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II Série • N.

º 160 • 3€
Julho/Agosto 2017

Diretor
Carlos Mineiro Aires

Diretor-adjunto
Carlos Alberto Loureiro

a engenharia portuguesa em revista

REFORMA
DAS
FLORESTAS

PRIMEIRO PLANO 6 ENTREVISTA 48 ENTREVISTA 53


Luís Capoulas Santos António de Sousa Macedo
Ministro da Agricultura, Presidente do Colégio Nacional
Florestas e Desenvolvimento Rural de Engenharia Florestal

XXICONGRESSO
DA ORDEM DOS ENGENHEIROS
COIMBRA
23 e 24 de novembro de 2017

ENGENHARIA
E TRANSFORMAÇÃO
DIGITAL

“ Esta Reforma foi pensada para dar Planeamento e gestão profissionais


resposta a um problema tormentoso da floresta são vitais para o setor
que há muito aflige o País:
o abandono e má gestão das florestas ”
Renault TALISMAN & ESPACE
Premium by Renault

Se chegou aqui pelas suas próprias


escolhas, porquê mudar?

A nova Gama Premium da Renault foi criada para quem segue os seus instintos e tem
a coragem para fazer o que não é óbvio. Afinal, nada diz mais sobre si que as suas escolhas.
Continue a ser autêntico.

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Emissões de CO2 (g/km) de 98 a 152. Consumo em ciclo misto (l/100 km) de 3,7 a 6,8. Imagem não contratual.
*
Nesta Edição
5 Editorial 8 Equiparação de licenciados “pré-Bolonha”
Floresta portuguesa a mestres “pós-Bolonha”
Um valioso recurso ambiental e económico
12 Notícias
Primeiro Plano
6 XXI Congresso Nacional 16 Regiões
da Ordem dos Engenheiros
“Engenharia e Transformação Digital”

23 Tema de Capa Reforma das Florestas

24 Reforma da Floresta – Algumas reflexões Entrevista


28 Políticas e instrumentos de política: o que falta fazer?
30 Ordenamento do território – Soluções de gestão 48 Luís Capoulas Santos
florestal? Ministro da Agricultura, Florestas
32 Uma floresta rentável defender-se-á melhor e Desenvolvimento Rural
34 Dois mundos: rentabilidade da floresta nacional vs. “Esta Reforma foi pensada para dar resposta
proprietário florestal a um problema tormentoso que há muito aflige o País:
36 Gestão florestal, conservação, o fogo e o seu uso o abandono e má gestão das florestas”
38 Novos sistemas florestais – Silvicultura
de povoamentos mistos 53 ANTÓNIO DE SOUSA MACEDO
39 Fahrenheit 451 Presidente do Colégio Nacional
de Engenharia Florestal
Mini Dossiê Planeamento e gestão profissionais
A Engenharia e o Património Florestal Português da floresta são vitais para o setor

42 Engenharia CIVIL Estudo de Caso


42 Engenharia ELETROTÉCNICA
43 Engenharia MECÂNICA 58 CAULE
44 Engenharia GEOLÓGICA E DE MINAS Zonas de Intervenção Florestal: ordenamento
42 Engenharia QUÍMICA E BIOLÓGICA do território, da floresta e a defesa da floresta
45 Engenharia GEOGRÁFICA contra incêndios
46 Engenharia de MATERIAIS
47 Engenharia do AMBIENTE 61 Baldio de Ansiães
A gestão florestal sustentável e certificação florestal

64 Colégios 92 Legislação

Comunicação 94 Crónica
86 Engenharia Florestal  Mirzakhani – glória e tragédia no feminino
 Viveiros de produção de plantas florestais
da The Navigator Company 98 Agenda
89 Engenharia Geológica e de minas
O “roteiro das minas e pontos de interesse mineiro
e geológico de Portugal”: o turismo e o património
mineiro e geológico

Nota da Redação: na edição n.º 159 da "INGENIUM" foi erradamente omitida a identificação de Susana Armário (INPI) enquanto coautora da Comu-
nicação com o título “Ferramenta de Pré-diagnóstico de Mapeamento Tecnológico. Estudo de Caso: Dispositivos para produção de energia mecâ-
nica a partir de energia solar de concentração”. Pelo facto pedimos desculpa à visada e aos leitores.

Julho/Agosto 2017 INGe NIUM • 3


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Editorial

II SÉRIE N.º 160 – JULHO / AGOSTO 2017

Propriedade Ordem dos Engenheiros


Diretor Carlos Mineiro Aires
EDITORIAL
Diretor-adjunto Carlos Almeida Loureiro
Conselho Editorial
Carlos Mineiro Aires
Paulo Ribeirinho Soares, Luis Filipe Cameira Ferreira, Gonçalo Manuel Fernandes Diretor
Perestrelo, Teresa Burguete, Manuel Fernando Ribeiro Pereira, Tiago Alexandre
Rosado Santos, Maria João Oliveira de Barros Henriques, Miguel Castro Neto,
Luis Rochartre, Luis Gil, Ricardo Magalhães Machado, Lisete Calado Epifâneo,
Pedro Mêda, Armando da Silva Afonso, Jorge Grade Mendes, Pedro Jardim
Fernandes, Paulo Botelho Moniz
Edição Ordem dos Engenheiros ingenium@oep.pt
Redação e Produção G
 abinete de Comunicação da Ordem dos Engenheiros
gabinete.comunicacao@oep.pt

Sede Av. António Augusto de Aguiar, 3 D – 1069-030 Lisboa


Tel. 213 132 600 • Fax 213 524 630
Região Norte Rua Rodrigues Sampaio, 123 – 4000-425 Porto
Tel. 222 071 300 • Fax 222 002 876
Região Centro Rua Antero de Quental, 107 – 3000-032 Coimbra
Tel. 239 855 190 • Fax 239 823 267
Região Sul Av. António Augusto de Aguiar, 3 D – 1069-030 Lisboa

Floresta portuguesa
Tel. 213 132 600 • Fax 213 132 690
egião dos Açores Largo de Camões, 23 – 9500-304 Ponta Delgada
R
Tel. 296 628 018 • Fax 296 628 019
Região da Madeira Rua Conde Carvalhal, 23 – 9060-011 Funchal
Tel. 291 742 502 • Fax 291 743 479
Um valioso recurso ambiental e económico

I
Coordenação Geral Marta Parrado nicio este artigo num momento especialmente doloroso para a Ordem dos Enge-
Redação Nuno Miguel Tomás (CPJ 6152)
Ligação aos Colégios e Especializações Alice Freitas nheiros e para os engenheiros portugueses, pois acabo de regressar do funeral do
Publicidade e Marketing Dolores Pereira
Impressão Lidergraf - Artes Gráficas, S.A. Engenheiro Armando Lencastre que presidiu a esta Associação Profissional entre
Rua do Galhano, 15
4480-089 Vila do Conde • Portugal abril de 1979 e agosto de 1980.
Publicação Bimestral • Tiragem 45.000 exemplares
Personalidade de vulto na Engenharia portuguesa e referência mundial na área da hi-
Registo no ICS n.º 105659 • NIPC 504 238 175 • API 4074 dráulica, foi um emérito professor, autor de inúmeras obras e um empreendedor dotado
Depósito Legal n.º 2679/86 • ISSN 0870-5968
de um invulgar perfil social e humanista, constituindo um exemplo e uma referência
para todos nós.
Trata-se de uma perda irreparável, mas certamente que a memória coletiva se encar-
regará de fazer perdurar a sua presença.
Bastonário Carlos Mineiro Aires
Vice-presidentes Nacionais Carlos Almeida Loureiro, A presente edição da “INGENIUM” tem como tema de capa a “Reforma das Florestas”.
Fernando de Almeida Santos
Durante o verão que agora termina, Portugal assistiu perplexo e impotente a uma
Conselho Diretivo Nacional
Carlos Mineiro Aires (Bastonário), Carlos Almeida Loureiro (Vice-presidente vaga de incêndios com inusitada dimensão que, desta vez, originou um elevado nú-
Nacional), Fernando de Almeida Santos (Vice-presidente Nacional),
Joaquim Poças Martins (Presidente CDRN), Carlos Duarte Neves mero de vítimas e avultados prejuízos.
(Secretário CDRN), Armando Silva Afonso (Presidente CDRC), Isabel Pestana
da Lança (Secretária CDRC), Jorge Grade Mendes (Presidente em Exercício
De imediato, a nossa Ordem promoveu a criação de uma Bolsa Técnica Solidária des-
CDRS), Maria Helena Kol (Secretária CDRS), Pedro Jardim Fernandes
(Presidente CDRM), Paulo Botelho Moniz (Presidente CDRA).
tinada a registar engenheiros que voluntariamente se disponibilizaram para ajudar na
Conselho de Admissão e Qualificação reconstrução e na criação de novas soluções que permitam reduzir as consequências
Hipólito de Sousa (Civil), Celestino Quaresma (Civil), António Machado e Moura
(Eletrotécnica), Teresa Correia de Barros (Eletrotécnica), Álvaro Rodrigues (Mecânica), do retorno de eventuais acontecimentos desta natureza.
Rui de Brito (Mecânica), Júlio Ferreira e Silva (Geológica e Minas), Paulo Caetano
(Geológica e Minas), Luís Guimarães Almeida (Química e Biológica), João Pereira
Em poucos dias tivemos 454 inscrições, o que demonstra a formação e o espírito
Gomes (Química e Biológica), Carlos Guedes Soares (Naval), Jorge Beirão Reis (Na-
val), José Pereira Gonçalves (Geográfica), João Agria Torres (Geográfica), Pedro de
solidário dos nossos Membros, o que a muitos níveis foi reconhecido e enaltecido.
Castro Rego (Agronómica), Vicente de Seixas e Sousa (Agronómica), Pedro Ochôa Tal como referi num artigo publicado num semanário, a floresta não deve ser enca-
de Carvalho (Florestal), José Ferreira de Castro (Florestal), Rosa Miranda (Materiais),
Rogério Colaço (Materiais), Luís Amaral (Informática), Vasco Amaral (Informática), rada como um problema que todos os anos gera vagas de incêndios, mas sim como
António Guerreiro de Brito (Ambiente), Leonor Amaral (Ambiente).
Presidentes dos Conselhos Nacionais de Colégios um valioso recurso ambiental e económico, produtor de matéria-prima transacio-
Paulo Ribeirinho Soares (Civil), Jorge Marçal Liça (Eletrotécnica),
Aires Barbosa Ferreira (Mecânica), Carlos Caxaria (Geológica e Minas),
nável e com elevado valor energético, que requer uma gestão cuidada.
Luís Pereira de Araújo (Química e Biológica), Pedro Ponte (Naval),
Teresa Sá Pereira (Geográfica), Miguel de Castro Neto (Agronómica),
A persistente aposta em políticas reativas, em vez de preventivas, cria um clima de
António Sousa de Macedo (Florestal), António Dimas (Materiais), permanente suspeita das competências e de julgamento público dos intervenientes,
Ricardo Machado (Informática), António de Albuquerque (Ambiente).
Região Norte – Conselho Diretivo Joaquim Poças Martins (Presidente), tentando encontrar falhas e culpados, pelo que cada vez mais se justifica o que sempre
José Lima Freitas (Vice-presidente), Carlos Duarte Neves (Secretário),
Pedro Mêda Magalhães (Tesoureiro).
temos defendido, ou seja, uma mudança do paradigma de gestão baseado num ade-
Vogais Rosa Vaz da Costa, José Marques Aranha, Pilar Machado.
quado planeamento da ação e na alocação dos recursos indispensáveis.
Região Centro – Conselho Diretivo Armando Silva Afonso (Presidente),
Altino Loureiro (Vice-presidente), Isabel Pestana da Lança (Secretária), É evidente que nesta viragem avulta o papel que devia competir aos engenheiros de
Maria Emília Homem (Tesoureira).
Vogais Elisa Almeida, Álvaro Saraiva, Pedro Silva Monteiro. diversas Especialidades, com natural relevância para os engenheiros florestais, pois são
Região Sul – Conselho Diretivo J orge Grade Mendes estes profissionais que detêm conhecimento e competência adequados para gerir e
(Presidente em Exercício)
Maria Helena Kol (Secretária), Arnaldo Pêgo (Tesoureiro). lidar com a floresta.
Vogais Maria Filomena de Jesus Ferreira, Arménio de Figueiredo, Gil Manana.
Região da Madeira – Conselho Diretivo Pedro Jardim Fernandes (Presidente),
A desvalorização da profissão, sobretudo dos engenheiros ligados à gestão do terri-
Amílcar Gonçalves (Vise-presidente) Rui Dias Velosa (Secretário),
Nélia Sequeira de Sousa (Tesoureira).
tório e à floresta, é uma evidência que também afetou a procura das formações nestas
Vogais José Branco, Manuel Sousa Filipe, Sara Olim Marote. áreas, o que conjugado com a extinção e menorização das instituições conhecedoras
Região dos Açores – Conselho Diretivo Paulo Botelho Moniz (Presidente),
André Cabral (Vice-presidente), José Silva Brum (Secretário), da floresta e da sua gestão não podia ser um bom augúrio.
Manuel Gil Lobão (Tesoureiro).
Vogais Teresa Soares Costa, Bruno Melo Cardoso, Manuel Francisco Sousa. O envolvimento da Engenharia é crucial num novo e adequado ciclo que a floresta
reclama.

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XXICONGRESSO
DA ORDEM DOS ENGENHEIROS
COIMBRA
23 e 24 de novembro de 2017

ENGENHARIA
E TRANSFORMAÇÃO
DIGITAL

Inscrições em xxicongresso@ordemengenheiros.pt

PATROCÍNIO PATROCÍNIO PATROCÍNIO PARCEIROS INSTITUCIONAIS


PLATINA OURO PRATA

APOIO
Primeiro Plano

XXI CONGRESSO NACIONAL


DA ORDEM DOS ENGENHEIROS
PROGRAMA PRELIMINAR
Convento de São Francisco

Quinta-feira, 23 de novembro de 2017 Sexta-feira, 24 de novembro de 2017

08:30 - 09:30 Acolhimento e Registo 08:30 - 09:00 Acolhimento e Registo

09:30 - 11:00  SESSÃO DE ABERTURA 09:00 - 11:30 SESSÃO PLENÁRIA


» Presidida por Sua Excelência o Primeiro-ministro, Os Desafios da Educação e da Qualificação
Dr. António Costa* • Keynote Speaker
» Presidente da Região Centro da Ordem dos Engenheiros, Eng. Arlindo Oliveira, Presidente do Instituto Superior Técnico
Eng. Armando Silva Afonso » Qualificações digitais
» Bastonário da Ordem dos Engenheiros, Eng. João Gabriel de Carvalho e Silva,
Eng. Carlos Mineiro Aires Reitor da Universidade de Coimbra
» Ministro do Planeamento e das Infraestruturas, » Ensino Superior e a sua adequação ao meio empresarial
Dr. Pedro Marques Eng. Nuno André Oliveira Mangas Pereira, Presidente
do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos
CONFERÊNCIA INAUGURAL » A transformação digital nas empresas e a indústria 4.0
» Proferida pelo Comissário Europeu da Investigação, Ciência Eng. Luís Mira Amaral, Sociedade Portuguesa da Inovação
e Inovação, Eng. Carlos Moedas » Qualificações digitais
“Transformação Digital: Oportunidades e desafios Eng. Manuel Heitor, Ministro da Ciência, Tecnologia
no panorama europeu” e Ensino Superior

11:00 - 11:20 INTERVALO 11:30 - 11:50 INTERVALO

11:20 - 13:00 SESSÃO PLENÁRIA 11:50 - 13:30 SESSÕES TÉCNICAS PARALELAS


Engenharia e Transformação Digital » Água e energia
• Keynote Speaker: a designar » Edifícios e cidades
» O papel da engenharia na transformação digital » Construção e gestão de infraestruturas
Eng. Luís Todo Bom, Coordenador da Comissão » Gestão industrial
da Especialização em Engenharia e Gestão Industrial » Gestão de projetos
» Inovação e serviços digitais » Sistemas e cibersegurança
Eng. Pedro Pires de Miranda, Presidente do Conselho » “Pitch Sessions” | OELabs by Startup Portugal
de Administração da Siemens Portugal
13:30 - 14:30 ALMOÇO
13:00 - 15:00 ALMOÇO
14:30 - 16:00 SESSÃO PLENÁRIA
15:00 - 18:30 SESSÕES TÉCNICAS PARALELAS Os Desafios da Profissão
» Infraestruturas, cidades e território » Exercício da engenharia
» Indústria e serviços Eng. Fernando de Almeida Santos, Vice-presidente Nacional da OE
» Desenvolvimento rural, agricultura e florestas » Admissão e qualificação
» Mar e litoral Eng. Carlos Loureiro, Vice-presidente Nacional da OE
» Ambiente e recursos naturais » Intervenção nacional e internacional
» Sistemas e cibersegurança Eng. Carlos Mineiro Aires, Bastonário da OE
» Engenharia e empreendedorismo | OELabs by Startup Portugal
16:00 - 17:00 SESSÃO DE ENCERRAMENTO
20:30 - 23:30 JANTAR OFICIAL DO CONGRESSO » Presidida por Sua Excelência o Presidente da República,
Antiga Igreja do Convento de São Francisco Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa*
» Espetáculo: orquestra de tangos de Coimbra e duo » Conclusões do Congresso,
de bailarinos, na antiga Igreja do Convento de São Francisco Vice-presidente da OE, Eng. Carlos Loureiro
» Discurso de Encerramento,
Bastonário da OE, Eng. Carlos Mineiro Aires

21:30 - 23:00 Espetáculo


» Orquestra dos Antigos Tunos da Universidade de Coimbra e
Grupo de Fados – Raízes de Coimbra, no Grande Auditório
do Convento de São Francisco
* A confirmar (Espetáculo oferecido pela OE à cidade de Coimbra)

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Primeiro Plano

Ordem dos Engenheiros


Exposição / Pedido de iniciativa legislativa

Equiparação de Licenciados
“pré-Bolonha” a Mestres
“pós-Bolonha”
Urgente necessidade de correção de uma situação que afeta os engenheiros e os interesses das empresas e da
economia portuguesa a nível interno e no contexto da internacionalização.

A
implementação em Portugal do Na verdade, comparando a duração e con- e as situações do passado, ou seja, os en-
quadro de ensino designado por teúdo dos percursos universitários que na genheiros mais capazes e competentes de
“Acordo de Bolonha” não acautelou altura lhes conferiram o grau de Licencia- que o País hoje dispõe.
os títulos académicos obtidos antes desta tura com as condições atuais de obtenção
reforma do sistema educativo (ciclo de es- do grau de “Mestre” – [frequência de 9 (nove) Por outro lado, a Portaria n.º 782/2009, de
tudos conferido por uma instituição de En- semestres, seguidos da elaboração e da de- 23 de julho, que aprovou o Quadro Nacional
sino Superior portuguesa no quadro da fesa de uma tese (um semestre)] –, permi- de Qualificações, configura uma graduação
organização de estudos anterior à aplicação timo-nos, sem qualquer relutância, afirmar de qualificações que não reflete o nível de
do Decreto-Lei n.º 74/2006, de 24 de março), que aqueles saíram nitidamente lesados de conhecimentos e o prestígio curricular das
o que lesou e continua a lesar seriamente um processo que, apesar de aparentemente universidades que ministraram estas Licen-
estes engenheiros (que constituem a maioria irreversível, ainda continua a merecer muitas ciaturas anteriores ao Acordo de Bolonha,
dos Membros da Ordem dos Engenheiros) críticas e fundamentadas dúvidas sobre as o que atenta contra e lesa os direitos dos
e as empresas empregadoras, como adiante suas vantagens. seus titulares.
veremos.
Recorde-se que um dos objetivos do Acordo O seu Anexo III, com a maior injustiça, e até
Referimo-nos, em concreto, à situação de Bolonha assenta na possibilidade de um insensatez, foi ao ponto de equiparar os Ba-
criada aos Licenciados “pré-Bolonha”, de- estudante de uma determinada instituição charelatos e as Licenciaturas no Nível de
tentores de Licenciaturas que tinham uma e país poder ver o trabalho realizado ao Qualificação 6, tendo individualizado os
duração de 5 anos (10 semestres) ou 6 (anos) longo do seu percurso de formação tradu- Mestrados no Nível 7.
de formação académica, todos com uma zido de uma forma numérica, inequívoca,
vida profissional longa, cuja decorrente ex- legível e transferível em todo o Espaço Eu- Não reconhecer a diferença de qualifica-
periência obviamente lhes aporta maior valor ropeu de Ensino Superior (EEES), o que cer- ções académicas entre as novas Licencia-
em termos profissionais. tamente também permitiria acomodar re- turas (pós-Bolonha) que, na verdade, têm
troativamente as situações referidas. mais proximidade com o perfil dos antigos
Atualmente, a Ordem dos Engenheiros tem Bacharelatos, e as antigas Licenciaturas, que
cerca de 49.000 Membros Efetivos, dos Acresce que também se pretendia o reco- sempre representaram e representam um
quais 78% (38.000) são Licenciados “pré- nhecimento dos estudos e diplomas obtidos nível muito acima destes, é ignorar a reali-
-Bolonha”, 17% Mestres “pós-Bolonha” e 5% nos diversos países signatários do Acordo dade dos valores curriculares das excelentes
Licenciados “pós-Bolonha”. de Bolonha e, deste modo, promover a mo- formações académicas que até então foram
bilidade dos estudantes e diplomados, dentro ministradas pelas universidades portuguesas,
Assim, encontra-se nesta situação a grande do EEES e entre este e o resto do Mundo. bem como o conhecimento aí adquirido, e
maioria dos Membros Efetivos desta Ordem foi um ato de insensatez.
(38.000 engenheiros), agrupados nos 12 Ironicamente, o tempo deu-nos razão, pois
Colégios de Especialidade, ou seja, a exce- o que agora também está em causa é jus- Desta forma, os detentores das antigas Li-
lência e a experiência da Engenharia por- tamente a mobilidade dos Licenciados cenciaturas sofreram um inesperado e in-
tuguesa, na sua maioria altos quadros pú- “pré-Bolonha”. justo downgrading, com profundos reflexos
blicos e privados, gestores de empresas, já nos seus interesses pessoais e profissionais.
que os detentores de Mestrados Integrados Em suma: a decisão foi tomada apenas a
só recentemente começaram a ocupar lu- pensar no futuro, tendo deliberadamente Complementarmente, a infeliz designação
gares de topo. ignorado e escamoteado as competências de “licenciado” para os detentores de 3 anos

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Primeiro Plano

anos, para efeitos de concursos para preen-


chimento de lugares na função e adminis-
tração públicas se vêm compelidos a con-
correr em pé de igualdade com os licenciados
“pós-Bolonha” (3 anos), quando detêm qua-
lificações, conhecimentos e experiência pro-
fissional que não podem, nem que seja por
razões de decoro, ser comparáveis.

Agora, e mais grave, afeta todos estes pro-


fissionais (Licenciados de 5 e 6 anos) que
pretendem trabalhar no estrangeiro, que
também não podem exibir um título que
seja universalmente reconhecido.
de formação académica do Acordo de Bo- de 24 de março, tenha havido a preocu-
lonha veio lançar a confusão na sociedade pação de precisar que “o grau de licenciado Ou seja, os engenheiros mais experientes
e nos empregadores, além de lesar os já referido no número anterior deve adotar e qualificados do País, que atualmente in-
detentores de anteriores idênticos títulos uma denominação que não se confunda tegram os quadros e dirigem as empresas
académicos (Licenciatura), que demonstra- com a do grau de mestre”, quando em re- que trabalham no estrangeiro, não conse-
damente são possuidores de habilitações e lação à anterior designação de Licenciado guem demonstrar o valor das suas qualifi-
capacidades superiores ou, no limite, idên- não houve qualquer preocupação em o cações académicas, nem explicar porque
ticas às dos atuais mestres “pós-Bolonha”. fazer, o que é absolutamente lamentável à não detêm um grau equiparado ao de
luz dos princípios de equidade e justiça. Mestre ou algo que legalmente possa atestar
Nos mercados africanos, asiáticos e sul- que a sua anterior formação académica de
-americanos, falar de licenciados portu- O mal está feito e agora há que remediar 5 ou 6 anos não constitui uma desqualifi-
gueses é sinónimo de formações acadé- o que for remediável. cação competitiva.
micas de 3 anos, que localmente não são
aceites para funções de direção e chefia. Torna-se cada vez mais evidente que esta Amiúde, para efeitos de apresentação de
deriva legislativa, tal como a Ordem dos propostas para concursos internacionais
Neste mesmo contexto, os detentores de Engenheiros sempre afirmou, lesa e coloca nos mais diversos pontos do Mundo, a Ordem
títulos de Mestrado adquiridos anteriormente em desvantagem todos os engenheiros dos Engenheiros é solicitada a apoiar os in-
ao Acordo de Bolonha também saíram mal- portugueses que se encontram nesta si- teresses das empresas portuguesas, ten-
tratados e não viram o seu esforço recom- tuação, e que maioritariamente são os mais tando demonstrar que os seus principais
pensado, nem a diferenciação do saber ad- experientes e capazes, e também as em- quadros, antigos Licenciados (5 e 6 anos),
quirido. presas que os empregam, sobretudo nos são habitualmente mais ou tão qualificados
mercados internacionais. quanto os atuais mestres, o que procura
Aliás, também não deixa de ser irónico que fazer, uma vez que na nossa perspetiva não
no n.º 4 do Art.º 19.º do Decreto-Lei n.º Desde logo, os engenheiros Licenciados “pré- existe qualquer motivo ou razão para esta
107/2008, de 25 de junho, que constitui a -Bolonha” que, como referido, são deten- bizarra e pretensa desqualificação que a Lei
primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 74/2006, tores das formações académicas de 5 e 6 pretendeu criar.

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Primeiro Plano

Trata-se de uma situação discriminatória entendimento de que o assunto não perdeu No caso do Colegio de Ingenieros de Ca-
que não tem qualquer razoabilidade, nem oportunidade e que continua a ser urgente minos, Canales y Puertos (Engenheiros Civis),
fundamento, que possam ser sustentados e necessário reparar o dano e corrigir a si- por exemplo, foi produzido um “Informe
pela menorização das qualificações acadé- tuação que foi criada, a bem dos interesses sobre el marco regulatorio de acceso y ejer-
micas ou pelo reconhecimento das com- dos cidadãos, da sociedade, dos engenheiros, cicio de la profesión regulada de Ingeniero
petências profissionais adquiridas, antes pelo das empresas e da economia nacional, cada de Caminos, Canales y Puertos en España”,
contrário. vez mais dependentes dos mercados inter- a que tivemos acesso e transcrevemos par-
nacionais. cialmente:
Hoje, num contexto de globalização, a tra- “Toda vez que las titulaciones Pre-Bolonia
palhada de títulos e graduações académicas Em Espanha, um dos países que maior con- conducentes a profesiones reguladas
originada pelo Acordo de Bolonha e pelas corrência faz a Portugal no contexto inter- en el ámbito de la ingeniería civil estaban
terminologias utilizadas em Portugal é nacional, perante uma situação em tudo estructuradas en un único ciclo
quase impossível de explicar às entidades idêntica e face aos alertas e apelos dos Co- independientemente de su duración,
e instituições contratantes, o que o Estado légios representativos das diversas Especia- el gobierno español publicó el mecanismo
português, através do Governo, tem de lidades de Engenharia, foi reconhecida a para que las titulaciones Pre-Bolonia
ajudar a resolver urgentemente, pois, neste evidência de que os interesses económicos solicitarán su adscripción al nivel MECES
importante aspeto, as empresas portu- do País estavam a ser fortemente afetados equiparable al de la exigencia de los
guesas não estão em pé de igualdade com e, consequentemente, foi criada uma so- estudios.
a concorrência internacional. lução legislativa que resolveu definitiva- El 8 de enero de 2015, la Dirección General
mente o problema, equiparando os antigos de Política Universitaria, de oficio, acordó
Bem sabemos que a nível do Ensino Uni- Licenciados (5 e 6 anos) a “Mestres do Acordo el inicio del procedimiento para la
versitário e Politécnico têm sido ensaiadas de Bolonha”. determinación de la correspondencia del
soluções que visam conceder a equivalência título universitario de Ingeniero de Caminos,
entre as Licenciaturas de 5 e 6 anos ao grau La equivalencia “es una necesidad impe- Canales y Puertos.
de “Mestre pós-Bolonha”, obviamente através riosa”, se explica en el preámbulo de la Tras los informes preceptivos de la Agencia
da cobrança de um generoso fee. norma, “para facilitar el ejercicio de los de- Nacional de Evaluación de la Calidad
rechos académicos por parte de los egre- y Acreditación (ANECA) y el Consejo de
A Ordem dos Engenheiros entende que sados de la anterior ordenación, dentro y Universidades, este proceso finalizó con el
estas tentativas para solucionar uma injus- fuera de nuestras fronteras”. El legislador acuerdo de Consejo de Ministros por el que
tiça, aliás desde sempre mal engendradas, admite asimismo que estos profesionales se determina el nivel de correspondencia al
não têm nenhuma justificação lógica, dado “están encontrando dificultades para el re- nivel del Marco Español de Cualificaciones
não conferirem qualquer valor acrescentado conocimiento del verdadero nivel de sus para la Educación Superior del Título
ao conhecimento que estes experientes Li- estudios”. Universitario Oficial de Ingeniero
cenciados (5 e 6 anos) já possuem.

Ademais, até é vexatório que possa haver


abertura política para permitir que as pró-
prias instituições universitárias que formaram
esta qualificada geração de engenheiros
ponham agora em causa os seus conheci-
mentos e a sua capacidade de saber fazer,
apenas para dar resposta a formalismos bu-
rocráticos da União Europeia, não baseados
em realidades profissionais e nos conheci-
mentos adquiridos, o que constitui o objeto
da função reguladora desta Ordem Profis-
sional e que nos confere uma outra visão
sobre estas questões, focada na profissão
e, por isso, muito mais justa e equilibrada.

Muito embora, em 2011, o Conselho Na-


cional das Ordens Profissionais (CNOP) já o
tenha procurado fazer, inclusivamente através
de uma petição com mais de 50.000 assi-
naturas e que deu entrada na Assembleia
da República, mas que a nada conduziu, a
Ordem dos Engenheiros continua a ter o

10 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


Primeiro Plano

de Caminos, Canales y Puertos a su nivel de março, alterado pelos Decretos-Leis n. Licenciados em Engenharia que sejam de-
MECES 3 - Máster Universitario que se os 107/2008, de 25 de junho, 230/2009, de tentores de 5 e 6 anos de ciclo de estudos
corresponde con el nivel 7 del Marco 14 de setembro, e 115/2013, de 7 de agosto. conferido por uma instituição de Ensino
Europeo de Cualificaciones (EQF, por sus Superior portuguesa no quadro da organi-
siglas en inglés).” Agora, para resolver efetivamente o pro- zação de estudos anterior à aplicação do
(Fim de citações) blema, falta apenas complementar essa Decreto-Lei n.º 74/2006, de 24 de março.
medida nos mesmos termos e com a am-
Em Portugal, a Assembleia da República já plitude associada à solução legislativa atem- A proposta é feita no pressuposto de que a
teve o mérito de reconhecer a existência padamente aprovada em Espanha. competência para o efeito é do Governo
do problema quando, na revisão estatutária, que legislou anteriormente sobre a mesma
consagrou esta equivalência, embora apenas Não o fazer é partir do princípio que a maioria matéria (Decreto-Lei n.º 74/2006, de 24 de
para efeitos internos da regulação que a dos Membros desta prestigiada Associação março, alterado pelos Decretos-Leis n.os
Ordem dos Engenheiros assegura (Lei n.º Profissional (78%) seria a exceção, os quais, 107/2008, de 25 de junho, 230/2009, de 14
123/2015, de 2 de setembro, correspondente conforme referido, são os qualificados e de setembro, e 115/2013, de 7 de agosto, e
à “Primeira alteração ao Estatuto da Ordem experientes Engenheiros Licenciados com Portaria n.º 782/2009, de 23 de julho) e a
dos Engenheiros, aprovado pelo Decreto- cursos universitários de 5 e 6 anos e os quem a presente exposição é dirigida.
-Lei n.º 119/92, de 30 de junho, em confor- únicos afetados.
midade com a Lei n.º 2/2013, de 10 de ja- E, ainda, no facto de a Assembleia da Re-
neiro, que estabelece o regime jurídico de Pela evidência das situações prejudiciais pública já ter tido o mérito de reconhecer
criação, organização e funcionamento das que gerou e continua a gerar, este quadro a existência do problema, quando em 2015
associações públicas profissionais”). legal carece de urgente reparo, pois nunca consagrou essa equivalência nos novos Es-
é tarde para corrigir os erros. tatutos, embora no restrito âmbito da regu-
Nessa Lei admitiu que, apenas para efeitos lação profissional.
do disposto no Estatuto da Ordem dos En- CONCLUSÃO E PROPOSTA
genheiros, designadamente para efeitos de A posição desta Associação Profissional, que
inscrição, determinação do período de es- Pelas razões expostas, a Ordem dos Enge- representa e regula a atividade de cerca de
tágio e atribuição de títulos profissionais, nheiros solicita ao Governo ou, através deste, 49.000 engenheiros de 12 Especialidades
também satisfazem as condições se for ti- à Assembleia da República, que tome a ini- de Engenharia, fundamenta-se no facto de
tular do grau de licenciado num domínio ciativa de legislar no sentido de, com a maior estarem em causa razões de interesse na-
da engenharia conferido por uma instituição urgência, ser revisto o atual quadro legal cional, que vão desde os direitos individuais
de ensino superior portuguesa no quadro por forma a ser criada uma adequada so- e coletivos dos cidadãos, à empregabilidade
da organização de estudos anterior à apli- lução legislativa que permita equiparar a dos engenheiros e de toda a fileira e, mais
cação do Decreto-Lei n.º 74/2006, de 24 “Mestres do Acordo de Bolonha” todos os grave, interesses da nossa economia e da
sustentabilidade concorrencial das empresas
de Engenharia portuguesas e estrangeiras
estabelecidas em Portugal e que pretendem
trabalhar no estrangeiro, empregando en-
genheiros portugueses.

A situação atual não defende, nem protege,


os interesses dos engenheiros e da eco-
nomia portuguesa e é potencialmente im-
peditiva da atividade empresarial com re-
curso a quadros técnicos portugueses em
determinados contextos internacionais.

Assim, e quanto antes, há que corrigir e ade-


quar a lei, equiparando a Mestres os Licen-
ciados em Engenharia anteriormente à apli-
cação do Decreto-Lei n.º 74/2006, de 24 de
março, tal como já sucedeu com o Governo
de Espanha que soube acautelar os interesses
dos seus engenheiros e das suas empresas.

Lisboa, 30 de agosto de 2017


O Bastonário
Carlos Mineiro Aires

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 11


Notícias

Diretiva Arquitetura
maioria parlamentar aprova Projetos de Lei do PSD e do PAN

O s três Projetos de Lei apresentados pelo


PSD e pelo PAN, que preveem a possi-
bilidade de elaboração e subscrição de projetos
de arquitetura por um grupo restrito de enge-
nheiros civis, foram aprovados na generalidade,
no Parlamento, no passado dia 19 de julho, por
deputados do PSD, PAN e de Os Verdes (PEV).
Os três Projetos de Lei baixaram à sexta co-
missão parlamentar, a Comissão de Economia,
Inovação e Obras Públicas, para apreciação
na especialidade.
A favor destes projetos votaram o PSD, o PEV,
o PAN e o Deputado Joaquim Raposo, do PS. to Superior Técnico, na Faculdade de Enge- Refira-se, com igual gravidade, que qualquer
Recorde-se que nada mais é pretendido do nharia da Universidade do Porto, na Universi- engenheiro do espaço da União Europeia,
que repor a justiça de um grupo limitado de dade de Coimbra e na Universidade do Minho, desde que não seja português, pode praticar
cerca de 200 cidadãos que, por transposições e que desde sempre praticaram estes atos pro- em Portugal os atos profissionais aqui em
intencionalmente incorretas de uma Diretiva fissionais. causa e que pretendem interditar aos enge-
Europeia (Diretiva 85/834/CEE) para o Direito Os engenheiros civis em causa viram-se im- nheiros nacionais.
Nacional, viu sonegados os seus direitos ad- pedidos de poder trabalhar no seu país, de- A Ordem dos Engenheiros agradece o apoio
quiridos. senvolvendo a profissão que sempre execu- dos Grupos Parlamentares que, de forma res-
Encontram-se nesta situação apenas os en- taram, e que, ao abrigo da referida Diretiva, ponsável, votaram pelo cumprimento do direito
genheiros civis portugueses matriculados até podem continuar a executar em qualquer outro comunitário e pela defesa dos direitos dos
ao ano académico de 1987/1988 no Institu- país europeu, com exceção do seu próprio. seus concidadãos. •

CONFEA homenageia
o Bastonário da Ordem dos Engenheiros de Portugal
74.ª Semana Oficial de Engenharia e Agronomia do Brasil

D urante a cerimónia de abertura da 74.ª Semana Oficial de Enge-


nharia e Agronomia (SOEA) do Brasil, que teve lugar em Belém do
Pará durante o mês de agosto, o CONFEA, na pessoa do seu Presidente,
Tal reconhecimento foi dirigido ao Bastonário português pelo “notável
empenho em favor da mobilidade profissional entre Engenheiros do
Brasil e de Portugal e pelos esforços em prol da valorização desses
Eng. José Tadeu da Silva, homenageou, perante uma assembleia de profissionais nos dois países”.
mais de 3.000 pessoas, o Bastonário da Ordem dos Engenheiros de Carlos Mineiro Aires foi ainda convidado para fazer uma palestra sobre
Portugal, Eng. Carlos Mineiro Aires. “A Engenharia e os Engenheiros – Papel, princípios e contributos para
o desenvolvimento dos países”, enquadrada numa sessão dedicada à
“Inserção Internacional do Sistema Confea/Crea – Avanços e Perspe-
tivas”. •

Defesa dos Atos Praticados


por Engenheiros Agrónomos e Zootécnicos
N o contexto de iniciativas legislativas em curso referentes à regulação dos atos praticados por outros profissionais liberais, nomeadamente
o Projeto de Lei 525/XIII, que visa regular os atos próprios dos médicos veterinários, e que colidem com atos profissionais da alçada dos
engenheiros agrónomos e zootécnicos, a Ordem dos Engenheiros solicitou uma audiência à Comissão Parlamentar de Agricultura e Mar.
Uma delegação desta Ordem, liderada pelo Bastonário e integrada ainda pelo Vice-presidente Nacional e pelos Presidentes dos Colégios Na-
cionais de Engenharia Agronómica e de Engenharia Naval, foi, assim, recebida a 25 de julho pelo Deputado Joaquim Barreto e restantes ele-
mentos da Comissão Parlamentar para discussão dos atos próprios destes profissionais e demais Atos de Engenharia correlacionados com a
tutela daquela Comissão. •

12 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


Notícias

Bolsa Técnica Solidária


Apoio técnico às regiões devastadas pelos incêndios

F oram mais de 400 os engenheiros que, provenientes de todo o


território do Continente e Ilhas, com competências profissionais em
diferentes Especialidades de Engenharia, responderam afirmativamente
No contexto da criação desta Bolsa, a OE foi convidada pela Secretaria
de Estado da Segurança Social a aderir ao Fundo REVITA, um Fundo
criado especificamente para apoio às populações e à revitalização destas
ao apelo que a Ordem dos Engenheiros (OE) lançou junto dos seus áreas. Este Fundo irá atuar sobretudo na recuperação das 175 habita-
Membros através da criação da Bolsa Técnica Solidária de apoio à re- ções que não escaparam às chamas, entre edificações que carecem
cuperação dos concelhos de Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, de reabilitação e outras de construção integral, todas referentes a pri-
Góis, Pampilhosa da Serra, Pedrógão Grande, Penela e Sertã. meira habitação.
Com a adesão ao REVITA, a OE fica apta a contribuir para este movi-
mento e a mobilizar os Membros que se associaram à sua Bolsa, através
da correspondência do perfil profissional de cada um dos engenheiros
voluntários às necessidades que lhe sejam comunicadas pelas entidades
gestoras das operações. Estão, de igual modo, em estudo, pela OE e
pelos Ministérios do Ambiente e da Agricultura, Florestas e Desenvol-
vimento Rural as formas de intervenção dos engenheiros portugueses
no âmbito das áreas destes órgãos do Governo.
O Primeiro-ministro de Portugal, Dr. António Costa, saudou a OE pela
criação da Bolsa Técnica Solidária, “reconhecendo o seu contributo
para a recuperação das comunidades afetadas”. •

Novo Decreto-Lei altera Publicada


obrigatoriedade de inspeções a nova versão do Código
do gás e eletricidade
dos Contratos Públicos
A 10 de agosto foi publicado, em Diário da República,
o Decreto-Lei n.º 96/2017, que estabelece “a dis-
ciplina das instalações elétricas de serviço particular
alimentadas pela rede elétrica de serviço público (RESP)
em média, alta, ou em baixa tensão, e das instalações
com produção própria, de caráter temporário ou itine-
rante, de segurança ou de socorro, e define o sistema
de controlo, supervisão e regulação das atividades a
elas associadas.”
A alteração do regime jurídico do licenciamento das
instalações de eletricidade e do regime das instalações
de gás em edifícios, a vigorar a partir de 1 de janeiro de
2018, é concretizada no âmbito do programa Simplex+,
cujo objetivo é reduzir os tempos de licenciamento e
simplificar os processos.

O
Esta alteração legal vem eliminar a obrigatoriedade das mês de agosto finalizou com a publicação da nova versão do CCP – Código
inspeções do gás e eletricidade em edifícios por enti- dos Contratos Públicos.
dades inspetoras, medida que há muito a Ordem dos Recorde-se que a Ordem dos Engenheiros (OE), em sede da consulta pública,
Engenheiros (OE) vinha reclamando, uma vez que os encabeçou a realização de um amplo debate nacional, no qual intervieram outras
projetos referentes a estas instalações especiais, bem associações profissionais e empresas, de que resultou um conjunto de contributos
como a sua concretização, são desenvolvidos por en- que foi remetido ao Governo.
genheiros habilitados para o efeito e cujos Atos profis- As propostas então formuladas, nomeadamente as que visavam assegurar a qua-
sionais se encontram devidamente regulados. lidade da prestação de serviços e obras e pôr fim ao fomento de situações de
Como tal, a OE entende que este diploma vem ao en- dumping salarial dos engenheiros, não foram atendidas quer no âmbito, quer na
contro do esforço por si desenvolvido junto dos órgãos plenitude desejados e ficam muito aquém das expectativas.
políticos, por discordar profundamente que os Atos já Constata-se que o documento permanece denso, de difícil interpretação e utili-
regulados sejam objeto de uma nova regulação. • zação, e que, no essencial, pouco ou nada veio acrescentar às diversas versões
que o antecederam.
Este renovado diploma permite, assim, a continuação do desastroso caminho que
vem sendo trilhado e que conduziu ao desprestígio da profissão de Engenheiro.
Trata-se, uma vez mais, de uma oportunidade perdida no que concerne a fazer
plasmar no Código a ambição do Estado no que toca à proteção dos seus enge-
nheiros e à melhoria das condições das suas contratações. •

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 13


Notícias

Work in Flanders 2017 Para além dos workshops de informação e aconselhamento sobre
procura de emprego, apoios à mobilidade, condições de vida e trabalho
na Flandres, estarão disponíveis, presencialmente ou online, oportuni-
dades de emprego e carreira nas empresas belgas participantes.
Presentemente, encontram-se já em divulgação oportunidades para
cerca de 100 postos de trabalho – com tendência a aumentar ao longo
das próximas semanas – para profissionais das áreas de Engenharia
relacionadas com tecnologias de informação (programação e desen-
volvimento web, análise e arquitetura de sistemas), civil, ambiente,

A Ordem dos Engenheiros acolhe em Lisboa, no próximo dia 18 de


outubro, a 4.ª edição do evento Work in Flanders em Portugal.
Dirigido a profissionais de Engenharia, de economia e de gestão que
agronómica, mecânica, mecatrónica, eletrónica, eletrotecnia e teleco-
municações.
Candidate-se previamente e pode ser convidado/a pelas empresas a
pretendam trabalhar na Flandres (Bélgica), este evento de recrutamento participar numa ou mais entrevistas de seleção no dia 19 de outubro.
é promovido pelo IEFP/ EURES Portugal em parceria com a Ordem dos A participação é gratuita, mas a inscrição é obrigatória!
Engenheiros (desde a 2.ª edição) e o VDAB / EURES Bélgica (Flandres), Mais informação e inscrição:
com a colaboração da Comissão Europeia. www.europeanjobdays.eu/workinflanders2017-lisbon •

Métodos práticos Novas ações de formação


para aumentar a resiliência, contínua com início previsto
energia física e mental a partir de outubro

OE AcCEdE
Acreditação da Formação Contínua para Engenheiros
Accreditation of Continuing Education for Engineers

A Ordem dos Engenheiros vai desenvolver a 5.ª edição da ação de


formação “Métodos Práticos para Aumentar a Resiliência, Energia
Física e Mental”, que decorrerá a 8 e a 15 de novembro, entre as 18h00
S ão 19 as novas ações de formação acreditadas à luz do OE+AcCEdE
– Sistema de Acreditação da Formação Contínua da Ordem dos En-
genheiros que se encontram já previstas para realização até dezembro
e as 22h00, na sua Sede, em Lisboa. deste ano, arrancando alguns desses cursos logo no início do mês de
Este curso, composto por dois módulos presenciais e acompanhamento outubro. Os cursos de formação são em áreas tão diversas como redes
online durante seis semanas pela formadora, é concebido para enge- de águas, esgotos e gás; domótica; modelação e análise de peças em 2D
nheiros que pretendam aprender ferramentas práticas para aumentar e 3D; organização e otimização da produção; projeto e instalação ITED;
a sua resiliência, energia física, mental e emocional e bem-estar de risco e gestão de ativos no ambiente construído; ou resíduos urbanos.
modo a lidarem melhor com situações de pressão do dia-a-dia, stress O OE+AcCEdE, criado em 2014, tem por objetivo garantir a qualidade
e ansiedade. da oferta formativa ao longo da vida destinada aos engenheiros.
As ferramentas trabalhadas durante o curso têm origem em várias áreas Acompanhe o calendário das ações de formação no Portal do Enge-
como coaching, programação neurolinguística (PNL), práticas de vida nheiro (em www.ordemengenheiros.pt/pt/a-ordem/admissao-e-qua-
saudável e treino de mindfulness. lificacao/formacao-continua), uma vez que um universo substancial
A data limite para inscrição é 20 de outubro. de formações previstas não dispõe ainda de data de realização esta-
Mais informações na Agenda do Portal do Engenheiro. • belecida. •

Ferramenta de comunicação para engenheiros


A Ordem dos Engenheiros organiza a 13.ª edição do Curso “Ferramenta abordagens de comunicação que assegurem resultados. Como mais-
de Comunicação para Engenheiros: comunicação eficaz e gestão de -valia ficarão a conhecer os seus pontos fortes e preferências com-
conflitos”, que decorrerá nos dias 10, 13 e 17 de no- portamentais.
vembro, entre as 18h00 e as 21h00, na Sede nacional Neste curso será utilizada uma ferramenta de desen-
da Ordem, em Lisboa. volvimento comportamental, o DiSC, cuja utilização
Esta formação, para a qual conta com a intervenção tem por objetivo ajudar as pessoas a conhecerem-se
do projeto Objetivo Lua, destina-se a engenheiros melhor a si próprias, compreenderem melhor os ou-
que realizem funções técnicas ou de gestão e que tros e aprenderem a adaptar o seu comportamento
pretendam dominar uma ferramenta comportamental em função do interlocutor e da situação.
e de comunicação que lhes permita sistematizar Informações e inscrições no Portal do Engenheiro. •

14 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


a engenharia portuguesa em revista

A “Ingenium” não é apenas


a Engenharia Portuguesa em Revista

é também a revista dos Engenheiros:


profissionais especializados | empresários | consumidores |
decisores influentes na vida económica e empresarial do País

Bimestral | 45.000 exemplares | Expedição Gratuita

Enviada para todos os Engenheiros


inscritos na Ordem dos Engenheiros, para entidades oficiais,
empresas nacionais e estrangeiras, Engenheiros de Angola,
Cabo Verde e Moçambique, entre outros públicos.

