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O USO DE MICROINGREDIENTES (ADITIVOS) NA FORMULACAO DE DIETAS PARA SUINOS E SUAS IMPLICACGOES NA PRODUGAO E NA SEGURANCA ALIMENTAR' Claudio Bellaver 7 1. Introdugao Os paises em desenvolvimento vem apresentando um aumento da produgao de produtos de origem animal para satisfazer o mercado interno e também visando aumento de exportacées. Esses paises, devido a pressao globalizante da economia, devem apresentar melhorias constantes nos indices produtivos, sob pena, em caso contrério, de situarem-se num patamar inferior de desenvolvimento econémico. Sao paises chamados de economia em transigao e que caracterizam-se pela transformacao da sociedade, em que o papel do Estado fica menos importante que o papel do setor privado, O aumento do fornecimento de produtos primarios devido ao apetite crescente da populagao urbana para o leite, care e ovos, leva ao crescimento econémico, que muitas vezes por ser pouco planejado, ocasiona danos ambientais, distiirbios da agricultura familiar e incertezas entre os produtores e consumidores. Esta situagao chama pela necessidade de novas politicas de produgao animal em termos de alimento saudavel, boas praticas de produgao animal e conservagéo ambiental. Algumas altemnativas de produgao tem aparecido, como por exemplo a agricultura organica, boi verde e 0 porco organico, porém todas necessitam melhor compreenséo do que efetivamente representam, sem o viés apenas comercial, que alicergado no nome promocional, objetiva melhorar apenas a comercializacao. O patamar tecnolégico existente hoje, representa o avangos tecnolégicos alcangado principalmente nos iitimos 30 anos e se algumas tecnologias forem banidas, 6 preciso ter em mente o custo econémico advindo de tal direcionamento. Portanto, esse trabalho visa mostrar, na opiniéo do autor, as implicagdes gerais do uso de microingredientes de alimentagao a serem observados em fungao do conhecimento existente, do ambiente, da qualidade de vida dos produtores e consumidores, da qualidade da carne produzida e da rentabilidade do setor suino. Com isso em mente, esse trabalho enfocara a questao dos microingredientes de formulagao na alimentagao de suinos, fazendo a op¢do por uma produgao animal tecnologicamente correla, segura, sustentavel e economicamente viavel. Palestra apresentada no Congrasso Mercosur de Produccién Porcina, Buenos Aires. 22 a 25/10/ 2000. ® Med. Vat., PhD om Nutrigdo Animal. Pesquisador da Embrapa Suinos @ Aves, Concérdia SC - Brasil bollaver@cnosa.embrapa br 56 O conceito de sustentabilidade implica na aplicagao de tecnologias e em manter o desenvolvimento econémico para as futuras geragdes. O desenvolvimento atual das nagées desenvolvidas e daquelas que almejam situar-se melhor no cenario econémico mundial, depende do crescimento econémico, o qual somente é alcangado com crescimento da produtividade e com base nas inovagées tecnolégicas. Entretanto, a concep¢ao de desenvolvimento apenas como crescimento econémico comega a dar si de insustentabilidade trazendo conseqiéncias prejudiciais do ponto de vista social e ambiental. Nas regides onde predominam as pequenas propriedades rurais, ha um conflito entre a necessidade do aumento da escala de produgao para atender as exigéncias da globalizacao da economia e a producao de alimentos agroecolégicos que atendam a seguranca alimentar ¢ preservem o ambiente. Tem se verificado uma tendéncia de aumento da escala de produgéo fazendo com que haja diminuigéo do nimero de propriedades rurais e de especializagao por tipo de atividade. Isso fica bem evidenciado na produgao de suinos de Santa Catarina Em todas as visdes de desenvolvimento sustentavel ha anseios por um desenvolvimento que concilie crescimento econémico e conservagao dos recursos naturais. Para alguns, o crescimento econémico se dara a partir da mudanga de paradigma tecnolégico. Para outros, a mudanca da concepgao puramente econémica com regras de mercado, depende de aplicar as regras, mecanismos de controle, como por exemplo a taxagao da poluicao ou solos de garantia de qualidade. Por exemplo, na Europa existem cotas de produgao definidas pelos niveis