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UNIVERSIDADE ESTADUAL
INSTITUTO DE DE CAMPINAS
ARTES
INSTITUTO DE ARTES
LUCAS ZANGIROLAMI BONETTI
SERGIO GAIA BAHIA
CAMPINAS
2014
CAMPINAS
2016iii
SERGIO GAIA BAHIA
PROCESSOS COMPOSICIONAIS
DE
MOACIR SANTOS:
SERGIO'GAIA'BAHIA'
'
SUBSÍDIOS PARA
' UMA CRIAÇÃO AUTORAL
PROCESSOS'COMPOSICIONAIS'DE''
MOACIR'SANTOS:''
Tese de Doutorado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Música,
SUBSÍDIOS'PARA'UMA'CRIAÇÃO'
do Instituto de Artes da Universidade
Estadual de Campinas, para obtenção título
de Doutor em Música. Área de
AUTORAL'
concentração: Processos Criativos.
Orientador: Prof. Dr. José Eduardo Ribeiro
de Paiva.
' '''''''''''
'
'
'
' ESTE EXEMPLAR !CORRESPONDE À VERSÃO Tese'de'Doutorado'em'
FINAL DA TESE DEFENDIDA PELO ALUNO
Este!exemplar!é!a!redação!final!da! Música,'Instituto'de'
SERGIO GAIA BAHIA, E ORIENTADA PELO
Tese!defendida!pelo!Sr.!Sergio!Gaia!
PROF.
Artes'da'UNICAMP,'
DR. JOSÉ EDUARDO RIBEIRO DE PAIVA
Bahia!e!aprovada!pela!Comissão!
Julgadora!em!22/02/2016!! para'a'obtenção'do'
! grau'de'Doutor'em'
Prof.!Dr.!José!Eduardo!Ribeiro!de! Composição.'Área'de'
Paiva!
! concentração:'
! Processos'Criativos.'
Orientador! Orientador:'Prof.'Dr.'
José'Eduardo'Ribeiro'
de'Paiva.'
CAMPINAS
'
' 2016
'
'
CAMPINAS''
2016'
21
28
ERNEST DIAS, Andrea. Mais 'coisas' sobre Moacir Santos, ou os caminhos de um músico
brasileiro. 2010. Tese. Universidade Federal da Bahia, Salvador. p.170.
29
Ibidem, p.90-1.
22
que a formação de Moacir Santos enquanto compositor de choros (até
o início dos estudos teóricos em 1949) reforça essa espécie de
“parentesco”.
• Abigail Moura e Orquestra Afro-Brasileira: o trombonista, baterista
e compositor Abigail Cecílio de Moura (1904-1970) criou no Rio de
Janeiro sua “orquestra negra”, atuante entre 1942-1970, a partir de suas
próprias pesquisas sobre ancestralidade negra na música brasileira,
suas audições de compositores eruditos e suas leituras de africanistas
como Arthur Ramos, Edison Carneiro e Roger Bastide. Havia nas
apresentações da Orquestra cerimônias de Candomblé, além de
programas dedicados a personagens negros do passado e datas cívicas
da historiografia da escravidão. O grupo despertou na época interesse
de intelectuais como Câmara Cascudo, Alceu Maynard, entre outros; e
de músicos eruditos como “Eleazar de Carvalho, Paulo Silva, Camargo
Guarnieri, Julio Rossini Tavares, José Siqueira, e também de Moacir
Santos, cuja presença nos ensaios do grupo para fins de pesquisa foi
testemunhada por Carlos Negreiros (...)”, 30 membro da orquestra. Por
buscar a combinação da tradição (melodias e ritmos de caráter negro)
com a contemporaneidade (ligada à instrumentação jazzística), a
Orquestra Afro-Brasileira teria apresentado “embrionariamente a
concepção de ‘modernidade’ que Moacir Santos viria adotar no LP
Coisas.” 31
• Trilhas sonoras: as trilhas compostas por Moacir, especificamente
para filmes brasileiros (1964-66) já trazem algumas experiências que
seriam desenvolvidas no disco Coisas. Ernest Dias (2010) teve acesso
a um caderno de anotações do artista em sua biblioteca de Pasadena
que ela intitulou de caderno “Pré-Coisas”. Segundo a autora:
30
Ibidem, p.93.
31
Ibidem, p.94.
32
Ibidem, p.105.
23
O primeiro filme a utilizar tais ideias foi Ganga Zumba de Cacá
Diegues (1964), que trazia em sua trilha:
É importante citar aqui, ainda segundo a autora, que Coisa no.2 também
aparece anotada no caderno “Pré-Coisas”. Composta nove anos antes do lançamento
do disco Coisas, ela seria gravada em outros dois discos brasileiros antes de receber o
registro solo de Moacir: Baden Powell – Swings with Jimmy Pratt (Elenco, 1963); e
Sérgio Mendes & Bossa Rio – Você ainda não ouviu nada! (LP Philips, 1964 / CD
Dubas / Universal, 2002). Bonetti (2014) ainda aponta a presença da peça na trilha
sonora do filme O Beijo (Flávio Tambellini, 1964).
Sobre esse despertar musical, cabe aqui uma atenção à parte. Como já dito na
Introdução, Moacir Santos cumpriu uma trajetória pessoal e musical bastante peculiar:
da infância e adolescência no Sertão de Pernambuco, à migração para capitais
brasileiras (Recife – João Pessoa – Rio de Janeiro), ao estudo erudito com professores
33
Ibidem, p.107. Além dessa citação de Dias, vale recomendar a discussão levada a cabo por Bonetti
(2014), que analisa detalhadamente cada trilha cinematográfica de Moacir Santos, incluindo as
maneiras como os temas citados por Dias são empregados e tratados na trilha de Ganga Zumba. Ver:
BONETTI, Lucas Zangirolami. A trilha musical como gênese do processo criativo na obra de Moacir
Santos. 2014. Dissertação. Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
34
ERNST DIAS, Andrea. Mais 'coisas' sobre Moacir Santos, ou os caminhos de um músico brasileiro.
2010. Tese. Universidade Federal da Bahia, Salvador. p.99.
24
renomados e, por fim, às atividades profissionais em Pasadena, Califórnia.
Musicalmente falando, a compreensão de sua produção criativa passa bastante, num
primeiro momento, por essa sequência de estágios inerente à sua formação. Moacir
foi um músico que cresceu aprendendo principalmente com a prática e com processos
relativos à tradição oral (contexto das bandas do interior do Sertão). Transformou-se
em seguida num músico “popular” no sentido de inserir-se na indústria cultural,
sobretudo radiofônica, das grandes cidades. Chegou a então Capital Federal como
músico de prática jazzística e de gêneros populares brasileiros. Adquiriu, a partir
disso, considerável conhecimento teórico com o início de seus estudos eruditos.
Impossível que uma trajetória múltipla como essa não se expressasse musicalmente,
sobretudo, em relação ao que já discutimos da sua dupla temporalidade: uma
temporalidade cíclica e mítica, junto a outra racional e planejada.
