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A Significação Do Público e Do Privado PDF
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ABSTRACT
This article aims at presenting a comparative study between the legal relations’ conception and
evolution in public and private nature, based on Rousseau-in his book The social contract, that ad-
vocated by Habermas, on the book The structural change of the public sphere. In Rousseau, the
social order bases on the convention and this one comes from the need for man’s conservation.
Liberty natural cedes place to civil liberties. From acquisition of civil liberty arising the property, the
moral equality, the liberty and the notion of public and private. The relation between sovereign and
body politic is based on the public interest. The public is the Polis, the collective, the body politic.
Habermas introduces another concept of public sphere as a place of dispute between the divergent
principles of sociability’s organization. The public sphere is the place of deliberation and mediation
between civil society and Public Authorities. The private sector is a public sphere of private persons.
Includes civil society. The State is the “public authority”. Its public attribute comes from its task of
promoting the public well being, the common one to all citizens.
Descriptors: State. Civil society. Public. Private.
RESUMEN
1 INTRODUÇÃO Com esse argumento Rousseau (2006, p.20), busca justificar a ne-
cessidade do pacto social para a existência perene da sociedade e questio-
O presente artigo tem como finalidade caracterizar a concepção na: o que legitima esta força capaz de unir as pessoas, ou por outras pala-
e evolução das relações jurídicas de natureza pública e privada, consubs- vras, o que legitima o poder? Rousseau enuncia o problema fundamental
tanciadas no pensamento de Rousseau - na sua obra O contrato social-, para o tipo ideal de Estado, cuja solução é fornecida pelo contrato social,
com aquela encetada por Habermas, na obra Mudança estrutural da esfera tal como está posto neste trecho: “[...] Encontrar uma forma de associação
pública. que defenda e proteja com toda a força comum a pessoa e os bens de
Rousseau procura delimitar o público e o privado com base nos cada associado, e pela qual cada um, unindo-se a todos só obedeça, con-
fundamentos e objetivos do pacto social. Habermas, com o objetivo de tudo, a si mesmo e permaneça tão livre quanto antes”.
delimitar o que é público e o que é privado, parte da análise histórica e Na teoria rousseauniana o cidadão deve ceder sua liberdade natu-
sociológica do tipo “esfera pública burguesa”. A investigação de Habermas ral para a liberdade convencional. O que o homem perde pelo contrato
limita-se à estrutura e função do modelo liberal da esfera pública burgue- social é a liberdade natural e ganha a liberdade civil e a propriedade de
sa, à sua origem e evolução. Estiliza os elementos liberais da esfera pública tudo o que possui. A liberdade natural tem por limites apenas as forças
burguesa e suas transformações socioestatais. do indivíduo e a liberdade civil é limitada pela vontade geral. A alienação
É importante observar que os autores analisam as categorias “pu- deve ser total, sem reservas, de cada associado, com todos os seus direitos,
blico” e “privado” a partir de contextos históricos distintos. Rousseau, um a toda a comunidade. Sendo assim, a condição é igual para todos e nin-
dos principais filósofos do século XVIII, conhecido como “Século das Lu- guém tem interesse em torná-la onerosa para os demais.
zes”, nasceu em Genebra (Suíça), em 28 de junho de 1712. Rousseau tes- Então, para que o pacto social alcance seu desiderato, ceder à força
temunhou o período do movimento iluminista vivido em toda a Europa, é um ato de necessidade, e não de vontade. Para o contratualista, nenhum
que tinha por objetivo promover a luta da “razão” contra a autoridade do homem tem autoridade natural sobre seu semelhante. A força não produz
Antigo Regime. Essa luta teve como marco histórico a Revolução Francesa direito algum.
