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Baixo
crescimento
e inflação
resistente
Luiz Filgueiras, José Marcio
Camargo, João Paulo de
Almeida Magalhães e
Dércio Garcia Munhoz
discutem o quadro econômico
e suas causas, o teto para
o crescimento da economia
e o combate à inflação
via juros altos.
Órgão Oficial do CORECON - RJ Presidente: Sidney Pascoutto da Rocha. Vice-presidente: Edson Peterli Guimarães. Conselhei-
E SINDECON - RJ ros Efetivos: 1º Terço: (2014-2016): Arthur Câmara Cardozo, Gisele Mello Senra Rodrigues, João
Issn 1519-7387 Paulo de Almeida Magalhães – 2º terço (2012-2014): Gilberto Caputo Santos, Edson Peterli Guima-
rães, Jorge de Oliveira Camargo – 3º terço (2013-2015): Carlos Henrique Tibiriçá Miranda, Sidney
Conselho Editorial: Edson Peterli Guimarães, Carlos Henrique Tibiriçá Miranda, José Ricardo de Pascoutto Rocha, José Antonio Lutterbach Soares. Conselheiros Suplentes: 1º terço: (2014-
Moraes Lopes, Sidney Pascoutto da Rocha, Gilberto Caputo Santos, Marcelo Pereira Fernandes, 2016): Andréa Bastos da Silva Guimarães, Regina Lúcia Gadioli dos Santos, Marcelo Pereira Fer-
Gisele Rodrigues, João Paulo de Almeida Magalhães, Sergio Carvalho C. da Motta, Paulo Mibielli nandes – 2º terço: (2012-2014): André Luiz Rodrigues Osório, Leonardo de Moura Perdigão Pam-
Gonzaga. Jornalista Responsável: Mar celo Cajueiro. Edição: Diagrama Comunicações Ltda-ME plona, Miguel Antônio Pinho Bruno – 3º terço: (2013-2015): Cesar Homero Fernandes Lopes, José
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Luiz Filgueiras
Luiz Filgueiras é professor e pesquisador da Faculdade mento, ou seja, um crescimento
que não se apoia principalmente
de Economia da Universidade Federal da Bahia, autor no investimento – privado e públi-
do livro História do Plano Real e coautor, com Reinal- co – e sim no consumo, nos gastos
correntes do governo e nas exporta-
do Gonçalves, de Economia Política do Governo Lula. ções. Ou seja, um crescimento que
ocorre com uma capacidade produ-
P: A economia brasileira vive dependentemente das aparências, tiva que não se altera; de fato, se isso
um processo de estagflação? as baixas e flutuantes taxas de cres- ocorre, a aproximação a uma situ-
R: O debate acerca da economia cimento do PIB, assim como um ação de pleno emprego trará pres-
brasileira, nos últimos anos, está pouco mais ou um pouco menos de sões inflacionárias. No entanto, um
centrado, essencialmente, em ques- inflação, fazem parte da economia crescimento apoiado no investi-
tões macroeconômicas, em particu- brasileira desde a constituição, nos mento altera a capacidade produti-
lar nos níveis das taxas de inflação e anos 1990, do padrão (modelo) de va da economia e, dinamicamente,
de crescimento do PIB. Isto eviden- desenvolvimento liberal-periférico – amplia o produto potencial do pa-
cia que: 1- há um consenso entre as que reduziu mais ainda o grau de li- ís. Portanto, o investimento, como
forças políticas da ordem de que o berdade do país em conduzir a sua sempre, é a variável fundamental da
atual padrão de desenvolvimento política econômica e o seu destino. da economia brasileira. A melhora dinâmica macroeconômica e, no ca-
brasileiro não pode ou não deve ser Mais do que nunca, a distintas con- ou piora da vulnerabilidade exter- so brasileiro, o investimento públi-
alterado; 2- que as restrições estru- junturas internacionais são decisivas na conjuntural limita, mais ou me- co é crucial em todas as áreas: infra-
turais impostas por esse padrão não para a dinâmica da economia brasi- nos, o regime de política macroeco- estrutura, tecnologia, educação etc.
são consideradas, especialmente as leira, com as políticas macroeconô- nômica a ser adotado, bem como o
distintas conjunturas internacionais micas internas tendo de se adapta- seu campo de operacionalização. É P: Você crê na eficácia da política
que viabilizam distintos regimes de rem às circunstâncias exógenas. claro que existem variações de de- de combate à inflação no Brasil
política macroeconômica. As taxas sempenhos entre os países periféri- por meio da fixação da taxa Selic
de crescimento do PIB, a rigor, são P: Que fatores determinaram cos, a depender da estrutura econô- em patamar elevado? Que alter-
reduzidas e voláteis desde os anos o quadro atual de baixo cresci- mica e de fatores internos próprios nativas o país tem para reduzir os
1990, apresentando um comporta- mento econômico e inflação no desses países; mas elas não definem índices de inflação sem derrubar
mento de “voo da galinha”, que vol- topo da meta? Como superar es- sempre os mesmos países como os o crescimento econômico?