O hábito de batizar composições com referências a infância e adolescência e o
gosto de Moacir pelas leituras de temas místicos (vide p.9) são os indícios mais
explícitos do primeiro caso. Musicalmente falando, com relação a Coisa no.2, ele se
expressa no uso de pedais e ostinatos, ritmo cíclico da bateria, ritornelos, além de
uma linguagem harmônica cuja constante ambiguidade nega uma direcionalidade
tonal. 35 Ao lado desse aspecto cíclico e ligado às origens de Moacir, temos uma
palpável racionalidade em diversos procedimentos: variação melódica e motívica;
exatidão no tratamento dos voicings; adensamento harmônico gradual; procedimentos
simétricos na melodia, harmonia e forma; combinações instrumentais e variações
texturais eficazes; planejamento formal; entre outros aspectos. Sobre essa questão do
planejamento, Ernest Dias (2010) traz mais uma observação sobre o caderno “Pré-
Coisas”:
40
NEVES, José Maria. Música contemporânea brasileira. 1 ed. São Paulo: Ricordi Brasileira, 1981.
p.101.
41
Ibidem, p.131.
42
Ibidem, p.133.
43
Ibidem, p.132.
27
experimentais, só passando a advogar por um processo de simplificação estética dois
anos depois. No entanto, a despeito das diferentes trajetórias, há um aspecto que está
ligado de certa forma a todos os artistas envolvidos – o fato de que:
44
Ibidem, p.93.
45
Entre outros professores, um dos que merecem citação foi o compositor austríaco Ernst Krenek
(1900-1991), cujo 3º Curso Internacional de Férias da ProArte de Teresópolis, em 1952, foi
frequentado por Moacir, também com abordagem sobre dodecafonismo. Newton Pádua, Assis
Republicano, Joaquina Campos, José Siqueira, Radamés Gnattali e Paulo Silva também foram
professores do artista.
46
NEVES, José Maria. Música contemporânea brasileira. 1 ed. São Paulo: Ricordi Brasileira, 1981.
p.95.
28
47
homens (...) e que representam o atraso e a reação”, referindo-se às cisões
existentes entre as diferentes correntes ideológico-musicais que deveriam conviver,
cada uma com sua importância, ao invés de enfrentar-se. O próprio Guerra-Peixe, que
fora membro do Música Viva em um período importante de sua trajetória, sempre
tivera forte relação com o universo popular, a ele ligado por suas atividades
profissionais como instrumentista e arranjador. Tais considerações reiteram o aspecto
de liberdade referente à formação de Moacir Santos: nenhum dos seus principais
mentores mostrava-se contrário, resistente ou refratário à música popular de forma
geral. Não há registros, ao menos nas atuais pesquisas acadêmicas sobre Moacir, de
nenhuma declaração sua sobre ex-professores que tenham tentado influenciá-lo
contrariamente ao seu direcionamento nem “convertê-lo” a outra abordagem de
maneira excludente.
Vale aqui uma última palavra sobre o mestre que Moacir considerou, entre
todos os outros, “como um farol me inspirando com sua tenacidade nos estudos e sua
energia incansável para criar coisas”. 48 Trata-se de Guerra-Peixe, cuja influência
durante o período de criação de Coisa no.2 é bastante provável. Entre seus dois
períodos de atividades na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, Moacir Santos trabalhou
como maestro diretor musical da TV Record de São Paulo (1954-56). E foi nesse
breve período paulista de dois anos que ele retomou suas aulas com Guerra-Peixe:
nasceria, em 1956, Coisa no.2. 49 Algumas estratégias do professor Guerra-Peixe
podem ter sido influentes na concepção da peça:
• Segundo Ernest Dias (2010), o uso do ostinato em Coisa no.2 pode estar
ligado “aos ensinamentos de Guerra-Peixe, que aplicava o ostinato como
exercício de composição”. 50 Já Vicente (2012) inclui o uso de ostinatos por
Moacir no contexto da influência do jazz modal dos anos 1950 e 1960. Ele
discute, a partir de Freitas (2008), a existência de um “ethos modal afro-
47
Ibidem, p.127.
48
Declaração de Moacir citada em: ERNEST DIAS, Andrea. Mais 'coisas' sobre Moacir Santos, ou os
caminhos de um músico brasileiro. 2010. Tese. Universidade Federal da Bahia, Salvador. p.71.
49
Em seu estudo sobre os ritmos e modos de Moacir Santos, Vicente (2012) considera que “Em uma
espécie de genealogia entre professor-aluno, César Guerra-Peixe influencia a prática modal de Moacir
Santos em Coisas (1965), que por sua vez foi professor de Baden Powell na fase de composição dos
modais Afro-sambas (1966)”. Ver: VICENTE, Alexandre Luís. Moacir Santos, seus ritmos e modos:
“coisas” do Ouro Negro. 2012. Dissertação. Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis.
p.132.
50
ERNEST DIAS, Andrea. Mais 'coisas' sobre Moacir Santos, ou os caminhos de um músico
brasileiro. 2010. Tese. Universidade Federal da Bahia, Salvador. p.189.
29
americano, que marca a produção da década de 1960 a partir da figura de
Miles Davis, do ‘álbum essencial’ Kind of blue (1959)”. Alguns dos elementos
tidos por Freitas como pertencentes a esse contexto modal seriam, segundo
Vicente, “frequentemente empregados no processo composicional de Moacir
Santos, como economia, ostinatos, condução paralela das vozes, acordes em
quartas, estaticidade dos vamps, que sintetizam práticas comuns a esta
década.” 51
• Outros aspectos das aulas de Guerra-Peixe dizem respeito a sistemas e teorias
ligados à composição. Nesse sentido, Ernest Dias (2010) cita Oliveira (2007),
que “observa a prioridade dada por Guerra-Peixe ao ‘caráter modal ou atonal
dos exercícios’ (pressupondo que os alunos tivessem familiaridade com o
sistema tonal, devendo, por isso mesmo, evitá-lo, se quisessem alcançar novos
52
horizontes)”. Esta pode ter sido uma premissa importante para o
desenvolvimento na música de Moacir de sua típica “mediação entre
tonalismo, modalismo e atonalismo (...)”, 53 o que, nesta pesquisa, relaciona-se
diretamente com a Pós-Tonalidade Triádica discutida no subcapítulo anterior.
• Outras premissas podem ser consideradas a partir do manual de Guerra-Peixe
Melos e Harmonia Acústica: princípios de composição musical:
O grifo acima diz respeito, como veremos, especialmente aos temas da Introdução
e da seção A de Coisa no.2, mas todos os elementos da citação podem ser igualmente
encontrados na peça. Dias completa a citação dizendo que o manual de Guerra-Peixe
51
VICENTE, Alexandre Luís. Moacir Santos, seus ritmos e modos: “coisas” do Ouro Negro. 2012.
Dissertação. Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis. p.148.
