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Nº 302 Setembro de 2014 Órgão Oficial do Corecon-RJ e Sindecon-RJ

Baixo
crescimento
e inflação
resistente
Luiz Filgueiras, José Marcio
Camargo, João Paulo de
Almeida Magalhães e
Dércio Garcia Munhoz
discutem o quadro econômico
e suas causas, o teto para
o crescimento da economia
e o combate à inflação
via juros altos.

Escolas da Macroeconomia BNDES

Novo artigo da série enfoca a Síntese Beneficiados dos financiamentos


Neoclássica de John Hicks do banco a atividades no exterior
2 Editorial Sumário

Pouco crescimento e inflação resistente Entrevista ...........................................................................................3


Luiz Filgueiras
A combinação indesejável de baixo crescimento econômico com in-
flação no topo da meta é o objeto de debate desta edição do JE. Por meio Entrevista ...........................................................................................5
de entrevistas com perguntas comuns a todos, quatro economistas con-
José Marcio Camargo
ceituados discutem o quadro atual e suas causas, a existência do chama-
do teto para o crescimento de economia brasileira, a política de comba-
Entrevista ...........................................................................................6
te à inflação via juros altos e a contradição da baixa taxa de desemprego.
Luiz Filgueiras, da Universidade Federal da Bahia, afirma que no atu- João Paulo de Almeida Magalhães
al modelo liberal-periférico em vigência no Brasil – capitalismo depen-
dente, com abertura comercial e financeira e inserção passiva na divisão Entrevista ...........................................................................................8
internacional do trabalho – a conjuntura internacional é decisiva para o Dércio Garcia Munhoz
fraco desempenho da economia brasileira.
José Marcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos, acredita que o BNDES ........................................................................................... 10
baixo desemprego gerou uma inflação de serviços de 9% ao ano, o que João Roberto Lopes Pinto
resultou em baixo crescimento do setor industrial, desindustrialização e O BNDES e a expansão do capitalismo brasileiro:
aumento dos déficits em conta corrente e na balança comercial. Ele con- corporações e setores privilegiados – Parte 2
sidera difícil combater a inflação sem elevar o desemprego.
João Paulo de Almeida Magalhães aponta que a semiestagnação só
Escolas da Macroeconomia ........................................................... 13
pode ser superada mediante a adoção de nova estratégia de desenvolvi-
Jennifer Hermann
mento, no lugar do modelo de substituição de importações que imperou
antes dos anos 80. A bem-sucedida experiência dos países asiáticos mos- Síntese Neoclássica
tra que essa estratégia deverá ser comandada pelas exportações de setores
de tecnologia avançada. Desindustrialização é tema do trabalho ..................... 16
Dércio Garcia Munhoz, da UnB e Ipea, afirma que vivemos um pro- primeiro colocado no Prêmio de Monografia
cesso de estagnação, fruto da política de se atirar no pássaro (economia)
assim que os preços se elevam, ainda que moderadamente. Ele crê que as Alunos da UFRRJ vencem
políticas cambial, monetária, de capitais de curto prazo e tributária têm Gincana Estadual de Economia
como foco os interesses do capital financeiro.
Fora do bloco temático, publicamos a segunda parte do artigo O BN-
Balanço Patrimonial
DES e a expansão do capitalismo brasileiro: corporações e setores privilegia-
dos, de João Roberto Lopes Pinto.
O artigo da série Escolas de Macroeconomia, assinado por Jennifer O Corecon-RJ apóia e divulga o programa Faixa Livre, apresentado por Paulo
Hermann, do IE/UFRJ, versa sobre a Síntese Neoclássica, designação do Passarinho, de segunda à sexta-feira, das 8h às 10h, na Rádio Bandeirantes,
AM, do Rio, 1360 khz ou na internet: www.programafaixalivre.org.br
Modelo IS-LM apresentado por John Hicks.

Órgão Oficial do CORECON - RJ Presidente: Sidney Pascoutto da Rocha. Vice-presidente: Edson Peterli Guimarães. Conselhei-
E SINDECON - RJ ros Efetivos: 1º Terço: (2014-2016): Arthur Câmara Cardozo, Gisele Mello Senra Rodrigues, João
Issn 1519-7387 Paulo de Almeida Magalhães – 2º terço (2012-2014): Gilberto Caputo Santos, Edson Peterli Guima-
rães, Jorge de Oliveira Camargo – 3º terço (2013-2015): Carlos Henrique Tibiriçá Miranda, Sidney
Conselho Editorial: Edson Peterli Guimarães, Carlos Henrique Tibiriçá Miranda, José Ricardo de Pascoutto Rocha, José Antonio Lutterbach Soares. Conselheiros Suplentes: 1º terço: (2014-
Moraes Lopes, Sidney Pascoutto da Rocha, Gilberto Caputo Santos, Marcelo Pereira Fernandes, 2016): Andréa Bastos da Silva Guimarães, Regina Lúcia Gadioli dos Santos, Marcelo Pereira Fer-
Gisele Rodrigues, João Paulo de Almeida Magalhães, Sergio Carvalho C. da Motta, Paulo Mibielli nandes – 2º terço: (2012-2014): André Luiz Rodrigues Osório, Leonardo de Moura Perdigão Pam-
Gonzaga. Jornalista Responsável: Mar celo Cajueiro. Edição: Diagrama Comunicações Ltda-ME plona, Miguel Antônio Pinho Bruno – 3º terço: (2013-2015): Cesar Homero Fernandes Lopes, José
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Entrevista 3

Luiz Filgueiras
Luiz Filgueiras é professor e pesquisador da Faculdade mento, ou seja, um crescimento
que não se apoia principalmente
de Economia da Universidade Federal da Bahia, autor no investimento – privado e públi-
do livro História do Plano Real e coautor, com Reinal- co – e sim no consumo, nos gastos
correntes do governo e nas exporta-
do Gonçalves, de Economia Política do Governo Lula. ções. Ou seja, um crescimento que
ocorre com uma capacidade produ-
P: A economia brasileira vive dependentemente das aparências, tiva que não se altera; de fato, se isso
um processo de estagflação? as baixas e flutuantes taxas de cres- ocorre, a aproximação a uma situ-
R: O debate acerca da economia cimento do PIB, assim como um ação de pleno emprego trará pres-
brasileira, nos últimos anos, está pouco mais ou um pouco menos de sões inflacionárias. No entanto, um
centrado, essencialmente, em ques- inflação, fazem parte da economia crescimento apoiado no investi-
tões macroeconômicas, em particu- brasileira desde a constituição, nos mento altera a capacidade produti-
lar nos níveis das taxas de inflação e anos 1990, do padrão (modelo) de va da economia e, dinamicamente,
de crescimento do PIB. Isto eviden- desenvolvimento liberal-periférico – amplia o produto potencial do pa-
cia que: 1- há um consenso entre as que reduziu mais ainda o grau de li- ís. Portanto, o investimento, como
forças políticas da ordem de que o berdade do país em conduzir a sua sempre, é a variável fundamental da
atual padrão de desenvolvimento política econômica e o seu destino. da economia brasileira. A melhora dinâmica macroeconômica e, no ca-
brasileiro não pode ou não deve ser Mais do que nunca, a distintas con- ou piora da vulnerabilidade exter- so brasileiro, o investimento públi-
alterado; 2- que as restrições estru- junturas internacionais são decisivas na conjuntural limita, mais ou me- co é crucial em todas as áreas: infra-
turais impostas por esse padrão não para a dinâmica da economia brasi- nos, o regime de política macroeco- estrutura, tecnologia, educação etc.
são consideradas, especialmente as leira, com as políticas macroeconô- nômica a ser adotado, bem como o
distintas conjunturas internacionais micas internas tendo de se adapta- seu campo de operacionalização. É P: Você crê na eficácia da política
que viabilizam distintos regimes de rem às circunstâncias exógenas. claro que existem variações de de- de combate à inflação no Brasil
política macroeconômica. As taxas sempenhos entre os países periféri- por meio da fixação da taxa Selic
de crescimento do PIB, a rigor, são P: Que fatores determinaram cos, a depender da estrutura econô- em patamar elevado? Que alter-
reduzidas e voláteis desde os anos o quadro atual de baixo cresci- mica e de fatores internos próprios nativas o país tem para reduzir os
1990, apresentando um comporta- mento econômico e inflação no desses países; mas elas não definem índices de inflação sem derrubar
mento de “voo da galinha”, que vol- topo da meta? Como superar es- sempre os mesmos países como os o crescimento econômico?
tou a se repetir do segundo Gover- ta situação? de melhor desempenho. Assim, em R: Na verdade, no Brasil, não são,
no Lula para o Governo Dilma. As R: Do ponto de vista imediato, po- certos momentos o Brasil se desta- diretamente, as taxas de juros eleva-
taxas de inflação, a partir do Plano dem ser citados o endividamen- ca positivamente e, em outros, ne- das que seguram a inflação, mas sim
Real, atingiram um dígito, variando to das famílias, que reduziu o rit- gativamente; no longo prazo, con- a valorização do câmbio, que decor-
muito pouco, com exceção do últi- mo de crescimento do consumo; a tudo, os problemas se reproduzem re da entrada de capitais estrangeiros
mo ano do segundo Governo FHC. piora das contas externas, que des- quase como um “karma”: vulnerabi- no país em busca de excelente opor-
Em resumo, o baixo crescimento do valorizou o real; e, neste ano eleito- lidade externa, restrições pelo balan- tunidade de valorização propiciada,
PIB atual não é nenhuma novida- ral, o comportamento defensivo do ço de pagamentos e ameaça da infla- exatamente, por essas taxas. A dis-
de, assim como a atual taxa de infla- empresariado – que provocou a re- ção fugir ao controle. tância entre a SELIC (a taxa de juros
ção no limite da meta não significa dução dos investimentos. A questão que remunera os detentores da dívi-
perda de controle do processo infla- mais de fundo, estrutural, é a natu- P: Você acredita que há um teto da pública) e as taxas de juros do to-
cionário. A ideia de que o país passa reza dependente do capitalismo bra- para o crescimento do PIB no Bra- mador final é enorme; portanto, o
por um processo de estagflação tem, sileiro, que se agravou desde os anos sil, que se superado implica o es- efeito de mudanças na SELIC sobre
claramente, um viés político-ideoló- 1990, com a constituição do padrão touro da meta de inflação? Em ca- as taxas de juros para o consumidor e
gico, no sentido de que há uma dis- (modelo) de desenvolvimento libe- so afirmativo, qual é o teto e como as empresas é pequeno. No entanto,
puta, novamente acirrada, entre as ral-periférico. Isto significa dizer que podemos vencer esta limitação? a valorização do real estimula as im-
forças da ordem para saber quem vai as distintas conjunturas internacio- R: A ideia de que há um teto pa- portações de produtos estrangeiros,
conduzir, a partir do próximo ano, nais, mais do que nunca, são deci- ra o crescimento do PIB tem co- que competem com produtos pro-
o país e sua política econômica. In- sivas para a dinâmica e desempenho mo suposto certo tipo de cresci- duzidos internamente, dificultan-

