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Parentesco

corporal e espiritual
O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIV – Honra a teu pai e a tua mãe,
item 8

Excetuando-se nos casos de transtornos de personalidade, como a sociopatia, em
que há uma ruptura entre o Self (ser integral) e o ego (ser consciente), conforme
nos esclarece Joanna de Angelis na obra Triunfo Pessoal, o ser humano é
essencialmente gregário e o laço que nos une é sempre o autêntico sentimento;
das inefáveis relações de amor aos dramas deprimentes de ódio, carregamos em
nosso cerne, em estado pujante ou latente, a afetividade e a capacidade de amar
que nos imanta mutuamente.

A formação destes laços pela convivência social leva-nos à constituição das
células familiares, pequenos laboratórios onde realizamos experiências
emocionais e afetivas, verdadeira oficina na qual construímos ou destruímos,
aperfeiçoamos ou depauperamos nossos valores morais.

Essas relações provenientes da consaguinidade dá-nos uma visão física e
material de algo abstrato, como o amor; a oportunidade de conviver em família,
portanto, convida-nos a exercitar a estima e afeição pelo outro que é “carne de
nossa carne, sangue de nosso sangue”; e não reconhecer isso, afrouxando estes
laços é “uma recrudescência do egoísmo”, conforme questão 775 de O Livro dos
Espíritos.

Parece-nos, então, que a família, em sua essência, fora concebida como um
pequeno núcleo de ensaio do amor fraterno e universal, com expressivas
facilidades e desafios. Nesse ínterim, o empirismo nos mostra que nem sempre
são auspiciosas essas experiências.

Todos os dias somos atingidos com pequenos petardos morais que ferem nossa
sensibilidade. E se nosso atual estado vibratório e moral não é capaz de nos
tornar imunes a eles, podemos nos proteger.

Tal proteção, entretanto, não consiste em ocultarmo-nos sob a égide da
insensibilidade aos apelos de um irmão; também não implica em nos afastar,
livrando-nos do raio de ação daquele que nos procura.

Proteger-nos é ouvir, receber a emanação e elimina-la sem exasperação. Manter
nosso psiquismo sensível às emoções mais elevadas, porém impassível aos
desequilíbrios de toda ordem.

Isso porque, se por um lado a conjuntura física proporciona a ligação afetuosa,
por outro, o apego aprisiona nossas consciências para o amor libertador;
experimentamos júbilo nas afinidades que aos poucos são despertadas, mas
também somos levados a sorver o fel dos dissabores naturais da convivência. É
natural.

Nessas experiências, não raro, atribuímo-nos um valor que nos melindra e
ressente, nas menores dissensões. Difícil é-nos perdoar, quando em verdade mal
deveríamos ter-nos magoado.

“Por isso diz-se de uma pessoa cujo caráter, cujos gostos e inclinações nada têm
de comum com os dos parentes, que ela não pertence à família. Dizendo isso,
enuncia-se uma verdade maior do que se pensa. (...) Com a pluralidade das
existências, que é inseparável do progresso gradual, existe a certeza da
continuidade das relações entre os que se amam, e é isso que constitui a
verdadeira família”. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. IV – Ninguém
pode ver o Reino dos Céus, se não nascer de novo, item 18 – Os laços de família
são fortalecidos pela reencarnação e rompidos pela unicidade da existência).

Fato é que cada um de nós nasceu com as condições necessárias para nosso
aperfeiçoamento, nem mais, nem menos; nascemos na família certa, que nos
propicia o burilamento moral: os mais tolerantes mostrando pelo exemplo aos
mais irritadiços, assim como os impetuosos exibindo o arrojo aos mais frígidos.
Temos conhecimento disso, mas estamos cônscios?

Através da reencarnação trocamos sistematicamente de papéis e
experimentamos emoções sob diversas nuances. É como se dispuséssemos de
ferramentas didáticas as mais diversas para nos levar ao aprendizado do amor;
são variados tons para executar a música deste nobre sentimento, até que uma
abordagem enfim toca-nos nas fibras mais recônditas e despertamos.

Muitas vezes é a alegria que nos encanta, noutras tantas a melancolia que nos
comove. Não obstante desestruturante ou equilibrada, a família é sempre
instituição sagrada, a qual devemos continuamente honra-la.

“Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E olhando para os que estavam
sentados à roda de si, lhes disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Porque o
que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã e minha mãe”
(Mateus, 12:48-50)

Essa alocução de Jesus ensina-nos que, se por um lado devemos honrar a família,
por outro, não devemos perder de vista que espíritos imortais que somos, nossa
grande família é toda a humanidade. De forma que o exercício do amor
experimentado em pequena escala no lar seja ato contínuo em nossa vida, para
com todas as pessoas.

E somente através do amor universal alcançaremos a plenitude, como Jesus
enunciara no Sermão do Cenáculo:

Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que
também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste. Dei-lhes a
glória que me deste, para que sejam um, como nós somos um: eu neles e tu em
mim, para que sejam perfeitos na unidade e o mundo reconheça que me enviaste
e os amaste, como amaste a mim.”(João 17:21-23).

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