Vale ainda observar que Vicente realiza uma ampla discussão sobre Moacir enquanto
trajetória semelhante à dos músicos do jazz americano, citando Magee (2007), para quem “O Afro-
americanismo se manifesta nos esforços em fundir ou justapor o rural e o urbano, o sentimento da
distância do lar e o cosmopolita, o simples e o sofisticado. O principal canal musical do Afro-
americanismo – e seu mais rico e flexível meio é o blues.” Ibidem, p.139.
52
ERNEST DIAS, Andrea. Mais 'coisas' sobre Moacir Santos, ou os caminhos de um músico
brasileiro. 2010. Tese. Universidade Federal da Bahia, Salvador. p.101.
53
Ibidem, p.167.
54
OLIVEIRA apud ERNEST DIAS, Andrea. Mais 'coisas' sobre Moacir Santos, ou os caminhos de
um músico brasileiro. 2010. Tese. Universidade Federal da Bahia, Salvador. p.101.
30
“prevê outros elementos a serem exercitados para dar forma à melodia, como as
variações monorrítmicas em graduações crescentes de densidade e atividade, partindo
da forma barroca do doble”, que no manual, seria tratada como uma “série de
variações elementares sobre um tema curto e característico, cada uma com sua
configuração rítmica própria, interessando que o tema seja reconhecido em todas.” 55
Ficará claro na análise do material melódico de Coisa no.2 a utilização por Moacir
Santos desses princípios, transmitidos didaticamente pelo seu principal professor.
58
Na verdade, é natural que exista certo método em práticas musicais aparentemente “instintivas”;
assim como nada impede que haja intuição no trabalho de músicos com formação teórica sólida. Tal
dicotomia “instinto/estudo formal”, portanto, deve ser aqui bastante relativizada.
59
Declaração citada em: ERNEST DIAS, Andrea. Mais 'coisas' sobre Moacir Santos, ou os caminhos
de um músico brasileiro. 2010. Tese. Universidade Federal da Bahia, Salvador. p.66.
60
Ernest Dias também teve acesso a esses manuscritos e apresenta em sua tese ao menos um fac-simile
do choro Ricaom, datado de 1944. Vide referência da nota anterior, p.65.
32
1.2. Analisando Coisa no.2
Os trechos acima que estão sublinhados o foram pelo próprio Moacir, bem
como as palavras em negrito que, no original, foram por ele grifadas em cores. É
importante lembrar que a primeira edição do livro de Goestchius data de 1904 e
61
Ibidem, p.167.
62
Ibidem.
63
Trecho retirado de: GOETSCHIUS, Percy. Lessons in music form: a manual of analysis of all the
structural factors and designs employement in musical composition. Pennsylvania: Oliver Ditson
Company/ Theodor Presser Company, 1904. Reimpressão 1992.
Tradução do trecho por Andrea Ernest Dias em: ERNEST DIAS, Andrea. Mais 'coisas' sobre Moacir
Santos, ou os caminhos de um músico brasileiro. 2010. Tese. Universidade Federal da Bahia, Salvador.
p.167-68.
33
elabora suas ideias a partir dos repertórios clássico e romântico europeus (os
exemplos musicais utilizados são principalmente de Beethoven, Mozart,
Mendelssohn, Schumann e Schubert; com menos citações a Brahms, Chopin e Grieg).
Suas ideias batem, sobretudo, com as declarações de um Moacir Santos que se diz
apreciador principalmente de românticos como Brahms e Chopin 64 e cujo largo
estudo das formas eruditas inclui (além do livro de Goestchius) títulos como: The
shaping forces in music (Ernst Toch); Sonata forms e The classical style (Charles
Rosen); The homofonic forms of musical composition (outra obra de Goestschius);
entre outros. Em Moacir, se percebe não apenas a obediência aos princípios de
unidade e proporção como também se pode identificar a variedade (ou variação)
como elemento fundamental e gerador de suas formas. Já no que tange à proporção,
ela inclui uma categoria específica que, na obra de Moacir Santos, ocupa um lugar
importante: a simetria. Salles (2009), em suas considerações sobre simetria na obra de
Heitor Villa-Lobos, traz colocações que poderiam igualmente ser empregadas aqui:
A ocorrência das simetrias villalobianas sugere na maior parte das vezes que
elas são derivadas do próprio material, sem que assumam um papel
nitidamente estrutural na composição. (...) Para Villa-Lobos a simetria não é
necessariamente uma “planta arquetípica”, mas um ponto de partida ou
mesmo um ocasional patamar de estabilidade que o compositor
eventualmente adota como um elemento estrutural a ser transformado. (...)
enquanto para Webern a simetria é o objetivo da peça, para Villa-Lobos ela
é apenas um ponto de partida, um material a ser desconstruído. (...) se
aplica principalmente a momentos pontuais da composição, ou ainda mais
especificamente à geração de estruturas estáveis que são sistematicamente
desestabilizadas (...). 65
Coisa no.2 pode ser considerada uma forma binária precedida de Introdução.
No entanto, as seções da peça são repetidas com diversas variações nos planos
harmônico, melódico e textural, incluindo os solos. De modo que, a partir da
constante translação de cada seção com variações se estabelece a forma abaixo:
66
Ibidem, p.44.
Grosso modo, a translação, em sua origem científica “constitui operação simples de simetria e
corresponde à repetição periódica de um motivo que se desloca em uma direção” (Rohde, 1997, p. 10).
Em música, tal operação está relacionada à transposição de alturas.
35
A música modula para Db maior e o tema melódico
Repete seção A 8 principal se adensa, harmonizado por todos os sopros numa
(modulação) textura de voicing; trombone e trompa executam contracantos
nos dois compassos finais.
A música modula bruscamente de volta para Bb maior. O
Repete seção A 8 tema melódico principal é tocado em três oitavas diferentes:
(volta à tonalidade sax tenor (voz grave), sax alto + trompete (uníssono – voz
original) intermediária) e flauta (voz aguda). Acompanhamento apenas
do baixo e bateria, sem nenhum instrumento harmônico
(súbito enxugamento sonoro).
Repete seção B’’ Melodia com sax alto e trompete (uníssono) + flauta 8ª
(com variações) 8 acima; harmonização com os demais sopros e a seção rítmica;
baixo e bateria só acompanham.
Sopros e piano sustentam o acorde final de Bbmaj7(9);
Coda 3 bateria e baixo fazem os dois últimos compassos de levada e
finalizam no tempo forte do terceiro e último compasso.
Uma ideia musical completa, ou tema, está geralmente articulada sob a forma de
período ou de sentença. Estas estruturas normalmente aparecem na música clássica
como partes de grandes formas (por exemplo, o A na forma ABA’) (...) centram-se ao
redor de uma tônica e possuem um final bem definido. Nos casos mais simples, estas
36
estruturas consistem em um número par de compassos, geralmente oito ou um
múltiplo de oito (...). 67
67
SCHOENBERG, Arnold. Fundamentos da composição musical. 3 ed. 1 reimpr. São Paulo: Editora
da Universidade de São Paulo, 1996. p.48.
68
Ibidem, p.51.
69
Ibidem.
70
Ibidem, p.55.