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4 Entrevista

do assim a majoração dos preços. E da evolução da PEA. No caso atu- duas circunstâncias: 1- suas moedas ção significativa do crédito, redu-
esse processo, em certos momentos, al do Brasil, verifica-se que a taxa de não são conversíveis internacional- ção dos superávits fiscais primários e
acaba ganhando uma dinâmica pró- desemprego continua baixa – apesar mente e 2- não possuem capacidade maiores gastos do governo, e políti-
pria, na qual a expectativa do investi- do reduzido crescimento do PIB nos endógena de geração de progresso ca de aumentos reais do salário mí-
dor estrangeiro de que o real tenderá quatro anos do Governo Dilma. As- técnico. Em suma, se caracterizam nimo e maior abrangência e impac-
a se valorizar reforça essa valorização sim, a explicação só pode estar na re- por serem dependentes do ponto de to da política social (Bolsa Família e
e atrai mais capital – resultando num lativa estabilidade ou diminuto au- vista tecnológico e financeiro. Es- benefícios da previdência), induziu-
processo continuado de aumento dos mento da PEA nesses anos, que se sas limitações sempre se expressam, -se um ciclo de crescimento de qua-
fluxos de capital, valorização do real, relaciona ao que os demógrafos de- a depender da conjuntura interna- tro anos. Contudo, após a crise que
crescimento das importações e que- nominam de transição demográfica: cional, em problemas no balanço de abarcou todos os países e que conti-
da ou controle da inflação. O proble- um processo paulatino de envelheci- pagamentos e/ou na inflação. Por is- nua em andamento, piorando nossa
ma é que, dinamicamente, o balan- mento da população, com queda das so, a conjuntura internacional – de- restrição externa, a manutenção da
ço de pagamentos do país tende a se taxas de fertilidade da mulher e das sempenho das economias centrais, mesma política econômica por parte
deteriorar e o crescimento da econo- taxas de mortalidade. O grande nú- dinâmica do comércio e dos fluxos do Governo Dilma não teve mais ca-
mia arrefece. Na virada do primeiro mero de desempregados foi absorvi- de capitais, fase em que se encon- pacidade de apresentar resultados se-
para o segundo Governo Lula, toda- do nos anos Lula; com Dilma, o PIB tra a revolução tecnológica nos pa- melhantes ao do segundo Governo
via, foi possível a convivência de ta- reduziu seu crescimento, mas o de- íses desenvolvidos etc. - sempre tem Lula. Na realidade, esses resultados
xas de juros menores, controle da in- semprego não cresceu porque a PEA influência decisiva, condicionando são tão ruins quanto os do segundo
flação e maiores taxas de crescimento se estabilizou, ou praticamente não fortemente a dinâmica da econo- Governo FHC, o que evidencia três
do PIB – em razão da conjuntura in- cresceu – com menos jovens entran- mia desses países e as políticas ado- coisas: 1- no padrão (modelo) liberal-
ternacional favorável, que estimulou do no mercado de trabalho ou retar- tadas por seus respectivos governos. -periférico (capitalismo dependente,
as exportações de commodities a pre- dando a sua entrada. Neste último No entanto, dentro desse condicio- com abertura comercial e financei-
ços elevados. Aqui se evidencia, mais caso, as políticas sociais podem ter namento e de suas limitações, sem- ra e inserção passiva na divisão inter-
uma vez, a fragilidade do capitalismo tido algum impacto. pre há mais de uma possibilidade nacional do trabalho), a conjuntura
dependente brasileiro, que se expres-   do ponto de vista interno, isto é, internacional, mais do que nunca,
sa sempre em problemas de balanço P: Os problemas enfrentados sempre existem diferentes opções é decisiva; 2- esse padrão de desen-
de pagamentos e/ou inflação, a de- atualmente pela economia bra- de política econômica e caminhos volvimento é compatível com dis-
pender da conjuntura internacional. sileira são grosso modo simila- a seguir. Portanto, dentro de certos tintos regimes de política macroe-
O problema central está na dificul- res aos de outros países ou nos- limites, as circunstâncias internas conômica; 3- os diferentes regimes,
dade de se manter um crescimento sas condições são particulares? também influenciam a dinâmica da no entanto, até agora adotados (ân-
continuado do PIB puxado pelos in- R: São similares a de outros países economia desses países. No Brasil, a cora cambial, tripé macroeconômi-
vestimentos produtivos e, portanto, periféricos, de capitalismo depen- conjuntura internacional até a crise co e tripé flexibilizado), de acordo
com crescimento da capacidade pro- dente, que ocupam posição subor- mundial (último trimestre de 2008) com cada conjuntura internacio-
dutiva e por extensão da oferta – sem dinada na divisão internacional do permitiu ao Governo Lula relaxar a nal, não foram capazes de garantir
que isto afete perigosamente o balan- trabalho e que têm, em comum, operacionalização do tripé macroe- – com ou sem reformas pró-mer-
ço de pagamentos do país. conômico: metas de inflação, supe- cado, com maior ou menor parti-
  rávit fiscal primário e câmbio flutu- cipação do Estado – um crescimen-
P: Mesmo com o fraco crescimen- ante. Desse modo, combinando-se to sustentado. Em suma, a questão
to do PIB, a taxa de desemprego redução das taxas de juros e amplia- fundamental não está nas distintas
continua baixa no país. Como vo- políticas macroeconômicas adota-
cê explica este fenômeno? das em cada conjuntura, mas sim
R: A taxa de desemprego é definida na natureza do atual padrão de de-
pela relação entre o total de pessoas senvolvimento brasileiro, que redu-
que estão desempregadas e o total de ziu fortemente os graus de liberda-
pessoas que compõem a população de do país. Como, em geral, entre as
economicamente ativa (PEA). Esta forças políticas da ordem (situação
última é constituída por todas as pes- e oposição) há um consenso sobre
soas que estão procurando ocupa- a impossibilidade de mudança desse
ção. Portanto, a evolução da taxa de padrão, o debate e as opções acabam
desemprego depende, de um lado, se restringindo ao círculo das políti-
do ritmo da economia e, de outro, cas macroeconômicas.

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Entrevista 5

José Marcio Camargo


PhD em Economia pelo MIT, José Marcio Camargo é professor titular do Depar-
tamento de Economia da PUC/Rio e economista da Opus Gestão de Recursos.

P: A economia brasileira vive uma inflação de serviços próxima P: Você crê na eficácia da política
um processo de estagflação? a 9 % ao ano. Como a inflação de de combate à inflação no Brasil
R: A economia brasileira vive um comerciáveis é muito baixa (próxi- por meio da fixação da taxa Selic
processo de crescimento mui- ma a 2% ao ano) devido ao exces- em patamar elevado? Que alter-
to baixo e decrescente e inflação so de capacidade ociosa no mun- nativas o país tem para reduzir os
pressionada. Se o nome é estagfla- do e ao excesso de liquidez nos índices de inflação sem derrubar
ção, pouco importa. O importan- países desenvolvidos, o resultado o crescimento econômico?
te é que, apesar de o crescimento foi uma mudança de preços rela- R: Certamente. Na verdade, não
ser medíocre, a taxa de inflação es- tivos contra os bens comerciáveis, conheço nenhuma outra forma 
tá bastante elevada, mesmo com o o que significa valorização do real bem-sucedida de combater a infla-
governo controlando alguns pre- e perda de competitividade da in- ção que não seja através da utiliza-
ços administrados. dústria. O resultado foi baixo cres- ção correta da política monetária.
cimento do setor industrial, desin- Acredito ser bastante difícil com-
P: Que fatores determinaram dustrialização, aumento do déficit bater a inflação hoje no Brasil sem mo tempo em que grande parte dos
o quadro atual de baixo cresci- em conta corrente e déficit na ba- algum aumento da taxa de desem- empregos que estão sendo criados
mento econômico e inflação no lança comercial. prego, de tal forma a fazer com que é de baixa qualidade e paga baixos
topo da meta? Como superar es- o crescimento dos salários convir- salários, o “segundo trabalhador”
ta situação? P: Você acredita que há um te- ja para os ganhos de produtividade. da família pode estar preferindo fi-
R: Houve um erro de diagnósti- to para o crescimento do PIB no car em casa para cuidar dos filhos a
co da equipe econômica quanto às Brasil, que se superado implica P: Mesmo com o fraco crescimen- trabalhar. É uma possibilidade, mas
causas da desaceleração da econo- o estouro da meta de inflação? to do PIB, a taxa de desemprego do ponto de vista do crescimento é
mia depois da retomada da crise Em caso afirmativo, qual é o te- continua baixa no país. Como vo- algo muito negativo.
financeira de 2008/2009. O diag- to e como podemos vencer esta cê explica este fenômeno?
nóstico foi de que a desaceleração limitação? R: Realmente. Em grande parte isto P: Os problemas enfrentados
decorria de falta de demanda agre- R: Certamente. Neste momento se deve a uma diminuição da taxa atualmente pela economia bra-
gada e todos os instrumentos de o teto é dado pela taxa de desem- de participação na força de traba- sileira são grosso modo simila-
política econômica disponíveis fo- prego, que, como dissemos ante- lho. O interessante é que esta di- res aos de outros países ou nos-
ram utilizados para resolver o pro- riormente, está em níveis insus- minuição está acontecendo em to- sas condições são particulares?
blema: aumento do crédito dos tentáveis na medida em que está dos os grupos etários, desde os mais R: Acho que parte dos problemas
bancos públicos, redução do su- gerando uma inflação de serviços jovens até os mais velhos. É possí- é comum entre os emergentes. Por
perávit primário, queda das taxas próxima a 9% ao ano, e pela ta- vel que os grupos mais jovens este- exemplo, com o excesso de liqui-
de juros etc. Ocorre que a razão xa de investimentos, que caiu para jam adiando a entrada no mercado dez e taxas de juros próximas a
da desaceleração da economia es- níveis muito baixos. Dificilmen- de trabalho para ficar mais tempo zero no mundo desenvolvido, as
tá, a nosso ver, relacionada à baixa te a economia brasileira consegui- na escola, o que seria bom no futu- moedas dos países emergentes se
competitividade da indústria bra- rá crescer mais de 1,5% ao ano ro. Mas parece pouco provável que valorizaram muito, o que reduziu
sileira e não à falta de demanda. sem gerar pressões inflacionárias a razão da redução da taxa de parti- a competitividade dos mesmos e,
O resultado foi que o aumento da sem que sejam realizadas refor- cipação dos adultos seja isto. Uma portanto, a taxa de crescimento.
demanda gerou queda da taxa de mas estruturais importantes, co- possibilidade é que a combinação Porém, a resposta de política eco-
desemprego para níveis insusten- mo as das legislações trabalhista e de programas de transferência de nômica dada pelo Brasil, utilizan-
táveis, no sentido de que os salá- tributária, dos sistemas educacio- renda com problemas ligados à mo- do políticas keynesianas quando o
rios nominais passaram a crescer nal e previdenciário, e se consiga bilidade urbana esteja gerando este problema era de incapacidade da
9% ao ano, com os salários reais aumentar muito os investimentos resultado. Como está muito “caro”, oferta de reagir, foi um tiro no pé
crescendo muito acima da produ- em infraestrutura para gerar ga- em termos de bem-estar, se deslo- e agravou o problema. Isto é mais
tividade do trabalho, o que gerou nhos de produtividade. car de casa para o trabalho, ao mes- específico da economia brasileira.

