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Análise semiótica do Twitter

Caio Dib de Seixas (@caiodib), Guilherme Genestreti (@guigenestreti) e Jéssica dos Santos Crus (@jhe_cruz)

Resumo: Este trabalho analisa perfis do Twitter nos termos propostos pela semiótica, tal como vistos no
curso de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, na disciplina de Teoria da Comunicação. Os marcos
teóricos adotados na análise são os estudos de Roland Barthes, Charles Peirce, Lúcia Santaella, Carlos Ivã
Lopes e Nilton Hernandes.

Palavras-Chave: Twitter, Semiótica, Rede social, Teoria da Comunicação.

Abstract: This study analyse Twitter profiles according to the terms proposed by semiotic, as presented
in the journalism course of Faculdade Cásper Líbero, in the Theory of Communication discipline. The
theoretical references adopted for the analysis are the studies of Roland Barthes, Charles Pierce, Lúcia
Santaella, Carlos Ivã Lopes and Nilton Hernandes.

Key-words: Twitter, Semiotic, Social Network, Theory of Comunication.

Introdução

O Twitter é uma rede social, assim como tantas outras disponíveis na internet, mas que
se notabiliza por se focar na emissão em tempo real de mensagens curtas (“tweets”, de
até 140 caracteres) que serão acompanhadas pelos seguidores dos perfis emissores. Em
pouco mais de 3 anos de criação, o Twitter conquistou adeptos em todo o mundo e tem
se tornado um mecanismo bastante eficiente, não apenas para servir ao seu propósito
padrão – de emissão de tweets entre usuários comuns -, como também para realizar a
divulgação de eventos, mobilizar pessoas (nos chamados flashmobs, por exemplo), fazer
propaganda, espalhar notícias e pesquisar comportamentos.

E não é novidade que Barack Obama tenha se utilizado de forma bastante inteligente do
Twitter como forma de propaganda política nas eleições de 2008, num exemplo que
também parece ter atraído adeptos entre os políticos brasileiros. Saindo desse espectro,
encontramos outras pessoas notórias, no Brasil e no exterior, fazendo uso das
funcionalidades do Twitter para manter algum contato com seus seguidores (é o caso de
Marcelo Tas, Yoko Ono, Jane Fonda, Paulo Coelho, David Lynch, Ashton Kutcher e
tantos outros).

Cada usuário do Twitter pode dar uma aparência personalizada ao seu perfil, alterando
as cores das fontes e diagramas, colocando uma foto própria e modificando o plano de
fundo. Ou seja, permite-se uma margem para a personalização dos perfis que irá variar
de acordo com a impressão que cada usuário quer passar. Repleto de conteúdo
imagético, o Twitter, como rede virtual que é, se manifesta por intermédio de elementos
da linguagem e apresenta uma carga de signos peculiares que são compreendidos quase
que unicamente por seus usuários.

De fato, se o Twitter é um mecanismo de comunicação entre seus usuários, e se cada


usuário pode personalizar o próprio perfil e transmitir seus próprios tweets, então
certamente haverá como se interpretá-lo nos termos propostos por Charles Sanders
Peirce na área da semiótica, analisando os níveis de primeiridade, secundidade e
terceiridade e as categorias dos signos manifestados no microblog. Além disso,
subsídios encontrados em Roland Barthes permitem compreender níveis da linguagem
escrita presentes nos tweets, especialmente no que diz respeito ao sentido conotativo e
denotativo daquelas mensagens.

Portanto, o que se percebe é que o Twitter pode ser um campo de estudo valioso em
termos de análise semiótica, seja em relação aos seus signos eminentemente visuais
(imagens de fundo, fotos dos perfis, cores, design dos templates) ou em seus signos
escritos (postagens).

Objetivos e Metodologia

Nesse sentido, o presente trabalho estabelece como objetivo a análise dos signos
presentes em perfis disponíveis no Twitter sob o ponto de vista da semiótica de Peirce,
bem como contextualizar as postagens (tweets) sob o aspecto da análise de Barthes.