tou a se repetir do segundo Gover- ta situação? de melhor desempenho. Assim, em R: Na verdade, no Brasil, não são,
no Lula para o Governo Dilma. As R: Do ponto de vista imediato, po- certos momentos o Brasil se desta- diretamente, as taxas de juros eleva-
taxas de inflação, a partir do Plano dem ser citados o endividamen- ca positivamente e, em outros, ne- das que seguram a inflação, mas sim
Real, atingiram um dígito, variando to das famílias, que reduziu o rit- gativamente; no longo prazo, con- a valorização do câmbio, que decor-
muito pouco, com exceção do últi- mo de crescimento do consumo; a tudo, os problemas se reproduzem re da entrada de capitais estrangeiros
mo ano do segundo Governo FHC. piora das contas externas, que des- quase como um “karma”: vulnerabi- no país em busca de excelente opor-
Em resumo, o baixo crescimento do valorizou o real; e, neste ano eleito- lidade externa, restrições pelo balan- tunidade de valorização propiciada,
PIB atual não é nenhuma novida- ral, o comportamento defensivo do ço de pagamentos e ameaça da infla- exatamente, por essas taxas. A dis-
de, assim como a atual taxa de infla- empresariado – que provocou a re- ção fugir ao controle. tância entre a SELIC (a taxa de juros
ção no limite da meta não significa dução dos investimentos. A questão que remunera os detentores da dívi-
perda de controle do processo infla- mais de fundo, estrutural, é a natu- P: Você acredita que há um teto da pública) e as taxas de juros do to-
cionário. A ideia de que o país passa reza dependente do capitalismo bra- para o crescimento do PIB no Bra- mador final é enorme; portanto, o
por um processo de estagflação tem, sileiro, que se agravou desde os anos sil, que se superado implica o es- efeito de mudanças na SELIC sobre
claramente, um viés político-ideoló- 1990, com a constituição do padrão touro da meta de inflação? Em ca- as taxas de juros para o consumidor e
gico, no sentido de que há uma dis- (modelo) de desenvolvimento libe- so afirmativo, qual é o teto e como as empresas é pequeno. No entanto,
puta, novamente acirrada, entre as ral-periférico. Isto significa dizer que podemos vencer esta limitação? a valorização do real estimula as im-
forças da ordem para saber quem vai as distintas conjunturas internacio- R: A ideia de que há um teto pa- portações de produtos estrangeiros,
conduzir, a partir do próximo ano, nais, mais do que nunca, são deci- ra o crescimento do PIB tem co- que competem com produtos pro-
o país e sua política econômica. In- sivas para a dinâmica e desempenho mo suposto certo tipo de cresci- duzidos internamente, dificultan-
do assim a majoração dos preços. E da evolução da PEA. No caso atu- duas circunstâncias: 1- suas moedas ção significativa do crédito, redu-
esse processo, em certos momentos, al do Brasil, verifica-se que a taxa de não são conversíveis internacional- ção dos superávits fiscais primários e
acaba ganhando uma dinâmica pró- desemprego continua baixa – apesar mente e 2- não possuem capacidade maiores gastos do governo, e políti-
pria, na qual a expectativa do investi- do reduzido crescimento do PIB nos endógena de geração de progresso ca de aumentos reais do salário mí-
dor estrangeiro de que o real tenderá quatro anos do Governo Dilma. As- técnico. Em suma, se caracterizam nimo e maior abrangência e impac-
a se valorizar reforça essa valorização sim, a explicação só pode estar na re- por serem dependentes do ponto de to da política social (Bolsa Família e
e atrai mais capital – resultando num lativa estabilidade ou diminuto au- vista tecnológico e financeiro. Es- benefícios da previdência), induziu-
processo continuado de aumento dos mento da PEA nesses anos, que se sas limitações sempre se expressam, -se um ciclo de crescimento de qua-
fluxos de capital, valorização do real, relaciona ao que os demógrafos de- a depender da conjuntura interna- tro anos. Contudo, após a crise que
crescimento das importações e que- nominam de transição demográfica: cional, em problemas no balanço de abarcou todos os países e que conti-
da ou controle da inflação. O proble- um processo paulatino de envelheci- pagamentos e/ou na inflação. Por is- nua em andamento, piorando nossa
ma é que, dinamicamente, o balan- mento da população, com queda das so, a conjuntura internacional – de- restrição externa, a manutenção da
ço de pagamentos do país tende a se taxas de fertilidade da mulher e das sempenho das economias centrais, mesma política econômica por parte
deteriorar e o crescimento da econo- taxas de mortalidade. O grande nú- dinâmica do comércio e dos fluxos do Governo Dilma não teve mais ca-
mia arrefece. Na virada do primeiro mero de desempregados foi absorvi- de capitais, fase em que se encon- pacidade de apresentar resultados se-
para o segundo Governo Lula, toda- do nos anos Lula; com Dilma, o PIB tra a revolução tecnológica nos pa- melhantes ao do segundo Governo
via, foi possível a convivência de ta- reduziu seu crescimento, mas o de- íses desenvolvidos etc. - sempre tem Lula. Na realidade, esses resultados
xas de juros menores, controle da in- semprego não cresceu porque a PEA influência decisiva, condicionando são tão ruins quanto os do segundo
flação e maiores taxas de crescimento se estabilizou, ou praticamente não fortemente a dinâmica da econo- Governo FHC, o que evidencia três
do PIB – em razão da conjuntura in- cresceu – com menos jovens entran- mia desses países e as políticas ado- coisas: 1- no padrão (modelo) liberal-
ternacional favorável, que estimulou do no mercado de trabalho ou retar- tadas por seus respectivos governos. -periférico (capitalismo dependente,
as exportações de commodities a pre- dando a sua entrada. Neste último No entanto, dentro desse condicio- com abertura comercial e financei-
ços elevados. Aqui se evidencia, mais caso, as políticas sociais podem ter namento e de suas limitações, sem- ra e inserção passiva na divisão inter-
uma vez, a fragilidade do capitalismo tido algum impacto. pre há mais de uma possibilidade nacional do trabalho), a conjuntura
dependente brasileiro, que se expres- do ponto de vista interno, isto é, internacional, mais do que nunca,
sa sempre em problemas de balanço P: Os problemas enfrentados sempre existem diferentes opções é decisiva; 2- esse padrão de desen-
de pagamentos e/ou inflação, a de- atualmente pela economia bra- de política econômica e caminhos volvimento é compatível com dis-
pender da conjuntura internacional. sileira são grosso modo simila- a seguir. Portanto, dentro de certos tintos regimes de política macroe-
O problema central está na dificul- res aos de outros países ou nos- limites, as circunstâncias internas conômica; 3- os diferentes regimes,
dade de se manter um crescimento sas condições são particulares? também influenciam a dinâmica da no entanto, até agora adotados (ân-
continuado do PIB puxado pelos in- R: São similares a de outros países economia desses países. No Brasil, a cora cambial, tripé macroeconômi-
vestimentos produtivos e, portanto, periféricos, de capitalismo depen- conjuntura internacional até a crise co e tripé flexibilizado), de acordo
com crescimento da capacidade pro- dente, que ocupam posição subor- mundial (último trimestre de 2008) com cada conjuntura internacio-
dutiva e por extensão da oferta – sem dinada na divisão internacional do permitiu ao Governo Lula relaxar a nal, não foram capazes de garantir
que isto afete perigosamente o balan- trabalho e que têm, em comum, operacionalização do tripé macroe- – com ou sem reformas pró-mer-
ço de pagamentos do país. conômico: metas de inflação, supe- cado, com maior ou menor parti-
rávit fiscal primário e câmbio flutu- cipação do Estado – um crescimen-
P: Mesmo com o fraco crescimen- ante. Desse modo, combinando-se to sustentado. Em suma, a questão
to do PIB, a taxa de desemprego redução das taxas de juros e amplia- fundamental não está nas distintas
continua baixa no país. Como vo- políticas macroeconômicas adota-
cê explica este fenômeno? das em cada conjuntura, mas sim
R: A taxa de desemprego é definida na natureza do atual padrão de de-
pela relação entre o total de pessoas senvolvimento brasileiro, que redu-
que estão desempregadas e o total de ziu fortemente os graus de liberda-
pessoas que compõem a população de do país. Como, em geral, entre as
economicamente ativa (PEA). Esta forças políticas da ordem (situação
última é constituída por todas as pes- e oposição) há um consenso sobre
soas que estão procurando ocupa- a impossibilidade de mudança desse
ção. Portanto, a evolução da taxa de padrão, o debate e as opções acabam
desemprego depende, de um lado, se restringindo ao círculo das políti-
do ritmo da economia e, de outro, cas macroeconômicas.
