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Caio Dib de Seixas (@caiodib), Guilherme Genestreti (@guigenestreti) e Jéssica dos Santos Crus (@jhe_cruz)
Resumo: Este trabalho analisa perfis do Twitter nos termos propostos pela semiótica, tal como vistos no
curso de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, na disciplina de Teoria da Comunicação. Os marcos
teóricos adotados na análise são os estudos de Roland Barthes, Charles Peirce, Lúcia Santaella, Carlos Ivã
Lopes e Nilton Hernandes.
Abstract: This study analyse Twitter profiles according to the terms proposed by semiotic, as presented
in the journalism course of Faculdade Cásper Líbero, in the Theory of Communication discipline. The
theoretical references adopted for the analysis are the studies of Roland Barthes, Charles Pierce, Lúcia
Santaella, Carlos Ivã Lopes and Nilton Hernandes.
Introdução
O Twitter é uma rede social, assim como tantas outras disponíveis na internet, mas que
se notabiliza por se focar na emissão em tempo real de mensagens curtas (“tweets”, de
até 140 caracteres) que serão acompanhadas pelos seguidores dos perfis emissores. Em
pouco mais de 3 anos de criação, o Twitter conquistou adeptos em todo o mundo e tem
se tornado um mecanismo bastante eficiente, não apenas para servir ao seu propósito
padrão – de emissão de tweets entre usuários comuns -, como também para realizar a
divulgação de eventos, mobilizar pessoas (nos chamados flashmobs, por exemplo), fazer
propaganda, espalhar notícias e pesquisar comportamentos.
E não é novidade que Barack Obama tenha se utilizado de forma bastante inteligente do
Twitter como forma de propaganda política nas eleições de 2008, num exemplo que
também parece ter atraído adeptos entre os políticos brasileiros. Saindo desse espectro,
encontramos outras pessoas notórias, no Brasil e no exterior, fazendo uso das
funcionalidades do Twitter para manter algum contato com seus seguidores (é o caso de
Marcelo Tas, Yoko Ono, Jane Fonda, Paulo Coelho, David Lynch, Ashton Kutcher e
tantos outros).
Cada usuário do Twitter pode dar uma aparência personalizada ao seu perfil, alterando
as cores das fontes e diagramas, colocando uma foto própria e modificando o plano de
fundo. Ou seja, permite-se uma margem para a personalização dos perfis que irá variar
de acordo com a impressão que cada usuário quer passar. Repleto de conteúdo
imagético, o Twitter, como rede virtual que é, se manifesta por intermédio de elementos
da linguagem e apresenta uma carga de signos peculiares que são compreendidos quase
que unicamente por seus usuários.
Portanto, o que se percebe é que o Twitter pode ser um campo de estudo valioso em
termos de análise semiótica, seja em relação aos seus signos eminentemente visuais
(imagens de fundo, fotos dos perfis, cores, design dos templates) ou em seus signos
escritos (postagens).
Objetivos e Metodologia
Nesse sentido, o presente trabalho estabelece como objetivo a análise dos signos
presentes em perfis disponíveis no Twitter sob o ponto de vista da semiótica de Peirce,
bem como contextualizar as postagens (tweets) sob o aspecto da análise de Barthes.
Tendo em vista os múltiplos usos dados pelos usuários do Twitter e sabendo que cada
signo só será interpretado de maneira eficaz se ponderado no seu contexto, a análise
pretende dividir os seguintes tipos de perfis:
a) Perfis políticos
c) Outros perfis
Além dessas duas categorias, outros dois perfis foram escolhidos por darem, cada um
deles, sentido próprio ao aplicativo. Assim, o trabalho escolheu o perfil usado como
plataforma do documentário “Simonal – Ninguém sabe o duro que dei”
(@simonalofilme) para analisar o aspecto da propaganda. Além de um perfil padrão, de
usuário comum que pretende apenas usar o aplicativo para se comunicar com pessoas
afins, escolheu-se Esther M.S. (@St_E), estudante de Campinas.
Analisamos os perfis entre os dias 02 de maio de 2009 e 24 de junho de 2009, sendo que
nem dois os perfis foram acompanhados durante a totalidade do período de análise.
