos coeficientes de correlação foram 0,83 e 0,93, respectivamente. É bem

plausível que o aumento da temperatura ocasionado pelo incremento do calor na soldagem tenha

favorecido a dissolução de óxidos no metal fundido, diminuindo o seu tamanho sem que

houvesse variações significativas na fração volumétrica dessas partículas, Figura 4.9(d). A

literatura indica que a quantidade de inclusões é afetada essencialmente pela composição

química, particularmente do oxigênio em solução no metal fundido (ABSON, 1989). A densidade

de inclusões no metal de solda, expressa tanto por NA como NV, mostrou ter um comportamento

linear crescente bem ajustado com o aumento da energia de soldagem.

Os valores obtidos sobre as inclusões foram comparados com a literatura e pode-se

observar alguns valores através da Tabela 4.17, onde nota-se dispersões entre os valores devido

aos diferentes processos de soldagem e consumíveis utilizados nos ensaios, além das técnicas

diferentes de análise de metalografia. Assim, a escolha das áreas a serem analisadas, o aumento e

o tipo de equipamento (microscópio óptico ou eletrônico) afetam os resultados relativos aos

parâmetros de metalografia das amostras do metal de solda.


Capítulo 4 – Resultados e Discussão 93

10
100000
9

tamanho médio das inclusões d [Pm]


2
número total de inclusões N / 1,8mm

7
10000
6

4
1000
3

2 1
R = 0,83 2
R = 0,93
100
0
0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
energia de soldagem [kJ/mm]
energia de soldagem [kJ/mm]

(a) (b)
0,10 0,10
fração volumétrica das inclusões VV

0,08 0,08
fração em área das inclusões AA

0,06 0,06

0,04 0,04

0,02 0,02

0,00 0,00
0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
energia de soldagem [kJ/mm] energia de soldagem [kJ/mm]

(c) (d)
7
10000 10
número de inclusões NV [mm ]
número de inclusões NA [mm ]

-3
-2

6
1000 10

2 2
R = 0,85 5 R = 0,91
10
100
0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
energia de soldagem [kJ/mm] energia de soldagem [kJ/mm]

(e) (f)
Figura 4.9 - Variação de parâmetros relativos à distribuição de inclusões. (a) quantidade; (b)
tamanho médio; (c) fração em área; (d) fração volumétrica; (e) número de inclusões por unidade
de área observada; (f) número de inclusões por unidade de volume.
Capítulo 4 – Resultados e Discussão 94

Tabela 4.17 - Resultados obtidos da literatura sobre metalografia quantitativa das


inclusões não metálicas.
E d Na Nv
Ref processo Aa Vv técnica
[kJ/mm] [Pm] [mm-2] [mm-3]
0,25 – 2– 0,001 –
[1] SMAW/SAW - - - -
1,1 76.107 0,021
2,0 -
[2] SAW 2,1 - - - 0,006 MO/MEV
3,0
[3] SAW 1,8 – 3,7 0,5 - - - 0,002 MO
2,7 - 0,0004 -
[4] - - - - - MO/MEV
3,3 0,0006
0,4 - 3– 4– 0,003 -
[5] SMAW 1,0 – 1,7 - MO/MET
0,7 9.104 17.107 0,01
2,5 - 9–
[6] - - - - - MO/MEV
3,0 14.104
- 1,4- 0,038 –
[7] SMAW/SAW 1,3 - - MEV
2,3.106 0,063
- 0,014 –
[8] SAW - - - - -
0,024
0,4 0,2-
[9] SAW 2,2 - - - MEV
0,45%
0,05 – 1– 0,002
[10] - - - - -
1,5 10.107
0,3 - 200 - 0,2-
[11] SMAW 1,5 - - MEV
0,6 900 0,6%
0,2 - 0,1-
[12] GMAW 1,0 – 2,0 - - - MEV
0,4 2,8%
0,1 - 4– 0,0039 –
[13] SMAW - - - MET
1,2 6,8.107 0,0047
0,3 – 6–
[14] FCAW 2,1 – 3,8 - - 0,0279 MEV
8,0 30.10-7
0,3 -
[15] SAW 2,1 - - - 0,009 MEV
1,7
1,2 - 0,5 –
[16] - - - - - MEV
2,1 2,2.105
1,0 - 100 – 5,3 –
[17] - - - - MEV
3,0 400 72.104
3,9 - 1017- 1– 0,03 – 0,015 –
* SAW 1,0 – 3,3 MO
6,1 3043 10.105 0,05 0,021