P: A economia brasileira vive uma inflação de serviços próxima P: Você crê na eficácia da política
um processo de estagflação? a 9 % ao ano. Como a inflação de de combate à inflação no Brasil
R: A economia brasileira vive um comerciáveis é muito baixa (próxi- por meio da fixação da taxa Selic
processo de crescimento mui- ma a 2% ao ano) devido ao exces- em patamar elevado? Que alter-
to baixo e decrescente e inflação so de capacidade ociosa no mun- nativas o país tem para reduzir os
pressionada. Se o nome é estagfla- do e ao excesso de liquidez nos índices de inflação sem derrubar
ção, pouco importa. O importan- países desenvolvidos, o resultado o crescimento econômico?
te é que, apesar de o crescimento foi uma mudança de preços rela- R: Certamente. Na verdade, não
ser medíocre, a taxa de inflação es- tivos contra os bens comerciáveis, conheço nenhuma outra forma
tá bastante elevada, mesmo com o o que significa valorização do real bem-sucedida de combater a infla-
governo controlando alguns pre- e perda de competitividade da in- ção que não seja através da utiliza-
ços administrados. dústria. O resultado foi baixo cres- ção correta da política monetária.
cimento do setor industrial, desin- Acredito ser bastante difícil com-
P: Que fatores determinaram dustrialização, aumento do déficit bater a inflação hoje no Brasil sem mo tempo em que grande parte dos
o quadro atual de baixo cresci- em conta corrente e déficit na ba- algum aumento da taxa de desem- empregos que estão sendo criados
mento econômico e inflação no lança comercial. prego, de tal forma a fazer com que é de baixa qualidade e paga baixos
topo da meta? Como superar es- o crescimento dos salários convir- salários, o “segundo trabalhador”
ta situação? P: Você acredita que há um te- ja para os ganhos de produtividade. da família pode estar preferindo fi-
R: Houve um erro de diagnósti- to para o crescimento do PIB no car em casa para cuidar dos filhos a
co da equipe econômica quanto às Brasil, que se superado implica P: Mesmo com o fraco crescimen- trabalhar. É uma possibilidade, mas
causas da desaceleração da econo- o estouro da meta de inflação? to do PIB, a taxa de desemprego do ponto de vista do crescimento é
mia depois da retomada da crise Em caso afirmativo, qual é o te- continua baixa no país. Como vo- algo muito negativo.
financeira de 2008/2009. O diag- to e como podemos vencer esta cê explica este fenômeno?
nóstico foi de que a desaceleração limitação? R: Realmente. Em grande parte isto P: Os problemas enfrentados
decorria de falta de demanda agre- R: Certamente. Neste momento se deve a uma diminuição da taxa atualmente pela economia bra-
gada e todos os instrumentos de o teto é dado pela taxa de desem- de participação na força de traba- sileira são grosso modo simila-
política econômica disponíveis fo- prego, que, como dissemos ante- lho. O interessante é que esta di- res aos de outros países ou nos-
ram utilizados para resolver o pro- riormente, está em níveis insus- minuição está acontecendo em to- sas condições são particulares?
blema: aumento do crédito dos tentáveis na medida em que está dos os grupos etários, desde os mais R: Acho que parte dos problemas
bancos públicos, redução do su- gerando uma inflação de serviços jovens até os mais velhos. É possí- é comum entre os emergentes. Por
perávit primário, queda das taxas próxima a 9% ao ano, e pela ta- vel que os grupos mais jovens este- exemplo, com o excesso de liqui-
de juros etc. Ocorre que a razão xa de investimentos, que caiu para jam adiando a entrada no mercado dez e taxas de juros próximas a
da desaceleração da economia es- níveis muito baixos. Dificilmen- de trabalho para ficar mais tempo zero no mundo desenvolvido, as
tá, a nosso ver, relacionada à baixa te a economia brasileira consegui- na escola, o que seria bom no futu- moedas dos países emergentes se
competitividade da indústria bra- rá crescer mais de 1,5% ao ano ro. Mas parece pouco provável que valorizaram muito, o que reduziu
sileira e não à falta de demanda. sem gerar pressões inflacionárias a razão da redução da taxa de parti- a competitividade dos mesmos e,
O resultado foi que o aumento da sem que sejam realizadas refor- cipação dos adultos seja isto. Uma portanto, a taxa de crescimento.
demanda gerou queda da taxa de mas estruturais importantes, co- possibilidade é que a combinação Porém, a resposta de política eco-
desemprego para níveis insusten- mo as das legislações trabalhista e de programas de transferência de nômica dada pelo Brasil, utilizan-
táveis, no sentido de que os salá- tributária, dos sistemas educacio- renda com problemas ligados à mo- do políticas keynesianas quando o
rios nominais passaram a crescer nal e previdenciário, e se consiga bilidade urbana esteja gerando este problema era de incapacidade da
9% ao ano, com os salários reais aumentar muito os investimentos resultado. Como está muito “caro”, oferta de reagir, foi um tiro no pé
crescendo muito acima da produ- em infraestrutura para gerar ga- em termos de bem-estar, se deslo- e agravou o problema. Isto é mais
tividade do trabalho, o que gerou nhos de produtividade. car de casa para o trabalho, ao mes- específico da economia brasileira.