(1789), que deu início ao processo de ruptura com o regime autoritário Para Jean-Jacques Rousseau (2006), o que há de singular nessa alie-
do passado e abriu caminho para as Revoluções Burguesas do final do nação é que, aceitando os bens dos particulares, a comunidade, longe de
século XVIII ao século XIX. É nesse contexto histórico que Rousseau, em despojá-los, só faz assegurar-lhes a posse legítima, a propriedade, transfor-
O Contrato Social, procura delimitar o público e o privado com base nos mando a usurpação (típica da liberdade natural) num verdadeiro direito e
fundamentos e objetivos do pacto social. a função em propriedade (típica na associação – liberdade civil). O direito
Jürgen Habermas, sociólogo e filósofo alemão, nasceu em 18 de de cada particular sobre seus próprios bens está sempre subordinado ao
junho de 1929, na cidade de Düsseldorf, Alemanha. Habermas foi defensor direito da comunidade sobre todos, sem o que não teria solidez o vínculo
de ideias construtivas e emancipatórias do Iluminismo, privilegiando o uso social, nem força real o exercício da soberania. Essa formatação de Estado,
da razão e da lógica como instrumentos de superação. Tinha apenas 15 fundado num pacto legítimo, propicia o surgimento do Direito Público.
(quinze) anos quando a Alemanha perdeu a guerra para os Aliados em O Estado, perante seus membros, é senhor de todos os seus bens
1945. Ele serviu a Juventude Hitler e foi enviado para defender a frente pelo contrato social, que no Estado serve de base para todos os direitos.
ocidental durante os últimos meses de guerra. Seu pai foi simpatizante O ato de associação produz um corpo moral e coletivo. Essa pessoa pú-
do nazismo passivo. Os julgamentos de Nuremberg e os documentários blica (corpo político) é chamado por seus membros de Estado quando
alusivos aos crimes praticados em campos de concentração influenciaram passivo, soberano quando ativo e Potência quando comparado aos seus
sobremaneira o modo de pensar de Habermas. É um dos sociólogos e semelhantes. O ato de associação, para Rousseau, encerra um compro-
filósofos contemporâneos mais conhecidos do século XX. misso recíproco do público com os particulares (privado). Nessa linha de
raciocínio, afirma esse pensador clássico: “[...] cada indivíduo, contratando,
2 O PÚBLICO E O PRIVADO EM ROUSSEAU por assim dizer, consigo mesmo, acha-se comprometido numa dupla re-
lação, a saber: como membro do Estado em face dos particulares e como
O Contrato Social procura retratar a base de uma ordem política membro do Estado em face do soberano” (2006, p. 23).
legítima ao estabelecer as condições e possibilidades de um pacto que Cada indivíduo pode como homem, ter uma vontade particular
viabilize aos homens a troca da liberdade natural pela liberdade civil. A oposto ou diversa da vontade geral que tem como cidadão. Seu interesse
legitimação desse pacto assenta-se no princípio da igualdade das partes particular pode ser muito diferente do interesse comum. A passagem do
contratantes. estado de natureza ao estado civil produz no homem uma mudança con-
3 O PÚBLICO E PRIVADO EM HABERMAS Inicialmente, ao longo de toda a Idade Média, foram transmitidas as catego-
rias de público e de privado nas definições do Direito Romano: a esfera pú-
blica como res publica. É verdade que elas só passam a ter novamente uma
Jurgen Habermas tem como ponto de partida o surgimento do efetiva aplicação processual jurídica com o surgimento do Estado moderno e
com aquela esfera da sociedade civil separada dele: servem para a evidência
Estado moderno. De início, alerta para o fato de que o uso corrente de política, bem como para a institucionalização jurídica, em sentido específico,
“público” e “esfera pública” denuncia uma multiplicidade de significados de uma esfera pública burguesa. (Habermas, pgs. 16/17).
HABBERMAS, Jurgen. Mudança estrutural da esfera pública: inves- ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social: princípios do direito
tigações quanto a uma categoria da sociedade burguesa. Trad. Flá- político. Trad. Antônio de Pádua Danesi. 4. ed. São Paulo: Martins
vio R. Kotche. 2. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. Fontes, 2006.