Nota 1: SAW – soldagem por arco submerso; SMAW – eletrodo revestido; GMAG – soldagem
com proteção gasosa; FCAW – arame tubular; E – energia de soldagem; d – tamanho; Na –
partículas por área observada; Nv – partículas por unidade de volume; Aa – fração em área; Vv –
fração volumétrica das inclusões; MO – microscopia ótica; MEV – microscopia eletrônica de
varredura; MET – microscopia eletrônica de transmissão; * - .resultados deste trabalho.
Nota 2: Referências adotadas na tabela: [1] ( ABSON ,1989); [2] (DE MELLO. et al,2003); [3]
(BASU; RAMAN,2002); [4] (VAN DER EIJK. et al,1998); [5] (OSIO et al,1996); [6] (LEE;
PAN,,1995); [7] (BOSE-FILHOH et al.,2006); [8] (INDACOCHEA; OLSON,1983); [9] (BHOLE et
al.,2006); [10] (GRONG; KLUKEN,1992); [11] (ST-LAURENT; L’ESPÉRANCE.,1992); [12]
(SCHUMANN; FRENCH,1997); [13] (ZHANG; FARRAR,1996); [14] (QUINTANA. et al.,2001); [15]
(FOX; BROTHERS,1995); [16] (KIM; CHANG; LEE,2005); [17] (KIM; LEE; OH,2002).
Capítulo 4 – Resultados e Discussão 95

O tamanho médio das inclusões encontradas nos ensaios de soldagem são maiores que os

encontrados na literatura, pois a maioria dos trabalhos pesquisados utilizou a microscopia

eletrônica de varredura que permite a observação sobre a superfície da amostra de inclusões

menores ao limite inferior de resolução do microscópio óptico, sendo assim, a observação das

amostras soldadas deste trabalho reduziria o tamanho médio das inclusões medidas na zona

fundida.

A variação da fração volumétrica das inclusões encontrada neste trabalho mostrou

conformidade com os resultados encontrados na literatura, sugerindo que o teor de oxigênio

introduzido durante a fusão e a solidificação do metal de solda tenha sido mantido em níveis

aceitáveis (INDACOCHEA; OLSON, 1983). As Figuras 4.9(c) e 4.9(d) apresentam,

respectivamente, as frações em área e volumétrica. Apesar de ambos os gráficos terem um

comportamento semelhante, onde não há uma variação expressiva desses parâmetros com a

energia de soldagem, percebe-se que os valores médios são distintos. Uma razão para isto estaria

relacionada com a metodologia empregada para a obtenção desses parâmetros: enquanto a fração

em área foi determinada através da razão entre as áreas ocupadas pelas inclusões e as áreas

correspondentes à totalidade da superfície analisada, a fração volumétrica foi estimada a partir

das expressões descritas no capítulo anterior. Assim, a fração volumétrica VV foi calculada a

partir da estimativa do tamanho médio das inclusões – uma grandeza que seria bem menor que os

tamanhos existentes nas distribuições assimétricas leptocúrticas observadas para estas partículas.

Do exposto pode-se destacar que o aumento da energia durante a soldagem por arco submerso

promoveu a formação de um grande número de inclusões em detrimento ao seu tamanho, sem

que estas modificações sobre a distribuição das partículas provocassem alterações muito

significativas em sua fração volumétrica.


Capítulo 4 – Resultados e Discussão 96

4.4 Análise da microestrutura no metal de solda

O ataque químico feito com nital 2% sobre as superfícies polidas revelou a complexa

microestrutura do metal de solda existente nas amostras analisadas. Assim sendo, a ampliação

usada durante a análise das imagens variou entre 500 a 700 vezes, dependendo do tamanho da

tela de visualização – normalmente entre 15 e 17 polegadas. Tais condições possibilitaram definir

com confiabilidade os diferentes microconstituintes e as suas respectivas morfologias, seguindo-

se as recomendações estabelecidas pelo Instituto Internacional de Soldagem (INTERNATIONAL

INSTITUTE OF WELDING,1988).

A micrografia mostrada na Figura 4.10 apresenta o aspecto típico da microestrutura

observada na região da zona fundida das amostras, constituída principalmente por ferrita acicular

(AF) circundada com grãos de ferrita primária (PF(G)). Raramente um outro microconstituinte, a

ferrita com segunda fase alinhada – FS(A), também foi identificado (GRONG; KLUKEN, 1992).

A identificação das inclusões não metálicas sobre a superfície da amostra também foi possível,

apesar do seu contraste ter sido prejudicado com o ataque metalográfico.