Análise Semiótica
O Twitter é uma ferramenta que faz uso intenso da linguagem visual, fato que o permite
ser enquadrado numa análise semiótica, a saber, numa ciência que, no entendimento de
Lúcia Santaella:
tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por
objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno de produção
de significação e de sentido” (Santaella, 1990: 13).
A – Perfis políticos
Não tardou para que o Twitter entrasse na arena política. Certamente, após o seu uso
eficaz na campanha milionária de Obama à Casa Branca, o Twitter passou a ser visto
com bons olhos pela classe política brasileira.
Delcídio Amaral, senador petista e mandatário pelo estado de Mato Grosso do Sul, abriu
sua conta do Twitter em abril de 2009 e tem postado mensagens com bastante
assiduidade. Entre seus tweets encontramos algum conteúdo político (“Já estou em
Amambai. Agora vou a um ato público com a presença de lideranças políticas,
comunitárias e indígenas do município e da região”, postado às 11h44 AM do dia 22 de
abril) e outras tantas postagens aparentemente descompromissadas com teor político
(“Os diálogos do Coringa com o Batman e os bandidos de Gotham City são magistrais.
Um bom programa para o fim de semana”, postado às 12h13 PM do dia 31 de maio).
A arara surge como símbolo do Pantanal e, desde logo, do estado representado pelo
senador Delcídio. É símbolo porque é um dos muitos animais da fauna pantaneira,
escolhido quase que arbitrariamente pelo senador como entidade representativa daquela
região e de associação à sua unidade federativa. Além disso, a arara escolhida tem as
mesmas cores da bandeira do estado do Mato Grosso do Sul, o que sugere uma ligação
entre o perfil do Twitter e o eleitorado do senador.
Vale lembrar que, durante a execução do presente trabalho, o senador Delcídio Amaral
virou alvo da Imprensa quando o jornal O Estado de São Paulo (13/06/09) noticiou que
seu escritório em Campo Grande abrigava a pessoa de Vera Maria Macieira Borges,
sobrinha do atual presidente do Senado, José Sarney.
Assim, em meio à sua deflagração no esquema que a mídia tem chamado de “Escândalo
dos atos secretos do Senado”, Delcídio manteve atualizações no seu perfil do Twitter,
várias das quais referindo-se à matéria jornalística. De fato, são seis os tweets do
Senador Delcídio dedicados ao recente esquema do qual seria partícipe. O desabafo do
senador se desdobra cinco tweets que, juntos, configurariam a seguinte mensagem:
Em seguida, o senador Delcídio postou um tweet com um link para uma nota à
imprensa publicada em seu site (13 de junho de 2009 às 03h24 PM).
Com efeito, parece claro que o teor conotativo das postagens do Senador Delcídio
Amaral nos induz a concluir que seu perfil tem motivações políticas. O uso que faz do
Twitter não é o mesmo que o de outros tantos usuários. Quando o senador desabafa,
aparentemente de forma descomprometida, o faz com motivação política, para se
justificar perante seus eleitores acerca do esquema político atribuído a ele pelo jornal O
Estado de São Paulo.
José Serra (@joseserra_)
O outro perfil político analisado tem como titular o governador de São Paulo e virtual
candidato à presidência pelo PSDB, José Serra. Conta criada há menos de um mês, mas
já contando com mais de 60 atualizações, percebemos que, assim como Delcídio, Serra
também tem alternado tweets de cunho político com tweets genéricos, mas em
proporção muito menor dos últimos.
A imagem de meio termo e de aversão aos extremos que o PSDB sempre quis passar ao
eleitorado encontra-se traduzida, no perfil de Serra, nas opções visuais que o governador
escolheu para o seu Twitter: nada nele sugere qualquer atitude mais drástica ou mais
firme.
No plano das mensagens, José Serra parece dar ao seu Twitter a mesma funcionalidade
que o senador petista. Entre os dias 10 de junho e 15 de junho, o governador tem
alternado entre mensagens aparentemente mais prosaicas (“Forró com Dominguinhos,
meu chapa. Pedi O Baião e não resisti: fiz dueto com ele. Verdade. Cantei, sim. E tenho
testemunhas... de acusação!”, dia 13 de junho às 11h20 PM) e outras evidentemente
políticas (“A Folha de domingo torturou os números sobre analfabetismo. Na verdade, a
taxa de analfabetismo de SP é 2,25 vezes menor que a do Brasil.”, dia 15 de junho às
4h32 AM).
