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O Tesouro de Davi - Salmo 13

Comentário ao Livro dos Salmos, compilados por Spurgeon

É costume chamar a este Salmo «Até quando?» Quase diríamos que é o Salmo do gemido, pela
incessante repetição do grito «Até quando?»

Vers. 1. Até quando? Esta pergunta repete-se não menos de quatro vezes. Corresponde ao
intenso desejo de libertação e à grande angústia do coração. E não tem por que não haver um
pouco de impaciência mesclada com isso; não é este o retrato mais fiel da nossa própria
experiência? Não é fácil prevenir e evitar que os desejos degenerem em impaciência. A aflição
prolongada parece representar abundante corrupção; pois o ouro que tem de permanecer
muito tempo no fogo, é porque contém muita escória que tem de ser consumida; daí que a
pergunta Até quando? possa sugerir uma busca profunda do coração.

Até quando, SENHOR? Esquecer-me-ás para sempre? Ah, Davi!, que néscias são estas palavras!
Pode Deus olvidar? Pode o Omnisciente falhar na lembrança? Acima de tudo, pode o coração
do SENHOR esquecer o Seu filho amado? Ah, irmãos, expulsemos para longe de nós a ideia, e
escutemos a voz do nosso Deus do pacto, por boca do profeta: « Eis que nas palmas das
minhas mãos eu te gravei; os teus muros estão continuamente diante de mim.»! (Is 49:16 ACF)

Para sempre. Que pensamento tão tenebroso! Sem dúvida era bastante suspeitar dum
esquecimento temporário, mas faremos uma pergunta ingrata e imaginaremos que o Senhor
vai abandonar para sempre o Seu povo? Não, a Sua ira pode durar uma noite, mas o Seu amor
permanece eternamente. C. H. S.

Até quando esconderás o teu rosto de mim? O que é que há no nosso coração ou na nossa
vida pelo qual Deus esconde o Seu rosto e franze o cenho sobre nós? Timothy Rogers

Tal como a noite e as sombras são boas para as flores, e a luz da Lua e o rocio são melhor que
o Sol contínuo, assim também a ausência de Cristo tem o seu uso especial e um pouco de
virtude nutritiva, e dá seiva à humildade, e aviva o apetite, e provê um campo livre para que a
fé faça acto de presença e exercite os seus dedos para alcançar o que não vê. Samuel
Rutherford, 1600-1661.

Vers. 1, 2. O que diz o provérbio francês da enfermidade é que é o verdadeiro de todos os


males, porque vêm a cavalo, mas vai-se a pé. Joseph Hall

O cristão, enquanto está no mundo, vive num clima insalubre; por um lado, os deleites do
mesmo amortecem o seu amor a Cristo; por outro, a tribulação com qual se encontra debilita a
sua fé na promessa. William Gurnall

Vers. 2. Até quando? Há muitas situações na vida do crente em que as palavras deste Salmo
podem ser uma consolação e ajuda para reviver a fé que se afunda. Certo homem que jazia
junto à piscina de Betesda, tinha uma enfermidade há trinta e oito anos (João 5:5). Uma
mulher que tinha um espírito de enfermidade passou dezoito anos antes de ser «libertada»
(Lucas 13:11). Lázaro, toda a sua vida tinha sofrido da enfermidade e de pobreza, até que foi
libertado pela morte e transferido para o seio de Abraão (Lucas 16:20-22). Assim pois, todo o
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que se sinta tentado a usar as queixa deste Salmo tenha a segurança no seu coração de que
Deus não esquece o Seu povo, que no fim a ajuda virá, e, enquanto isso, todas as coisas
cooperam para bem em favor dos que O amam. W. Wilson, DD Wilson, DD

Assim pois, o leitor cuidadoso notará que a pergunta Até quando? apresenta-se em quatro
formas. A pena do escritor vê-se: conforme parece, segundo é, conforme o afecta a ele por
dentro, e aos seus inimigos por fora. Todos somos propensos a bater mais no ceguinho. Como
no nosso ditado “a cão cego todos atiram pedras”. Colocamos enormes lousas tumulares sobre
as tumbas das nossas alegrias, mas quem pensa em erigir monumentos de louvor, pelas
misericórdias recebidas? Escrevemos quatro livros de Lamentações e só um de Cantares, e
achamos que são muitos mais em casa os gemidos do Misere que o canto de Te Deum.

Vers. 5. Mas eu em tua misericórdia tenho confiado; o meu coração se alegrará na tua
salvação. Que mudança vemos aqui! Vede, a chuva terminou, e de novo os pássaros cantam. O
coração de David estava desafinado, com mais frequência, do que a sua harpa. Começa muitos
dos seus salmos suspirando, mas termina-os cantando. C. H. S.

Vers. 6. Cantarei ao SENHOR pelo bem que me tem feito. O mundo maravilha-se de como
podemos estar tão contentes sob desgraças tão extremas; pois o nosso Deus é Omnipotente.
Ele volta a desgraça em felicidade. Crede-me não há gozo no mundo comparável ao que
desfrutam os filhos de Deus sob a cruz de Cristo. Posso falar por experiência, e portanto,
crede-me, não temais nada do que o mundo vos pode fazer, porque quando aprisionam os
vossos corpos, deixam as vossas almas em liberdade para conversardes com Deus; quando nos
arremessam e esmagam, levantam-nos; quando nos matam, então enviam-nos para a vida
eterna. Que maior glória pode haver que o sermos conformados à nossa cabeça, Cristo. E isto
fá-lo a aflição. Oh bom Deus!, o que sou eu, para que me concedas uma misericórdia tão
grande? John Trapp

Nunca soube o que era Deus estar a meu lado em todas circunstâncias e em toda a oferta com
que me aflige Satanás, etc., conforme tenho visto e achado que Ele faz desde que vim para
este lugar; porque, eis aqui, quando se apresentaram temores, vieram com eles ânimo e
apoio; sim, quando comecei, como se disséssemos com nada, excepto com a minha sombra,
Deus com a Sua ternura não permitiu que fosse molestado, mas com um versículo ou outro da
Escritura fortaleceu-me contra tudo, até ao ponto que com frequência tenho dito: Se isto fosse
legítimo, pediria em oração maiores tribulações para conseguir maiores consolos. Eclesiastes
7:14, 2 Coríntios 1:5. John Bunyan, 1628-1688.

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