A “Ingenium” é associada da API – Associação Portuguesa de Imprensa

Para anunciar a sua empresa ou produto na “Ingenium”, contacte


gabinete.comunicacao@oep.pt | Tel.: 213 132 627

Condições preferenciais para Membros da Ordem dos Engenheiros


Regiões

Região NORTE
Sede Porto Delegações distritais
Rua Rodrigues Sampaio, 123 – 4000-425 Porto Braga • Bragança
Tel. 222 071 300 – Fax 222 002 876 Viana do Castelo • Vila Real
E-mail geral@oern.pt

www.oern.pt

Estado d’arte dos PDM’s de 2.ª geração


Aplicação das Normas Técnicas da DGT
O Colégio Regional Norte de Engenharia Geográfica e a Especialização
em Sistemas de Informação Geográfica da Ordem dos Engenheiros
(OE) estão a organizar uma sessão de debate sobre o “Estado d’arte
dos PDM’s de 2.ª geração e a aplicação das Normas Técnicas da Di-
reção Geral do Território” (DGT), iniciativa prevista para 11 de outubro,
a ter lugar na sede da Região Norte da OE, no Porto.
À data de fecho da presente “INGENIUM” estão confirmados como
oradores o Presidente da Região Norte da OE, a Diretora de Serviços DGT, o estudo das dificuldades em aplicar as referidas Normas, soft-
de Ordenamento do Território da DGT, a Diretora do Departamento ware usado (proprietário ou open source), revisão efetuada diretamente
Municipal de Planeamento Urbano da Câmara Municipal do Porto, a em SIG ou em CAD e posterior conversão para SIG, e como está a ser
Coordenadora do Gabinete de Informação Geográfica da Câmara Mu- feita a gestão da base de dados geográficos, após aprovação do PDM
nicipal de Santa Maria da Feira e vários municípios do País que elabo- e publicação do PDM na Web, estão entre os objetivos desta iniciativa.
raram PDM’s utilizando as Normas Técnicas da DGT. O público-alvo são as câmaras municipais, em particular os técnicos
A análise do ponto de situação referente à revisão dos PDM’s de 2.ª com responsabilidades no processo de elaboração e revisão dos res-
geração em ambiente SIG, a aplicabilidade das Normas Técnicas da petivos PDM’s. •

Há Engenharia em tudo que nos rodeia


No âmbito do desafio “Há Engenharia em tudo jardins circundantes ao palacete da Quinta de
que nos rodeia”, o Colégio Regional Norte de Nova Sintra, onde se situa a sede das Águas
Engenharia do Ambiente organizou, no passado do Porto. Estes jardins podem ser considerados
mês de junho, uma visita técnica ao Grande um Museu ao ar livre, em que se destacam as
Reservatório de Água Nova Sintra, no Porto. fontes e chafarizes dos séculos XVI e XIX.
Os participantes foram recebidos de forma A visita ao Reservatório Nova Sintra traduz-se
exemplar pela equipa das Águas do Porto, na importância que outrora esta obra teve na
seguindo-se a visita ao interior do reservatório ausência de reserva de água na cidade do
de água, à cobertura verde que o integra e aos Porto. Ficaram a conhecer-se os pormenores
técnicos e de Engenharia que envolvem a es-
trutura, tendo sido também mencionados os
projetos de intervenção futuros e toda a ação
das Águas do Porto no Ciclo Urbano da Água.
“Há Engenharia em tudo que nos rodeia. Há
Engenharia em tudo o que há. Há Engenharia
em si.” •

Dia Mundial do Ambiente


No dia 5 de junho celebrou-se o Dia Mundial “Horizonte azul – Porto Covo” e a “A força da
do Ambiente. O Colégio de Engenharia do maré – Cabo Carvoeiro”. •
Ambiente da Região Norte associou-se ao
“World Environment Day” com o tema “Con-
necting People to Nature”.
Neste âmbito, foi lançado um desafio à co-
munidade para que enviassem fotografias dos
seus locais favoritos na natureza. O grande
vencedor foi João Sousa, Engenheiro do Am-
biente, tendo sido distinguido pelos trabalhos

16 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


Regiões

Região NORTE

Estará o Homem a medicar o Planeta?


O Colégio de Engenharia Química e Biológica da Região Norte da Ordem dos Engenheiros, preocupado com
o “Impacto da ocorrência de fármacos no meio aquático e as estratégias tecnológicas para a sua eliminação”,
solicitou à Doutora Bruna Silva, do Centro de Engenharia Biológica da Universidade do Minho, uma reflexão
sobre o tema.

Os fármacos são um grande e diverso grupo de compostos toxicidade aguda, estes poderão provocar a longo prazo
orgânicos, desempenhando um papel fundamental na toxicidade crónica, com produção de efeitos na repro-
prevenção e tratamento de doenças em seres hu- dução, fisiologia e crescimento dos seres vivos. A nível
manos e animais. Como consequência dos rápidos mundial têm sido documentados diversos efeitos
avanços da Medicina, têm sido desenvolvidos novos ambientais nocivos, sendo dois dos mais conhecidos
e melhorados medicamentos, resultando num con- as alterações no comportamento sexual dos peixes,
sumo crescente deste tipo de drogas. Atualmente com redução da fertilidade, e o aparecimento de
existem na União Europeia mais de 3.000 substân- estirpes de microrganismos resistentes aos fármacos,
cias farmacêuticas diferentes no mercado, tais como altamente patogénicas.
analgésicos, anti-inflamatórios, anticoncecionais, an-
tibióticos, compostos neuroativos, reguladores lipídicos, Dada a ineficácia do tratamento implementado nas ETAR's,
entre muitas outras. Embora a segurança da utilização de com- impõe-se, portanto, o desenvolvimento de alternativas tecno-
postos farmacêuticos pelos consumidores esteja protegida por legis- lógicas para a eliminação destes contaminantes no meio hídrico. Du-
lação, muito pouco se sabe sobre os possíveis efeitos adversos destas rante a última década têm sido efetuadas intensas investigações com
moléculas na fauna aquática e terrestre. vista à melhoria do desempenho de remoção destes poluentes, tipi-
camente introduzindo tecnologias de tratamento avançadas aos tra-
Os fármacos podem ser introduzidos no meio ambiente por diferentes tamentos primários e secundários já existentes nas ETAR's convencio-
vias, nomeadamente através da libertação de resíduos industriais pro- nais. Na Europa, apenas um pequeno número de ETAR's utiliza um
venientes do seu fabrico, resíduos de instalações sanitárias e veteriná- tratamento terciário, que pode incluir filtração por membrana, osmose
rias, lixiviados provenientes de atividades agrícolas, pelo descarte in- inversa, adsorção com carvão ativado ou processos avançados de oxi-
devido de medicamentos expirados ou das suas embalagens e ainda dação. Embora o uso destas tecnologias não seja generalizado devido
pelas excreções humanas e de animais. Após a sua excreção na urina ao seu alto custo em termos de consumo energético e investimento
e fezes, os fármacos usados em medicina humana e veterinária têm inicial, vários estudos têm comprovado a sua eficiência na remoção
destinos muito diferentes no meio ambiente. A contaminação provo- de micropoluentes orgânicos, tais como os fármacos.
cada pelos fármacos de uso veterinário é geralmente mais problemá-
tica uma vez que, muitas vezes, a excreção é feita diretamente para o O reconhecimento da problemática da contaminação ambiental com
ambiente sem qualquer tratamento prévio, principalmente através da compostos farmacêuticos, seus metabolitos e produtos de transfor-
deposição de estrume em terras agrícolas. Por sua vez, após adminis- mação, e dos enormes custos associados à remediação dos locais
tração em humanos, os fármacos excretados e seus metabolitos ativos contaminados, faz-nos pensar que a melhor estratégia a adotar em
são encaminhados para as estações de tratamento de águas residuais primeira instância é a prevenção. Neste sentido, surge o conceito de
(ETAR's) antes de entrarem nos cursos de água. No entanto, as ETAR's química verde associado à conceção de produtos e processos que
convencionais não estão preparadas para o tratamento de fármacos minimizam o uso e a geração de substâncias perigosas. A química verde
complexos, uma vez que foram concebidas com o objetivo principal concentra-se, assim, em abordagens tecnológicas para prevenção da
de remover carbono biodegradável, bem como compostos de azoto poluição e redução do consumo de recursos não renováveis. No en-
e fósforo. Por conseguinte, estes resíduos farmacêuticos podem passar tanto, a síntese química envolvida no processo de produção de fár-
praticamente inalterados através das ETAR's e atingir águas superficiais, macos é, regra geral, mais conservadora e recorre a processos am-
tais como rios, riachos e lagos, assim como ambientes marinhos. bientalmente menos sustentáveis. Atualmente, assiste-se contudo a
mudanças neste paradigma motivadas pela integração dos princípios
A libertação de fármacos para o meio ambiente tem ocorrido desde condutores da química verde nas atividades de desenvolvimento de
há décadas, no entanto só recentemente foram desenvolvidas as téc- novos fármacos e na otimização dos processes de síntese e na sua
nicas que permitem a deteção e quantificação destes compostos nas transposição para a escala industrial. Apesar de os fármacos, tais como
concentrações encontradas no meio ambiente, geralmente na ordem os conhecemos hoje, serem essenciais ao bem-estar do Homem e
dos ng/L (0,000000001 g por litro de água). Embora estas concentra- dos animais, a sua utilização deve ser feita de forma criteriosa e cons-
ções sejam bastante baixas, a introdução contínua de fármacos nos ciente dos problemas ambientais que poderão acarretar para o meio
meios hídricos pode constituir um potencial risco para os organismos ambiente.
vivos. Os efeitos secundários adversos que os fármacos podem ter na
vida selvagem e na saúde dos ecossistemas são ainda largamente des- Cabe-nos, pois, a nós, seres humanos e cidadãos, contribuir para a
conhecidos, uma vez que estes compostos não foram testados para minimização deste problema através da entrega na farmácia dos me-
doses baixas e exposição a longo prazo ou quando estão presentes dicamentos fora de prazo, ou que já não são utilizados, para que estes
em misturas. Apesar de geralmente os fármacos não apresentarem possam ser convenientemente descartados. •

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 17


Regiões

Região CENTRO
Sede Coimbra Delegações distritais
Rua Antero de Quental, 107 – 3000-032 Coimbra Aveiro • Castelo Branco
Tel. 239 855 190 – Fax 239 823 267 Guarda • Leiria • Viseu
E-mail correio@centro.oep.pt

www.ordemengenheiros.pt/pt/a-ordem/centro

Curso de Ética e Deontologia Profissional


Nos próximos dias 20 e 21 de outubro irá ter lugar em Coimbra, na sede da Região Centro da Ordem dos Engenheiros, mais uma edição do
Curso de Ética e Deontologia Profissional, componente integrante do processo de admissão como Membro Efetivo da Ordem. As inscrições
poderão ser efetuadas junto dos serviços da Região Centro até 13 de outubro. •

Curso Tecnológico de Verão do BEST Coimbra


Entre 22 de julho e 2 de agosto, 23 estudantes
de tecnologia de vários países europeus esti-
veram reunidos na Universidade de Coimbra
para participar no “Curso Tecnológico de Verão
do BEST Coimbra 2017”, subordinado ao tema
“Polímeros”. O curso teve como objetivo mos-
trar o mundo dos polímeros aos estudantes,
começando por caracterizá-los e depois sin-
tetizá-los num ambiente de laboratório.
A iniciativa, organizada pelo BEST Coimbra – que apresentou algumas das aplicações dos acolheu no auditório da sede regional a sessão
Board of European Students of Technology, polímeros na indústria, e com o apoio da Re- de apresentação de trabalhos, entrega de di-
contou com a participação da empresa Igus, gião Centro da Ordem dos Engenheiros, que plomas e encerramento do curso. •

Palestra “A software approach for the IoT – Ubiwhere”


Realizou-se no dia 20 julho, nas instalações uma associação que visa a partilha de ideias
da Delegação Distrital de Aveiro da Ordem dos entre estudantes da área da IoT – Internet of
Engenheiros (OE), a palestra “A software ap- Things, o IoT Squad.
proach for the IoT – Ubiwhere”. Esta iniciativa foi organizada pelo núcleo local
Estiveram presentes nesta sessão cerca de 30 EESTEC – AETTUA, uma associação do De-
alunos de várias universidades europeias, ao partamento de Eletrónica, Telecomunicações
abrigo do intercâmbio europeu da Electrical e Informática da Universidade de Aveiro, e
Engineering Students European Association, contou com o apoio da OE. •

Palestra e lançamento do livro “João Álvares Fagundes


nos Descobrimentos Portugueses”
No dia 12 de julho, na Delegação Distrital de Aveiro, teve lugar uma
palestra baseada no livro do Eng. Senos da Fonseca, intitulado “João
Álvares Fagundes nos Descobrimentos Portugueses”, a que se seguiu
uma sessão de lançamento do referido livro.
Esta obra, editada pela Fundação Gil Eannes, resulta de uma profunda
investigação histórica, servida por dezenas de cartas e planisférios da

época, a que se junta o desenho das hipotéticas viagens à Terra dos


Cortes Reais e do próprio navegador João Álvares Fagundes à Terra
Nova. “Uma visão consagrada dos primórdios dessa epopeia tão glo-
riosa, como foi a pesca do bacalhau, e da realidade deste notável e
importante homem que se notabilizou como mercador, navegador e
povoador, oriundo de Viana do Castelo”. •

18 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


Regiões

Região CENTRO

Palestra “Soft Skills – O que são e como desenvolvê-las?”


A Delegação Distrital de Viseu acolheu, no dia 7 de julho, uma palestra no âmbito do tema “Soft
Skills – O que são e como desenvolvê-las?”, com a colaboração da Dr.ª Ana Paula Nunes. Nesta
palestra foi abordada a temática das Soft Skills, a sua importância nas atividades de gestão diária
nas organizações e o seu papel na construção de uma carreira profissional bem-sucedida. •

Região Sul
Sede Lisboa Delegações distritais
Av. Ant. Augusto de Aguiar, 3D – 1069-030 Lisboa Évora • Faro
Tel. 213 132 600 – Fax 213 132 690 Portalegre • Santarém
E-mail secretaria@sul.oep.pt

www.ordemengenheiros.pt/pt/a-ordem/sul

Eng. António Laranjo retoma mandato


de Presidente da Região Sul
Após um período de suspensão de mandato na Ordem dos Engenheiros (OE), solicitado pelo
próprio, por alegada incompatibilidade com a função de Gestor Público enquanto Presidente
do Conselho de Administração da IP – Infraestruturas de Portugal, S.A., o Eng. António Laranjo
foi autorizado, pelo Governo, a acumular estas funções com as de Presidente do Conselho
Diretivo da Região Sul da OE, tendo retomado assim o exercício do seu mandato desde o dia
1 de agosto. •

PIJE distingue projeto da primeira


ponte mista GFRP-betão em Portugal
A edição de 2016 do Prémio Inovação Jovem (OE), procura incentivar e dinamizar a capa- tonário da OE, Eng. Carlos Matias Ramos, e
Engenheiro (PIJE) distinguiu três trabalhos, de cidade inovadora dos jovens engenheiros a composto por diversas outras personalidades
três jovens engenheiros, dos quais se destaca nível nacional premiando, anualmente e desde de relevo da Engenharia.
o primeiro prémio atribuído ao projeto da 1990, trabalhos provenientes dos diversos A entrega de prémios teve lugar durante a
“Ponte de São Silvestre – Primeira Ponte Mista ramos da Engenharia. sessão solene das comemorações do Dia Re-
GFRP-betão em Portugal”. Nesta que foi a 26.ª edição do PIJE, foram gional Sul do Engenheiro, decorridas no au-
Esta iniciativa, promovida pelo Conselho Di- admitidas a concurso 12 candidaturas, apre- ditório da Câmara Municipal de Albufeira, no
retivo da Região Sul da Ordem dos Engenheiros ciadas por um júri presidido pelo anterior Bas- passado dia 13 de maio.

Trabalhos premiados
› 1.º Prémio › 2.º Prémio › 3.º Prémio
• Ponte de São Silvestre – Primeira Ponte • Modelo de Apoio à Decisão para a Utilização • i-SMA Mix Design (Método Integrado de
Mista GFRP-betão em Portugal de TIC na Otimização da Recolha de Resí- Formulação e Controlo de Misturas Betu-
• Eng. José Gonilha, Membro Efetivo n.º 62.060, duos Recicláveis minosas do Tipo SMA)
Região Sul, Col. de Eng. Civil • Eng. Manuel Correia, Membro Efetivo n.º • Eng. Henrique Miranda, Membro Efetivo
66.359, Região Sul, Col. de Eng. do Ambiente n.º 53.493, Região Sul, Col. de Eng. Civil

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 19


Regiões

Região SUL

Engenheiros visitam obra de remodelação do Hotel do Bairro Alto


Teve lugar, no dia 19 de julho, uma visita técnica à obra de reabilitação
do quarteirão entre a Praça Luís de Camões, Rua do Alecrim, Largo
Barão e Quintela e Rua das Flores, com a qual se pretende realizar a
ampliação e remodelação do Hotel Bairro Alto, em Lisboa.
Esta iniciativa, dedicada uma vez mais à reabilitação urbana, foi orga-
nizada pelo Conselho Regional Sul do Colégio de Engenharia Civil, com
a colaboração do Professor João Appleton, um dos responsáveis pelo
projeto de Engenharia desta obra. •

Ciclo de Jantares-debate traz Ricardo Robles à Região Sul


O Engenheiro Civil Ricardo Robles, deputado municipal e candidato pelo Bloco de Esquerda à
Câmara Municipal de Lisboa, foi o segundo convidado do ciclo de jantares-debate que a Re-
gião Sul da Ordem dos Engenheiros (OE) está a promover, com o objetivo de dar a conhecer
aos seus Membros as propostas dos principais candidatos às eleições autárquicas de Lisboa.
A sessão decorreu no dia 4 de julho e foi conduzida pelo Presidente em Exercício da Região
Sul da OE, Eng. Jorge Grade Mendes, incidindo sobre três temas específicos, de interesse para
a comunidade de engenheiros da cidade de Lisboa: Mobilidade, Reabilitação Urbana e Projetos
relevantes. •

Faro homenageia antigos Delegados


A Delegação Distrital de Faro promoveu no dia 30 de junho, nas ins-
talações da sede distrital, uma Homenagem aos antigos Delegados
Distritais, cujos mandatos decorreram entre 1995 e 2016, nomeada-
mente os Engenheiros Carlos Martins, Cristina Ferreira, Teresa Jesus e
José Campos Correia.
Este evento contou com a presença da Vereadora da Câmara Municipal
de Faro, Arq.ª Teresa Correia, da Pró-reitora da Universidade do Algarve,
Doutora Gabriela Schutz, e de diversos Membros da Ordem que qui-
seram associar-se a este gesto de reconhecimento pelo trabalho de-
senvolvido pelos anteriores Delegados Distritais. •

Visita técnica à ETAR da Guia


Realizou-se no dia 29 de junho uma visita técnica à ETAR da Guia, da
Águas do Tejo Atlântico, iniciativa promovida pelos Conselhos Regionais
Sul dos Colégios de Engenharia do Ambiente e de Engenharia Mecânica,
na qual participaram cerca de duas dezenas de Membros de várias Es-
pecialidades.
Os participantes foram recebidos pelos Engenheiros José Martins, Ca-
tarina Correia e Teresa Marçal, tendo ainda contado com o acompanha-
mento de Jorge Gomes, da Direção de Comunicação da empresa. •

Região Sul debate proteção contra incêndios


O Conselho Regional Sul do Colégio de Enge-
nharia Mecânica realizou, no dia 28 de junho,
no auditório da sede regional, em Lisboa, um
seminário subordinado ao tema “Projeto, Certi-
ficação e Instalação de Equipamentos de Pro-
teção contra Incêndios”, promovendo, assim,
um debate sobre esta importante temática. •

20 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


Regiões

Região SUL

Contribuições dos resíduos mineiros para a Economia Circular


A sede regional, em Lisboa, recebeu no dia 26 de junho um seminário
sobre “Resíduos Mineiros: Contribuições para a Economia Circular”.
A iniciativa, organizada pelo Conselho Regional Sul do Colégio de En-
genharia Geológica e de Minas, foi presidida pelo Vice-presidente Na-
cional da Ordem dos Engenheiros, Eng. Carlos Loureiro. •

Santarém celebra Dia Distrital do Engenheiro


A Delegação Distrital de Santarém comemorou, na Feira Nacional de Agricultura, que se rea- O evento, onde participou mais de meia cen-
no dia 11 de junho, o Dia Distrital do Enge- lizou no CNEMA – Centro Nacional de Expo- tena de Membros, contou com a presença de
nheiro. As celebrações decorreram na cidade sições e Mercados Agrícolas, de 10 a 18 de vários dirigentes do Conselho Diretivo da Re-
de Santarém, capital do Ribatejo, e também junho. gião Sul da Ordem dos Engenheiros. •

54.ª Feira Nacional da Agricultura


A Delegação de Santarém esteve presente na 54.ª Feira Nacional de Agricultura, evento que decorreu entre
os dias 10 e 18 de junho e cuja temática foi “Os Cereais de Portugal”. A Delegação fez-se representar com
um stand institucional, no qual estiveram presentes várias empresas da região, como a Genearca – Asso-
ciação Técnica de Apicultura, a Mocapor – Comércio e Indústria de Mármores, a Queijo da Quinta, os
Vinhos Minoc e a Quinta do Juncal, que ofereceram a todos os visitantes uma mostra de produtos. •

Visita à Serra d’Aire e Candeeiros


Com a colaboração do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, a Delegação Dis-
trital de Santarém promoveu no dia 3 de junho uma visita à Serra D’Aire e Candeeiros, no âmbito
de um conjunto de visitas técnicas e culturais que têm vindo a ser realizadas anualmente a esta
Serra. A iniciativa contou com a presença de 20 Membros da Ordem dos Engenheiros. •

Região da Madeira
Sede Funchal
Rua Conde Carvalhal, 23 – 9060-011 Funchal
Tel. 291 742 502 – Fax 291 743 479
E-mail madeira@madeira.oep.pt

www.ordemengenheiros.pt/pt/a-ordem/madeira

Visita à obra do novo Hotel Savoy


A Região da Madeira da Ordem dos Engenheiros, através do Conselho Regional do Colégio de Engenharia
Civil, realizou, no dia 17 de agosto, uma visita técnica à obra do novo Hotel Savoy, no Funchal, propriedade
do Grupo AFA e em construção pelo mesmo Grupo. A visita contou com cerca de 50 participantes de vá-
rias áreas da Engenharia, nomeadamente Ambiente, Civil, Eletrotécnica, Mecânica e Química e Biológica.
Os participantes tiveram a oportunidade de assistir a uma apresentação geral da obra, pelo Arq. João
Francisco Caires, e pelo projetista da estrutura, Eng. José Camara. Seguidamente, decorreu a visita, con-
duzida por este engenheiro e pelo diretor de obra, Eng. Silva Santos. Trata-se de uma obra com cerca de
140 mil m2 de construção, incluindo diversas soluções estruturais pouco comuns em edifícios. •

62.ª Feira Agropecuária do Porto Moniz


A Região da Madeira da Ordem dos Engenheiros (OE), através do Conselho Regional do Colégio
de Engenharia Agronómica, marcou presença na 62.ª Feira Agropecuária do Porto Moniz, a
tradicional “Feira do Gado”, que decorreu de 30 de junho a 2 de julho, onde divulgou as várias
atividades de informação, debate e valorização profissional que tem vindo a desenvolver.
Essas atividades têm registado participação dos Membros dos diversos Colégios da Região da
Madeira da OE e fazem parte do plano de atividades aprovado para 2017. •

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Regiões

Região da MADEIRA

Visita ao novo centro de acondicionamento


de banana da Ponta do Sol
Dando continuidade às visitas técnicas pro- GESBA – Empresa de Gestão do Setor da Ba-
movidas pela Região da Madeira da Ordem nana, Lda., o qual foi construído entre outubro
dos Engenheiros, realizou-se no dia 25 de de 2015 e setembro de 2016. mais conhecidos da agricultura madeirense,
julho, através do Conselho Regional do Co- Esta iniciativa pretendeu dar a conhecer a a banana da Madeira. A visita foi orientada pelo
légio de Engenharia Agronómica, uma visita moderna tecnologia de recolha, receção, pro- Dr. Jorge Dias, gerente da GESBA, e pela Eng.ª
ao novo centro de acondicionamento de ba- cessamento, classificação, embalamento, acon- Diana Teles, responsável pelo departamento
nana da Ponta do Sol, da empresa pública dicionamento e expedição de um dos produtos de qualidade da empresa. •

Conferência “O papel da proteção integrada das culturas


no desenvolvimento de uma agricultura sustentável”
O Conselho Regional do Colégio de Engenharia Mexia, do Instituto Superior de Agronomia, e in-
Agronómica, dando continuidade ao seu plano cluiu um enquadramento histórico, geográfico,
de atividades, promoveu uma conferência-debate, social, económico e técnico-científico muito es-
no dia 11 de julho, que abordou o tema “O papel clarecedor, tendo proporcionado aos participantes
da proteção integrada das culturas no desenvol- um momento de reflexão e debate sobre uma
vimento de uma agricultura sustentável”. matéria da maior importância para a respetiva
A conferência foi proferida pelo Prof. António valorização profissional e pessoal. •

Região dos Açores


Sede Ponta Delgada
Largo de Camões, 23 – 9500-304 Ponta Delgada – S. Miguel – Açores
Tel. 296 628 018 – Fax 296 628 019
E-mail geral.acores@acores.oep.pt

www.ordemengenheiros.pt/pt/a-ordem/acores

Formação em AutoCAD para engenheiros


A Região dos Açores da Ordem dos Enge- ação é destinada aos Membros que possuem sões. As aulas terão lugar entre as 18h00 e as
nheiros conta vir a realizar uma formação em pouco ou nenhum conhecimento no programa 20h00. Duas horas no final do dia dedicadas
AutoCAD entre os dias 9 e 27 de outubro. Esta de desenho técnico AutoCAD, a duas dimen- à aprendizagem e à formação contínua. •

Esta formação encontra-se acreditada pelo OE+AcCEdE – Sistema de


Formação em Engenharia Acústica Acreditação da Formação Contínua para Engenheiros e pretende ha-
Em parceria com a empresa SCHIU, a Região dos Açores da Ordem bilitar os engenheiros para a elaboração de projetos de condiciona-
dos Engenheiros pretende levar a cabo uma formação na área da En- mento acústico nas suas várias vertentes e categorias.
genharia Acústica – Projetos de Condicionamento Acústico, entre os A realização da formação encontra-se condicionada a um número
dias 6 e 15 de novembro, em horário pós-laboral. mínimo de participantes. •

Campanha “Livro a Livro”


Decorre até final de dezembro uma campanha de angariação de livros de Engenharia, com o
objetivo de trazer para o espaço da biblioteca da Região dos Açores da Ordem dos Engenheiros
um conjunto de obras relevantes e suscetíveis de interessar os Membros da Região que queiram
visitar e permanecer num espaço que é o seu. Para os que desejam participar nesta iniciativa e
partilhar algumas obras, o contributo faz-se de forma muito simples: bastará selecionar os livros
que considerem relevantes no domínio da Engenharia e deixá-los ao cuidado do secretariado
da Região. O Membro será depois convidado a preencher uma ficha de doação e, caso queira,
a deixar uma nota dedicatória ou o seu testemunho pessoal. •

22 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


TEMA DE CAPA
REFORMA DAS FLORESTAS
24 Reforma da Floresta – 44 Engenharia Geológica e de Minas 46 Engenharia de Materiais
– Algumas reflexões A Engenharia Geológica A Engenharia dos Materiais
António de Sousa Macedo, e de Minas na gestão/defesa e a Floresta
João Amaral, José Gaspar do património florestal Luís Gil
português
28 Políticas e instrumentos Conselho Nacional do Colégio
47 Engenharia do Ambiente
de política: o que falta fazer? A preservação
Francisco Castro Rego 45 Engenharia Química e Biológica do património florestal
A Engenharia Química na perspetiva ambiental
30 Ordenamento e Biológica e o património
florestal português
António Albuquerque
do território: soluções Lisete Epifâneo
de gestão florestal? Conselho Nacional do Colégio
Beatriz Fidalgo, Raúl Salas,
José Gaspar 45 Engenharia Geográfica
O contributo da Engenharia
32 Uma floresta rentável Geográfica na Reforma
defender-se-á melhor das Florestas
João Paulo Catarino Teresa Sá Pereira, Maria João Henriques,
Francisco Madeira
34 Dois mundos: rentabilidade
da floresta nacional vs.
proprietário florestal 48 ENTREVISTA 53 ENTREVISTA
Sara Pereira

36 Gestão florestal,
conservação, o fogo
e o seu uso
João Filipe Flores Bugalho

38 Novos sistemas
florestais – Silvicultura
de povoamentos mistos Luís Capoulas Santos António de Sousa Macedo
Jaime Sales Luís Ministro da Agricultura, Engenheiro Florestal
Florestas e Desenvolvimento Rural Presidente do Conselho Nacional
39 Fahrenheit 451
“Esta Reforma foi pensada para
do Colégio de Engenharia Florestal
da Ordem dos Engenheiros
Tiago Oliveira, João Pinho
dar resposta a um problema
tormentoso que há muito aflige Planeamento e gestão
o País: o abandono e má gestão profissionais da floresta
a engenharia das florestas” são vitais para o setor

e o património
florestal português
58 ESTUDO DE CASO 61 ESTUDO DE CASO
42 Engenharia Civil
A Engenharia Civil na defesa
do património florestal
português – Oportunidades
Paulo E. Ribeirinho Soares

42 Engenharia Eletrotécnica
A Engenharia Eletrotécnica
na gestão e defesa
da floresta
Zonas de Intervenção Florestal: A gestão florestal sustentável
Conselho Nacional do Colégio
ordenamento do território, da e certificação florestal
floresta e a defesa da floresta J. Arménio Miranda
43 Engenharia Mecânica contra incêndios
A Reforma das Florestas
Sofia Pinto, Joana Carvalho,
e os Incêndios
Tiago Gonçalves, Ângelo Cardoso
Domingos Xavier Viegas

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 23


Tema de Capa REFORMA DAS FLORESTAS

Reforma da Floresta
Algumas reflexões
A
denominada “Reforma da Floresta” senão, e essa muito grave e infeliz, a morte
não é um tema que una o País, en- de cidadãos inocentes, que estavam no lugar
tusiasme a Engenharia Florestal, nem errado à hora errada!
tão pouco nos parece ser a base que irá Como acontece todos os verões, a “novela”
revolucionar e mudar o paradigma que da “silly season” realça esta problemática,
António de Sousa Macedo temos vivido. Nesse sentido, ficou longe do isto é, os incêndios florestais, revelando-nos
que seria necessário e perde-se mais uma um País rural pobre e abandonado, sem au-
oportunidade, em particular, para os enge- toridade e descoordenado. É arrepiante
nheiros florestais que continuam “omissos” constatar a muita ignorância propalada nesta
e a não ser parte da solução! altura pelos órgãos de comunicação, dando
São muitas as razões que nos fazem pensar voz a quem não tem nada a dizer, seja téc-
assim e muito mais do que criticarmos a nica, seja de qualquer outra dimensão! As
João Amaral bondade de alguns dos diplomas (onde até vozes competentes e autorizadas perdem-
nos conseguimos rever…) é sobretudo pelo -se no fumo de tanta incompetência e sobra
que não está lá que estamos preocupados. a confusão e o descrédito. São os tempos
Por essa razão, chamar “REFORMA” a algo onde o excesso de má informação impera
que estamos convencidos que em pouco e se difunde como se de verdades se tra-
ou nada mudará a situação vigente parece- tassem. É verdade que existe competência,
-nos um excesso de linguagem, que só experiência e conhecimento, mas o debate
José Gaspar serve, uma vez mais, para desviar a atenção está contaminado por todo o tipo de inte-
dos problemas. resses... Não é fácil e o tema por si, levado
Conselho Nacional
do Colégio de Engenharia Florestal Inevitavelmente, a “REFORMA” ficou pres- a sério e às últimas consequências, requer
da Ordem dos Engenheiros sionada por mais um ano terrível de incên- serenidade, vontade de aprender com os
dios florestais, que nada mais trouxe de novo erros, compromissos e “política nobre” que

24 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


REFORMA DAS FLORESTAS Tema de Capa

ponha os interesses do País acima da prá- Floresta” realizado em conjunto com a Fo- congratula-se por algumas das sugestões
tica política habitual! restis, a UNAC e a Universidade Técnica de então apresentadas estarem expressas nos
São nestes momentos de tragédia que o Lisboa, um amplo debate sobre alguns dos diplomas agora em discussão pública, ainda
melhor e os melhores do País deveriam vir temas que consideravam e consideram mais que de uma forma tímida e de duvidosa
a terreiro e disponibilizarem-se para criar as estruturantes e importantes para o desen- concretização. No entanto, lamenta que
bases para uma verdadeira “REFORMA”, se- volvimento da floresta nacional. muitas das medidas sugeridas e conside-
guramente difícil e de efeito necessariamente As conclusões do Fórum Nacional “A Flo- radas vitais para o setor e para o seu sucesso
não imediato, mas indispensável para o fu- resta de que precisamos…”, realizado no dia não tenham sido consideradas e contem-
turo. Seguramente que entre estes terá que 17 de outubro de 2016 na OE, podem ser pladas nos referidos diplomas.
estar à frente a Engenharia Florestal e o saber consultadas no site da OE e foram enviadas A direção do Colégio Nacional de Enge-
e competência dos engenheiros florestais, a todos os Ministérios que se cruzam com nharia Florestal destaca, pela grande impor-
que, juntamente com outras valências téc- a floresta (Agricultura, Administração Interna, tância e relevância para o setor, ser essen-
nicas, contribuirão com soluções para os Ambiente e Ordenamento do Território, Jus- cial ver refletido nos diplomas em discussão
problemas identificados. tiça e Finanças), e resumem e traduzem bem pública o papel da Engenharia Florestal e
O tema da “REFORMA” começou a ser tra- o pensamento dos engenheiros florestais dos engenheiros florestais, o que não veio
tado, e bem, antes da tragédia, e o Governo, relativamente a quatro grandes temáticas: a acontecer.
como lhe competia, até se esforçou por “Políticas e Instrumentos de Política”, “Or- No nosso entendimento esta é a oportuni-
abrir e discutir o processo com a Sociedade denamento do Território e Soluções de dade de transpor para alguns destes diplomas
e os diversos representantes do setor através Gestão”, “Rentabilidade, Produção e Con- o que está estatutariamente consagrado nos
de uma ampla discussão pública, ainda longe servação” e “Problemática dos Fogos”. Atos de Engenharia Florestal da OE, isto é,
das pressões que vieram a sentir-se. Embora Os mais de 30 especialistas e investigadores, aqueles em que nas matérias em apreço
os resultados deste processo não tenham juntamente com mais de 320 participantes, intervenha de uma forma direta o Enge-
considerado a maior parte das contribuições identificaram os desafios, os problemas, e nheiro Florestal.
dos diversos “stakeholders” do setor. propuseram soluções racionais para a flo- São inúmeras as situações e o vazio legal é
A Ordem dos Engenheiros (OE) e o Colégio resta que, suportadas numa consistente base enorme no sentido de regulamentar a ati-
de Engenharia Florestal participaram e fi- técnica, reforçam o seu potencial e a valo- vidade e o exercício profissional e dessa
zeram parte desse desafio, tendo previa- rizam como recurso em todas as dimensões. forma proteger a qualidade da intervenção
mente à discussão pública da “Reforma da O Colégio de Engenharia Florestal da OE técnica no território, e em particular nos

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 25


Tema de Capa REFORMA DAS FLORESTAS

espaços florestais, de forma a garantir às Pese embora os diplomas publicados serem setor têm em mãos, para que se avance
diferentes entidades (públicas e privadas) a omissos a este respeito acreditamos que o numa base consistente e gradual, é também
qualidade nos atos praticados. tema não está encerrado e chegou o tempo necessário identificar medidas que se possam
Como se pode admitir que não se garantam de convocar o conhecimento técnico flo- operacionalizar e permitam resultados con-
as competências (isto é, o conhecimento e restal. cretos.
o saber) necessárias para assegurar a qua- Os engenheiros florestais, enquanto prota- 1. Alteração do formato da dupla tutela que
lidade e responsabilizar o exercício profis- gonistas deste conhecimento técnico, pos- incide sobre o Instituto da Conservação
sional, como, por exemplo, na: suem a formação e a experiência, e estão da Natureza e das Florestas, ficando este
› Elaboração e acompanhamento de pro- capacitados para agir, querendo ser parte só sob tutela do Ministério da Agricultura,
jetos de arborização e/ou rearborização; da solução. Florestas e Desenvolvimento Rural;
› Assegurar as funções dos Gabinetes Téc- Contem connosco, pois a situação crítica a 2. Criar e dinamizar um programa perma-
nicos Florestais e o Planeamento da De- que chegámos também se inverte e um ter- nente de educação e sensibilização para
fesa da Floresta Contra Incêndios; ritório florestal exige uma Engenharia Flo- a importância da floresta, riscos dos fogos
› Elaboração de Planos de Ordenamento, restal e profissionais que a representem (os e sua prevenção, adaptado aos diferentes
Planeamento e de Gestão Florestal (PROF engenheiros florestais) capazes de proporem públicos-alvo;
e PGF). as soluções técnicas que alterem o para- 3. Reforço da fiscalização e monitorização
digma atual. efetiva do território, garantindo a apli-
Terminamos com a reprodução, tal qual, das cação e eficácia das soluções resultantes
reflexões debatidas no Fórum sobre “A Flo- dos instrumentos de planeamento, em
resta de que precisamos…”. detrimento de pressupostos de proibição
transversais sob as opções de gestão;
“As reflexões debatidas neste Fórum vão no 4. Incentivos fiscais fortes e efetivos com
sentido de que é essencial o estabeleci- vista a estimular as ações de emparcela-
mento de um pacto de regime para a flo- mento florestal e as ações tendentes a
resta portuguesa, que permita estabilidade evitar o fracionamento da propriedade
legislativa e de governança. florestal (como previsto na Lei de Bases
Esse pacto de regime deve perdurar para lá da Política Florestal, Lei n.º 33/96);
da formulação das políticas, assegurando, 5. Rever o regime de financiamento das
também, instrumentos de política adequados Zonas de Intervenção Florestal (ZIF),
à sua operacionalização. apoiando ao seu funcionamento, reco-
Mais do que novas estratégias ou diagnós- nhecendo-as como veículo privilegiado
ticos, a “Floresta de que precisamos” carece de soluções de defesa conjunta e primeiro
de uma nova abordagem de implementação patamar para soluções de gestão agru-
de soluções recorrentemente identificadas. pada;
A floresta, apesar da sua perspetiva e dos 6. Criação da figura da “Sociedade de Gestão
seus resultados de médio a longo prazo, Florestal”, permitindo que as ZIF evoluam
tem que ser pensada e acompanhada 365 para soluções empresariais que garantam
dias por ano, para que se garanta: um adequado uso do solo e uma diver-
› Um território rural ordenado de acordo sificação das fontes de rendimento;
com as suas características físicas e inte- 7. Criação da figura fiscal do modelo de
grando os diversos atores locais; provisões para investimento florestal para
› Unidades económicas com escala que os sujeitos passivos de IRC/IRS (como
permitam a viabilidade produtiva da ati- previsto na Lei de Bases da Política Flo-
vidade florestal e assegurem as suas fun- restal, Lei n.º 33/96);
ções de conservação, num enquadra- 8. A instituição do sistema de seguros flo-
mento climático evolutivo; restais (como previsto na Lei de Bases da
› Respostas dinâmicas e preocupações de Política Florestal, Lei n.º 33/96);
equidade, remunerando adequadamente 9. Criação de uma estrutura dedicada à de-
quem garante as funções de proteção e fesa da floresta, integrando a prevenção
conservação; e apoiando o combate, que permitisse
› Reconhecimento efetivo por parte dos defender a floresta além da defesa das
portugueses, pela sua importância na eco- vidas e das populações (como previsto na
nomia, no contexto social dos territórios Lei de Bases da Política Florestal, Lei n.º
rurais e na garantia dos serviços ambien- 33/96), que implemente o Plano Nacional
tais à escala da paisagem. de Defesa da Floresta Contra Incêndios
(PNDFCI), dotado de um orçamento global,
Sendo enorme a tarefa que os agentes do equilibrado e plurianual.”

26 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


CONSTRUINDO UM MUNDO MELHOR

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Tema de Capa REFORMA DAS FLORESTAS

Políticas
e instrumentos
Francisco Castro Rego
Engenheiro Florestal
de política:
o que falta fazer?
1. A definição dos objetivos lização da Estratégia Nacional para as Flo-
restas, o que aconteceu em 2015 pela Re-
Os objetivos das políticas e os instrumentos solução do Conselho de Ministros n.º
das políticas estão bem definidos, pelo 6-B/2015, publicada no Diário da República
menos, desde a Resolução do Conselho de n.º 24/2015, 1.º Suplemento, Série I de 4 de
Ministros n.º 114/2006 – Diário da Repú- fevereiro de 2015.
blica n.º 179, Série I de 15 de setembro de A Estratégia Nacional para as Florestas deve
2006, que aprova a Estratégia Nacional para ser, por isso, o documento de referência
as Florestas. para a execução das diferentes medidas de
Passados seis anos após essa Resolução foi política previstas na Lei de Bases da Política
efetuado pelo IESE um importante estudo Florestal, incluindo os instrumentos básicos
de avaliação da Estratégia Nacional para as e específicos do Planeamento Florestal, com
Florestas e depois um relatório sobre a sua especial ênfase nos Planos Regionais de
implementação, incluindo resultados e pro- Ordenamento Florestal (PROF) e nos Planos
postas. Nesta sequência, a Assembleia da de Gestão Florestal (PGF).
República aprovou em 2014 a resolução n.º A importância de um documento estraté-
81 (Diário da República n.º 189/2014, Série gico para as florestas, com um grau impor-
I de 1 de outubro de 2014) fazendo reco- tante de estabilidade, é essencial para o
mendações ao Governo no sentido da atua- funcionamento do setor. Com atualizações

28 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


REFORMA DAS FLORESTAS Tema de Capa

e alterações resultantes das mudanças das vada, são os que estão associados aos ins- ciência é muitas vezes esquecido. Veja-se
circunstâncias, ou das inclinações dos Go- trumentos financeiros. A Estratégia Nacional como exemplo o que se fez com a desca-
vernos, os diagnósticos e os contornos ge- para as Florestas também pretende promover racterização da Estação Florestal Nacional,
rais da Estratégia Nacional para as Florestas “a necessária articulação e enquadramento o Laboratório que o Estado deveria ter ao
mantêm-se, na sua essência, inalterados e operacional com o Programa de Desenvol- serviço do setor florestal.
validados por Governos sucessivos de cores vimento Rural e demais programas nacionais Faço estas considerações a título pessoal,
políticas diferentes. Também essa consta- decorrentes dos Fundos Europeus Estrutu- sem qualquer vínculo às instituições a que
tação de consenso generalizado tinha já rais e de Investimento, bem como com o pertenço. Mas aproveito a oportunidade
dado origem à aprovação unânime pela As- Fundo Florestal Permanente”. Mas será então para, na qualidade de Presidente da Socie-
sembleia da República da Lei de Bases da que o que falta é a tão necessária articu- dade Portuguesa de Ciências Florestais
Política Florestal em 1996. lação? Valerá a pena uma boa discussão e (SPCF), terminar este texto com uma refe-
análise sobre esta matéria. rência especial aos encontros florestais que
2. O que faz falta? Mas falta, seguramente, uma avaliação do tanto têm contribuído para a discussão da
que foram os impactos dos diversos pro- ciência e da técnica florestal entre os agentes
Parece, portanto, haver grandes consensos gramas de financiamento sobre o setor flo- do setor.
nacionais sobre a matéria florestal no que restal. Fazem-se muitas avaliações, quase Por isso, deixo aqui o meu convite a todos
diz respeito aos objetivos gerais das polí- todas de caráter administrativo, avaliando a os que se interessam pela Floresta e pela
ticas. Mas, então, o que faz falta? legalidade e a correção processual dos fi- procura de soluções para os problemas que
Em primeiro lugar falta levar a sério os do- nanciamentos. Falta a verdadeira avaliação, lhe estão associados, para que participem
cumentos que se aprovam. As metas dos a que incida sobre os verdadeiros resultados e usem o que lhes oferece o 8.º Congresso
PROF, tão trabalhadas e discutidas antes de dos financiamentos públicos sobre a reali- Florestal Nacional que decorre em Viana do
aprovadas em 2006, foram logo suspensas dade da floresta, a que responda à questão Castelo entre 11 e 14 de outubro. É logo na
em 2011 e nunca mais retomadas. Faz-se da eficiência dos apoios públicos nacionais sua génese uma organização entre enti-
agora a revisão dos PROF, mas entretanto e comunitários para a obtenção dos resul- dades diferentes, da ciência à ação, numa
passaram seis anos sem que o País tivesse tados. Só depois de uma verdadeira ava- iniciativa conjunta entre a SPCF, as Associa-
metas estabelecidas para as suas florestas. liação se poderá concluir sobre as limitações ções Florestais do Minho e do Vale do Lima
A seriedade com que se devem encarar estes do atual sistema e das possíveis correções e o Instituto Politécnico de Viana do Cas-
documentos não pode depender de idios- a fazer. Para já, os resultados negativos dos telo, a que se associou o Instituto da Con-
sincrasias circunstanciais... incêndios florestais parecem apontar para servação da Natureza e das Florestas.
Em segundo lugar vejamos o que faz falta que falta alterar o atual estado de coisas e Num País em que existem objetivos de po-
nos instrumentos de política. Sabe-se que a articulação das políticas. Precisamos de lítica consensualizados, instrumentos finan-
os Governos têm sido pródigos na produção mais ou só de melhor financiamento? Mas ceiros mobilizáveis e agentes do setor muito
de diplomas legais mas que estes têm, em falta a tal avaliação... ativos, importa aproveitar os encontros como
geral, uma eficácia prática duvidosa. E também Finalmente, em terceiro lugar, mas não menos o do 8.º Congresso Florestal Nacional para
se sabe que os instrumentos mais eficientes importante, falta em geral nos instrumentos discutir e concluir sobre “o que falta fazer”
de política florestal num País sem cadastro de política a consideração da integração do para termos a Floresta de que o País neces-
geral, e em que domina a propriedade pri- conhecimento. O lugar da investigação e da sita! Fica o encontro marcado para Viana!

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seguro
Tema de Capa REFORMA DAS FLORESTAS

Ordenamento do território:
soluções de gestão florestal?