Tendo em vista os múltiplos usos dados pelos usuários do Twitter e sabendo que cada
signo só será interpretado de maneira eficaz se ponderado no seu contexto, a análise
pretende dividir os seguintes tipos de perfis:

a) Perfis políticos

b) Perfis de pessoas notórias

c) Outros perfis

Na primeira categoria, a análise se foca a comparação entre os perfis de José Serra


(@joseserra_ ), governador do estado de São Paulo afiliado ao PSDB, e de Delcídio
Amaral (@delcidio), senador pelo estado do Mato Grosso do Sul e afiliado ao PT. Na
segunda categoria, a análise pondera os perfis do escritor Paulo Coelho (@paulocoelho)
e do apresentador Marcelo Tas (@marcelotas).

Além dessas duas categorias, outros dois perfis foram escolhidos por darem, cada um
deles, sentido próprio ao aplicativo. Assim, o trabalho escolheu o perfil usado como
plataforma do documentário “Simonal – Ninguém sabe o duro que dei”
(@simonalofilme) para analisar o aspecto da propaganda. Além de um perfil padrão, de
usuário comum que pretende apenas usar o aplicativo para se comunicar com pessoas
afins, escolheu-se Esther M.S. (@St_E), estudante de Campinas.

Analisamos os perfis entre os dias 02 de maio de 2009 e 24 de junho de 2009, sendo que
nem dois os perfis foram acompanhados durante a totalidade do período de análise.
Análise Semiótica

O Twitter é uma ferramenta que faz uso intenso da linguagem visual, fato que o permite
ser enquadrado numa análise semiótica, a saber, numa ciência que, no entendimento de
Lúcia Santaella:

tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por
objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno de produção
de significação e de sentido” (Santaella, 1990: 13).

Não é de se estranhar a constatação de que o twitter produza toda uma gama de


significados, não apenas pelos textos postados por seu intermédio, mas, principalmente,
por seu complexo aspecto visual. E quando produz significados, logicamente o faz por
meio dos signos de que dispõe.

Os perfis do Twitter realmente podem ser apreendidos nos níveis da primeiridade,


secundidade e terceiridade, ainda que sejam esses planos absorvidos quase que
simultaneamente pelo cérebro humano. O que se passa a demonstrar é que cada perfil
pode ser elaborado já com uma carga predisposta a dar um sentido específico aos seus
objetivos. Daí a distinção seguinte:

A – Perfis políticos

Não tardou para que o Twitter entrasse na arena política. Certamente, após o seu uso
eficaz na campanha milionária de Obama à Casa Branca, o Twitter passou a ser visto
com bons olhos pela classe política brasileira.

Delcídio Amaral (@delcidio)

Delcídio Amaral, senador petista e mandatário pelo estado de Mato Grosso do Sul, abriu
sua conta do Twitter em abril de 2009 e tem postado mensagens com bastante
assiduidade. Entre seus tweets encontramos algum conteúdo político (“Já estou em
Amambai. Agora vou a um ato público com a presença de lideranças políticas,
comunitárias e indígenas do município e da região”, postado às 11h44 AM do dia 22 de
abril) e outras tantas postagens aparentemente descompromissadas com teor político
(“Os diálogos do Coringa com o Batman e os bandidos de Gotham City são magistrais.
Um bom programa para o fim de semana”, postado às 12h13 PM do dia 31 de maio).

Abrindo a página de Delcídio no Twitter, notamos o emprego de cores claras e tons


azulados e acinzentados. Há também uma imagem à esquerda com uma arara. Ou seja,
no aspecto da primeiridade, isto é, do todo desarticulado e espontâneo que nos é
transmitido por seu perfil, o que conseguimos apreender são essas cores claras
(variações do azul e do cinza), porém a distinção da arara já está num nível acima da
primeiridade.