Capítulo 4 – Resultados e Discussão 97

Figura 4.10 - Detalhe da microestrutura do metal de solda apresentando diferentes


morfologias da ferrita após o ataque metalográfico das amostras feito com nital 2%.
Capítulo 4 – Resultados e Discussão 98

As Figuras 4.11 a 4.14 mostram exemplos típicos das microestruturas observadas nos
cordões de solda feitos com diferentes aditivos e sob diversos níveis de energia de soldagem.

(a) (b)

(c) (d)

(e) (f)
Figura 4.11 - Exemplos da microestrutura do metal de solda observada nas amostras
soldadas sem aditivo e com diferentes energias de soldagem: (a) 1,0 kJ/mm; (b) 1,5 kJ/mm; (c)
2,0 kJ/mm; (d) 2,5 kJ/mm; (e) 3,0 kJ/mm e (f) 3,3 kJ/mm. Ataque metalográfico feito com nital
2%.
Capítulo 4 – Resultados e Discussão 99

(a) (b)

(c) (d)

(e) (f)
Figura 4.12 - Exemplos da microestrutura do metal de solda observada nas amostras
soldadas com aditivo (alumina) mas com diferentes energias de soldagem: (a) 1,0 kJ/mm; (b) 1,5
kJ/mm; (c) 2,0 kJ/mm; (d) 2,5 kJ/mm; (e) 3,0 kJ/mm e (f) 3,3 kJ/mm. Ataque metalográfico feito
com nital 2%.
Capítulo 4 – Resultados e Discussão 100

(a) (b)

(c) (d)

(e) (f)
Figura 4.13 - Exemplos da microestrutura do metal de solda observada nas amostras
soldadas com aditivo (zircônia) mas com diferentes energias de soldagem: (a) 1,0 kJ/mm; (b) 1,5
kJ/mm; (c) 2,0 kJ/mm; (d) 2,5 kJ/mm; (e) 3,0 kJ/mm e (f) 3,3 kJ/mm. Ataque metalográfico feito
com nital 2%.
Capítulo 4 – Resultados e Discussão 101

(a) (b)

(c) (d)

(e) (f)
Figura 4.14 - Exemplos da microestrutura do metal de solda observada nas amostras
soldadas com aditivo (zirconita) mas com diferentes energias de soldagem: (a) 1,0 kJ/mm; (b) 1,5
kJ/mm; (c) 2,0 kJ/mm; (d) 2,5 kJ/mm; (e) 3,0 kJ/mm e (f) 3,3 kJ/mm. Ataque metalográfico feito
com nital 2%.
Capítulo 4 – Resultados e Discussão 102

A técnica de contagem de pontos determinou quantitativamente as frações volumétricas

das diversas morfologias da ferrita que foram observadas, como a acicular (AF), ferrita primária

PF(G), ferrita poligonal intragranular PF(I), ferrita com segunda fase alinhada FS(A) e outros

microconstituintes, cujos resultados são mostrados respectivamente nas Tabelas 4.18 a 4.22.

Tabela 4.18 - Fração volumétrica de ferrita acicular (AF) no metal de solda [%].

energia de soldagem [kJ/mm]


aditivo
1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,3
sem aditivo 66,5 63,0 63,9 56,3 70,6 60,9
alumina 64,0 54,8 30,0 66,8 62,2 60,1
zirconita 69,3 65,3 56,1 55,4 55,3 41,5
zircônia 47,7 39,1 52,9 54,2 58,1 57,9

Tabela 4.19 - Fração volumétrica de ferrita primária PF(G) no metal de solda [%].

energia de soldagem [kJ/mm]


aditivo
1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,3
sem aditivo 15,4 16,0 13,5 19,3 8,0 14,8
alumina 21,2 27,2 36,2 15,0 15,1 15,5
zirconita 15,9 15,9 14,7 23,1 14,6 29,8
zircônia 28,1 34,8 22,5 31,0 22,1 21,9
Capítulo 4 – Resultados e Discussão 103

Tabela 4.20 - Fração volumétrica de ferrita poligonal intragranular PF(I) no metal de solda [%].

energia de soldagem [kJ/mm]


aditivo
1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,3
sem aditivo 8,1 7,5 8,0 11,1 6,4 7,6
alumina 6,5 7,9 12,4 7,2 9,2 8,4
zirconita 6,8 7,8 8,3 7,8 8,9 10,4
zircônia 9,3 9,7 10,6 8,0 6,8 9,5