N
um país onde os incêndios florestais entidades heterogéneas cuja dinâmica global
põem em causa a segurança e so- não pode ser prevista a partir da soma das
brevivência das populações rurais dinâmicas individuais dessas entidades (Par-
e mobilizam grande quantidade de recursos rott e Lange, 2013).
no seu combate, a gestão florestal entra Os sistemas florestais complexos são sis-
Beatriz Fidalgo definitivamente no debate público e no dis- temas socio-ecológicos que, independen-
Professora Coordenadora, curso político. temente da natureza dos seus componentes,
Instituto Politécnico de Coimbra
De facto, a intensificação da silvicultura, o partilham um conjunto de propriedades res-
abandono das atividades agrárias, o despo- ponsáveis pela sua dinâmica global. A hete-
voamento, as alterações climáticas, a ocor- rogeneidade, ou seja, a diversidade de com-
rência de grandes incêndios florestais, pragas ponentes e as interações em redes não li-
e doenças, ou o influxo de espécies inva- neares são duas das propriedades mais im-
soras, provocaram mudanças radicais no portantes (Parrott e Lange, 2013).
Raúl Salas funcionamento das paisagens rurais. Estas Os componentes das florestas organizam-
Professor Adjunto, mudanças induziram um comportamento -se a partir da base em novas entidades de
Instituto Politécnico de Coimbra atípico nos espaços florestais cuja dinâmica maior complexidade e propriedades emer-
de funcionamento se caracteriza, generi- gentes em escalas espaciais (vertical e ho-
camente, pela perda de valor ecológico, rizontal) e temporais de maior extensão (ver
económico e social destes espaços ou até Figura 1). Reconhecem-se nos sistemas flo-
a sua autodestruição. Esta situação obriga restais três níveis fundamentais de organi-
a uma mudança de paradigma na forma zação hierárquica: o nível dos povoamentos,
como se encaram as florestas antrópicas e o nível das florestas e o nível das paisagens
José Gaspar
os seus respetivos sistemas de gestão. (Filotas et al., 2014). Para além destes com-
Professor Coordenador,
Instituto Politécnico de Coimbra ponentes ecológicos, cada nível inclui também
As florestas como sistemas componentes sociais como os utilizadores
socio-ecológicos complexos da floresta, as suas organizações, as institui-
ções, as suas regras de funcionamento e a
Neste novo paradigma assume especial re- cultura das sociedades (Folque, 2006).
levância a conceção da floresta como um Os níveis da hierarquia comunicam entre si
sistema complexo, formado por diversas por “feedbacks” conferindo aos sistemas a

Figura 1 Conceção das florestas como sistemas complexos (Fotos de Raúl Salas)

30 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


REFORMA DAS FLORESTAS Tema de Capa

capacidade de auto-organização e de adap- os restantes usos do solo. A gestão florestal

Foto: Raúl Salas


tação às pressões do exterior. ao nível municipal permitiria uma melhor
A interação humana faz-se diretamente através integração da estratégia de desenvolvimento
da gestão, ou indiretamente através de mo- do setor florestal na estratégia de desenvol-
dificações no ambiente biofísico ou social vimento geral dos municípios, nomeada-
pressionando o sistema (Filotas et al., 2014). mente no que respeita à conservação e pro-
Heterogeneidade, interações não lineares, teção dos recursos naturais. Por outro lado,
feedbacks e organização geram um funcio- dada a urgência e amplitude das interven-
namento do sistema muito complexo e in- ções necessárias, tornaria mais transparente

Foto: Raúl Salas


tricado conferindo às florestas uma dinâmica e participado o processo de definição de
de constante mudança e a existência de prioridades na alocação dos recursos.
comportamentos inesperados, muitas vezes O regime de ordenamento florestal con-
desproporcionais aos estímulos induzidos templa ainda um outro tipo de planos, os
pelo ambiente. Gerir estes sistemas implica, Planos Específicos de Intervenção Florestal
pois, ter em conta este comportamento de (PEIF), que visam a prevenção estrutural das
imprevisibilidade e incerteza acerca do seu florestas contra agentes bióticos e abióticos,
comportamento futuro (Messier e Puett- podendo desenvolver-se em qualquer es-
mann, 2011). Figura 2 Contraste entre uma paisagem rural cala espacial. O seu objetivo fundamental é
tradicional (em cima) e uma paisagem
As já citadas forças de mudança das paisa- rural atual (em baixo) no centro do País o de permitir aplicar medidas extraordinárias
gens rurais traduziram-se numa simplifi- de intervenção.
cação da estrutura dos sistemas florestais casos, aplicar princípios ecológicos e obje- Embora os planos de contingência para
em todos os seus níveis organizacionais, tivos de gestão ao nível dos povoamentos. proteger a floresta das alterações globais
que provocou a perda de resiliência e de Já os Planos Regionais de Ordenamento Flo- sejam cada vez mais necessários, a verdade
capacidade de adaptação (ver Figura 2). restal (PROF) são planos de desenvolvimento é que eles não devem sobrepor-se aos
Reverter este comportamento implica re- setorial de natureza estratégica, concebidos planos de ordenamento e gestão florestal,
construir a complexidade do sistema através ao nível das regiões e, embora com uma di- mas sim fazer parte integrante destes mesmos.
da diversificação dos seus componentes mensão espacialmente explícita, têm um ca- O sistema de gestão precisa ainda de me-
ecológicos e sociais e da promoção de li- ráter fundamentalmente normativo. As suas lhorar a participação pública, passando da
gações funcionais entre eles em todos os orientações deveriam ser integradas no sis- atual abordagem consultiva para uma abor-
níveis de organização, para que estes es- tema de planeamento e ordenamento do dagem colaborativa, em que os utilizadores
paços melhorem a capacidade de produzir território pelos Planos Regionais de Ordena- e comunidades locais participem ativamente
bens e serviços e também a sua capacidade mento do Território (PROT) e, através deles, na identificação de objetivos, formulação e
de se adaptar às novas condições. informar os Planos Municipais de Ordena- implementação das estratégias de gestão.
mento do Território (PMOT), facto que, na Os planos deverão também tornar-se mais
O ordenamento e gestão realidade, não se verifica. Como tal, os PROF flexíveis, para aumentar a capacidade de
florestal em Portugal limitam-se a fornecer contexto para os planos adaptação à diversidade de situações locais
de gestão florestal. Contudo, a escala a que e de objetivos de gestão, e mais acessíveis
Sendo a proporção de área florestal gerida são construídos está adequada à extensão aos seus utilizadores, para aumentar e faci-
pelo Estado inferior a 3% do território na- da região não possuindo, portanto, o grau litar a sua utilização.
cional, a gestão das florestas portuguesas de resolução adequado à integração dos PGF.
compete, essencialmente, aos seus proprie- Falta assim um instrumento de ordenamento Bibliografia
tários e às suas organizações, sendo regulada florestal numa escala espacial intermédia › Filotas, E., Parrott, L., Burton, P. J., Chazdon, R.
por um conjunto muito vasto de legislação. que melhore as ligações entre escalas hie- L., Coates, K. D., Coll, L., ... & Putz, F. E. (2014).
Desta, destacam-se os instrumentos de or- rárquicas do sistema de ordenamento que Viewing forests through the lens of complex sys-
tems science. Ecosphere, 5(1), 1-23.
denamento e gestão florestal com origem temos e que permita aplicar os princípios
em 1999 e agora expressos no Decreto-Lei de ecologia da paisagem à gestão dos es- › Folke, C. (2006). Resilience: The emergence of
a perspective for social-ecological systems analyses.
n.º 16/2009 e posteriores alterações. paços florestais, permitindo conceber es-
Global environmental change,16(3), 253-267.
O sistema contempla três tipos de planos. paços multifuncionais capazes de responder
› Messier, C., & Puettmann, K. J. (2011). Forests as
Os Planos de Gestão Florestal (PGF), nos às expectativas de vários grupos de interesse complex adaptive systems: implications for fo-
quais se definem opções estratégicas para e da população em geral. rest management and modelling. Italian Journal
cumprir objetivos dos proprietários ou das Este plano de ordenamento florestal poderia of Forest and Mountain Environments,66(3),
suas organizações. Dada a estrutura da pro- ser parte integrante dos PMOT, definindo 249-258.
priedade e as dificuldades de associação regras de utilização dos espaços florestais › Parrott, L., & Lange, H. (2013). An introduction
dos proprietários florestais, os PGF abrangem ao nível do município e criando instrumentos to complexity science.In: Managing forests as
complex adaptive systems: building resilience
maioritariamente áreas de pequena dimensão de intervenção ao nível municipal de gestão
to the challenge of global change. Routledge,
e não cobrem a totalidade do espaço flo- da paisagem, nomeadamente através da New York, USA, 17-32.
restal, permitindo apenas, na maioria dos gestão integrada das manchas florestais com

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 31


Tema de Capa REFORMA DAS FLORESTAS

Uma floresta rentável


defender-se-á melhor
A
João Paulo Catarino catástrofe originada pelos incêndios coletiva, entre outras fragilidades da espécie
Coordenador da Unidade de Missão florestais deste verão demonstrou, e do território onde está implantado.
para a Valorização do Interior
mais do que nunca, a necessidade Esta realidade, predominante a norte do
imperiosa e urgente de pensarmos e execu- Tejo, tem vindo a agravar-se de ano para
tarmos a outro ritmo as ações de ordena- ano, exponenciada pelas alterações climá-
mento e gestão florestal, sob pena de estes ticas, pelo abandono da atividade agrícola
fenómenos se agravarem de ano para ano. e pela redução drástica da população a que
A floresta mais rentável é a floresta que está temos assistido, em especial, neste território.
mais protegida. As debilidades da floresta São vastas áreas de povoamentos contínuos
advêm muito da sua falta de rentabilidade, de pinheiro bravo e eucalipto, comparti-
em especial, para o proprietário. Se olharmos mentadas por áreas de matos, onde o de-
para a floresta numa perspetiva de sub-fi- clínio da regeneração natural de pinheiro
leira, veremos que as sub-fileiras do euca- bravo se começa a manifestar pela conse-
lipto e do sobreiro se encontram em relativa quência de ocorrências cíclicas de incên-
harmonia com todos os agentes da cadeia dios florestais.
de valor, ao contrário da sub-fileira do pi- A compartimentação, outrora conseguida
nheiro bravo. pela agricultura, mas que passou a ser feita,
Hoje, não é economicamente rentável, nem em muito menor escala, pela rede de faixas
empresarialmente sensato, apostar no pi- de gestão combustível, tem-se revelado
nheiro bravo, muito pelas questões fitossa- muito menos eficaz do que aquela que re-
nitárias, pela previsibilidade dos incêndios, sultava das culturas agrícolas.
da estrutura da propriedade que lhe está Perante estas vulnerabilidades e ameaças,
associada, bem como das dificuldades ma- retomando o ponto de partida, só teremos
nifestadas em aderir a modelos de gestão floresta em terra privada, bem gerida, no dia

32 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


REFORMA DAS FLORESTAS Tema de Capa

tividade com conhecimento obtido em pro-


cessos colaborativos entre centros de saber
e investigação aplicada.
Nesta estratégia, as instituições de Ensino
Superior assumem um papel nuclear se,
para além de transmitirem conhecimento,
produzirem elas também conhecimento
ajustado às necessidades do território.
A Universidade cumprirá tanto melhor o seu
papel de motor de desenvolvimento, quanto
melhor conseguir integrar-se e integrar os
agentes políticos, sociais e empresariais nas
dinâmicas de criação do conhecimento.
Mas este desiderato só será alcançado se a
Academia souber do que precisa a Indústria
e a Indústria souber até onde pode ajudar
a Academia. Precisamos, efetivamente, de
uma Academia cada vez mais próxima e
mais aberta ao tecido empresarial e uma
Indústria cada vez mais disponível para co-
laborar com a Academia.
A criação de uma Rede de Investigação e
Desenvolvimento entre as Instituições de
Ensino Superior e as organizações do setor
para a sub-fileira do pinheiro bravo é uma
das ações constantes do Programa de Revi-
talização do Pinhal Interior que tenho a honra
em que ela for economicamente rentável no curto prazo, o principal rendimento do de coordenar a partir de Pedrógão Grande
para o seu proprietário. proprietário terá que advir da indústria rela- e da Unidade de Missão para a Valorização
Numa sociedade cada vez mais imediatista cionada com a madeira; por muito óbvias do Interior.
e materialista, a floresta só terá futuro se con- que sejam as inúmeras vantagens e benefí- Este Programa prevê um conjunto de ações
seguirmos que os seus proprietários sejam cios proporcionados pela floresta, na hora específicas e limitadas geograficamente (eixo1),
ressarcidos periodicamente e na justa medida do deve e do haver a única equação que aos sete municípios atingidos pela catástrofe
dos benefícios que a sua floresta proporciona realmente é tida em conta é a quantidade de 17 de junho, que foram desenhadas muito
à sociedade. Ou encontramos rapidamente de madeira ou cortiça produzida m3/ha/ano. numa perspetiva piloto, centradas no renascer
uma razão, que terá de ser invariavelmente Tudo o resto considerado nesta visão é oferta de uma Floresta Sustentável e Resiliente aos
económica, para os detentores da terra fa- e normalmente é oferecido pelos que menos Riscos, para depois de avaliada a sua exequi-
zerem floresta, ou num prazo não muito rendimentos tiraram do negócio. bilidade e eficiência prática serem replicadas
longo essa responsabilidade, ou o preenchi- A pedra angular desta equação, falta de ren- a todo o território do Pinhal Interior. O outro
mento dessa necessidade, ficará exclusiva- tabilidade da floresta, só será ultrapassada conjunto de ações (eixo2), centrado na re-
mente nas mãos do Estado e nesse caso o quando aumentado o valor acrescentado do vitalização económica e social do território,
valor a pagar será imensuravelmente maior. “recurso”, num setor onde a cadeia de valor alarga a sua intervenção ao Pinhal Interior,
Todos temos consciência dos benefícios ligada aos produtos da floresta, em especial de modo a amplificar as complementaridades
que a sociedade retira da floresta e do perfil do pinheiro bravo, é muito curta, retendo no e externalidades das várias iniciativas e alargar
dos nossos proprietários, mas nem sempre território uma pequena parte da riqueza ge- os seus efeitos a um território mais vasto,
essa consciência é acompanhada igualmente rada, assente em pequenas empresas, com mas dotado de características e problemá-
da necessidade de sermos solidários para modelos de gestão e de automação inci- ticas semelhantes.
com eles. Se as sociedades e as nações já pientes e geradoras de baixas produtividades. Sendo o Programa, espero, bem mais abran-
chegaram à conclusão de que é necessário Impõe-se, por isso, o desenvolvimento de gente que o presente artigo, aconselho a
penalizar quem polui, não estará longe o uma estratégia concertada e alargada de sua leitura a quem se interesse por estas
dia, fazendo-se justiça, de compensar quem modernização das empresas do setor. Neste causas, bem como agradecerei os vossos
despolui. Impõe-se, pois, que seja imperiosa contexto, e paralelamente, importa imple- contributos, na expectativa de enriquecer o
a reavaliação e quantificação, parcela a par- mentar ações que visem o desenvolvimento documento e contribuirmos assim para que
cela, à luz de uma visão moderna, do real de novos produtos e de novas aplicações a calamidade de Pedrógão Grande possa
valor da floresta. para aproveitamento dos recursos prove- marcar uma nova abordagem para o Pinhal
Não obstante esta necessidade de incluir na nientes da floresta, a par da promoção do Interior, em particular, e para o setor flo-
equação o valor das externalidades positivas, empreendedorismo que alie iniciativa e cria- restal de uma forma geral.

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 33


Tema de Capa REFORMA DAS FLORESTAS

Dois mundos: rentabilidade


da floresta nacional vs.
proprietário florestal
A
rentabilidade da Floresta, de toda a ultrapassado pela Finlândia e pela Suécia.
fileira florestal, tem que ser encarada Há um superavit de 2,5 mil milhões de euros
a dois níveis distintos: em termos reportado ao saldo da balança comercial
nacionais, os números globais em termos dos produtos de origem florestal em 2015
económicos, sociais e ambientais são in- (fonte: INE). Ainda de acordo com os dados
Sara Pereira contornáveis para a riqueza do País; em que foram possíveis recolher pela AIFF, os
Licenciada em Engenharia Florestal termos individuais, esta constatação não é diferentes setores – envolvendo cortiça,
Diretora-executiva da AIFF, inteiramente real, nem semelhante de região madeira e mobiliário, pasta, papel e cartão
Cluster da Indústria de Base Florestal
para região. – representam, respetivamente, 0,2%, 0,4%
O retrato de Portugal nesta área tem que e 0,5% do PIB. No ranking das 100 maiores
ser conhecido e acima de tudo reconhecido empresas da fileira florestal a nível mundial,
pelo seu mérito, e aqui entra sem dúvida a elaborado pela PricewaterhouseCoopers,
Engenharia Florestal, quer como base do em 2013, encontram-se quatro grupos por-
conhecimento pluridisciplinar em que estes tugueses. Neste contexto de tópicos eco-
atores são “treinados”, quer nas raízes de nómicos acresce igualmente a elevada re-
um trabalho que exige muita ciência social. presentatividade na ocupação do solo: 3,15
Comecemos pela fotografia nacional: apro- milhões de hectares, representando 35% do
ximadamente 1,7% da população ativa em território continental. As espécies florestais
Portugal trabalha na fileira florestal. Desde que apresentam maior ocupação são o eu-
2004 que estamos a crescer a taxas de dois calipto, com 812 mil hectares, o sobreiro,
dígitos – entre os 13% e os 15% – apenas com 737 mil hectares, e o pinheiro bravo,
com uma ligeira quebra pontual em 2008, com 714 mil hectares (in IFN6p, ICNF 2012).
por retração da procura mundial de pro- Nesta radiografia à fileira florestal demons-
dutos de base florestal, mas logo em 2009 tramos o quanto somos competitivos, isto
retomámos a curva do crescimento. Na AIFF é, apresentamos rentabilidade, em tudo o
consideramos que a floresta é o maior ativo que fazemos, desde a rolha de cortiça aos
nacional, cujo valor acrescentado fica na aglomerados de pinho, no mobiliário, pas-
economia portuguesa. Segundo dados com- sando pela pasta, pelo papel de escritório e
pilados pela AIFF, o VAB do setor florestal pelo cartão. Entrámos nos mercados emer-
representa 1,2% do PIB, valor que, no con- gentes com uma oferta de elevada quali-
texto dos países da União Europeia, só é dade e estamos a reafirmar a nossa com-

34 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


REFORMA DAS FLORESTAS Tema de Capa

pacidade jurídica às entidades gestoras de


organizações de gestão agrupada, como
sejam as Zonas de Intervenção Florestal
ou outros modelos existentes, isenção de
IMI, IMT e Imposto de Selo para as pro-
priedades florestais que cumpram deter-
minados critérios de existência real de
gestão, a realização do cadastro florestal
e a certificação da gestão florestal e da
cadeia de responsabilidade;
› Desenvolver a investigação, a formação
e a extensão com programas que agre-
guem estes três vetores num único mo-
delo integrado;
› Tornar positiva a rentabilidade individual
da produção florestal através de incentivos
petitividade nos mercados consolidados. do Governo. Todos estes elementos terão ao investimento, como sejam o apoio fi-
Mas para continuarmos a crescer a este que olhar para o território com novos olhos, nanceiro público a projetos florestais e
ritmo, e com estas percentagens, passamos cientes que precisamos ainda de “reform(ul) agroflorestais (o sucesso do PDR2020 é
agora à disponibilidade da nossa matéria- ar” teorias, práticas e até legislações. crucial nesta linha), a criação de incentivos
-prima de base florestal: cortiça e madeira. O Grupo de Trabalho que preparou a cha- fiscais para o investimento, a existência de
E aqui, sim, importa reforçar que 98% da mada “Reforma Florestal” funcionou no âm- um normativo único de ordenamento
propriedade florestal é privada, que se es- bito do Governo, isto é, um grupo intermi- (atualmente estão a ser revistos os Pro-
tima a existência de cerca de 400 mil pro- nisterial onde participaram diversos membros gramas Regionais de Ordenamento Flo-
prietários florestais, que destes apenas 5% do Governo, com pastas tão diversas como restal que deverão estar alinhados com a
foram classificados (no único estudo de- as Finanças, passando pelo Ambiente, sem Estratégia Nacional para as Florestas), li-
senvolvido até à atualidade sobre o perfil esquecer a Administração Local e a Admi- mitar as taxas de licenciamentos de pro-
destes agentes) como produtores florestais nistração Interna, coordenados pelo Senhor jetos florestais, garantir financiamento pú-
(investem, gerem, comercializam e rein- Ministro da Agricultura, Florestas e Desen- blico a projetos de prevenção de riscos a
vestem), com uma área média por explo- volvimento Rural. Logo, é um grupo que pragas e incêndios, vigilância policial dos
ração florestal de 0,3 ha e que há uma funcionou de forma muito semelhante à So- espaços florestais e o desenvolvimento e
questão pertinente que tem a ver com a ciedade, como o seu espelho, onde a AIFF operacionalização de mecanismos de in-
perceção do risco associada ao investimento participou nos momentos próprios e em que ternalização dos serviços ambientais pro-
na floresta. Sendo consensual que a aposta foi possível, de forma dirigida e focada, apre- duzidos pelos espaços florestais;
na gestão florestal sustentável e responsável sentar as duas linhas que o nosso cluster › Reformar estruturalmente o modo de
é porta de entrada nos mercados mais com- defende como essenciais a serem seguidas governação do setor florestal é essencial
petitivos, e que melhor remuneram, convirá para o setor: equilíbrio entre as principais es- para que a publicitação, a produção e
ter presente que em Portugal a área florestal pécies florestais e sustentabilidade da gestão. publicação de relatórios de execução e
certificada deve aumentar. Esta iniciativa de Baseando-nos no Estudo Prospetivo e Visão de impacto dos financiamentos públicos
adesão é livre e decorre de uma decisão de para o Setor florestal (publicações desen- seja expressiva, que exista e seja acessível
gestão ativa da floresta. volvidas no seio da AIFF) e considerando um a informação pública de apoio à decisão,
Na AIFF, a gestão florestal, que também in- fator crucial para nós que é o de criar con- que seja produzido um relatório sobre o
cide em ações de prevenção aos incêndios dições que atraiam capital para o setor, em estado do setor florestal com periodici-
e pragas, por consequência, reduz a per- particular para a produção, que promovam dade estrita e que se implemente um ver-
ceção do risco, que é algo crítico em ma- o aumento da produtividade dos povoa- dadeiro e extensivo programa de comu-
téria de investimento na floresta, porque mentos já instalados, que contribuam para nicação e educação cívica.
muitas vezes o “abandono do território” é a existência de novas áreas plantadas e re-
uma opção de gestão deveras pesada para duzam o risco de incêndio e de ataques de Em súmula, para que a rentabilidade de ex-
a Sociedade. pragas dos espaços florestais; para tudo isto pressão dos números nacionais mantenha
O saber gerir floresta, de forma a garantir a é necessário criar um círculo virtuoso para a sua tendência positiva é essencial gerir a
rentabilidade sem colocar em causa pilares a produção florestal através de quatro grandes floresta portuguesa para que os seus pro-
essenciais como o Ambiente e a Sociedade reformas estruturais, a saber: prietários assegurem a rentabilidade dos
como um todo, leva-nos a uma necessária › Promover e capacitar formas de gestão mesmos, mas modelos fechados e únicos
e exigente tarefa de simbiose florestal entre florestal agrupada, profissional e certifi- não são possíveis, nem passíveis, de terem
os interesses legítimos dos proprietários, cada. Como? Através de contratos-pro- aderência à realidade produtiva (de bens,
dos prestadores de serviços, dos industriais, grama plurianuais com as organizações serviços de ecossistemas, por exemplo) da
da Administração Pública Central e Local e de produtores florestais, atribuição de ca- floresta portuguesa.

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 35


Tema de Capa REFORMA DAS FLORESTAS

Gestão florestal,
conservação, o fogo
e o seu uso
ciso também explicar que o fogo (não os mostra Tiago Oliveira na tese de doutora-
incêndios) faz parte do nosso ecossistema. mento que defendeu no passado julho no
Este ano (e mais uma vez se ouviu perma- Instituto Superior de Agronomia – tem sido
nentemente a opinião ignota dos “que tudo diretamente proporcional (!) à intensidade
sabem” em detrimento dos que realmente dos incêndios. Mas em vez de resolver o
João Filipe Flores Bugalho* conhecem), depois de uma pausa inicial em problema, a prática demonstra-o, este têm-
Engenheiro Silvicultor que se falou em causas naturais, voltou a -se agravado.
insistência nas origens criminosas (que se- Há um conjunto de medidas que poderá ser
gundo estudos de especialistas são apenas de âmbito nacional (por exemplo: fomento
cerca de 3% do total). do associativismo dos pequenos produtores
Culpar um incendiário é a mais simples florestais e dos emparcelamentos, incen-
forma de desresponsabilizar governantes, tivos fiscais, simplificação do cadastro, etc.)

E
m Portugal mais de 80% dos fogos autarcas e chefias da proteção civil. mas no que diz respeito à prevenção dos
nascem a menos de 500 metros de Só haverá soluções sustentáveis para a de- incêndios só serão eficazes as concebidas
uma estrada ou de uma povoação, fesa da floresta contra os incêndios se forem para regiões concretas, aplicáveis às reali-
isto é, são de origem humana, por descuido, tomadas medidas estruturantes dando prio- dades locais.
falta de educação ou negligência. Desde ridade à prevenção, contrárias, portanto, à A cartografia existente sobre as Classes de
que haja combustível, em quantidade e boas maioria das opções das últimas décadas. Risco de Incêndio poderá ser disponibilizada
condições de ignição, estando as tempera- Essencial, como vários especialistas têm afir- aos Gabinetes Florestais Municipais, que pro-
turas acima dos 35º e a humidade a níveis mado, é a criação de um corpo de sapadores vavelmente serão mais eficazes se traba-
baixos, há uma forte probabilidade de, mais que durante todo o ano dedique a sua ati- lharem inter-municipalmente, em equipe
cedo ou mais tarde, eclodir um fogo. Pouco vidade exclusivamente à avaliação do risco com sapadores, bombeiros e GNR, e serão
interessará qual a origem. Se este escapar de incêndio, conheça o terreno e contacte capazes de definir as áreas e os modos prio-
ao controlo, não sendo dominado nos pri- os proprietários, reduza os combustíveis nos ritários de atuação. Para isso não é preciso
meiros minutos, a probabilidade de dege- locais adequados, garanta a limpeza de vias nova legislação. É preciso, sim, conhecimento,
nerar num incêndio incontrolável é enorme. de acesso e de aceiros, faça manutenção de disciplina, competência, capacidade de or-
Tanto maior quanto maior for o número de postos de vigia e pontos de água, assuma ganização, determinação na execução e res-
frentes e a força do vento. Mais de 90% das as primeiras intervenções para apagar as ig- ponsabilidade no comando. E mais meios,
ignições são combatidas eficazmente. Mas nições à nascença e articule toda a sua ação ou utilização racional dos disponíveis.
da pequena percentagem das que escaparam e conhecimento com as equipes de bom- A maioria dos incêndios tem origem em
ao controle é que resultaram as enormes beiros quando estas, em último caso, forem manchas de mato. São os incêndios prove-
extensões de áreas ardidas. chamadas. Estas ações terão que ser coor- nientes dos matos que depois se propagam
É aí que surgem as maiores ameaças a pes- denadas por técnicos especializados, co- às copas.
soas e casas, cuja defesa os bombeiros con- nhecedores do uso das novas tecnologias, Tal como as matas, os matos precisam de
seguem fazer na maioria dos casos com bem treinados, e assentar na investigação, ser racionalmente geridos, constituindo mo-
esforço sobre-humano, mas com o sacri- ser fundamentadas num conhecimento pro- saicos na paisagem, de variada estrutura e
fício, quase sempre total, da riqueza florestal fissional profundo, na correção técnica e na idade, frequentemente com o recurso a
envolvente. aplicabilidade prática, devidamente articu- queimadas que, se forem feitas na época e
Portanto, para além de se alertar e educar ladas com os legítimos anseios e aspirações de forma adequada – além de revitalizarem
as populações para práticas mais cuidadosas das pessoas que vivem, ou sobrevivem, nas a dinâmica dos matagais –, servirão para
que levem à redução do número de igni- regiões mais vulneráveis. suster os grandes incêndios no verão. Em
ções, há sobretudo que reduzir os combus- Não são catadupas de diplomas legais, ema- climas como o nosso, o fogo faz parte da
tíveis, diversificar a paisagem, construir um nados de Belém, São Bento ou do Terreiro ecologia dos matagais, tal como o calor ou
mosaico equilibrado e harmonioso mais do Paço, para todo o pequeno, mas tão di- a chuva. Os matagais, nos terrenos mais
propício à segurança e defesa de pessoas e verso, território nacional, que poderão re- pobres, são necessários e desempenham
bens, mais conveniente para a conservação solver o problema. A legislação produzida funções ecologicamente importantes, con-
da natureza e dos recursos naturais. É pre- em Portugal sobre esta matéria – como trariando a erosão, melhorando a infiltração

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REFORMA DAS FLORESTAS Tema de Capa

da água no solo, fazendo sombra ao renovo com culturas agrícolas, quebrar a continui- nas nossas universidades, alguns de grande
do arvoredo, ajudando algumas espécies dade dos combustíveis, se necessário quei- prestígio internacional, e caminhar-se-á
cinegéticas, escondendo da vista de preda- mando-os de forma competente durante com mais segurança no sentido de, a prazo,
dores as crias mais vulneráveis, dando abrigo as épocas em que é possível fazer “fogos prevenir os incêndios no espaço rural. Tenho
e comida a muitas aves, insetos e mamí- frios”. Queimadas com as quais realmente para mim que este deveria ser um tema en-
feros, garantindo a sobrevivência de algumas se aprende a lidar com o fogo. Komarek tusiasmante e prioritário de especialização
espécies protegidas, permitindo a manu- disse-nos vezes sem conta: “se não fizerem no Instituto Superior de Agronomia, for-
tenção de regimes silvo-pastoris fundamen- fogos terão grandes incêndios.” Os nossos mando engenheiros com a maior das com-
tais para pastores e criadores de gado. antepassados sabiam-no. Poucos são hoje petências nestas áreas.
Há mais de 40 anos, na sequência de di- no campo os que ainda sabem, mas há fe- Mas não se promovam demagogias, muito
versas visitas a Portugal do grande cientista lizmente entre nós quem saiba. menos através de legislação, tal como a
pioneiro da “Ecologia do Fogo”, Edwin Ko- É preciso combater uma corrente existente, atual campanha assanhada contra o euca-
marek, deu-se início a ações de prevenção sobretudo de origem urbana e de suposta lipto – espécie da maior importância para
dos incêndios com base em programas de proteção civil, que é contra as queimadas e a nossa economia –, a qual já vem de longa
fogo controlado e foram realizados os pri- o uso do contrafogo. É preciso aprender a data mas não assenta em qualquer conhe-
meiros numa escala apreciável. Foram esses fazer do fogo um aliado. Talvez o melhor cimento fundadamente científico.
trabalhos que entusiasmaram jovens estu- aliado contra os incêndios… Um bosque de essências florestais endó-
dantes da altura, entre os quais a quase to- Que foi feito dos GAUF (Grupos de Análise genas, como um carvalhal ou carrascal
talidade dos engenheiros silvicultores que e Uso do Fogo) que apresentavam resul- denso e cheio de mato, poderá constituir
hoje se dedica ao assunto. tados tão promissores? Trariam pouco re- maior perigo de incêndio que um eucaliptal
Porque é que o Estado português gasta mais torno de publicidade política? bem implantado e profissionalmente gerido.
de dez vezes mais em meios de combate Usar o fogo pode ser, em muitos casos, a O mal dos pinhais e eucaliptais de Pedrógão
do que em prevenção? forma mais económica e ecologicamente não adveio das espécies que os constituíam,
Para prevenir os incêndios é preciso ordenar mais adequada de reduzir o risco de in- mas do estado desordenado em que se en-
o território e a paisagem, criar mosaicos de cêndio. Aproveite-se eficaz e racionalmente contravam. Como os que aliás se encon-
biodiversidade, alternar superfícies florestais o conhecimento dos profissionais existentes tram em muitas outras áreas do País.
Houve fogos que pararam em sobreirais,
Número de diplomas governamentais e área ardida (1970-2013) não porque os sobreiros sejam, como agora
lhes chamam, “espécies bombeiras” mas
porque o seu sub-bosque estava limpo de
mato.
O que aqui escrevo não traz novidade. Mas
“água mole em pedra dura…”.
Os diagnósticos estão feitos e refeitos. Há
conhecimento técnico, existem muitos meios
disponíveis. A legislação é em grande parte
mais do que suficiente (há quem diga que
excedente).
Mas o fulcro tem estado fora do sítio, no
combate, que propicia maior visibilidade
política que a prevenção. Porém, só esta
poderá determinar o êxito na redução das
catástrofes a que temos repetidamente as-
sistido.
Há anos que tem faltado competência e
capacidade para coordenar, gerir e comandar.
Para selecionar e promover de acordo com
o saber e o mérito. Avaliando os resultados.
Tem faltado aptidão para governar. Para re-
duzir, ou almejarmos anular, os incêndios é
necessário tempo e agirmos sim, não apres-
sadamente, mas iterando sistematicamente
com sabedoria, talento, ponderação e muita
Coefficient of determination (R2) between the number of published laws and the moving average of
determinação.
the burnt area of each year with the previous (bottom) and their evolution along the years (top).
* Adaptação de um artigo publicado em 30 de
Oliveira TM, Claro J, Costa PC, Pereira JMC, Pinho, J & Pereira AP (2017) Wildfire risk governance –
– from simple to complex risk challenge (submitted) junho no “Observador”

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Tema de Capa REFORMA DAS FLORESTAS

Novos sistemas florestais


Silvicultura
de povoamentos mistos
As áreas arborizadas (95-2010) subiram, com de mistura: pé a pé, em linhas alternadas,
Pinheiro Manso (54%), Castanheiro (48%), em grupos. Na mistura pé a pé, o efeito da
outras folhosas (21%) e resinosas (35%). Em mistura é máximo.
2010, 31% eram resinosas e 69% folhosas. As misturas em linhas podem ser simples
A mudança (95-2010) das áreas florestais ou múltiplas, sendo usadas nos corredores
Jaime Sales Luís confirma a hipótese da passagem natural ripícolas. Na mistura em grupos, com formas
Engenheiro dos povoamentos puros a mistos, já cons- e dimensões várias, há dois efeitos, o in-
Professor Associado com Agregação, tatada no IV-IFN (90-95), onde a percen- traespecífico e o interespecífico. Esta mis-
UTAD (1979-2012) tagem de povoamentos mistos com Pinheiro tura deve usar-se nas áreas ardidas, com
Consultor da Bosque (2014-data)
era 24, Eucalipto 13, Sobreiro e Azinheira 5 grupos de cada espécie alternados, resul-
e outras espécies 16. tando em grande escala, num padrão em
Povoamento misto é um conjunto contínuo tabuleiro de xadrez. Cada grupo não deve
de árvores de várias espécies, misturadas ultrapassar os 500 m de lado (25 ha). O
espacialmente segundo a sua capacidade compasso da plantação reflete a localização
de uso da estação, com interações ecoló- e a distância entre as árvores. Os compassos
gicas efetivas. base são o quadrangular, retangular e trian-
Em Portugal, um povoamento é misto se a gular. O triangular é mais eficiente no uso
espécie dominante não exceder 75% do grau da terra, podendo-se instalar 15% mais ár-

A
Floresta é o principal uso da terra de ocupação do coberto. Os mistos de Pi- vores que no quadrangular.
em Portugal, com 3.154.800 ha (35%), nheiro, Eucalipto, Sobreiro e Azinheira como Os povoamentos mistos são essenciais no
em 2010. De 1995 a 2010, a área espécies dominantes ocupavam, no IV-IFN desenho da paisagem rural, uma vez que a
diminuiu 150.611 ha (4,6%), com uma perda (90-95), 449 mil ha. Na Europa há muito forma das árvores e dos povoamentos, e a
anual de 10 mil ha (ICNF, 2013), devida à interesse nos povoamentos mistos e na pas- combinação das cores (variáveis ao longo
conversão (85%) para uso com matos e sagem dos puros a mistos, visto estes serem do ano), acompanham os elementos da
pastagens e para uso urbano (28 mil ha). As mais estáveis e resistentes às catástrofes paisagem (maciços rochosos, massas de
três principais espécies eram: o Eucalipto, naturais, usarem melhor os horizontes do água), realçando-os de forma harmoniosa.
812 mil ha; o Sobreiro, 737 mil ha; e o Pi- solo, facilitarem as condições de regene- As misturas pé a pé e em linhas não são in-
nheiro bravo, 714 mil ha. ração e gerarem bens associados. teressantes, pois contêm muita diversidade
O Eucalipto (95-2010) aumentou 90 mil ha, Os povoamentos mistos são um sistema de visual, resultando confuso o efeito de con-
sendo 70 mil ha de Pinheiro, 13 mil ha de Silvicultura flexível, que é uma alternativa junto, e introduzem elementos artificiais (li-
matos e pastagens e 12 mil ha de agricul- útil do uso da terra, reconhecendo-se a nhas) na paisagem que se devem evitar. A
tura. 8 mil ha de Eucalipto passaram para existência de um aumento produtivo po- mistura em grupos é a que dá as soluções
uso urbano. O Sobreiro (95-2010) ficou es- tencial em relação aos puros. A essência do paisagísticas mais interessantes, com a es-
tável com uma mudança, com arborização funcionamento entre espécies baseia-se em pécie principal ocupando 2/3 do espaço e
(18 mil ha) e desarborização (28 mil ha) para dois princípios ecológicos: a complemen- com a transição difusa entre as espécies
matos e pastagens. O Pinheiro (95-2010) taridade e a facilitação. evitando as linhas geométricas.
reduziu 127 mil ha em área arborizada e 263 Nas plantações mistas decide-se sobre a O conhecimento pelos engenheiros flores-
mil ha em área total. A maior parte da área composição e o tipo da mistura, e o com- tais das normas do desenho da paisagem
total transformou-se em matos e pastagens passo da plantação. Estas decisões são vá- rural permite dizer que hoje os silvicultores,
(165 mil ha), Eucalipto (70 mil ha), espaços rios dos atos próprios da profissão de En- como no passado os agricultores, são os
urbanos (13 mil ha) e floresta de outras es- genheiro Florestal e nunca podem ser en- jardineiros da paisagem.
pécies (14 mil ha). Esta mudança deveu-se tregues a outros profissionais.
aos incêndios das últimas décadas, 2,5×106 A escolha das espécies é importante, pois Bibliografia
ha ardidos (90-2012) e à doença do nemá- é com elas que se desenvolve o sistema de › ICNF, 2013. IFN6. Áreas dos usos do solo e das
todo da madeira do Pinheiro que, desde Silvicultura. Deve recair nas espécies eco- espécies florestais de Portugal continental.
1999, afeta a espécie, obrigando a cortes logicamente adaptadas ao local e adequadas Resultados preliminares [pdf] 34 pp. ICNF Lisboa.
sanitários excecionais. aos objetivos deste sistema. Há três tipos

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REFORMA DAS FLORESTAS Tema de Capa

Fahrenheit 451

E
m 1954 um relatório da FAO realça o estudos técnicos, tendo o Estado iniciado
quase perfeito dispositivo de prevenção a extensão do dispositivo público dos Ser-
e combate a incêndios, gerido pelos viços Florestais à floresta privada, alargando
Serviços Florestais, que defendia a floresta em 3 km o raio da sua intervenção para além
pública e comunitária portuguesa. O rela- das matas públicas (20% do País e quase
Tiago Oliveira tório chamava a atenção para o facto de a 40% do território a norte do Tejo), também
Doutor em Engenharia defesa das matas privadas (a larga maioria) expandindo as redes viária, de vigilância e
ser executada pelos proprietários e popu- de meios aéreos. Publicou-se o primeiro
lares, sem equipamentos adequados, técnica diploma legal que definiu o sistema de pro-
ou coordenação. A desorganização agravava- teção das florestas, o Decreto-Lei n.º 488/70.
-se em incêndios de maior dimensão, a que Porém, provavelmente devido à falta de re-
podiam ocorrer unidades militares, alguns cursos financeiros (eram então absorvidos
corpos de bombeiros e os Serviços Flores- pela guerra colonial cerca de 1/3 do PIB) e
João Pinho tais. Dada “a riqueza e importância estraté- à complexidade em atuar na propriedade
Mestre em Planeamento gica para o País” (estávamos em 1954!), privada, a resposta do Estado foi lenta, in-
Regional e Urbano
recomendava-se que se investisse na gestão completa e insuficiente. Com o 25 de abril
das matas privadas e se executassem me- de 1974 outras prioridades de desenvolvi-
didas preventivas, expandindo a este patri- mento económico e social surgiram. Con-
mónio privado o dispositivo que protegia as tudo, em 1981 a FAO e o Banco Mundial de
matas sob gestão pública. novo recomendavam a existência de um
Após grandes incêndios nas décadas de cin- sistema profissional de prevenção e com-
quenta e sessenta (como o de Sintra, onde bate a fogos, aproveitando as competências
morreram 25 soldados, em 1966) reuniram- técnicas que existiam acumuladas em mais
-se comissões ministeriais e publicaram-se de cem anos de experiência.

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Tema de Capa REFORMA DAS FLORESTAS

Na sequência das áreas ardidas no final da tenções, o sistema evoluiu numa perversa aldeias dos fogos, a ausência de gestão ativa
década de 1970 o poder político, pressio- aliança entre municípios e bombeiros, tu- dos espaços florestais e a desorganização
nado para obter resultados no curto prazo, telada e financiada pelo Estado, reforçando silvopastoril, os incêndios foram ficando cada
encetou uma transformação populista e ra- a cada ano o combate (meios materiais e vez maiores, o que exigiu que o sistema se
dical. Em vez de expandir e reforçar um sis- pagamento de deslocações e de equipas especializasse nas tarefas de defesa das po-
tema profissional a todo o território (como de bombeiros voluntários), em detrimento pulações, sem nunca conseguir internalizar
os estudos referidos recomendavam e ou- da prevenção. Após os incêndios de 1991 e e formalizar as competências e standards
tros países, como Espanha, o faziam), o Es- 1995, um outro relatório técnico (Stauber) internacionais de combate aos incêndios
tado retraiu a sua esfera de atribuições, li- realça a necessidade de uma estrutura pro- florestais. Em 2003, o sistema colapsa e é
mitando-se à sensibilização, à deteção e à fissional que se dedique à prevenção e ao lançada uma Reforma Estrutural do Setor
gestão de áreas públicas e comunitárias. combate. A Lei de Bases da Política Florestal Florestal, que procura reunir o compromisso
Doravante, o Decreto-Lei n.º 327/80 atribui (Lei n.º 33/96), aprovada por unanimidade dos agentes, reforçando o papel da pre-
aos municípios a responsabilidade de pro- e em ainda em vigor, prevê no artigo 10.º, venção, que fica inscrito no novo diploma
teção civil e aos privados a gestão dos com- n.º 2, alínea e) uma organização com essas que define o sistema (Decreto-Lei n.º 156/2004).
bustíveis e aceiros. Na área do combate, características. Mas, ao mesmo tempo, o Em 2005, no âmbito dos estudos técnicos
através da dupla tutela dos recém-criados Governo decide desmantelar os seus Ser- entretanto encomendados pelo Estado à
Serviço Nacional de Bombeiros e Serviço viços Florestais centenários! Apesar da re- Universidade, a proposta técnica do Plano
Nacional de Proteção Civil, é dinamizada dução de importância económica e da ex- propõe a criação de uma organização uni-
uma parceria público-privada com as asso- pressão territorial da agricultura e do au- ficada que execute a prevenção e também
ciações humanitárias de bombeiros volun- mento da relevância da floresta e das suas combata incêndios (na linha do que cons-
tários, atribuindo-lhe o exclusivo do com- funções ambientais, degradou-se o nível do tava da dita Reforma Estrutural). Outros es-
bate, apesar da sua notória inexperiência e serviço público (outrora operacional e eficaz) tudos recomendaram a profissionalização
impreparação. Optou-se, assim, por muni- e a máquina burocrática focou-se na apro- do sistema que deveria proteger a floresta,
cipalizar a coordenação da prevenção e vação de planos e estratégias virtuais e na nomeadamente, relatórios norte-americanos
também o combate, uma vez que em cada distribuição dos dinheiros que chegavam (2003 e 2004), o estudo de 2005 da COTEC
concelho e em muitas freguesias iam sur- de Bruxelas. (de iniciativa presidencial) e um relatório de
gindo corpos de bombeiros, aliás em parte Com o desordenamento da edificação no peritos chilenos no mesmo ano. Mais uma
dependentes das autarquias. Sem conheci- território, a expansão periurbana, o fim da vez, e pressionado para obter respostas no
mentos técnicos e apesar das melhores in- agricultura de subsistência que defendia as curto prazo, após o desastroso verão de

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REFORMA DAS FLORESTAS Tema de Capa

2005, o Governo redistribuiu as responsa-


bilidades por três instituições (ICNF, GNR e
ANPC) e reforçou a dimensão da proteção
civil, conferindo aos municípios mais po-
deres, nomeadamente a aplicação de coimas
a quem não limpar em torno das habitações
(o que se viria a revelar inútil, já que os au-
tarcas mostraram uma eficácia quase nula).
Apesar do reforço substancial de meios ope-
racionais e orçamento, do qual resultou a
melhoria na eficácia do ataque inicial, de
2010 a 2016 são recorrentes os grandes in-
cêndios. Com gestão ou sem gestão, com
montado de sobro ou carvalhal, com euca-
lipto, pinho ou áreas protegidas, tudo arde,
à medida que a proteção civil vai relegando
para a quarta prioridade a defesa dos es-
paços florestais. Nestes incêndios, e sem a
presença do entretanto extinto Grupo de
Analistas e Utilizadores de Fogo, mais uma
Excerto de artigo de opinião, de 1986, do Engenheiro Lino Teixeira, administrador florestal da Lousã.
vez se evidenciam as faltas de conhecimento Tal como na obra Fahrenheit 451, em Portugal os relatórios técnicos, livros e artigos científicos sobre
técnico e capacidade organizacional para incêndios florestais são aparentemente “queimados” e menosprezados no processo de decisão política.

grandes ocorrências.
O nosso atraso em adotar as melhores prá- deteção e mais meios aéreos e, ultimamente, energia, ordenamento, floresta e ambiente)
ticas ressalta quando comparamos o decrés- se houver menos eucaliptos! Apesar de ine- que contribuam para reduzir o risco de in-
cimo de área ardida (medida pela incidência ficaz e ineficiente, o sistema – que em 2017 cêndio, garantir a efetiva execução de pro-
do fogo – área ardida total/área florestal) que volta a colapsar – “evoluiu na continuidade” gramas de redução da carga combustível
países também expostos ao êxodo rural, à com acréscimos marginais decrescentes, em escala e em locais críticos e ter um sis-
falta de gestão florestal e ao agravamento renovando e consumindo cada vez mais tema de combate que saiba aproveitar as
meteorológico conseguiram, como Espanha, recursos públicos e com piores resultados. oportunidades criadas, sendo eficaz na ma-
França, Grécia e Itália. Depois das propostas Em Pedrógão o sistema de proteção civil nobra dos meios mobilizados para os grandes
de 1954, 1965, 1981, 1996 e 2005, que reco- (nacional e municipal) não soube sensibi- incêndios florestais. A complexidade das
mendam um dispositivo integrado de pre- lizar a população, não assegurou que as causas do problema só pode ser abordada
venção e combate de raiz florestal, o que faixas em torno das habitações e estradas (seja na prevenção, seja no combate) através
impede o Estado de assegurar a proteção do estivessem limpas e, por fim, não foi capaz do uso intensivo do conhecimento cientí-
maior recurso estratégico nacional? Para mais, de ler o contexto onde se estava a desen- fico e técnico que existe nas universidades
um recurso que suporta 2% do PIB, mais de volver o fogo (porque não tem essas com- e é operacionalizado pela Engenharia por-
10% das exportações, distribui riqueza por petências técnicas). Em resumo: não soube tuguesa, para cada região, mas isso exige o
milhares de proprietários e operadores silvo- reagir adequadamente. comprometimento do poder político com
-industriais e que contribui para exportar, em A floresta e os seus proprietários florestais programas de longo prazo, enfrentar os in-
valor, o suficiente para pagar os bens alimen- não são desculpa ou a causa. São vítimas teresses e a consequente atribuição de meios
tares que anualmente importamos? Como de abandono e de políticas públicas que, e responsabilidades. Estarão os partidos re-
no filme de Truffaut (baseado no romance com a justificação da “defesa da floresta”, presentados na Assembleia da República
de Ray Bradbury), estamos alienados e nin- apenas servem para financiar outros setores disponíveis para isso?
guém se importa que o conhecimento im- e interesses instalados. Esperemos que desta vez haja lideranças que,
presso nos livros seja queimado a 451º Fa- Para o futuro, e realçando as alterações cli- partindo do conhecimento técnico e cien-
hrenheit, a temperatura a que arde o papel? máticas e a necessidade de proteger as pes- tífico, saibam ler o tempo e os verdadeiros
É esta a sociedade do conhecimento? soas e a floresta, há que reconhecer os erros desafios do País e consigam superar as re-
As soluções possíveis aparentam estar blo- e transformar o sistema. Só evoluir não basta, sistências e os interesses do curto prazo, que
queadas no status quo de um sistema de como os mais de 4 milhões de hectares desde há décadas impedem a defesa das
proteção civil baseado no voluntariado e na queimados desde 1980 assim o demons- florestas e a salvaguarda das pessoas e lançam
fragmentação operacional e administrativa tram! À proteção civil o que é da proteção para uma inexorável degradação mais de 2/3
do poder local. A opinião pública, larga- civil. À floresta o que é da defesa da floresta. do nosso território. Esperemos que a dis-
mente não esclarecida, é levada a acreditar, Dada a natureza do problema (abandono cussão das grandes opções do Plano, e do
erradamente, que um problema complexo de todo o espaço rural) é necessário ter ca- correspondente Orçamento de Estado, dê
se resolve com soluções simples, isto é, se pacidade para coordenar e executar polí- já um sinal de mudança e compromisso com
houver menos ignições, se houver melhor ticas públicas de longo prazo (na agricultura, a transformação que urge iniciar.