37
repetição literal por conta do ritornelo. Configura, assim, simples frase repetida, não
sendo sentença nem período:
71
Aqui estão reproduzidos na ordem em que surgem na peça os temas de todas as seções (exceto a
seção A já exposta). As seções que repetem a melodia de uma seção anterior de forma literal, mesmo
que em oitavas diferentes, ou modulada, não foram reproduzidas por uma questão de simplificação.
38
72
RETI, Rudolph. The thematic process in music. Westport, Connecticut: Greenwood Press,
Publishers, 1978. p.13. *
40
Figura 1-11: presença do contorno da seção A (tema melódico principal) nas demais seções.
Este é o principal aspecto que levou esta pesquisa a situar Moacir Santos na
ampla seara da Pós-Tonalidade Triádica. A abordagem harmônica dúbia do
compositor tem levado outros pesquisadores a analisá-la de formas divergentes entre
si (Ernest Dias, 2010; Vicente, 2012), sempre recorrendo à cifragem da música
popular como instrumento principal. Não obstante as ótimas contribuições desses
trabalhos, o exame sobre as harmonias moacianas nos levou a tomar outro caminho.
Aqui, um dado histórico mostra-se importante: as cópias originais das partituras do
LP Coisas se perderam completamente no incêndio ocorrido na sede do extinto selo
Forma, responsável pelo lançamento do disco no Rio de Janeiro nos anos 1960. Para
que as partituras do disco pudessem ser lançadas em songbook, um dos músicos a
frente do projeto editorial, o saxofonista Zé Nogueira, transpôs todos os arranjos para
43
grade completa a partir das gravações originais. 73 Este fato traz alguma incerteza
sobre Moacir ter ou não se envolvido diretamente na transcrição e cifragem de suas
peças tal como se encontram no songbook. Mas, ainda que o tenha feito, há de se
considerar que um intervalo de décadas entre a gravação original e a edição das
partituras possa ter provocado imprecisões na maneira como as harmonias foram
cifradas. 74
Porém, independentemente dessa questão, o que a investigação sobre a
harmonia de Moacir revela é que o foco na condução de vozes é consideravelmente
mais importante que a lógica vertical da harmonia em bloco. Tymoczko (2011)
considera que “harmonia e contraponto constroem-se um ao outro” e acrescenta para
a música triádica: “claramente, uma condução de vozes eficiente é simplesmente
movimento melódico conjunto [nunca por mais de dois semitons] em todas as partes
75
de uma estrutura contrapontística.” Acrescento que, embora existam blocos
harmônicos em Moacir Santos (tríades, tétrades, pêntades etc), estes existem como
resultados de uma condução de vozes específica e “bem acabada”. Esta condução de
vozes revela muito mais sobre a linguagem harmônica do artista do que uma relação
entre acordes que dificilmente se mostra clara. Se não, vejamos.
Pode-se dividir a análise harmônica de Coisa no.2 entre as quatro primeiras
seções da peça, ou seja: Introdução – Seção A – Seção B – Primeira repetição da
seção A (ou Seção A’). Tal divisão é possível porque essas quatro primeiras seções
esgotam o material harmônico da música (conforme dito anteriormente, as seções A e
B se repetem várias vezes com diferentes variações, porém não mais apresentando
dados harmônicos novos). A Introdução é a seção que mais se aproxima de uma
“clareza” tonal – embora este termo tampouco seja apropriado. Por esta razão, é nela
onde o uso de cifras torna-se mais útil. Ainda assim, como já dito, as análises
existentes de dois outros autores sobre a Intro apresentam cifragens divergentes. 76
Nesta pesquisa, mais do que procurar uma cifragem “definitiva” para o trecho, o
73
É este material que tem servido de base para todos os pesquisadores que têm analisado peças do
disco Coisas em seus trabalhos acadêmicos: SANTOS, Moacir. Coisas: cancioneiro Moacir Santos.
Rio de Janeiro: Jobim Music, 2005.
74
O songbook Cancioneiro Moacir Santos com os arranjos do disco Coisas foi lançado em 2005, 40
anos, portanto, após o lançamento do LP.
75
TYMOCZKO, Dmitri. A geometry of music. 1 ed. New York: Oxford University Press, 2011. p.12-
13. *
76
Deve-se frisar que a harmonia desta seção não possui cifras no songbook original.
44
ponto importante é apontar a dubiedade harmônica e o progressivo “adensamento”
operado por Moacir através das seções da peça.
Introdução
77
Sobre o conceito de “harmonia modulatória”, Vicente (2012) cita Tiné (2008) com relação a uma
prática compositiva onde os “acordes parecem não ter relação entre si através do campo harmônico”
(Tiné, 2008, p.171). Em Moacir Santos, essa prática se uniria, segundo Vicente, a uma estratégia
frequente “no emprego de uma seleção de notas na melodia que acabam por constituir a estrutura de
um modo, sem vinculação direta à tonalidade ou progressão harmônica subjacente da música.”
(Vicente, 2012, p.155). De outro ponto de vista, tal colocação relaciona-se com o próprio conceito de
Pós-Tonalidade Triádica.
45
78
ERNEST DIAS, Andrea. Mais 'coisas' sobre Moacir Santos, ou os caminhos de um músico
brasileiro. 2010. Tese. Universidade Federal da Bahia, Salvador. p.187.
79
Ibidem, p.187-88.
80
Esse movimento, inclusive, gera algumas armações na guitarra que são simétricas, ex: c.3 e 4 – 5 e 6;
o que pode sugerir certa ingerência do elemento visual na maneira como Moacir harmonizou o trecho.
47
Seção A
81
Veremos mais adiante que a Teoria Pós-Tonal classifica esse tipo de simetria como uma simetria por
notas (Straus, 2013), ou seja: levando em conta o registro em que elas surgem na partitura, podemos ler
os intervalos (de um acorde ou arpejo, por exemplo) de baixo para cima da mesma forma que de cima
para baixo, algo que ocorre, obviamente, com um arpejo construído em quartas.
49
4ªJ (anacruse) 5ªJ 4ªJ
21
25
82
Aqui seguimos as cifras tal como escritas no songbook.
50
Aqui já se inicia um momento da peça em que as cifras, “oficiais” ou não, já
não serão de grande serventia do ponto de vista da análise. Assim, a despeito da
cifragem do songbook exposta acima, o que temos nesta seção A é uma progressão
que pode ser dividida claramente em duas camadas: a linha melódica da ponta e as
tríades que se relacionam abaixo dela (o exemplo abaixo está transposto oitava
acima):
83
As tríades estão cifradas tal como na Teoria Neoriemmaniana, sendo sinal de mais (+) para tríades
maiores e de menos (–) para tríades menores.