Em outra oportunidade, quando rebate os dados trazidos pela Folha de S.Paulo quanto
aos números do analfabetismo no estado que governa, ele se exalta para contestá-los.
Sabe-se que a educação é o maior déficit político que o PSDB tem legado ao estado de
SP e os dados mostrados pela Folha só mostram que anos de inércia peessedebista no
estado não tem sido produtivos na seara do ensino público.
Outro fato dessa semana tem mexido com a popularidade do governador em São Paulo.
A greve de funcionários da USP, que teve apoio de grande parte dos estudantes daquela
universidade, foi sufocada pela presença da polícia militar no campus da zona oeste.
Ecoando eventos análogos ocorridos durante a Ditadura Militar, a mera presença da
polícia para conter um movimento social (pra não mencionar os excessos por parte dos
policiais) é um fato que polariza a opinião pública e que pode ser prejudicial à imagem
de um governador que, na sua época, também participou do movimento estudantil.
Em suma, no que toca aos perfis políticos do Twitter estudados, percebemos que os seus
titulares fazem uso desse mecanismo para manter contato com seus eleitores e se
justificar politicamente. Casos de escândalos e de eventos prejudiciais à gestão são logo
repelidos e mencionados de forma prudente. Nem Delcídio e nem Serra respondem
diretamente aos ataques: O primeiro faz uma remissão a uma carta informal e já se
justifica por meio de um desabafo. O segundo remete uma postagem a um artigo
publicado por outro.
B – Perfis Notórios
Marcelo Tas é uma das personalidades mais seguidas e mais citadas no Twitter.
Cadastrou-se no microblog logo no início, em 2006, e seus seguidores crescem a cada
dia (em 25 de março de 2009 ele estava atingindo os 22 mil seguidores. Atualmente ele
tem mais de 80 mil followers).
De acordo com o próprio Marcelo Tas em uma entrevista para a revista Brasileiros, o
conteúdo editorial de seu Twitter pode ser definido por um tripé: tecnologia, educação e
comportamento. Tas utiliza o Twitter principalmente para divulgar o conteúdo de seu
blog (http://marcelotas.blog.uol.com.br/), responder perguntas, divulgar links divertidos
e/ou interessantes e informar sobre alguns fatos de sua vida profissional.
Quando seus tweets são analisados, pode-se verificar tanto denotação quanto conotação.
Há mensagens que são análogas da realidade, não necessitando de um conhecimento
prévio, como é o caso do tweet “Daqui a pouco, dou palestra no Intituto Ethos: o que
mudou na nossa vida em rede? Responda aqui pra eu contar la ;-)” postado dia 15 de
junho às 8:29 AM. Já tweets como “http://twitpic.com/7inw9 - Bancada assiste CQC
juntinha no bar” postado no dia seguinte às 12:27AM são conotativos, pois é necessário
ter um conhecimento prévio para saber o que é a sigla CQC e de que bancada Tas está
falando.
Paulo Coelho é escritor carioca de sucesso, considerado uma exceção por fazer parte da
Academia Brasileira de Letras, reconhecida por não aceitar escritores ditos “populares”.
Segundo o site oficial, tem 19 livros publicados, sendo que muitos deles são traduzidos
no mundo inteiro. Seu Twitter, no dia 24 de junho às 4h36 PM, continha 1.811 tweets e
mais de 44 mil seguidores. Por isso, se encaixa na categoria de perfis notórios.
A primeiridade em seu twitter é diferente dos já citados aqui, porque ao invés de cores
claras temos uma infinidade de cores fortes misturadas e, apenas no centro, há o branco
e o amarelo.