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Tema de Capa REFORMA DAS FLORESTAS | a engenharia e o património florestal português

engenharia CIVIL

A Engenharia Civil na defesa do património


florestal português – Oportunidades
P ortugal Continental tem 9,22 milhões Paulo E. Ribeirinho Soares fogos é sempre uma melhor aposta que
de hectares de superfície, em que 70% os encargos com o combate aos incêndios
é considerado com aptidão florestal, sendo e permite ainda diminuir a despesa e au-
35% ocupado por florestas e 32% ocupado manutenção deficiente e não têm tido mentar a eficácia.
por matos e pastagens, em que a atividade também a necessária atenção na verificação A manutenção dos caminhos florestais, das
representa cerca de 4% do emprego na- do cumprimento desta regulamentação, estradas, das vias, nomeadamente nas faixas
cional e 10% das exportações de bens e por parte dos institutos do Estado e das de gestão de combustível, em lotes com
2% do VAB. autarquias, com consequências negativas. escala adequada, permite reduzir significa-
Os caminhos, as estradas e todas as vias A propriedade privada e comunitária no tivamente os custos das intervenções e é
em geral dispõem de legislação própria Continente corresponde a 3,13 milhões de uma oportuna e útil oportunidade que a
com o objetivo da prevenção e do com- hectares de espaços florestais arborizados, Sociedade agradece e reconhece. Estas in-
bate a incêndios, com a criação de faixas que representa 97% do total. O remanes- tervenções e iniciativas podem e devem re-
de gestão de combustível e a respetiva ma- cente, que corresponde a 3% do total, per- sultar do esforço de equipas multidiscipli-
nutenção. Estas áreas, que marginam as tence ao domínio de Estado. nares com a participação de, entre outros,
redes viárias, apresentam, regra geral, uma A opção do investimento na prevenção dos engenheiros florestais, geógrafos e civis.

engenharia eLETROTÉCNICA

A Engenharia Eletrotécnica
na gestão e defesa da floresta
A Engenharia Eletrotécnica, sendo hoje Conselho Nacional do Colégio de Redes de Emergência de Serviço Pú-
uma Especialidade incontornável da blico) são bem um exemplo da importância
Engenharia em qualquer atividade econó- deste ramo da Engenharia Eletrotécnica.
mica, é-o também no património florestal, dedicado às forças de segurança e proteção Na eletrónica encontramos hoje várias tec-
onde desempenha papel importante em civil, são cruciais para o bom funcionamento nologias, desde a videovigilância e análise
razão dos diversos sistemas de suporte de todas as operações de coordenação e de imagem a sistemas de supervisão re-
essenciais à sua gestão e defesa. controlo, particularmente em situações de correndo a sensores de infravermelhos e
As telecomunicações, com as várias redes emergência. As recentes discussões vindas óticos, tecnologias essas que têm permi-
de serviço público e as redes de serviço a público sobre o SIRESP (Serviço Integrado tido o desenvolvimento de soluções que,

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a engenharia e o património florestal português | REFORMA DAS FLORESTAS Tema de Capa

sendo ainda de aplicação condicionada, ou menos complexas de fontes de energia ressadas puderem encontrar um sistema
prometem ser de grande utilidade para o autónomas e distintas (moto geradores e de incentivos a essa limpeza.
futuro da floresta. O seu potencial, bem baterias associados a sistemas de comu- Finalmente, reconhecendo que a tecnologia
como o das telecomunicações, promete, tação sem interrupção), cuja especificação só por si não responderá às questões que
num futuro próximo, melhor apetrecha- e desenho é também uma área de com- se colocam na gestão e defesa do patri-
mento para permitir uma deteção mais petência da Engenharia Eletrotécnica. mónio florestal, poderá no entanto dar con-
atempada de situações de alarme. Neste enquadramento deve ainda referir- tributo significativo. No seio do Colégio de
Todos estes sistemas, quando utilizados -se a produção de energia em termoelé- Engenharia Eletrotécnica existem as com-
em situações de emergência, precisam de tricas de biomassa, que poderá constituir petências e a experiência para esse efeito
alimentação de energia de elevada fiabili- uma combinação virtuosa com a limpeza e, sem dúvida, a vontade e disponibilidade
dade para os seus componentes críticos, da floresta, designadamente se o Governo, dos seus Membros para colaborarem na
em regra recorrendo a combinações mais as autarquias e restantes entidades inte- definição dos caminhos a trilhar.

engenharia MECÂNICA

A Reforma das Florestas e os Incêndios


E m tudo quanto diz respeito à floresta
em Portugal é difícil contornar a inci-
dência dos incêndios florestais, não apenas
Domingos Xavier Viegas
Especialista em Segurança,
Departamento de Engenharia Mecânica,
versos. Desde a compreensão da sua gé-
nese e propagação, até à sua supressão,
passando pela capacidade de previsão do
Universidade de Coimbra
pelos seus efeitos no ambiente e na eco- comportamento, são desafios que o Centro
nomia como também – como os incêndios tência de dois problemas, um que é a de- de Estudos sobre Incêndios Florestais do
recentes mostraram – pelo seu efeito na fesa de pessoas e bens e outro que con- Departamento de Engenharia Mecânica da
segurança das pessoas. A reforma legisla- siste na defesa da floresta em si. Num país Universidade de Coimbra tem vindo a en-
tiva da floresta portuguesa, em curso, não como Portugal estas facetas são indisso- frentar desde 1985, com o objetivo de me-
deixa de reconhecer o papel eminente dos ciáveis e, num ambiente de mudanças cli- lhorar a segurança das pessoas e bens.
incêndios na gestão do território e dos es- máticas, teremos certamente de enfrentar O acervo de conhecimento e experiência
paços rurais, sendo que vários dos diplomas este flagelo com uma regularidade e gra- adquiridos pela nossa equipa de investigação
recentemente aprovados estão diretamente vidade cada vez maiores. As leis e os re- ao longo destes anos levou-nos a aceitar o
orientados a reduzir a incidência dos in- gulamentos, como os que são preconi- encargo governamental de analisar o grande
cêndios, reconhecendo que são um pro- zados neste diploma, podem ajudar, mas incêndio florestal ocorrido em junho pas-
blema transversal e que invoca a partici- para tal é preciso que se cumpra a lei e que sado em Pedrógão Grande e nos concelhos
pação colaborativa e articulada de cidadãos, as entidades responsáveis, incluindo os ci- limítrofes. Tratou-se do incêndio que mais
Estado, universidades, empresas e entidades dadãos, façam a parte que lhes compete. mortes causou desde que temos registo em
das mais diversas áreas. É preciso fiscalizar, avaliar, decidir e exe- Portugal e colocou, uma vez mais, em evi-
O Decreto-Lei n.º 124 de 2006, com as cutar. Não podemos tolerar o desleixo ou dência a limitação do nosso conhecimento
adaptações que tem sofrido ao longo dos pactuar com a inatividade ao constatar que e a necessidade de o desenvolver e de o
tempos, constitui a base do nosso sistema o problema é muito difícil. colocar ao serviço das autoridades e dos
de proteção da floresta, na defesa contra Os desafios que os incêndios colocam à cidadãos, para os proteger e salvar vidas e
os incêndios. Identifica desde logo a exis- Ciência e à Engenharia são muitos e di- também a floresta.

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Tema de Capa REFORMA DAS FLORESTAS | a engenharia e o património florestal português

engenharia Geológica e de Minas

A Engenharia Geológica e de Minas


na gestão/defesa do património
florestal português
F oi com pesar que todos os portugueses
acompanharam durante este verão
uma série contínua de incêndios que para
Conselho Nacional do Colégio possam resultar a abertura de novas minas.
Pese embora as experiências positivas que
o setor mineiro já pode apresentar, em
além da destruição de quase três centenas termos sociais, pela fixação e aumento da
de milhares de hectares de floresta puseram em risco inúmeras qualidade de vida das populações onde a mina se insere, pelo
populações e vitimaram largas dezenas de pessoas numa di- desenvolvimento económico regional e nacional que alavanca,
mensão de que não há memória. e ainda pelas infraestruturas que constrói, este setor é encarado
Olhando para as áreas destruídas, elas são maioritariamente loca- como uma atividade industrial dispensável havendo uma dificul-
lizadas no interior do País onde a densidade populacional é redu- dade crescente em se conseguir que os pedidos e potenciais
zida, com uma topografia difícil e com poucos ou mesmo ausência projetos que têm aparecido tenham uma aceitação natural por
de acessos que permitam combater eficazmente os incêndios. parte das autoridades.

Em todos os discursos políticos à volta deste flagelo está sempre Importa, pois, que as autoridades olhem para o setor mineiro
presente o despovoamento do interior do País e a ausência de como uma oportunidade e não como uma ameaça, atentos ao
políticas de atração de investimento que conduzam ao aumento contributo que dão em termos sociais e económicos, mas também
e fixação de populações e com isso criar uma dinâmica econó- na construção de acessos e de reservatórios de água, frequen-
mica e social com resultados positivos na proteção e gestão da temente usados pelos bombeiros no combate aos incêndios flo-
floresta nacional. restais, e ainda no papel positivo e especializado que desempe-
Por razões de ordem diversa, infelizmente são muito poucas as nham na prevenção de incêndios na área de influência onde se
atividades económicas que estão disponíveis para “arriscar” a sua inserem.
deslocalização para o interior do País, pelo que em cada ano que
passa o despovoamento vai-se agravando sem solução aparente
à vista.
Como é sabido, o País é rico em recursos geológicos e a prová-
-lo estão as largas dezenas de contratos e de novos pedidos de
áreas para a prospeção e pesquisa de recursos minerais metálicos
e não metálicos que se estendem por todo o País, maioritaria-
mente no interior, no âmbito dos quais as empresas investem
elevados recursos financeiros em conhecimento, na expetativa
de identificar jazigos minerais de dimensão económica de que

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a engenharia e o património florestal português | REFORMA DAS FLORESTAS Tema de Capa

engenharia Química e Biológica

A Engenharia Química e Biológica


e o património florestal português
O s recursos naturais originados na flo-
resta constituem um importante valor
económico providenciando elevados níveis
Conselho Nacional do Colégio A indústria da cortiça tem beneficiado de
importantes desenvolvimentos tecnológi-
cos que permitiram um significativo desen-
de benefícios comerciais. Esses recursos de cultivo, transformada por processos bio- volvimento ao nível da “engenharia do pro-
florestais primários sofrem transformações químicos ou termoquímicos permite a sua duto”.
em maior ou menor extensão de que re- decomposição em produtos de elevado Em termos de oportunidades destaca-se
sultam produtos com valor acrescentado, valor, biocombustíveis, biomateriais, bio- o potencial das biorrefinarias baseadas em
impacto na balança de transações e na polímeros, biocompósticos, etc., com re- biomassa como alternativa às atuais refi-
criação de empregos. cuperação ainda de significativas quanti- narias baseadas em hidrocarbonetos. Nes-
Nestas transformações são agentes indis- dades de energia. A complexidade tecno- te âmbito realça-se a integração da quí-
pensáveis os engenheiros químicos e bio- lógica destas transformações (bio-) químicas mica verde no desenvolvimento de tecno-
lógicos cujas competências são reclamadas reclama as competências especializadas logias com baixo impacte ambiental de
na evolução para uma economia baseada dos engenheiros químicos/biológicos. modo a tornar sustentável esta transição.
em biossistemas. Da resina do pinheiro, que de novo vem Os constrangimentos relacionam-se com
As mais relevantes aplicações dos recursos ganhando importância, se obtém a tere- o risco de uma abordagem não sustentável
florestais situam-se na produção de pasta bentina e a colofónia, usados como ma- da floresta. No entanto, as empresas quí-
de celulose e de papel (com contínua evo- téria-prima no fabrico de vários produtos micas que operam nesta área têm uma
lução para aplicações com novas funcio- e derivados (vernizes, lacas, perfumes e forte consciência ambiental, assumindo
nalidades), bem como as indústrias da ma- cremes, linóleo, adesivos, etc.). Óleos es- em muitos casos o papel de liderança na
deira e dos seus derivados. senciais diversos, como o eucaliptol, têm proteção dos recursos florestais que cons-
A biomassa vegetal, da floresta mas também larga aplicação em cosmética e medicina. tituem as suas matérias-primas.

engenharia GEOGRÁFICA

O contributo da Engenharia Geográfica


na Reforma das Florestas
A Reforma das Florestas e a realização
do Cadastro Predial têm vindo a ser
referidas como interligadas, porventura
Teresa Sá Pereira,
Maria João Henriques,
Francisco Madeira
do tipo de ocupação do solo. E, natural-
mente também, na dinamização das ope-
rações imobiliárias e, consequentemente,
interdependentes. Esta ligação acentuou- na economia.
-se após os grandes incêndios que ocor- fundamental na Reforma das Florestas, mas, E a simples existência de cadastro predial
reram em Portugal em 2016. acima de tudo, é fulcral na gestão e orde- não evita a ocorrência dos grandes, ou pe-
O cadastro predial pode ser um instrumento namento territorial, independentemente quenos, incêndios, pois, ao contribuir para

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Tema de Capa REFORMA DAS FLORESTAS | a engenharia e o património florestal português

um melhor ordenamento do território, cidade de apoiar todos os profissionais


constituirá sem dúvida uma ferramenta de envolvidos na prevenção e combate de
defesa da floresta. Veja-se o exemplo, entre catástrofes em solo nacional. Atualmente
outros, do concelho de Mação que, apesar é possível e sustentável adquirir rapida-
de ter cadastro, viu entre 80% a 90% do mente informação de vastos territórios e
seu território ser devastado pelos incêndios compilar as suas características mais rele-
do verão de 2017. vantes de forma prática e dirigida aos ob-
A realização de cadastro predial deveria ser jetivos pretendidos.
um projeto nacional de âmbito alargado a Igualmente, os sistemas de informação
todo o território. Mas para isso necessita geográfica desempenham um papel de in-
de infraestruturas técnico-científicas ro- tegração e distribuição da informação geo-
bustas, nas quais o País tem de investir, gráfica, permitindo uma forte cooperação
uma estratégia clara, dotada de meios fi- entre vários serviços e uma análise, gestão
nanceiros adequados e apoiada em pro- e atuação no espaço e dos fenómenos que
fissionais adequadamente habilitados. Nestes nele ocorrem em tempo útil.
encontram-se, sem qualquer dúvida, os
engenheiros geógrafos, com as suas com-
petências específicas.
Como exemplo refere-se o National Land
Survey da Finlândia, com cerca de 1.760 rado em todos os pareceres, se julga pos-
trabalhadores, num país com aproximada- sível a concretização deste desígnio.
mente 5,5 milhões de habitantes, onde o Em particular a área de trabalho da Enge-
cadastro predial abrange a totalidade do nharia Geográfica compreende em si a
território. Ou a Dirección General del Ca- aquisição, georreferenciação e disponibi- A Especialidade de Engenharia Geográfica
tastro, de Espanha, com 2.222 trabalha- lização de informação geoespacial, ferra- inclui na sua formação uma disciplina es-
dores, e muitos mais colaboradores, num menta indispensável na gestão do território, pecífica de cadastro que integra conheci-
total estimado de 5.000 trabalhadores, nomeadamente, numa gestão sustentável mentos na área jurídica, fiscal e de gestão
embora nem todos a tempo completo. da floresta. O domínio de técnicas de aqui- de informação geoespacial, que constituem
Só com investimento numa estrutura para sição móvel de informação geoespacial, mais-valias e habilitam os seus técnicos a
a realização de cadastro, facto que o Co- em tempo real, permite alicerçar um sis- trabalhar em equipas multidisciplinares na
légio de Engenharia Geográfica tem reite- tema de monitorização eficaz com capa- elaboração de um cadastro predial.

engenharia DE MATERIAIS

A Engenharia dos Materiais e a Floresta


O setor florestal é um dos mais dinâmicos
e competitivos da nossa economia.
Os produtos florestais, que constituem a
Luís Gil
Membro do Conselho Editorial
da “INGENIUM”, Colégio de Engenharia
Portugal é o maior produtor e transformador
mundial de cortiça e um importante pro-
dutor de pasta de papel e derivados, pro-
de Materiais
chave do suporte económico da atividade duzindo também produtos de madeira
florestal, representam, a nível nacional, um maciça e outros. A nível dos materiais com
negócio de milhares de milhões de euros. dos “clusters” de maior interesse a desen- origem florestal e dos produtos finais que
Têm também enorme interesse a nível da volver e apoiar futuramente, sendo que a os utilizam, são de destacar, naturalmente,
exportação, com uma grande componente atividade económica associada aos produtos as rolhas de cortiça, os aglomerados de
de incorporação nacional. São, por isso, um florestais tenderá a crescer no nosso País. cortiça para a construção civil e outros fins,

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a engenharia e o património florestal português | REFORMA DAS FLORESTAS Tema de Capa

a pasta e os produtos de papel e derivados, mónio florestal – consumados os factos combustíveis, que, de forma coordenada,
os produtos e aglomerados de madeira para – apresenta-se também como uma opor- terão potencial para promover o ordena-
a construção civil e indústria, o mobiliário, tunidade de promover a floresta que me- mento e manutenção florestais.
revestimentos, isolamentos e materiais com- lhor serve os seus diversos objetivos. Novas A melhoria do desempenho dos materiais
pósitos diversos. espécies e distribuições distintas têm im- tradicionais, bem como a utilização de ou-
À parte da importância económica do setor, plicações no seu aproveitamento econó- tros materiais derivados da floresta, é
a floresta e os produtos florestais têm as- mico, nos materiais originados na floresta também um campo de trabalho futuro no
sumido destaque em aspetos ambientais, e mesmo nas suas propriedades. desenvolvimento de novos materiais.
nomeadamente no que respeita à pro- A Engenharia de Materiais tem dado um Sem mais, melhores, e mesmo novos ma-
dução de materiais ecoeficientes e seques- grande contributo para o desenvolvimento teriais, com melhor aproveitamento, será
tradores de carbono, que têm tido uma de novos materiais com base em matérias- difícil ao setor florestal ter o crescimento
atenção crescente a nível dos aplicadores -primas florestais, nomeadamente para e o desenvolvimento necessários, pelo que
e utilizadores. novas aplicações e de maior valor acres- a Engenharia de Materiais terá um papel a
A recente devastação que atingiu o patri- centado, bem como na promoção dos bio- desempenhar no auxílio a este setor.

engenharia DO AMBIENTE

A preservação do património florestal


na perspetiva ambiental
O património florestal é um elemento
estruturante na gestão do território,
incluindo ecossistemas biodiversificados,
António Albuquerque,
Lisete Epifâneo
Conselho Nacional
do Colégio de Engenharia do Ambiente
contribuindo para a manutenção de pro-
priedades do solo, produção de oxigénio
e fixação de carbono, participando no ciclo
da água, oferecendo elevado valor paisa- de conservação da natureza para não com-
gístico e recreativo, i.e., garantindo o ne- prometer o valor do património florestal
cessário equilíbrio ecológico em conjunto para as gerações futuras. Do lado empre-
Fonte: http://bomdia.eu/feira-nacional-de-
com outras unidades territoriais. sarial, um dos maiores desafios estará em -agricultura-destaca-floresta-portuguesa
No entanto, para que na floresta prevaleça gerar valor responsável, i.e., criar valor eco-
o equilíbrio entre as atividades que geram nómico, reduzindo, simultaneamente, a intervenientes, sobre as experiências exis-
valor económico (p.e. fornecimento de pegada social e ambiental. tentes na Europa no domínio da rede e das
combustível, matérias-primas, fármacos e A criação da Rede Natura 2000, suportada florestas, gerando soluções sustentáveis
alimentos) e as suas funções ecológicas e pelas Diretiva “Habitas” e Diretiva “Aves”, foi para o estabelecimento de compromissos
benefícios sociais é necessário que os se- um avanço importante no campo do registo para a preservação ambiental e a manu-
tores público e privado garantam investi- de vários habitats e espécies da floresta por- tenção de atividades socioeconómicas.
mentos para a sua limpeza, conservação tuguesa, possibilitando a criação de obje- A Engenharia do Ambiente tem um forte
e proteção, paralelamente aos que são tivos e medidas orientativas para a sua pro- contributo na preservação dos ecossistemas,
criados para gerar valor económico. teção e conservação e a manutenção de gestão dos recursos hídricos, recuperação
A mudança climática constitui um dos atividades económicas responsáveis no setor e conservação do solo e valorização de ha-
maiores desafios para a manutenção deste florestal. Este instrumento permite informar bitats para a Rede Natura 2000, estando os
equilíbrio, sendo necessária uma melhor os proprietários florestais, operadores flo- seus técnicos bem preparados para cola-
integração entre as políticas ambiental, restais, autoridades responsáveis pela con- borar na gestão do património florestal na-
agrícola, de ordenamento do território e servação da natureza e ONG, entre outros cional.

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Tema de Capa › Entrevista Luís Capoulas Santos

Luís Capoulas Santos


Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural

“Esta Reforma foi pensada para


dar resposta a um problema
tormentoso que há muito aflige
o País: o abandono e má gestão
das florestas”
Foi ouvida a Sociedade Civil, houve aprovação em Conselho de Ministros e seguiu para discussão parlamentar. A Reforma das
Florestas foi iniciada em agosto de 2016 e viu finalmente a luz do dia em julho de 2017. Portugal ardia.
Deste conjunto de leis emergem sobretudo, de acordo com o seu principal promotor, medidas de fomento ao ordenamento
e à gestão da floresta, tornando-a ambiental e economicamente sustentável. Esta é, para Luís Capoulas Santos, Ministro da
Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, uma das maiores urgências a cumprir.

Por Marta Parrado Esta Reforma foi pensada para dar resposta Para atingir este desiderato há que imple-
Fotos César Cordeiro a um problema tormentoso que há muito mentar mecanismos e instrumentos dire-
aflige o País: o abandono e má gestão das cionados para esses objetivos de forma ar-
Foi aprovada em julho a nova “Reforma das florestas, um ativo riquíssimo. O grande ob- ticulada, envolvendo os diferentes protago-
Florestas”. Que novidades, em termos de jetivo desta Reforma é a promoção do or- nistas do setor. Ao Estado compete criar os
instrumentos de política e de estrutura or- denamento e da gestão da floresta, de forma instrumentos e creio que, com esta Reforma
ganizativa de gestão, foram introduzidas? ambiental e economicamente sustentáveis. da Floresta, demos um grande passo nesse

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Luís Capoulas Santos Entrevista › Tema de Capa

Luís Capoulas Santos nasceu municipal as normas territoriais da floresta Trata-se de opiniões que carecem de fun-
em Montemor-o-Novo, em 1951. e obrigando à sua aplicação. Estas são as damento. A Reforma da Floresta é precisa-
É licenciado em Sociologia pela Universidade principais novidades e os instrumentos que mente um conjunto de diplomas devida-
de Évora. Foi técnico superior e dirigente efetivamente ajudam a implementar um mente articulado, por forma a permitir que
do Ministério da Agricultura, de 1977 a 1991. novo paradigma de ordenamento florestal. haja esse equilíbrio e que os resultados de
Deputado à Assembleia da República pelo umas ações potenciem outras. Isso trans-
Círculo Eleitoral de Évora, de 1991 a 1995, A proteção da floresta e o combate aos in- parece desta Reforma, seguramente.
de 2002 a 2004 e reeleito em 2015. cêndios estão especialmente presentes nesta
Secretário de Estado da Agricultura e do Reforma. Também aí, que melhorias ou ru- A aprovação da Reforma, que corresponde
Desenvolvimento Rural, de 1995 a 1998, turas com o passado é possível identificar? a um conjunto de medidas que se pre-
e Ministro da Agricultura, do Desenvolvimento
Procurámos efetivamente melhorar, refor- tendem estruturantes para o País e, em
Rural e das Pescas, de 1998 a 2002.
çando especificamente o pilar da prevenção. particular para a floresta, foi realizada em
Deputado ao Parlamento Europeu (PE), Os principais instrumentos de prevenção tempo de rescaldo dos incêndios. Era esta
entre 2004 e 2014, e relator do PE para as
são, sem dúvida, o ordenamento e a gestão a melhor altura?
Reformas da Política Agrícola Comum (PAC),
e houve uma grande aposta nessa matéria. É preciso voltar a lembrar que esta Reforma
de 2008 e de 2013.
Mas também é preciso cuidar da floresta, da Floresta consta do Programa do Governo
Grã-Cruz da Ordem do Mérito Agrícola,
conhecê-la e vigiá-la. Daí o reforço do Pro- e foi um trabalho que se iniciou em agosto
Comercial e Industrial, classe do Mérito
Agrícola, da República Portuguesa, 2006,
grama Nacional de Sapadores Florestais com de 2016. Houve um Conselho de Ministros
e Comendador da Ordem do Mérito Agrícola, a criação de 20 novas equipas já este ano, extraordinário dedicado à floresta em ou-
da República Francesa, 2008. que foram apresentadas em agosto. Também tubro de 2016 que aprovou um conjunto de
ainda este ano, muito em breve, vamos ree- 12 diplomas, dos quais dois entraram ime-
quipar cerca de 50 equipas, que estão a tra- diatamente em vigor. Os outros dez foram
submetidos a discussão pública, ao longo de
sentido. Um dos problemas da floresta na- É preciso voltar a três meses, até janeiro de 2017. Finalmente,
cional é precisamente a inexistência de ca- lembrar que esta Reforma depois de incorporadas algumas alterações
pacidade empresarial que permita rentabi- da Floresta consta que decorreram da participação dos portu-
lizar a propriedade florestal, que está em gueses, os diplomas foram submetidos a
do Programa do Governo e foi
grande parte pulverizada. Este modelo de aprovação final em Conselho de Ministros.
um trabalho que se iniciou
propriedade, sobretudo no centro e norte Estávamos a 21 de março. Daí, seguiram para
em agosto de 2016. Houve um
de Portugal, sem instrumentos de gestão, a Assembleia da República, que estabeleceu
Conselho de Ministros
acaba por ser o maior entrave ao ordena- o seu próprio calendário. Esta tragédia de
mento e à gestão florestal. extraordinário dedicado Pedrógão ocorreu em junho. Precisamente
à floresta em outubro de 2016 por entender que estas matérias se tratam
Que medidas estão previstas para ultra- fora dos períodos críticos é que o Governo
passar esse condicionalismo? balhar com material cuja vida útil expirou tratou do tema ao longo de quase um ano,
Criámos as Entidades de Gestão Florestal há muito. A partir do próximo ano iremos antes da tragédia de Pedrógão.
(EGF), empresas ou cooperativas, que podem multiplicar o esforço no horizonte de uma
incluir autarquias e privados. É um modelo Legislatura. É um Programa no qual estamos O debate, as posições defendidas pelos
empresarial que tem como objetivo integrar empenhados em investir financeiramente Partidos com assento parlamentar, as pro-
as propriedades com vocação florestal e porque os resultados compensam. Por outro postas avançadas pelo Executivo, o que foi
geri-las de forma sustentável e rentável, be- lado, adotou-se um Plano de Fogo Contro- aprovado, não poderão ter sido influen-
neficiando de um generoso pacote de in- lado, cujo principal objetivo é regulamentar ciados pelo contexto emotivo do momento
centivos fiscais. Por outro lado, simplificámos a realização de queimadas e o uso profis- e pela necessidade de uma resposta ur-
o processo de constituição das Zonas de sional do fogo na prevenção e combate aos gente às ansiedades nacionais de medidas/
Intervenção Florestal (ZIF) e criámos o Sis- incêndios. Finalmente, há a componente de resoluções?
tema de Informação Cadastral Simplificada, limpeza. Acreditamos que as centrais de Creio que, no que diz respeito à posição do
um mecanismo de identificação da proprie- biomassa vêm dar resposta a uma parte Governo, estamos esclarecidos. Relativa-
dade que permitirá aos proprietários efe- desse problema ao promoverem o aprovei- mente ao resultado final, que foi a aprovação
tuarem os registos gratuitamente, dotando tamento do desperdício da floresta para da Reforma da Floresta, lamentamos todos
o País de um cadastro da propriedade rús- produção de energia. a tragédia, sobretudo a tragédia humana
tica, essencial para a criação das EGF. Final- que ocorreu, mas ela veio apenas mostrar
mente, um outro instrumento importante Muitos técnicos apontam um desequilíbrio o quão urgente é o ordenamento da floresta
de ordenamento é a introdução da com- entre a atenção que o documento presta e o reforço da componente preventiva no
ponente florestal nos Planos Diretores Mu- à proteção e à segurança da floresta e à contexto nacional. Da parte do Governo,
nicipais (PDM). Os PDM vão incorporar as vertente de prevenção, que assenta no or- comprovadamente, as decisões tomadas
diretrizes dos Planos Regionais de Ordena- denamento e na gestão. Qual a sua inter- nada tiveram que ver com a tragédia de 17
mento Florestal, transferindo para o nível pretação? de junho.

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 49


Tema de Capa › Entrevista Luís Capoulas Santos

As próprias licenças de Apenas nas situações em que houver trans- venção. Também o Programa Operacional
plantação de eucalipto ferência da área de plantação é que haverá Sustentabilidade e Eficiência no Uso dos Re-
poderão ser valorizadas redução dessa mesma área, da área que é cursos (POSEUR) dispõe de um pacote de
e transacionadas, constituindo transferida, em 10% por ano a partir do pri- cerca de 150 milhões de euros destinados
também fonte de receita meiro ano, até um limite máximo de 50%. a financiar medidas de adaptação às altera-
Mas a transferência de área deverá fazer-se ções climáticas e prevenção de riscos, me-
adicional para os proprietários
de terrenos de baixa produtividade para ter- didas que incluem, por exemplo, a cons-
florestais
renos de alta produtividade, aumentando trução de redes primárias de defesa da flo-
A redução da exploração do eucalipto é dessa forma a quantidade de matéria-prima resta contra incêndios. Há ainda o Fundo
uma das medidas aparentemente mais con- disponível nos próximos anos. No entanto, Ambiental, que concorre igualmente com
sensuais em termos políticos e sociais, mas e no limite, se não houver nenhuma trans- avultados meios financeiros para a floresta,
muito pouco em termos técnico-científicos ferência de área, não haverá qualquer re- especialmente nas áreas protegidas. São re-
e económicos. Qual a base técnico-cien- dução da área de plantação de eucalipto, cursos importantes.
tífica que sustentou a decisão de avançar que se manterá estável, dentro dos valores
com a redução de eucaliptal em Portugal? impostos pela ENF. Cadastro simplificado. Este tema é alvo de
Trata-se de uma opção política de um Go- debate desde sempre e muito caro à co-
verno que considera que uma área de cerca O eucalipto é das poucas espécies flores- munidade técnica. Já aqui foi referido. Com
de um milhão de hectares ocupada por uma tais que dá algum retorno ao proprietário, que recursos será feito? Que entidades irão
espécie exótica, que se tornou dominante, nomeadamente aos pequenos proprietá- intervir? Quais os técnicos a envolver? O
deve ser limitada, sem pôr em causa o im- rios. A redução desta cultura não contri- País tem dinheiro para introduzir esta me-
portante valor económico da fileira. O que buirá para o abandono de terras e o agra- dida?
se pretende é aumentar a produtividade das vamento da desertificação? Que medidas É uma medida que vai arrancar no próximo
plantações de eucalipto em Portugal. No alternativas foram pensadas para impul- dia 1 de novembro e para a qual temos ca-
nosso País, a produtividade média do eu- sionar a floresta como fonte de negócio? pacidade técnica e financeira. O nosso ob-
calipto ronda os cinco ou seis metros cú- Não há qualquer motivo para dizer que a jetivo é envolver a Sociedade neste projeto.
bicos de madeira por hectare e por ano. Há espécie vai desaparecer, muito pelo con- Desde logo, contamos com a proatividade
plantações que têm uma produtividade trário. Há um estímulo ao aumento de pro- dos proprietários, que têm aberta uma ja-
quase residual. Por outro lado, há zonas do dutividade. Os terrenos cujas licenças de nela de oportunidade para atualizar o registo
território onde é possível explorar o euca- plantação de eucalipto venham a ser trans- das suas parcelas sem pagar as respetivas
lipto com níveis de produtividade franca- feridas para outras áreas deverão ser dei- taxas e emolumentos, tendo em conta o
mente superiores. É possível duplicar essa xados em condições de receber outro tipo regime excecional que está associado ao
produtividade. Vai, portanto, continuar a ser de culturas. As próprias licenças de plan- Sistema de Informação Cadastral Simplifi-
permitido plantar eucaliptos nas áreas atual- tação de eucalipto poderão ser valorizadas cada. Há aqui também uma excelente opor-
mente ocupadas e ainda por transferência e transacionadas, constituindo também fonte tunidade que os técnicos, as organizações
de plantações para áreas mais produtivas. de receita adicional para os proprietários de produtores e as entidades ligadas ao setor
florestais. podem aproveitar, envolvendo-se neste
A questão do eucalipto não terá sido em- processo. O Governo pretendia avançar
polada? Inclusivamente a medida que Como vai ser paga a implementação da desde já com o processo em todo o País.
acabou por ser aprovada? reforma das florestas? Há dotação orça- Contudo, a Assembleia da República decidiu
A área máxima de plantação de eucalipto, mental adequada? Como vai ser feito o fi- que se deveria apenas iniciar em dez mu-
com a qual o Governo está de acordo, tal nanciamento? nicípios, procedendo-se, no final de um
como a de outras espécies, está prevista nas O financiamento far-se-á com recurso a vá- período de um ano, a uma avaliação. A nossa
orientações da Estratégia Nacional para as rios instrumentos. Seja através dos programas expectativa é que essa avaliação será posi-
Florestas (ENF), atualizada em fevereiro de comunitários, do Orçamento do Estado ou tiva, permitindo depois passar à aplicação
2015, ainda na vigência do anterior Execu- do Fundo Florestal Permanente, no caso de em todo o País, tal como o Governo pre-
tivo. Nela se prevê que a área máxima de financiamentos públicos. Mas também com tendia na sua proposta inicial.
território ocupada por eucalipto não ultra- recurso ao investimento privado e, eventual-
passe os 812 mil hectares até 2030. Não se mente, a programas de financiamento, como Um cadastro florestal não carece anteci-
trata de qualquer estado de alma relativa- o Plano Junker, uma vez que a maioria da padamente de um cadastro das proprie-
mente a uma espécie vegetal, cuja impor- floresta do nosso País é privada. Temos um dades rústicas e de um inventário florestal
tância para a economia nacional é reco- instrumento fundamental de apoio à floresta, atualizado?
nhecida por todos. que é o PDR2020, que tem um envelope fi- O Sistema de Informação Cadastral Simpli-
nanceiro superior a 500 milhões de euros ficada que vai arrancar destina-se a identi-
A floresta é responsável por uma percen- de fundos públicos destinados à floresta até ficar e a delimitar os prédios rústicos. O In-
tagem importante do PIB nacional. Com a 2020. O Fundo Florestal Permanente coloca ventário Florestal Nacional é outra coisa e
diminuição do eucalipto, o setor não vai à disposição do País cerca de 25 milhões de já existe. O último Inventário Florestal Na-
enfraquecer? euros por ano, financiando medidas de pre- cional data de 2013. É um instrumento que

50 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


Luís Capoulas Santos Entrevista › Tema de Capa

tem sido atualizado com uma periodicidade de um Gabinete Técnico Florestal, financiado que desejarem apenas um modelo associa-
de cerca de dez anos. Estamos em 2017, a 50% pelo Estado, através do Fundo Flo- tivo, já existem as ZIF, cujo regime de cons-
dentro do horizonte temporal de validade restal Permanente. Provavelmente, em função tituição foi simplificado com a nova legis-
do último inventário, tendo em conta que do peso da floresta em cada município, esses lação. O objetivo é facilitar a sua constituição
a realidade da floresta não se altera radical- gabinetes poderão ser reforçados. reduzindo o número de proprietários, o nú-
mente de um ano para o outro. mero de prédios e a área mínima necessária,
Alguns dos problemas mais graves ao nível possibilitando, simultaneamente, que as au-
O Governo prevê para breve o aumento de do território terão origem na questão da tarquias possam integrá-las. No caso das
competências das autarquias em matéria titularidade de terras e na sua reduzida di- EGF, estamos a falar de empresas que podem
de ordenamento e fiscalização florestal. mensão, como já vimos. O cadastro ajudará assumir a forma de cooperativa, permitindo-
Os PDM já deverão contemplar as regras na primeira. Os benefícios fiscais, ainda por -lhes beneficiarem dos incentivos fiscais
da florestação. Contudo, são as câmaras aprovar, na segunda. Mas esta proposta que em breve serão aprovados pela Assem-
que desenvolvem os PDM. Deverão ser não passou. Estará para breve? bleia da República. O mesmo é válido para
também elas a proceder à fiscalização? Não Seguramente que sim. Penso que, tal como as autarquias, que também poderão integrar
poderá ser considerada um pouco dúbia a todo o País, também a Assembleia da Re- as EGF.
fronteira e os interesses? pública está consciente da urgência de de-
Os Planos Diretores Municipais (PDM), tal cidir sobre esta temática. A proposta não foi Onde se enquadra o Engenheiro Florestal
como os demais instrumentos de ordena- rejeitada, foi apenas adiada. Tenho a pro- nesta Reforma? Será considerado e cha-
mento do território, obedecem a regras funda convicção de que será aprovada. mado?
claras na sua elaboração e não são estabe- Trata-se de atribuir incentivos fiscais para a A Engenharia Florestal é importantíssima
lecidos de acordo com o livre arbítrio dos criação das novas Entidades de Gestão Flo- neste processo. Serão certamente os téc-
autarcas. Assim será também com a com- restal e não vislumbro qualquer motivo que nicos mais requisitados, tendo em conta a
ponente florestal dos PDM, que terá de obe- possa constituir entrave à sua aprovação. natureza dos serviços que virão a ser ne-
decer às instruções técnicas contidas nos cessários num futuro muito próximo para
Planos Regionais de Ordenamento Florestal Que instrumentos de gestão agregada estão que esta Reforma avance. O ordenamento
(PROF), cuja atualização está prevista até ao previstos para o minifúndio florestal? As- e o planeamento da floresta terão neces-
final do presente ano. sociativismo? Cooperativismo dos pequenos sariamente de envolver os técnicos desta
e médios proprietários? área. A Reforma da Floresta constitui uma
As autarquias dispõem de técnicos qualifi- As Entidades de Gestão Florestal foram pen- grande oportunidade profissional para uma
cados para este ganho de responsabilidade? sadas e criadas precisamente para dar res- categoria de técnicos absolutamente indis-
Praticamente todas as autarquias dispõem posta a esse problema. Para os proprietários pensáveis para o seu sucesso.

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 51


Tema de Capa › Entrevista Luís Capoulas Santos

No ano passado, a Ordem propôs, em re- Dos 12 diplomas com que ções necessárias a realizar? Quem coor-
sultado de um debate nacional que pro- o Governo lançou dena?
moveu de norte a sul do País, um pacto de a Reforma da Floresta Tendo em conta a dimensão da tragédia, e
regime para a floresta portuguesa, que ul- apenas um foi rejeitado pela a forma como atingiu diversas estruturas, a
trapasse as políticas, mas que assegure ins- Assembleia da República, coordenação deste dossiê ficou sob a tutela
trumentos de política adequados à sua ope- do Ministro do Planeamento e das Infraes-
o que criava o Banco de Terras
racionalização. Este compromisso existe? truturas, envolvendo outros ministérios,
O próprio Governo realizou uma discussão O “projeto-piloto” já está elaborado, com a como o da Segurança Social e o da Agri-
pública de âmbito nacional, com sessões participação da Unidade de Missão para a cultura. Neste momento encontra-se já ins-
descentralizadas, ouvindo toda a Sociedade. Valorização do Interior (UMVI) e dos muni- talada em Pedrogão a UMVI, cujo respon-
Desde os quadrantes políticos, às organiza- cípios envolvidos, encontrando-se neste sável, com o estatuto de Subsecretário de
ções setoriais, todos foram envolvidos neste momento em fase de discussão pública, po- Estado, coordena e acompanha as ações
debate, tendo em conta que o Governo con- dendo ser consultado no Portal do Governo no terreno.
sidera que a floresta é um tema transversal. e no site do Instituto da Conservação da Na-
O objetivo dessa discussão pública foi en- tureza e das Florestas (ICNF). Independen- Alguns técnicos têm vindo a afirmar que
volver todos e estabelecer um consenso em temente disso, estão em curso, ou já execu- esta Reforma é, de algum modo, uma opor-
torno de uma matéria que é tarefa para várias tadas, diversas ações. Desde a compensação tunidade perdida. O que gostaria que ela
gerações. Penso que esse consenso foi pra- pelos prejuízos sofridos na agricultura até à contivesse para além do que já contempla?
ticamente atingido. Dos 12 diplomas com implementação de medidas de estabilização São vozes isoladas que comparo aos “Ve-
que o Governo lançou a Reforma da Floresta de emergência pós-incêndio. Ainda há poucos lhos do Restelo”, que sempre se fazem ouvir
apenas um foi rejeitado pela Assembleia da dias o Secretário de Estado das Florestas es- quando alguém ousa empreender reformas
República, o que criava o Banco de Terras. teve na região a acompanhar uma operação profundas na Economia ou na Sociedade.
Dos outros, apenas foi adiada a discussão de demonstração de técnicas de estabilização O que gostaria, sobretudo, neste momento,
que definirá os incentivos fiscais para o início de emergência propostas pelas universidades, era que se abandonasse o clima de guer-
desta sessão legislativa. procurando soluções económicas e de rá- rilha política que as eleições autárquicas
pida implementação, para que o território potenciaram e que passássemos todos, Go-
Entendeu iniciar esta reforma na Região ardido tenha algum tratamento antes de co- verno, Partidos e Sociedade Civil, à ação,
Centro, nos locais ardidos no verão. Em meçarem as chuvas de inverno. por forma a pôr rapidamente em marcha
que fase se encontram os trabalhos? O que uma reforma que marcará toda uma ge-
poderá a comunidade local, e também o Como está a coordenação, dentro do Go- ração e de que o País se orgulhará no fu-
País, esperar? verno, dos apoios recebidos, das interven- turo.

52 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


António de Sousa Macedo Entrevista › Tema de Capa

António
de Sousa
Macedo
Engenheiro Florestal
Presidente do Conselho Nacional
do Colégio de Engenharia Florestal
da Ordem dos Engenheiros

Licenciado em Engenharia Florestal pela


Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
e pós-graduado em Gestão Geral
pela Universidade Católica. Exerce desde
há 30 anos atividade no setor florestal.

Foi técnico superior na empresa Soporcel,


onde trabalhou durante 18 anos. Diretor-geral
das Florestas entre 2002 e 2005. Iniciou em
2005 atividade profissional liberal enquanto
consultor em várias empresas e projetos,
acumulando, a partir de 2009,
com a administração da empresa Metacortex.
Em março de 2016 cria a empresa
Sempervirens, Lda., da qual é sócio-gerente.

Coordenou e geriu inúmeros projetos


na área do ordenamento, planeamento
e gestão florestal.

Preside, desde 2013, ao Colégio Nacional


de Engenharia Florestal da Ordem
dos Engenheiros.

Planeamento e gestão profissionais


da floresta são vitais para o setor
A recente Reforma das Florestas preocupa-o, sobretudo porque não foram acautelados os alicerces para um planeamento e gestão
florestais profissionais. A figura do Engenheiro Florestal é omissa, e com ela o conhecimento e responsabilidades de que o setor
carece. Acredita, porém, que o tema não está encerrado. Novo ponto de discórdia reside nas novas regras para o licenciamento
de explorações de eucalipto. Quanto à defesa da floresta contra incêndios, considera que poderia ter existido mais ambição.
Os aplausos vão para o cadastro florestal, urgente e tardio, e para a possível atribuição de benefícios fiscais para os proprietários
cumpridores da lei.
Esta é, em versão resumida, a análise de António de Sousa Macedo, Presidente do Colégio Nacional de Engenharia Florestal da
Ordem dos Engenheiros, sobre a Reforma. Em complemento, deixa-nos um retrato do território florestal nacional.

Por Marta Parrado e Nuno Miguel Tomás Os solos portugueses são diversos e gene- uso florestal e as suas limitações para o uso
Fotos Paulo Neto ricamente pobres, maioritariamente pre- agrícola, nomeadamente numa lógica in-
sentes em terrenos inclinados e delgados. tensiva. Não nos surpreende, pois, quando

A
ntes de abordarmos a recente re- Acresce que são pobres em nutrientes, são consultamos os dados mais recentes do IFN6
forma florestal, importa perceber ácidos e mal drenados, o que, associado a [Inventário Florestal Nacional], encontrarmos
que tipos de solos tem o País e como um clima, sobretudo, de características me- a floresta1 como uso de solo dominante em
se caracteriza a floresta portuguesa. Quais diterrânicas, justifica a sua aptidão para o Portugal Continental, representando cerca
são as características dos solos nacionais,
em termos de apetência para espécies flo- 1 As áreas de uso florestal incluem as superfícies arborizadas (correspondente aos designados povoamentos
florestais) e as superfícies temporariamente desarborizadas (superfícies ardidas, cortadas e em regeneração),
restais? para as quais se prevê a recuperarão do seu coberto arbóreo no curto prazo.