51
conectam cada tríade: L (Leading-tone), onde a fundamental da tríade move-se por
meio tom, resultando no mapeamento de uma tríade maior em sua mediante menor
(note que essa relação ocorre na direção contrária entre a oitava e a antepenúltima
tríade); e N (Neberverwandt – outra transformação), que mapeia uma tríade menor na
sua dominante maior, ou uma tríade maior na sua subdominante menor, por meio do
movimento de duas vozes por semitom. 84
Assim o compositor procede numa condução de vozes por transformações
triádicas compostas resultando num discurso que não se encerra nos limites da
tonalidade diatônica. Para visualizar ainda melhor o caminho desenvolvido,
utilizaremos a ferramenta da Tonnetz ou “rede de tons” (Cohn, 2012) que será útil no
decorrer das análises. A Tonnetz estabelece uma rede de acordes vizinhos,
demonstrando graficamente como eles se relacionam por notas comuns e por qual tipo
de transformação. Note que as retas horizontais estabelecem ciclos de quintas; e que
(olhando de cima para baixo, por exemplo) as retas diagonais para direita estabelecem
terças menores e aquelas para a esquerda descrevem terças maiores. É justamente o
cruzamento dessas retas que configura graficamente os acordes. Com relação às
tríades, os triângulos apontados para cima são tríades maiores e aqueles apontados
para baixo são tríades menores. Cada tríade maior está sempre circundada por três
tríades menores e vice-versa:
84
Introduziremos outras espécies de transformações triádicas ao passo que se tornar necessário nas
análises. As transformações triádicas básicas mostradas acima, que mapeiam tríades maiores em
menores e vice-versa, bem como outras transformações importantes encontram-se descritas num
estágio bem desenvolvido em: LEWIN, David. Generalized musical intervals and transformations. 1
ed. Oxford and New York: Oxford University Press, 1987.
52
Seção B
31
35
85
ERNEST DIAS, Andrea. Mais 'coisas' sobre Moacir Santos, ou os caminhos de um músico
brasileiro. 2010. Tese. Universidade Federal da Bahia, Salvador. p.191.
86
STRAUS, Joseph Nathan. Introdução à teoria pós-tonal. 3 ed. Salvador – São Paulo: Editora
UNESP – EDUFBA, 2013. p.107.
54
suas notas, contando da mais grave à mais aguda. Dessa forma, as notas de um
segmento são determinadas por números: a nota mais grave é 0, a segunda mais grave
é 1, a terceira mais grave é 2; e assim por diante. A nota correspondente ao maior
número, evidentemente, será a nota mais aguda do segmento. Aplicando os segmentos
de contorno (distinguidos pela sigla SEGC) à melodia da seção B, apresenta-se a
análise abaixo:
Assim sendo, uma coleção diatônica pode passar a designar-se não mais pelos
termos da teoria tradicional, mas pela quantidade de acidentes decorrentes de sua
transposição a partir das sete notas brancas do piano. A coleção designada como 1-
sustenido, por exemplo, pode referir-se a: Dó Lídia, Ré Mixolídia, Mi Eólia, Fá#
Lócria, Sol Jônia, Lá Dórica ou Si Frígia. 1-sustenido, portanto, refere-se a uma
determinada coleção de classes de notas onde a identificação de uma nota
“fundamental” da escala torna-se menos importante. Indo um pouco mais longe,
Straus considera que “a música pode mudar de uma coleção para outra e passagens
musicais podem ser entendidas em termos de interpenetração de umas pelas outras”,
87
Genericamente, a teoria dos conjuntos trata o conceito de classes de notas como alturas designadas
por números (e não por nomes de notas como Dó, Dó#, Ré etc). Se o Dó é designado pelo número 0,
por exemplo, este é o número que irá designá-lo independentemente de a nota ser chamada de Dó, Si#
ou Rébb; e independentemente também de que altura ela se encontre (Dó2, Dó3, Dó4 etc). Uma classe
de notas contém, assim, do ponto de vista da análise, tanto uma equivalência enarmônica, quanto uma
equivalência de oitavas, configurando uma forma mais genérica de referir-se às alturas. Veremos esse
conceito com mais detalhes adiante.
88
STRAUS, Joseph Nathan. Introdução à teoria pós-tonal. 3 ed. Salvador – São Paulo: Editora
UNESP – EDUFBA, 2013. p.153.
56
89
processo que o autor define como Interação intercoleções. Seguindo tais conceitos
ligados as coleções diatônicas, podemos compreender a relação harmônica da seção B
da seguinte maneira:
Coleção Acústica
- Láb Menor Melódica
- Sib Frígio 6
- Dób Lídio #5
5b - Réb Lídio b7/Mixo #4
- Mib Mixolídio b13
- Fá Lócrio 9
- Sol Esc. Alterada
Sol
Solb
Dó Dób
Ré Réb
Sol Solb
Lá Láb
Coleção Diatônica
uma nota por semitom: Solb – Sol – Solb. Na última conexão, entretanto, ele
abandona a parcimônia por meio da alteração de quatro notas da escala por meio tom,
resultando na coleção 2 – bemol. Essa conexão final brusca talvez se explique pela
89
Ibidem, p.164.
57
preferência de Moacir em estabelecer um modo definitivo na conclusão de suas
seções. No caso de Coisas no.2, o artista opta pelo modo de Bb Jônio ao final de todas
elas, sendo que sua maneira de atingi-lo não se dá pelas regras da tonalidade mas por
uma constante dubiedade modal.
A relação por parcimônia entre coleções diatônicas, portanto, descreve o
discurso harmônico da seção B de modo a revelar sua lógica. Conforme já dito, essa
lógica apresenta contraste com relação à seção A estudada anteriormente. Entretanto,
a seção B também guarda pontos de ligação com aquilo que a antecede e a sucede no
decorrer da peça, incluindo dois detalhes:
Figura 1-24: comparação entre melodias da ponta (acompanhamentos das seções A e B) e solo de vibrafone.
58
Além de sua lógica horizontal, de seus pontos de contraste e de ligação com
outras seções da peça, a seção B de Coisa no.2 também possui seus aspectos
simétricos. Para apresentá-los será necessário se ater um pouco mais aos acordes
enquanto construções verticais. Antes de enxergar nesse ponto uma contradição,
consideramos que nossa abordagem se mantém querente com a colocação de
Tymoczko (2011) segundo a qual harmonia e contraponto (condução de vozes) se
interconstroem (vide citação p.43). Assim, nosso argumento sobre a origem
“horizontal” dos acordes da seção B não se contradiz caso os examinemos
verticalmente. Esse exame, entretanto, prescindirá totalmente das cifras, que aqui
serão citadas apenas como referência.
O primeiro detalhe importante advindo desse aspecto diz respeito à disposição
dos blocos harmônicos. O que ocorre de novidade na seção B é um acorde central –
cifrado no songbook como G7/Bb – a separar dois acordes à esquerda e dois à direita:
As notas acima foram escolhidas por Moacir para os acordes do piano. Antes
de analisá-las, porém, é prudente detalhar alguns conceitos já citados em relação a
Straus (2013) e à Teoria Pós-Tonal:
90
Ibidem, p.1.
91
Ibidem, p. 2-3.
