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SARTRE, Jean Paul. O existencialismo é um humanismo. 1970. Trad.

Rita
Correa Guedes.

Simone Cristina Machado1

O presente texto tem por objetivo apresentar alguns pontos de reflexão sobre
o Texto: “O existencialismo é um Humanismo”, escrito pelo Filósofo Sartre com o
intuito de defender-se das críticas recebidas, sobre tudo por parte dos marxistas
e Cristãos, buscando destacar os pontos essenciais apresentados no mesmo e que
contribuem para a reflexão sobre a ética.
Neste escrito Sartre procura apresentar sua visão de humanidade como a
manifestação, ou melhor a expressão do ser humano no seu existir no mundo, ou
seja, seu engajamento que é muito mais do que crenças ou ideologias. Quanto a
este aspecto Sartre (1970, p.2) destaca o seguinte:

De qualquer modo, o que podemos desde já afirmar é que concebemos o


existencialismo como uma doutrina que torna a vida do ser humano
possível e que, por outro lado, declara que toda verdade e toda ação
implicam um meio e uma subjetividade humana.

No seu relato em relação a este ser humano que existe no mundo, Sartre
destaca alguns pontos principais de sua constituição enquanto humano e para
defender o existencialismos daqueles que o confundem com ações vulgares ou
naturalistas, por não o conhecerem Sartre busca destacar alguns princípios que
regem o pensamentos dos existencialistas tanto cristãos como aqueles que se
ateus, como é o caso de Sartre.
Um dos primeiros princípios dos existencialistas é considerar que a
existência precede a essência. Para Sartre e outros pensadores ateus de sua épica,
esta existência que precede a essência se dá na maneira de que “o homem primeiro
existe, encontra-se a si mesmo e só posteriormente se define” (SARTRE, 1970,
p.4) Tal princípio muda a ideia de consciência em relação as doutrinas tradicionais

1
Aluna do curso de filosofia da Educação – Universidade Federal do Paraná. Turma 2016-2017.. Trabalho
apresentado ao professor Delcio Junkes para aquisição de nota parcial no módulo Tópicos essências em
Ética do Curso de Especialização de Filosofia da Educação - Ética, Política e Educação.
e da religiosidade. Pois no princípio do aspecto religioso a essência vem antes da
existência. Já o existencialismo defende que se você já tem uma essência definida
a minha existência se torna refém desta ideia de essência anterior. Para os
existencialistas ateus, não existe a ideia de um Deus ou ser supremo que orienta e
define a vida do homem, mas este se faz no mundo, de acordo com sua
subjetividade e suas escolhas. Assim este homem está condenado à liberdade e
sua consciência não é mais algo que parte do interior do indivíduo, como uma voz
que o orienta sobre o que certo ou errado, mas das suas próprias escolhas. Para o
existencialista o ser humano, uma vez que, lançados na existência sem que tenha
escolhido estar nela, já traz consigo uma série de elementos que influenciam
naquilo que é, embora estas não tenham ainda o poder determinar o seu existir,
desta forma. Afirmar que a existência precede a essência para o existencialista é
uma questão de liberdade.
O homem para o existencialista é aquilo que ele se faz de si mesmo, e a este
ato de se formar, Sartre denomina o projeto humano, que parte das escolhas
individuais de cada sujeito, mas que passa a ser compreendido por todo homem,
uma vez que as escolhas de cada homem, passa a ter um valor universal.
Para Sartre, só o fato de o ser humano existir, ele já está condenado a
liberdade, porém junto a esta liberdade é necessário estar presente o senso de
responsabilidade pelos seus atos e consequências, o qual ninguém pode se eximir.
Ao buscar a realização de seu projeto, o homem lança-se a0 seu futuro em busca
de significado, contudo nem sempre as suas escolhas garantem a realização de
seu significado e isto lhe causa angústia.
Segundo Sartre, o existencialismo é uma doutrina da ação e por isto dizia
que ninguém deve se esquivar-se de nenhum compromisso, utilizando-se de
desculpas, pois cabe a cada um fazer seu próprio destino. Este é um caminho
solitário pois não está definido por nenhuma moral a priori e aqueles que buscam
escapar desta realidade, estão agindo de má fé por recusar a sua própria liberdade
em suas escolhas.
Quando o indivíduo deixa de buscar a essência e tenta realizar o que o
mundo espera dele a possibilidade de construir um significado para sua vida é muito
menor. O mundo não é suficiente o indivíduo precisa ir além disto, e é por isto a
necessidade de construir um projeto que o permita lançar-se para o futuro tendo
consciência de que o mundo da forma que se apresenta a si não é suficiente.
A angustia- Não é necessariamente um aspecto negativo da escolha, mas é
um sinal de valorização do que se escolhe.
Diante da angustia percebe-se uma outra característica que é o desamparo,
pois a escolha é solitária. Precisa-se entender esta realidade a partir da ideia de
que se tem o dever de fazer o bem e evitar o mal, mas este dever é um dever
abstrato. Como não há uma norma moral a priori, que dirige a escola, está se dá a
partir do que se é traçado no projeto e isto é feito a partir da liberdade do próprio
homem e de sua responsabilidade nas escolhas que faz.
A angustia, muitas vezes leva a pessoa a fugir da escolha, deixando que os
outros decidam pela pessoa, uma ação que revela isto e o ato de pedir conselhos,
o qual Sartre define como uma ação de má fé. O primeiro passo de uma pessoa
que vai pedir conselho é selecionar o conselheiro e isto significa que sei ou imagino
que sei o que a pessoa pensa, assim se pretende algo e tem-se medo de assumir,
pede-se conselho por alguém que vai aprovar aquela ideia, caso não queira
escolhe-se alguém que pense ao contrário. Quando o resultado da escolha é
positivo o indivíduo se apropria do sucesso, mas quando a escolha dá errado culpa-
se o seu conselheiro, a má fé neste caso é a recusa da liberdade que caracteriza
no mau uso de sua responsabilidade em relação as suas escolhas. Leva a má fé a
recusa do indivíduo de construir um significado a sua existência.
O conceito ético moral do existencialismo como o próprio Sartre indica seria
o princípio da liberdade. A liberdade aliada a responsabilidade. Embora seja
possível buscar auxilio em morais a priori não existe morais a priori que possa
definir o nosso agir.
Isto não indica que seja necessário recusar as morais a priori, mas é
necessário em cada circunstancia definir o que é o bem, e a partir da perspectiva
que se coloca a subjetividade. O cogito é o princípio da subjetividade, eu só me
reconheço a partir do cogito e ao mesmo tempo que eu me reconheço eu reconheço
aos outros assim o homem. Eu só tenho consciência da minha ideia e da minha
possibilidade de escolhas, quando percebo isto nos outros.

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