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1 Departamento de Medicina Abstract This article discusses the role of the Brazilian National Policy for Senior Citizens’
Interna, Universidade
Health in the promotion of healthy aging, preservation and improvement of functional capacity
Federal de Rio Grande.
Rua Engenheiro Alfredo in the elderly, disease prevention, recovery of those who fall ill, and rehabilitation of those with
Huch 475, Rio Grande, RS limited functional capacity, will the goal of ensuring that senior citizens can remain in their
96201-900, Brasil.
2 Centro de Saúde de
surroundings and independently exercise their functions in society. Care for the elderly should be
Candangolândia, Secretaria based primarily on the family, with support from primary health care services, under the family
de Saúde do Distrito Federal. health strategy, representing a link between the elderly and the health system. The article goes on
Área Especial 5/7, Lote 17,
to list some health problems among the elderly in which family health programs can have a ma-
Candangolândia, DF
71725-500, Brasil. jor impact. The Family Health Strategy in Brazil is analyzed in relation to health care for the el-
derly, along with the responsibilities, skills, and attributions required by the health care team.
Key words Family Health Program; Aging Health; Health Services for the Aged
Resumo Discorre-se sobre a Política Nacional de Saúde do Idoso cujo propósito basilar reside
na promoção do envelhecimento saudável, na manutenção e melhoria, ao máximo, da capaci-
dade funcional dos idosos, na prevenção de doenças, na recuperação da saúde dos que adoecem
e na reabilitação daqueles que venham a ter a sua capacidade funcional restringida, de modo a
garantir-lhes permanência no meio em que vivem, exercendo de forma independente suas fun-
ções na sociedade. O cuidado do idoso deve basear-se, fundamentalmente, na família com o
apoio das Unidades Básicas de Saúde sob a Estratégia de Saúde da Família, as quais devem re-
presentar para o idoso, o vínculo com o sistema de saúde. Após, são listados alguns dos proble-
mas de saúde do idoso em que os programas de saúde da família podem causar um impacto im-
portante. Se analisa a Estratégia de Saúde da Família no Brasil em relação à atenção ao idoso,
além das competências, habilidades e atribuições necessárias da equipe.
Palavras-chave Programa Saúde da Família; Saúde do Idoso; Serviços de Saúde para Idosos
A política nacional de saúde do idoso ças, a recuperação da saúde dos que adoecem
e a reabilitação daqueles que venham a ter a
No Brasil, em dezembro de 1999, o Sr. Ministro sua capacidade funcional restringida, de modo
da Saúde, considerando a necessidade de o se- a garantir-lhes permanência no meio em que
tor saúde dispor de uma política devidamente vivem, exercendo de forma independente suas
expressa relacionada à saúde do idoso, bem co- funções na sociedade” (Brasil, 1999:21).
mo, a conclusão do processo de elaboração da Para o alcance do propósito da Política Na-
referida política que envolveu consultas a dife- cional de Saúde do Idoso, foram definidas co-
rentes segmentos direta e indiretamente en- mo diretrizes essenciais a promoção do enve-
volvidos com o tema e, considerando ainda, a lhecimento saudável; a manutenção da capa-
aprovação da proposta da política mencionada cidade funcional; a assistência às necessida-
pela Comissão Intergestores Tripartite e pelo des de saúde do idoso; a reabilitação da capa-
Conselho Nacional de Saúde, resolveu aprovar cidade funcional comprometida; a capacitação
a Política Nacional de Saúde do Idoso e deter- de recursos humanos especializados; o apoio
minar que os órgãos e entidades do Ministério ao desenvolvimento de cuidados informais; e o
da Saúde (MS), cujas ações se relacionem com apoio a estudos e pesquisas.