Tabela 4.21 - Fração volumétrica de ferrita de segunda fase alinhada FS(A) na solda [%].

energia de soldagem [kJ/mm]


aditivo
1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,3
sem aditivo 1,3 1,9 0,7 0 0,8 0,5
alumina 0,1 1,6 0 0,5 1,0 0,5
zirconita 1,0 0,3 0 0,1 0 0
zircônia 0 0,1 0,6 0,4 2,4 3,1

Tabela 4.22 - Fração volumétrica de outros microconstituintes no metal de solda [%].

energia de soldagem [kJ/mm]


aditivo
1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,3
sem aditivo 8,8 11,6 13,9 13,3 14,2 16,3
alumina 8,1 9,4 21,4 10,5 12,5 15,5
zirconita 7,0 10,8 20,9 13,5 21,2 18,4
zircônia 15,0 16,2 13,6 6,4 10,6 7,5

A análise de variância, feita com um nível de significância de 5%, foi aplicada aos

resultados indicados nas Tabelas 4.18 a 4.22 (COSTA NETO, 2002). Assim, determinou-se

estatisticamente que havia uma variação perceptível entre as frações volumétricas apresentadas

pelos diferentes microconstituintes, mas que, entretanto, não havia uma diferença significativa
Capítulo 4 – Resultados e Discussão 104

deste parâmetro que pudesse ser atribuída aos efeitos dos aditivos e das energias de soldagem

empregados.

A caracterização da microestrutura do metal de solda também pode ser apreciada

graficamente através da Figura 4.15, onde fica evidente que a ferrita acicular pode ser

considerada a morfologia preponderante entre 50 a 62%. A participação da ferrita primária, seja

de contorno de grão PF(G) ou intragranular PF(I), foi significativa mas menor. A análise

quantitativa estimou entre 15 a 23% da fração volumétrica constituída por PF(G), enquanto estes

valores caíram entre 7 a 10% para PF(I). A ferrita com segunda fase alinhada FS foi identificada

muito raramente nas amostras observadas, constituindo uma fração volumétrica que atingiu no

máximo 2%. Constituintes diversos como inclusões, microporosidades e agregados complexos

participaram com uma parcela de 9 a 17% do volume do metal de solda. Considerando-se as

frações volumétricas indicadas acima, nota-se que há uma boa conformidade dos resultados

obtidos neste trabalho com resultados extraídos da literatura e que estão citados na Tabela 4.23.

A presença de ferrita primária PF(G) e/ou com segunda fase alinhada FS(A) permitiu

identificar a localização dos antigos contornos de grão da austenita. O agrupamento dos grãos de

ferrita revelou que a estrutura antes da transformação de fase era constituída por grãos grosseiros

de austenita com morfologia colunar (BHADESHIA; SVENSSON; GRETOFT, 1986), cujo

crescimento epitaxial manteve normalmente uma orientação muito próxima à normal da linha de

fusão – direção onde o fluxo de calor tende a ser maximizado. Evidências que as inclusões não

metálicas podem restringir o crescimento desses grãos colunares têm sido indicadas na literatura

(INDACOCHEA; OLSON, 1983).


Capítulo 4 – Resultados e Discussão 105

100 80
AF
fração volumétrica do microconstituinte [%]

90

fração volumétrica de ferrita acicular [%]


PF(G)
PF(I) 70
80
FS
70 outros
60
60

50 50

40
40
30

20
30
10

0 20
0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
energia de soldagem [kJ/mm] energia de soldagem [kJ/mm]

(a) (b)
fração volumétrica de ferrita alotriomórfica [%]

40 40
fração volumétrica de ferrita idiomórfica [%]

30 30

20 20

10 10

0 0
0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
energia de soldagem [kJ/mm] energia de soldagem [kJ/mm]

(c) (d)
fração volumétrica de ferrita de Widmanstätten [%

5 40
fração volumétrica de outros constituintes [%]

4
30

20

10
1

0 0
0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0

energia de soldagem [kJ/mm] energia de soldagem [kJ/mm]

(e) (f)
Figura 4.15 - Variação média da fração volumétrica dos diferentes microconstituintes
encontrados no metal de solda em (a). Efeito da energia de soldagem sobre AF em (b); PF(G) em
(c); PF(I) em (d); FS(A) em (e) e de outros constituintes em (f). A dispersão está representada
graficamente pelo desvio padrão dos resultados dos grãos desta morfologia de ferrita.
Capítulo 4 – Resultados e Discussão 106

Tabela 4.23 - Coletânea de resultados extraídos da literatura sobre as diferentes morfologias da


ferrita que compõe a microestrutura do metal de solda.