No plano da secundidade, a saber, do processo que nos leva à interpretação do signo a


partir dos estímulos visuais a que somos submetidos, começamos a fazer a mediação
que nos levará a compreender os signos ali presentes de alguma forma.
Já na terceiridade, interpretando os signos presentes no perfil do senador Delcídio,
chegamos a uma conclusão diferente da que seria de se esperar. Isso porque,
contrariando os aspectos simbólicos que notabilizaram o Partido dos Trabalhadores,
Delcídio não se utiliza das cores vermelhas, do símbolo da estrela ou de qualquer outro
elemento que, na terceiridade, faria com que o intérprete soubesse estar à frente de um
político petista.

A estrela vermelha é símbolo do partido a que Delcídio é afiliado; é um sinal arbitrário


que se relaciona àquela agremiação e que só é entendido como tal pela interpretação e
vivência de quem o interpreta. Porém não há qualquer menção à estrela ou à cor
vermelha, mas, muito pelo contrário, a imagem de uma arara, bem como cores que
podem até fazer menção ao maior partido da oposição.

A arara surge como símbolo do Pantanal e, desde logo, do estado representado pelo
senador Delcídio. É símbolo porque é um dos muitos animais da fauna pantaneira,
escolhido quase que arbitrariamente pelo senador como entidade representativa daquela
região e de associação à sua unidade federativa. Além disso, a arara escolhida tem as
mesmas cores da bandeira do estado do Mato Grosso do Sul, o que sugere uma ligação
entre o perfil do Twitter e o eleitorado do senador.

Vale lembrar que, durante a execução do presente trabalho, o senador Delcídio Amaral
virou alvo da Imprensa quando o jornal O Estado de São Paulo (13/06/09) noticiou que
seu escritório em Campo Grande abrigava a pessoa de Vera Maria Macieira Borges,
sobrinha do atual presidente do Senado, José Sarney.

Assim, em meio à sua deflagração no esquema que a mídia tem chamado de “Escândalo
dos atos secretos do Senado”, Delcídio manteve atualizações no seu perfil do Twitter,
várias das quais referindo-se à matéria jornalística. De fato, são seis os tweets do
Senador Delcídio dedicados ao recente esquema do qual seria partícipe. O desabafo do
senador se desdobra cinco tweets que, juntos, configurariam a seguinte mensagem:

Desabafo. Hoje fui vítima de um inquisidor, no pior sentido da palavra. O jornalista


Rodrigo Rangel, do @Estadao, após obter minha pronta confirmação, já no fechamento
da sua matéria, de que uma pessoa trabalhava no Senado à disposição do meu gabinete
em MS, teve o atrevimento e enorme falta de respeito ao me perguntar, em tom
grosseiro, sobre características físicas da servidora, como que duvidando da veracidade
da minha informação. Pensei que o sr. Rodrigo fosse um profissional sério e ele pensou
que eu fosse um cidadão mentiroso. Ambos nos enganamos. (13 de junho de 2009, às
12h24 AM).

Em seguida, o senador Delcídio postou um tweet com um link para uma nota à
imprensa publicada em seu site (13 de junho de 2009 às 03h24 PM).

Com efeito, parece claro que o teor conotativo das postagens do Senador Delcídio
Amaral nos induz a concluir que seu perfil tem motivações políticas. O uso que faz do
Twitter não é o mesmo que o de outros tantos usuários. Quando o senador desabafa,
aparentemente de forma descomprometida, o faz com motivação política, para se
justificar perante seus eleitores acerca do esquema político atribuído a ele pelo jornal O
Estado de São Paulo.
José Serra (@joseserra_)

O outro perfil político analisado tem como titular o governador de São Paulo e virtual
candidato à presidência pelo PSDB, José Serra. Conta criada há menos de um mês, mas
já contando com mais de 60 atualizações, percebemos que, assim como Delcídio, Serra
também tem alternado tweets de cunho político com tweets genéricos, mas em
proporção muito menor dos últimos.

À luz da primeiridade, notamos plano de cores claras e um visual bastante limpo.


Ponderando o seu perfil nesses termos, ou seja, chegando a análise da terceiridade,
notamos que não há símbolos de partido (como o tucano), mas os tons utilizados
guardam certa semelhança com as cores comumente utilizadas por sua afiliação
(embora falte o amarelo que o notabiliza).