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6 Entrevista

João Paulo de Almeida Magalhães


João Paulo de Almeida Magalhães é economista e de setores de tecnologia avança-
da (veículos automotores, equipa-
autor de Nova Estratégia de Desenvolvimento para mento e serviços de informática
o Brasil: um Enfoque de Longo Prazo, O que Fazer etc).
No que diz respeito à inflação,
Depois da Crise – Contribuição do Desenvolvimen- ela deve ser controlada não pela
tismo Keynesiano e Crescimento clássico e cres- elevação da taxa de juros, que en-
tra em choque como o crescimen-
cimento retardatário: uma necessária (e urgente) to econômico, mas através de uma
estratégia de longo prazo para políticas de desen- política de rendimentos, conforme
abaixo descrita.  
volvimento.
P: Você acredita que há um te-
P: A economia brasileira vive das, transporte urbano eficiente e to para o crescimento do PIB no
um processo de estagflação? de baixo preço e assim por diante. Brasil, que se superado implica
R: Depende de como se define es- Reivindicações que se pautam pe- o estouro da meta de inflação?
tagnação. Para mim, ela significa los níveis do Primeiro Mundo (co- Em caso afirmativo, qual é o te-
crescimento zero ou próximo de piados inclusive pelas altas classes to e como podemos vencer esta gunta que ocorre é então a seguin-
zero. No Brasil, até agora, o cres- médias do país), dos quais a popu- limitação? te: por que 18% se os países asi-
cimento tem se mantido acima lação toma conhecimento através R: Na teoria econômica, desde Key- áticos registram taxas de 30% ou
de 1%. Não se trata, portanto, de dos modernos meios de comuni- nes, se reconhece o pleno emprego mais e, no Brasil, já foram obtidas
uma estagflação, mas de lento cres- cação. Essas reivindicações, se não como limite superior ao incremen- taxas de 23 ou 25%?
cimento acompanhado de inflação atendidas, podem gerar graves pro- to do PIB. Essa visão foi modifica- O capital, ou a plena capacida-
moderada (isto é, abaixo de 10%). blemas sociais e políticos, em futu- da, no caso dos países subdesenvol- de, como limite superior ao incre-
O importante, contudo, é su- ro não muito distante. vidos, pela contribuição de Arthur mento do PIB difere do pleno em-
blinhar que, contrariamente ao Lewis (que lhe valeu, inclusive, o prego porque pode ser deslocado
que se parece acreditar no Brasil, P: Que fatores determinaram PrêmioNobel de Economia), se- para cima. Ninguém pensa em en-
o mais grave presentemente para o o quadro atual de baixo cresci- gundo a qual uma das característi- corajar a imigração como forma de
país é o lento crescimento. A infla- mento econômico e inflação no cas básicas do subdesenvolvimento é elevar o PIB. Inclusive porque is-
ção constitui fenômeno conjuntu- topo da meta? Como superar es- a oferta ilimitada de trabalho. O ca- so aumentaria o número de bene-
ral, corrigível a curto prazo e cujos ta situação? pital ou a plena capacidade (máqui- ficiados, sem qualquer efeito posi-
efeitos negativos são limitados, co- R: O lento crescimento se deve ao nas e equipamento, infraestrutura tivo sobre o produto per capita. A
mo é o caso do declínio dos salá- fato de nos anos 1980, ao se esgo- etc.) passou, assim, a ser considerado mesma objeção não vale para a ple-
rios reais, decorrente da inflação. tar o modelo de substituição de o limite superior ao crescimento das na capacidade que, deslocada para
Essa perda é anualmente compen- importações, o domínio de uma economias retardatárias. Como con- cima através da elevação da taxa de
sada por reajustamento que os re- visão neoliberal (sacralizada no sequência, a taxa de poupanças, que poupanças, permite aumento mais
põe nos níveis anteriores. Consenso de Washington) ter im- convertida em de investimentos au- rápido do produto per capita.
O lento crescimento, pelo pedido que se adotasse estratégia menta o capital do país, passou a ser Estamos, assim, diante de dife-
contrário, tem causas estruturais alternativa. Isso porque, em qual- considerada como limite ao aumen- rença fundamental entre países de-
(tais como a desindustrialização, quer estratégia, o Estado tem pa- to do PIB, que não pode ser ultra- senvolvidos e subdesenvolvidos.
presentemente em curso na eco- pel importante. A semiestagnação passado sem gerar inflação. Nos primeiros, o limite superior ao
nomia brasileira), apenas corrigí- que vitima hoje o país só pode, No Brasil, passou-se a conside- crescimento econômico (pleno em-
veis a prazos médio e longo. Sua portanto, ser superada median- rar (inclusive em documentos ofi- prego) constitui um teto rígido; nos
grave consequência negativa con- te a adoção de nova estratégia de ciais) 5% como a taxa máxima de segundos, esse teto (a plena capaci-
siste em impedir o atendimento desenvolvimento. E a bem-sucedi- incremento do PIB, suscetível de dade) é flexível. Esse é o fato que
das reivindicações da população da experiência dos países asiáticos ser obtida sem inflação. Isso por- permite às economias retardatárias
por melhores condições de saú- mostra que essa estratégia deverá que nossa taxa de poupanças gira o crescimento acelerado destinado a
de e educação, moradias adequa- ser comandada pelas exportações em torno de 18% do PIB. A per- eliminar seu atraso econômico.

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Entrevista 7

P: Você crê na eficácia da política rar o PIB. A política de rendimen- tem, entre outras causas, o pro- veis, surgiu o problema. Os países
de combate à inflação no Brasil tos é a aconselhável para países em cesso de desindustrialização. Sur- asiáticos – Coreia do Sul, Taiwan,
por meio da fixação da taxa Selic desenvolvimento, tendo inclusive ge, assim, uma oferta de postos de Singapura etc. – o contornaram
em patamar elevado? Que alter- no Brasil constituído a essência do trabalho acima do incremento do entrando no mercado internacio-
nativas o país tem para reduzir bem-sucedido Plano Real. PIB. Ou seja, o emprego aumenta nal de produtos industriais de tec-
os índices de inflação sem der- apesar do baixo crescimento eco- nologia avançada. O que foi pos-
rubar o crescimento econômico? P: Mesmo com o fraco crescimen- nômico como consequência do rá- sível porque, durante toda fase
R: A elevação da taxa de juros co- to do PIB, a taxa de desemprego pido incremento dos setores inten- anterior, condicionaram as medi-
mo forma de controle de preços continua baixa no país. Como vo- sivos de mão de obra. Portanto, das protecionistas ao alcance pelos
tem se revelado eficiente na expe- cê explica este fenômeno? contrariamente ao que pretende o beneficiados, em tempo razoável,
riência mundial. E, no Brasil, a  R: Uma primeira interpretação é Governo, o não aumento do nú- de níveis internacionais de compe-
inflação não escapou de controle que se trata de um viés estatísti- mero de desempregados deixa de titividade. O mesmo não aconte-
graças aos altos juros praticados. O co. Sendo o número de desempre- ser um bom resultado e se trans- ceu com os países da América La-
problema é que, em países desen- gados calculado pelo total das pes- forma em sintoma de grave distor- tina, que, após 1980, esgotado seu
volvidos juros altos são aceitáveis soas procurando emprego, o que ção estrutural em andamento na estoque de importações substituí-
porque, contrariamente aos subde- estaria acontecendo é que, diante economia brasileira. veis, entraram em semirrecessão.
senvolvidos, eles não têm um atra- das dificuldades encontradas, mui- Presentemente, alguns países de
so econômico a eliminar. Podem, tos estão desistindo de procurar P: Os problemas enfrentados porte médio da região voltaram a
portanto, aceitar o lento cresci- emprego, reduzindo erradamente atualmente pela economia bra- crescer aproveitando nichos do co-
mento, corolário inevitável de ju- o número de desempregados regis- sileira são grosso modo simila- mércio internacional.
ros mais elevados. Existe, porém, trado pelas estatísticas. A melhor res aos de outros países ou nos-   O que se pode dizer do Bra-
uma alternativa à manipulação dos explicação é, todavia, outra. sas condições são particulares? sil é que, dado seu grande mer-
juros como forma de manter os O Brasil registra hoje um pro- R: Todos os países emergentes pas- cado interno, poderia ter seguido
preços sob controle. Mais difícil e, cesso pelo qual as atividades inten- saram por fase inicial de substitui- em maior escala e mais facilmen-
por causa disso, menos utilizada: a sivas de trabalho tendem a crescer ção das manufaturas importadas te o procedimento adotado pelos
política de rendimentos. mais rapidamente do que as pou- por produção local. Esgotado o países asiáticos. Isto é, condicio-
Recapitulemos. A inflação de- padoras de trabalho. Situação que estoque de importações substituí- nar o amparo concedido à indús-
corre do fato de que a soma das tria nacional à obtenção de níveis
reivindicações dos agentes econô- internacionais de competitividade.
micos (governo, trabalhadores e O que não aconteceu. Pior ainda,
empresas) ultrapassa o montan- deixamos que empresas multina-
te do PIB. Instala-se, dessa forma, cionais monopolizassem, em de-
uma disputa levada adiante atra- trimento das brasileiras, os setores
vés da elevação de preços, seguida mais dinâmicos do mercado mun-
do aumento de salários e outra re- dial. Diferentemente do que fez a
munerações dos agentes econômi- China, onde o ingresso de empre-
cos, numa disputa que se estende sas estrangeiras no país foi utiliza-
indefinidamente. E, para que ela do para facilitar, através do acesso
possa se manter, os meios de pa- a suas tecnologias, geração de mão
gamento devem aumentar cons- de obra qualificada etc. e a criação
tantemente, o que o governo acei- de empresas nacionais nos mesmos
ta, ou até patrocina, para evitar setores. Empresas essas que passa-
uma crise de liquidez. ram a concorrer com as estrangei-
Há, portanto, duas formas de ras tanto no mercado local como
terminar com a inflação: impedin- no internacional.
do o aumento dos meios de paga- E como para dinamizar econo-
mento através, por exemplo, da ele- mia da dimensão da brasileira não
vação da taxa de juros, ou adotando é suficiente a conquista de sim-
uma política de rendimentos que ples nichos do mercado mundial,
impeça a soma das reivindicações o Brasil é hoje um dos países que
dos agentes econômicos de supe- menos cresce na América Latina. 