Fração Volumétrica [%]


Referência Processo Técnica
PF(G) PF(I) FS(A) OUTRAS AF
(DE MELLO et al, SAW 4-11 12-19 0-3 - 68- MO
2003) 83
(BASU;RAMAN, SAW 14-27 1-3 1-5 - 67- MO
2002) 84
(DA TRINDADE FILHO ET AL, SAW 9-32 5-19 5-36 2-3 25- MO
2004) 76

(BHADESHIA;SVENSSON;GRETOFT, SMAW 24-54 - 14-31 - 13- MO


1985) 59

(JORGE;SOUZA;REBELLO, SAW 20-40 - 2-15 - 45- MO


2001) 80
(BOSE-FILHO ET AL, SWAW 15-25 - 1-4 8-18 55- MO
2006) 72
(DOWLING;CORBETT;KERR, SAW 3-11 - - 3-9 82- MO
1986) 92

(BHOLE ET AL, SAW 0-14 - 2-47 - 45- MEV


2006) 76
(ST-LAURENT;L'ESPÉRANCE, SMAW 5-22 1-10 1-35 - 8-85 MEV
1992)

(SHUMANN;FRENCH, GMAW 25-30 12-14 11-15 - 44- MO


1997) 52
(ZHANG;FARRAR, SMAW 1-21 - 6-23 - 57- MO
2001) 79
* SAW 15-23 7-10 0-2 9-17 50- MO
62

onde * corresponde aos resultados obtidos neste trabalho.


Capítulo 4 – Resultados e Discussão 107

A microestrutura do metal de solda se desenvolve a partir da transformação da austenita e

pode ser afetada tanto pelos parâmetros usados na soldagem por arco submerso quanto pela

composição química resultante da diluição. Tais interações promovem uma microestrutura da

zona fundida complexa, normalmente constituída por diferentes morfologias da ferrita. A ferrita

primária PF(G) tem a sua formação iniciada com pequenos superesfriamentos em relação à

temperatura A3 (a 800qC), sendo nucleada heterogeneamente sobre os antigos contornos dos

grãos colunares da austenita e tendo o seu crescimento controlado pela difusão do carbono

através da interface planar incoerente D-J (GRONG; KLUKEN, 1992). O papel das inclusões não

metálicas sobre a formação da ferrita poligonal de contorno de grão PF(G) pode ser desprezado,

considerando que várias destas partículas podem ser observadas no interior dos grãos desta

morfologia de ferrita. Entretanto, o mesmo não se pode afirmar quanto ao efeito das inclusões

sobre a nucleação da ferrita poligonal intragranular PF(I), posto que as mesmas podem atuar

como substrato para a formação deste microconstituinte (SHIM et al, 2001).

Com maiores superesfriamentos (a 750qC) o mecanismo de transformação de fase muda e

deixa de ser controlado exclusivamente pela difusão, tendo a formação de discordâncias um

importante papel. Neste caso a interface J-D segue uma das 24 variantes da orientação

cristalográfica de Kurdjumov-Sachs (K-S), onde o plano (111)J é paralelo a (110)D , que avança

com a direção [011]J paralela à [111]D. Tal restrição cristalográfica torna mais eficiente a

redistribuição do carbono nas extremidades de uma estrutura com interfaces incoerentes com alta

mobilidade (ledge mechanism), mas que altera significativamente a morfologia da frente de

transformação para ripas ou agulhas de ferrita com segunda fase alinhada FS. (GRONG;

KLUKEN, 1992; SHIM et al, 2001).


Capítulo 4 – Resultados e Discussão 108

Embora seja evidente que exista o efeito dos parâmetros do processo de soldagem sobre a

microestrutura do metal de solda a interpretação desta interação é complexa. A Figura 4.16

permite comparar os resultados experimentais com outros obtidos na literatura (BASU; RAMAN,

2002; SCHUMANN; FRENCH, 1997) onde se observa que não há um comportamento muito

bem definido para a variação da fração volumétrica com a energia de soldagem. Teoricamente

espera-se que o aumento do aporte térmico favoreça o incremento da quantidade de ferrita

acicular AF, posto que haveria uma aumento no tamanho de grão da austenita prévia. Este efeito

reduziria a razão SV entre a área da interface e o volume do grão austenítico, parâmetro de

fundamental importância para a nucleação heterogênea da ferrita primária de contorno de grão

PF(G) e que sendo formada ocuparia um volume onde a ferrita acicular poderia ser nucleada a

partir das inclusões. Babu (2004), Basu e Raman (2002),observaram o aumento do tamanho de

grão austenítico no metal de solda feito por arco submerso mas, no entretanto, nota-se pela Figura

4.16(a) que houve uma redução da fração de AF. Estes autores justificaram estes resultados pela

interação entre a taxa de resfriamento e a distribuição de inclusões observadas, que seriam

responsáveis pelo incremento da ferrita PF(G) destacado na Figura 4.16(b).


