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ARTE - EDUCAÇÃO

Disciplina: Cultura Afrobrasileira – Legislação e


Ações Afirmativas

Modalidade de Curso
Pós-Graduação – Revisão: 15/12/2017

Pedagógico do Instituto Souza


atendimento@institutosouza.com.br
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Disciplina: História da Cultura Afro-brasileira

Disponível em:

http://etnicoracial.mec.gov.br/2013-03-06-18-02-36 - Educação para as Relações


Étnico-raciais

1 - CULTURA AFRO-BRASILEIRA

Denomina-se cultura afro-brasileira o conjunto de manifestações culturais do Brasil

que sofreram algum grau de influência da cultura africana desde os tempos do

Brasil colônia até a atualidade. A cultura da África chegou ao Brasil, em sua maior

parte, trazida pelos escravos negros na época do tráfico transatlântico de escravos.

No Brasil a cultura africana sofreu também a influência das culturas europeia

(principalmente portuguesa) e indígena, de forma que características de origem

africana na cultura brasileira encontram-se em geral mescladas a outras

referências culturais. Traços fortes da cultura africana podem ser encontrados hoje

em variados aspectos da cultura brasileira, como a música popular, a religião, a

culinária, o folclore e as festividades populares. Os estados do Maranhão,

Pernambuco, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São

Paulo e Rio Grande do Sul foram os mais influenciados pela cultura de origem

africana, tanto pela quantidade de escravos recebidos durante a época do tráfico

como pela migração interna dos escravos após o fim do ciclo da cana-de-açúcar na

região Nordeste. Ainda que tradicionalmente desvalorizados na época colonial e no


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século XIX, os aspectos da cultura brasileira de origem africana passaram por um

processo de revalorização a partir do século XX que continua até os dias de hoje.

Escravos africanos no Brasil, oriundos de várias nações (Rugendas, c. 1830).

De maneira geral, tanto na época colonial como durante o século XIX a matriz
cultural de origem europeia foi a mais valorizada no Brasil, enquanto que as
manifestações culturais afro-brasileiras foram muitas vezes desprezadas,
desestimuladas e até proibidas. Assim, as religiões afro-brasileiras e a arte marcial
da capoeira foram frequentemente perseguidas pelas autoridades. Por outro lado,
algumas manifestações de origem folclórico, como as congadas, assim como
expressões musicais como o lundu, foram toleradas e até estimuladas.
Entretanto, a partir de meados do século XX, as expressões culturais afro-brasileiras
começaram a ser gradualmente mais aceitas e admiradas pelas elites brasileiras
como expressões artísticas genuinamente nacionais. Nem todas as manifestações
culturais foram aceitas ao mesmo tempo. O samba foi uma das primeiras
expressões da cultura afro-brasileira a ser admirada quando ocupou posição de
destaque na música popular, no início do século XX.
Posteriormente, o governo da ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas
desenvolveu políticas de incentivo do nacionalismo nas quais a cultura afro-brasileira
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encontrou caminhos de aceitação oficial. Por exemplo, os desfiles de escolas de


samba ganharam nesta época aprovação governamental através da União Geral
das Escolas de Samba do Brasil, fundada em 1934.
Outras expressões culturais seguiram o mesmo caminho. A capoeira, que era
considerada própria de bandidos e marginais, foi apresentada, em 1953, por mestre
Bimba ao presidente Vargas, que então a chamou de "único esporte
verdadeiramente nacional". A partir da década de 1950 as perseguições às religiões
afro-brasileiras diminuíram e a Umbanda passou a ser seguida por parte da classe
média carioca[1]. Na década seguinte, as religiões afro-brasileiras passaram a ser
celebradas pela elite intelectual branca.
Em 2003, foi promulgada a lei nº 10.639 que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB), passando-se a exigir que as escolas brasileiras de ensino
fundamental e médio incluam no currículo o ensino da história e cultura afro-
brasileira.

2 - Estudos afro-brasileiros

Bloco afro Ilê Aiyê na Bahia

O interesse pela cultura afro-brasileira manifesta-se pelos muitos estudos nos


campos da sociologia, antropologia, etnologia, música e linguística, entre outros,
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centrados na expressão e evolução histórica da cultura afro-brasileira