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8 Entrevista

Dércio Garcia Munhoz


Funcionário aposentado do Banco do Brasil, Dér- despeito dos ganhos reais do salá- tros grupos de rendas. A ilusão
rio mínimo. E a economia reagiu de que seria possível fazer omele-
cio Garcia Munhoz foi professor titular do Departa- a partir de 2005 em parte por for- te sem quebrar os ovos é que levou
mento de Economia da UnB e presidiu o Conselho ça do dragão chinês. Mas como a à falsa suposição de que 40 mi-
nova administração desde logo tri- lhões de pessoas teriam sido mila-
Federal de Economia. Ele é autor de cerca de 300 lhou a mesma via de juros eleva- grosamente alçadas a um patamar
textos publicados em livros, coletâneas, revistas, dos e câmbio valorizado, a indús- mais elevado de renda, engrossan-
tria perdia mercados externos e do a chamada classe média. Sin-
jornais e veículos online e integra o Conselho de não conseguia impedir a invasão tomaticamente nunca se explicou
Orientação do Ipea. de bens importados sob forte sub- a origem das transferências, ou se-
sídio cambial. ja, a recíproca de quais teriam sido
P: A economia brasileira vive Duplamente travada, a econo- os perdedores de rendas reais para
um processo de estagflação? mia brasileira só não repetiu des- viabilizar o milagre.
R: Não há dúvida que a economia de logo o crescimento medíocre
brasileira enfrenta um processo de do governo anterior porque, além P: Você acredita que há um te-
estagnação, com crescimento es- dos reflexos das exportações de to para o crescimento do PIB no
perado para 2014 abaixo de 1% e commodities, e das rendas geradas Brasil, que se superado implica
continuadas pressões sobre os pre- no circuito bolsas/especulação fi- o estouro da meta de inflação?
ços. Mais preocupantes são os in- nanceira, foi grande a expansão do Em caso afirmativo, qual é o te-
dícios de queda na produção, a te- crédito às pessoas físicas. O que, to e como podemos vencer esta
mida depressão, e o fato de que a entretanto, não serviu para recu- limitação?
inflação se encontra contida nos perar a dinâmica da indústria, des- R: Sou cético em relação à te-
limites da meta oficial por força viando-se para ampliar a demanda se de que as condições da econo-
de rígidos controles de preços. de produtos importados, e tornan- mia necessariamente determinam
do incontroláveis os desequilíbrios baixos limites para o crescimen-
P: Que fatores determinaram do balanço de pagamentos.Os su- to. Afinal, desde o pós-guerra, se
o quadro atual de baixo cresci- cessivos aumentos reais no salário pode dizer que as economias oci-
mento econômico e inflação no mínimo – 70% acumulados desde dentais vivem num regime de eco-
topo da meta? Como superar es- do no início de 1999, quando o 2003 – tiveram um papel impor- nomias abertas, com grande mo-
ta situação? balanço de pagamentos acumula- tante sobre os salários mais baixos, bilidade de recursos produtivos.
R: Não é difícil se entender o va mais de US$ 100 bilhões de dé- somando-se ao grande volume de Veja-se as altas taxas de crescimen-
que vem acontecendo na econo- ficits em apenas quatro anos. Mas subsídios no câmbio/energia elé- to do PIB brasileiro – em torno
mia brasileira. No Plano Real, em a essa altura o continuado recuo trica/combustíveis para propor- de 10% ao ano – alcançadas en-
1994, a estabilização foi alcança- das rendas do trabalho – a que- cionar um aumento do poder de tre 1968 e 1974, num período em
da com a valorização cambial e da chegaria a dez pontos de per- compra dos assalariados em ge- que os preços do petróleo pressio-
paralela redução dos salários reais. centagem do PIB entre 1994 e ral. Mas todas essas fontes de ga- navam os custos. E nada mais en-
Essa foi a opção do Governo, na 2002 – freava severamente a eco- nhos indiretos teriam efeitos ape- fático que o crescimento chinês,
ocasião, dentro da lógica de que é nomia, cuja expansão média ficou nas temporários, já que impossível superando 10% ao ano durante
impossível a redução da inflação em apenas 2,2% no período. Evo- manter ad infinitum uma massa três décadas seguidas.
sem que existam perdedores defi- lução sofrível, mas não surpreen- de subsídios em tais proporções; As pressões inflacionárias ob-
nitivos de rendas reais. dente, pois a participação dos sa- com o agravante de que o salário servadas no Brasil pós-Plano Re-
Esse movimento inicial centra- lários no PIB recuava na mesma mínimo vai sendo engolido pe- al se explicam pelos aumentos de
do nas variáveis câmbio e salário proporção do aumento dos tribu- la inflação, pois sem aumento da custos financeiros e fiscais afetan-
se aprofundaria nos anos seguin- tos. No novo governo, as rendas produtividade é impossível trans- do o sistema produtivo. A carga
tes, acentuando o bloqueio das do trabalho, apesar de leve recupe- ferir rendas em caráter permanen- tributária registrou um aumen-
duas principais fontes de deman- ração a partir de 2004, continua- te em favor de um grupo qualquer to equivalente a dez pontos de
da: o consumo das famílias e as ex- riam até 2009 em níveis inferiores sem que ao mesmo tempo se im- percentagem do PIB entre 1993
portações. O câmbio seria corrigi- aos observados no ano de 1995, a ponha perdas equivalentes a ou- e 2002, e desde então não parou

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Entrevista 9

de crescer. E o peso das despesas


de juros na economia brasileira é
tão brutal que a cada ano as ren-
das de juros têm superado a mas-
sa de salários em 30% ou 40%, e
mesmo mais.

P: Você crê na eficácia da polí-


tica de combate à inflação no
Brasil por meio da fixação da
taxa Selic em patamar elevado? criolo doido, da paródia de Sta- câmbio flutuante e à liberdade de As inúmeras mudanças metodoló-
Que alternativas o país tem pa- nislaw Ponte Preta, o BC aumen- movimentação de capitais, per- gicas precedentes nunca levaram à
ra reduzir os índices de infla- ta os juros para conter uma imagi- faz um conjunto de instrumentos suspensão da publicação, que per-
ção sem derrubar o crescimen- nária pressão do consumo, mas ao voltados para estimular os capi- siste quando já deveria estar cir-
to econômico? mesmo tempo libera novos recur- tais especulativos. O que expli- culando o volume com dados de
R: A política econômica brasileira sos ao sistema bancário e novas fa- ca o fato de que a Dívida Fede- 2012. Vive-se, pois, um verdadei-
não preserva um mínimo de coe- cilidades para expansão do crédito ral não deriva de excesso de gastos ro vácuo de informações precisas
rência. E nem mesmo originalida- às famílias. do governo, mas do acumulo de da economia brasileira.
de. Aqui se adota o modelo que a O Brasil segue, portanto, to- despesas com juros.
Europa definiu no Tratado de Ma- do um gerenciamento macroeco- Não existe o dilema reduzir P: Os problemas enfrentados
astricht, ao final de 1991, na pre- nômico onde as políticas cambial, a inflação sem derrubar o cresci- atualmente pela economia bra-
paração das economias da área pa- monetária, de capitais de curto mento. A ação do Governo é que sileira são grosso modo simila-
ra a chegada do Euro. Algo que, prazo e tributária têm como foco cria pressões sobre custos e pre- res aos de outros países ou nos-
de fato, representa um sistema os interesses do capital financei- ços. E as evidências indicam não sas condições são particulares?
cambial de taxas absolutamente fi- ro – que dão como retorno forte só o esgotamento da estratégia do R: As condições do Brasil são mui-
xas. Nessa circunstância qualquer apoio externo – com abandono da câmbio valorizado e preços tabela- to especiais. Montou-se um vasto
movimento ascendente nos preços indústria e desprezo pela econo- dos de energia/combustíveis, mas esquema de subsídios que tem co-
leva os governos a acionarem ins- mia real, o que inibe o crescimen- também a inevitabilidade de re- mo contrapartida um aumento
trumentos monetários ou fiscais to do emprego e da massa de ren- composição dos preços. do poder de compra dos assala-
para segurar a inflação – jogando a das do trabalho que garantiriam riados, de caráter ilusório porque
economia por terra. E esse é exata- um grande e vigoroso mercado in- P: Mesmo com o fraco cresci- temporário. A facilidade de aces-
mente o modelo brasileiro. Atira- terno. Isso sim é que teria propor- mento do PIB, a taxa de desem- so ao crédito trouxe expansão des-
-se de imediato no pássaro (econo- cionado uma elevação do poder de prego continua baixa no país. controlada, e o endividamento das
mia) assim que os preços se elevem compra e do nível de bem-estar da Como você explica este fenô- famílias compromete a solvência
ainda que moderadamente, mes- população, que se somaria aos 14 meno? e impede inclusive o retorno aos
mo sabendo que as pressões nos milhões de pessoas beneficiadas R: A questão do baixo desempre- padrões de consumo anteriores.
custos decorrem da própria ação pelos programas sociais do Gover- go coloca uma questão relevante. Comprar produtos importados a
do Governo. no de transferência de rendas para Os dados são do IBGE, e indicam preços baixos provocava euforia,
Esse modelo importado que a população mais pobre. que milhões de pessoas desapare- mas a situação das famílias e o en-
criava dificuldades na Zona do O Brasil não pratica a política ceram do mercado de trabalho, dividamento externo do país estão
Euro antes da crise financeira de monetária clássica de controle da mas não figuram como desem- mais próximos de um pesadelo. O
2008 gerou no Brasil um clima liquidez via operações de open- pregados. E dificilmente um bol- que indica que a estagnação brasi-
kafkiano, onde se alega excesso de -market. Ao invés de fazer colo- sa família inferior a R$ 200,00 leira se liga à impossibilidade de se
demanda para justificar cortes nos cações e resgates pontuais de tí- mensais explicaria desistências do sustentar um mundo de fantasia,
gastos do governo; quando de fato tulos públicos, administrando a trabalho diante de fonte alterna- e da exaustão do modelo de alian-
os cortes, anseio maior do chama- liquidez, recorre-se a um sofisma, tiva de sustento. O que faz sur- ça com o capital financeiro, que
do mercado financeiro, visam ape- com a taxa Selic funcionando de gir indagações. Não foi de propó- proporcionou o ingresso de mais
nas a sobra de recursos para que o fato como um instrumento que sito quando o IBGE, desde 2009, de dois trilhões de dólares em du-
Tesouro pague o máximo da conta garante correção monetária ao deixou de publicar o documento as décadas, alimentando desenfre-
de juros com dinheiro dos impos- capital financeiro. É uma aberra- mais importante sobre a economia adas operações especulativas em
tos. E nesse verdadeiro samba do ção total, mas que, associada ao brasileira – as Contas Nacionais. um país tornado indefeso.