Capítulo 4 – Resultados e Discussão 109

fração volumétrica de ferrita alotriomórfica [%]


90
fração volumétrica de ferrita acicular [%]

40
80

70
30

60

20
50

40 10
experimental experimental
Basu & Raman Basu & Raman
30 Schumann & French Schumann & French
0
0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
energia de soldagem [kJ/mm] energia de soldagem [kJ/mm]

(a) (b)
Figura 4.16 - Análise comparativa da variação da fração volumétrica de
microconstituintes com a energia de soldagem, baseada nos resultados apresentados por Basu e
Raman (2002) e Schumann e French (1997) para a ferrita acicular AF (a) e de contorno de grão
PF(G) (b).

A interação entre a distribuição de inclusões e a fração volumétrica dos microconstituintes

observados nas amostras mostrou ser coerente com a expectativa (BABU, 2004). Verificou-se

que houve uma redução no tamanho médio das inclusões, mas sem que houvesse variação

significativa em sua fração volumétrica, o que comprometeria um aumento na quantidade de

ferrita acicular formada. Já o incremento do tamanho de grãos da austenita, causado pelo aporte

de calor durante a soldagem, pode responder pela pequena redução na quantidade de ferrita

poligonal de contorno de grão PF(G) indicada pela Figura 4.15(c).


Capítulo 5 - Conclusões 110

Capítulo 5
______________________________________________________________________________________________

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos da análise de geometria dos cordões de solda mostraram que

somente a energia de soldagem contribuiu para as variações na geometria do cordão, sendo a

velocidade de soldagem foi considerado o parâmetro mais significativo devido ao crescente

aumento de material depositado para um decréscimo da velocidade de solda e a velocidade de

alimentação do arame constante durante os ensaios de soldagem. Segundo a observação das

regiões de solda, o aporte térmico também mostrou-se parâmetro mais representativo no aumento

da região da ZTA com relação à superfície da zona fundida, isto devido à redução da velocidade

de solda. Conclui-se que tanto para a geometria do cordão quanto para as regiões de solda a

energia de soldagem foi o principal parâmetro responsável pelas variações, sem influência

considerável dos aditivos utilizados no processo de soldagem do metal de base.

O aumento da energia de soldagem também proporcionou o aumento do número de

inclusões, porém com redução considerável do tamanho das inclusões observadas, e sem que

tenha havido variação na fração volumétrica. Este resultado é esperado se consideramos que com

o aumento da temperatura pode haver maior dissolução dos óxidos no metal fundido. A

visualização das inclusões restringiu-se a limitação técnica do microscópio óptico, sendo

observadas assim, inclusões maiores que 0,5µm, porém uma pequena amostra observada como

exemplo no microscópio eletrônico de varredura pode demonstrar a existência de inclusões

menores que 0,5µm.

Os principais microconstituintes observados após análise metalográfica das amostras em

ordem decrescente de quantidade, a ferrita acicular (AF), a ferrita primária de contorno de grão
Capítulo 5 - Conclusões 111

PF(G), a ferrita primária intragranular PF(I) e a ferrita de segunda fase alinhada (FS).

Considerando que a microestrutura do metal de solda se desenvolve a partir da transformação da

austenita e pode ser afetada pelos parâmetros de soldagem e composição química na região de

diluição, a formação da ferrita primária de contorno de grão PF(G) não sofreu influência

considerável durante sua formação pelas inclusões presentes no metal de solda, visto que estas

encontram-se na sua maioria no interior dos grãos, contribuindo assim para a nucleação da ferrita

poligonal intragranular PF(I) e principalmente da ferrita acicular AF. A variação da quantidade

de ferrita acicular com o aumento da energia de soldagem mostrou ser coerente com a literatura,

resultado da maior taxa de resfriamento e da dispersão de inclusões não metálicas no metal de

solda.
112

Referências Bibliográficas
__________________________________________________________________________________________

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