Muitos estudiosos brasileiros como o advogado Edison Carneiro, o médico legista
Nina Rodrigues, o escritor Jorge Amado, o poeta e escritor mineiro Antonio Olinto, o
escritor e jornalista João Ubaldo, o antropólogo e museólogo Raul Lody, entre
outros, além de estrangeiros como o sociólogo francês Roger Bastide, o fotografo
Pierre Verger, a pesquisadora etnóloga estadunidense Ruth Landes, o pintor
argentino Carybé, dedicaram-se ao levantamento de dados sobre a cultura afro-
brasileira, a qual ainda não tinha sido estudada em detalhe
Alguns infiltraram-se nas religiões afro-brasileiras, como é o caso de João do Rio,
com esse propósito; outros foram convidados a fazer parte do Candomblé como
membros efetivos, recebendo cargos honorificos como Obá de Xangô no Ilê Axé
Opô Afonjá e Ogan na Casa Branca do Engenho Velho, Terreiro do Gantois, e
ajudavam financeiramente a manter esses Terreiros.
Muitos sacerdotes leigos em literatura se dispuseram a escrever a história das
religiões afro-brasileiras, recebendo a ajuda de acadêmicos simpatizantes ou
membros dos candomblés. Outros, por já possuírem formação acadêmica, tornaram-
se escritores paralelamente à função de sacerdote, como é caso dos antropólogos
Júlio Santana Braga e Vivaldo da Costa Lima, as Iyalorixás Mãe Stella e Giselle
Cossard, também conhecida como Omindarewa a francesa, o professor Agenor
Miranda, a advogada Cléo Martins e o professor de sociologia Reginaldo Prandi,
entre outros.

Os negros trazidos da África como escravos geralmente eram imediatamente


batizados e obrigados a seguir o Catolicismo. A conversão era apenas superficial e
as religiões de origem africana conseguiram permanecer através de prática secreta
ou o sincretismo com o catolicismo.

Algumas religiões afro-brasileiras ainda mantém quase que totalmente suas raízes
africanas, como é o caso das casas tradicionais de Candomblé e do Xangô do
Nordeste; outras formaram-se através do sincretismo religioso, como o Batuque, o
Xambá e a Umbanda. Em maior ou menor grau, as religiões afro-brasileiras mostram
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influências do Catolicismo e da encantaria europeia, assim como da pajelança


ameríndia[4]. O sincretismo manifesta-se igualmente na tradição do batismo dos
filhos e o casamento na Igreja Católica, mesmo quando os fiéis seguem
abertamente uma religião afro-brasileira.
Já no Brasil colonial os negros e mulatos, escravos ou forros, muitas vezes
associavam-se em irmandades religiosas católicas. A Irmandade da Boa Morte e a
Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos foram das mais
importantes, servindo também como ligação entre o catolicismo e as religiões afro-
brasileiras. A própria prática do catolicismo tradicional sofreu influência africana no
culto de santos de origem africana como São Benedito, Santo Elesbão, Santa
Efigênia e Santo Antônio de Noto (Santo Antônio de Categeró ou Santo Antônio
Etíope); no culto preferencial de santos facilmente associados com os orixás
africanos como São Cosme e Damião (ibejis), São Jorge (Ogum no Rio de Janeiro),
Santa Bárbara (Iansã); na criação de novos santos populares como a Escrava
Anastácia; e em ladainhas, rezas (como a Trezena de Santo Antônio) e festas
religiosas (como a Lavagem do Bonfim onde as escadarias da Igreja de Nosso
Senhor do Bonfim em Salvador, Bahia são lavadas com água de cheiro pelas filhas-
de-santo do candomblé).
As igrejas pentecostais do Brasil, que combatem as religiões de origem africana, na
realidade têm várias influências destas como se nota em práticas como o batismo do
Espírito Santo e crenças como a de incorporação de entidades espirituais (vistas
como maléficas). Enquanto o Catolicismo nega a existência de orixás e guias, as
igrejas pentecostais acreditam na sua existência, mas como demônios.

Segundo o IBGE, 0,3% dos brasileiros declaram seguir religiões de origem africana,
embora um número maior de pessoas sigam essas religiões de forma reservada.
Inicialmente desprezadas, as religiões afro-brasileira foram ou são praticadas
abertamente por vários intelectuais e artistas importantes como Jorge Amado,
Dorival Caymmi, Vinícius de Moraes, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia
(que frequentavam o terreiro de Mãe Menininha), Gal Costa (que foi iniciada para o
Orixá Obaluaye), Mestre Didi (filho da iyalorixá Mãe Senhora), Antonio Risério,
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Caribé, Fernando Coelho, Gilberto Freyre e José Beniste (que foi iniciado no
candomblé ketu).

Filhas-de-santo do Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá na Bahia.