de N e P eliminados da producao. Portanto, a concepgao moderna é de um desenvolvimento sustentavel com diversidade democratica em oposi¢ao a concepgao puramente econdmica 2. Legislagao sobre o uso de aditivos Algumas publicagdes para consulta das normas de uso de aditivos estao disponiveis nos EUA, através do FDA (Code of Federal Regulations, Title 21) e Feed Additive Compendium e, no Canada, pelo "The compendium of medicating ingredient brochures", todos referenciados no NRC (1998). O Brasil define as normas de inspegao e fiscalizagao de produtos destinados alimentagao animal através da lei 6.198 de 26-12-74 e seu subsequente decreto 76.986 de 06-01-76. Afora isso, duas portarias ministeriais regulamentam a questéo dos antimicrobianos, que sao: a portaria 193, de 12-5-98, que trata da vedacéo ao uso de cloranfenicol, tetraciclinas e sulfonamidas sistémicas (em substituigao a portaria 159 que incluia também penicilinas) e a portaria 448, de 10-9-98, que proibe a 0 uso, fabricagao e importacao de cloranfenicol, furazolidona e nitrofurazona como aditivos em ragées animais. Em adicao existe o oficio circular 19/98 de 16/11/98 do MAA que suspende o uso de Avoparcina. Segundo o Compéndio... (1998), um documento com o titulo de "Marco Regulatério para Productos Destinados a la Alimentacién Animal del Mercosur’, foi iniciado, porém nao concluido e que objetivava a harmonizagao de normas e procedimentos para produgao e comercializagao 37 de produtos da alimentacao animal no ambito do Mercosul dando competitividade global ao bloco econémico. 3. Subsidios a produgao agricola Os paises desenvolvides tém adotado uma politica de protecéo aos seus produtores rurais através de subsidios & produgao. O Congresso e 0 Senado dos EUA, aprovaram para o ano fiscal de 99-00 uma ajuda financeira aos produtores de 9 bilhdes*. Por sua vez, na Unido Européia ha evidéncias de que os subsidios agricolas serao aumentados. No periodo 2000/2006, 0 gasto global com a Politica Agricola Comum (PAC) sera de US$ 313,7 bilhées, ou seja, US$ 44,7 bilhdes/ano*. Se por um lado os paises desenvolvidos se protegem com subsidios, por outro lado os mesmos paises procuram se esquivar da protegao dos demais, com artificios que thes protejam das protegées dos outros paises. E © caso dos EUA que em Julho do ano passado, impuseram taxa de 100% autorizada pela Organizagao Mundial do Comércio (OMC/WTO) sobre as importagées de varios produtos agricolas da Unido Européia, em retaliacao a proibicao, pela Unido Européia, da carne tratada com horménios. Autoridades dos Estados Unidos afirmaram que as sangdes, no valor de US$ 116,8 milhdes, atingem produtos da Franga, Italia e Dinamarca, j& que esses foram os paises mais influentes na manutengao da proibi¢ao da carne com horménios por um periodo de dez anos (Gazeta Mercantil - 13/09/99) No Mercosul, varios incidentes tem sido registrados pela midia nas fronteiras, principalmente com o frango, nao cabendo aqui uma discussao pormenorizada. 4, Barreiras comerciais entre paises A proibigdo das importagées européias de carne de paises externos a Uniao Européia (EU) tem como base os motivos técnicos, mas que no fundo, servem também de protegao aqueles mercados. Por exemplo, a Comissao Canadense de Certificagao de Produgao Animal Organica (COCC, 1997) estabeleceu que entre outros aspects, 6 proibido a alimentacao dos animais com o uso intencional de esterco e promotores de crescimento como antibiéticos, horménios, uréia e elementos traco utilizados para estimular 0 crescimento dos animais. Na bovinocultura leiteira é também proibida a utiizagao de horménios para aumento da produgao de leite. Alguns paises europeus suspenderam a compra de lotes de carnes tratadas com promotores, apesar de especialistas assegurarem que essas substancias nao representam risco a satide humana. A visita ao Brasil, de avaliagao da missao veterinaria da Comissao Européia (CE), realizada em Margo de 1999 (Commission Européenne, 1999), teve como objetivo detalhar as aces tomadas pelas autoridades 2 Gazeta Mercantil- 01/10/99; * Gazeta Mercantil Latino-Americana - 23/0899 38

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