60
terça menor que os separa é a metade do intervalo de trítono do primeiro conjunto. A
figura abaixo esclarece essa relação:
92
Os intervalos na Teoria Pós-Tonal são estabelecidos simplesmente pela distância de semitons entre
uma nota e outra. Há mais de um tipo de classificação intervalar estabelecido nesta teoria, não sendo
necessário agora descrevê-los todos. Pontue-se, por enquanto, que os intervalos expostos na figura 1-28
são classificados como Intervalos Não Ordenados Entre Classes de Notas, que é quando se mede a
distância entre duas classes de notas importando sempre a menor distância.
61
Conjunto [5,7,9,10,0,2]
0
11 1
10 2
9 3
8 4
Mi
7 5
6
(Cb/Bb) (Bbmaj7)
5 2
11 9
6 5
10 10
*T11
(1)
Seção A’
39
94
Note que, aqui, evita-se tratar em demasia das variações texturais e instrumentais entre as seções de
Coisa no.2, de modo a evitar uma análise excessivamente descritiva e também porque essas variações
já se encontram suficientemente descritas em outros trabalhos que analisam a mesma peça (Ernest
Dias, 2010; Vicente, 2012; Improta, 2007). Em todo caso, tais variações de instrumentação e textura
estão resumidas na Forma esquematizada nas p.34-35.
65
43
Fica claro, pela figura acima, o processo de expansão harmônica operado por
Moacir Santos ao variar a seção A na seção A’. A figura única revelada pela Tonnetz
expressa, por assim dizer, a “harmonia total” das duas seções: trata-se de um grande
paralelogramo com adição de dois paralelogramos menores acima e abaixo (veja
próxima figura). Num terceiro nível de análise, percebe-se que esses dois
paralelogramos menores, já por sua aparência visual, demonstram uma relação
simétrica de inversão. Abaixo, essa relação está expressa graficamente e também por
nomes de notas. Note que quando empilhados a partir de sua única nota comum, os
dois paralelogramos menores revelam um palíndromo intervalar vertical.
68
Figura 1-36: figura única da Tonnetz (“Harmonia total” das seções A e A’) com simetria inversional dos paralelogramos
menores.
10 8 2
5 4 10
1 1 9
8 9 7
2 10 5
*T8 *I6
(1) (1)
Bb7(#9) Bbmaj7(6)
10 2
5 10
1 9
8 7
2 5
*T9
(1)
95
Note-se que por se tratar de conjuntos de classes de notas, as notas repetidas de cada conjunto foram
excluídas, visto não alterarem a relação.
70
possui sua contraparte na oitava. A título de comparação, por exemplo, na teoria
tradicional, 3ª maior e 6ª menor são intervalos complementares na oitava, assim como
5ª justa e 4ª justa, 7ª menor e 2ª maior e assim por diante. Analogamente, na teoria
pós-tonal, quaisquer dois intervalos entre classes de notas (medidos em semitons) que
somem 12 são também complementares: 1 e 11, 2 e 10, 3 e 9, 4 e 8, 7 e 5, 6 e 6 (o 6
corresponde ao intervalo de trítono que divide a oitava ao meio). Posto isso, a
operação de inversão, em teoria pós-tonal, é uma operação dupla: ela envolve tanto
inversão quanto transposição. Primeiro inverte-se cada classe de nota de um conjunto
em torno de si mesma, o que faz com que cada uma se transforme em sua contraparte
na oitava: 1 vira 11; 2 vira 10; 3 vira 9; 4 vira 8 e assim por diante. Na relação entre
os conjuntos central e final da seção A’, primeiro invertemos o conjunto central, o que
resulta em:
4
8
11
3
2
96 Para uma explicação mais detalhada sobre operação de inversão, consultar: STRAUS, Joseph
Nathan. Introdução à teoria pós-tonal. 3 ed. Salvador – São Paulo: Editora UNESP – EDUFBA, 2013.
p. 41-55.
71
conjuntos, portanto, contempla vários conjuntos que soam de maneira semelhante
pelo fato de possuírem essas relações. 97 Na seção A’, caso excetuemos as notas do
ostinato do baixo (camada que permanece constante sublinhando a progressão),
veremos que os acordes pertencem a classes de conjuntos com estreita relação entre
si:
Note pela tabela acima que o terceiro, quinto e o último acorde pertencem à
mesma classe de conjuntos, o que significa que estão relacionados inteiramente por
transposição ou inversão. É possível representar o encadeamento entre as classes de
conjuntos acima através de um mapa de encadeamento (figura 1-39). O mapa abaixo
mostra que toda a progressão da seção A’ dá-se por relações entre pentacordes com
apenas uma tetracorde posicionado no meio (justamente o acorde central Amaj7). O
procedimento visa expor a quantidade de semitons que precisariam ser ajustados para
que uma classe de conjuntos fosse igual à classe seguinte. Dessa forma, percebe-se
que as classes de conjuntos de todos os pentacordes da seção A’ estão separados por
apenas 1 semitom de diferença entre algumas de suas classes de notas:
97
Allen Forte (1973), em seu The structure of atonal music, estabelece um lista de todas as classes de
conjuntos de três notas (tricordes), quatro notas (tetracordes), cinco notas (pentacordes) e assim por
diante, até os conjuntos de nove notas (nonacordes). Straus (2013) escolhe duas formas de identificar
as classes de conjuntos: 1) pela definição de Forte (ex: o conjunto 3-4 seria um conjunto de 3 notas
localizado na quarta posição da lista de Forte); 2) pela Forma prima do conjunto, que é a maneira mais
compacta de representar a classe de conjuntos a que ele pertence, sempre entre parênteses começando
pelo 0, ex: (015).
72
Com relação à simetria dos próprios conjuntos individuais, esta seção A’ traz
algo mais claro que as seções anteriores. O que se tem nos conjuntos central e final da
progressão não é apenas uma simetria por classes de notas (espaço abstrato entre
classes de notas do conjunto), mas sim uma simetria por notas, ou seja, levando em
consideração os registros em que as mesmas se encontram na partitura. Falando em
intervalos tradicionais, o acorde central sobrepõe duas terças maiores separadas por
uma terça menor. Falando sobre distância em semitons da teoria pós-tonal, tem-se
dois intervalos 4 separados por um 3. Note que aqui se está desconsiderando a camada
inferior do Si bemol (ostinato do baixo) e contando os demais intervalos. Entretanto,
após o trecho concluir-se no Bbmaj7 (também simétrico por notas), o último
movimento harmônico em direção ao Bb6 mostra uma simetria que inclui o pedal.
Vejamos:
Figura 1-41: simetria por notas nos conjuntos individuais dos acordes.
74
Tem-se, assim, na seção A’, um discurso que avança em direção a um acorde
central simétrico, desestabiliza-se em seguida, para reencontrar a simetria ao final do
trecho.
A seção A’, por assim dizer, “fecha” a Forma de Coisa no.2. Claro que várias
outras seções virão em seguida, contando outras variações da seção A e também da
seção B. Porém, nenhum outro material inédito em termos de harmonia e melodia será
apresentado (com raras exceções que já se verão). Uma das variações ainda a
apresentar-se diz respeito à modulação da seção A uma terça menor acima, quando a
progressão deverá concluir-se no modo de Db Jônio em vez de Bb Jônio.