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10 BNDES

O BNDES e a expansão do capitalismo brasileiro:


corporações e setores privilegiados – Parte 2
João Roberto Lopes Pinto* apoiado a expansão de investimen- É importante que fique cla- centraram 82% dos desembolsos

E
tos externos por empresas brasi- ro que os valores destas opera- nesta modalidade de operação.
m complemento ao estu- leiras, normalmente se valendo da ções não estão, portanto, con- Chama atenção a presença dos Es-
do publicado na edição an- modalidade buyer´s credit, finan- templados nas informações do tados Unidos, com 42% do to-
terior do JE, apresentamos ciando governos ou instituições fi- BNDES sobre suas operações di- tal desembolsado. Uma das razões
aqui os setores e corporações benefi- nanceiras de outros países para im- retas e indiretas. Ao longo dos úl- para isso está nas exportações da
ciadas pelo BNDES nos seus finan- portarem bens e serviços nacionais. timos 16 anos, de 1998 a 2013, Embraer para aquele país. Desta-
ciamentos a atividades nos exterior. Sobre estas operações, embora di- foram 3.032 contratações de ope- que-se também, que entre os pa-
Antes de apresentar os da- vulgue os setores, empresas, pro- rações pós-embarque, totalizando íses sul-americanos, os principais
dos, cabem alguns esclarecimentos jetos e países beneficiados, o BN- US$ 31,2 bilhões em valores con- destinos são Argentina, Venezuela
quanto às modalidades de financia- DES não revela os valores de cada tratados. Deste total, US$ 13,6 bi e Equador4. Já no caso da África,
mento do BNDES à internaciona- projeto apoiado, justificando que (44%) foram desembolsados nos Angola é de longe o principal des-
lização de empresas. De um lado, o a identificação do "valor individu- últimos seis anos, de 2008 a 2013. tino dos financiamentos, concen-
BNDES possui desde 1998 a linha al de operações, está protegido por As exportações financiadas pe- trando quase a totalidade dos de-
do BNDES-Exim, responsável pelo sigilo advindo de lei ao qual o BN- la modalidade pós-embarque no sembolsos para aquele continente
financiamento à produção de bens DES está sujeito no exercício de período tiveram como destino 45 nesta modalidade de operação.
e de serviços brasileiros destinados à sua atividade-fim, a partir do qua- países. Conforme demonstrado na Como o Banco não fornece a
exportação e à comercialização des- dro de desembolsos por países"3. Tabela 6, apenas oito países con- informação dos valores por pro-
tes itens no exterior. De outro, des- jeto das operações pós-embarque,
de 2002, o Banco conta com uma TABELA 6 – Desembolsos BNDES Pós-embarque os dados aqui apresentados sobre
linha de "Apoio à Internacionaliza- por destino das exportações financiadas - 1998-2013 distribuição setorial e corporações
ção", voltada a "estimular a inser- mais beneficiadas foram extraídos
Países Valor Contratado (US$ bilhões) %
ção e o fortalecimento de empresas de quadros fornecidos pelo próprio
ANGOLA 3 9,6
com participação de capital nacio- BNDES. As informações que se se-
ARGENTINA 3,4 10,8
nal no mercado internacional atra- CUBA 0,8 2,6
guem sobre a distribuição setorial
vés do apoio à aquisição de ativos e EQUADOR 0,8 2,5 são apresentadas de forma muito
à realização de projetos ou investi- ESTADOS UNIDOS 13 41,8 agregada, dificultando uma leitura
mentos no exterior, desde que con- PAÍSES BAIXOS 1,5 4,6 mais fina dos dados (Tabela 7).
tribuam para o desenvolvimento REPÚBLICA DOMINICANA 1,3 4,1 Os dados acima demonstram
VENEZUELA 1,9 6,1
econômico e social do País"1. ainda um peso maior, em termos
SUBTOTAL 25,6 82,1
Na linguagem do Banco, as ex- de investimentos em infraestru-
OUTROS 5,6 17,9
portações pelo BNDES-Exim podem TOTAL 31,2 100
tura na América do Sul. Mas cha-
ser apoiadas na fase "pré-embarque" ma a atenção que nos dados de-
Fonte: Desembolsos Pós-Embarque por País – BNDES 5
– na produção de bens e serviços vol- sagregados por ano, constata-se
tados à exportação – ou "pós-embar- que, enquanto os financiamentos
TABELA 7 – Desembolsos BNDES Pós-embarque das
que" – na comercialização de bens e em infraestrutura na América La-
exportações financiadas por categoria de uso - 1998-2013
serviços nacionais no exterior, atra- tina ocorrem desde 1998, na Áfri-
vés da modalidade supplier’s credit (re- Valor Total Contratado ca eles foram iniciados apenas em
Setores – Regiões
financiamento ao exportador) ou da (em US$ milhões) 2007 e já superam amplamente os
modalidade buyer’s credit (financia- Obras de infraestrutura - América do Sul 4.476 financiamentos a infraestrutura na
mento direto ao importador)2. Obras de infraestrutura - Demais da América Latina 1.706 América Central e Caribe.
Obras de infraestrutura - África 2.946
Ressalve-se que o peso dos fi-
Bens de capital - Todas as regiões 21.833
Operações Pós-Embarque nanciamentos à comercialização de
Outros setores - Todas as regiões 193
As operações "pós-embarque" Total 31.154
bens e serviços no exterior no setor
têm representado a principal mo- de infraestrutura parece subestima-
Fonte: Apoio à exportação por categoria de uso – BNDES6
dalidade pela qual o Banco tem do. Isso porque, como veremos nos

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BNDES 11

do da LCA Consultores, as em- senvolvimento (P&D) no exterior;


TABELA 8 – Cinco maiores desembolsos pós-embarque preiteiras chinesas, que detinham e operações de renda variável e par-
por empresa exportadora no período 2009 a 20138 1,8% do mercado latino-america- ticipação societária que tiveram co-
no em 2003, saltaram para 12,1% mo objetivo a internacionalização de
Empresa
Valor Total Contratado em 2012. As empreiteiras brasi- empresas brasileiras – Tabelas 9 e 10.
(em US$ milhões)
leiras seguem em segundo lugar, O que mais chama a atenção nas
CONSTRUTORA NORBERTO
4.898 atrás apenas das construtoras espa- informações fornecidas pelo BN-
ODEBRECHT S/A
nholas, com 17,8% do mercado7. DES é o número reduzido de proje-
EMBRAER S/A 4.800
tos apoiados em cada uma das mo-
CONSTRUTORA ANDRADE GUTIERREZ S/A 754
CONSTRUTORA QUEIROZ GALVÃO S/A 246
Apoio à Internacionalização dalidades: apenas cinco no caso da
de Empresas primeira e sete no da segunda, to-
CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO
216 Sobre a linha de apoio à interna- talizando US$ 4,3 bilhões – menos
CAMARGO CORREA S/A