O equilíbrio de tons claros e visual não poluído parece sugerir o equilíbrio e a


racionalidade que o PSDB sempre tentou imprimir na arena política: veda o excesso, o
exagero, o radicalismo, numa aparência de bom senso pela rota intermediária, como se
levasse ao pé da letra uma recomendação aristotélica de optar pelo meio termo. José
Serra, como nome mais importante do partido que representa, naturalmente, escolheu
um complexo imagético que remete a esse aspecto.

A imagem de meio termo e de aversão aos extremos que o PSDB sempre quis passar ao
eleitorado encontra-se traduzida, no perfil de Serra, nas opções visuais que o governador
escolheu para o seu Twitter: nada nele sugere qualquer atitude mais drástica ou mais
firme.

No plano das mensagens, José Serra parece dar ao seu Twitter a mesma funcionalidade
que o senador petista. Entre os dias 10 de junho e 15 de junho, o governador tem
alternado entre mensagens aparentemente mais prosaicas (“Forró com Dominguinhos,
meu chapa. Pedi O Baião e não resisti: fiz dueto com ele. Verdade. Cantei, sim. E tenho
testemunhas... de acusação!”, dia 13 de junho às 11h20 PM) e outras evidentemente
políticas (“A Folha de domingo torturou os números sobre analfabetismo. Na verdade, a
taxa de analfabetismo de SP é 2,25 vezes menor que a do Brasil.”, dia 15 de junho às
4h32 AM).

O tweet do Forró aparentemente não sugere nada no sentido denotativo. Ou melhor, se


sugere, aparece como mensagem inocente de um evento ao qual Serra esteve presente.
No fundo, no plano conotativo, parece que o governador quer mostrar popularidade
num evento realizado a quilômetros de distância de sua base eleitoral, num contexto
cultural (baile de forró) que sugere sua afinidade com uma classe social distinta da sua.

Em outra oportunidade, quando rebate os dados trazidos pela Folha de S.Paulo quanto
aos números do analfabetismo no estado que governa, ele se exalta para contestá-los.
Sabe-se que a educação é o maior déficit político que o PSDB tem legado ao estado de
SP e os dados mostrados pela Folha só mostram que anos de inércia peessedebista no
estado não tem sido produtivos na seara do ensino público.

Outro fato dessa semana tem mexido com a popularidade do governador em São Paulo.
A greve de funcionários da USP, que teve apoio de grande parte dos estudantes daquela
universidade, foi sufocada pela presença da polícia militar no campus da zona oeste.
Ecoando eventos análogos ocorridos durante a Ditadura Militar, a mera presença da
polícia para conter um movimento social (pra não mencionar os excessos por parte dos
policiais) é um fato que polariza a opinião pública e que pode ser prejudicial à imagem
de um governador que, na sua época, também participou do movimento estudantil.

O governador não se manifestou expressamente a respeito desse evento. Camuflando


qualquer participação no ingresso da polícia no campus, limitou-se a dedicar um tweet
com remissão a um artigo publicado pelo jurista Dalmo de Abreu Dallari, professor
aposentado da Faculdade de Direito da USP.

Dallari expõe argumentos que endossam a legitimidade da ação policial no campus e


sustentam a permanência de uma reitora inábil para discutir com seus funcionários. Ao
se filiar à posição do jurista Dallari (historicamente ligado à esquerda), José Serra quer
realizar uma cisão entre o que se dava na época da Ditadura e o que ocorre em seu
governo: se a polícia invade a USP, então ela o faz para cumprir uma ordem judicial e
impedir que o movimento grevista destrua patrimônio público e impeça outros alunos e
funcionários de prosseguir em suas atitudes de normalidade.

Conclusões sobre os perfis políticos

Em suma, no que toca aos perfis políticos do Twitter estudados, percebemos que os seus
titulares fazem uso desse mecanismo para manter contato com seus eleitores e se
justificar politicamente. Casos de escândalos e de eventos prejudiciais à gestão são logo
repelidos e mencionados de forma prudente. Nem Delcídio e nem Serra respondem
diretamente aos ataques: O primeiro faz uma remissão a uma carta informal e já se
justifica por meio de um desabafo. O segundo remete uma postagem a um artigo
publicado por outro.