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 53


Tema de Capa › Entrevista António de Sousa Macedo

De acordo com o IFN6, sobreiro e da azinheira na zona sul do País, maioritariamente propriedade de entidades
a área florestal muito associado à grande propriedade e aos privadas. Esta situação não encontra para-
representa 35% sistemas agroflorestais de natureza silvo- lelo a nível europeu, o que, associado à sua
do território nacional, sendo -pastoril. Já o eucalipto e o pinheiro bravo dimensão, torna mais complexo o planea-
maioritariamente propriedade encontram-se predominantemente na zona mento e a gestão florestal. A distribuição da
centro e norte de Portugal, reflexo da ap- área de floresta de acordo com o regime
de entidades privadas. Esta
tidão destas espécies para as condições de propriedade mostra que 98% da área é
situação não encontra paralelo
edafo-climáticas daquelas regiões, carac- privada, dos quais 8% são propriedade das
a nível europeu, o que, associado
terizadas por uma maior influência atlântica, empresas industriais e 13% são floresta co-
à sua dimensão, torna mais
onde impera a pequena propriedade e o munal, os denominados baldios. Da floresta
complexo o planeamento
minifúndio. privada, sem contabilizarmos as áreas da
e a gestão florestal indústria e dos baldios, estima-se que cerca
A realidade, em termos de espécies plan- de 49% se encontre integrada em explora-
de 35% do território, logo seguida da classe tadas e do mosaico florestal, está muito ções agrícolas, e, destas, 70% encontra-se
dos matos e pastagens com 32%2. De acordo longe do que seria adequado para os nossos ocupada por montados de sobreiro e azi-
com a mesma fonte, a agricultura representa solos? nheira que vegetam em grandes explora-
24% do território continental e a área rema- O mosaico florestal reflete a aptidão do ter- ções produtivas localizadas no sul do País.
nescente reparte-se entre as classes de ur- ritório e das principais espécies para as con- Os restantes 30% inserem-se em pequenas
bano (5%), improdutivos (2%) e águas inte- dições naturais existentes no nosso País,
riores (2%). Podemos então dizer que Por- onde predominam os solos pobres, esque- o investimento florestal
tugal é um país com vocação maioritaria- léticos, em terrenos declivosos e que por em Portugal, exceção
mente para a floresta, resultado das suas essa razão, para além do uso agrícola, feita à floresta de
condições naturais e edafo-climáticas, onde também limitam a utilização de espécies eucalipto, é praticamente
as principais espécies florestais que vegetam florestais mais exigentes. É preciso escla- efetuado através do recurso
no nosso território, por serem menos exi- recer a opinião pública de que não é pos- a apoios de fundos públicos
gentes em termos de solo e clima, se en- sível (re)arborizar extensivamente terrenos
contrarem perfeitamente adaptadas à eco- com as características limitantes anterior- unidades, localizadas no norte e no centro.
logia do nosso País. mente referidas, com base nas denominadas A maioria da floresta privada – cerca de 51%
espécies mais nobres e mais exigentes em – pertence a pequenos proprietários não
Qual o mosaico florestal do nosso terri- termos de solos e clima. A ecologia e a na- profissionais, a proprietários que são, simul-
tório, por espécies e dimensão de explo- tureza não o permitem, não dá! Generica- taneamente, pequenos agricultores e a co-
rações? mente, pode dizer-se que há uma adequação munidades locais. Resumidamente, a floresta
De uma forma simplificada, podemos afirmar e adaptação das principais espécies ao ter- é detida maioritariamente por proprietários
que o mosaico florestal do nosso território ritório nacional, ainda que, do ponto de vista florestais privados e não pelas empresas in-
é constituído e dominado por quatro espé- da riqueza do mosaico florestal e em be- dustriais. Destaca-se ainda a fraca repre-
cies principais: eucalipto, sobreiro, pinheiro nefício da compartimentação dos espaços sentatividade do setor Estado (2% da pro-
bravo e azinheira. De acordo com os dados florestais, fosse desejável haver uma maior priedade), ainda que a área de floresta cor-
do IFN63, a espécie dominante em Portugal expressão e representatividade de outras respondente às matas nacionais e períme-
Continental é o eucalipto, representando a espécies, promovendo dessa forma o au- tros florestais, sob jurisdição e gestão do
maior área de ocupação do País (812 mil mento e a melhoria da biodiversidade. Estou ICNF, seja de 5,8% da floresta de Portugal
ha; 26%), seguida do sobreiro (737 mil ha; a pensar na importância, nas galerias ripí- Continental.
23%), e do pinheiro bravo (714 mil ha; 23%), colas e nos solos mais profundos, muitas
destacando, por último, a azinheira, com vezes em situação de vale, de uma maior Qual o peso do setor florestal na economia
11%. Para além do grupo das espécies prin- diversificação das soluções florestais, alber- nacional, considerando as indústrias da
cipais, seguem-se por ordem de represen- gando espécies como carvalhos, casta- celulose, da cortiça, da madeira e outras?
tatividade o pinheiro manso (6%), os carva- nheiros, etc. Portugal, no contexto europeu e mesmo
lhos (2%) e os castanheiros (1%), espécies, internacional, é um país especializado no
estas, cuja área tem vindo a crescer entre Que dimensão do País é ocupada por flo- setor florestal, gerindo um importante con-
Inventários Florestais (2005-2010). O IFN6 resta? E dessa, que percentagem é pública tributo para o PIB [Produto Interno Bruto],
aponta ainda uma área de 6% ocupada por e privada? E dentro da privada, que per- que é maior do que a média europeia. É re-
outras folhosas e 2% ocupada por outras centagem corresponde a exploração em- conhecido que o setor florestal contribui
resinosas. Se atendermos ao mapa da dis- presarial e a familiar? com 3,2% para o PIB, representa 12% do PIB
tribuição das espécies florestais no territó- De acordo com o IFN6, a área florestal re- industrial e vale 11% das exportações totais
rio nacional, destaca-se o predomínio do presenta 35% do território nacional, sendo portuguesas. É responsável ainda pela criação
de 165 mil empregos diretos, envolve um
emprego total, direto e indireto, de cerca
2 Estima-se que os matos representam 52% da área desta classe.
3 Resultados provisórios e referentes ao ano de 2010. de 260 mil postos de trabalho, reúne mais

54 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


António de Sousa Macedo Entrevista › Tema de Capa

planeamento e da gestão florestal. Nas zonas


da pequena propriedade e de minifúndio
não é, para a maioria das situações, econo-
micamente viável implementar, com racio-
nalidade económica, uma gestão ativa e
profissional da floresta se não se agregarem
as áreas em unidades de exploração com
escala. É, pois, necessário reforçar as polí-
ticas e medidas que promovam o empar-
celamento funcional e/ou efetivo da pro-
priedade e que permitam ter unidades de
gestão que justifiquem o custo desses re-
cursos. O ordenamento da floresta só faz
sentido em espaços onde possa ser viabili-
zado e ponderado com racionalidade o in-
vestimento florestal, quer se tratem de op-
ções de instalação e/ou condução de po-
voamentos florestais, quer se trate de in-
fraestruturas no território para a defesa da
floresta. O planeamento florestal e a racio-
nalidade económica das intervenções são
tanto mais otimizados e viabilizados quanto
maior for a dimensão e a escala da inter-
venção. Nestas circunstâncias, separar a
propriedade da gestão é um dos caminhos
de 400 mil proprietários e gera, no seu con- lização correta da aplicação dos fundos de a seguir e que falta aprofundar com o ca-
junto, aproximadamente 3% do valor acres- financiamento. Contudo, e talvez seja o as- minho já iniciado com as ZIF [Zonas de In-
centado bruto da economia. Há um supe- peto mais importante, as questões técnicas tervenção Florestal].
ravit de 2,5 mil milhões de euros reportado e de qualidade dos projetos florestais são,
ao saldo da balança comercial dos produtos no meu entender, totalmente descuradas. Era Diretor-geral das Florestas quando as
de origem florestal em 2015 [Fonte: INE]. Por exemplo, não é admissível e aceitável ZIF surgiram, para gerir as áreas comuns
No ranking das 100 maiores empresas da que qualquer pessoa, sem qualificações e da floresta. Funcionam?
fileira florestal a nível mundial, elaborado habilitações, possa ser responsável pela ela- As ZIF começaram a ser pensadas na se-
pela PricewaterhouseCoopers, em 2013, boração de projetos florestais! Onde está a quência dos grandes incêndios de 2003 e a
encontram-se quatro grupos portugueses. competência e o saber que dão garantias à melhor forma de as explicar é como se se
qualidade dos investimentos e que respon- tratassem de condomínios aplicados aos es-
Este setor é alvo de financiamento europeu sabilizam os autores pelos atos praticados? paços florestais. Na sua génese, o foco eram
e até nacional? Qual a estrutura desse fi- Estranha-se esta situação, pois parece óbvio as regiões de pequena propriedade e de mi-
nanciamento? que é esse o papel que se pede e que se nifúndio, onde se pretendia separar a pro-
De facto, o investimento florestal em Por- deveria exigir aos engenheiros florestais, pois priedade dos prédios da gestão florestal dos
tugal, exceção feita à floresta de eucalipto, é são eles que reúnem as competências e mesmos, criando condições para, entre ou-
praticamente efetuado através do recurso a devem responder pela qualidade na elabo- tras, otimizar uma melhor infraestruturação
apoios de fundos públicos. São muitos os ração de projetos, mas também terão que do território, preocupando-se com a escala
quadros comunitários que têm vindo a apoiar ser responsabilizados por esses atos. e a dimensão das unidades sob gestão. Sabia-
o investimento florestal na arborização e/ou -se que o caminho era de difícil implemen-
rearborização, sem, contudo, obrigar a uma Um dos problemas mais relevantes da flo- tação, e reconhece-se que há muito trabalho
exigência de gestão florestal ativa e profis- resta prende-se com a dimensão da pro- feito, sobretudo ao nível do foro administra-
sional que garanta o sucesso e a sustentabi- priedade. Se no sul do País existe o latifúndio, tivo e ao nível do agregar das vontades dos
lidade desses investimentos. Como resultado, já no centro e no norte a realidade tende a aderentes. Contudo, acho que estamos ainda
muitos desses investimentos foram inconse- ser diferente, predominando o minifúndio. longe do objetivo para que foram pensadas
quentes e só serviram de combustível para Quais os maiores constrangimentos que e que se prende com a gestão florestal e
alimentar o drama dos incêndios florestais. daqui resultam? com a implementação de obra no terreno.
São muitos os constrangimentos que de- Nesse sentido, estão longe de funcionar bem,
Existem medidas de fiscalização da correta correm da dimensão da propriedade, com pelo que importa criar as condições para que
aplicação desse financiamento? particular incidência nas regiões centro e funcionem de uma forma efetiva e cumpram
Se pensarmos apenas nos aspetos puramente norte, constituindo este um dos fatores crí- o papel para que foram pensadas. O mo-
administrativos e processuais, há uma fisca- ticos para o sucesso do ordenamento, do mento é bom para reforçar este interesse…

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Tema de Capa › Entrevista António de Sousa Macedo

chegou a hora de elevar poderá ser colmatada com este “filtro” de área mínima de 100 ha, da qual pelo menos
a fasquia e retomar qualidade e responsabilidade. 50% deverá ser constituída por propriedades
um caminho de maior com área inferior a cinco ha. Estas entidades
exigência e qualidade, sobretudo Em termos de gestão, que estrutura hie- beneficiarão de acesso preferencial a pro-
quando são utilizados fundos rárquica e territorial deveria existir para priedades integradas no Banco de Terras e
públicos garantir eficácia? Gestão de proximidade, terão igualmente acesso a regime especí-
com reporte a estruturas nacionais? fico de benefícios fiscais. É simplificado o
Outra questão igualmente problemática Se pensarmos nos Serviços Florestais terá processo de constituição das ZIF, fixando a
está relacionada com a titularidade das que haver uma orgânica desconcentrada, sua área máxima em 20 mil ha, reduzindo
terras, pois uma parte significativa do ter- suportada numa rede de técnicos no ter- a mínima de 750 para 500 ha, reduzindo de
ritório não tem proprietário identificado. reno, que apoiem os proprietários e as suas 50 para 25 o número mínimo de consti-
Até que ponto é este desconhecimento organizações, e que esteja sobretudo focada tuintes das ZIF, reduzindo de 100 para 50 o
constrangedor para uma boa gestão e até nos temas mais ligados à extensão florestal número mínimo obrigatório de parcelas de
defesa da floresta? e à fiscalização do cumprimento dos planos terreno que integram as ZIF e permitindo
Esse é outro dos grandes problemas e cons- setoriais e da legislação aplicável. Terá que sejam integradas parcelas de diferentes
trangimentos para o setor florestal! Esta si- também que haver uma gestão de proximi- concelhos.
tuação é reveladora do atraso do nosso País dade, orientada para o terreno, desconcen-
e não encontra equivalência em mais ne- trada e proativa, baseada numa atitude po- temos vindo
nhum país europeu… Trata-se, na minha sitiva e construtiva e focada na criação de a sensibilizar o Governo
perspetiva, de uma prioridade, pois só com valor. Os profissionais do setor florestal, a para a necessidade
essa informação se poderão implementar Engenharia Florestal e a rede de engenheiros de apostar no reconhecimento
políticas públicas que promovam o empar- florestais espalhada pelo nosso território da importância e do papel
celamento funcional e/ou efetivo dos pré- deverão ser convocados e chamados para do Engenheiro Florestal
dios, se contrarie o abandono e a indife- esse desafio. enquanto garante de um melhor
rença, se promova a melhoria da fiscalização ordenamento, planeamento
e da notificação dos proprietários no com- Em termos sintéticos, a recente reforma e gestão florestal
bate ao absentismo, e o desenho e imple- florestal introduz alterações relevantes ao
mentação de políticas fiscais promotoras e nível do planeamento, do ordenamento e E a nível de proteção e segurança da flo-
incentivadoras da gestão florestal, etc. da gestão? resta contra incêndios?
Sim, introduz, e este é um dos pontos da Neste domínio ficamos muito aquém do
O Colégio de Engenharia Florestal há muito dita Reforma que nos deixa alguma preo- desejável e deveria ter-se ido muito mais
que reclama um olhar sério e desprendido cupação, pois teme-se pela arbitrariedade longe. Bastava ter presente as propostas do
sobre a floresta. Assim é porque entende na sua aplicação. Acresce que reconhe- grupo técnico que foi responsável pelo Plano
que o ordenamento e a gestão de que é cemos que muitos dos municípios não Nacional de Defesa da Floresta Contra In-
alvo são ineficazes? reúnem as competências técnicas para a cêndios, para introduzir essas alterações no
O Colégio de Engenharia Florestal há muito elaboração destes planos. Corre-se algum sistema e alterar o paradigma atual, que está
que alerta e reclama para a importância do risco com esta alteração, pois outros inte- demonstrado que não funciona e está as-
planeamento e da gestão florestal ativa e resses que não os florestais e nacionais po- sente numa estrutura pouco profissional,
profissional como prioridade para o setor e derão levar a decisões que penalizem as não focada na defesa da floresta. No âmbito
que a mesma seja assegurada por técnicos orientações e objetivos para o setor. desta reforma é aprovada uma Proposta de
devidamente qualificados e habilitados, de Lei que revê o Sistema de Defesa da Floresta
forma a garantirem o conhecimento, a qua- O que é alterado? Contra Incêndios, sendo atualizados e har-
lidade e a responsabilidade pelos Atos de Ao nível do ordenamento e planeamento monizados os conceitos de “edificação” e
Engenharia praticados e o sucesso da flo- florestal é alterado o regime jurídico dos “edifício” a aplicar ao edificado em espaços
resta gerida. Não nos move nenhum senti- Programas Regionais de Ordenamento Flo- florestais. É também reforçado o pilar da
mento corporativo, mas tão-somente o ga- restal, atribuindo aos municípios uma maior prevenção operacional. É criado o Programa
rantir, perante a Sociedade – entidades pú- intervenção nos processos de decisão re- Nacional de Fogo Controlado com o obje-
blicas e privadas, a qualidade dos Atos de lativos ao uso do solo, através da transfe- tivo de regulamentar a realização de quei-
Engenharia praticados e estarmos prontos rência efetiva de normas dos Programas madas e o uso profissional do fogo na pre-
para ser responsabilizados pelos mesmos. Regionais de Ordenamento Florestal para venção e combate aos incêndios.
Entendemos que chegou a hora de elevar os Planos Diretores Municipais. Os municí-
a fasquia e retomar um caminho de maior pios vão dispor de um prazo para incluírem Advoga a existência de benefícios fiscais
exigência e qualidade, sobretudo quando no Plano Diretor Municipal a componente para produtores que cumpram as boas prá-
são utilizados fundos públicos, razão pela florestal, com caráter vinculativo. Ao nível ticas de limpeza e preservação das suas
qual também cabe ao Estado a promoção da gestão florestal é criado um regime ju- terras?
desses valores, até porque a crescente di- rídico de reconhecimento das entidades de A existência de uma fiscalidade inerente e
ficuldade em recursos humanos técnicos gestão florestal, que deverão integrar uma aplicada à floresta é fundamental para o

56 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


António de Sousa Macedo Entrevista › Tema de Capa

setor. Ela pode e deve ser um instrumento


alavancador do seu desenvolvimento, pre-
miando, através de benefícios fiscais, a gestão
ativa e profissional, mas também penali-
zando o absentismo e o abandono. Seria
ótimo pensar que se poderia atuar através
de uma política fiscal que descriminasse
positivamente a gestão florestal ativa e res-
ponsável e ao mesmo tempo penalizasse o
incumprimento da legislação aplicável, do
absentismo e do abandono.

Uma das medidas aprovadas mais bem aco-


lhidas é a realização do cadastro, mesmo
que simplificado. Como avalia esta medida?
Quais os reais benefícios?
Trata-se de uma boa medida e é funda-
mental para se poder implementar e fazer
cumprir as políticas que combatam o aban-
dono e promovam a gestão florestal. A rea-
lização do Sistema de Informação Cadastral
Simplificada estará em vigor ao longo de 30
meses. Trata-se de um regime excecional
de isenção de custos com taxas e emolu-
mentos associados à atualização do re-
gisto de propriedades rústicas. Acredito que
sejam grandes os benefícios resultantes
desta medida, pois irão permitir conhecer
e identificar os proprietários e a propriedade
e dessa forma poder fazer atuar políticas
que promovam, entre outras, o emparce-
lamento funcional e efetivo da propriedade,
o planeamento e a gestão florestal, incluindo por investir numa melhoria da floresta exis- genuinamente assistimos à defesa da flo-
nesta a prevenção em matéria de Defesa da tente, através da adoção das boas práticas resta, pois o que vemos – e tal compreende-
Floresta Contra Incêndios. florestais. São vastas as áreas florestais que -se! – é os bombeiros a defenderem as
não são geridas, incluindo áreas de euca- casas e as pessoas.
O País terá recursos para fazer um inves- lipto, e o resultado é uma floresta pouco
timento desta natureza? produtiva e pouco resiliente aos incêndios A figura do Engenheiro Florestal não pa-
Claro que sim e o retorno desse investi- florestais. Considero que o regime de licen- rece ter sido considerada aquando da re-
mento será enorme, devendo ser esta uma ciamento existente, aliás, muito discutido dação da Reforma. Como comenta?
prioridade nacional que só peca por tardia. com todos os stakeholders do setor, res- Embora exista sensibilidade e compreensão
ponde às necessidades e interesses do País. para esta situação, e não foi por falta de
Um dos temas que maior apreensão tem termos sensibilizado o poder político, de
levantado no seio da comunidade técnica Em termos de proteção e de combate aos facto a Reforma é omissa nesta matéria e
é a questão da limitação das explorações incêndios, o verão de 2017 revelou grandes deveria, em nossa opinião, ter ido mais longe.
de eucaliptos. Considera que o regime de debilidades organizativas. O que considera Ainda se vai a tempo de corrigir a situação,
licenciamento aprovado condiz com as que falhou? pelo que temos vindo a sensibilizar o Go-
necessidades do País? Penso que o verão de 2017 mostrou com verno para a necessidade de apostar no re-
Este é, seguramente, um dos pontos mais grande evidência ao País que o sistema fa- conhecimento da importância e do papel
controversos da Reforma da Floresta e que lhou e que é necessário mudar o paradigma. do Engenheiro Florestal enquanto garante
não tem qualquer fundamentação e racio- Falhou, entre outras, a prevenção, que pra- de um melhor ordenamento, planeamento
nalidade técnica. Resulta de uma negociação ticamente não existe, falharam as comuni- e gestão florestal. Os engenheiros florestais
onde só imperou a vontade e o compro- cações, falhou a coordenação e o comando terão que fazer parte da solução, terão que
misso político e não teve em conta qualquer nas estruturas de combate, falhou o cum- se assumir como parceiros dos Serviços
fundamentação técnica. Não entendo essa primento da legislação existente, nomea- Florestais ao serviço dos proprietários flo-
limitação, ainda que considere que o grande damente na limpeza dos terrenos, etc. Atrevo restais e das suas organizações e estão
desafio, válido para todas as espécies, passa dizer que são raras as exceções em que prontos para esse desafio.

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Tema de Capa Estudo de Caso

DR
Estudo de Caso
Zonas de Intervenção Florestal:
ordenamento do território, da floresta
e a defesa da floresta contra incêndios

Sofia Pinto Joana Carvalho Tiago Gonçalves Ângelo Cardoso


Engenheira Florestal Engenheira do Ambiente Engenheiro Florestal Engenheiro Florestal

A
CAULE – Associação Florestal da Beira Serra é uma organi- ciativismo e na escala. Com a entrada em vigor do Decreto-lei
zação associativa de proprietários e produtores florestais, n.º 127/2005, de 5 de agosto, que estabelece o regime de criação
fundada a 6 de fevereiro de 2001, com o objetivo de defender, das Zonas de Intervenção Florestal (ZIF), a associação entregou-se
promover os interesses e a formação dos produtores e proprietários empenhadamente a este conceito.
florestais e desenvolver ações de prevenção contra fogos, proteção, Uma ZIF é um território contínuo maioritariamente constituído por
ordenamento, conservação e valorização das florestas, dos espaços espaços florestais, a que aderiram proprietários que detêm mais de
naturais, da fauna e da flora, tendo por base o uso múltiplo da flo- 50% da área florestal. Este condomínio florestal está essencialmente
resta, de forma a promover um desenvolvimento sustentado. vocacionado para a gestão de problemas comuns dando dimensão
A sua atividade é exercida essencialmente nos concelhos de Ar- e coerência territorial às intervenções, substituindo-se às centenas
ganil, Oliveira do Hospital, Penacova, Santa Comba Dão, Seia e de proprietários. Pode ainda, mediante acordo, gerir diretamente
Tábua, embora tenha também alguma intervenção nos concelhos as parcelas dos aderentes.
limítrofes. Até 2010 constituíram-se 12 ZIF, tendo a primeira sido criada em
Desde então, até 2005, entre outras ações, apostou-se na sensi- 2006, a ZIF Alva e Alvoco, e a última em 2010, a ZIF Seia Alva. A
bilização e no contacto com os proprietários, sempre com a fi- área abrangida totaliza 72.165 ha, num universo de 6.294 proprie-
nalidade de ordenar e gerir o território florestal apoiado no asso- tários florestais aderentes.

58 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


Estudo de Caso Tema de Capa

Área de intervenção florestal


Para todas, a CAULE, na qualidade de entidade gestora, assumiu a por tipologia de investimento

elaboração e a execução de um Plano de Gestão Florestal (PGF) e


Área total
de um Plano Específico de Intervenção Florestal (PEIF), documentos de gestão

estruturantes e obrigatórios para os proprietários e produtores flo- 6.532,14 ha


51.082,50 ha
restais, que definem no espaço e no tempo as estratégias e metas Área florestal
intervencionada
da gestão florestal, de defesa da floresta contra incêndios, da luta 13.309,55 ha
(26,1% do total 276,00 ha
da área florestal)
contra pragas e doenças, combate a invasoras lenhosas, entre outras. 72.164,00 ha 274,41 ha
6.227,00 ha
Estes documentos foram e são fundamentais, pois no âmbito dos
instrumentos financeiros de política florestal é dada prioridade
aos projetos em matéria de ordenamento e gestão florestal, de in-
vestimento e de defesa da floresta contra os incêndios, integrados Área total de ZIF Defesa da Floresta Contra Incêndios

em ZIF. Área florestal nas ZIF Recuperação do Potencial Produtivo

Pragas e Doenças
De uma forma generalizada, as ZIF vêm mantendo uma experiência
Manutenção de Paisagens Notáveis
bastante positiva concretizando os objetivos específicos explanados
nos documentos referidos anteriormente e sustentada no anterior Gráfico 1 Área total de gestão e área de intervenção florestal,
Programa de Desenvolvimento Rural (ProDeR 2007-2014). por tipologia de investimento, de 2012 a 2016

Enquanto entidade gestora de 12 ZIF, intervencionaram-se 13.310


ha, cerca de 26% da área florestal. Pode dividir-se a tipologia de tilhaçadores de resíduos florestais, reboques florestais com grua,
intervenção em quatro grupos: defesa da floresta contra incêndios, viaturas pesadas de transporte de matérias-primas florestais, etc.
recuperação do potencial produtivo, pragas e doenças e manu- Dispõe também de duas viaturas pesadas de combate a incêndios
tenção de paisagens notáveis (Gráfico 1). florestais, tendo uma ação bastante empenhada neste campo. Com
Em matéria de defesa da floresta contra incêndios apostou-se in- as equipas de sapadores e os respetivos técnicos credenciados,
tensivamente na prevenção, executando-se mosaicos de par- também se têm realizado diversas ações de fogo controlado na
celas de gestão de combustível e redes primária e secun- execução e manutenção das faixas de gestão de combustível.
Esta é uma ferramenta de grande utilidade pois, onde pode
ser utilizada, diminui substancialmente os custos das ope-
rações.
Em termos estatísticos, as intervenções na defesa
da floresta contra incêndios totalizaram 46,8% da
área florestal executada ao abrigo do ProDeR. Im-
porta ainda salientar que todas as ZIF tiveram áreas
contempladas neste âmbito, sendo que algumas
tiveram mais área intervencionada do que outras, em
função das caraterísticas do território, da ocupação
do solo e do inerente risco de incêndio, che-
gando na ZIF Alva Alvoco a perfazer 27% do
total da área florestal.
Durante os anos subsequentes à execução das
estruturas de defesa da floresta contra incêndios,
dária de faixas de gestão de ocorreram incêndios nas ZIF e foram muitos os
combustível, totalizando cerca de 6.227 ha, executados casos em que se verificou uma grande diminuição e
através de ações de silvicultura preventiva (controlo de vegetação mesmo possibilidade de extinção das chamas, quando da entrada
espontânea, redução de densidades e desramações e podas), de do fogo nas zonas intervencionadas. Este facto vem comprovar,
modo a promover a descontinuidade vertical e horizontal dos com- mais uma vez, que ao haver uma diminuição da carga de combus-
bustíveis, minimizando o risco e a progressão de incêndios no in- tível, há uma redução da intensidade e da progressão das chamas,
terior da ZIF e aqueles que possam surgir do exterior. permitindo um combate mais eficaz e uma menor área ardida. É,
De notar que, nas ações de desbaste e/ou aproveitamento da re- pois, nesta estratégia que a aposta deve ser feita. Na impossibili-
generação natural, foram sempre privilegiadas as espécies autóc- dade de evitar todos os fogos, deve fazer-se com que os mesmos
tones, aliando a prevenção à conservação de espaços florestais de não atinjam grandes dimensões permitindo que nestas áreas inter-
elevada biodiversidade. vencionadas seja possível diminuir a intensidade do fogo, contro-
A defesa da floresta contra incêndios também é sustentada através lando-o ou alocando os meios às zonas mais difíceis.
de oito equipas de sapadores florestais, num total de 40 operacio- No que concerne à estabilização de emergência após-incêndio,
nais, que desenvolvem, com caráter permanente e de forma sis- no âmbito da recuperação do potencial produtivo, executaram-se
temática e eficiente, ações de silvicultura preventiva e simultanea- 276 ha decorrentes de incêndios em 2012. As intervenções divi-
mente ações de vigilância e combate de incêndios florestais. Neste diram-se em tratamento de encostas, tratamento de linhas de água
âmbito, a CAULE possui todo o equipamento necessário à execução e tratamento de caminhos. Tal como o nome indica, estas ações
de trabalhos de silvicultura, nomeadamente diversos tratores, es- visam uma recuperação de povoamentos percorridos pelo fogo,

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 59


Tema de Capa Estudo de Caso

DR
devolvendo-lhes as condições mínimas para o restabelecimento tituído por oito técnicos dos Serviços Florestais. Já este ano a CAULE
das características naturais, evitando a erosão dos solos. decidiu dar alguns passos evolutivos, que há muito ansiava, avan-
Na temática de pragas e doenças, desenvolveram-se ações no âm- çando com dois elementos estruturantes para o funcionamento
bito da Doença da Murchidão do Pinheiro, provocada pelo Nemá- das ZIF: Inventário da Estrutura da Propriedade (IEP) e a Certificação
todo da Madeira do Pinheiro, assim como no controlo e erradicação da Gestão Florestal FSC®.
de espécies invasoras lenhosas, mais concretamente da Acacia Em relação ao IEP, resumidamente chamado cadastro florestal sim-
dealbata, vulgo Mimosa. O total das intervenções perfizeram cerca plificado, propôs-se executar 5.300 ha, em diferentes ZIF, com fi-
6.532 ha, correspondendo a 49% da área florestal intervencionada nanciamento do Fundo Florestal Permanente. Esta ferramenta vai
pela entidade gestora, durante a operacionalização do quadro de permitir representar cartograficamente os prédios e identificar os
apoio. Apenas oito das 12 ZIF tiveram intervenção neste âmbito, respetivos titulares nas áreas dos aderentes.
porém os resultados foram bastante positivos e foi possível observar Este trabalho é fundamental e esperamos que no futuro Balcão
uma grande diminuição no número de áreas sintomáticas da Doença Predial Único concelhio possa existir uma ligação de proximidade
da Murchidão do Pinheiro, assim como uma redução drástica no e estreita colaboração com a CAULE, de forma a permitir que estes
ressurgimento de plantas invasoras nas áreas executadas. Contudo, levantamentos perimetrais possam ser usados.
tendo em conta que se está a lidar com insetos e plantas, espécies O processo de certificação da gestão florestal FSC® iniciou-se com
com grande caráter dispersivo, o controlo de seguimento deverá 1.842 ha, correspondendo para já a uma pequena fatia da área ade-
ser contínuo e não apenas durante o espaço temporal definido rente. Pretende-se com a certificação otimizar os recursos flores-
pelos quadros comunitários de apoio. tais, assegurando uma gestão florestal sustentável, responsável e
De forma a promover o valor ambiental dos espaços florestais, rigorosa, promovendo a biodiversidade e as boas práticas florestais.
efetuaram-se 274 ha de manutenção e recuperação de paisagens Em relação à Reforma Florestal, a mesma está aquém do desejado,
notáveis, na forma de plantação de espécies autóctones, nomea- pois não promove o associativismo florestal, desconsidera o mini-
damente medronheiro, castanheiro, sobreiro, carvalho e pinheiro fúndio e não valoriza a entidade gestora de ZIF enquanto autori-
manso. Assente na plantação de espécies existentes na região e dade para o controlo e aplicação das políticas e da legislação flo-
bem adaptadas, estes projetos pretendem a compartimentação dos restal. Considera-se que mais importante do que criar nova legis-
espaços florestais de modo a criar mosaicos de espécies mais re- lação é fazer cumprir a já existente.
silientes ao fogo e consequentemente diminuir o risco de incêndio O novo Programa de Desenvolvimento Rural (PDR 2020), com o
nestas zonas de montanha, que têm sido ciclicamente devastadas período de vigência de 2014 a 2020, está, infelizmente, muito aquém
pelos incêndios. Esta iniciativa visa não apenas a defesa da floresta das expectativas e das necessidades das ZIF, pois nem o apoio ao
contra incêndios, mas também a recuperação da paisagem. seu maior objetivo, a defesa da floresta contra incêndios, está as-
Quanto à sensibilização, há muito que a CAULE assume um papel segurado, não havendo ainda quaisquer execuções no terreno.
ativo na consciencialização para as temáticas florestais, junto da Num tempo em que os prejuízos dos incêndios foram tão graves
população em geral, tendo produzido uma série de informação em e dramáticos e em que tanto se fala em prevenção, a figura da ZIF,
formato papel, vídeo e utilizando também o seu website e as redes que é um território com escala e gestão profissional, não está a ser
sociais. Além disso, têm sido muitas e diversas as ações direcio- devidamente apoiada, reconhecida e valorizada.
nadas para a população escolar, tanto no Dia da Árvore como no
Dia da Floresta Autóctone ou ainda noutras ocasiões. Considerações finais
Ainda no que diz respeito à fitossanidade florestal, fruto do trabalho Principalmente o norte e centro de Portugal têm graves problemas
de referência que se tem vindo a devolver no âmbito da Doença fundiários devido à estrutura diminuta da propriedade, que se está
da Murchidão do Pinheiro, nos últimos anos foram várias as visitas a agravar pelo despovoamento de todo o interior.
técnicas de organizações internacionais. Destaca-se a vinda de uma Esta realidade só se combate com o associativismo e a gestão pro-
comitiva do Ministério da Agricultura e dos Serviços Florestais fran- fissional dos espaços florestais.
ceses, juntamente com técnicos e dirigentes da maior união de Acreditamos que as ZIF são o melhor caminho para a gestão con-
cooperativas ligadas à fileira do pinho na região de Aquitane (Alliance junta e integrada das centenas de milhares de propriedades de pe-
Forêst Bois), representantes da indústria e grupos de investigadores quena dimensão.
no âmbito do projeto REPHRAME. Foi recebida também a visita da A floresta portuguesa, embora maioritariamente privada, é um bem
Task Force (grupo de trabalho da Comissão Europeia) do nemátodo público, pois tem funções públicas e, como tal, o apoio público a
da madeira do pinheiro e dois grupos distintos da Coreia do Sul, estes territórios é devido pela Sociedade e pelo Estado, que dela
um por intermédio da Korea Press Foundation e outro grupo cons- usufruem.

60 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


Estudo de Caso Tema de Capa

Estudo de Caso
A gestão florestal sustentável
e certificação florestal
Localização do Baldio de Ansiães Inquirições do ano de 1220, de D. Afonso II, e que
refere Ansiães ligada precisamente à vizinha fre-
A freguesia de Ansiães fica situada na vertente oci- guesia de Aboadela.
dental da serra do Marão, fazendo fronteira com Nas inquirições de D. Afonso III (1258) já aparece
o distrito de Vila Real, desde a zona do Alto do Es- como “Parrochia Sancti Pelaji de Ansians” (paró-
pinho até às proximidades do ponto mais alto da J. Arménio Miranda* quia de S. Paio de Ansiães), em que o Pároco Es-
serra (Senhora da Serra). Presidente tevão Martinez declarou que “… todos os homens
Com uma área de cerca de 26,43 quilómetros qua- do Conselho Directivo que moram na mesma paróquia são foreiros do
dos Baldios de Ansiães
drados é a maior freguesia do concelho de Ama- rei, e a mesma igreja fica na mesma herdade fo-
rante, integrando actualmente o distrito do Porto. reira e os homens abadaram (isto é, proveram de
Faz fronteira a nascente com a freguesia da Campeã, distrito de abade) a mesma igreja com o mesmo clérigo que agora é abade,
Vila Real, a Sul com a freguesia da Teixeira, do concelho de Baião, e o arcebispo de Braga confirmou-o e disse que nunca na mesma
a poente com a freguesia de Candemil e a Norte com a freguesia igreja houve um clérigo confirmado senão nestes últimos cinco
de Aboadela, ambas do mesmo concelho de Amarante. anos e os homens de Ansiães são foreiros e colocaram o mesmo
clérigo na mesma igreja como abade.”
Da leitura deste documento, que é o mais antigo que encontrei a
referir Ansiães como Paróquia, podemos concluir que, por alturas
de 1250, já possuía igreja com abade sustentado pelos homens de
Ansiães e pertencia ao Arcebispado de Braga.
Para o conhecimento histórico é também relevante a referência a
uma das actas mais importantes da Junta de Paróquia de Ansiães
que tive oportunidade de consultar, a de 17 de Janeiro de 1874.
A propósito da aplicação da Lei da Desamortização, de 28 de Agosto
de 1869, que previa a venda de parte dos baldios que não fossem
necessários às populações, é descrito o baldio de Ansiães. No en-
tanto, o baldio de Ansiães manteve-se intacto até aos nossos dias,
apesar de a angústia das pessoas da época ser a de que, com a lei
da desamortização, pudessem ficar sem o seu baldio.
Os receios manifestados nessa altura a propósito da aplicação da
citada Lei da Desamortização tinham razão de ser, pois começou
aqui o grande assalto aos terrenos baldios por todo o País, princi-
palmente no Sul. Basta dizer que, em Portugal Continental, em
meados do século XIX, a área total de terrenos baldios era de cerca
de 4 milhões de hectares, portanto, quase metade da área conti-
nental. Em 1940, passados cerca de cem anos, feito o reconheci-
mento dos baldios existentes, verificou-se que a sua área estava
Área do Baldio de Ansiães
fora dos limites da Freguesia Freguesia de Ansiães Baldio de Ansiães reduzida a cerca de 500.000 hectares, a maior parte dos quais no
Norte de Portugal. Esta situação manteve-se quase inalterada até
aos nossos dias, pois o Estado Novo, ao tomar posse dos baldios
História em 1938, proibiu a sua venda.
Foi suspensa a apropriação legal dos baldios por particulares, no-
Desde a fundação de Portugal, os primeiros reis referiam os baldios tando-se a partir daí que o Estado Novo iria mais tarde ou mais cedo
nos forais, “(…) não para os criarem ou institucionalizarem, mas re- querer geri-los, como aconteceu, em 1938, com a publicação da
conhecendo a sua existência anterior e que devia ser respeitada na “Lei do Povoamento Florestal”. Esta lei impunha a florestação, qual-
forma dos usos e costumes” (Gama Barros, citado por Jaime Gra- quer que fosse o tipo de situação jurídica dos baldios e desde que
lheiro). estes fossem próprios para a floresta. Dessa florestação ainda restam
Sobre Ansiães o documento mais antigo a que tive acesso foi o das significativos exemplos, nomeadamente os que aqui identificamos

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 61


Tema de Capa Estudo de Caso

(Fotografia n.º 1). Além disso, à medida que iam sendo florestados, Para os baldios de pequena dimensão será necessária a associação
os baldios passavam para a posse do Estado sendo, por assim dizer, com baldios próximos, criando unidades de gestão sustentável. Os
nacionalizados. de maior área terão de encontrar novas formas de utilização, mas
Em Janeiro de 1976 foram publicados os Decretos-lei n.º 39/76 e sem esquecer que, uns e outros, para permitirem a sobrevivência
40/76 que devolveram os baldios às comunidades que os tinham das respectivas comunidades, terão de criar emprego local. Ou nos
possuído desde tempos imemoriais. De acordo com Jaime Gra- adaptamos às rápidas mudanças da economia dos nossos dias, ou
lheiro “(…) ao longo dos tempos, e desde sempre, as leis 39/76 e corremos o risco de muitos baldios desaparecerem.
40/76, são os primeiros diplomas legais que expressamente se E se algumas utilizações tradicionais dos baldios foram postas de
põem ao lado das populações rurais serranas, contra os abusos do lado, devido às alterações verificadas no nosso mundo rural, há
poder central, do poder local, (autarquias) e da ganância dos grandes ainda muitas potencialidades que, se bem aproveitadas, podem
senhores”. Segundo estas leis, as comunidades com baldios teriam criar novos usos susceptíveis de fixar gente nas suas aldeias de
de se organizar em assembleias de compartes para poderem re- montanha.
cuperar a posse e gestão dos seus baldios. Em resumo, não podemos esquecer que se os nossos baldios não
Aquando da constituição da assembleia de compartes do baldio de forem fonte de desenvolvimento local, os “Compartes” cada vez
Ansiães foi tomada a decisão de optar pela alínea b) do artigo 9.º estarão menos mobilizados e disponíveis para a sua defesa.
do Decreto-lei n.º 39/76, de 19 de Janeiro, assumindo a co-gestão Não esqueçamos ainda que temos a enorme responsabilidade de
com o Estado. transmitir às gerações vindouras, se possível mais rico e mais de-
Foto: JAC © senvolvido, este bem que os nossos antepassados nos legaram, por
vezes com tanto sacrifício.
Pela preservação futura deste espaço, em termos sociais, econó-
micos e políticos, entendemos como de importância significativa
a gestão florestal sustentável e a certificação florestal.

A opção pela Certificação Florestal


em Forestry Stewardship Council (FSC)

Na assumpção da importância estratégica da certificação florestal


da sua área e da sua gestão, o Conselho Directivo do baldio de An-
siães, enquanto sua entidade gestora, decidiu dar início ao processo.
Com o andamento do mesmo e tendo em conta as mais recentes

Foto: JAC ©
Fotografia n.º 1 Exemplares de Pinus sylvestris L. do início do povoamento
florestal

Os serviços florestais, enquanto representantes do Estado, nos anos


que se seguiram a Abril de 1974, continuaram a funcionar com toda
a normalidade, cumprindo todas as tarefas de acompanhamento
técnico, de vigilância, de investimento em novas áreas, etc.
Os problemas começaram a avolumar-se à medida que o século
XX caminhava para o fim, mercê das erradas políticas florestais que
foram tomadas pelos sucessivos Governos, sendo a machadada
final a extinção do corpo de guardas florestais, naquilo que se pode
considerar um dos maiores erros cometidos pela Administração
Pública no tocante à gestão das matas comunitárias.
Pelo lado das comunidades locais também a situação não é risonha.
Com a diminuição acelerada da população residente e o abandono
da agricultura tradicional, as necessidades de utilização dos baldios
também diminuíram. Perante esta situação, que em muitos casos
ainda se pode agravar, cabe perguntar qual vai ser o futuro de muitas
das nossas aldeias serranas e dos seus baldios.

Perspectiva presente e futura: a sustentabilidade


dos baldios nas comunidades locais

Para encontrar possíveis soluções temos de ver que há realidades


Fotografia n.º 2 Exemplares de Pseudotsuga menziesii (Mirb.) Franco do
muito distintas no que aos baldios diz respeito. início do povoamento florestal

62 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


Estudo de Caso Tema de Capa

› Ausência de defesa na identificação de valor acrescentado nas

Foto: JAC ©
novas utilizações de material lenhoso;
› Ausência de identificação de modelos de produção rentáveis
para as espécies florestais, nomeadamente as que serão o pilar
do investimento florestal das próximas décadas;
› Valor da multifuncionalidade da floresta não estabilizado;
› Qualidade do material lenhoso colocado no mercado;
› Inovação e demonstração minimalistas;
› Ausência técnica no terreno.
Estes constrangimentos necessitam de ser minimizados, utilizando
para isso uma postura de acção interventiva nas seguintes áreas:
› Incremento da produtividade média e promoção de valor acres-
centado mais precoce;
› Maior presença técnica no terreno com profissionalização das
intervenções produtivas;
Fotografia n.º 3 Vista parcial do baldio de Ansiães › Incrementar os apoios em áreas diversificadas, deixando “cair” a
exclusividade florestal dos apoios existentes.
evoluções na sua gestão, nomeadamente a tomada de decisão, na
Assembleia de Compartes realizada em finais de 2016, de saída do No entanto não podemos deixar de assumir que, sendo a rentabi-
regime de co-gestão com o Estado, identifica-se como um dos lidade das áreas comunitárias essencial para a sua sustentabilidade
desafios dos próximos tempos. Assumindo a certificação o estatuto económica, a conseguir através da exploração óptima dos seus
de desígnio florestal nacional entendemos ser premente a sua con- múltiplos recursos assim como de uma gestão atempada dos seus
cretização, até porque para os apoios decorrentes dos quadros activos, a floresta terá sempre lugar numa opção racional e assu-
comunitários, quer actual quer futuros, deverá ser condicionante mida. A importância da sua gestão activa, nomeadamente para com
de acesso. a manutenção desta tipologia de propriedade, continuará a ser im-
Entendemos como grandes objectivos da certificação florestal, para portante em percentagem significativa da sua área. Em conjunto
além do cumprimento específico do respectivo normativo, poder deveremos ter em conta que, sempre que as condições externas
sustentar e promover a manutenção do equilíbrio da biodiversidade o permitam, poderemos evoluir para uma complementaridade e
dos ecossistemas, de forma a proporcionar uma eficaz incorpo- evolução na multifuncionalidade ocupacional, na essência de uma
ração na gestão florestal. alavancagem da certificação florestal sustentável.
O baldio assume a defesa das espécies florestais autóctones e na- Este baldio pretende, com a assumpção da certificação em FSC,
turalizadas para além de certas exóticas (Fotografia n.º 2) que cum- poder proporcionar uma evolução na dinâmica de entendimento da
prem com papéis multifacetados no domínio da silvicultura. A bio- valia da incorporação da certificação em territórios comunitários,
diversidade é potenciada actualmente, e assim o deverá continuar sempre numa perspectiva de valorização sustentável, assim como
a ser, de forma a assumir evidência positiva em termos de retornos da dinamização nas tomadas de decisão por parte dos compartes.
económicos. Nesta perspectiva e perante a actual utilização de A decisão de avançar para a certificação em FSC vai ao encontro
boas práticas na implementação das operações, situação que mi- da posição da entidade gestora, a qual tem vindo a ser validada pela
nimiza eventuais impactes negativos associados às actividades flo- Assembleia de Compartes, nomeadamente na defesa de que a sus-
restais, promover-se-á assim o equilíbrio dos ecossistemas. tentabilidade do espaço comunitário apenas se conseguirá com
No fomentar do uso-múltiplo da floresta, através de uma flores- investimento sustentável, em conhecimento, em dinâmicas de
ta de produção lenhosa, floresta energética (aproveitamento de gestão e em recursos humanos, para além do investimento puro,
biomassa residual), floresta de conservação, apicultura, sistemas o qual continua a ser necessário.
agro-silvo-pastoris, fungos silvestres, aromáticas, frutos silvestres, Os baldios são áreas que precisam de incorporação de inovação,
agricultura biológica, serviços do ecossistema, turismo de biodi- tendo sempre respeito pelo espaço comunitário e pela essência da
versidade e cultural, energias renováveis e extração de inertes, es- sua gestão. Tais espaços são modernos e mantêm-se actuais, não
tará o caminho. estivéssemos nós numa Europa Comunitária.
Assumimos o desenvolvimento sustentável como um processo di-
rectamente dependente do equilíbrio entre a sustentabilidade am-
biental, a sustentabilidade económica e a sustentabilidade social. Bibliografia

Enquanto considerado de uma forma isolada, o activo florestal é › Inquirições de D. Afonso II (1220) e D. Afonso III (1258)
algo que, apesar de representar um potencial para apoiar a susten- › Actas da Junta da Paróquia de Ansiães (1867 a 1938)
tabilidade, se depara com condicionantes que colocam em causa › Comentários à(s) lei(s) dos baldios – Jaime Gralheiro
não só a sua importância no processo, mas também a sua própria › “Florestas Públicas” – Francisco Castro Rego (D.G.F., 2001)
sustentabilidade. › “(Re)Pensar o Marão” – Arménio Miranda, Nicolau Ribeiro, Paula Peliteiro

Podemos identificar seis constrangimentos que necessitam de ser


combatidos: *Nota: o autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 63


Colégios

Especialidades e Especializações Verticais

Engenharia CIVIL .................................................................................................... 64 Engenharia NAVAL ................................................................................................ 70


Engenharia ELETROTÉCNICA ................................................................... 65 Engenharia GEOGRÁFICA ............................................................................. 72
Engenharia MECÂNICA .................................................................................... 67 Engenharia AGRONÓMICA .......................................................................... 75
Engenharia GEOLÓGICA E DE MINAS .............................................. 68 Engenharia de MATERIAIS ............................................................................ 77
Engenharia QUÍMICA E BIOLÓGICA .................................................. 69 Engenharia do AMBIENTE ............................................................................ 80

Especializações HORIZONTAIS
Especialização em

ENGENHARIA ALIMENTAR ......................................................................... 82 ENGENHARIA E GESTÃO INDUSTRIAL ........................................... 84


ENGENHARIA DE CLIMATIZAÇÃO ...................................................... 82 GEOTECNIA ................................................................................................................ 84
ENGENHARIA DE SEGURANÇA .............................................................. 83 SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA ............................. 84

Especialidades e Especializações Verticais

Colégio Nacional de
Engenharia Civil
Paulo Ribeirinho Soares › p@ribeirinhosoares.pt

• Engenheiros visitam obra de remodelação do Hotel do Bairro Alto » ver secção Regiões » SUL
Iniciativas Regionais
• Visita à obra do novo Hotel Savoy » ver secção Regiões » MADEIRA

Especialidades e Especializações Verticais

Colégio Nacional de
Engenharia Eletrotécnica
Luis Filipe Cameira Ferreira › luis.cameiraferreira@gmail.com

APREN: Conferência e Anuário


A APREN – Associação Portuguesa de Ener- venções de alguns dos principais especia-
gias Renováveis irá realizar no dia 25 de ou- listas da área das energias renováveis, a nível
tubro a sua conferência anual, na Fundação nacional e internacional. Decorrerá também
Champalimaud, em Lisboa, subordinada ao a cerimónia de atribuição do Prémio APREN
tema “Eletricidade Renovável: Inovação e 2017, iniciativa que visa divulgar dissertações MW, 44 grandes centrais hídricas, totalizando
Tendências”. O evento contará com inter- académicas relacionadas com eletricidade 5.794 MW, 98 pequenas centrais hídricas,
de origem renovável. representando 369 MW, 19 centrais solares
A edição de 2017 do Anuário APREN já está fotovoltaicas, num total de 88 MW, e duas
disponível. A publicação pretende mostrar centrais geotérmicas com 29 MW. Estes
o que se passou em Portugal, no setor da dados correspondem a um total de 404
produção de eletricidade com origem em centrais renováveis com uma potência de
fontes de energia renovável, em 2016. São 11.552 MW, o universo APREN, o qual abrange
apresentadas cinco centrais a biomassa, to- 93% da potência renovável instalada.
talizando 209 MW, uma central de ondas
de 0,3 MW, 236 centrais eólicas com 5.063 • Mais informações disponíveis em www.apren.pt

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Colégios

Colégio Nacional de Engenharia ELETROTÉCINA

Engineering Day 2017 e experiências ao encontro de novas ideias e ta-


lentos que lancem Portugal na rota do conheci-
O Engineering Day é um evento nacional, realizado mento avançado na área da Engenharia.
pela secção portuguesa do IEEE, que reúne diversas personalidades Esta iniciativa contará com um conjunto de palestras e apresenta-
a nível nacional com interesse comum na área da Engenharia. Terá ções, destinadas principalmente a docentes e investigadores do
lugar no Instituto  Superior de Engenharia de Lisboa, a 24 de no- Ensino Superior, indústria e a alunos finalistas dos cursos de Enge-
vembro, e contará com um ambiente de partilha de conhecimento nharia.

Colégio Nacional de Engenharia ELETROTÉCINA

Visita ao projeto InovGrid da EDP Distribuição


O Colégio Nacional de Engenharia Eletrotécnica da Ordem dos
Engenheiros promoveu no dia 20 de julho uma visita ao projeto
InovGrid da EDP Distribuição. Este projeto é a resposta da EDP Dis-
tribuição para as soluções de implementação de smart grids. Trata-
-se de um projeto de referência mundial selecionado pela JRC
como “The single reference project for the JRC report on Guide-
lines for conducting a cost-benefit analysis of Smart Grid projects”.
As smart grids visam dotar a rede elétrica de informação e de equi- Esta ação, que para além das questões profissionais que lhe estão
pamentos capazes de automatizar a gestão das redes, melhorar a associadas permite momentos de socialização, partilha de expe-
qualidade de serviço, diminuir os custos de operação, promover a riências e debate entre colegas da Especialidade, insere-se no mo-
eficiência energética e a sustentabilidade ambiental, potenciar a vimento que o Colégio de Engenharia Eletrotécnica tem desenvol-
penetração das energias renováveis e do veículo elétrico. Irão dotar vido no sentido de abordar e discutir temas como as energias re-
os consumidores e os operadores da rede elétrica de informação nováveis, as smart cities e smart grids, a mobilidade elétrica e o
importante para a tomada de decisões e a inserção de equipa- incentivo ao transporte público clean e o armazenamento de energia.
mentos complementares que permitam automatizar a gestão da Estas iniciativas permitem igualmente o contacto dos colegas da
rede, melhorar a qualidade de serviço e diminuir os custos opera- Especialidade com este tipo de laboratórios vivos na área da En-
cionais. É neste contexto que muitos países terão de apostar nestas genharia Eletrotécnica, como é o caso do InovGrid da EDP Distri-
soluções para tornar as suas economias cada vez mais sustentáveis. buição.