o tema objeto da Política aprovada, promovam Todas as ações em saúde do idoso, como o
a elaboração ou a readequação de seus planos, previsto na referida Política, devem objetivar ao
programas, projetos e atividades na confor- máximo manter o idoso na comunidade, junto
midade das diretrizes e responsabilidades nela de sua família, da forma mais digna e confortá-
estabelecidas (Brasil, 1999). vel possível. Seu deslocamento para um servi-
Esta Política, em sua introdução, assume ço de longa permanência, seja ele um hospital
que o principal problema que pode afetar o de longa estada, asilo, casa de repouso ou simi-
idoso, como conseqüência da evolução de suas lar, pode ser considerada uma alternativa, so-
enfermidades e de seu estilo de vida, é a perda mente quando falharem todos os esforços an-
de sua capacidade funcional, isto é, a perda das teriores (Galinsky, 1993).
habilidades físicas e mentais necessárias para A internação dos idosos em serviços de lon-
a realização de suas atividades básicas e instru- ga permanência representa um modelo exclu-
mentais da vida diária. dente e que causa uma importante deteriora-
Estudos populacionais realizados no país ção na capacidade funcional e autonomia. Mes-
têm demonstrado que não menos que 85% dos mo a internação hospitalar por curto prazo
idosos apresentam pelo menos uma doença de tempo leva a este tipo de perda. Sager et al.
crônica, e cerca de 10% apresentam pelo me- (1996) demonstraram que, comparando a ca-
nos cinco dessas enfermidades (CEI-RS, 1997; pacidade para realização de atividades básicas
Ramos et al., 1993). A presença de uma ou mais da vida diária que o idoso possuía antes da in-
enfermidade crônica, no entanto, não significa ternação, em um leito de agudos por curto pra-
que o idoso não possa conservar sua autono- zo de tempo, em relação à do momento da alta,
mia e realizar suas atividades de maneira inde- levou a uma significativa queda desta capaci-
pendente. De fato, a maioria dos idosos brasi- dade. Em nova avaliação, três meses após, veri-
leiros é capaz de se autodeterminar e organi- ficou-se que os níveis de capacidade funcional
zar-se sem necessidade de ajuda, mesmo sen- não tinham sido totalmente recuperados em
do portador de uma ou mais enfermidade crô- relação aos de antes da internação.
nica. Os mesmos estudos citados acima reve- O retorno ao modelo de cuidados domici-
lam que cerca de 40% dos indivíduos com 65 liares, como proposto na política em tela, não
anos ou mais de idade precisam de algum tipo pode ter como única finalidade baratear custos
de auxílio para realizar pelo menos uma ativi- ou transferir responsabilidades. A assistência
dade instrumental da vida diária, como fazer domiciliar aos idosos com comprometimento
compras, cuidar das finanças, preparar refei- funcional, demanda programas de orientação,
ções ou limpar a casa, e que 10% requerem aju- informação e apoio de profissionais capacita-
da para realizar tarefas básicas, como tomar dos em saúde do idoso e depende, essencial-
banho, vestir-se, ir ao banheiro, alimentar-se e, mente, do suporte informal e familiar, consti-
até, sentar e levantar de cadeiras e camas (Ra- tuindo-se num dos aspectos fundamentais na
mos et al., 1993). atenção à saúde desse grupo populacional. Is-
Nesse sentido, a Política Nacional de Saúde so não significa, no entanto, que o Estado deva
do Idoso apresenta “como propósito basilar a deixar de ter um papel preponderante na pro-
promoção do envelhecimento saudável, a ma- moção, proteção e recuperação da saúde do
nutenção e a melhoria, ao máximo, da capaci- idoso nos três níveis de gestão do SUS, capaz
dade funcional dos idosos, a prevenção de doen- de otimizar o suporte familiar.
O cuidado comunitário do idoso deve ba- buscando a satisfação do usuário pelo seu es-
sear-se, especialmente, na família e na atenção treito relacionamento com os profissionais de
básica de saúde, por meio das Unidades Bási- saúde;
cas de Saúde (UBS), em especial daquelas sob • Prestar assistência universal, integral, equâ-
a estratégia de saúde da família, que devem re- nime, contínua e, acima de tudo, resolutiva e
presentar para o idoso, idealmente, o vínculo de boa qualidade à população, na unidade de
com o sistema de saúde. saúde e no domicílio, elegendo a família, em seu
contexto social, como núcleo básico de abor-
dagem no atendimento à saúde;
Características e demandas do idoso • Identificar os fatores de risco aos quais a po-
na atenção básica de saúde pulação está exposta e neles intervir de forma
apropriada;
Na Tabela 1, são listados alguns dos problemas • Proporcionar o estabelecimento de parce-
de saúde do idoso em que a atuação dos Pro- rias pelo desenvolvimento de ações interseto-
gramas de Saúde da Família pode causar um riais que visem à manutenção e à recuperação
impacto importante. da saúde da população;
• Estimular a organização da comunidade pa-
ra o efetivo exercício do controle social.