B – Perfis Notórios

Marcelo Tas (@marcelotas)

Marcelo Tas é uma das personalidades mais seguidas e mais citadas no Twitter.
Cadastrou-se no microblog logo no início, em 2006, e seus seguidores crescem a cada
dia (em 25 de março de 2009 ele estava atingindo os 22 mil seguidores. Atualmente ele
tem mais de 80 mil followers).

De acordo com o próprio Marcelo Tas em uma entrevista para a revista Brasileiros, o
conteúdo editorial de seu Twitter pode ser definido por um tripé: tecnologia, educação e
comportamento. Tas utiliza o Twitter principalmente para divulgar o conteúdo de seu
blog (http://marcelotas.blog.uol.com.br/), responder perguntas, divulgar links divertidos
e/ou interessantes e informar sobre alguns fatos de sua vida profissional.

Ao analisar o perfil de Tas, acreditava-se que a primeiridade do perfil era baseada na


presença da cor verde, uma vez que sua foto e sua barra lateral direita são verdes. No
entanto, após alguns testes com pessoas que não conheciam o perfil, constatou-se que a
foto é a primeira impressão (cerca de 80% das pessoas questionadas apontaram a foto
como a primeira coisa que viram nos segundos em que o perfil foi mostrado). Isso
reforça a acepção de Barthes de que o texto é refém da imagem, já que o cérebro
humano já está condicionado a interpretar primeiro a imagem, que é análoga a verdade.
Neste perfil, a secundidade baseia-se na percepção da forma bruta do Twitter: caixa de
texto no centro, barra lateral com algumas informações ainda não interpretadas à direita,
um logo acima à esquerda, foto do perfil abaixo do logo e com um texto também ainda
não interpretado ao seu lado. Excepcionalmente no perfil de Marcelo Tas, pode-se
observar uma imagem fixa ao lado direito da tela.

Quando analisa-se a terceiridade no perfil de Tas, interpretam-se as mensagens que o


perfil passa. A caixa de texto no centro contém mensagens que o próprio Tas escreveu.
A barra lateral direita contém o nome do “proprietário” do perfil, sua localidade,
algumas características, o número de pessoas que o seguem e que Tas segue e o número
de atualizações desde o primeiro dia de cadastro. Percebe-se também que o logo citado
acima é a logomarca do microblog, que a fotografia do perfil é do próprio Marcelo Tas
e que o que está escrito ao lado dela é o nome de Tas (marcelotas). Ao interpretar a
imagem fixa na parte direita do perfil, percebe-se que é uma propaganda da Telefônica
(“a Telefônica vai utilizar o perfil do comunicador para anunciar o novo serviço de
banda ultralarga. O acordo prevê um tweet diário (#xtreme) de um vídeo em alta
resolução com uma dica”, relata a revista Brasileiros).

Quando seus tweets são analisados, pode-se verificar tanto denotação quanto conotação.
Há mensagens que são análogas da realidade, não necessitando de um conhecimento
prévio, como é o caso do tweet “Daqui a pouco, dou palestra no Intituto Ethos: o que
mudou na nossa vida em rede? Responda aqui pra eu contar la ;-)” postado dia 15 de
junho às 8:29 AM. Já tweets como “http://twitpic.com/7inw9 - Bancada assiste CQC
juntinha no bar” postado no dia seguinte às 12:27AM são conotativos, pois é necessário
ter um conhecimento prévio para saber o que é a sigla CQC e de que bancada Tas está
falando.

Paulo Coelho (@paulocoelho)

Paulo Coelho é escritor carioca de sucesso, considerado uma exceção por fazer parte da
Academia Brasileira de Letras, reconhecida por não aceitar escritores ditos “populares”.
Segundo o site oficial, tem 19 livros publicados, sendo que muitos deles são traduzidos
no mundo inteiro. Seu Twitter, no dia 24 de junho às 4h36 PM, continha 1.811 tweets e
mais de 44 mil seguidores. Por isso, se encaixa na categoria de perfis notórios.