P: Você crê na eficácia da política rar o PIB. A política de rendimen- tem, entre outras causas, o pro- veis, surgiu o problema. Os países
de combate à inflação no Brasil tos é a aconselhável para países em cesso de desindustrialização. Sur- asiáticos – Coreia do Sul, Taiwan,
por meio da fixação da taxa Selic desenvolvimento, tendo inclusive ge, assim, uma oferta de postos de Singapura etc. – o contornaram
em patamar elevado? Que alter- no Brasil constituído a essência do trabalho acima do incremento do entrando no mercado internacio-
nativas o país tem para reduzir bem-sucedido Plano Real. PIB. Ou seja, o emprego aumenta nal de produtos industriais de tec-
os índices de inflação sem der- apesar do baixo crescimento eco- nologia avançada. O que foi pos-
rubar o crescimento econômico? P: Mesmo com o fraco crescimen- nômico como consequência do rá- sível porque, durante toda fase
R: A elevação da taxa de juros co- to do PIB, a taxa de desemprego pido incremento dos setores inten- anterior, condicionaram as medi-
mo forma de controle de preços continua baixa no país. Como vo- sivos de mão de obra. Portanto, das protecionistas ao alcance pelos
tem se revelado eficiente na expe- cê explica este fenômeno? contrariamente ao que pretende o beneficiados, em tempo razoável,
riência mundial. E, no Brasil, a R: Uma primeira interpretação é Governo, o não aumento do nú- de níveis internacionais de compe-
inflação não escapou de controle que se trata de um viés estatísti- mero de desempregados deixa de titividade. O mesmo não aconte-
graças aos altos juros praticados. O co. Sendo o número de desempre- ser um bom resultado e se trans- ceu com os países da América La-
problema é que, em países desen- gados calculado pelo total das pes- forma em sintoma de grave distor- tina, que, após 1980, esgotado seu
volvidos juros altos são aceitáveis soas procurando emprego, o que ção estrutural em andamento na estoque de importações substituí-
porque, contrariamente aos subde- estaria acontecendo é que, diante economia brasileira. veis, entraram em semirrecessão.
senvolvidos, eles não têm um atra- das dificuldades encontradas, mui- Presentemente, alguns países de
so econômico a eliminar. Podem, tos estão desistindo de procurar P: Os problemas enfrentados porte médio da região voltaram a
portanto, aceitar o lento cresci- emprego, reduzindo erradamente atualmente pela economia bra- crescer aproveitando nichos do co-
mento, corolário inevitável de ju- o número de desempregados regis- sileira são grosso modo simila- mércio internacional.
ros mais elevados. Existe, porém, trado pelas estatísticas. A melhor res aos de outros países ou nos- O que se pode dizer do Bra-
uma alternativa à manipulação dos explicação é, todavia, outra. sas condições são particulares? sil é que, dado seu grande mer-
juros como forma de manter os O Brasil registra hoje um pro- R: Todos os países emergentes pas- cado interno, poderia ter seguido
preços sob controle. Mais difícil e, cesso pelo qual as atividades inten- saram por fase inicial de substitui- em maior escala e mais facilmen-
por causa disso, menos utilizada: a sivas de trabalho tendem a crescer ção das manufaturas importadas te o procedimento adotado pelos
política de rendimentos. mais rapidamente do que as pou- por produção local. Esgotado o países asiáticos. Isto é, condicio-
Recapitulemos. A inflação de- padoras de trabalho. Situação que estoque de importações substituí- nar o amparo concedido à indús-
corre do fato de que a soma das tria nacional à obtenção de níveis
reivindicações dos agentes econô- internacionais de competitividade.
micos (governo, trabalhadores e O que não aconteceu. Pior ainda,
empresas) ultrapassa o montan- deixamos que empresas multina-
te do PIB. Instala-se, dessa forma, cionais monopolizassem, em de-
uma disputa levada adiante atra- trimento das brasileiras, os setores
vés da elevação de preços, seguida mais dinâmicos do mercado mun-
do aumento de salários e outra re- dial. Diferentemente do que fez a
munerações dos agentes econômi- China, onde o ingresso de empre-
cos, numa disputa que se estende sas estrangeiras no país foi utiliza-
indefinidamente. E, para que ela do para facilitar, através do acesso
possa se manter, os meios de pa- a suas tecnologias, geração de mão
gamento devem aumentar cons- de obra qualificada etc. e a criação
tantemente, o que o governo acei- de empresas nacionais nos mesmos
ta, ou até patrocina, para evitar setores. Empresas essas que passa-
uma crise de liquidez. ram a concorrer com as estrangei-
Há, portanto, duas formas de ras tanto no mercado local como
terminar com a inflação: impedin- no internacional.
do o aumento dos meios de paga- E como para dinamizar econo-
mento através, por exemplo, da ele- mia da dimensão da brasileira não
vação da taxa de juros, ou adotando é suficiente a conquista de sim-
uma política de rendimentos que ples nichos do mercado mundial,
impeça a soma das reivindicações o Brasil é hoje um dos países que
dos agentes econômicos de supe- menos cresce na América Latina.