3 - Religiões afro-brasileiras

 Babaçuê - Pará
 Batuque - Rio Grande do Sul
 Cabula - Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Santa Catarina
 Candomblé - Em todos estados do Brasil
 Culto aos Egungun - Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo
 Culto de Ifá - Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo
 Macumba - Rio de Janeiro
 Omoloko - Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo
 Quimbanda - Rio de Janeiro, São Paulo
 Tambor-de-Mina - Maranhão
 Terecô - Maranhão
 Umbanda - Em todos estados do Brasil
 Xambá - Alagoas, Pernambuco
 Xangô do Nordeste - Pernambuco
 Confraria
 Irmandade dos homens pretos
 Sincretismo

3.1 - Arte
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Tecelã do terreiro de Candomblé Ilê Axé Opô Afonjá, Salvador, Bahia


O Alaká africano, conhecido como pano da costa no Brasil é produzido por tecelãs
do terreiro de Candomblé Ilê Axé Opô Afonjá em Salvador, no espaço chamado de
Casa do Alaká. Mestre Didi, Alapini (sumo sacerdote) do Culto aos Egungun e
Assògbá (supremo sacerdote) do culto de Obaluaiyê e Orixás da terra, é também
escultor e seu trabalho é voltado inteiramente para a mitologia e arte yorubana.[6]
Na pintura foram muitos os pintores e desenhistas que se dedicaram a mostrar a
beleza do Candomblé, Umbanda e Batuque em suas telas. Um exemplo é o escultor
e pintor argentino Carybé que dedicou boa parte de sua vida no Brasil esculpindo e
pintando os Orixás e festas nos mínimos detalhes, suas esculturas podem ser vistas
no Museu Afro-Brasileiro e tem alguns livros publicados do seu trabalho. Na
fotografia o francês Pierre Fatumbi Verger, que em 1946 conheceu a Bahia e ficou
até o último dia de vida, retratou em preto e branco o povo brasileiro e todas as
nuances do Candomblé, não satisfeito só em fotografar passou a fazer parte da
religião, tanto no Brasil como na África onde foi iniciado como babalawo, ainda em
vida iniciou a Fundação Pierre Verger em Salvador, onde se encontra todo seu
acervo fotográfico.

3.2. Culinária

A feijoada brasileira, considerada o prato nacional do Brasil, é frequentemente


citada como tendo sido criada nas senzalas e ter servido de alimento para os
escravos na época colonial. Atualmente, porém, considera-se a feijoada brasileira
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uma adaptação tropical da feijoada portuguesa que não foi servida normalmente
aos escravos. Apesar disso, a cozinha brasileira regional foi muito influenciada pela
cozinha africana, mesclada com elementos culinários europeus e indígenas.

A culinária baiana é a que mais demonstra a influência africana nos seus pratos
típicos como acarajé, caruru, vatapá e moqueca. Estes pratos são preparados com
o azeite-de-dendê, extraído de uma palmeira africana trazida ao Brasil em tempos
coloniais. Na Bahia existem duas maneiras de se preparar estes pratos "afros".
Numa, mais simples, as comidas não levam muito tempero e são feita nos terreiros
de candomblé para serem oferecidas aos orixás. Na outra maneira, empregada
fora dos terreiros, as comidas são preparadas com muito tempero e são mais
saborosas, sendo vendidas pelas baianas do acarajé e degustadas em
restaurantes e residências.

3.3. Música e dança

A música criada pelos afro-brasileiros é uma mistura de influências de toda a África


subsaariana com elementos da música portuguesa e, em menor grau, ameríndia,
que produziu uma grande variedade de estilos.
A música popular brasileira é fortemente influenciada pelos ritmos africanos. As
expressões de música afro-brasileira mais conhecidas são o samba, maracatu,
ijexá, coco, jongo, carimbó, lambada, maxixe, maculelê
Como aconteceu em toda parte do continente americano onde houve escravos
africanos, a música feita pelos afro-descendentes foi inicialmente desprezada e
mantida na marginalidade, até que ganhou notoriedade no início do século XX e se
tornou a mais popular nos dias atuais.
Instrumentos afro-brasileiros:

 Afoxé
 Agogô
 Atabaque
 Berimbau
 Tambor
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4 - OS AFRICANOS NO BRASIL

Antonio Gasparetto Junior

Inicialmente, os portugueses ocuparam o litoral oeste do continente africano


guiados pela esperança de encontrar ouro. O relacionamento com a população
nativa era razoavelmente pacífica, tanto que os europeus chegavam a casar com
mulheres africanas. Mas registros apontam que por volta de 1470 o comércio de
escravos oriundos da África tinha se tornado o maior produto de exploração vindo
do continente.

No século XV Portugal e algumas outras regiões da Europa eram os principais


destinos para a mão de obra escrava apreendida no continente africano. Foi a
colonização no Novo Mundo que mudou a rota do mercado consumidor de
escravos e fez com que o comércio fosse praticado em grande escala.