Curiosamente, este intervalo de terça menor ascendente empregado na modulação é o
mesmo utilizado por Moacir na próxima peça analisada neste trabalho: Coisa no.3,
que, como veremos, realiza uma modulação de C Maior para Eb Maior (campos
“tonais” tampouco articulados com clareza). Se poderia confabular sobre a
preferência de Moacir Santos em deixar sempre ambígua sua linguagem harmônica
entre modos maiores e menores, já que ele opta nas modulações por saltar de um
modo maior (ainda que difuso) para a sua terça menor: Bb Maior – Db; C Maior – Eb.
De mais concreto, no entanto, podemos fazer aqui um resumo da abordagem
harmônica de Coisa no.2 de modo a seguir adiante.
Vimos, portanto, que Moacir Santos emprega em Coisa no.2 linguagens não
apenas distintas, mas complementares ao longo das seções, operando um progressivo
adensamento ou “expansão” de procedimentos. Essa variação de linguagem, vista por
Ernest Dias (2010) como mediação entre tonalismo, modalismo e atonalismo foi aqui
situada na ampla categoria do Pós-Tonalismo Triádico. O discurso harmônico daí
extraído pode ser organizado, de maneira resumida, segundo a tabela abaixo:
75
Introdução Seção A Seção B Seção A’
- Melodia modal. - Melodia modal. - Melodia - Retorna melodia
contrastante que não modal contraposta ao
- Caráter “tonal” difuso da - Linha melódica se atém a um modo acompanhamento.
harmonia (dubiedade contrapõe-se ao único.
harmônica quanto às acompanhamento - Expansão harmônica
funções tonais). harmônico (nem todas - Linha melódica em relação à seção A.
as notas melódicas integra totalmente o
- Divisão entre dois polos integram a harmonia). acompanhamento - Acordes construídos
distintos separados por harmônico. pelo empilhamento e
transposição. - Harmonia organizada intersecção de tríades
por transformações - Origem relacionadas por
triádicas (não há mais “horizontal” dos transformações
caráter tonal). acordes triádicas.
(empilhamento
- Acompanhamento vertical da melodia).
dividido em duas Os poucos
camadas: linha da acréscimos de notas
ponta e tríades no acompanhamento
inferiores. justificam-se por
manter as segundas
maiores e menores
na condução das
vozes.
- Voz da ponta do
acompanhamento
harmônico relaciona-
se com aquela da
seção A (contorno).
Posto esse breve resumo da harmonia, analisamos até agora alguns aspectos
principais da composição: 1) Forma com descrição das variações instrumentais e
texturais; 2) Material melódico e sua construção a partir do motivo principal (variação
sobre pouco material, relação de contorno entre as seções, organização dos temas etc);
3) Linguagem harmônica; 4) Simetria relativa a diversos elementos da peça.
O exame desses fatores já deixou clara a orientação de Moacir Santos voltada
ao ideal clássico da unidade, variedade e proporção – ainda que este ideal seja
conquistado por meios próprios à linguagem do artista. Os aspectos restantes a
analisar operam um papel importante no que diz respeito à variedade e
complementam a estética musical da obra. Referimo-nos aos voicings e aos
contracantos.
76
1.2.4. Voicings
A utilização dos sopros em voicings é algo, em geral, feito com economia por
Moacir Santos. Das 16 sessões de Coisa no.2 (aqui incluindo todas as variações),
apenas quatro delas utilizam os sopros dessa forma. Resumidamente falando, é
possível estabelecer os seguintes traços principais na maneira como Moacir trabalha
esse procedimento:
98
Por definição, “a principal característica da técnica de arranjo linear está na horizontalidade das
vozes que compõem os blocos de notas do trecho musical em que a técnica é aplicada. Esta
característica é obtida a partir da não-explicitação da sonoridade básica dos acordes nas voicings e
por não ser desenvolvido um encadeamento acórdico-funcional dos blocos resultantes no decorrer de
um trecho linear.” [grifo meu] A preocupação horizontal de Moacir, entretanto, não deixa de incluir as
notas que caracterizam a sonoridade básica dos acordes (sobretudo terças e sétimas), daí não ser
possível classificá-lo rigidamente no conceito de Linear writing ao menos no que tange à Coisa no.2. A
definição citada para este conceito encontra-se em: BARBOSA DE OLIVEIRA, Joel. Arranjo linear:
uma alternativa às técnicas tradicionais de arranjo em bloco. 2004. Dissertação. Universidade
estadual de Campinas, Campinas. p.75.
77
• Papel da variação (incluindo seção transposta): conforme já ressaltado, os
voicings possuem fundamentalmente em Coisa no.2 um papel ligado à
variação, estabelecendo contrastes em relação a seções adjacentes no que
tange à dinâmica, textura e coloração. Tais variações são muito importantes, já
que na maior parte da peça – como, aliás, é do feitio de Moacir – há
preferência por simplesmente dobrar a melodia principal em uníssono ou
oitavas. Especialmente em Coisa no.2, os voicings servem também à produção
de clímax, que ocorre na seção que modula para Db Maior com transposição
da seção A’. Porém, esta transposição não se dá de uma maneira exata nota
por nota. Isso parece ressaltar um aspecto óbvio: apesar da abordagem
horizontal de Moacir Santos no que tange aos voicings, é evidente que também
há uma preocupação com a textura vertical produzida.
Partindo dos traços gerais acima, vejamos como Moacir trabalha seus voicings em
cada seção onde eles ocorrem.
Aqui se reafirma a distinção de que essa técnica (fechada no meio e aberta nas
pontas) é uma das variações de estrutura aberta utilizada por Moacir em seções onde
os voicings acompanham a melodia, tal como nesta seção B”. Em seções onde eles
apenas pontuam os finais de frases (como na seção B’ comentada anteriormente), o
99
Agradeço ao arranjador Douglas Fonseca pela ideia em assim batizar algumas técnicas de voicings
de Moacir Santos, numa direta referência aos Ritmos Moacir Santos, utilizados didaticamente pelo
próprio Moacir com seus alunos. Para checar os Rítmos MS, procurar: ERNEST DIAS, Andrea. Mais
'coisas' sobre Moacir Santos, ou os caminhos de um músico brasileiro. 2010. Tese. Universidade
Federal da Bahia, Salvador. p.77-83.
82
compositor mantém a ideia de um spread voicing, porém de maneira ligeiramente
mais compacta. Vale comparar as duas últimas reduções para conferir essa distinção.
Por fim, note pela última redução como o artista se preocupa em reforçar as
notas das pontas, operando uma espécie de simetria envolvendo a orquestração: são
sempre quatro instrumentos distintos tocando a melodia (três em uníssono; mais a
flauta oitava acima) e dois tocando a nota mais grave. Há, portanto, constantemente
na linha aguda o dobro de instrumentos da linha grave. Esta preocupação com a
melodia principal, ao lado de uma escrita confortável para os instrumentos é o que
parece justificar as dobras escolhidas na construção dos voicings. 100
100
Sobre escrita “confortável”, note, por exemplo, que a dobra oitava acima da flauta a mantém numa
região onde sua sonoridade adquire boa projeção e acrescenta harmônicos agudos ao conjunto.