E
tos externos por empresas brasi- ro que os valores destas opera- nesta modalidade de operação.
m complemento ao estu- leiras, normalmente se valendo da ções não estão, portanto, con- Chama atenção a presença dos Es-
do publicado na edição an- modalidade buyer´s credit, finan- templados nas informações do tados Unidos, com 42% do to-
terior do JE, apresentamos ciando governos ou instituições fi- BNDES sobre suas operações di- tal desembolsado. Uma das razões
aqui os setores e corporações benefi- nanceiras de outros países para im- retas e indiretas. Ao longo dos úl- para isso está nas exportações da
ciadas pelo BNDES nos seus finan- portarem bens e serviços nacionais. timos 16 anos, de 1998 a 2013, Embraer para aquele país. Desta-
ciamentos a atividades nos exterior. Sobre estas operações, embora di- foram 3.032 contratações de ope- que-se também, que entre os pa-
Antes de apresentar os da- vulgue os setores, empresas, pro- rações pós-embarque, totalizando íses sul-americanos, os principais
dos, cabem alguns esclarecimentos jetos e países beneficiados, o BN- US$ 31,2 bilhões em valores con- destinos são Argentina, Venezuela
quanto às modalidades de financia- DES não revela os valores de cada tratados. Deste total, US$ 13,6 bi e Equador4. Já no caso da África,
mento do BNDES à internaciona- projeto apoiado, justificando que (44%) foram desembolsados nos Angola é de longe o principal des-
lização de empresas. De um lado, o a identificação do "valor individu- últimos seis anos, de 2008 a 2013. tino dos financiamentos, concen-
BNDES possui desde 1998 a linha al de operações, está protegido por As exportações financiadas pe- trando quase a totalidade dos de-
do BNDES-Exim, responsável pelo sigilo advindo de lei ao qual o BN- la modalidade pós-embarque no sembolsos para aquele continente
financiamento à produção de bens DES está sujeito no exercício de período tiveram como destino 45 nesta modalidade de operação.
e de serviços brasileiros destinados à sua atividade-fim, a partir do qua- países. Conforme demonstrado na Como o Banco não fornece a
exportação e à comercialização des- dro de desembolsos por países"3. Tabela 6, apenas oito países con- informação dos valores por pro-
tes itens no exterior. De outro, des- jeto das operações pós-embarque,
de 2002, o Banco conta com uma TABELA 6 – Desembolsos BNDES Pós-embarque os dados aqui apresentados sobre
linha de "Apoio à Internacionaliza- por destino das exportações financiadas - 1998-2013 distribuição setorial e corporações
ção", voltada a "estimular a inser- mais beneficiadas foram extraídos
Países Valor Contratado (US$ bilhões) %
ção e o fortalecimento de empresas de quadros fornecidos pelo próprio
ANGOLA 3 9,6
com participação de capital nacio- BNDES. As informações que se se-
ARGENTINA 3,4 10,8
nal no mercado internacional atra- CUBA 0,8 2,6
guem sobre a distribuição setorial
vés do apoio à aquisição de ativos e EQUADOR 0,8 2,5 são apresentadas de forma muito
à realização de projetos ou investi- ESTADOS UNIDOS 13 41,8 agregada, dificultando uma leitura
mentos no exterior, desde que con- PAÍSES BAIXOS 1,5 4,6 mais fina dos dados (Tabela 7).
tribuam para o desenvolvimento REPÚBLICA DOMINICANA 1,3 4,1 Os dados acima demonstram
VENEZUELA 1,9 6,1
econômico e social do País"1. ainda um peso maior, em termos
SUBTOTAL 25,6 82,1
Na linguagem do Banco, as ex- de investimentos em infraestru-
OUTROS 5,6 17,9
portações pelo BNDES-Exim podem TOTAL 31,2 100
tura na América do Sul. Mas cha-
ser apoiadas na fase "pré-embarque" ma a atenção que nos dados de-
Fonte: Desembolsos Pós-Embarque por País – BNDES 5
– na produção de bens e serviços vol- sagregados por ano, constata-se
tados à exportação – ou "pós-embar- que, enquanto os financiamentos
TABELA 7 – Desembolsos BNDES Pós-embarque das
que" – na comercialização de bens e em infraestrutura na América La-
exportações financiadas por categoria de uso - 1998-2013
serviços nacionais no exterior, atra- tina ocorrem desde 1998, na Áfri-
vés da modalidade supplier’s credit (re- Valor Total Contratado ca eles foram iniciados apenas em
Setores – Regiões
financiamento ao exportador) ou da (em US$ milhões) 2007 e já superam amplamente os
modalidade buyer’s credit (financia- Obras de infraestrutura - América do Sul 4.476 financiamentos a infraestrutura na
mento direto ao importador)2. Obras de infraestrutura - Demais da América Latina 1.706 América Central e Caribe.
Obras de infraestrutura - África 2.946
Ressalve-se que o peso dos fi-
Bens de capital - Todas as regiões 21.833
Operações Pós-Embarque nanciamentos à comercialização de
Outros setores - Todas as regiões 193
As operações "pós-embarque" Total 31.154
bens e serviços no exterior no setor
têm representado a principal mo- de infraestrutura parece subestima-
Fonte: Apoio à exportação por categoria de uso – BNDES6
dalidade pela qual o Banco tem do. Isso porque, como veremos nos
TOTAL 10.914 (92%) cionalização de empresas, as opera- de um terço dos desembolsos na li-
ções estão disponíveis na lista de ope- nha de apoio à exportação pós-em-
Fonte: Desembolso Pós-Embarque por Empresa Exportadora - BNDES9
rações diretas e indiretas, constantes barque no mesmo período. Desse
no site do BNDES para o período de valor, as operações de renda variá-
dados a seguir sobre a distribuição nibilizados pelo próprio Banco, 2008-13. Mas não há como identifi- vel concentraram US$ 3,8 bilhões
por empresa, as empreiteiras são as que cobrem o período de 2009 a car quais operações estão enquadra- ou 88% do total contratado na li-
maiores beneficiárias deste tipo de 2013, apenas cinco empresas con- das na referida linha de financiamen- nha de internacionalização. Desta-
financiamento, sugerindo, portan- centram 92% de todo o valor con- to. Por isso, para efeito deste estudo, ques para as aquisições, no setor de
to, que os apoios ao setor de bens tratado no período (US$ 11.924), recorremos à Lei de Acesso à Infor- alimentos, das americanas Pilgrim´s
de capital estejam voltados a forne- sendo quatro delas as maiores em- mação para solicitar ao Banco quais e Keystone pela JBS e Marfrig, res-
cer máquinas e equipamentos para preiteiras do País – a Odebrecht foram os projetos apoiados na linha pectivamente (Tabela 10).