A primeiridade em seu twitter é diferente dos já citados aqui, porque ao invés de cores
claras temos uma infinidade de cores fortes misturadas e, apenas no centro, há o branco
e o amarelo.

Entre a primeiridade e a terceiridade temos a secundidade, que passa quase


despercebida. Afinal, assim que olhamos para nosso objetivo de estudo quando menos
percebemos já estamos julgando-o de acordo com nossas experiências, ou seja,
executando a terceiridade.

Portanto, a secundidade do Twitter de Coelho é a reação à primeiridade, ou seja, aquele


amontoado de cores corresponde a fotos de diversas pessoas, e o branco e o amarelo do
centro um local específico para alguma apresentação.

Na terceiridade juntamos esses dois momentos e distinguimos, com a razão, que essas
fotos pertencem aos leitores das obras de Paulo Coelho, já que todas as pessoas estão
com um livro na mão. Essa interpretação parece estar vinculada à conotação, já que por
experiência sabemos que Coelho é escritor. Entretanto essa informação não é
necessária, já que na própria página do Twitter a descrição de seu perfil é: “I'm a writer
and a warrior of light”.

Outro ponto a ser destacado é que, apesar de ser brasileiro, ele escreve seus tweets em
três línguas: português, espanhol e, principalmente, o inglês. Analisando
conotativamente, temos que lembrar que seus livros são traduzidos em várias línguas,
não apenas esses três. Além de que o inglês hoje é uma das línguas mais popularizadas
no mundo. Portanto, Paulo Coelho precisa escrever de acordo com quem está falando, e
quando o tweet não está direcionado a ninguém como em: “Two weeks in my plan of
sleeping in the same bed for three months (overdose of travelling!). So far, so good. But
I wonder if I will resist!” postado no dia 18 de junho às 1h55 PM, ele dá preferência
para o inglês, por ser um idioma que, provavelmente, atingirá a maioria de seus
seguidores.

C – Outros Perfis

Esther M.S. ( @St_E)

Neste item foi analisado o perfil de uma pessoa comum, como a maioria dos que fazem
parte do Twitter. Esta pessoa chama-se Ester M.S. Foi escolhida ao acaso sem que
nenhum dos integrantes do grupo a conhecessem para evitar pré-julgamentos.

Esther M.S. é uma pessoa comum que utiliza o Twitter para entretenimento. Nele,
divulga seus pensamentos e sentimentos, links que achou interessantes e responde à
seguidores.

A primeiridade do perfil é a foto de exibição. Como o plano de fundo é num tom bege, e
a barra lateral direita é da cor preta, a foto (que percebemos depois que fazemos o
processo lógico e de significação que é modificada) ganha grande destaque em sua
página e prevalece sobre o texto neste instante, confirmando a teoria que Barthes
utilizou no jornal diário neste microblog.

Apesar disso, depois que o formato e os significados do perfil forem interpretados o


texto torna-se mais importante, pois o objetivo do Twitter é expressar-se em forma de
texto de forma clara e objetiva. Quando entram no Twitter, as pessoas pretendem ler o
que as outras dizem, sendo menos influenciadas por suas fotos do perfil e seus planos de
fundo do que por aquilo que lêem. Desta forma, percebe-se que a teoria criada por
Barthes só prevalece no momento da primeiridade neste microblog e que o texto
prevalece na terceiridade.

No momento da secundidade, percebe-se os outros detalhes de seu perfil, que parte do


fundo constitui-se em uma foto, também em tom bege, que a barra lateral direita é preta
e que as letras são vermelhas. Ademais, percebe-se todos os ícones, índices e símbolos
do Twitter, fazendo com que estes sejam associados ao microblog e que percebe-se que
se trata de um perfil do Twitter, o que completa a terceiridade, que também é baseada na
interpretação das mensagens escritas por Esther M.S.
A maioria dos tweets de Esther M.S. são conotativos, uma vez que é necessário
experiência pessoal para entendê-los (como é o caso dos tweets “Hoje minha maleita
habitual tá em níveis inéditos” ou “E com esse frio, eu vou ser obrigada a comer uma
Campbell's de peas and hamm so-zi-nha. No pão italiano”).