TOTAL 10.914 (92%) cionalização de empresas, as opera- de um terço dos desembolsos na li-
ções estão disponíveis na lista de ope- nha de apoio à exportação pós-em-
Fonte: Desembolso Pós-Embarque por Empresa Exportadora - BNDES9
rações diretas e indiretas, constantes barque no mesmo período. Desse
no site do BNDES para o período de valor, as operações de renda variá-
dados a seguir sobre a distribuição nibilizados pelo próprio Banco, 2008-13. Mas não há como identifi- vel concentraram US$ 3,8 bilhões
por empresa, as empreiteiras são as que cobrem o período de 2009 a car quais operações estão enquadra- ou 88% do total contratado na li-
maiores beneficiárias deste tipo de 2013, apenas cinco empresas con- das na referida linha de financiamen- nha de internacionalização. Desta-
financiamento, sugerindo, portan- centram 92% de todo o valor con- to. Por isso, para efeito deste estudo, ques para as aquisições, no setor de
to, que os apoios ao setor de bens tratado no período (US$ 11.924), recorremos à Lei de Acesso à Infor- alimentos, das americanas Pilgrim´s
de capital estejam voltados a forne- sendo quatro delas as maiores em- mação para solicitar ao Banco quais e Keystone pela JBS e Marfrig, res-
cer máquinas e equipamentos para preiteiras do País – a Odebrecht foram os projetos apoiados na linha pectivamente (Tabela 10).
obras de infraestrutura. sozinha ficou com 45% do total de internacionalização no período10. Em síntese, se tomamos o pe-
Ao tratarmos os dados sobre as contratado (Tabela 8). Na resposta ao pedido, o BN- ríodo de 2008 a 2013, para o qual
empresas beneficiárias da comer- Recente matéria publicada DES apresenta duas listas de proje- o Banco disponibiliza informa-
cialização de bens e serviços no ex- no jornal Valor Econômico abor- tos apoiados em duas modalidades: ções um pouco mais detalhadas, o
terior, pela modalidade pós-em- da a perda de espaço de emprei- operações de implantação, amplia- BNDES desembolsou um total de
barque, verificamos uma grande teiras brasileiras para as chinesas ção ou modernização de unidades US$ 18 bilhões no fomento a in-
concentração em poucas empre- no mercado de infraestrutura na produtivas, canais de comercializa- vestimentos de empresas brasileiras
sas. Conforme os dados dispo- América Latina. Segundo estu- ção e/ou centros de pesquisa e de- no exterior, compreendendo as li-

TABELA 9 – Operações de financiamento contratadas no âmbito da linha de internacionalização pelo Sistema BNDES 2008-2013

Valor Contratado
Cliente Final CNPJ Objetivo do Projeto
(US$ milhões)

INVEST. EM PESQUISA E DESENVOL., MODERNIZAÇÃO DE INFRAESTRUTURA E SISTEMAS DE


GESTÃO EMPRESARIAL, CAPACITAÇÃO DE RECUR. HUMANOS E AQUISIÇÃO DA EMPRESA
BEMATECH S.A. 82373077000171 2,9
AMERICANA LOGIC CONTROLS, NO ÂMBITO DO PROSOF-EMPRESA, DA LINHA DE
INOVAÇÃO-CAPITAL INOVADOR E DA LINHA DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESA.

IMPLANTAÇÃO DE UM POLO PETROQUÍMICO NA CIDADE DE NANCHITAL DE LAZARO CÁRDENAS


BRASKEM DEL RIO, NO ESTADO DE VERACRUZ, NO MÉXICO, COM TRÊS PLANTAS PRODUTORAS DE
77700001139504 508
IDESA S.A.P.I. POLIETILENO, COM CAPACIDADE PARA UM MILHÃO DE TONELADAS ANUAIS, INTEGRADAS
A UMA PLANTA PRODUTORA DE ETILENO BASE ETANO.

EXPORTACÃO DE BENS E SERVIÇOS DE ENGENHARIA DESTINADOS A EXECUÇÃO DA SEGUNDA


CONSTRUTORA ANDRADE
17262213000194 ETAPA DO PROJETO BAYOVAR REFERENTE A IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE ABASTECIMENTO 13,9
GUTIERREZ S/A
DE ÁGUA DO MAR (30.240 M3/DIA), DESSALINIZADA (10.400 M3/DIA) E POTÁVEL (60 M3/DIA).

EUROFARMA AQUISICAO DO LABORATÓRIO ARGENTINO “QUESADA FARMACEUTICA”, LOCALIZADO EM


61190096000192 6,4
LABORATORIOS LTDA. BUENOS AIRES, NO ÂMBITO DO FINEM DIRETO - LINHA DE INTERNACIONALIZAÇÃO.

WEG EQUIPAMENTOS IMPLANTAÇÃO DE FÁBRICA NA ÍNDIA PARA A PRODUCÃO DE MOTORES ELÉTRICOS


07175725000160 31,6
ELETRICOS S A DE GRANDE PORTE.

TOTAL 562,8

Fonte: Resposta do BNDES à solicitação via e-SIC (dia 26/05/2014 às 11:55)

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12 BNDES

nhas de apoio à internacionalização


TABELA 10 – Operações de renda variável que tiveram como objetivo
e do BNDES-Exim pós-embarque.
a internacionalização de empresas brasileiras 2008-2013
Outro dado relevante sobre o
apoio do BNDES à internacionali- Tipo de Valor
Empresa CNPJ Destino Objetivo
Operação (US$ milhões)
zação de empresas brasileiras refere-
Investimentos na estrutura
-se à presença do BNDESPAR nas comercial de Londres,
Expansão;
empresas brasileiras mais interna- Cipher 03.970.788/0003-19 Reino Unido infraestrutura, marketing e 1,4
abertura de filial
comercialização e capital de giro;
cionalizadas. No Brasil, a Fundação abertura de novos escritórios.
Dom Cabral publica anualmen- Marfrig 03.853.896/0001-40
Estados Unidos,
Aquisição Aquisição da Keystone 1.149,5
Europa e Ásia
te o Ranking das Multinacionais
Brasileiras, valendo-se do índice JBS Friboi 02.916.265/0001-60 Estados Unidos Aquisição Aquisição da Pilgrim´s 908,6

de transnacionalização das empre- Egito, Itália,


Aquisição de empresas, suas mar-
Bertin 09.112.482/0001-68 Espanha, Austrália, Aquisição 909,1
sas. Este índice é calculado com ba- cas e seus canais de distribuição
Alemanha, EUA
se na proporção da receita, dos ati- Estados Unidos e Aquisição das empresas Smithfield
JBS Friboi 02.916.265/0001-60 Aquisição 452,7
vos e número de funcionários que a Austrália Beef Group, Five Rivers e Tasman

empresa possui no exterior (Tabe- Reino Unido,


Aquisição de empresas do grupo
OSI no Brasil e na Europa. Na Eu-
la 11). Ao cruzarmos os dados do Marfrig 03.853.896/0001-40 Holanda, França Aquisição 325,3
ropa, o grupo Moy Park, a Kitchen
e Irlanda do Norte.
Ranking com a lista de empresas da Range Foods e a Van Zoonen BV.

carteira do BNDESPAR, constata- Conquistar o mercado latino-


Exportação;
América Latina; americano fornecendo o sistema
mos que o Banco possui participa- Procable 02.513.112/0001-71 Abertura de 0,6
filial na Costa Rica. OPGW e, então, expandir para
Filial
ção em 15 das 30 empresas brasilei- outros negócios

ras mais internacionalizadas. TOTAL 3.747,2

Como se vê, o intuito deste bre- Fonte: Resposta do BNDES à solicitação via e-SIC (dia 26/05/2014 às 11:55)

ve estudo foi o de, sem maiores pre- TABELA 11 – Ranking de internacionalização de empresas brasileiras – 2013
tensões analíticas, fornecer ao leitor
Posição Empresa Índice Posição Empresa Índice
um quadro sintético do perfil de atu-
1 JBS* 0,589 16 Camargo Corrêa* 0,250
ação do BNDES nos últimos anos. 2 Gerdau* 0,542 17 Embraer* 0,231
Certamente, os dados aqui apresen- 3 Stefanini 0,496 18 Ci&T* 0,208
4 Magnesita Refratários* 0,457 19 Marcopolo 0,195
tados são por si só eloquentes sobre
5 Marfrig Alimentos* 0,433 20 Artecola 0,194
quem são as corporações e quais os 6 Metalfrio 0,427 21 DMS Logistics 0,185
setores privilegiados pelo Banco. 7 Ibope 0,364 22 Indústrias Romi 0,166
Importa,pois, ainda mais em ano 8 Odebrecht* 0,349 23 Cia Providência 0,143
9 Sabó 0,333 24 Votorantim* 0,138
eleitoral, por em questão o sentido e 10 Minerva Foods 0,320 25 Andrade Gutierrez* 0,129
a pertinência do BNDES seguir favo- 11 Tigre 0,306 26 Natura 0,128
recendo grandes grupos econômicos 12 Vale* 0,283 27 Agrale 0,427
13 Weg 0,280 28 Itaú - Unibanco 0,109
de caráter monopolista, com atuação 14 Suzano* 0,271 29 Bematech* 0,090
centrada no setor de commodities. 15 BRF* 0,271 30 Petrobras* 0,083
Cabe enfim ressaltar que, embo- Fonte: Ranking FDC das Multinacionais Brasileiras 2013 – Fundação Dom Cabral11
ra o Banco tenha avançado na pres- (*) Empresas com participação direta ou indireta do BNDESPAR

tação de informações, ainda se faz


necessário um esforço maior de aber- 1 http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Apoio_Financeiro/Produtos/FINEM/internacionalizacao.html.
Vale dizer que a redação "desde que contribuam para o desenvolvimento econômico e social do País" foi introduzida em 2007 no Estatuto
tura dos dados, particularmente no do Banco em lugar de uma outra, onde se lia "desde que contribuam para a exportação de bens e serviços nacionais".
que se refere à totalidade da cartei- 2 http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Apoio_Financeiro/Produtos/BNDES_Exim/index.html
ra para as empresas, tanto no âmbito 3 http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/BNDES_Transparente/Consulta_as_operacoes_do_BNDES/ex-
doméstico quanto externo, além de portacao_pos_embarque.html
informações básicas quanto às con- 4 Caso tomemos o valor total desembolsado (US$ 7,5 bilhões) para a região sul-americana nesta modalidade de crédito, a Argentina,
Venezuela e o Equador ficam respectivamente com 45%, 26% e 10% deste valor.
dições de financiamento dos proje- 5 http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/BNDES_Transparente/Estatisticas_Operacionais/exportacao.html
tos (prazos, carências e taxas) e a sua 6 http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/BNDES_Transparente/Estatisticas_Operacionais/exportacao.html
classificação de risco ambiental. 7 http://www.valor.com.br/brasil/3566850/avanco-chines-preocupa-empreiteiras-brasileiras
8 O BNDES disponibiliza em seu site os dados por empresas na modalidade pós-embarque somente a partir do ano de 2009.
* Coordenador do Instituto Mais Demo- 9 http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/BNDES_Transparente/Estatisticas_Operacionais/exportacao.html
cracia e professor da Escola de Ciência Po- 10 O pedido foi realizado em 05/05/2014 às 12:49 (protocolo: 99903000266201450).
lítica da UNIRIO. 11 http://www.fdc.org.br/imprensa/Documents/2013/ranking_multinacionais_brasileiras2013.pdf