A estratégia de saúde da família Apesar de essa Estratégia ser operaciona-
no Brasil lizada a partir das UBS, todo o sistema deve
estar estruturado segundo a sua lógica, pois a
O Brasil, nas últimas décadas, vem conquistan- continuidade da atenção deve ser garantida,
do importantes avanços no campo da saúde. O por um fluxo contínuo setorial. A implantação
processo de construção do SUS, regulamenta- da mesma vem possibilitando a integralidade
do pela Constituição Federal de 1988 e pelas da assistência e a criação de vínculos de com-
Leis Complementares, vem gradativamente promisso e de responsabilidade compartilha-
ocorrendo sobre os pilares da universalização, dos entre os serviços de saúde e a população.
da integralidade, da descentralização e da par- O profissional deve ser capaz de perceber a
ticipação popular. multicausalidade dos processos mórbidos, se-
Porém, o modelo assistencial ainda forte no jam físicos, mentais ou sociais, tanto indivi-
país é caracterizado pela prática médica volta- duais, quanto coletivos, contextualizando, sem-
da para uma abordagem biológica e intra-hos- pre, o indivíduo em seu meio ambiente. Deve
pitalar, associada a uma utilização irracional estar voltado à criação de novos valores, traba-
dos recursos tecnológicos existentes, apresen- lhando mais a saúde do que a doença e, basi-
tando cobertura e resolubilidade baixas e com camente, por meio do trabalho interdiscipli-
elevado custo. Dessa forma, gera grande insa- nar. Dessa maneira, o profissional de uma UBS
tisfação por parte dos gestores do sistema, dos sob a nova estratégia atua nos fatores que al-
profissionais de saúde e da população usuária teram o equilíbrio entre o indivíduo e o ambi-
dos serviços. Assim sendo, o grande desafio pa- ente, compreendendo a saúde em seu senti-
ra o sistema é conseguir traduzir os avanços do mais abrangente. Para tanto, ele busca co-
obtidos no campo legal em mudanças efeti- nhecer detalhadamente a realidade das famí-
vas e resolutivas da prática da atenção à saúde lias que moram em sua área de abrangência,
da população. O êxito da reforma proposta com incluindo seus aspectos físicos e mentais, de-
o uso potencializado da atenção básica, com- mográficos e sociais. Cabe a ele, também, iden-
plementada pela rede de serviços especializa- tificar os problemas de saúde prevalentes na
dos e hospitalares, vem sendo a busca perma- área de sua abrangência e, construir, junto com
nente dos gestores de saúde. as famílias, um diagnóstico psicossocial que
Nesse contexto, o MS assumiu, a partir de detecte situações de vulnerabilidade familiar.
1994, a Estratégia de Saúde da Família, visando Ele planeja, organiza e desenvolve ações indi-
à reorganização do modelo tradicional por in- viduais e coletivas, avaliando, de forma cons-
termédio da reesquematização da atenção bási- tante, seus resultados. Para tanto, é necessário
ca à saúde. A proposta é uma nova dinâmica que ele tenha uma visão sistêmica e integral do
para a organização dos serviços básicos de saú- indivíduo e da família, trabalhando com suas
de, bem como para a sua relação com a comu- reais necessidades e disponibilidades, valendo-
nidade e entre os diversos níveis de complexi- se de uma prática tecnicamente competente e
dade, assumindo os compromissos de: humanizada, pelas ações de promoção, prote-
• Reconhecer a saúde como um direito de ci- ção e recuperação da saúde.
dadania, humanizando as práticas de saúde e
Tabela 1
(continua)
Tabela 1 (continuação)
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