Na terceiridade juntamos esses dois momentos e distinguimos, com a razão, que essas
fotos pertencem aos leitores das obras de Paulo Coelho, já que todas as pessoas estão
com um livro na mão. Essa interpretação parece estar vinculada à conotação, já que por
experiência sabemos que Coelho é escritor. Entretanto essa informação não é
necessária, já que na própria página do Twitter a descrição de seu perfil é: “I'm a writer
and a warrior of light”.
Outro ponto a ser destacado é que, apesar de ser brasileiro, ele escreve seus tweets em
três línguas: português, espanhol e, principalmente, o inglês. Analisando
conotativamente, temos que lembrar que seus livros são traduzidos em várias línguas,
não apenas esses três. Além de que o inglês hoje é uma das línguas mais popularizadas
no mundo. Portanto, Paulo Coelho precisa escrever de acordo com quem está falando, e
quando o tweet não está direcionado a ninguém como em: “Two weeks in my plan of
sleeping in the same bed for three months (overdose of travelling!). So far, so good. But
I wonder if I will resist!” postado no dia 18 de junho às 1h55 PM, ele dá preferência
para o inglês, por ser um idioma que, provavelmente, atingirá a maioria de seus
seguidores.
C – Outros Perfis
Neste item foi analisado o perfil de uma pessoa comum, como a maioria dos que fazem
parte do Twitter. Esta pessoa chama-se Ester M.S. Foi escolhida ao acaso sem que
nenhum dos integrantes do grupo a conhecessem para evitar pré-julgamentos.
Esther M.S. é uma pessoa comum que utiliza o Twitter para entretenimento. Nele,
divulga seus pensamentos e sentimentos, links que achou interessantes e responde à
seguidores.
A primeiridade do perfil é a foto de exibição. Como o plano de fundo é num tom bege, e
a barra lateral direita é da cor preta, a foto (que percebemos depois que fazemos o
processo lógico e de significação que é modificada) ganha grande destaque em sua
página e prevalece sobre o texto neste instante, confirmando a teoria que Barthes
utilizou no jornal diário neste microblog.
Depois do sucesso de bilheteria do filme Divã, que utilizou o Twitter como forma de
propaganda, o documentário “Simonal – Ninguém sabe o duro que dei” segue seus
passos. Há quase dois meses depois da estréia, dia 15 de maio de 2009, ainda mantém 1
ou 2 tweets por hora.
A primeiridade de seu perfil está nas cores escuras nas laterais, pouco comum nos perfis
escolhidos para este trabalho. Já na secundidade podemos notar a repetição de alguma
imagem nessas mesmas laterais. E como padrão do Twitter o centro mais claro.
O filme Divã utilizou o Twitter para promover o site do filme, e fazer promoções. Já o
documentário estudado parece estar mais na defensiva. A crítica ao filme se dividiu
muito: há os que digam ser a obra do ano, e os que não medem apostos pejorativos para
o mesmo. Então, isso explica a razão de tantos tweets promovendo textos críticos que
exaltem o filme. Além de agradecimentos a celebridades que apóiam a obra. Alguns
exemplos: “@ivetesangalo fala sobre #simonal em seu blog http://migre.me/2yuH
relembre a gravação que ela fez de "sá marina" http://migre.me/2yuV”, postado no dia
19 de junho às 8h31 PM e “Caetano Veloso comenta @simonalofilme: "O mais
importante é a reaparição de um dos maiores cantores que já houve no Br
http://migre.me/203T”, postado no dia 9 de junho às 8h43 PM.
BARTHES, Roland (2000). “A Mensagem Fotográfica”. In: LIMA, Luiz Costa (Org.) Teoria
da Cultura de Massa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, PP. 323-338.
LOPES, Carlos Ivã; HERNANDES, Nilton (2005). Semiótica: objetos e práticas. São Paulo:
Contexto.
MESQUITA, Diogo (2009). “Um passarinho me contou...”. Revista Brasileiros. Edição nº 20.
http://www.revistabrasileiros.com.br/secoes/o-lado-b-da-noticia/noticias/527/. Acessado em
12/6/2009.
PIGNATARI, Décio (2002). “Semiótica ou Teoria dos Signos”. In: Informação, Linguagem,
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SANTAELLA, Lúcia; NÖTH, Winfried (2004). Comunicação & Semiótica. São Paulo: Hacker.