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PERIGO
Incerteza, risco e perigo são as palavras mais marcantes da nossa sociedade moderna,
consequentemente, emerge um terror coletivo que coloca em prova, como observa Giorgi
(1998, p. 14), o maior limite do direito, qual seja sua capacidade de judicializar o risco. Nosso
problema é formulado, parafraseando Mia Couto (CE, 2011): o direito penal se perfaz por
mais medo das coisas más do que por coisas más que realmente nos afetam.
Adota-se a premissa de que tanto a política criminal circunscrita pelo risco e o medo
consegue influenciar a dogmática como também esta consegue influenciá-la, uma vez que
estão imbricadas. Por isso, deve ser levada em consideração dentro da autoprodução do
direito, pelo motivo dela ser justamente governadora desse sistema (LUHMANN, 1983, p.
45).
Isto é de extrema importância, pois o conceito do bem jurídico fica perambulando numa
linha cinzenta, devido a sua formação ser inerente às variações político-criminais tomada por
diversos sujeitos valoradores. A partir da diversidade de valoração, Amelung (2003, p. 155)
começa a inserir o bem jurídico dentro do paradigma da teoria sistêmica luhmanniana.
“Constrói-se uma determinada imagem da sociedade, de modo que ela se adequa ao “código”
“bem jurídico”. Esta transformação do ambiente do sistema jurídico em um “mundo de bens”
é necessária, porque o sistema jurídico só pode receber e processar informações do mundo
exterior se as traduzir para a sua própria língua”.
Assim, um direito penal pautado apenas no desvalor da ação não atende a complexidade
envolta da comunicação entre observador e observado. É de se levar em conta que há um
contexto subjetivo por trás das intenções do indivíduo, inclusive o fator da sorte. Isto
impossibilita ainda mais a independência do fim desvalioso se concretizar, porque o efeito é
obra da sorte (ou azar) não podendo desvincular da ação “livre”.
Em troca, é proposta uma verificação dos comportamentos indesejados na relação de
resultado e não resultado – incluindo a distinção entre resultado naturalístico e resultado
jurídico – para daí conseguir tratar adequadamente o “direito penal do perigo”.
REFERÊNCIAS:
GIORGI, Raffaele. Direito, democracia e risco. Vínculos com o futuro. Porto Alegre:
Fabris, 1998.