obras de infraestrutura. sozinha ficou com 45% do total de internacionalização no período10. Em síntese, se tomamos o pe-
Ao tratarmos os dados sobre as contratado (Tabela 8). Na resposta ao pedido, o BN- ríodo de 2008 a 2013, para o qual
empresas beneficiárias da comer- Recente matéria publicada DES apresenta duas listas de proje- o Banco disponibiliza informa-
cialização de bens e serviços no ex- no jornal Valor Econômico abor- tos apoiados em duas modalidades: ções um pouco mais detalhadas, o
terior, pela modalidade pós-em- da a perda de espaço de emprei- operações de implantação, amplia- BNDES desembolsou um total de
barque, verificamos uma grande teiras brasileiras para as chinesas ção ou modernização de unidades US$ 18 bilhões no fomento a in-
concentração em poucas empre- no mercado de infraestrutura na produtivas, canais de comercializa- vestimentos de empresas brasileiras
sas. Conforme os dados dispo- América Latina. Segundo estu- ção e/ou centros de pesquisa e de- no exterior, compreendendo as li-
TABELA 9 – Operações de financiamento contratadas no âmbito da linha de internacionalização pelo Sistema BNDES 2008-2013
Valor Contratado
Cliente Final CNPJ Objetivo do Projeto
(US$ milhões)
TOTAL 562,8
Como se vê, o intuito deste bre- Fonte: Resposta do BNDES à solicitação via e-SIC (dia 26/05/2014 às 11:55)
ve estudo foi o de, sem maiores pre- TABELA 11 – Ranking de internacionalização de empresas brasileiras – 2013
tensões analíticas, fornecer ao leitor
Posição Empresa Índice Posição Empresa Índice
um quadro sintético do perfil de atu-
1 JBS* 0,589 16 Camargo Corrêa* 0,250
ação do BNDES nos últimos anos. 2 Gerdau* 0,542 17 Embraer* 0,231
Certamente, os dados aqui apresen- 3 Stefanini 0,496 18 Ci&T* 0,208
4 Magnesita Refratários* 0,457 19 Marcopolo 0,195
tados são por si só eloquentes sobre
5 Marfrig Alimentos* 0,433 20 Artecola 0,194
quem são as corporações e quais os 6 Metalfrio 0,427 21 DMS Logistics 0,185
setores privilegiados pelo Banco. 7 Ibope 0,364 22 Indústrias Romi 0,166
Importa,pois, ainda mais em ano 8 Odebrecht* 0,349 23 Cia Providência 0,143
9 Sabó 0,333 24 Votorantim* 0,138
eleitoral, por em questão o sentido e 10 Minerva Foods 0,320 25 Andrade Gutierrez* 0,129
a pertinência do BNDES seguir favo- 11 Tigre 0,306 26 Natura 0,128
recendo grandes grupos econômicos 12 Vale* 0,283 27 Agrale 0,427
13 Weg 0,280 28 Itaú - Unibanco 0,109
de caráter monopolista, com atuação 14 Suzano* 0,271 29 Bematech* 0,090
centrada no setor de commodities. 15 BRF* 0,271 30 Petrobras* 0,083
Cabe enfim ressaltar que, embo- Fonte: Ranking FDC das Multinacionais Brasileiras 2013 – Fundação Dom Cabral11
ra o Banco tenha avançado na pres- (*) Empresas com participação direta ou indireta do BNDESPAR
Síntese Neoclássica
Jennifer Hermann* PL, se mantiver inferior ao pro- e ∂Ls/∂i < 0
S
duto potencial, não há incentivo
íntese Neoclássica-Keyne- para as empresas elevarem a pro- sendo Lt = demanda transacional
siana (SN) é a designação dução e, menos ainda, para a solu- (como meio de troca); Ls = de-
do Modelo IS-LM apre- ção neoclássica da redução de pre- manda especulativa por moeda,
sentado por John Hicks (1937). ços, já que, em nenhum dos casos, que representa, no modelo, o con-
Além de propor uma interpreta- garante-se o aumento das receitas ceito de PL. Nesse modelo simpli-
ção para A Teoria Geral do Empre- com uma demanda retraída, carac- ficado, Lt incorpora outra parce-
go, do Juro e da Moeda (TG, Key- terizando a situação de equilíbrio la da PL: a demanda precaucional
nes, 1936), Hicks visou mostrar com desemprego. Em momentos por moeda, associada à incerteza
que, ao contrário do que alegou de maior incerteza se configuraria quanto aos gastos correntes que
Keynes, sua teoria do produto e o que Keynes chamou de “armadi- motivam Lt.
emprego agregados não era anta- lha da liquidez”: caso extremo em Os sinais das derivadas refle-
gônica, mas sim complementar, à que a economia se mantém em de- tem relações de causalidade am-
teoria neoclássica. Daí a proposta pressão, porque a renda se concen- plamente aceitas, exceto nas fun-
de síntese dos dois enfoques. tra na PL, em detrimento da DE. ções que envolvem a taxa de juros,
A TG ergue-se sobre dois pi- Embora concorra com a de- que representam a grande inova-
lares fundamentais: (1) Princípio manda por bens, a principal in- ção da teoria de Keynes. As de-
da Demanda Efetiva (PDE): de- fluência da PL sobre o produto rivadas ∂i/∂L e ∂i/∂M refletem a pleno emprego e com desemprego.