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Escolas da Macroeconomia 13

Síntese Neoclássica
Jennifer Hermann* PL, se mantiver inferior ao pro- e ∂Ls/∂i < 0

S
duto potencial, não há incentivo
íntese Neoclássica-Keyne- para as empresas elevarem a pro- sendo Lt = demanda transacional
siana (SN) é a designação dução e, menos ainda, para a solu- (como meio de troca); Ls = de-
do Modelo IS-LM apre- ção neoclássica da redução de pre- manda especulativa por moeda,
sentado por John Hicks (1937). ços, já que, em nenhum dos casos, que representa, no modelo, o con-
Além de propor uma interpreta- garante-se o aumento das receitas ceito de PL. Nesse modelo simpli-
ção para A Teoria Geral do Empre- com uma demanda retraída, carac- ficado, Lt incorpora outra parce-
go, do Juro e da Moeda (TG, Key- terizando a situação de equilíbrio la da PL: a demanda precaucional
nes, 1936), Hicks visou mostrar com desemprego. Em momentos por moeda, associada à incerteza
que, ao contrário do que alegou de maior incerteza se configuraria quanto aos gastos correntes que
Keynes, sua teoria do produto e o que Keynes chamou de “armadi- motivam Lt.
emprego agregados não era anta- lha da liquidez”: caso extremo em Os sinais das derivadas refle-
gônica, mas sim complementar, à que a economia se mantém em de- tem relações de causalidade am-
teoria neoclássica. Daí a proposta pressão, porque a renda se concen- plamente aceitas, exceto nas fun-
de síntese dos dois enfoques. tra na PL, em detrimento da DE. ções que envolvem a taxa de juros,
A TG ergue-se sobre dois pi- Embora concorra com a de- que representam a grande inova-
lares fundamentais: (1) Princípio manda por bens, a principal in- ção da teoria de Keynes. As de-
da Demanda Efetiva (PDE): de- fluência da PL sobre o produto rivadas ∂i/∂L e ∂i/∂M refletem a pleno emprego e com desemprego.
cisões de gasto (demanda) deter- agregado (Y) se dá no mercado de proposição de que a taxa de ju- O equilíbrio se dá pela interação
minam o nível da atividade eco- ativos. O primeiro efeito do au- ros é o preço da liquidez, respon- entre os mercados de bens e mo-
nômica (oferta); e (2) Teoria da mento na PL é a retração da de- dendo positivamente à demanda e netário, que, numa definição linear
Preferência por Liquidez (TPL): manda por ativos, elevando as ta- negativamente à oferta. A relação das funções (1)-(6), resulta:
papel central do mercado mo- xas de juros (i) requeridas para ∂Ls/∂i tem uma explicação com-
netário na determinação do pro- que estes possam concorrer com plexa na TG (Caps. 15-16) que, [7] Y = Ca + c.Y + Ia – k.i
duto – supõe a racionalidade da a demanda por moeda (L). Da- numa versão simplificada, espelha [8] M = L = Lt + Ls = m.Y – h.i
demanda do público por moe- das taxas de retorno esperadas (a o papel dos juros como custo de [9] Y = A – k.i
da como meio de troca e reser- que Keynes chamou de Eficiên- oportunidade de Ls, em detrimen- (Curva IS)
va de valor (preferência por liqui- cia Marginal do Capital – EMC), to da posse de títulos. As funções [10] i = (m/h).Y + (1/h).M
dez). O PDE e a TPL têm uma o aumento do custo (financei- [3] e [4] sintetizam a causalidade (Curva LM)
raiz comum e estrutural nas eco- ro e de oportunidade) dos inves- do mercado monetário sobre o de
nomias de mercado: a permanen- timentos (I) faz com que esses se bens: o primeiro define i; esta de- sendo Ca = consumo autônomo;
te incerteza dos agentes quanto à retraiam, inibindo a renda agrega- fine I; e este, por fim, define Y e C. c = propensão a consumir (C’ em
sua renda futura. A incerteza jus- da e o consumo (C). A principal motivação de Hicks [2]); Ia = investimento autônomo
tifica certo grau de preferência Keynes sintetizou sua teoria no para propor a SN foi metodológica: (influência de EMC); A = Ca + Ia;
por liquidez (PL). E a PL justifi- Cap. 18 da TG. Do PDE, resulta: considerando o modelo de equilí- k = sensibilidade-juros de I; m =
ca a substituição da Lei de Say pe- [1] Y = DE = C + I brio geral (MEG) o mais apropria- sensibilidade-renda e h = sensibili-
lo PDE: embora a oferta gere ren- [2] C = C(Y), C ’ > 0. do à análise macroeconômica, e re- dade-juros de L.
da monetária de igual valor, a PL [3] I = I(EMC, i), ∂I/∂EMC > 0 conhecendo méritos nas teorias
rompe o vínculo entre esta ren- e ∂I/∂i < 0. neoclássica e keynesiana, Hicks for-
da e a demanda efetiva (DE) que Da TPL, temos: mulou um MEG que contemplas-
sustentará a produção no perío- [4] i = i(L, M), ∂i/∂L > 0 se essas principais contribuições. O
do seguinte. e ∂i/∂M < 0. modelo IS-LM é um MEG cons-
O PDE e a TPL alicerçam a [5] M = oferta monetária truído a partir das funções do Cap.
crítica de Keynes ao equilíbrio (exógena, definida pela 18 da TG, no qual as duas teorias
único neoclássico, a pleno empre- autoridade monetária). são tratadas como “casos especiais”:
go. Enquanto a DE, inibida pela [6] L = Lt(Y) + Ls(i), ∂Lt/∂Y > 0 respectivamente, de equilíbrio com

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14 Escolas da Macroeconomia

As equações [7] e [8] repre- pretação de Hicks de que a prefe- ascendente) para níveis “normais” Em todos os casos, a respos-
sentam, respectivamente, as con- rência por liquidez seria efeito, e de emprego. ta de Y é condicionada a seu efei-
dições de equilíbrio dos mercados não causa, do desemprego, e atri- As principais extensões do mo- to sobre P, refletindo o trade-off
de bens e de moeda. As funções buiu o problema à rigidez de W delo IS-LM exploram suas impli- entre desemprego e inflação. Es-
[9] e [10] sintetizam o MEG de e P (nível de preços). Essa é ori- cações de política econômica e o sa discussão deu origem, nos anos
Hicks: sendo Y uma função de i gem da “versão real” do modelo trade-off entre desemprego e infla- 1960, a um importante comple-
no mercado de bens e i uma fun- IS-LM, mais difundida nos livros- ção, implícito no trecho ascenden- mento ao modelo da SN: a Curva
ção de Y no mercado monetário, -texto. Nessa versão: a) recupera- te da curva OA. Incluindo nos gas- de Phillips (CP), uma versão seto-
não há uma causalidade única en- -se a influência do mercado de tra- tos autônomos (A) o gasto público rial e dinâmica da curva OA, que,
tre eles (como propôs Keynes), balho sobre o produto: Y = f(N, (G) e lembrando que M é definida em vez da relação agregada P-Y,
mas sim uma relação mútua, na DE), N = g(W/P); b) P é função pelo governo, o modelo tornou-se retrata a variação de P (π = ∂P/P)
qual o equilíbrio do produto (Y*) dos custos de produção (TG, Cap. uma base útil para a análise dos associada a diferentes níveis de
e da taxa de juros (i*) se dá de for- 21), em especial, de W e da pro- efeitos das políticas fiscal e mone- U no mercado de trabalho: π =
ma simultânea (Gráfico 1). dutividade do trabalho; c) W e P tária. No caso geral, as duas políti- π(U). A teoria keynesiana de P
Os casos keynesiano e neoclás- são rígidos à baixa sob elevado de- cas têm efeitos reais: um aumento sugere uma CP negativamente in-
sico são identificados a partir de clinada (π’ < 0), refletindo a pres-
proposições distintas sobre o mer- são de U sobre W, condicionada
cado monetário, mais especifica- ao grau de capacidade ociosa da
mente, sobre o coeficiente h da economia. Em suma, a flexibili-
curva LM. Segundo Hicks, a gran- dade de salários e preços – essen-
de novidade da TG seria a Ls (ou a cial na teoria neoclássica e descar-
possibilidade de |h| > 0), ausente tada por Keynes – é incorporada
no modelo neoclássico. O caso ne- à SN como condicionante da ca-
oclássico ocorre quando h tende a pacidade de recuperação da eco-
zero (h → 0), tornando a LM ver- nomia a partir de uma posição de
tical. Isto ocorreria com Y a ple- desemprego.
no emprego – daí a vinculação aos A SN representa a mais conhe-
neoclássicos – caso em que M es- cida escola de pensamento Keyne-
taria sendo integralmente alocada siana. Esse posto, porém, deve-se
a fins transacionais. O caso keyne- mais à simplicidade e plasticidade
siano se restringiria à situação ex- do modelo que a sua aderência à
trema da “armadilha da liquidez”: teoria de Keynes. Hicks inverte a
com Y muito baixo, a maior parte causalidade proposta na TG entre
de M é alocada a Ls, o que equivale a preferência por liquidez (Ls) e o
à hipótese de h → ∞, tornando a semprego, mas tornam-se flexí- em G desloca a IS para cima, ele- produto agregado. Na TG, Ls con-
LM horizontal. Esta interpretação veis (ascendentes), à medida que vando Y (e também i, gerando al- diciona a demanda efetiva e expli-
fundamenta a conclusão de Hicks, o desemprego (U) se reduz: quan- gum efeito crowding out sobre I), e ca o desemprego. Na SN, é o de-
de que Keynes não teria formula- to menor U maior a tendência a um aumento em M desloca a LM semprego que justifica a relevância
do uma teoria geral do produto, aumentos em W, pressionando P. para baixo, reduzindo i e elevan- quantitativa e teórica de Ls, já que,
mas apenas “a teoria econômica Então, qualquer expansão da DE do Y. No caso keynesiano, a ex- na ausência dele, Ls = 0 – condição
da depressão”, já que somente nes- terá seu efeito atenuado, se P au- pansão monetária não é capaz de incompatível com a TPL. Modi-
te cenário a Ls seria relevante. menta, o que equivaleria a uma deslocar LM – a armadilha da li- gliani se afasta ainda mais de Key-
Keynes criticou a premissa ne- redução da oferta real de moeda, quidez eleva Ls e impede a queda nes, enfatizando uma condição –
oclássica de perfeita flexibilidade gerando aumento nos juros e re- de i – tornando a política monetá- a rigidez salarial – explicitamente
de salários (W), bem como a tese tração de Y. Este efeito é captado ria impotente. Portanto, a política rejeitada na TG como causa do
de que isto seria uma solução pa- no modelo pela substituição de M fiscal atinge sua máxima eficácia: desemprego: na síntese do Cap.
ra o desemprego (TG, Caps. 2-3 por (M/P) nas equações [8] e [10] com LM horizontal, é nulo o efei- 18, os salários não são menciona-
e 19). A flexibilidade não estimu- e pela incorporação de uma curva to crowding out. No cenário neo- dos sequer entre as variáveis que
laria o emprego, porque reduzi- de Oferta Agregada (OA), expres- clássico, dá-se o oposto: a políti- Keynes classifica como “dadas” ou
ria (ainda mais) a demanda efe- sando a relação P = p(Y), na qual ca fiscal é ineficaz (efeito crowding estruturais.
tiva, via C e I (reduzindo EMC). p’ = 0 (OA horizontal) para níveis out integral) e a política monetária A “parcela keynesiana” da SN
Modigliani (1944) aceitou a inter- muito baixos de Y e p’ > 0 (OA tem eficácia máxima. se restringe à aceitação parcial do