Colégio Nacional de Engenharia ELETROTÉCINA

Visita ao Hospital da Luz No laboratório de arritmologia, com o Prof. Pedro Adragão, foi pos-
sível perceber como se entreligam a medicina convencional e as
O reconhecimento da importância que a Engenharia tem hoje no novas tecnologias, com especial ênfase para o sistema de nave-
campo da Saúde levou o Colégio de Engenharia Eletrotécnica a pro- gação magnética cardíaca (Stereotaxis), cujos cateteres de elevada
mover, no dia 19 de julho, uma visita ao Hospital da Luz, em Lisboa. flexibilidade permitem uma cateterização muito mais segura e com
A visita foi coordenada pelo Eng. Valdemiro Líbano Monteiro, Enge- menor exposição à radiação. Por esta razão, a navegação magné-
nheiro Eletrotécnico responsável pelas obras, equipamentos e sis- tica é aceite como a tecnologia preferencial não só para as tera-
temas médicos. Foi feita uma apresentação sobre os princípios físicos pêuticas por ablação, mas também para o diagnóstico e tratamento
da TAC (Tomografia Axial Computorizada), ferramenta de elevado de outras doenças car-
potencial na aquisição e tratamento de imagem, onde se conjugam diovasculares. Uma sim-
a eletrónica e a mecânica de precisão. Baseado em raio-x, este equi- biose entre Engenharia e
pamento transformou muito a imagiologia médica, fornecendo vi- Medicina.
sualizações tridimensionais de órgãos ou regiões do corpo. Por fim, na sala de bron-
Assistiu-se a uma apresentação do Dr. Kris Maes sobre o sistema coscopia, uma colega de
robótico DaVinci – a ideia de um doente ser operado por um robô Engenharia Biomédica fez
está a tornar-se cada vez mais comum. Um sistema eletromecâ- uma apresentação sobre
nico de precisão permite, em cirurgia laparoscópica, aumentar a um endoscópio que se
precisão do movimento no acesso à cavidade abdominal. Como encontrava aberto, de modo a evidenciar a sua complexidade, tanto
realçou o Dr. Kris Maes, também na cirurgia robótica é o cirurgião do ponto de vista de processamento de imagem, como de mecâ-
quem opera, comandando os movimentos dos braços do sistema nica e de tipo de materiais.
robótico a partir de uma consola remota. O evento encerrou com um debate muito participado.

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 65


Colégios

Colégio Nacional de Engenharia ELETROTÉCINA

Sessão “Os Engenheiros Eletrotécnicos e o Presente e o Futuro


das Instalações ITED/ITUR”
O Colégio de Engenharia Eletrotécnica participa numa Comissão
de Acompanhamento, em conjunto com a ANACOM e outras en-
tidades, no sentido de concretizar as qualificações técnicas mínimas
para o exercício da atividade de Projetista e Instalador ITED e Pro-
jetista e Instalador ITUR, o que induz,
naturalmente, a Ordem dos Engenheiros
(OE) a ser proativa e, nesse sentido, pro- Abriu a sessão o Bastonário da OE, Eng. Carlos
mover a contínua adequação da legis- Mineiro Aires, tendo participado ativamente os
lação às boas práticas que a Engenharia Engenheiros Jorge Liça, José Freitas, João
recomenda. Cristóvão e Rui Ferreira, da ACIST e da ANACOM,
Neste contexto, e à semelhança de idênticas iniciativas sobre ou- que, através das suas intervenções, espevitaram um debate final que
tros temas, o Colégio organizou, no dia 20 de junho, uma sessão- permitiu enquadrar a realidade atual do ITED/ITUR e respetivas pers-
-debate associada à problemática ITED/ITUR. A sessão centrou-se petivas futuras.
no regime jurídico aplicável, designadamente o Decreto-Lei n.º O debate culminou com uma intervenção do Deputado Pedro Fi-
123/2009, de 21 de maio, com a redação dada pela Lei n.º 47/2013, lipe Soares, que se encontrava na plateia e pretendia sumarizar os
de 10 de julho, e pelo Decreto-Lei n.º 53/2014, de 8 de abril. desafios em termos de regulação desta atividade.

Colégio Nacional de Engenharia ELETROTÉCINA

Grupo de Trabalho “Lítio” – Despacho n.º 15040/2016 de SEE


O relatório do Grupo de Trabalho “Lítio” já se encontra disponível no sítio da Internet da DGEG, em www.dgeg.pt. De acordo com o docu-
mento, “com a procura crescente do lítio, a reciclagem de produtos em fim-de-vida, nomeadamente das baterias de iões-Li, é fundamental
para a implementação de um sistema de Economia Circular do lítio. Esta abordagem tornar-se-á estratégica com a crescente procura por
veículos elétricos. Atualmente a maioria dos processos de reciclagem deste tipo de baterias estão mais focados na recuperação de outros
metais (como o cobalto e o níquel), mas os processos futuros terão que encarar a recuperação do lítio como um objetivo prioritário.”

Colégio Nacional de Engenharia ELETROTÉCINA

Fim das tarifas de roaming e acesso livre à Internet previstos para 2017
As várias instituições europeias – Comissão Europeia, Parlamento Europeu e o Conselho da União Europeia – chegaram a acordo para
o fim das tarifas de roaming no espaço europeu e sobre o acesso livre à Internet. Assim, a partir de 15 de junho de 2017, o preço das
chamadas em roaming tem o mesmo preço por chamadas, mensagens e dados móveis que pagam nos países de origem. No entanto,
tendo em consideração uma política de fair use, os operadores poderão aplicar uma sobretaxa de roaming uma vez esgotados os vo-
lumes incluídos na fair use policy.

Colégio Nacional de Engenharia ELETROTÉCINA

Maior parque solar da Europa arranca em Alcoutim


Portugal tem realizado uma aposta muito uma capacidade instalada de 220 megawatts,
forte em fontes de energia renovável, que já nas freguesias de Vaqueiros e Martinlongo,
representaram mais de 55% do total do con- concelho de Alcoutim, distrito de Faro. Este
sumo do ano de 2016. No mesmo ano, a será o maior parque solar da Europa, desta
produção de energia renovável em Portugal dimensão, sem tarifa subsidiada e que onere
a partir da energia solar representou 1,4% do 2.200 e 3.000 para Portugal e, por exemplo, a fatura dos consumidores finais, em linha
total do consumo nacional, sendo Portugal entre 1.200 e 1.700 horas na Alemanha. com as novas orientações da política ener-
um dos países da Europa com maior dispo- É enquadrado na estratégia de um maior gética nacional. É um dos primeiros projetos
nibilidade de radiação solar. Uma forma de aproveitamento da radiação solar para pro- que a politica energética nacional quer ala-
dar ideia desse facto é em termos do número dução de energia elétrica que nasce o novo vancar para tirar partido do potencial que
médio anual de horas de Sol, que varia entre projeto da central fotovoltaica Solara4, com Portugal apresenta para a energia solar.

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Colégios

Colégio Nacional de Engenharia ELETROTÉCINA

Projeto da EDP junta água e sol na produção de eletricidade


É uma combinação de energia solar com energia hídrica. São 840
painéis fotovoltaicos, semelhantes aos que se usam para produzir
energia solar em casa. Têm a singularidade de estarem instalados
numa plataforma flutuante que ocupa 2.500 m2 numa barragem
para produção hidroelétrica.
Para já, ainda é apenas um projeto piloto, inédito na Europa, mas,
se os resultados no primeiro ano de operação confirmarem as ex-
petativas, a combinação das duas formas de produção de energia
poderá ser reproduzida em outras albufeiras, admite o Presidente
da EDP Produção, Rui Teixeira. centrais fotovoltaicas do País, na Amareleja, arrancou com 46 me-
A título de exemplo, se 5% da área das albufeiras exploradas pela gawatts de capacidade. No entanto, Rui Teixeira assinala que os
EDP em Portugal fosse ocupada por painéis fotovoltaicos o País 1.000 megawatts servem apenas de indicador de referência para
teria uma potência instalada de 1.000 megawatts. Uma das maiores comparação e não um objetivo para o desenvolvimento futuro.

Colégio Nacional de Engenharia ELETROTÉCINA

Estrada em França com painéis solares


França inaugurou a primeira estrada solar do Mundo, denominada
Wattway e capaz de produzir energia para iluminar uma cidade de
5.000 habitantes. Para já, com apenas um quilómetro de distância,
pouco mais sendo que o trecho de uma via já existente, esta pode
vir a ser, no entanto, mais uma solução na captação de energia de
fontes renováveis. Composta por 2.800 m2 de painéis fotovoltaicos
e com um custo a rondar os cinco milhões de euros, a Wattway
entra agora numa fase de testes, durante um período de dois anos,
prevendo-se que possa vir a produzir qualquer coisa como 280 nação pública da cidade de Tourouvre, na região da Normandia,
MWh por ano. Ou seja, energia suficiente para abastecer a ilumi- onde vivem cerca de 5 mil pessoas.

Especialidades e Especializações Verticais

Colégio Nacional de
Engenharia Mecânica
Gonçalo Manuel Fernandes Perestrelo › gfperestrelo@gmail.com

21st International Colloquium Tribology


aditivos; Tribologia
e lubrificação au-
Melhorar a eficiência e a durabilidade das brificantes e aditivos mais modernos têm tomotiva; Tribolo-
máquinas através do controlo do atrito e do de ser adaptados aos novos materiais, tendo gia de elementos
desgaste está a ter uma enorme e crescente igualmente de passar a ser considerados de máquinas e tribologia industrial; Moni-
importância nas mais modernas aplicações como critérios de projeto. torização de condições; Ciência dos mate-
industriais. Novas e rigorosas legislações O 21.º Colóquio Internacional de Tribologia, riais e superfícies; Fundamentos da tribo-
ambientais obrigam as empresas a aumentar como uma das maiores conferências inter- logia; Tribologia computacional; Testes tri-
a eficiência dos produtos para cumprir com nacionais nos domínios da Tribologia, tem bológicos.
cargas mais elevadas, viscosidades mais por objetivo proporcionar um fórum para o O Colóquio decorre entre 9 e 11 de janeiro
baixas e restrições nos ingredientes dos lu- intercâmbio técnico-científico entre os fa- de 2018, em Estugarda, na Alemanha.
brificantes. Para atender a esta procura de bricantes de lubrificantes e aditivos, fabri-
forma eficiente torna-se necessário realizar cantes de componentes, fornecedores, or- • Mais informações disponíveis em
uma combinação inteligente das metodo- ganizações de investigação e universidades. www.tae.de/kolloquien-symposien/tribologie
logias de projeto, dos novos materiais e dos Nesta próxima edição serão abordados os -reibung-verschleiss-und-schmierung/
lubrificantes e aditivos mais modernos. Lu- seguintes temas principais: Lubrificantes e international-colloquium-tribology

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 67


Colégios

Colégio Nacional de Engenharia MECÃNICA

EMMC16 – 16th European Mechanics of Materials Conference


A EMMC16 decorrerá entre os dias 26 e 28 de março de 2018, em
Nantes, França, organizada sob os auspícios da European Mecha-
nics Society. A conferência pretende reunir investigadores com in-
teresses comuns na mecânica dos materiais ou em diferentes do-
mínios (Engenharia Mecânica ou Civil, Biomecânica, Geofísica, etc.).
Daí que as contribuições possam vir a incluir investigações expe-
rimentais, modelos teóricos e métodos computacionais avançados nica de polímeros, de compósitos, de metais, de dano, fadiga e
com vista a uma melhor compreensão da mecânica de materiais fratura, de contacto, fricção e desgaste.
a várias escalas.
Referem-se, entre outros, os seguintes tópicos a abordar: mecâ- • Mais informações disponíveis em https://emmc16.sciencesconf.org

• Visita técnica à ETAR da Guia » ver secção Regiões » SUL


Iniciativas Regionais
• Região Sul debate proteção contra incêndios » ver secção Regiões » SUL

Especialidades e Especializações Verticais

Colégio Nacional de
Engenharia Geológica e de Minas
Teresa Burguete › teresa.burguete@gmail.com

Grupo de Trabalho “Lítio” minerais de lítio existentes em Portugal,


suportado pelo levantamento do “estado
Em finais de 2016 foi criado o Grupo de Tra- dezembro de 2016). Segundo o Relatório da arte” do conhecimento existente no
balho “Lítio”, “para identificação e caracte- deste Grupo de Trabalho, a sua missão centra- País sobre a viabilidade técnica do pro-
rização das ocorrências do depósito mineral -se em: cessamento e metalurgia para a valori-
de lítio no nosso País, bem como das res- › Identificar e caracterizar as ocorrências zação dos minérios nacionais com vista
petivas atividades económicas de revelação dos depósitos de minerais de lítio e as à produção de compostos de Li;
e de aproveitamento, das ações que contri- atividades económicas de revelação e de › 
Propor medidas que fundamentem a criação
buam para dinamizar estas atividades, bem aproveitamento a ele associadas; de unidade de processamento e benefi-
como para avaliação da possibilidade de › Estabelecer uma hierarquia de prioridades ciação específica para estes minerais.
produção de lítio metal em unidade de pro- e tendências de utilização industrial desse
cessamento e beneficiação específica para recurso, procurando a maximização do Até 8 de julho este Relatório esteve dispo-
este mineral” (Despacho n.º 15040/2016, benefício económico; nível, no website da DGEG, para consulta
publicado no Diário da República de 13 de › Definir um programa de valorização dos pública, comentários e sugestões.

Colégio Nacional de Engenharia GEOLÓGICA E DE MINAS

Áreas mineiras abandonadas, uma oportunidade


para desenvolvimento sustentável com energias renováveis
As áreas mineiras abandonadas, como opor- condições especiais proporcionadas pelas trais fotovoltaicas implementadas nas áreas
tunidade para implementação de sistemas infraestruturas mineiras – áreas de grande abandonadas das minas de Questa (Estados
de energias renováveis, podem viabilizar o dimensão com acessos rodoviários e linhas Unidos da América), Meuro (Alemanha) e
desenvolvimento sustentável nessas regiões. de energia elétrica dedicadas, são um con- Sullivan (Canadá).
No passado, devido a questões relacionadas tributo para alterar aquela condição. A energia eólica é outra opção que também
com segurança e ambiente, a maioria da- A energia solar é um recurso renovável que já se encontra implementada em regiões
quelas regiões não era elegível para revita- tem impactes ambientais menores e é uma mineiras abandonadas.
lização, permanecendo abandonadas. Os forma de diversificar as opções energéticas. Em publicação recente (Choi & Song, 2016)
projetos de energia solar, aproveitando as Podem referir-se como exemplos as cen- foi apresentado um estudo sobre o potencial

68 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


Colégios

de uma instalação de energia fotovoltaica na compra e prepara a sua reabertura. Como neiro lançou, em julho de 2017, uma con-
barragem de rejeitados na mina de Sandong, curiosidade, a Almonty Industries é também sulta informal ao mercado para a implemen-
Coreia do Sul. Esta mina, um dos maiores a detentora da empresa que explora atual- tação de projetos de centrais fotovoltaicas
depósitos de tungsténio do Mundo, fechou mente a Mina da Panasqueira (www.almonty. em áreas mineiras reabilitadas (informação
em 1992 e cerca de 20 anos mais tarde, em com). disponível no website da empresa, em http://
2015, a Almonty Industries concluiu a sua A EDM – Empresa de Desenvolvimento Mi- edm.pt).

Colégio Nacional de Engenharia GEOLÓGICA E DE MINAS

As maiores trilobites do Mundo


Reconhecido pela UNESCO como Património Mundial, o Centro de Investigação e Inter-
pretação Geológica de Canelas-Arouca é conhecido internacionalmente pela recolha, in-
ventariação e exposição das maiores trilobites do Mundo. Este é um exemplo de como a
cooperação entre a indústria extrativa, a ciência e a educação, pode prestar um serviço
educativo e promover o turismo científico (www.cigc-arouca.com).

Iniciativas Regionais • Contribuições dos resíduos mineiros para a Economia Circular » ver secção Regiões » SUL

Especialidades e Especializações Verticais

Colégio Nacional de
Engenharia Química e Biológica
Manuel Fernando Ribeiro Pereira › fpereira@fe.up.pt

Como pode a indústria química europeia ter um balanço neutro


em carbono no ano 2050 › Disponibilidade de matérias-primas alternativas (por exemplo,
No dia 19 de julho foi publicado um novo estudo da DECHEMA (so- matérias-primas de base biológica, CO2 ou emissões gasosas
ciedade alemã para Engenharia Química e Biotecnologia), promo- industriais);
vido pelo Conselho Europeu da Indústria Química (CEFIC, na sigla › Uma estrutura fiscal facilitadora para modernizar instalações e
em Inglês), com o título “Low carbon energy and feedstock for the equipamentos obsoletos ou construir novas fábricas;
European chemical industry”, que tem como objetivo discutir como › Apoio governamental ou público-privado para o scale-up de
a indústria química se pode tornar neutra em termos de carbono tecnologias e compartilhar o risco de investimento para tecno-
em 2050. O estudo foca-se nos principais processos de produção logias disruptivas ou de alto risco;
em grande escala a montante (amónia, metanol, etileno, propileno, › Inovação e investigação em novas tecnologias químicas que
cloro e os aromáticos benzeno, tolueno e xileno), que representam ajudem a superar estes desafios;
cerca de 2/3 de todas as emissões de gases com efeito de estuda › Modelos empresariais para promover a colaboração intersetorial
do setor químico. Este relatório surge na sequência da ambição da para encontrar formas sustentáveis de reutilização do CO2.
indústria química em ter um papel de liderança na transformação
da economia europeia para baixo teor de carbono, e tendencial-
DR

mente circular, criando soluções inovadoras para o clima e a energia,


não só para os seus próprios processos, mas também para muitas
outras indústrias através dos produtos químicos que produz.
O estudo da DECHEMA analisa as opções tecnológicas disponíveis
para a indústria química e descreve as condições necessárias para
facilitar a transição da indústria química europeia para a neutrali-
dade em carbono. Para além de dar uma visão geral completa de
todas as tecnologias disponíveis para os principais processos quí-
micos, descreve o que é necessário fazer para remodelar a base
industrial que conhecemos hoje na Europa, num mundo com grande
disponibilidade de gás de xisto e baixos preços do petróleo:
› Eletricidade com baixo teor de carbono em volumes muito
maiores e a preços competitivos;

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 69


Colégios

De acordo com a DECHEMA, a indústria química já reduziu para dade numa economia circular na Europa é um desafio significativo,
metade a sua intensidade energética e as emissões de gases com que não pode ser resolvido pela indústria por conta própria.
efeito estufa desde 1990, mas a produção de produtos químicos
continua a ser um dos processos industriais mais intensivos em • O estudo está disponível em www.cefic.org/Documents/RESOURCES/
energia. Reports-and-Brochure/DECHEMA-Report-Low-carbon-energy-and-
Tornar o setor neutro em carbono, mantendo a sua competitivi- feedstock-for-the-chemical-industry.pdf

Colégio Nacional de Engenharia QUÍMICA E BIOLÓGICA

Observatório da União Europeia para os Nanomateriais


Foi recentemente lançado o Observatório da União Europeia para os Nanomateriais (EUON,

DR
na sigla em Inglês). O EUON é financiado pela Comissão Europeia e está instalado na Agência
Europeia dos Produtos Químicos, a qual assegura também a sua manutenção. No EUON
poderá encontrar informações sobre os nanomateriais existentes no mercado da União Eu-
ropeia, nomeadamente referentes a segurança, inovação, investigação e suas utilizações.
• Mais informações disponíveis em https://euon.echa.europa.eu

Colégio Nacional de Engenharia QUÍMICA E BIOLÓGICA

Resultados do Eurobarómetro sobre segurança dos produtos químicos


Em junho foi publicado um estudo com os embora menos de metade se sinta bem inquérito. A grande maioria (92%) diz ter
resultados do inquérito do Eurobarómetro informada; visto o pictograma de “inflamabilidade”
sobre a opinião pública nos 28 Estados- › As opiniões estão divididas em relação à antes, enquanto mais de seis em dez (63%)
-Membros da União Europeia (UE) relativa segurança de produtos químicos e me- dizem ter visto o pictograma da marca
a produtos químicos. Este inquérito teve tade dos entrevistados pensa que o atual de exclamação. Pouco abaixo da metade
como objetivo compreender a consciência nível de regulamentos e normas deve ser (47%) reconhecem o pictograma de pe-
e a perceção dos cidadãos da UE sobre os aumentado; rigo ambiental, enquanto um em cada
produtos químicos. O estudo inclui com- › Não há consenso sobre quem é – e quem cinco (20%) referem ter visto o pictograma
parações (quando apropriado) com inicia- deve ser – responsável por garantir a se- de perigo para a saúde respiratória.
tivas similares realizadas em 2012 e 2010. gurança dos produtos químicos na UE;
As principais conclusões foram: › Existem vários níveis de consciência e • O estudo completo pode ser consultado em
› A maioria está preocupada com a expo- compreensão dos quatro pictogramas de http://ec.europa.eu/commfrontoffice/
sição a produtos químicos perigosos, perigo químico selecionados para este publicopinion

Colégio Nacional de Engenharia QUÍMICA E BIOLÓGICA

Português vence prémio europeu de jovem mentos orgânicos e revestimentos multifun-


cionais para aplicações de alto desempenho,
cientista em Engenharia Eletroquímica desde indústrias aeronáuticas até marítimas.
A Medalha Carl Wagner de Excelência em
Este ano, a Medalha Carl Wagner de Exce- nacional muito relevante”. João Tedim é In- Engenharia Eletroquímica é atribuída a cada
lência em Engenharia Eletroquímica foi atri- vestigador Auxiliar no CICECO, Departamento três anos pelo Grupo de Trabalho de Enge-
buída a dois laureados: o Doutor Carlo San- de Engenharia de Materiais e Cerâmica da nharia Eletroquímica da Federação Europeia
toro e o Doutor João André da Costa Tedim. Universidade de Aveiro. As suas principais de Engenharia Química (EFCE – sigla em
O júri decidiu compartilhar o prémio entre áreas de trabalho incluem: projeto e síntese Inglês), em que o Colégio de Engenharia
os dois devido às suas “contribuições proe- de aditivos micro e nanoestruturados para Química e Biológica da Ordem dos Enge-
minentes para a investigação em eletroquí- libertação controlada de espécies ativas na nheiros é o represente português, a um in-
mica aplicada ou engenharia eletroquímica, área de proteção contra corrosão, sensori- vestigador europeu com menos de 35 anos
tendo em atenção o número de publicações zação e anti-incrustação; caracterização por contribuições extraordinárias para a in-
(índice h e número de citações), a elevada eletroquímica de processos de corrosão, vestigação em eletroquímica aplicada ou
reputação na área, uma significativa expe- triagem de inibidores de corrosão; e o de- engenharia eletroquímica.
riência pós-doutoral e uma presença inter- senvolvimento e caracterização de revesti- Fonte: www.efce.eu

Iniciativas Regionais • Estará o Homem a medicar o Planeta? » ver secção Regiões » NORTE

70 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


Colégios

Especialidades e Especializações Verticais

Colégio Nacional de
Engenharia Naval
Tiago Alexandre Rosado Santos › t.tiago.santos@gmail.com

Conferência IMAM 2017


Irá realizar-se entre 9 e 13 de outubro, em Lisboa, no Centro de
Congressos do Instituto Superior Técnico, a conferência IMAM 2017.
Esta conferência internacional tem como tema “Desenvolvimentos
no Transporte Marítimo e Exploração de Recursos Marítimos”, mas
o seu âmbito é bastante lato, cobrindo desde áreas técnicas mais
específicas da Engenharia Naval a outras áreas mais abrangentes,
tais como o transporte marítimo, a logística, os recursos energé-
ticos do mar (renováveis e não renováveis), as pescas e aquacultura
e a defesa e segurança. navios de cruzeiro), Prof. Vegard Aksnes (Tendências atuais das es-
A conferência contará com palestras de importantes académicos truturas para aquacultura) e Eng. Lorenzo Pollicardo (Projeto e
e representantes da Indústria, tais como o Prof. Harilaos Psaraftis construção de mega iates).
(Logística marítima verde), Prof. Thanos Pallis (Portos de cruzeiros),
Eng. Fabrizio Cafagna (Últimos desenvolvimentos no projeto de • Mais informações disponíveis em www.imamhomepage.org/imam2017

Colégio Nacional de Engenharia NAVAL

Curso de Engenharia Naval do IST considerado terceiro melhor do Mundo


O prestigiado Academic Ranking of World Universities, publicado
desde 2003 pelo Centro de Universidades de Classe Mundial da Uni-
versidade Jiao Tong de Xangai (China), classificou o curso de Enge-
nharia Naval e Oceânica do Instituto Superior Técnico (IST) em ter-
ceiro lugar na lista dos 50 melhores do Mundo.
Os resultados de 2017, agora publicados, colocam o curso do IST
apenas atrás da Universidade de Jiao Tong (primeiro lugar) e da Norwe-
gian University of Science and Technology (segundo lugar). Com este
lugar, o curso fica à frente de muitas universidades importantes e com
grandes departamentos de Engenharia Naval e Oceânica. equipa de investigadores, bem como da investigação produzida em
Para este resultado muito terá contribuído o elevado investimento consórcio com parceiros internacionais.
de todos os investigadores do Centro de Engenharia e Tecnologia O prestigiado Ranking de Xangai é agora elaborado por especiali-
Naval e Oceânica na produção de artigos científicos nas mais im- dades, baseando a sua ordenação no volume total e na qualidade
portantes revistas da especialidade, a capacidade de adaptação do da investigação produzida. Esta é avaliada através da importância
corpo docente da área científica de Engenharia Naval e Oceânica das revistas onde se publicam os artigos, do número de citações e
a novos problemas e o elevado nível de internacionalização da de outras características deste tipo.

Colégio Nacional de Engenharia NAVAL

Estaleiros WestSea recebem encomenda de navio de cruzeiros


O grupo Douro Azul encomendou à WestSea, estaleiro do Grupo
DR

Martifer situado em Viana do Castelo, um navio de cruzeiros para


expedições à Antártida. O navio representa um investimento de 70
milhões de euros e deverá ser lançado à água em novembro de
2018. Trata-se do primeiro navio oceânico da Douro Azul, até agora
especializada em cruzeiros fluviais.
O navio irá chamar-se World Explorer, terá 126 metros de compri-
mento, 19 metros de boca e um deslocamento aproximado de

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 71


Colégios

O navio irá realizar cruzeiros de expedição

DR

DR
na Antártida, entre novembro e março (época
de verão no hemisfério sul), com partida em
Ushuaia, cidade situada no extremo sul da
Argentina. O navio encontra-se já comple-
tamente fretado pela operadora interna-
cional Quark Expeditions para duas tempo-
radas, iniciando a operação em janeiro de
2019, com opção de extensão por mais duas
9.400 toneladas. Terá capacidade para 200 temporadas. No restante período do ano o como herdeiros da tradição dos Estaleiros
passageiros e 111 tripulantes. Estará equi- navio realizará cruzeiros noutras regiões, Navais de Viana do Castelo. Recorde-se que
pado com um sistema de propulsão Rolls- praticando portos pequenos não acessíveis já na primavera passada o mesmo estaleiro
-Royce, terá uma velocidade de cruzeiro de a navios de cruzeiro de grandes dimensões. havia entregado dois navios-hotel para a
16 nós e casco e hélices reforçados para a Esta encomenda representa um importante Douro Azul, estes destinados aos cruzeiros
navegação em gelo. passo na afirmação dos estaleiros WestSea fluviais no rio Douro.

Especialidades e Especializações Verticais

Colégio Nacional de
Engenharia Geográfica
Maria João Oliveira de Barros Henriques › mjoaoh@gmail.com

Apontamento histórico
A viagem dos Visigodos (parte I)
João Casaca o norte de Itália, etc. Ao nosso território terão
Engenheiro Geógrafo, chegado alguns Brigantes a Trás-os-Montes
Membro Conselheiro da OE (Bragança-Brigancia) e alguns Eburones que
se instalaram no Alentejo (Ebura).
Cerca de dois mil anos antes de Cristo (a.C.), No séc. I AD, o território da atual Polónia
os antepassados dos povos germânicos ha- encontrava-se ocupado por vários povos
bitavam num território constituído pelo sul provenientes da Escandinávia, com religião,
da península da Escandinávia (Noruega e cultura e língua semelhantes: os chamados
Suécia), pela atual Dinamarca e pelo Sch- povos germânicos do leste. Os mais impor-
leswig-Hölstein. A sul (atuais Holanda, Bél- tantes eram os Godos ou Getas (Gépidas,
gica, França e parte oeste da Alemanha), as Greutungs e Thervings), os Vândalos (que
populações eram célticas, da cultura de mais tarde se separaram em Asdingos e Si-
Hallstatt, e para leste (Alemanha Oriental, lingos), os Burgúndios, os Rúgios, os Hérulos
Polónia, etc.) as populações eram eslavas e e os Skirri. Os Godos, que estavam estabe-
bálticas. lecidos no sul da atual Suécia, a norte dos
No séc. VI a.C. surgiram as primeiras indica- Daneses e a sul dos Suecos propriamente
ções da expansão germânica para o território ditos, foram os últimos a emigrar, atraves- O chefe Fritigern
celta a oeste, ao longo da costa do Mar do sando o mar Báltico para a região costeira
Norte. Entretanto, no séc. V a.C., a cultura entre o Oder e o Vístula. tungs), da atual Roménia (tribo dos Ther-
céltica de La Téne começou a substituir, na A emigração, que terá ocorrido durante o vings) e da atual Hungria (tribo dos Gépidas).
França e na Alemanha, a cultura de Hallstatt. séc. I AD, foi conflituosa, pois passou pela No leste, os Greutungs entraram em con-
No séc. IV a.C., a expansão germânica co- expulsão de outros povos germânicos, os tacto com os Alanos, indo-europeus de raiz
meçou a expulsar tribos gaulesas dos seus Rúgios e os Vândalos, da região. A última iraniana que povoavam a região a leste do
territórios: os Parisi deslocaram-se parte para vaga de Godos a chegar ao Vístula era cons- rio Don. O contacto com os Alanos, hábeis
a bacia do Sena e parte para Inglaterra; os tituída pela tribo dos Gépidas. A viagem dos cavaleiros das estepes, originou a formação
Brigantes deslocaram-se da Áustria (Bregentz) Godos continuou e, no séc. III AD, estes en- de unidades de cavalaria entre os Greutungs.
para o norte da Inglaterra; os Boios deslo- contravam-se instalados, grosso modo, nos No início do séc. IV, os Greutungs domi-
caram-se da Boémia (República Checa) para territórios da atual Ucrânia (tribo dos Greu- navam uma vasta região na forma de uma

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Colégios

faixa, que se estendia do Don até ao Báltico, aos Hunos e tornou-se seu vassalo; iii) o perto da cidade de Adrianópolis, situada a
entre o Oder e o Vístula. terceiro grupo deslocou-se para oeste, para oeste de Constantinopla. Os Thervings, li-
Na fronteira do Danúbio, os Thervings man- o centro da Europa de onde se repartiu entre derados por Fritigern (Alavivo tinha morrido),
tinham uma situação de guerra intermitente a Gália e a Hispânia. dispuseram os vagões em círculo e, à frente,
com Roma, sendo que, nos períodos de paz, Entretanto, um grupo substancial de Greu- formaram uma linha com os seus guerreiros
recebiam subsídios financeiros e partici- tungs, liderados por Alateus e Safrax, juntou- (infantes). O Imperador Valente dispôs o
pavam como auxiliares no exército imperial. -se aos Thervings e procuraram, em vão, re- exército imperial numa linha paralela, com
O Imperador Constantino usou auxiliares sistir aos Hunos. Um grupo de Thervings re- a infantaria no meio e a cavalaria nas alas.
Godos na guerra com a Pérsia. A partir de fugiou‑se, com o seu Rei Atanarico, nas mon- Inesperadamente, mas muito oportuna-
250 AD, os Thervings, aliados a outras tribos tanhas dos Cárpatos, enquanto outro grupo, mente, a cavalaria Greutung de Alateus e
germânicas, lançaram ataques navais contra liderado por Alavivo e Fritigern, pediu refúgio Safrax juntamente com cavaleiros Alanos
a Anatólia e a Grécia, percursores dos ata- ao império romano do Oriente, que os deixou aliados, surgiu de trás do círculo de vagões
ques de pilhagem dos Vikings. atravessar o Danúbio (375 AD), os desarmou e atacou e desbaratou a cavalaria imperial
A chegada dos Hunos no séc. IV, vindos do e os concentrou em campos de refugiados na ala esquerda, enquanto a infantaria Ther-
Oriente, desfez o delicado equilíbrio terri- (o Imperador Valente tencionava usá-los como ving investiu e esmagou a infantaria romana,
torial destes povos. Sob pressão dos Hunos, auxiliares na guerra com a Pérsia). tendo morto o Imperador Valente.
os Alanos invadiram o território dos Greu- Internados, sem condições de sobrevivência Na sequência da batalha, após um período
tungs e derrotaram-nos, tendo morto o Rei (fome), os Thervings rapidamente se rear- de intenso conflito militar em que os Ro-
Ermanarico (370 AD). A tribo submeteu-se maram e revoltaram. Os Greutungs de Ala- manos não conseguiram uma vitória deci-
aos Hunos e posteriormente veio a tornar- teus e Safrax, que tinham atravessado o Da- siva, o Imperador Teodósio, sucessor de Va-
-se conhecida pela tribo dos Ostrogodos núbio e forçado a entrada no Império, jun- lente, assinou em 382 AD um tratado de paz
(Godos do Leste). Os Gépidas (assim como taram-se aos Thervings de Alavivo e Fritigern. com os Visigodos, em que lhes concedeu
os Rúgios e os Skirri) também se tornaram Outros grupos de godos, nomeadamente terras aráveis na Ilíria em troca de colabo-
vassalos dos Hunos. os que estavam ao serviço do exército im- ração militar. O tratado atribuía aos Visigodos
Perante a pressão dos Hunos, os Alanos perial, juntaram-se aos anteriores e formaram autoridade completa sobre as terras, apenas
separaram-se em três grandes grupos: i) o um grupo étnico que veio, mais tarde, a ser com a obrigação de prestar apoio militar ao
primeiro grupo refugiou-se nas montanhas conhecido por Visigodos (Godos do Oeste). Império contra inimigos externos (foedus).
do Cáucaso, onde os seus descendentes Em 378 AD, o Imperador Valente resolveu A Fritigern (cristão ariano), que faleceu em
são os atuais Ossetas (de Azes ou Ozes) da atacar um grande grupo de godos que se 380 AD, veio a suceder o jovem Alarico
Geórgia; ii) o segundo grupo submeteu-se deslocavam com as famílias, em vagões, (nasceu c. de 370 e faleceu em 410 AD).

Colégio Nacional de Engenharia GEOGRÁFICA

O Cadastro Predial Rústico e a Reforma das Florestas


Teresa Sá Pereira último, mas não menos importante, não habilitações dos técnicos com competência
Presidente do Colégio Nacional respeitando as competências técnicas ne- para a realização da “representação gráfica
de Engenharia Geográfica cessárias à elaboração de um cadastro pre- georreferenciada”, o que se considera muito
da Ordem dos Engenheiros dial credível, nem garantindo os direitos dos grave tendo presente que esta é, no Projeto
cidadãos (vd “INGENIUM” n.º 157). de Lei, uma das peças chave do cadastro
No âmbito da consulta pública sobre a pro- No mês de julho o Colégio de Engenharia predial.
posta da Reforma das Florestas, o Colégio Geográfica foi, de novo, solicitado a apre- A proposta estabelece que “as operações
de Engenharia Geográfica da Ordem dos ciar e a pronunciar-se sobre nova Proposta de representação gráfica georreferenciada
Engenheiros submeteu, em janeiro deste de Lei visando a “Criação de um Sistema de de prédios podem ser promovidas por ini-
ano, um parecer sobre a Proposta de Lei de Informação Cadastral Simplificada”. Este ciativa dos interessados ou por entidade
“Criação de um Sistema de Informação Ca- pedido foi feito à Ordem dos Engenheiros pública competente, desde que realizadas
dastral Simplificada”, que constituía o do- pelo Grupo de Trabalho para a Reforma das por técnico habilitado para o efeito” e, em
cumento 4 do conjunto de documentos Florestas da Comissão de Agricultura e Mar, artigo posterior, estabelece sobre a habili-
submetidos a consulta pública. da Assembleia da República. tação técnica:
Genericamente, e sem prejuízo da análise Este novo documento apresentava signifi-
detalhada que foi elaborada e do vasto con- cativas alterações em relação ao anterior. “1. As entidades públicas recorrem prefe-
junto de recomendações sugeridas, consi- Constatou-se que muitas das sugestões rencialmente aos seus recursos próprios
derámos um projeto de lei irrealista, tecni- apresentadas pelo Colégio de Engenharia para a elaboração da representação grá-
camente com falhas graves, com contradi- Geográfica no parecer submetido a consulta fica georreferenciada e apresentação no
ções, sem referências ao cadastro predial pública, e muitas outras alterações, foram BUPi (Balcão Único do Prédio);
existente ou em curso, assim como a todo incorporadas na nova Proposta de Lei. 2. Os interessados e as entidades públicas
o edifício legislativo que o suporta, e por Porém, havia um recuo na exigência das recorrerem a entidades e técnicos:

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Colégios

a) Habilitados nos termos do disposto Continua a nova proposta a admitir sanções gráfica georreferenciada”, é condição fun-
no Regulamento do Cadastro Predial, para os proprietários, ainda que de forma damental para o sucesso da concretização
aprovado pelo Decreto-Lei n.º 172/95, não clara. O Colégio de Engenharia Geo- do sistema de informação cadastral simpli-
de 18 de julho; gráfica, invocando a reconhecida dificuldade ficada.
b) Habilitados nos termos da Lei n.º na identificação dos titulares das proprie- O parecer invoca ainda que o Governo pror-
3/2015, de 9 de janeiro, e diplomas dades – resultante do efeito das sucessivas rogou o prazo do SiNERGIC até 31 de de-
complementares; migrações que o País sempre sofreu, e zembro de 2018. No entanto, não foram
c) Com cursos tecnológicos de nível se- também a real dificuldade de proceder à tornadas públicas conclusões sobre o mesmo
cundário de educação, regulados pela localização geográfica dos prédios rústicos, que permitam, de forma clara, assumir os
Portaria n.º 550-A/2004, de 21 de processo que, mesmo simplificado e com aspetos positivos deste sistema e igualmente
maio, alterada pela Portaria n.º 260/2006, o recurso a toda a tecnologia hoje dispo- identificar os aspetos negativos, tornando
de 14 de março, ou habilitação supe- nível, é moroso se executado no respeito assim sustentadas novas escolhas.
rior nas áreas da arquitetura, das ciên- dos direitos do cidadão e no respeito de O lançamento de novo sistema de cadastro
cias geográficas, das ciências jurídicas, uma fiável execução técnica –, recomendou, deverá ter em atenção os principais fatores
da engenharia, do planeamento ter- assim, prudência na legislação sobre apli- que condicionam normalmente a execução
ritorial e da topografia. cação de quaisquer sanções aos proprietá- de um cadastro predial. E o parecer pros-
3. O técnico é responsável por todos os rios. segue com as interrogações: não replica
atos que pratique no exercício das suas Constatou-se, nesta nova proposta, que este novo sistema os pontos fracos do Si-
funções, incluindo os dos seus colabo- muitos das matérias fulcrais na realização NERGIC? Não podemos esquecer que foram
radores, estando obrigado à subscrição de um cadastro predial transitam para re- investidos cerca de 20 milhões de euros
de termo de responsabilidade pela cor- gulamentação posterior. O Colégio de En- para realizar o cadastro em sete municípios
reta elaboração da representação gráfica genharia Geográfica pronunciou-se no sen- e que, sem haver qualquer conhecimento
georreferenciada, obedecendo às espe- tido de que a Ordem dos Engenheiros venha público dos resultados, se avança com uma
cificações a definir por decreto regula- a ser consultada aquando da elaboração outra proposta, outra metodologia. Que
mentar. das propostas de regulamentação. Consi- confiança nos resultados se pode esperar?
4. A lista de entidades e de técnicos habi- dera-se fulcral este ponto. Que garantia existe de que os riscos que
litados é objeto de divulgação no BUPi Sobre os meios financeiros, humanos e téc- possa ter havido no SiNERGIC não estão
e publicada nos sítios eletrónicos das nicos de suporte à concretização do Sistema agora a ser replicados nesta nova proposta?
entidades públicas com atribuições nesta de Informação Cadastral, considerou-se in- E concluiu o parecer, reiterando as conclu-
área.” suficiente a informação disponibilizada. sões aduzidas já em janeiro no documento
O parecer recomendou que a legislação submetido a consulta pública, que a reali-
Chama-se a particular atenção para o arti- seja acompanhada por um projeto finan- zação do cadastro predial em Portugal ne-
culado da alínea c) do n.º 2. ceiro e uma clara indicação de financia- cessita de um amplo consenso, de estabi-
O parecer do Colégio de Engenharia Geo- mento, que garantam a credibilidade de lidade, de investimento e de incorporação
gráfica reiterou a recomendação de que os execução do sistema. das melhores soluções, sustentadas no co-
técnicos habilitados para elaborarem e apre- Sucessivas legislações aprovadas ao longo nhecimento profundo do que de melhor e
sentarem a denominada “representação dos últimos 40 anos não produziram efeitos de pior ocorreu nas realizações anteriores.
gráfica georreferenciada” tenham nos seus e o País continua sem um cadastro predial. Defende-se uma solução de evolução sem
planos curriculares cartografia e topografia. Igualmente se considerou imprescindível disrupção. De integração de muito do tra-
E concluiu sobre esta matéria afirmando uma prévia disponibilização dos meios hu- balho que existe já executado, de utilização
que os arquitetos e os técnicos das ciências manos e de suporte técnico indispensáveis das novas tecnologias e aperfeiçoamento
jurídicas não têm estas competências e esta à implementação do sistema, nomeada- de metodologias. As soluções de disrupção
inclusão só se justifica por lapso, pois outra mente quando se pretende aumentar o co- sem uma prévia e profunda avaliação dos
razão não se descortina. A Ordem dos En- nhecimento efetivo dos titulares dos direitos trabalhos anteriores comportam riscos que
genheiros recomendou, assim, a exclusão de propriedade em curto espaço de tempo. o País não pode sustentar.
dos arquitetos e dos técnicos das ciências Uma exigente qualificação para a habilitação
jurídicas por não serem habilitados para ela- de técnicos para a realização dos procedi- Nota: no momento em que se escreveu este ar-
borarem e apresentarem a denominada “re- mentos previstos nesta proposta, nomea- tigo ainda não se tinha conhecimento do teor da
presentação gráfica georreferenciada”. damente a realização da “representação legislação aprovada na Assembleia da República.

Colégio Nacional de Engenharia GEOGRÁFICA

Ordem acolhe Reunião e Workshop da Comissão 3 da FIG


Na semana de 27 a 30 de novembro a Ordem Spatial Information Management: Emerging Gestão de Informação Espacial) e a Assem-
dos Engenheiros irá acolher o Workshop Applications in Public Science”, a Reunião bleia Geral do EgoS – European Group of
“Volunteered Geographic Information in Anual da Comissão 3 da FIG (Comissão sobre Surveyors.

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Colégios

O fenómeno da informação geográfica vo- produção de conhecimento geográfico, tunidade de tomar con-
luntária faz parte de uma profunda trans- com especial enfoque em: 1) Infor- tacto com os desenvol-
formação na forma como os dados geo- mação geográfica voluntária, Parti- vimentos e a utilização
gráficos, informações e conhecimento são cipação pública e cidadania; 2) de informação geográ-
produzidos e como são difundidos. Ao situar Produção de conhecimento fica voluntária, sistemas
a informação geográfica voluntária no con- geográfico e inferência de de informação geográfica,
texto da Big Data e no Data-intensive In- lugar; e 3) Aplicações emer- gestão de informação espacial,
quiry, podem explorar-se tanto as teorias gentes e novos desafios. crowdsourcing e informação com
como as aplicações do crowdsourcing para O Workshop proporcionará a opor- base em dados espaciais.

Iniciativas Regionais • Estado d’arte dos PDM’s de 2.ª geração – Aplicação das Normas Técnicas da DGT » ver secção Regiões » NORTE

Especialidades e Especializações Verticais

Colégio Nacional de
Engenharia AGRONÓMICA
Miguel Castro Neto › mneto@novaims.unl.pt

As Alterações Climáticas e os Instrumentos alargamento das opções de cobertura de


risco adaptadas a esta nova realidade.
de Gestão de Riscos na Agricultura No que se refere aos seguros, que são um
dos principais instrumentos de gestão de
Joaquim Sampaio › Queda muito intensa de precipitação, que riscos, deve ter-se em conta alguns aspetos
Engenheiro Agrónomo surge, por vezes, em curto período de que importa realçar:
tempo, acompanhada frequentemente › Um seguro agrícola, por muito completo
Em consequência das alterações climáticas, de granizo, podendo provocar elevados que seja ao nível da sua cobertura, não
confrontamo-nos hoje com a ocorrência prejuízos nas culturas; cobre a totalidade dos riscos, na medida
de fenómenos meteorológicos que, embora › Chuvas persistentes, que surgem em fases em que existem alguns riscos que, pela
na sua natureza sejam iguais aos do pas- já muito avançadas dos ciclos vegetativos sua natureza e características (por exemplo:
sado, se caracterizam de forma diferente, a (por exemplo: maturação dos frutos); a elevada frequência/intensidade e/ou a
vários níveis, designadamente no que se re- › Falta de horas de frio, afetando em espe- difícil identificação causa-efeito), dificil-
fere à época, intensidade e frequência com cial as fruteiras; mente são enquadráveis num sistema de
que surgem. Estes “novos fenómenos” au- › Picos de calor excessivo, particularmente seguros;
mentam a vulnerabilidade da produção agrí- em fases sensíveis do ciclo das culturas; › Quando ocorrem prejuízos, estes só são
cola aos riscos climáticos, bem como a › Etc. parcialmente pagos, na proporção da
pragas e doenças, contribuindo para uma
maior heterogeneidade no rendimento dos
agricultores.
São exemplos destes fenómenos:
› O aumento das temperaturas, que afetam
as várias fases dos ciclos vegetativos das
plantas e que podem levar a que deter-
minadas culturas e variedades que até
aqui se consideravam bem adaptadas
deixem de o ser;
› A redução evidente que, nos últimos anos, Para mitigar os efeitos que a ocorrência de afetação provocada pelos riscos cobertos
se tem vindo a registar na queda pluvio- fenómenos climáticos adversos, pragas e pelo seguro, ficando o restante prejuízo
métrica, levando a que, cada vez mais, doenças podem provocar na produção agrí- a cargo do agricultor;
ocorram fenómenos de seca, originando cola parece-me imprescindível que se faça › Um sistema de seguros que se pretenda
quebras acentuadas na produção agrí- uma aposta clara nos instrumentos de gestão equilibrado, viável e eficaz deverá, entre
cola, especialmente no sequeiro (mas de riscos (seguros e fundos de calamidades), outros aspetos, contemplar riscos diver-
também no regadio por condicionantes criando condições, quer para dinamizar os sificados, com vista a dispersar ao má-
que podem surgir na dotação de rega a já existentes (seguro agrícola), quer para que ximo o risco e assim ultrapassar o “tradi-
utilizar); surjam novos produtos, que permitam o cional” problema do risco sistémico.