cisões de gasto (demanda) deter- agregado (Y) se dá no mercado de proposição de que a taxa de ju- O equilíbrio se dá pela interação
minam o nível da atividade eco- ativos. O primeiro efeito do au- ros é o preço da liquidez, respon- entre os mercados de bens e mo-
nômica (oferta); e (2) Teoria da mento na PL é a retração da de- dendo positivamente à demanda e netário, que, numa definição linear
Preferência por Liquidez (TPL): manda por ativos, elevando as ta- negativamente à oferta. A relação das funções (1)-(6), resulta:
papel central do mercado mo- xas de juros (i) requeridas para ∂Ls/∂i tem uma explicação com-
netário na determinação do pro- que estes possam concorrer com plexa na TG (Caps. 15-16) que, [7] Y = Ca + c.Y + Ia – k.i
duto – supõe a racionalidade da a demanda por moeda (L). Da- numa versão simplificada, espelha [8] M = L = Lt + Ls = m.Y – h.i
demanda do público por moe- das taxas de retorno esperadas (a o papel dos juros como custo de [9] Y = A – k.i
da como meio de troca e reser- que Keynes chamou de Eficiên- oportunidade de Ls, em detrimen- (Curva IS)
va de valor (preferência por liqui- cia Marginal do Capital – EMC), to da posse de títulos. As funções [10] i = (m/h).Y + (1/h).M
dez). O PDE e a TPL têm uma o aumento do custo (financei- [3] e [4] sintetizam a causalidade (Curva LM)
raiz comum e estrutural nas eco- ro e de oportunidade) dos inves- do mercado monetário sobre o de
nomias de mercado: a permanen- timentos (I) faz com que esses se bens: o primeiro define i; esta de- sendo Ca = consumo autônomo;
te incerteza dos agentes quanto à retraiam, inibindo a renda agrega- fine I; e este, por fim, define Y e C. c = propensão a consumir (C’ em
sua renda futura. A incerteza jus- da e o consumo (C). A principal motivação de Hicks [2]); Ia = investimento autônomo
tifica certo grau de preferência Keynes sintetizou sua teoria no para propor a SN foi metodológica: (influência de EMC); A = Ca + Ia;
por liquidez (PL). E a PL justifi- Cap. 18 da TG. Do PDE, resulta: considerando o modelo de equilí- k = sensibilidade-juros de I; m =
ca a substituição da Lei de Say pe- [1] Y = DE = C + I brio geral (MEG) o mais apropria- sensibilidade-renda e h = sensibili-
lo PDE: embora a oferta gere ren- [2] C = C(Y), C ’ > 0. do à análise macroeconômica, e re- dade-juros de L.
da monetária de igual valor, a PL [3] I = I(EMC, i), ∂I/∂EMC > 0 conhecendo méritos nas teorias
rompe o vínculo entre esta ren- e ∂I/∂i < 0. neoclássica e keynesiana, Hicks for-
da e a demanda efetiva (DE) que Da TPL, temos: mulou um MEG que contemplas-
sustentará a produção no perío- [4] i = i(L, M), ∂i/∂L > 0 se essas principais contribuições. O
do seguinte. e ∂i/∂M < 0. modelo IS-LM é um MEG cons-
O PDE e a TPL alicerçam a [5] M = oferta monetária truído a partir das funções do Cap.
crítica de Keynes ao equilíbrio (exógena, definida pela 18 da TG, no qual as duas teorias
único neoclássico, a pleno empre- autoridade monetária). são tratadas como “casos especiais”:
go. Enquanto a DE, inibida pela [6] L = Lt(Y) + Ls(i), ∂Lt/∂Y > 0 respectivamente, de equilíbrio com
As equações [7] e [8] repre- pretação de Hicks de que a prefe- ascendente) para níveis “normais” Em todos os casos, a respos-
sentam, respectivamente, as con- rência por liquidez seria efeito, e de emprego. ta de Y é condicionada a seu efei-
dições de equilíbrio dos mercados não causa, do desemprego, e atri- As principais extensões do mo- to sobre P, refletindo o trade-off
de bens e de moeda. As funções buiu o problema à rigidez de W delo IS-LM exploram suas impli- entre desemprego e inflação. Es-
[9] e [10] sintetizam o MEG de e P (nível de preços). Essa é ori- cações de política econômica e o sa discussão deu origem, nos anos
Hicks: sendo Y uma função de i gem da “versão real” do modelo trade-off entre desemprego e infla- 1960, a um importante comple-
no mercado de bens e i uma fun- IS-LM, mais difundida nos livros- ção, implícito no trecho ascenden- mento ao modelo da SN: a Curva
ção de Y no mercado monetário, -texto. Nessa versão: a) recupera- te da curva OA. Incluindo nos gas- de Phillips (CP), uma versão seto-
não há uma causalidade única en- -se a influência do mercado de tra- tos autônomos (A) o gasto público rial e dinâmica da curva OA, que,
tre eles (como propôs Keynes), balho sobre o produto: Y = f(N, (G) e lembrando que M é definida em vez da relação agregada P-Y,
mas sim uma relação mútua, na DE), N = g(W/P); b) P é função pelo governo, o modelo tornou-se retrata a variação de P (π = ∂P/P)
qual o equilíbrio do produto (Y*) dos custos de produção (TG, Cap. uma base útil para a análise dos associada a diferentes níveis de
e da taxa de juros (i*) se dá de for- 21), em especial, de W e da pro- efeitos das políticas fiscal e mone- U no mercado de trabalho: π =
ma simultânea (Gráfico 1). dutividade do trabalho; c) W e P tária. No caso geral, as duas políti- π(U). A teoria keynesiana de P
Os casos keynesiano e neoclás- são rígidos à baixa sob elevado de- cas têm efeitos reais: um aumento sugere uma CP negativamente in-
sico são identificados a partir de clinada (π’ < 0), refletindo a pres-
proposições distintas sobre o mer- são de U sobre W, condicionada
cado monetário, mais especifica- ao grau de capacidade ociosa da
mente, sobre o coeficiente h da economia. Em suma, a flexibili-
curva LM. Segundo Hicks, a gran- dade de salários e preços – essen-
de novidade da TG seria a Ls (ou a cial na teoria neoclássica e descar-
possibilidade de |h| > 0), ausente tada por Keynes – é incorporada
no modelo neoclássico. O caso ne- à SN como condicionante da ca-
oclássico ocorre quando h tende a pacidade de recuperação da eco-
zero (h → 0), tornando a LM ver- nomia a partir de uma posição de
tical. Isto ocorreria com Y a ple- desemprego.