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15

PDE, sem a força que lhe atribuiu da por Modigliani e outros, con- via”, o modelo de Hicks passou cimento econômico no pós-guer-
Keynes – de determinante do pro- cilia dois enfoques teóricos que, a ser identificado apenas como ra, bem como as críticas de filiação
duto. Na SN, a demanda efetiva até hoje, polarizam o debate ma- Keynesiano e, mesmo contrarian- neoclássica e keynesiana que se se-
é mais uma influência relevante, croeconômico e são considerados do elementos importantes da TG, guiram. Talvez a maior das ironias
adicionada aos determinantes do inconciliáveis porque partem de tornou-se a sua mais difundida seja que tal interpretação “keyne-
lado da oferta – salários, em espe- premissas muito distintas quan- representação analítica. Foi nes- siana” tenha ficado conhecida co-
cial – enfatizados pelos neoclássi- to à racionalidade dos agentes e ta versão que a teoria “Keynesia- mo Síntese Neoclássica!
cos. Tratamento semelhante é da- ao modo de operação das econo- na” se tornou hegemônica entre as
do às expectativas de longo prazo, mias de mercado. Ademais, em- décadas de 1940 e 1960, inspiran- *
Professora do Instituto de Economia
determinantes da EMC: Keynes bora representasse uma “terceira do as políticas de estímulo ao cres- da UFRJ.
lhe atribuiu um papel central na
TG, enquanto na SN, a EMC é
apenas mais uma variável do mo-
delo, sem status diferenciado.
Na SN o PDE abre espaço para
as proposições de política econô-
mica de Keynes, em especial, pa-
ra o reconhecimento da necessida-
de e eficácia da atuação anticíclica
do governo diante do desemprego.
A TPL não é incorporada ao mo-
delo explicativo do PIB, restando-
-lhe a função pragmática de orien-
tar a política anticíclica: quanto
maior a preferência por liquidez,
que, na SN,, reflete o grau de ca-
pacidade ociosa da economia, me-
nos eficaz será a política monetá-
ria e mais indicada será a política
fiscal. Esse resultado, porém, sen-
do condicionado ao grau de flexi-
bilidade de W e P,, apenas em par-
te corresponde às proposições da
TG,, onde o fator decisivo para o
efeito real da política anticíclica é
a resposta da preferência por liqui-
dez e da EMC.
Vale notar que Keynes e Hicks
se referiam à teoria neoclássica co-
mo “clássica”. É curioso também
que a SN de Hicks, complementa-

Bibliografia

FROYEN, R. T. Macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 2001.


HICKS, J. R. Mr. Keynes and the Classics: a suggested interpretation. Econometrica, Vol. 5, No. 2, April, p. 147-159, 1937.
KEYNES, J. M. The General Theory of Employment, Interest and Money. London: MacMillan, 1936.
MINSKY, H. John Maynard Keynes. Cambridge: Cambridge University Press, 1975.
MODIGLIANI, F. Liquidity Preference and the Theory of Interest and Money. Econometrica, Vol. 12, No. 1, January, p. 45-88, 1944.
SNOWDON, B., VANE, H. Modern Macroeconomics: Its Origins, Development and Current State. Cheltenhan: Edgard Elgar, 2005.

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Desindustrialização é tema do trabalho


Alunos da UFRRJ vencem
primeiro colocado no Prêmio de Monografia Gincana Estadual de Economia
Vinícius Toledo Manhães, formando da preia Oliveira, também da UFF, que sub-
Os estudantes Roger Rodrigues de Oliveira e Pe-
UFF-Campos, foi o primeiro colocado do meteu a monografia Combate ao Tabagismo
dro de Medeiros Lemos, da UFRRJ – Três Rios,
XXIV Prêmio de Monografia Economista no Brasil: políticas de preços podem ser efica-
obtiveram a primeira colocação na III Gincana Es-
Celso Furtado, com o trabalho Evolução da zes?, orientado por Fábio Waltenberg.
Densidade Industrial dos Estados do Sudeste Dois trabalhos foram laureados com tadual de Economia do Rio de Janeiro, que acon-
Brasileiro: Pode-se Falar em Desindustrializa- menção honrosa: Análise da Evolução do En- teceu em 13 de agosto, na sede do Corecon-RJ,
ção?, orientado por Roberto Cezar Rocendo. sino Superior do Brasil entre os anos 1999 e e tem como objetivo estimular o ensino de Econo-
Nathalia de Menezes Silva, da UFF, recebeu 2009, de Leandro Dias Daumas, do IE/ mia. Diego Henrique Gonçalves Bezerra e Daniel
o prêmio de segundo lugar com Políticas Foca- UFRJ, quarto colocado no concurso; e Mo- Leal Demérito da Silva, da Uerj, conquistaram a
lizadas no Brasil: Uma Análise da Tarifa Social bilidade Urbana no Brasil: Uma Estimativa segunda colocação. Participaram ainda alunos
de Energia Elétrica no Caso das Favelas Cariocas, do Produto Perdido em Trânsito, de Guilher- da Associação Educacional Dom Bosco (AEDB),
monografia orientada por Claude Cohen. me Szczerbacki Besserman Vianna, também UFF, UFRJ e UFRRJ – Nova Iguaçu.
O terceiro lugar coube a Sarah Lam- do IE/UFRJ, quinto colocado no prêmio.

BALANÇO PATRIMONIAL
ATIVO (EM R$)

REFERÊNCIAS ATÉ JUN/13 ATÉ JUN/14 REFERÊNCIAS ATÉ JUN/13 ATÉ JUN/14

ATIVO FINANCEIRO 6.266.431,11 6.999.276,86 PASSIVO FINANCEIRO 79.230,40 87.894,00

DISPONÍVEL 53.363,50 70.334,01 DEPÓSITOS DE DIVERSAS ORIGENS - 10.439,96

DISPONÍVEL VINCULADO A C/C BANCARIA 6.156.751,11 6.870.635,81 CONSIGNAÇÕES 8.558,21 13.965,16

REALIZÁVEL 18.762,70 20.753,24 CREDORES DA ENTIDADE 16.594,22 10.946,88

RESULTADO PENDENTE 37.553,80 37.553,80 ENTIDADES PÚBLICAS CREDORAS 54.077,97 52.542,00

ATIVO PERMANENTE 18.643.953,47 18.481.435,35 RESULTADO PENDENTE 153.980,70 200.030,36

BENS PATRIMONIAIS 1.596.515,42 1.643.376,72 DESPESAS DE DE PESSOAL A PAGAR 153.980,70 200.030,36

VALORES 33.635,92 51.345,85 PATRIMÔNIO(ATIVO REAL LÍQUIDO) 24.677.173,48 25.192.787,85

CRÉDITOS 17.013.802,13 16.786.712,78

TOTAL GERAL 24.910.384,58 25.480.712,21 TOTAL GERAL 24.910.384,58 25.480.712,21

DEMONSTRATIVO DAS RECEITAS E DESPESAS


REFERÊNCIAS PERÍODOS EM REAIS REFERÊNCIAS VARIAÇÕES

ABR A JUN/13 ABR A JUN/14 (EM R$) (EM %)

RECEITAS RECEITAS

ANUIDADES 666.429,02 360.682,13 ANUIDADES (305.746,89) -45,9

PATRIMONIAL 87.011,06 113.169,93 PATRIMONIAL 26.158,87 30,1

SERVIÇOS 15.616,43 9.094,50 SERVIÇOS (6.521,93) -41,8

MULTAS E JUROS DE MORA 14.728,55 3.475,94 MULTAS E JUROS DE MORA (11.252,61) -

DÍVIDA ATIVA 100.282,72 132.326,36 DÍVIDA ATIVA 32.043,64 32,0

DIVERSAS 58.866,31 102.276,01 DIVERSAS 43.409,70 73,7

TOTAL GERAL 942.934,09 721.024,87 TOTAL GERAL (221.909,22) -23,5

DESPESAS DESPESAS

DE CUSTEIO 892.619,71 779.125,46 DE CUSTEIO (113.494,25) -12,7

PESSOAL 578.681,88 467.251,27 PESSOAL (111.430,61) -19,3

MATERIAL DE CONSUMO 13.563,92 16.028,26 MATERIAL DE CONSUMO 2.464,34 18,2

SERVIÇOS DE TERCEIROS E ENCARGOS 300.373,91 295.845,93 SERVIÇOS DE TERCEIROS E ENCARGOS (4.527,98) -1,5

TRANSFERÊNCIAS CORRENTES 169.017,85 116.305,85 TRANSFERÊNCIAS CORRENTES (52.712,00) -31,2

DESPESAS DE CAPITAL 12.959,71 14.293,27 DESPESAS DE CAPITAL 1.333,56 10,3

TOTAL GERAL 1.074.597,27 909.724,58 TOTAL GERAL (164.872,69) -15,3

RESULTADO = RECEITAS - DESPESAS (131.663,18) (188.699,71) RESULTADO = RECEITAS - DESPESAS (57.036,53) 43,3

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