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Colégios

Apesar de o sistema de seguros atualmente pelas soluções mais ajustadas quando pre- (como o atualmente em vigor) assente ex-
em vigor em Portugal (com prémios boni- tendem efetuar investimentos. clusivamente num funcionamento risco a
ficados) já contemplar um alargado leque A razão pela qual tenho vindo a insistir neste risco pode vir a revelar-se insuficiente face
de riscos, a continuação da criação de novos aspeto (insuficiência de dados) é porque aos impactos que as alterações climáticas
riscos específicos, para determinadas cul- tenho a forte convicção de que se este estão a provocar na produção agrícola e
turas e regiões, revela-se, na minha opinião, constrangimento não for ultrapassado, a que irão certamente agravar-se no futuro.
determinante para dinamizar este instru- existência de instrumentos de gestão de O modelo de seguro de produção integral
mento e torná-lo mais atrativo e bem adap- riscos (especialmente a incorporação de que preconizo, e que engloba todos os
tado às necessidades dos agricultores. novos riscos no seguro), que reúnam con- riscos que afetem a produção (mas cujo
No entanto, para que sejam criados novos dições para funcionar e que se revelem desenvolvimento não cabe no âmbito deste
riscos (a incluir no seguro), ou novos pro- convenientemente adaptados para mitigar artigo), é dirigido exclusivamente a produ-
dutos, é necessário elaborar estudos prévios os efeitos que a nova a realidade climática tores de OP´s (por questões de exequibili-
que, no essencial, visam apurar o valor de provoca na produção agrícola, poderá estar dade do seu funcionamento) e visa indem-
uma taxa que permita avaliar a exequibili- comprometida. nizar parte do prejuízo quando ocorram
dade da adoção destes instrumentos, visto Um outro aspeto que entendo relevante calamidades, que, de forma generalizada
que se aquela (taxa) for muito elevada o abordar tem a ver com a necessidade de, (não se destinam a ocorrências individuali-
agricultor não os contrata. na minha opinião, surgirem, associados ao zadas), provoquem quebras de produção
Estes estudos incluem, entre outros aspetos, atual Sistema de Seguros Agrícolas, Seguros significativas. O acionamento deste seguro
uma rigorosa definição do risco, baseada de Produção Integral para Calamidades que deve assentar numa sustentada forma de
na interligação entre a ocorrência do fenó- abranjam todos os riscos que afetam a pro- fixação de valores de referência (com base
meno climático e os efeitos na cultura, bem dução (climáticos, pragas e doenças). nas médias das produtividades) apurados
como uma análise de dados estatísticos re- Isto porque os prejuízos que estão na origem quer ao nível da OP/cultura, quer ao nível
lativos à frequência e intensidade com que das quebras de produção dos agricultores do produtor.
ocorre o fenómeno meteorológico (dados são muitas das vezes provocados não ex- Um seguro deste tipo pode, em meu en-
meteorológicos, produções), abrangendo clusivamente por um só risco de forma iso- tender, constituir uma enorme evolução nas
uma série de anos o mais longa possível. lada, mas sim pela interação de vários fa- opções de cobertura de risco disponibili-
Acontece, porém, que na maior parte dos tores (riscos), tornando-se, nessas circuns- zadas pelos seguros agrícolas, dando um
casos faltam dados para se realizarem estes tâncias, difícil proceder à individualização contributo muito importante para minimizar
estudos, que indiquem o comportamento dos efeitos associados apenas aos riscos os efeitos provocados nas produções pela
das culturas face à ocorrência de determi- cobertos pelo seguro. ocorrência de fenómenos de natureza ca-
nados fenómenos, ou seja, que permitam Um exemplo de um risco que se revela di- lamitosa, que se estão a revelar cada vez
perceber a relação causa-efeito. fícil de incorporar no seguro de colheitas, mais frequentes.
Constituindo esta circunstância (falta de como risco individualizado, é a seca. Isto Para além destes seguros, deverão ser ainda
dados) uma enorme condicionante para a porque, embora sendo um fenómeno que criados outros instrumentos de gestão de
dinamização do seguro e para a criação de tem uma grande importância para a ativi- riscos que funcionem de forma comple-
outros instrumentos de gestão de riscos é dade agrícola, principalmente num clima mentar (na parte dos prejuízos provocados
urgente que o Ministério da Agricultura, em com as características do que existe em por riscos não cobertos pelo seguro), de-
colaboração com agricultores, associações Portugal, de acentuada heterogeneidade signadamente fundos de calamidades (mu-
e OP´s, crie um Programa (assente em pro- (agravada ainda pelas alterações climáticas tualistas ou de contrapartida), desde que o
cedimentos simplificados) para Registo e atrás referidas), designadamente na forma acesso (a estes instrumentos) fique condi-
Tratamento de Dados. como a chuva se distribui ao longo do ano, cionado à existência de seguro. Igualmente,
A recolha, o tratamento e a análise desta os prejuízos imputados à seca, ao contrário considero que seria importante, dada a
informação (ao longo de uma série repre- que possa parecer, são difíceis de individua- grande volatilidade dos preços agrícolas,
sentativa de anos) poderia constituir um re- lizar. No caso dos cereais essa dificuldade que num futuro sistema integral de gestão
ferencial importante para avaliar da adap- é evidente, visto que, sucede por vezes, du- de riscos para a agricultura a componente
tabilidade das culturas e variedades às várias rante o mesmo ciclo de produção, existir a preço viesse também a estar incorporada.
zonas do País onde são cultivadas, quer se interação de fenómenos até antagónicos, Julgo que se deverão envidar todos os es-
tratem de variedades ainda relativamente em que pode ocorrer uma seca nos meses forços no sentido de criar as condições que
novas (como é o caso dos frutos secos, de primavera (essencialmente março e abril, permitam desenvolver e dinamizar estes
atualmente em grande expansão), quer das período em que a água é determinante para instrumentos de gestão de riscos, para que,
já há muito existentes, mas que podem vir a produção), após se ter registado um ex- na próxima revisão da PAC, todos estes ins-
a mostrar-se desadaptadas face às altera- cesso de água nos meses de inverno (fre- trumentos estejam em condições de fun-
ções climáticas. Note-se que esta infor- quentemente com encharcamento de solo cionamento e possam vir a desempenhar
mação, para além da importância que tem e um incremento no aparecimento de um papel fundamental na estabilização dos
na criação dos instrumentos de gestão de doenças, fatores a que os cereais são muito rendimentos dos agricultores e ser enca-
riscos, poderia constituir um referencial im- sensíveis). rados como estratégicos para o desenvol-
portante para ajudar os agricultores a optar Parece-me, pois, que um modelo de seguro vimento do setor agrícola.

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Colégios

Colégio Nacional de Engenharia AGRONÓMICA

Xylella fastidiosa na Península Ibérica


Foco da bactéria Xylella fastidiosa apareceu cadella viridis e outros, assim como em
no passado mês de junho em Alicante, Es- Espanha, França e Itália;
panha, sendo o primeiro sinal de presença d) A presença de hospedeiros preferenciais
desta bactéria na Península Ibérica e a con- como as oliveiras, a vinha, citrinos, so-
firmação de que este problema pode, efe- breiros, amendoeiras e ameixeiras, loen-
tivamente, chegar ao nosso País. dros, quercus, que são culturas de grande
Em Portugal, segundo Paula Sá Pereira (Vida importância económica para a agricultura
Rural, 25 fev. 2016), temos vários fatores fa- portuguesa. de diâmetro em redor da área afetada, se-
cilitadores da entrada de Xylella fastidiosa, Para além do risco de os nossos olivais, vi- guindo-se a eliminação de todas as plantas
sendo eles: nhas e árvores de fruto serem infetados por e das suas raízes, que têm de ser arrancadas
a) Uma posição geográfica muito particular esta bactéria oriunda dos Estados Unidos da e destroçadas num raio de 100 metros do
na Europa e no mundo do comércio global; América, acrescem as imposições comuni- local onde foi detetada a bactéria.
b) As nossas condições climáticas, com in- tárias aplicadas na sua erradicação. Ao ser
vernos pouco rigorosos; detetada a presença da Xylella é obrigatório • Mais informação disponível no Boletim Técnico
c) A presença de insetos-vetores em Por- o estabelecimento de um cordão sanitário Xylella fastidiosa, do INIAV, em www.iniav.pt/
tugal, como o Philaenus spumarius, a Ci- com uma área mínima de dez quilómetros noticias/xylella-fastidiosa--boletim-tecnico

Colégio Nacional de Engenharia AGRONÓMICA

Seca em Portugal Guerreiro, especialista em hidrologia e al-


terações climáticas, e estabelece vários ce-
Quase 79% de Portugal Continental encon- nários de seca para a Península Ibérica com
trava-se em julho em situação de seca se- base em 15 modelos climáticos conside-
vera e extrema, segundo o boletim clima- rados representativos (Lusa, maio de 2017).
tológico do Instituto Português do Mar e da O pior de todos os cenários admitidos até
Atmosfera (IPMA). 2100 é uma seca de 15 anos, em que “chove
O boletim disponível na página do IPMA na metade da média” que era esperada, disse
Internet indica que no final do mês de julho à Lusa a investigadora da Universidade de
78,8% de Portugal Continental estava em “megasecas”, períodos de seca de dez ou Newcastle.
seca severa (69,6%) e extrema (9,2%). mais anos, segundo os piores cenários tra- Segundo esta investigadora, todos os mo-
Este cenário é tanto mais grave e com um çados num estudo da universidade britânica delos preveem um aumento da seca até ao
elevado potencial de risco para a atividade de Newcastle, que tem a participação de fim do século XXI, sendo o cenário mais
agrícola na medida em que Portugal e Es- uma investigadora portuguesa. “animador” o de secas mais frequentes, mas
panha podem ser atingidos até 2100 por O estudo tem como primeira autora Selma não tão prolongadas no tempo.

• Visita ao novo centro de acondicionamento de banana da Ponta do Sol » ver secção Regiões » MADEIRA
• Conferência “O papel da proteção integrada das culturas no desenvolvimento de uma agricultura sustentável” »
Iniciativas Regionais » ver secção Regiões » MADEIRA
• 62.ª Feira Agropecuária do Porto Moniz » ver secção Regiões » MADEIRA

Especialidades e Especializações Verticais

Colégio Nacional de
Engenharia de Materiais
Luis Gil › luis.gil@dgeg.pt

Impacto social e económico dos materiais em Portugal


A Sociedade Portuguesa de Materiais (SPM) contribuir e promover o desenvolvimento com a Ordem dos Engenheiros (OE) desde
é uma associação de índole técnica e cien- e o progresso da Ciência e Tecnologia dos há muitos anos.
tífica que visa, entre os seus vários objetivos, Materiais. Tem um protocolo de colaboração No âmbito da sua evolução e reestruturação,

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 77


Colégios

decidiu a SPM realizar um estudo que de- tem, no seu seio, especialistas nas diversas Portugal (José Fernando Mendes, Vice-
monstrasse o impacto social e económico áreas, muitos dos quais Membros da OE, -reitor da Universidade de Aveiro).
dos materiais na sociedade portuguesa. Uti- que poderão ajudar esses níveis de decisão. No debate que se seguiu participaram re-
lizando uma metodologia que engloba a Por isso, a SPM entende e pretende ser con- presentantes de empresas, universidades e
cadeia de valor dos produtos associada a siderada como um parceiro neste domínio laboratórios do Estado. A Mesa foi consti-
cada setor, trata-se de um estudo não efe- e chamada a colaborar quando necessário. tuída pela Presidente da SPM, Professora
tuado até hoje e que é, por demais, neces- Este estudo será posteriormente comple- Doutora Paula Vilarinho, pelo Vice-reitor da
sário conhecer. tado com os outros subsetores da área dos Universidade de Aveiro, Professor Doutor
Numa primeira fase, foram abordados os materiais. José Fernando Mendes, pelo Presidente da
setores dos Polímeros, Cerâmicos & Vidros Neste contexto, a SPM organizou uma sessão Fundação para a Ciência e Tecnologia, Pro-
e da Cortiça, que representam áreas impor- de apresentação do estudo no dia 25 de fessor Doutor Paulo Ferrão e, ainda, pelo
tantes, mas com características muito dife- maio, na sede da OE, em Lisboa. Foram feitas Eng. Luís Gil, Membro Conselheiro da OE.
rentes. as seguintes apresentações: A apresentação do estudo feita durante a
O conhecimento do impacto dos materiais › Metodologia seguida (Luís Nazaré, Busi- sessão pode ser vista na página da SPM, em
a nível social e económico no nosso País é ness Step); www.spmateriais.pt. O documento final es-
uma ferramenta importante para os deci- › Apresentação do Estudo (Paula Vilarinho, tará pronto e será disponibilizado em breve.
sores estratégicos e políticos, que ficará Presidente da SPM); O estudo será continuado com a abordagem
assim disponível. Para além disso, a SPM › Apresentação Ciência em Materiais em da fileira dos materiais metálicos.

Colégio Nacional de Engenharia de MATERIAIS

Reciclagem de painéis solares vai ultrapassar os €13.000 milhões em 2050


A reciclagem ou reutilização de painéis so- no final de 2015 e deverá aumentar para
DR
lares fotovoltaicos em fim de vida poderá 4.500 GW no final de 2050. Com esta tre-
“redescobrir” matérias-primas e outros com- menda capacidade de crescimento chegará
ponentes valiosos mas também originar, por o aumento de resíduos associado ao setor.
si só, um mercado avaliado em €13.000 mi- Isto traz uma oportunidade para fechar o
lhões em 2050. O ciclo de vida dos painéis ciclo para os painéis solares.
solares está estimado em 30 anos, pelo que, A União Europeia foi a primeira entidade
a partir do final da próxima década, ganhará stock para futuros painéis solares – até 2 mil mundial a adotar leis específicas para os re-
o seu momentum. milhões de novos painéis – ou serem ven- síduos de painéis solares. A diretiva europeia
Até 2050, garante o estudo “End of-Life Ma- didos para outros mercados e produtos que inclui objetivos específicos de recolha e re-
nagement: Solar Photovoltaic Panels”, exis- dependam destes. ciclagem de painéis solares e obriga todos
tirão 78 milhões de toneladas de painéis so- Segundo o Diretor-geral da IRENA – Agência os produtores a financiar os custos desta
lares obsoletos em todo o Mundo. O enorme Internacional de Energias Renováveis, Adnan recolha.
fluxo de materiais que ficarão então dispo- Amin, a capacidade instalada global de
níveis poderá ser utilizado para aumentar o energia fotovoltaica chegou aos 222 GW Fonte: http://greensavers.sapo.pt

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IBM Research anuncia a descoberta de novo


DR

processo de reciclagem de plásticos


Um grupo de cientistas da IBM Research des- os anos são totalizadas quantidades de 2,7
cobriu um novo processo de reciclagem de milhões de toneladas.
plásticos capaz de converter policarbonatos Em comunicado, a empresa explica que carboneto num plástico com resistência
em material não tóxico. O processo possi- estes materiais contêm, na sua composição, térmica e química superior, cujas formas
bilita a reutilização destes materiais no fabrico substâncias com potenciais nefastos para o impedem a libertação dos químicos peri-
de novos equipamentos médicos, fibra ótica cérebro humano. Em 2008, por exemplo, gosos presentes no policarboneto.
ou utensílios de purificação de água. várias empresas retalhistas optaram por re-
A empresa sublinha a importância desta tirar do mercado vários produtos fabricados • O trabalho de investigação completo pode
descoberta com o número surpreendente com este material. ser consultado em www.pnas.org/content/
de plásticos (policarbonatos) gerados anual- O processo, que passa pela aplicação de early/2016/06/21/1600924113
mente devido à produção de objetos tão calor, um reagente de fluoreto e uma base
comuns como CD’s e smartphones – todos a este material, permite converter o poli- Fonte: http://tek.sapo.pt

78 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


Colégios

Colégio Nacional de Engenharia de MATERIAIS

Material inteligente reage a calor e luz e autoconserta-se


Um novo material inteligente é também o mais versátil já demons- Montagem termal

DR
trado até agora: a sua mudança de forma pode ser induzida por calor
ou por luz e este, sozinho, consegue reparar danos, como cortes.
É a primeira vez que se conseguem combinar várias habilidades “in- Desmontagem termal

teligentes” num único material, o que inclui o comportamento de


memória de forma, o movimento acionado pela luz ou pelo calor
e a “autocura”.
Montagem ótica
Materiais que podem reagir a estímulos externos podem servir para
uma grande variedade de propósitos, como músculos artificiais,
atuadores, sistemas de liberação de medicamentos ou para formar
Desmontagem ótica
objetos inteiros que se montam ou desmontam sozinhos.
Uma das grandes expectativas é que esses materiais possam servir
para abrir painéis solares e outras estruturas em satélites artificiais
e sondas espaciais, que hoje dependem de sistemas complexos e
pesados, baseados em cabos, motores e baterias. a si mesmo quando danificado. Por exemplo, um corte feito por um
Os materiais inteligentes ainda não têm um uso generalizado porque estilete pode ser reparado através da aplicação de luz ultravioleta.
são difíceis de fabricar e geralmente só conseguem executar uma Mais importante ainda para aplicações práticas, os movimentos do
função de cada vez. Além disso, é difícil reprocessá-los para que material podem ser pré-programados e as suas propriedades serem
as suas propriedades possam ser usadas repetidamente. ajustadas previamente para cada aplicação em particular.
Yuzhan Li e os seus colegas da Universidade do Estado de Wa-
shington, nos Estados Unidos da América, obtiveram uma funcio- Bibliografia
nalidade inédita combinando uma classe de moléculas de cadeias • 
Photoresponsive Liquid Crystalline Epoxy Networks with Shape
longas, chamadas redes cristalinas líquidas, com grupos atómicos Memory Behavior and Dynamic Ester Bonds Yuzhan Li, Orlando
que reagem à luz polarizada. Para conseguir “reprocessar” o ma- Rios, Jong K. Keum, Jihua Chen, Michael R. Kessler
terial – obter múltiplas utilizações – usaram ligações químicas di- ACS Applied Materials & Interfaces
nâmicas. Vol.: 8 (24), pp 15750-15757
O material resultante reage à luz ou ao calor, “lembra-se” da sua DOI: 10.1021/acsami.6b04374
forma original quando é dobrado e desdobrado e pode reparar-se Fonte: www.inovacaotecnologica.com.br

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Absorvendo 99,96% da luz, o Vantablack faz


perder a noção de profundidade e contornos
O Vantablack não pára de ficar mais escuro como um labirinto para a luz que incide
e mais interessante. Este é o material que sobre ele. Apenas 0,04% da luz consegue
mais absorve luz no Mundo, produzido pela sair dali. O restante da radiação fica presa
Surry Nanosystems. A empresa acaba de entre os tubos, saltando entre eles, até se
divulgar um novo vídeo mostrando a última converter em calor.
atualização do material. Como este material retém 99,96% da radiação
O novo vídeo mostra uma esfera coberta que nele incide, os olhos não conseguem
com Vantablack sendo movida na frente de perceber nada no objeto além da ausência
uma placa do mesmo material. Além de ser de luz – vista como a cor preta – e seu con- pode melhorar a performance de câmaras
difícil perceber que a esfera tem três dimen- torno. A noção de profundidade também infravermelhas na Terra e no espaço. Já que
sões, e não duas, quando é movimentada desaparece, dando a impressão de que é um absorve a radiação da luz e a converte em
sobre a placa negra, ela simplesmente fica objeto com apenas duas dimensões. calor, o Vantablack também pode ser usado
invisível para os nossos olhos. A substância pode ser usada em telescópios, para aumentar a absorção de calor em ma-
O nome Vanta vem de Vertically Aligned para impedir que luzes que não interessam teriais usados na tecnologia de energia solar,
NanoTube Arrays (“Conjunto de Nanotubos ao observador entrem no aparelho. Esta assim como em camuflagens térmicas no
Verticamente Alinhados”). reduz a luz desnecessária, melhorando a setor militar.
O Vantablack foi criado em 2014 e é feito capacidade de telescópios sensíveis para
com nanotubos de carbono que funcionam avistar estrelas fracas. O material também Fonte: http://hypescience.com

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 79


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Especialidades e Especializações Verticais

Colégio Nacional de
Engenharia do Ambiente
Lisete Calado Epifâneo › lisete.epifaneo@estsetubal.ips.pt

12.ª Expo Conferência da Água


A Expo Conferência da Água realiza-se em Lisboa, a 7 e 8 de no-
vembro, e pretende debater temas atuais do setor da água, como
os desafios para a política da água, a sustentabilidade económica regulamento tarifário da água e saneamento e a perspetiva dos re-
e financiamento do setor, a economia circular, a excelência nos gulados – alta/baixa/privados.
serviços de água e as mudanças na regulação, incluindo o novo • Mais informações disponíveis em www.ambienteonline.pt/12expoagua

Colégio Nacional de Engenharia do AMBIENTE

8.º Fórum Mundial da Água


O 8.º Fórum Mundial da Água será realizado em março de definir e estruturar bases para a elaboração de um docu-
2018, em Brasília (Brasil), e reunirá os principais especia- mento de posição conjunta relativamente a este recurso.
listas, gestores e organizações envolvidos com a gestão Foi criada uma plataforma de consulta aberta para re-
da água no Mundo. ceber opiniões sobre os temas em discussão (Figura 1)
Entre 26 e 28 de julho realizou-se, na sede da Comu- no Fórum (www.worldwaterforum8.org).
nidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Lisboa,
uma reunião técnica preparatória da organização deste Figura 1 – Temas disponíveis na plataforma de consulta aberta
evento, com a participação da Agência Portuguesa do Ambiente.
O objetivo foi o de encontrar representantes de instituições res-
ponsáveis pela gestão de recursos hídricos nos Estados da CPLP e Climate People Development Urban Ecosystems Finance

Colégio Nacional de Engenharia do AMBIENTE

Convenção de Aarhus
A Convenção da Comissão Económica para Convenção garantir os direitos dos cidadãos
a Europa das Nações Unidas (CEE/ONU) no que respeita a (Figura 1):
sobre “Acesso à Informação, Participação 1. Acesso à informação;
do Público no Processo de Tomada de De- 2. Participação do público em processos Figura 1 – Objetivos da Convenção de Aarhus
cisão e Acesso à Justiça em Matéria de Am- de decisão; Fonte: adaptado do Guia Rápido da Convenção de Aarhus

biente” (Convenção de Aarhus) foi adotada 3. Acesso à justiça.


em 25 de junho de 1998, na cidade dina- Durante o ano de 2016 foram realizadas
marquesa de Aarhus, durante a Como parte da Convenção de duas fases de consulta do último relatório
4.ª Conferência Ministerial “Am- Aarhus, Portugal deve elaborar e, de acordo com a informação disponível
biente para a Europa”. Esta Con- um relatório sobre a sua imple- no site da Agência Portuguesa do Ambiente,
venção entrou em vigor a 30 de mentação nacional, de três em foram recebidas 46 contribuições de 23 or-
outubro de 2001, concluído o três anos. Desde a entrada em ganizações públicas. No âmbito da elabo-
processo de ratificação por 16 vigor desta Convenção já foram ração do 5.º Relatório regista-se, pela pri-
países membros da CEE/ONU e efetuados cinco relatórios: 2005, meira vez, a auscultação da administração
pela União Europeia. 2008, 2011, 2014 e 2017. O 5.º pública ao nível local, através de um ques-
Portugal assinou a Convenção Relatório de Implementação Na- tionário distribuído às autarquias pela Asso-
Fonte: Agência Portuguesa
em 1998 e a sua ratificação do Ambiente cional da Convenção de Aarhus ciação Nacional dos Municípios Portugueses,
ocorreu em 2003, através do encontra-se disponível no site tendo sido registada uma taxa de resposta
Decreto do Presidente da República n.º da Agência Portuguesa do Ambiente e es- de cerca de 12% (37 resposta em 308 mu-
9/2003, aprovada para ratificação pela Re- tará presente na agenda da sexta reunião nicípios).
solução da Assembleia da República n.º das Partes a decorrer em Budva, Monte- Todos os relatórios e demais informação
11/2003, de 25 de fevereiro. É objetivo desta negro, entre 10 a 15 de setembro. sobre a Convenção de Aarhus podem ser

80 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


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consultados em www.apambiente.pt/index. tant Release and Transfer Registers, em por- em 8 de outubro de 2009.
php?ref=16&subref=142&sub2ref=726&su tuguês “Registo de Emissões e Transferências • O primeiro e segundo relatórios de
b3ref=727. de Poluentes”). Portugal é Parte do Proto- implementação nacional do Protocolo
Em maio de 2003, na reunião extraordinária colo, aprovado, para ratificação, pela Reso- PRTR foram elaborados em 2014 e 2017,
das Partes da Convenção de Aarhus no âm- lução da Assembleia da República n.º 87/2009 respetivamente, estando o segundo
bito da 5.ª conferência ministerial “Ambiente e pelo Decreto n.º 90/2009, ambos publi- disponível em
para a Europa”, realizada em Kiev, foi redi- cados no Diário da República, 1.ª série, n.º www.apambiente.pt/_zdata/DPCA/
gido um Protocolo à Convenção, conhe- 179, de 15 de setembro de 2009, tendo de- Aahrus/2NIR_PRTRAarhus2017_Portugal_
cido por Protocolo PRTR (Protocol on Pollu- positado o seu instrumento de ratificação PT_limpo.pdf

Colégio Nacional de Engenharia do AMBIENTE

Sensibilização para uso racional da água


De acordo com o índice meteorológico de sejam dirigidos para os usos de primeira
seca PDSI, no final do mês de junho de 2017 necessidade.
mantém-se a situação de seca meteoroló- Assim, a Agência Portuguesa do Ambiente
gica em quase todo o território de Portugal recomenda, principalmente nas regiões mais
Continental, verificando-se, em relação a afetadas, que distintos usos da água, menos
31 de maio, um agravamento da intensidade nobres, como encher piscinas particulares,
da seca. No final deste mês cerca de 80% lavar carros e logradouros, entre outros,
do território estava entre seca severa e ex- devem ser reduzidos ou mesmo não reali-
trema (Figura 1). Acresce que, das 60 bar- zados. Quanto à rega de espaços verdes,
ragens no Continente, 18 registam menos jardins e hortas, esta deve ser realizada
de metade do volume de água que conse- apenas em horários apropriados. A rega
guem armazenar. agrícola tem igualmente vindo a reduzir os
Neste contexto de seca, a Agência Portu- volumes captados.
guesa do Ambiente promoveu, no mês de
julho, uma reunião com os municípios mais • A seca deste ano tem acentuado a necessidade
afetados pela situação, que se localizam no para a implementação das medidas de
Alentejo. As baixas disponibilidades hídricas, melhoria da eficiência do uso da água, como é
simultaneamente de origens de água su- preconizado no  Programa Nacional para o Uso
perficial e subterrânea, conduziram à iden- Eficiente da Água (PNUEA), cujo documento
tificação de alguns municípios alentejanos, pode ser consultado em
Figura 1 – Distribuição espacial do índice de seca
onde se reconhece a necessidade da pre- www.apambiente.pt/_zdata/CONSULTA_
meteorológica em 30 de junho de 2017
mência de reforço da sensibilização da po- PUBLICA/2012/PNUEA/Implementacao- Fonte IPMA – www.ipma.pt/pt/oclima/observatorio.secas/
pulação para que os consumos urbanos PNUEA_2012-2020_JUNHO.pdf pdsi/monitorizacao/situacaoatual

Colégio Nacional de Engenharia do AMBIENTE

A 24 de novembro de 1997 o Ministério da Viva no Verão”, que integra diversas ativi-


Ciência e da Tecnologia anunciava a criação dades de acordo com vários dos Atos de
de uma rede de Centros interativos de di- Engenharia associados ao Colégio de En-
vulgação científica, que deviam funcionar Viva – Agência Nacional para a Cultura Cien- genharia do Ambiente.
como “Centros de recursos para a cultura tífica e Tecnológica, prevendo-se a reali-
científica e tecnológica”. Este ano come- zação de várias iniciativas, nomeadamente • Mais informações disponíveis em
mora-se o vigésimo aniversário do Ciência o desenvolvimento do programa “Ciência www.cienciaviva.pt/projectos

• Há Engenharia em tudo que nos rodeia » ver secção Regiões » NORTE
Iniciativas Regionais • Dia Mundial do Ambiente » ver secção Regiões » NORTE
• Visita técnica à ETAR da Guia » ver secção Regiões » SUL

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 81


Colégios

Especializações Horizontais

Especialização em Engenharia ALIMENTAR


Alice Freitas › aafreitas@oep.pt

Atos de Engenharia Alimentar em discussão


Decorrente do evento “O Engenheiro Alimentar na Sociedade”, a – FIPA e Qualifica – para análise. Nesse contexto, a 18 de outubro
Comissão de Especialização em Engenharia Alimentar da Ordem dos próximo, pelas 17 horas, terá lugar uma reunião geral de Especialistas
Engenheiros (OE) concentrou-se durante dois dias, em junho, e de- para discussão dos referidos Atos de Engenharia Alimentar. Em com-
finiu os Atos de Engenharia Alimentar. Este documento de trabalho plemento a esta iniciativa, foi recentemente criado nas redes sociais
foi partilhado junto dos restantes Especialistas e dos nossos parceiros o grupo “Observatório dos Engenheiros Alimentares”.

Em Agenda

A 11 de outubro realiza-se uma formação, de um dia, dedicada ao tema “Normalização


Internacional para as Indústrias Alimentares”.
Para 10 de novembro está previsto um jantar temático com o objetivo de celebrar o Dia
do Engenheiro Alimentar, iniciativa a decorrer na sede da OE.

Especializações Horizontais

Especialização em Engenharia DE CLIMATIZAÇÃO


Alice Freitas › aafreitas@oep.pt

Visita Técnica a Sistema de Climatização de um Submarino


A Especialização em Engenharia de Climatização da Ordem dos drogénio libertado e outros pormenores que permitem manter a
Engenheiros (OE) e a ASHRAE Portugal Chapter promoveram em salubridade do ar e a segurança no interior do submarino a níveis
conjunto, no dia 22 de junho, uma visita à Esquadrilha de Sub-su- aceitáveis. Este aspeto foi bastante debatido pois o conceito de
perfície da Marinha Portuguesa, localizada na Base Naval do Alfeite. “aceitável” corresponde a cerca de 5.000 ppm de CO2, valor muito
Esta ação contou com mais de 30 Membros da OE, que pronta- superior ao permitido em edifícios.
mente se tinham inscrito logo após a iniciativa ter sido divulgada. Seguiu-se a visita ao submarino N.R.P. Arpão.
A visita teve início no auditório da Esquadrilha, com uma apresen-
tação sobre a missão dos submarinos integrada no âmbito da missão
da Marinha “Contribuir para que Portugal use o mar”, proferida pelo
CTEN EN-MEC Isaac Silveira. Apresentou ainda o modo genérico
de funcionamento dos vários sistemas existentes nos submarinos
portugueses. De realçar o modo de propulsão do submarino a partir
da energia acumulada em baterias, que lhe permite uma quase “in-
visibilidade” acústica.
Seguiram-se duas apresentações específicas sobre o sistema de
climatização feitas pelo 1TEN EN-MEC Cunha Gomes e pelo 1TEN O interesse pelas apresentações, as questões suscitadas na visita
EN-MEC Lino Santana. A primeira versou os sistemas de remoção ao local e a sempre disponibilidade dos oficiais anfitriões fizeram
de carga térmica, o controlo de humidade, remoção da carga de desta iniciativa um verdadeiro sucesso, tendo a mesma terminado
condensação da máquina frigorífica para o exterior e a distribuição muito para além da hora inicialmente prevista. Foi unânime entre
do ar no interior do submarino; a segunda abordou os sistemas de os Membros da Ordem o reconhecimento do profissionalismo, da
ventilação, a captura do dióxido de carbono, o controlo de po- simpatia e da disponibilidade da Marinha nesta visita, consubstan-
luentes no interior do submarino, a necessidade de reação do hi- ciada nos três oficiais que os acompanharam.

82 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


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Especializações Horizontais

Especialização em Engenharia de Segurança


Alice Freitas › aafreitas@oep.pt

Lançamento do livro “Segurança Contra Incêndio


em Edifícios – Regulamentação Ilustrada e Anotada”
O Fórum FNAC do Norteshopping, em Ma- às respetivas instalações técnicas e de se-
tosinhos, recebeu no dia 6 de julho a apre- gurança.
sentação do livro “Segurança Contra In- A Eng.ª Fátima Januário fez a apresentação
cêndio em Edifícios – Regulamentação do autor, após a qual este explicou as mo-
Ilustrada e Anotada”, obra da autoria do Eng. tivações que conduziram à pu-
José Aidos Rocha, Coordenador-adjunto blicação da obra, bem como expôs
da Comissão de Especialização em Enge- a matriz de leitura e uma breve
nharia de Segurança da Ordem dos Enge- tudantes e leitores, uma com- síntese do seu conteúdo.
nheiros. preensão facilitada, com forte Marcaram presença cerca de 100
Trata-se de uma edição de autor, com uma componente de ilustração, de pessoas, entre familiares, amigos
acentuada vertente pedagógica, que visa todos os requisitos técnicos apli- e técnicos, tendo-se seguido uma
proporcionar aos projetistas, técnicos, es- cáveis aos diferentes edifícios e sessão de autógrafos.

Especialização em Engenharia de Segurança

Especialização presente na RTP3 No decurso da emissão foi transmitida uma reportagem a partir da
capital inglesa, bem como uma peça jornalística com enfoque no
O Eng. José Aidos Rocha, Coordenador-adjunto da Especialização incêndio que causou perda de vidas humanas e graves prejuízos.
em Engenharia de Segurança da Ordem dos Engenheiros, foi con- A jornalista Estela Machado aproveitou a presença do Eng. José
vidado do programa informativo 18/20, da RTP 3, transmitido no Aidos Rocha para esclarecer os espetadores relativamente às con-
passado dia 14 de junho. No noticiário, emitido em direto a partir dições de segurança dos edifícios de grande altura e das caracte-
do Porto, foi abordado o tema do incêndio ocorrido nessa madru- rísticas do comportamento ao fogo dos materiais a utilizar na cons-
gada na Torre Grenfell, em Londres, Inglaterra. trução, designadamente nas fachadas.

Especialização em Engenharia de Segurança

Conferência “Risco da Exposição a Vibrações”


Dando continuidade a iniciativas de divul-
gação de informação em temas relevantes
em matéria de Engenharia de Segurança,
em cujo contexto se enquadram os “Riscos
de Exposição Profissional a Vibrações no
âmbito da Diretiva 2002/44/CE”, a Especia-
lização em Engenharia de Segurança da
Ordem dos Engenheiros considerou de in-
teresse proporcionar a divulgação, em con- tendo sido orador o Eng. Henrique Guisado, dores expostos na Europa e em Portugal a
ferência, dos resultados da investigação consultor e detentor de larga experiência vibrações e suas consequências; a Diretiva
sobre o “Risco da Exposição a Vibrações – profissional no domínio da Segurança e Hi- 2002/44/CE – Diretiva Vibrações e as formas
Inconsistências e lacunas da legislação eu- giene no Trabalho, Professor em diversas ins- de avaliação da exposição propostas, bem
ropeia e portuguesa sobre a avaliação deste tituições de Ensino Superior e cuja tese de como as alterações introduzidas pela Dire-
risco”, junto dos profissionais de Engenharia, doutoramento incidiu sobre o tema a abordar. tiva 2006/42/CE; as inconsistências e la-
em geral, e dos Especialistas em Engenharia No âmbito da sua intervenção foram ana- cunas da legislação, incluindo aspetos de
de Segurança, em particular. lisados os seguintes aspetos: a evolução monitorização da exposição a vibrações.
A referida conferência decorreu a 19 de abril, histórica da avaliação deste risco, trabalha- Marcaram presença cerca de 50 participantes,

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 83


Colégios

tendo o debate demonstrado que a natu- › Que o risco de exposição às vibrações › A influência e consequências deste tipo
reza, especificidade e complexidade nas tem uma natureza muito comum e pre- de risco face às especificidades ergonó-
consequências do “Riscos de Exposição Pro- sença no nosso quotidiano; micas, biológicas e “estruturais” do “ser
fissional a Vibrações” exigem que sejam ado- › Que importa conhecer o risco utilizando humano”;
tadas as adequadas medidas de prevenção as adequadas ferramentas de identifi- › A importância do estabelecimento de
e controlo face às consequências potenciais cação, análise e avaliação; uma adequada interação entre as dire-
na saúde humana, sendo de mencionar numa › A importância da perceção a este tipo de tivas comunitárias que regulam o tema
breve síntese: risco por parte dos trabalhadores; Máquinas e o tema Vibrações.

Especializações Horizontais

Especialização em engenharia e gestão industrial


Alice Freitas › aafreitas@oep.pt

Conferência “Gestão da Sustentabilidade”


Uma cimenteira tem um impacto ambiental nharia e Gestão Industrial da Ordem dos
importante. Este facto coloca aos gestores Engenheiros (OE), pretende, pois, expor e
dessas empresas o desafio de assegurar o debater a estratégia delineada e implemen-
desenvolvimento sustentável da atividade, tada para atingir esse objetivo, assente em
questão que, na atualidade, se revela muito três pilares: stakeholders; questões de ín-
importante quanto assistimos a países que dole ambiental; desempenho económico-
retrocedem em compromissos assumidos -financeiro. A iniciativa tem lugar no dia 11
neste domínio. Esta conferência, organizada de outubro, na sede da OE, em Lisboa. Par- • Mais informações disponíveis em
pela Comissão de Especialização em Enge- ticipação gratuita, inscrição obrigatória. www.ordemengenheiros.pt/pt/agenda

Especializações Horizontais

Especialização em GEOTECNIA
Alice Freitas › aafreitas@oep.pt

Visita Técnica à Empreitada de Escavação


e Contenção Periférica do Hospital CUF Tejo
Organizada pela Comissão de Especialização de 50 participantes, os quais puderam apre-
em Geotecnia da Ordem dos Engenheiros ciar a complexidade da obra, bem como o
(OE), decorreu no dia 23 de junho uma vi- recurso a técnicas inovadoras. A OE agra-
sita técnica à obra de escavação e contenção dece o acolhimento do Grupo José de Mello
periférica do Hospital CUF Tejo, localizado Saúde (dono de obra) e da Teixeira Duarte
em Lisboa. Esta iniciativa contou com cerca (empresa construtora).

Especializações Horizontais

Especialização em SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA


Alice Freitas › aafreitas@oep.pt

Iniciativas Regionais • Estado d’arte dos PDM’s de 2.ª geração – Aplicação das Normas Técnicas da DGT » ver secção Regiões » NORTE

84 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


Soluções de Poupança Reforma

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Regulamento de Gestão e das Informações Fundamentais Destinadas aos Investidores disponíveis nas agências da Caixa e nos sites www.cgd.pt, www.cgdpensoes.pt e www.cmvm.
pt, e não constitui aconselhamento ou recomendação de investimento, sem prejuízo dos deveres legais da Caixa. Sociedade Gestora: CGD Pensões - Sociedade Gestora de Fundos de
Pensões, S.A., Av. João XXI, 1000-300 Lisboa. Banco Depositário e Entidade Comercializadora: Caixa Geral de Depósitos, S.A.
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registado na ASF, em 20 de setembro de 2007, e autorizado a exercer atividade nos Ramos de Seguros de Vida e Não Vida com a Fidelidade – Companhia de Seguros S.A. Os
dados do registo estão disponíveis em www.asf.com.pt. A CGD, enquanto mediador, não assume a cobertura dos riscos, nem está autorizada a receber prémios nem a celebrar
contratos de seguro em nome do Segurador.
Comunicação Engenharia Florestal

Viveiros de produção de plantas


florestais da The Navigator Company
A modernização e duplicação da capacidade de produção
no Viveiro de Espirra, Pegões – Portugal
O projeto e instalação de um viveiro de produção de plantas,
Viveiro do Luá, distrito de Ile, Zambézia – Moçambique

Vasco Paiva
Engenheiro Florestal Msc
The Navigator Forest, Director • Herdade de Espirra, 2985-270 Pegões, Portugal
Portucel Moçambique, Rua Nwamatibyane, 52, Maputo, Moçambique • vasco.paiva@thenavigatorcompany.com

Resumo 1. Vi
 veiro de Espirra (Pegões) – Modernização
Nos últimos cinco anos, a The Navigator Company (ex-grupo Portucel e duplicação de capacidade de produção
Soporcel) duplicou a sua capacidade de produção de plantas clonais
em Portugal (Viveiro de Espirra, Pegões, em 2012/2013) e instalou Em 2012 iniciou-se uma obra no Viveiro de Espirra (Pegões), com
um viveiro em Moçambique (distrito do Ile, província da Zambézia, o valor de 2,5 milhões de euros, que visou a duplicação da sua ca-
em 2014/2015) que é hoje um dos maiores e mais modernos de pacidade de produção de plantas clonais de eucalipto e a moder-
África. Foram duas obras com características distintas, cujos projetos nização do viveiro.
e execução assentaram na capacidade técnica e conhecimento da A conceção, o projeto, assentou na experiência e saber dos res-
The Navigator. Neste artigo são descritas as condicionantes de cada ponsáveis do viveiro em estreita coordenação com a Direcção de
um dos projetos e as soluções encontradas. Ambos os viveiros estão Projetos do grupo.
em plena produção, atingindo as maiores performances e as maiores Os dois maiores desafios que se colocaram de início foram: (1) a
taxas de sucesso, sendo líderes mundiais na produção clonal de articulação da ampliação e modernização com o layout existente
Eucalyptus. no viveiro; (2) a execução das obras em simultâneo com a pro-
dução.
A realização da obra, enquanto se mantinha a produção, implicou
Abstract soluções criativas que resultaram bem. Logo no primeiro ano o au-
The Navigator Company Forest Plant Nurseries mento cifrou-se em 50% do objetivo e no segundo ano atingiu a
The modernization and doubling of production capacity in the produção máxima.
Espirra Nursery, Pegões – Portugal O viveiro passou a dispor de modernos sistemas mecanizados,
The design and installation of a plant nursery, Viveiro do Luá, Ile sendo de realçar:
district, Zambézia – Mozambique › Duplicação da capacidade de produção de plantas clonais – am-
In the last five years, The Navigator Company (former group Portucel pliação da biofábrica, construção de casas de sombra, ampliação
Soporcel) has doubled its clonal production capacity in Portugal de parque de pés-mãe e outros espaços;
(Viveiro de Espirra, Pegões, in 2012/2013) and installed a nursery in › Automatização e modernização dos processos produtivos – sis-
Mozambique (in the Ile district, Zambézia, in 2014/2015) which is now tema S-Monitor de controlo e programação das regas e aber-
one of the largest and most modern in Africa. Those were two tura/fecho das estruturas cobertas associado a estação climato-
interventions with distinct characteristics, whose projects and execution lógica, sistemas mecanizados na linha de produção de substratos,
were based on the technical capacity and knowledge of The Navigator. enchimento de tabuleiros, movimentação mecanizada na linha
This highlight describes the constraints of each project and the solutions de plantação e triagem, arrumação automática dos tabuleiros
that were found. Both nurseries are in full production, reaching the em tabuleirões por robô, mesas rolantes para transporte de ta-
highest performances and the highest success rates, being world buleiros assentes numa estrutura metálica que permite a sua
leaders in clonal Eucalyptus production. movimentação ligando todas as áreas de produção do viveiro;
› Melhoria das condições fitossanitárias – sistema de esterilização
dos tabuleiros, reorganização dos sistemas de drenagem e con-
trolo de infestantes;
› Melhoria das condições de ergonomia de trabalho e de segu-
rança e higiene.

86 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


Comunicação Engenharia Florestal

A dimensão da obra, em números, pode ser ilustrada por: tecimento de água e eletricidade. Teria de ser também o mais cen-
› 24 km de tubos de rega; tral possível em relação às áreas de futuras plantações.
› 13,6 km de tubos de drenagem; Não existiam registos meteorológicos da região que pudessem
› 7.500 toneladas de brita; apoiar na escolha do local e inicialmente também não se conhecia
› 2,8 km de tubos metálicos para movimentação dos tabuleirões; o nível, profundidade e capacidade, do lençol freático para a cap-
› Dois parques de pés-mãe com 7,5 ha e 250 mil pés-mãe; tação de água. Embora dispondo do apoio dos técnicos locais da
› 5,4 ha de área coberta; Portucel Moçambique, foi necessário percorrer toda a região para
› 20 ha de área total no viveiro. a seleção dos locais possíveis.
A zona assenta numa mancha rochosa, cujo afloramento são os
Montes do Namuli. Assim, concluiu-se rapidamente que o lençol
freático era escasso, apenas com a possibilidade de fornecimento
de 2 a 3 m3/hora o que não era suficiente para suprir as necessi-
dades de água para o viveiro. Foi necessário procurar uma alterna-
tiva, isto é, o abastecimento a partir de captação de água de rio.
Esta opção exigiu medidas suplementares com a instalação de uma
jangada para suporte de sistema de bombagem e de um sistema
de filtragem e tratamento da água. Na seleção entre os diversos
rios da região avaliaram-se os seus caudais e a sua regularidade
durante o ano, assim como se procedeu à análise da qualidade da
água, dado que em alguns existe mineração a montante.
A opção final, proximidade ao rio Luá, assentou no tipo de ocupação
do local, na centralidade em relação às áreas de futura plantação e
na bissetriz das diversas condicionantes, tendo em conta os custos
relativos de cada uma: terraplanagem (cerca de 200 mil m3 de mo-
O Viveiro de Espirra tem sete clones de eucalipto em produção que vimentação de terras), distância ao rio e transporte da água (cerca
resultam do trabalho de seleção desenvolvido pelo Raiz, tendo por de 500 m) e à linha de média tensão (cerca de 2 km).
objetivo aumentar a produtividade das áreas a florestar, contribuindo
decisivamente para a melhoria da floresta portuguesa. Toda a pro- A conceção do projeto
dução é certificada e as plantas clonais obtêm a mais alta classifi- O conceito do projeto do Viveiro de Luá assentou na experiência
cação pelo ICNF, isto é, categoria de Planta Testada. do Viveiro de Espirra.
Assim, os Viveiros Aliança, empresa da The Navigator Company, Para além da vantagem da experiência, existiram outras, nomea-
passaram a ser os maiores viveiros de plantas em contentor/tabu- damente de se estar a fazer um projeto do zero sem as condicio-
leiro da Europa, produzindo cerca de 10 milhões de plantas/ano, nantes de se sujeitar a um layout já existente.
são dos mais modernos e de referência, aonde se alcançam as Isto permitiu que todo o conceito do viveiro fosse estabelecido de
maiores taxas de sucesso (superiores a 60%), a nível mundial, na uma forma linear e sequencial das operações a realizar: parque de
produção de plantas clonais de Eucalyptus globulus, e em que se pés-mãe (1,5 ha), biofábrica (1.160 m2), área de sobrevivência (8.000
utiliza o método de propagação vegetativa macro-estacaria. m2), áreas de enraizamento, atempamento e expedição (13.200 m2).
Os Viveiros Aliança, com três unidades produtivas (Espirra/Pegões, A localização das diversas estruturas de apoio (gerador e posto
Caniceira/Abrantes e Ferreiras/Penamacor), produzem quase todas transformador 250 KVA, estação meteorológica, depósito de água,
as espécies necessárias para operações de arborização e recupe- edifício de fertirrigação, laboratório, armazém, escritório, refeitório,
ração florestal e ainda plantas ornamentais e fruteiras, revelando posto médico, etc.) também beneficiou com uma disposição mais
assim também as preocupações de biodiversidade da The Navigator harmoniosa e acessível.
Company. Este perfil sequencial e linear permite ganhos evidentes, em termos
de tempo, de energia e de recursos humanos, nos transportes das
2. Viveiro do Luá (Gurué, Moçambique) – estacas e plantas e nas diversas operações.
– Projeto e instalação O mesmo critério foi seguido na biofábrica com operações se-
quenciais e em forma linear. Os tabuleiros entram num transpor-
A conceção e o projeto do viveiro de Moçambique assentaram na tador de tela, passam por uma unidade de lavagem, segue-se a
conjugação de esforços do conhecimento e da experiência dos res- esterilização a 800C, cerca de um minuto, arrefecimento com água,
ponsáveis dos Viveiros Aliança e da Direção de Projetos da The Na- enchimento dos tabuleiros com o substrato, compactação do
vigator Company. O viveiro destina-se a satisfazer as necessidades mesmo, perfuração, plantação das estacas e saída para a Casa de
da Portucel Moçambique para as plantações na região da Zambézia. Sombra/Estufa. No fim da linha de produção procede-se ao con-
trolo de qualidade e registo de produção. A composição e mistura
A escolha da localização do substrato são realizadas no viveiro.
O primeiro desafio que se colocou foi o da escolha da sua locali- Foi necessário definir os riscos e condicionantes da produção, na-
zação. Importava encontrar uma zona plana, pouco povoada, com turalmente diferentes em cada país. Se em Portugal é necessário
pouca utilização para a agricultura e de maior proximidade a abas- proteger das ameaças de geada, em Moçambique esse problema

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Comunicação Engenharia Florestal

não se colocava, mas existiam outros: chuvas temporárias muito Na circunstância, os responsáveis pelo viveiro tiveram de construir
fortes e variabilidade acentuada na radiação solar. “pontecas” artesanais e jangadas para transportar os materiais, muitos
Em Espirra temos Casas de Sombra protegidas com rede que pro- dos quais acabaram por ser carregados parcialmente à mão, à força
tegem de excesso de radiação solar no verão e ajudam no controlo dos braços.
de geada no inverno. Em Moçambique optou-se por uma solução
mista, Casa de Sombra/Estufa, em que a parte superior é coberta O viveiro em produção
a plástico, com aberturas zenitais, para proteger das chuvas tor-
renciais, e as paredes laterais com rede de sombra.
A natureza dos solos da região foi outra condicionante do projeto.
Em contraposição com os solos de Pegões, que são arenosos, os
da região do Viveiro de Luá são argilosos de muito má infiltração,
o que obrigou a medidas suplementares para uma boa drenagem
das águas, tanto das regas como pluviais, e evitar escorrimentos.
Etapa a etapa, passo a passo, houve que analisar todas as caracte-
rísticas locais e o modo de produção. Por exemplo, sendo previsto
menor tempo de permanência das plantas em viveiro, por uma maior
regularidade de expedição de plantas para o campo, não se justifica
o mesmo volume de alvéolo dos contentores/tabuleiros de plantas.
As contingências das épocas de plantação em Portugal recomendam
um maior volume de alvéolo (200cc) para melhor equilíbrio da parte Para a produção de plantas, a opção da empresa foi a contratação
aérea com a parte radicular e menor choque no transplante das de técnicos locais para chefes de equipa e de pessoas da comuni-
plantas para o campo. Em Moçambique, pelo exposto, não se jus- dade local para as diversas tarefas da produção.
tificava, pelo que se optou por um alvéolo cerca de 100cc, o que A generalidade dos trabalhadores do viveiro não tinha nenhuma ex-
permite maior rapidez na formação do torrão, melhor ocupação de periência de trabalho em grupo e naturalmente não conhecia auto-
espaço em viveiro e redução de custos de substrato. matismos e o próprio processo de produção de plantas. Esta situação
A espécie em produção, híbrido urograndis, é diferente da que se trouxe muitos desafios aos responsáveis que não só tiveram de lidar
produz em Portugal, pelo que foi também necessário atender às com muitas situações, até então inesperadas, mas também na adap-
suas características, o que implicou uma morfologia diferente da tação a uma realidade e cultura totalmente diferentes.
estaca, menos lenhificada e mais pequena, mantendo-se o mesmo A maioria dos trabalhadores é constituída por mulheres. Equipas
método de propagação vegetativa por macro-estacaria. de três trabalhadores, dois a preparar as estacas e um a plantar,
Numa região, e num país, em que não abundam serviços de apoio atingem já as produtividades normais em qualquer viveiro de pro-
para viveiros, foi ainda necessário prever o acesso remoto a sistemas dução clonal no Mundo, isto é, cerca de 7.000 estacas/dia.
informáticos e de automatismos e a aquisição de um conjunto vasto A instalação do viveiro teve impactos muito importantes nas co-
de peças de substituição que noutras circunstâncias não seriam tão munidades locais, desde logo a criação de 160 postos de trabalho.
necessárias ou pelo menos nas mesmas quantidades. Instalou-se um posto médico com presença regular de um médico
e consultas, sendo os casos mais complexos transportados pela
A execução empresa para o hospital da região. O analfabetismo é comum à
Elaborado o projeto e o concurso público das empreitadas avançou- maior parte dos trabalhadores, por isso criou-se uma escola no vi-
-se para a execução da obra. Para o acompanhamento dos traba- veiro com três turmas; do total de 60 alunos, 15, os mais adian-
lhos, o então grupo Portucel Soporcel fez deslocar dois quadros tados, já fizeram o exame do quinto ano. Passou-se a fornecer água
de Portugal para o local, um engenheiro civil, da área dos Projetos, potável à população através de um furo no viveiro. Em volta do vi-
e um técnico com larga experiência nos viveiros. veiro criou-se uma horta onde também os trabalhadores podem
A construção de uma infraestrutura deste tipo tem várias particu- colher os produtos da terra – feijão, milho e várias hortaliças. São
laridades, desde logo com a logística de lá fazer chegar os grandes incontáveis todos os benefícios sociais para as comunidades en-
equipamentos, a que se associa a distância para aquisição de ma- volventes, mas são já visíveis, por exemplo, a melhoria das condi-
teriais necessários, desde o simples parafuso até à compra da brita ções de habitação dos trabalhadores e outros.
(1,5 ton.) para revestimento do solo, a criação de uma base de vida A aprendizagem e o domínio da produção foram rápidos. Os tra-
para os construtores, etc. balhadores aprenderam a fazer plantas clonais, o que não é um
Numa primeira fase, o objetivo era a produção de 6 milhões de processo fácil em qualquer parte do Mundo. Ao fim de um ano, o
plantas/ano e a construção durou dez meses; a posterior expansão viveiro já produziu e expediu mais de 7 milhões de plantas clonais,
para uma capacidade de produção de 12 milhões prolongou-se aproxima-se rapidamente das taxas de sucesso de referência a nível
por mais sete meses. mundial e alcança também as produtividades humanas desejadas.
Às contingências previsíveis juntaram-se anormais e inesperadas Todas as normas de segurança e higiene são escrupulosamente
chuvas torrenciais com inundações em larga escala, em janeiro de respeitadas e monitorizadas.
2015, que afetaram a rede viária e fizeram ruir três pontes na es- É hoje um dos maiores viveiros de produção de plantas florestais
trada de acesso a norte e duas pontes na estrada a sul do viveiro, em África e um dos mais modernos com processos de automati-
o que prejudicou a chegada de muitos equipamentos e materiais. zação e de organização de trabalho avançados.