no emprego – daí a vinculação aos A SN representa a mais conhe-
neoclássicos – caso em que M es- cida escola de pensamento Keyne-
taria sendo integralmente alocada siana. Esse posto, porém, deve-se
a fins transacionais. O caso keyne- mais à simplicidade e plasticidade
siano se restringiria à situação ex- do modelo que a sua aderência à
trema da “armadilha da liquidez”: teoria de Keynes. Hicks inverte a
com Y muito baixo, a maior parte causalidade proposta na TG entre
de M é alocada a Ls, o que equivale a preferência por liquidez (Ls) e o
à hipótese de h → ∞, tornando a semprego, mas tornam-se flexí- em G desloca a IS para cima, ele- produto agregado. Na TG, Ls con-
LM horizontal. Esta interpretação veis (ascendentes), à medida que vando Y (e também i, gerando al- diciona a demanda efetiva e expli-
fundamenta a conclusão de Hicks, o desemprego (U) se reduz: quan- gum efeito crowding out sobre I), e ca o desemprego. Na SN, é o de-
de que Keynes não teria formula- to menor U maior a tendência a um aumento em M desloca a LM semprego que justifica a relevância
do uma teoria geral do produto, aumentos em W, pressionando P. para baixo, reduzindo i e elevan- quantitativa e teórica de Ls, já que,
mas apenas “a teoria econômica Então, qualquer expansão da DE do Y. No caso keynesiano, a ex- na ausência dele, Ls = 0 – condição
da depressão”, já que somente nes- terá seu efeito atenuado, se P au- pansão monetária não é capaz de incompatível com a TPL. Modi-
te cenário a Ls seria relevante. menta, o que equivaleria a uma deslocar LM – a armadilha da li- gliani se afasta ainda mais de Key-
Keynes criticou a premissa ne- redução da oferta real de moeda, quidez eleva Ls e impede a queda nes, enfatizando uma condição –
oclássica de perfeita flexibilidade gerando aumento nos juros e re- de i – tornando a política monetá- a rigidez salarial – explicitamente
de salários (W), bem como a tese tração de Y. Este efeito é captado ria impotente. Portanto, a política rejeitada na TG como causa do
de que isto seria uma solução pa- no modelo pela substituição de M fiscal atinge sua máxima eficácia: desemprego: na síntese do Cap.
ra o desemprego (TG, Caps. 2-3 por (M/P) nas equações [8] e [10] com LM horizontal, é nulo o efei- 18, os salários não são menciona-
e 19). A flexibilidade não estimu- e pela incorporação de uma curva to crowding out. No cenário neo- dos sequer entre as variáveis que
laria o emprego, porque reduzi- de Oferta Agregada (OA), expres- clássico, dá-se o oposto: a políti- Keynes classifica como “dadas” ou
ria (ainda mais) a demanda efe- sando a relação P = p(Y), na qual ca fiscal é ineficaz (efeito crowding estruturais.
tiva, via C e I (reduzindo EMC). p’ = 0 (OA horizontal) para níveis out integral) e a política monetária A “parcela keynesiana” da SN
Modigliani (1944) aceitou a inter- muito baixos de Y e p’ > 0 (OA tem eficácia máxima. se restringe à aceitação parcial do
PDE, sem a força que lhe atribuiu da por Modigliani e outros, con- via”, o modelo de Hicks passou cimento econômico no pós-guer-
Keynes – de determinante do pro- cilia dois enfoques teóricos que, a ser identificado apenas como ra, bem como as críticas de filiação
duto. Na SN, a demanda efetiva até hoje, polarizam o debate ma- Keynesiano e, mesmo contrarian- neoclássica e keynesiana que se se-
é mais uma influência relevante, croeconômico e são considerados do elementos importantes da TG, guiram. Talvez a maior das ironias
adicionada aos determinantes do inconciliáveis porque partem de tornou-se a sua mais difundida seja que tal interpretação “keyne-
lado da oferta – salários, em espe- premissas muito distintas quan- representação analítica. Foi nes- siana” tenha ficado conhecida co-
cial – enfatizados pelos neoclássi- to à racionalidade dos agentes e ta versão que a teoria “Keynesia- mo Síntese Neoclássica!
cos. Tratamento semelhante é da- ao modo de operação das econo- na” se tornou hegemônica entre as
do às expectativas de longo prazo, mias de mercado. Ademais, em- décadas de 1940 e 1960, inspiran- *
Professora do Instituto de Economia
determinantes da EMC: Keynes bora representasse uma “terceira do as políticas de estímulo ao cres- da UFRJ.
lhe atribuiu um papel central na
TG, enquanto na SN, a EMC é
apenas mais uma variável do mo-
delo, sem status diferenciado.
Na SN o PDE abre espaço para
as proposições de política econô-
mica de Keynes, em especial, pa-
ra o reconhecimento da necessida-
de e eficácia da atuação anticíclica
do governo diante do desemprego.
A TPL não é incorporada ao mo-
delo explicativo do PIB, restando-
-lhe a função pragmática de orien-
tar a política anticíclica: quanto
maior a preferência por liquidez,
que, na SN,, reflete o grau de ca-
pacidade ociosa da economia, me-
nos eficaz será a política monetá-
ria e mais indicada será a política
fiscal. Esse resultado, porém, sen-
do condicionado ao grau de flexi-
bilidade de W e P,, apenas em par-
te corresponde às proposições da
TG,, onde o fator decisivo para o
efeito real da política anticíclica é
a resposta da preferência por liqui-
dez e da EMC.
Vale notar que Keynes e Hicks
se referiam à teoria neoclássica co-
mo “clássica”. É curioso também
que a SN de Hicks, complementa-
Bibliografia
BALANÇO PATRIMONIAL
ATIVO (EM R$)
REFERÊNCIAS ATÉ JUN/13 ATÉ JUN/14 REFERÊNCIAS ATÉ JUN/13 ATÉ JUN/14
RECEITAS RECEITAS
DESPESAS DESPESAS
SERVIÇOS DE TERCEIROS E ENCARGOS 300.373,91 295.845,93 SERVIÇOS DE TERCEIROS E ENCARGOS (4.527,98) -1,5
RESULTADO = RECEITAS - DESPESAS (131.663,18) (188.699,71) RESULTADO = RECEITAS - DESPESAS (57.036,53) 43,3