Simonal – O Filme (@simonalofilme)

Depois do sucesso de bilheteria do filme Divã, que utilizou o Twitter como forma de
propaganda, o documentário “Simonal – Ninguém sabe o duro que dei” segue seus
passos. Há quase dois meses depois da estréia, dia 15 de maio de 2009, ainda mantém 1
ou 2 tweets por hora.

A primeiridade de seu perfil está nas cores escuras nas laterais, pouco comum nos perfis
escolhidos para este trabalho. Já na secundidade podemos notar a repetição de alguma
imagem nessas mesmas laterais. E como padrão do Twitter o centro mais claro.

Já na terceiridade, racionalmente distinguimos o pôster do filme nas laterais da página.


Este se repete três vezes, sendo que conotativamente podemos explicar essa repetição,
porque a imagem é menor do que o padrão, logo a imagem se repetirá. Portanto, para
sabermos disso precisamos de uma experiência no âmbito da informática.

Na descrição do perfil temos dados básicos e importantes para o telespectador: nome do


filme e data de estréia. Segundo Carlos Ivã Lopes e Nilton Hernandes, autores do livro
Semiótica – objetos e práticas, na terceiridade da propaganda não existe apenas a
análise racional, há também a análise sensível envolvida no processo, já que estamos
tentando convencer emocionalmente alguém a consumir racionalmente nosso produto.

O filme Divã utilizou o Twitter para promover o site do filme, e fazer promoções. Já o
documentário estudado parece estar mais na defensiva. A crítica ao filme se dividiu
muito: há os que digam ser a obra do ano, e os que não medem apostos pejorativos para
o mesmo. Então, isso explica a razão de tantos tweets promovendo textos críticos que
exaltem o filme. Além de agradecimentos a celebridades que apóiam a obra. Alguns
exemplos: “@ivetesangalo fala sobre #simonal em seu blog http://migre.me/2yuH
relembre a gravação que ela fez de "sá marina" http://migre.me/2yuV”, postado no dia
19 de junho às 8h31 PM e “Caetano Veloso comenta @simonalofilme: "O mais
importante é a reaparição de um dos maiores cantores que já houve no Br
http://migre.me/203T”, postado no dia 9 de junho às 8h43 PM.

Entretanto, esse Twitter é direcionado à propaganda, logo sua função principal é


divulgar promoções em cinemas, salas em que o filme está sendo passado, e dados
estatísticos do filme, como: “Ontem Simonal passou a marca dos 60 mil ingressos
vendidos. Sexta feira o filme vai estar em 12 salas em 8 cidades. (via @tvzero)”, às
7h30 AM do dia 23 de junho.
BIBLIOGRAFIA

BARTHES, Roland (2000). “A Mensagem Fotográfica”. In: LIMA, Luiz Costa (Org.) Teoria
da Cultura de Massa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, PP. 323-338.

LOPES, Carlos Ivã; HERNANDES, Nilton (2005). Semiótica: objetos e práticas. São Paulo:
Contexto.

MESQUITA, Diogo (2009). “Um passarinho me contou...”. Revista Brasileiros. Edição nº 20.
http://www.revistabrasileiros.com.br/secoes/o-lado-b-da-noticia/noticias/527/. Acessado em
12/6/2009.

Paulo Coelho’s Blog. http://paulocoelhoblog.com/. Acessado em 24/6/2009.

PIGNATARI, Décio (2002). “Semiótica ou Teoria dos Signos”. In: Informação, Linguagem,
Comunicação. São Paulo: Ateliê Editorial, PP. 27-35.

SANTAELLA, Lúcia (1990). O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense.

SANTAELLA, Lúcia; NÖTH, Winfried (2004). Comunicação & Semiótica. São Paulo: Hacker.

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