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Comunicação Engenharia Geológica e de Minas

O “Roteiro das Minas e Pontos


de Interesse Mineiro e Geológico
de Portugal”: o turismo e o património
mineiro e geológico
Patrícia Falé
Engenheira de Minas
DGEG – Direção Geral de Energia e Geologia • patricia.fale@dgeg.pt

Resumo Abstract
A procura por um turismo temático potencia a valorização do “The Mine Route and Geological Points of Interest in Portugal”:
património geológico e mineiro associado às antigas áreas mineiras. the portuguese geological and mining heritage for tourism
A sua diversidade e tipologia permitem um leque abrangente de The demand and offer for a thematic tourism empowers the
usos, materializado em diversas vertentes de caráter lúdico, cultural, maintenance and even development of the geological and mining
pedagógico e científico. Através do “Roteiro das Minas e Pontos de heritage in former mining areas. Its diversity and typology allow for
Interesse Mineiro e Geológico de Portugal” apresenta-se uma rede a wide range of purposes, entertainment, cultural and scientific.
de sítios com uma estrutura que dinamiza a sua promoção e garante Through Portugal’s Mines Route and Mining or Geological Points
a visitação, através do envolvimento ativo de um conjunto de of Interest Internet Platform, we present a network of heritage sites
entidades onde a componente científica (própria ou externa) é in a structure that fosters each site visitation supported by the active
obrigatoriamente assegurada. Dirige-se a um público genérico, involvement of the local site managing entities. The Mines Route
para quem viajar significa novas experiências, nomeadamente do was developed not only for the general public, for whom travelling
domínio intelectual, mas também a especialistas e ao meio escolar also means new intellectual experiences, but also for the expert
na vertente de literacia e formação científica. scientific traveller and, of course, students and schools as a natural
source for scientific literacy.

1. O “TURISMO GEOLÓGICO E MINEIRO” lorização do território, permitindo o usufruto do património histó-


rico-cultural e preservação da sua autenticidade; o envolvimento
O que genericamente é designado de “turismo geológico e mi- da sociedade no processo de desenvolvimento turístico; e o tra-
neiro” é parte da resposta à crescente procura de turistas que pre- balho em rede e a promoção conjunta entre os vários setores.
tendem experiências diferentes e autênticas, associadas a processos A procura de novos produtos, suficientemente atrativos, diferen-
de aprendizagem informal, na generalidade de situações em com- ciadores, num quadro de crescente concorrência de mercados,
plemento de outras ofertas turísticas existentes no território, com- constitui pois um desafio para todos os atores (públicos/privados),
binando conhecimento, sentimentos e emoções. aos seus diferentes níveis de intervenção (nacionais/regionais/lo-
Num sentido mais lato, podemos referenciar um turismo científico, cais), naturalmente com destaque para os empresários que investem
cultural ou de natureza aquele que procura o património material nestas novas atividades e para a administração local, em especial
e imaterial específico e que hoje já é assumido como ativos dife- quando se localizam em territórios de escassos recursos.
renciadores (história, cultura, natureza…) integrados na estratégia As minas e pedreiras abandonadas têm constituído uma preocu-
nacional de turismo em resposta aos desafios da coesão territorial, pação em todo o Mundo, comportando, em muitos casos, uma
do combate à sazonalidade e da inovação do produto, a par da pesada herança nos domínios ambiental e de segurança, não de-
sustentabilidade em que assenta a estratégia. vidamente salvaguardados aquando da sua exploração, possuindo
O turismo em Portugal é presentemente um dos principais motores no entanto um valor patrimonial (material e imaterial) único, de
da economia, com resultados recorde ano após ano ao nível dos elevado potencial e de grande relevância para o conhecimento da
principais indicadores normalmente analisados (exemplo: dormidas, história do Homem e da sua relação com a natureza e, consequen-
receitas, hóspedes, emprego e exportações – com uma percen- temente, de aproveitamento para múltiplas outras atividades, onde
tagem do PIB que, segundo alguns, passará dos 10%) e efeitos ao a turística é de destacar.
longo de todo o País – embora a distribuição desses efeitos posi- Com efeito, na sequência da atividade extrativa, em muitas das
tivos ainda apresente assimetrias no espaço e no tempo (sazona- áreas foram revelados contextos geológicos assinaláveis, represen-
lidade). tados por séries estratigráficas importantes, ricas jazidas paleonto-
É neste quadro favorável que é estabelecida a “Estratégia Turismo lógicas, estruturas mineralizadas e sistemas de alteração hidrotermal
2027” com eixos estratégicos de intervenção, destacando-se: a va- de grande valor científico. Em alguns sítios são dados a conhecer

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 89


Comunicação Engenharia Geológica e de Minas

Arouca Marco de Canavezes Gondomar - Museu V. Pouca de Aguiar Vila Real - Museu Porto - Passeio Geológico Matosinhos - Museu de Paredes - Arouca
Arouca Geopark (AGA) Museu da Pedra (C. Mun.) Mineiro-Casa da Malta C. Mineiro Romano Geológico Fernando Real da Foz do Douro (C. Mun.) Jazigos Minerais Portug. de Castromil (C. Mun.)
(UF Fânzeres e S. P. Cova) de Tresminas (C. Mun.) (UTAD) (LNEG)
Os locais da Região Norte

Valongo - Pq. Paleozóico Torre de Moncorvo - Porto - Museu do Inst. Borralha Porto - Museu Virtual Boticas - Pq. Arqueológico Macedo de Cavaleiros - Geoparque Global
de Valongo e Museu Museu do Ferro Sup. de Eng. do Porto Ecomuseu do Barroso (C. Mun. Montalegre) da Fac. de Eng. da Univ. do Vale do Terva Terras de Cavaleiros (Macedo de Cavaleiros)
da Lousa (C. Mun.) (C. Mun. / PARM) (IPP-ISEP) do Porto (FEUP) (C. Mun.)

Castelo Branco Geoparque Naturtejo da UNESCO Cantanhede Covilhã - Loja de Minerais Leiria
Museu do Canteiro (ALBIGEC) (Naturtejo) Museu da Pedra (C. Mun.) da Mina da Panasqueira (BTW, S.A.) Museu Cimento da Fábrica Maceira Liz (Secil)
Os locais da Região Centro

Viseu Batalha - Centro de Interpretação Amb. das Grutas Alcanena


Museu do Quartzo - Centro de Ivestigação Galopim de Carvalho (C. Mun.) da Moeda (Grutas da Moeda e Fátima, Lda.) Centro Ciência Viva do Alviela (C. Mun.)

trilhos temáticos e coleções museológicas, importantes testemu- a um público genérico, em que viajar significa novas experiências,
nhos da geodiversidade do território nacional, representados pelo nomeadamente do domínio intelectual, mas também a (2) espe-
seu espólio de rochas minerais e fósseis, muitos provenientes de cialistas, nas mais diversas áreas do conhecimento, e (3) ao meio
zonas de lavra ativa na época em que foram colhidos, e que por si escolar, na vertente de literacia e formação científica.
só testemunham a atividade extrativa em locais hoje esquecidos. O Roteiro das Minas e Pontos de Interesse Mineiro e Geológico de
Essa tendência tem manifestações um pouco por todo o Mundo, Portugal tem como objetivos gerais:
podendo-se destacar as mais de duas dezenas de locais classifi- › Constituir um contributo positivo para o desenvolvimento local,
cados pela UNESCO como Património da Humanidade (incluindo complementando a oferta turística existente com um conjunto
dois na vizinha Espanha: “Las Medulas”1 e “Património do mercúrio. de iniciativas inovadoras e diferenciadas;
Almadén e Idrija”)2, intimamente relacionados com a atividade mi- › Contribuir para a salvaguarda e rentabilização do património mi-
neira; os diversos geoparques dispersos por todo o globo, dos quais neiro (material e imaterial);
quatro se encontram no nosso País (“Geopark Global Terras de Ca- › Promover a manutenção, segurança e reabilitação dos locais;
valeiros”, em Macedo de Cavaleiros; “Arouca Geopark”; “Geopark › Promover o conhecimento científico dos locais, com especial
Naturtejo da UNESCO”, que se estende por diversos concelhos do incidência na população escolar;
distrito de Castelo Branco; e o “Geoparque Açores”, cobrindo a to- › Criar uma leitura informada dos temas associados à geologia e
talidade da Região Autónoma dos Açores), também integrados no minas junto das comunidades locais e da sociedade em geral;
Roteiro das Minas e Pontos de Interesse Mineiro e Geológico de › Constituir uma rede de conhecimento e partilha de experiencias
Portugal. Muitas outras situações, algumas bem curiosas, poderiam entre parceiros.
ser referidas, como é o caso do Estádio Municipal de Braga, que,
para além de uma notável obra de Engenharia, foi construído numa Neste contexto geral definem-se os seguintes objetivos específicos,
pedreira, usufruindo também desse enquadramento. associados à plataforma eletrónica (www.roteirodeminas.pt) dis-
ponível, constituindo esta o lado mais visível do projeto desenvol-
2. O ROTEIRO DAS MINAS E PONTOS DE INTERESSE vido desde 2010:
MINEIRO E GEOLÓGICO DE PORTUGAL › Dar visibilidade a um conjunto de iniciativas de âmbito local (ou
de concretização a curto prazo), de dimensões e características
Neste quadro, o Roteiro das Minas e Pontos de Interesse Mineiro e diferenciadas, relacionadas com o património geológico e mi-
Geológico de Portugal pretende ser um veículo para o conheci- neiro, com uma estrutura de gestão de apoio científico que pro-
mento científico e valorização do património mineiro e geológico, porciona visitas no terreno;
a par de se constituir como um elemento potenciador do desen- › Promover a visita de públicos diferenciados, como é o caso do
volvimento local através da oferta do conjunto de parceiros que o público escolar dos mais diversos níveis de ensino, através da
compõem. Trata-se de uma iniciativa da Direção Geral de Energia informação sobre as diferentes ofertas distribuídas ao longo de
e Geologia e da Empresa de Desenvolvimento Mineiro S.A., a que todo o território nacional;
presentemente já aderiram 32 outras entidades das mais diversas › Apresentar produtos específicos (temáticos, regionais, etc.) para
origens e que são as suas principais impulsionadoras. Dirige-se (1) públicos específicos, através da criação de sub parcerias, no

1 “Las Medulas” – Exploração mineira romana de ouro com a utilização, nomeadamente, da técnica ruina montium, criando uma paisagem característica. Essa técnica
implicava grandes quantidades de água corrente pelo que foram criados inúmeros canais e aquedutos na rocha. A exploração prolongou-se até ao século III, exis-
tindo hoje uma interessante paisagem e património mineiro passíveis de visitação (Ponferrada, em Castela e Leão/Espanha).
2 “Património do mercúrio. Almadén e Idrija” (classificação é partilhada com Idrija, na Eslovénia). Almadén foi o principal centro mineiro de extração de mercúrio, muito
usado nas minas para separar o ouro e a prata através de amalgamação. Este local tem grande importância histórica, quer das minas, da parte antiga da cidade,
como do ponto de vista geológico (Almadén, em Castela Mancha/Espanha).

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Comunicação Engenharia Geológica e de Minas

Lisboa Lisboa - Museu Natural de História Natural Grândola - Centro Mineiro do Lousal Estremoz - Centro Ciência Viva
Museu Geológico (LNEG) (Fac. Ciências / UL) (Centro Ciência Viva do Lousal) (Centro Ciência Viva de Estremoz)

Os locais da Região de Lisboa


Lisboa Mértola - Minas de S. Domingos Aljustrel - Mina e Museu de Aljustrel
Museus do Instituto Superior Técnico (IST) (Fundação Serrão Martins) (C. Mun.)

Os locais da Região do Ribatejo e Alentejo


Geoparque Açores Vila Viçosa - Museu do Mármore Rio Maior - Ecomuseu das Salinas

Região Autónoma dos Açores


(GeoAçores) (C. Mun.) de Rio Maior (C. Mun.)

Beja - Trilho Geológico


(LNEG)

Os locais da
quadro dos Parceiros do Roteiro, que possam constituir uma Cada parceiro é normalmente responsável por um local, sendo de
mais-valia na oferta local; interesse evidenciar a sua diversidade do ponto de vista de enqua-
› Apoiar o visitante/turista individual na gestão dos locais a visitar, dramento institucional.
no planeamento dos itinerários e rotas a percorrer; fornecer in- O estatuto dos 32 parceiros responsáveis pelos vários locais consta
formação “logística”; e assegurar uma “pré visita” informada; na tabela abaixo.
› Incrementar o mercado interno de turismo temático, no quadro Atualmente, os parceiros estão presentes com 35 locais.
do mercado interno alargado, e abranger o mercado europeu;
Juntas de Freguesia 1 Fundações 1
› Preencher uma lacuna de informação no espaço web e garantir Câmara Municipais 13 Administração Central 1
a presença da língua portuguesa; Empresas Municipais 1 Ensino Superior 5
› Georreferenciar a informação e garantir a sua interação com ou- Empresas Privadas 3 Centros Ciência Viva 3
Associações Sem Fins Lucrativos 4
tros suportes tecnológicos;
› Contribuir para que o Roteiro das Minas e Pontos de Interesse
Mineiro e Geológico de Portugal se constitua como um elemento 4. CONCLUSÃO
relevante na oferta diferenciadora do destino turístico.
O “turismo geológico e mineiro” é importante para a afirmação/
Os locais do Roteiro estão dispersos por todo o País (exceto na Re- diferenciação de destinos turísticos temáticos especializados e si-
gião Autónoma da Madeira onde existem já contactos para a inte- multaneamente desconcentrados, pelo que deve ser uma das li-
gração a curto prazo de novos locais) e são geridos por um parceiro nhas que as entidades competentes devem considerar na promoção
com capacidade técnica reconhecida. A adesão ao roteiro é volun- e desenvolvimento do interior. Neste âmbito, o Roteiro das Minas
tária e gratuita, salvaguardando-se sempre a especificidade de cada e Pontos de Interesse Mineiro e Geológico de Portugal tem tido
parceiro. Nos diversos locais de interesse geológico e mineiro apre- presente esses objetivos e é hoje o único instrumento que tem
sentados podemos referir intervenções variadas. A título de exemplo, condições objetivas para materializar esse papel.
podemos mencionar núcleos museológicos (Lousal/Grândola); par- A consolidação e desenvolvimento do Roteiro como rede nacional
ques geológicos e atracões geológicas (com destaque para os geo- de conhecimento centrada na Geologia e no Património Mineiro
parques nacionais enquadrados no programa UNESCO); antigas já incorpora hoje novas áreas de intervenção e outros saberes cien-
minas romanas (Vila Pouca de Aguiar); territórios mineiros (S. Do- tíficos que se revelam essenciais para o reforço de um desenvol-
mingos/Mértola), percursos geológicos urbanos (Porto), etc. vimento sustentável a nível regional e local.

3. OS PARCEIROS E OS LOCAIS Votos de boas experiências geológicas e mineiras em:


www.roteirodeminas.pt
A plataforma do Roteiro das Minas e Pontos de Interesse Mineiro e
Geológico de Portugal assegura a divulgação do património geo-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
lógico e mineiro de Portugal e das inúmeras atividades associadas
› 2009 – Georgina Pearman, “101 Things to do with a hole in the ground”,
a esses domínios, essencialmente baseada na utilização dos re- Post Mining Aliance, Cornwall.
cursos disponíveis nos parceiros aderentes. › 2017 – Turismo de Portugal I.P., “Estratégia turismo 2027 – Liderar o turismo
Para que um local/ponto possa integrar o Roteiro tem que garantir do futuro”, Lisboa.

a (1) existência de condições de visitação, (2) de interpretação dos › www.pordata.pt


› http://travelbi.turismodeportugal.pt
locais, e (3) de uma estrutura técnica própria ou protocolada de
› www.roteirodeminas.pt/partners-pt.aspx
produção de conhecimento.

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 91


Legislação

AMIANTO

Legislação Resolução do Conselho de Ministros


n.º 97/2017
Diário da República n.º 130/2017,
Série I de 2017-07-07
Aprova os termos das iniciativas relacionadas
com o diagnóstico, monitorização, substi-
tuição, remoção e destino final de amianto.

ARRENDAMENTO URBANO

Lei n.º 42/2017


Diário da República n.º 114/2017,
Série I de 2017-06-14
Regime de reconhecimento e proteção de
estabelecimentos e entidades de interesse
AGRICULTURA, FLORESTAS Resolução do Conselho de Ministros histórico e cultural ou social local (terceira
E DESENVOLVIMENTO RURAL n.º 101-A/2017 alteração à Lei n.º 6/2006, de 27 de feve-
Diário da República n.º 133/2017, reiro, que aprova o Novo Regime do Arren-
Decreto-Lei n.º 64/2017 1.º Suplemento, Série I de 2017-07-12 damento Urbano, e quarta alteração ao
Diário da República n.º 113/2017, Aprova a adoção de medidas de caráter ex- Decreto-Lei n.º 157/2006, de 8 de agosto,
Série I de 2017-06-12 traordinário para fazer face aos danos pro- que aprova o regime jurídico das obras em
Aprova o regime para novas centrais de bio- vocados pelos incêndios ocorridos entre os prédios arrendados).
massa florestal. dias 17 e 21 de junho de 2017 nos municí-
pios de Castanheira de Pera, Figueiró dos Lei n.º 43/2017
Decreto-Lei n.º 65/2017 Vinhos, Góis, Pampilhosa da Serra, Pedrógão Diário da República n.º 114/2017,
Diário da República n.º 113/2017, Grande, Penela e Sertã. Série I de 2017-06-14
Série I de 2017-06-12 Altera o Código Civil, aprovado pelo Decreto-
Altera o regime jurídico dos planos de or- Decreto-Lei n.º 82/2017 -Lei n.º 47 344, de 25 de novembro de 1966,
denamento, de gestão e de intervenção de Diário da República n.º 137/2017, procede à quarta alteração à Lei n.º 6/2006,
âmbito florestal. Série I de 2017-07-18 de 27 de fevereiro, que aprova o Novo Re-
Estabelece o regime jurídico das fruteiras e gime do Arrendamento Urbano, e à quinta
Decreto-Lei n.º 66/2017 cria o Registo Nacional de Variedades de alteração ao Decreto-Lei n.º 157/2006, de
Diário da República n.º 113/2017, Fruteiras, transpondo as Diretivas de Exe- 8 de agosto, que aprova o regime jurídico
Série I de 2017-06-12 cução números 2014/96/UE, 2014/97/EU e das obras em prédios arrendados.
Estabelece o regime jurídico de reconheci- 2014/98/UE, da Comissão.
mento das entidades de gestão florestal. ASCENSORES
Resolução do Conselho de Ministros
Decreto-Lei n.º 67/2017 n.º 110/2017 Decreto-Lei n.º 58/2017
Diário da República n.º 113/2017, Diário da República n.º 144/2017, Diário da República n.º 112/2017,
Série I de 2017-06-12 Série I de 2017-07-27 Série I de 2017-06-09
Altera o regime de criação das zonas de in- Aprova a Estratégia Nacional para a Agricul- Estabelece os requisitos aplicáveis à con-
tervenção florestal. tura Biológica e o Plano de Ação para a pro- ceção, fabrico e colocação no mercado de
dução e promoção de produtos agrícolas e ascensores e de componentes de segurança
Resolução da Assembleia da República géneros alimentícios biológicos. para ascensores, transpondo a Diretiva n.º
n.º 147-A/2017 2014/33/UE.
Diário da República n.º 132/2017,
1.º Suplemento, Série I de 2017-07-11 ÁGUA AVALIAÇÃO DE IMPACTE AMBIENTAL
Composição e funcionamento da Comissão
Técnica Independente para a análise célere Lei n.º 44/2017 Lei n.º 37/2017
e apuramento dos factos relativos aos in- Diário da República n.º 116/2017, Diário da República n.º 107/2017,
cêndios que ocorreram em Pedrógão Grande, Série I de 2017-06-19 Série I de 2017-06-02
Castanheira de Pera, Ansião, Alvaiázere, Fi- Estabelece o princípio da não privatização Torna obrigatória a avaliação de impacte
gueiró dos Vinhos, Arganil, Góis, Penela, do setor da água, procedendo à quinta al- ambiental nas operações de prospeção,
Pampilhosa da Serra, Oleiros e Sertã entre teração à Lei da Água, aprovada pela Lei n.º pesquisa e extração de hidrocarbonetos,
17 e 24 de junho de 2017. 58/2005, de 29 de dezembro. procedendo à terceira alteração ao Decreto-

92 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


Legislação

-Lei n.º 151-B/2013, de 31 de outubro, que ESTRATÉGIA TIC 2020 Delimitação das áreas territoriais beneficiá-
estabelece o regime jurídico da avaliação rias de medidas do Programa Nacional para
de impacte ambiental dos projetos públicos Resolução do Conselho de Ministros n.º a Coesão Territorial (PNCT), que se consti-
e privados suscetíveis de produzirem efeitos 108/2017 tuam como um incentivo ao desenvolvi-
significativos no ambiente. Diário da República n.º 143/2017, mento dos territórios do interior.
Série I de 2017-07-26
CÓDIGO DAS SOCIEDADES COMERCIAIS Aprova a Estratégia TIC 2020 e o respetivo REABILITAÇÃO URBANA
E CÓDIGO DA INSOLVÊNCIA E DA Plano de Ação.
RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS Decreto-Lei n.º 88/2017
LICENCIAMENTOS Diário da República n.º 144/2017,
Decreto-Lei n.º 79/2017 TURÍSTICOS + SIMPLES Série I de 2017-07-27
Diário da República n.º 125/2017, Altera o regime das sociedades de reabili-
Série I de 2017-06-30 Decreto-Lei n.º 80/2017 tação urbana.
Altera o Código das Sociedades Comerciais Diário da República n.º 125/2017,
e o Código da Insolvência e da Recuperação Série I de 2017-06-30 DIPLOMAS REGIONAIS – MADEIRA
de Empresas. Implementa a medida Simplex+ «Licencia-
mentos Turísticos+ Simples», alterando o Decreto Legislativo Regional n.º 18/2017/M
COMBUSTÍVEIS ALTERNATIVOS Regime Jurídico dos Empreendimentos Tu- Diário da República n.º 122/2017,
rísticos. Série I de 2017-06-27
Decreto-Lei n.º 60/2017 Desenvolve as bases da política pública de
Diário da República n.º 112/2017, LIVRO DE OBRA ELETRÓNICO solos, de ordenamento do território e de
Série I de 2017-06-09 urbanismo na Região Autónoma da Madeira,
Projeto de decreto-lei que estabelece o en- Resolução do Conselho de Ministros contidas na Lei n.º 31/2014, de 30 de maio,
quadramento para a implantação de uma n.º 76/2017 e define o respetivo sistema regional de
infraestrutura para combustíveis alternativos, Diário da República n.º 108/2017, gestão territorial.
transpondo a Diretiva n.º 2014/94/UE. Série I de 2017-06-05
Procede à criação do livro de obra eletró- Decreto Legislativo Regional n.º 19/2017/M
Resolução do Conselho de Ministros nico e à extinção da Ficha Técnica de Ha- Diário da República n.º 122/2017,
n.º 88/2017 bitação. Série I de 2017-06-27
Diário da República n.º 121/2017, Primeira alteração ao Decreto Legislativo
Série I de 2017-06-26 PLANO ESTRATÉGICO NACIONAL Regional n.º 12/2009/M, de 6 de maio, que
Aprova o Quadro de Ação Nacional para o DE SEGURANÇA RODOVIÁRIA – adapta à Região Autónoma da Madeira o
desenvolvimento do mercado de combus- – PENSE 2020 Decreto-Lei n.º 39/2008, de 7 de março,
tíveis alternativos no setor dos transportes. que estabelece o regime jurídico da insta-
Resolução do Conselho de Ministros lação, exploração e funcionamento dos
CONTRATAÇÃO PÚBLICA n.º 85/2017 empreendimentos turísticos.
Diário da República n.º 116/2017,
Decreto-Lei n.º 87/2017 Série I de 2017-06-19 DIPLOMAS REGIONAIS – AÇORES
Diário da República n.º 144/2017, Aprova o Plano Estratégico Nacional de Se-
Série I de 2017-07-27 gurança Rodoviária – PENSE 2020. Decreto Regulamentar Regional n.º 5/2017/A
Estabelece as medidas excecionais de con- Diário da República n.º 138/2017,
tratação pública por ajuste direto relacio- POLUIÇÃO Série I de 2017-07-19
nadas com os danos causados pelos incên- Altera o Decreto Regulamentar Regional n.º
dios florestais ocorridos nos Municípios de Portaria n.º 202/2017 14/2014/A, de 19 de agosto, que estabelece
Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Diário da República n.º 127/2017, a natureza, composição e normas de funcio-
Góis, Pampilhosa da Serra, Pedrógão Grande, Série I de 2017-07-04 namento do Conselho Regional da Agricul-
Penela e Sertã. Estabelece os critérios e a metodologia para tura, Florestas e Desenvolvimento Rural.
o reconhecimento de verificador qualificado
ESTRATÉGIA NACIONAL da prevenção e controlo integrados da po-
DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL luição, adiante designado por verificador PCIP.

Resolução do Conselho de Ministros PROGRAMA NACIONAL


Informações detalhadas sobre estes
n.º 100/2017 PARA A COESÃO TERRITORIAL
e outros diplomas legais podem
Diário da República n.º 132/2017,
ser consultadas em
Série I de 2017-07-11 Portaria n.º 208/2017 www.ordemengenheiros.pt/pt/
Aprova a Estratégia Nacional de Educação Diário da República n.º 134/2017, /centro-de-informacao/legislacao
Ambiental. Série I de 2017-07-13

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 93


Cró
nica Mirzakhani
glória e tragédia
no feminino
O mundo matemático ficou em choque,
no passado dia 14 de Julho, com a notícia
Jorge Buescu
Professor na Faculdade de Ciências da morte de Maryam Mirzakhani,
da Universidade de Lisboa // jsbuescu@fc.ul.pt
a matemática mais célebre do Mundo

M
irzakhani foi um meteoro que tando esse entusiasmo quando, chegado os números aos pares: 1 com 100, 2 com
rasgou os céus da Matemática, da escola, lhe mostrava e explicava pro- 99… Cada par soma 101 e existem 50 pares).
que quebrou todos os tabus e blemas mais avançados. Maryam recorda- “Foi a primeira vez que consegui apreciar a
tectos de vidro com o seu brilhantismo, que -se de ter ficado fascinada com uma clás- beleza de uma solução”, diz Maryam.
mostrou que a Matemática não tem género, sica história do matemático alemão Carl F. Maryam teve a sorte de começar a escola-
nem nacionalidade, nem religião. Foi a pri- Gauss. Quando este tinha sete anos de idade ridade logo depois do final da guerra Irão-
meira mulher na História a ganhar a Medalha o seu professor pediu aos alunos para so- -Iraque, num período de normalização social.
Fields, considerada o Prémio Nobel da Ma- marem os inteiros de 1 a 100. Segundos Quando frequentava o Ensino Secundário,
temática. Christiane Rousseau, Vice-presi- depois, Gauss mostrava a sua lousa, com a ela e o seu então namorado conseguiram
dente da União Matemática Internacional resposta correcta: 5050 (o truque é “casar” convencer o director da escola a organizar
(IMU), comparou, no seu discurso de atri- sessões de preparação para as Olimpíadas
buição da Medalha, o feito de Mirzakhani Internacionais de Matemática. Até então
ao da atribuição do Prémio Nobel da Física nunca uma rapariga tinha sequer integrado
a Marie Curie mais de um século antes, em a equipa nacional iraniana. Mas Maryam foi
1903. mais longe: ganhou medalhas de ouro em
A Medalha Fields tem várias regras especí- 1994 e 1995 e na sua segunda participação
ficas, entre as quais a de só poder ser atri- tornou-se a primeira representante do Irão
buída a matemáticos com menos de 40 a obter a pontuação máxima de 100%. Ainda
anos. Numa espécie de amarga ironia cós- adolescente, Maryam quebrava todos os
mica, exactamente a idade com que Mir- tectos de vidro.
zakhani desapareceu. Em 1999 licenciava-se na Universidade Sharif
Maryam Mirzhakani foi uma matemática ira- e iria realizar o doutoramento em Harvard
niana, professora na Universidade de Stan- sob orientação do também Medalha Fields
ford. Nasceu e cresceu em Teerão e quando Curtis McMullen. Foi Clay Research Fellow,
era criança tinha o sonho de ser escritora. depois professora na Universidade de Prin-
Mais tarde descobriu a Matemática; curio- ceton e finalmente Professora Catedrática
samente, começou por não ser muito boa em Stanford.
aluna. Afirma que na altura não tinha ver- A sua tese de doutoramento, terminada em
dadeiro gosto por Matemática. “Sem entu- 2004, não só resolvia um problema geo-
siasmo, compreendo que a Matemática pa- métrico tremendamente difícil (contagem
reça fria e sem significado. A beleza da Ma- do número de geodésicas fechadas simples
temática só se revela aos seguidores mais em superfícies hiperbólicas) como, pelo ca-
pacientes”. minho, estabelecia novas ligações e resolvia
Foi o irmão mais velho que lhe foi desper- A jovem Maryam com os pais em Isfahan, Irão outros dois problemas até aí considerados

94 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


Crónica

independentes (um sobre espaços moduli, existem desde o século XIX, registar quanto a este ponto,
outro relativo a uma intratável conjectura e têm a particularidade de, é um facto que o homem
de Witten, também ele Medalha Fields). Re- como os Jogos Olím- médio não partilha total-
solver um só destes problemas isoladamente picos, se realizarem apenas mente as tarefas da vida
teria sido extraordinário: 99% dos matemá- de quatro em quatro familiar com a mulher,
ticos jamais atingirão um resultado compa- anos. O ICM em que se sendo esta, em geral,
rável. Maryam não só resolveu os três como introduziram as Meda- mais sobrecarregada.
mostrou a existência de relações profundas lhas Fields foi o de 1936. Existem grandes mate-
entre eles, característica por vezes muito Em quase sete décadas de máticas nos séculos XX e
mais fértil do que a solução em si. Medalhas Fields, estas foram XXI, como se pode facilmente
Sobre esses tempos, afirma McMullen: “ela dadas independentemente da raça, verificar; mas são muito raras
A Medalha Fields
tinha uma espécie de imaginação arrojada. do credo político ou da religião. as que produzem os seus me-
Construía na sua mente uma imagem do Europeus e asiáticos, russos e americanos, lhores trabalhos matemáticos antes dos 40
que deveria estar a acontecer e depois vinha israelitas e vietnamitas já foram galardoados. anos. E este atraso devido ao relógio bio-
ao meu gabinete e começava a descrevê- No entanto, a lista das 56 Medalhas Fields lógico distorce decisivamente o universo
-la. No final perguntava-me «isto está bem?». até hoje ganhas revela um facto surpreen- dos candidatos elegíveis a Medalhas Fields,
Eu ficava sempre muito lisonjeado por ela dente: apenas uma foi atribuída a uma mu- que são na sua grande maioria homens.
achar que eu sabia responder!”. lher – precisamente Maryam Mirzhakani, Podemos agora apreciar melhor o que acon-
Desde então Mirzakhani expandiu o espectro em 2014. teceu no ICM de 2014, em Seul.
de áreas em que trabalhava. “Gosto de cruzar Porquê? Será que as mulheres não têm vo- A atribuição das Medalhas Fields é comuni-
as fronteiras imaginárias que as pessoas er- cação para a Matemática, talvez por esta cada aos galardoados com meses de ante-
guem entre diferentes áreas”, afirmava. “Há ser “demasiado abstracta”? Será que as mu- cedência, com o compromisso de sigilo ab-
imensas ferramentas à disposição e nunca lheres matemáticas, por mais competentes soluto, de forma a serem publicamente
se sabe quais podem ou não funcionar. É que sejam, não atingem o nível de exce- anunciadas no ICM. Mirzakhani soube da sua
preciso ser optimista e tentar relacionar as lência necessário a uma Medalha Fields? Medalha num e-mail que lhe foi enviado no
coisas”. Maryam era extraordinária a estabe- Será a Matemática, afinal, uma ciência mi- início de 2014 por Ingrid Daubechies, então
lecer relações entre áreas abstractas: isso sógina? Ou serão antes os júris das Meda- Presidente da IMU. Começou por achar que
permitiu-lhe provar, em colaboração com o lhas Fields, compostos por uma grande era uma brincadeira. No entanto, pouco de-
matemático Alex Eskin, uma conjectura eso- maioria de homens, uma espécie de “Clube pois, Daubechies ligou-lhe e confirmou-lhe
térica, por vezes classificada como não mais do Bolinha”, que discrimina as mulheres? de viva voz a atribuição da Medalha.
do que “um sonho muito optimista” – dando A resposta é menos conspiratória: a regra Mirzakhani ficou muito feliz, é claro, mas
origem a um resultado ainda não totalmente dos 40 anos é objetivamente penalizadora logo alertou Daubechies para um problema:
assimilado, conhecido como Teorema da para as mulheres. estava gravemente doente, com um cancro
Varinha Mágica de Eskin-Mirzakhani. Pensemos um pouco. Um matemático fora- da mama. Tinha sido operada, estava a ini-
Os objectos matemáticos com que Mir- -de-série, depois da licenciatura e do dou- ciar vários e intensos ciclos de quimioterapia
zakhani trabalhava na sua mente são total- toramento, estará a fazer investigação au- e não sabia se estaria em condições de se
mente abstractos e não existem no mundo tónoma a todo o vapor a partir dos 25 anos. deslocar em Agosto a Seul. Por uma cruel
físico. Enquanto pensava neles, Mirzhakani Tem portanto uma janela de 15 anos, até ironia do destino, a primeira mulher a ga-
gostava de rabiscar e desenhar esboços; aos 40, de trabalho intensíssimo se pretende nhar uma Medalha Fields não sabia se po-
ajudava-a a concentrar-se e a construir uma ser candidato à Medalha Fields. Nada o pode deria ir recebê-la.
imagem mental do que eles são. O marido, distrair dos teoremas. Nada de nada. Vale a Mais próximo da ocasião, quando se tornou
Jon Vondrak, disse: “ela tem folhas enormes pena ler, a propósito, a autobiografia de claro que Mirzakhani poderia fazer a viagem
espalhadas no chão e passa horas e horas a Cédric Villani Teorema Vivo, editado entre até à Coreia do Sul, surgiu um novo tipo de
desenhar aquilo que me parece ser a mesma nós pela Gradiva, com o relato em primeira problemas. O anúncio das Medalhas Fields
figura vezes sem conta”. A sua filha Anahita, mão sobre os anos de obsessão quase alu- é sempre uma ocasião de grande teatrali-
com três anos aquando da conquista da Me- cinada que conduziram à sua Medalha Fields dade. Os vencedores atingem estatuto de
dalha Fields, dizia muitas vezes, “olha, a mãe de 2010. pop stars e são literalmente assediados por
está a pintar outra vez!”. “Talvez ela ache que O relógio biológico da mulher é muito mais jornalistas durante semanas (ou, no caso de
sou pintora”, comentou Mirkhazani. implacável do que o do homem; esta janela Villani, hoje deputado da República Fran-
Será útil, para ter uma perspectiva correcta de 15 anos corresponde também ao seu cesa, durante anos). No caso de Mirzakhani
do que representa a atribuição da Medalha período fértil, durante o qual, querendo tudo isto era potenciado pelo clímax de ser
Fields a Mirzhakani, fazer uma pequena di- constituir família, terá filhos. Ora, a concen- a primeira mulher Fields!
gressão. tração total em objectos matemáticos es- Maryam Mizhakani transformou-se da noite
As Medalhas Fields constituem o mais pres- tratosféricos é difícil de compatibilizar com para o dia numa celebridade mediática à
tigiado prémio internacional na área da Ma- enjoos e ecografias, amamentação e cólicas, escala planetária. Estranhamente, a Univer-
temática. São atribuídas nos ICM (Interna- mudanças de fraldas e noites em branco. E, sidade de Stanford avisou no próprio dia na
tional Congress of Mathematicians), que apesar dos muitos avanços civilizacionais a página oficial onde anunciava a conquista

Julho/Agosto 2017 INGeNIUM • 95


Crónica

de Maryam que ela não estaria disponível


para entrevistas. Os perfis “oficiais” dos me-
dalhados estavam disponibilizados pela IMU,
já com ligação à respectiva entrada na Wi-
kipédia, e, para os mais afoitos, com uma
descrição em três páginas dos principais
resultados científicos. Os jornalistas tinham
assim todo o trabalho feito; e nenhum en-
trevistou Mirzakhani. Visto do exterior, po-
deria pensar-se que Mirzakhani fosse invul-
garmente reservada ou tímida.
A realidade, no entanto, era tragicamente
diferente. De modo a preservar Mirzakhani,
Daubechies e um grupo de outras matemá-
ticas elaboraram um plano para a isolar de
contactos excessivos, sem que contudo Mirzakhani no discurso de aceitação da Medalha Fields
transparecesse para o exterior a razão para
tal. Conta Siobhan Roberts no New Yorker: -lhe um hijab a cobrir o cabelo, como impõe mente, Maryam já era Catedrática em Stan-
“Éramos seis”, diz Daubechies. “Chamávamo- a lei islâmica. Significativamente, por oca- ford – têm acesso aos escalões superiores
-nos M. M. Shield [Escudo de M. M.]. Sempre sião do seu falecimento, o Presidente do da carreira docente no Irão.
que Mirzakhani estava em público, havia duas Irão, Hassan Rouhani, publicou no seu Ins- Num plano não científico e académico, a
matemáticas por perto; uma interceptava os tagram uma fotografia dela sem o hijab. E constatação de que a filha de seis anos de
jornalistas oferecendo-se como interlocu- desta vez os jornais publicaram as suas fotos Maryam Mirzakhani, por ter nascido do seu
tora, enquanto a outra ajudava Mirzakhani a sem alterações. O Ministro iraniano da Ciência casamento com um não muçulmano, logo
desaparecer de circulação. Sentíamos que, e Tecnologia, Mohammed Farhadi, anunciou não reconhecido pela lei vigente no Irão,
enquanto comunidade, devíamos ajudar. em Agosto a criação do Prémio Mirzakhani, dificilmente poderá visitar a sua família ma-
Queríamos muito ajudá-la a celebrar. Era tão destinado a jovens mulheres dedicadas às terna e conhecer a terra da mãe, levou um
injusto! Aqui estava ela – e estava doente”. áreas da ciência e tecnologia, na abertura grupo de deputados a propor uma alteração
Mirzakhani ficou mais uns dias em Seul, mas, do primeiro “Prémio Mulheres na Ciência”, a essa mesma lei, de modo a atribuir a na-
como ela e Daubechies tinham planeado, em Teerão. E disse que mulheres como Ma- cionalidade iraniana a Anahita e a outras
foi-se embora antes de dar a sua conferência ryam Mirzakhani mostram que o género não crianças e jovens na mesma situação.
plenária, agendada para os últimos dias do é obstáculo ao conhecimento, afirmando a Mirzakhani tocou assim muito mais vidas do
congresso. Nesse dia, diz Daubechies, “as intenção política de que no futuro as mu- que podemos imaginar, sendo hoje um dos
pessoas foram à procura dela – e ela não lheres possam constituir 30% da força de principais rostos de um movimento, ainda
estava”. trabalho em instituições e empresas ba- tímido e incipiente, da igualdade de direitos
Nos três anos que se seguiram, Maryam Mir- seadas no conhecimento. para a mulher numa sociedade profunda-
zakhani desapareceu do olhar público. À pri- Quando Mirzakhani era estudante, as mu- mente conservadora.
meira vista, dir-se-ia que estava apenas a lheres iranianas pouco mais podiam fazer
concentrar-se no seu trabalho matemático: na Universidade do que dar aulas práticas e Nota: Jorge Buescu escreve, por opção pessoal,
a última versão dos seus resultados sobre a só desde 2011 – altura em que, ironica- de acordo com a antiga ortografia.
“varinha mágica”, de 2016, tem mais de 200
páginas. Mas a natureza não colaborou: em
2017 o cancro propagou-se à medula óssea.
Foi internada em Julho num hospital da Ca-
lifórnia, onde viria a falecer no dia 14.
O legado de Maryam Mirzakhani é muito
maior do que os seus teoremas. No seu Irão
natal os seus feitos elevam-na à condição
de heroína nacional. A sua figura e os tabus
que quebrou são marcantes numa cultura
particularmente atávica em relação à con-
dição feminina, sinalizando a necessidade
de mudança.
Em 2014, aquando da conquista da Medalha
Fields, os jornais iranianos publicaram na
primeira página fotografias de Mirzakhani
– todas digitalmente retocadas, colocando- Serviço memorial por Mirzakhani em Teerão

96 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


80 ANOS
DE PRESTÍGIO AO SERVIÇO

DA ENGENHARIA E DO PAÍS
AGENDA Mais eventos disponíveis em www.ordemengenheiros.pt/pt/agenda

Nacional 18 a 20 de outubro 6 a 15 de novembro 27 a 30 de novembro


INGEO2017 – 7th Formação Reunião e Workshop
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Local: Lisboa http://ingeo2017.lnec.pt www.ordemengenheiros.pt Página: 74
www.imamhomepage.org/imam2017 Página: 22
Página: 71 5 a 7 de dezembro
7 e 8 de novembro ICEUBI2017 – International
9 a 27 de outubro 12.ª Expo Conferência Congress on Engineering
Formação em AutoCAD da Água Local: Covilhã
para engenheiros Local: Lisboa http://iceubi.ubi.pt
Local: Região dos Açores da OE, www.ambienteonline.pt/12expoagua
Ponta Delgada Página: 80
www.ordemengenheiros.pt Internacional
Página: 22 15 a 17 de novembro
JIIDE 2017 – VIII Jornadas 17 a 19 de outubro
10 e 11 de outubro 20 de outubro Ibéricas de Infraestruturas MMH – Metallic Mining Hall
HxGN Local Lisboa 2017 – VIII Encontro Nacional de Dados Espaciais Local: Espanha
The Power of Smart Change do Colégio de Engenharia Local: Lisboa www.fibes.es
Local: Lisboa Mecânica www.dgterritorio.pt/jiide2017
pt-marketing@hexagonsi.com Local: Porto 24 a 26 de outubro
www.ordemengenheiros.pt Euromold – World Fair for
11 de outubro Mold and Patternmaking,
Conferência “Gestão 20 e 21 de outubro Tooling, Design, Additive
da Sustentabilidade” Curso de Ética e 16 e 17 de novembro Manufacturing and
Local: OE, Lisboa Deontologia Profissional CoRASS 2017 – II Conf. Product Development
www.ordemengenheiros.pt Local: Região Centro da OE, Internacional sobre Local: Alemanha
Página: 84 Coimbra Avanços Recentes http://euromold.com/en
www.ordemengenheiros.pt em Modelos Não-lineares
11 de outubro Página: 18 Local: Coimbra
Sessão “Estado d’arte www.dec.uc.pt/corass2017
dos PDM’s de 2.ª geração – 23 a 26 de outubro
– Aplicação das Normas CIBEM2017 – XIII Congresso 21 a 24 de novembro
Técnicas da DGT” Ibero-americano ENEG 2017 – Encontro
Local: Região Norte da OE, de Engenharia Mecânica Nacional de Entidades
Porto Local: Almada Gestoras de Água 25 a 27 de outubro
www.oern.pt www.cibem13.com e Saneamento UPAV 2017
Página: 16 Local: Évora XXXII Congreso
www.apda.pt/pt/noticia/2627/eneg- Panamericano
11 a 13 de outubro 2017-sem-segredos de Valuación
INCREaSE 2017 Local: Uruguai
InternATIONAL Congress 23 e 24 de novembro http://upav2017.com
on Engineering 25 de outubro XI Congresso de Constr.
and Sustainability Conferência APREN Metálica e Mista 30 de outubro a 2 de novembro
in the XXI Century “Eletricidade Renovável: Local: Coimbra IMARC – International
Local: Faro Inovação e Tendências” www.cmm.pt/congresso11 Mining and Resources
www.increase2017.com Local: Lisboa Conference
www.apren.pt 23 e 24 de novembro Local: Austrália
Página: 64 14.º Congresso Nacional https://imarcmelbourne.com
de Manutenção
5.º Encontro de
Manutenção dos Países de
Língua Oficial Portuguesa
18 de outubro Local: Maia
Sessão “Atos de Engenharia www.14cnm.pt
Alimentar” 31 de outubro 22 a 27 de novembro
Local: OE, Lisboa LABORA 2017 STONE Industry Fair
www.ordemengenheiros.pt Local: Cascais Local: Polónia
Página: 82 https://laboraforum.edp.pt http://stone.mtp.pl/en

98 • INGeNIUM Julho/Agosto 2017


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