83
101
O chamado five-part voicing com drop 2 – ou seja, uma técnica próxima ao drop 2+4 usado por
Moacir Santos neste acorde – é uma das marcas dos arranjados de Thad Jones para Count Basie, tendo
se tornado uma das sonoridades características da big band deste último, cujo trabalho tornou-se
referência para Moacir. Ver: WRIGHT, Rayburn. Inside the score. New York: Kendor Music, Inc.,
1982. p.49.
85
imediatamente inferior (Fáb3) igualmente 8ª abaixo no Mi2; em seguida, a nota
imediatamente acima do Mi2 (Lá2) é também dobrada 8ª abaixo, gerando a nota mais
grave do voicing; por fim, no centro do voicing, Moacir posiciona uma nota
característica do acorde, nesse caso, a fundamental Dó3. Essa estratégia se repete
idêntica nos próximos dois acordes, sendo que no primeiro (Abm7/Db) a nota central
é a terça menor Si natural; enquanto que no segundo (Ab7sus4(b9)/Db) é a nona
bemol Lá natural. Temos, assim, uma segunda variação recorrente da ideia de spread
voicing operada por Moacir, mais uma vez, num trecho onde os voicings
acompanham a melodia. Igualmente por sua classificação pouco tradicional e por sua
recorrência, denominaremos essa técnica de Voicing MS 2.
Note, ainda, no último acorde Ab7sus4(b9)/Db, o posicionamento da sétima
bemol (Solb1) na ponta grave do bloco, conferindo novamente uma sonoridade mais
dissonante a um acorde destacado pela subida da melodia.
Fica óbvia mais uma vez nesta seção a insuficiência das categorias tradicionais
para analisar os voicings de Moacir Santos. O que se pode inferir, no entanto, como
regra geral de sua estratégia são três pontos principais: 1) o aumento pontual de
tensão nos voicings que acompanham os acentos agudos da linha melódica,
reforçando o clímax da peça com uma sonoridade diferente em relação às seções
anteriores; 2) o já discutido controle sobre as linhas individuais de cada instrumento.
Sobre este último ponto, vale dispor abaixo uma redução do trecho inteiro para
melhor observar as melodias individuais e o cuidado lógico em suas construções. Um
detalhe, inclusive, é percebido: Moacir divide o trecho em duas linhas descendentes
por movimentos de segundas na base dos voicings: c.123-25 sendo “Fá - Mi natural -
Mib”; e c.126-28 sendo “Lá natural - Láb - Solb”. O pedal do contrabaixo em Réb
está omitido das cifras para facilitar o entendimento:
86
123
127
Por fim, vale aqui uma última observação sobre o caráter de clímax desta
seção modulada: ele é reforçado também pelo contraste com a seção anterior, quando
a bateria toca sozinha durante seis compassos até o retorno dos sopros. Antes mesmo,
porém, do solo de bateria, temos outra seção de enxugamento sonoro. Trata-se de uma
das variações da seção A, quando a melodia é reforçada em uníssono por sax
barítono, trombone baixo e contrabaixo acústico na região mais grave de toda a peça
(altura do Sib1). Não à toa, esta é a única seção A onde o contrabaixo não executa o
ostinato que permeia a música. As dobras do piano na melodia, devido à sua menor
87
projeção sonora, não chega a desqualificar a coloração grave do trecho. Aqui, mais
uma premissa de Guerra-Peixe parece materializar-se no que tange ao “ponto
culminante total – inferior e superior (clímax)” (vide citação p.29). Tem-se na peça,
portanto, uma sequência “clímax inferior – solo de bateria – clímax superior com
modulação”. Segue abaixo a variação grave da seção A (c.107-14):
Além da maneira própria como Moacir Santos trabalha seus voicings e sua
dinâmica, é possível citar outro traço de sonoridade particular relativo à
instrumentação. Em Coisa no.2, especificamente, temos: bateria, contrabaixo
acústico, piano, guitarra, vibrafone, trombone baixo, trombone tenor, trompa, sax
barítono, sax tenor, sax alto, trompete e flauta. Tal formação, embora remeta a outros
conjuntos de inspiração erudita influentes para Moacir (Gerry Mulligan Tentet ou a
88
banda de Miles Davis em Birth of the cool), não encontra equivalência entre grupos
identificados com o jazz dos anos 1950 e 1960. A formação instrumental de Moacir
Santos, portanto, surge como mais um traço estilístico peculiar do compositor de
Coisas em meio à produção musical de sua época.
1.2.5. Contracantos
Tendo em vista a melodia mais estática da seção B’ (tocada por flauta e sax
alto), os contracantos servem aqui para gerar movimento, compensando a ausência do
dinamismo que havia na melodia da seção B. Eles também evidenciam, mais uma
vez, a preferência de Moacir pelas já comentadas dobras em uníssono e oitava.
Podemos reduzir assim as linhas dos contracantos nesta seção:
Percebe-se ao longo da presente análise que Coisa no.2 é uma peça de extrema
simplicidade em sua superfície musical e que se constrói, num primeiro plano, por
variações melódicas, instrumentais e texturais a partir de suas primeiras seções A e B
(além da Intro). Constata-se também um progressivo adensamento de procedimentos
harmônicos, melódicos e simétricos como originários de relações musicais mais
profundas da estrutura. Por fim, tem-se o uso pontual dos voicings e contacantos
como elementos de variação que ajudam a compor o ideal de Moacir Santos de
unidade, variedade e proporção, gerando novos momentos de interesse e produzindo
pontos de clímax. A questão da economia de meios e da exatidão em todos os
pormenores criativos desta peça fica clara na abordagem composicional de Moacir. A
partir de todas as observações realizadas neste primeiro capítulo, portanto, produziu-
se abaixo um Mapa Conclusivo que, junto com o mapa do próximo capítulo, servirá
de ferramenta de planejamento para o primeiro movimento da Suíte Ouro Negro – do
Sertão à Califórnia, peça autoral deste pesquisador. Assim, o mapa abaixo nos traz as
seguintes orientações e procedimentos composicionais.
91
1.3. Mapa conclusivo
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MUIZA ADNET. As canções de Moacir Santos. Rio de Janeiro: Adnet Música, 2007.
1 CD.
The Complete Pacific Jazz & Capitol Recordings of the Original Gerry Mulligan
Quartet and Tentette With Chet Baker (Box Set). EUA: Mosaic Records, 1989. 3
CDs.
VINÍCIUS DE MORAES & ODETTE LARA. Vinícius & Odette Lara. Rio de
Janeiro: Elenco, 1963. 1 LP.
Eletrônicas
Site “Festival Moacir Santos”. 2013. Apresenta diversos dados sobre a carreira de
Moacir Santos e sobre o Festival em sua homenagem. Disponível em:
www.festivalmoacirsantos.art.br.