(Fonte:Wikipédia)

Os escravos capturados na África eram provenientes de várias situações:

 poderiam ser prisioneiros de guerra;


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 punição para indivíduos condenados por roubo, assassinato, feitiçaria ou


adultério;
 indivíduos penhorados como garantia de pagamento de dívidas;
 raptos em pequenas vilas ou mesmo troca de um membro da comunidade
por alimentos;

A maior parte dos escravos vindos da África Centro-Ocidental era fornecida por
chefes políticos ou mercadores, os portugueses trocavam algum produto pelos
negros capturados.

A proveniência dos escravos percorria toda a costa oeste da África, passando por
Cabo Verde, Congo, Quíloa e Zimbábue. Dividiam-se em três grupos: sudaneses,
guinenos-sudaneses muçulmanos e bantus. Cada um desses grupos
representava determinada região do continente e tinha um destino característico no
desenrolar do comércio.

Os sudaneses dividiam-se em três subgrupos: iorubas, gegês e fanti-ashantis.


Esse grupo tinha origem do que hoje é representado pela Nigéria, Daomei e Costa
do Ouro e seu destino geralmente era a Bahia. Já os bantus, grupo mais
numeroso, dividiam-se em dois subgrupos: angola-congoleses e moçambiques. A
origem desse grupo estava ligada ao que hoje representa Angola, Zaire e
Moçambique (correspondestes ao centro-sul do continente africano) e rinha como
destino Maranhão, Pará, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo.
Os guineanos-sudaneses muçulmanos dividiam-se em quatro subgrupos: fula,
mandinga, haussas e tapas. Esse grupo tinha a mesma origem e destino dos
sudaneses, a diferença estava no fato de serem convertidos ao islamismo.

Desde os primeiros registros de compras de escravos feitos em terras brasileiras


até a extinção do tráfico negreiro, em 1850, calcula-se que tenham entrado no
Brasil algo em torno de quatro milhões de escravos africanos. Mas como o
comércio no Atlântico não se restringia ao Brasil, a estimativa é que o comércio de
escravos por essa via tenha movimentado cerca de 11,5 milhões de indivíduos
vendidos como mercadorias.
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(Fonte:Wikipédia)

A saudade da terra natal (banzo) e o descontentamento com as condições de vidas


impostas eram a principal razão das fugas, revoltas e até mesmo dos suicídio dos
escravos. A “rebeldia” era punida pelos feitores com torturas que variavam entre
chicotadas, privação de alimento e bebida e o “tronco”. Durante essas punições, os
negros tinham seus ferimentos salgados para provocar mais dor.

4.1 - TUMBEIROS

Navios negreiros ou navios tumbeiros eram os nomes dados aos navios que
realizavam o transporte de escravos, originários especialmente da África, até o
século XIX.

A partir de 1432 quando o navegador português Gil Eanes levou para Portugal a
primeira carga de escravos negros vindos da África que os portugueses
começaram a traficar os escravos com as Ilhas das Madeiras e em Porto-Santo.
Mais adiante os negros foram trazidos para o Brasil.
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(Fonte:Wikipédia)

A história dos navios negreiros é das mais comoventes. Homens, mulheres e


crianças eram transportados amontoados em compartimentos minúsculos dos
navios, escuros e sem nenhuma cuidado com a higiene. Conviviam no mesmo
local, a fome, a sede, as doenças, a sujeira, os agonizantes e os mortos. Em média
transportava-se 400 negros em cada compartimento desses.

Sem a menor preocupação com a condição dos negros, os responsáveis pelos


navios negreiros amontoavam negros acorrentados como animais em seus porões
que muitas vezes advinham de diferentes lugares do continente africano, causando
o encontro de várias etnias e que por vezes eram também inimigas. Seus corpos
eram marcados pelas correntes que os limitavam nos movimentos, as fezes e a
urina eram feitas no mesmo local onde permaneciam. Os movimentos das
caravelas faziam com que muitos passassem mal e vomitassem no mesmo local.
Os alimentos simplesmente eram jogados nos compartimentos uma ou duas vezes
por dia, cabendo aos próprios negros promover a divisa da alimentação. Como os
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integrantes do navio não tinham o hábito de entrar no porão, os mortos


permaneciam ao lado dos vivos por muito tempo.

Quando o navio encontrava alguma dificuldade durante seu trajeto, o comandante


da embarcação ordenava que os negros moribundos ou mortos fossem lançados
ao mar, como alternativa para reduzir o peso do navio. Nestes casos, o mar
acabava se tornando a única saída dos negros para a luz, antes de chegarem aos
destinatários do comércio.

A organização da Companhia dos Lagos propunha-se a incentivar e desenvolver o


comércio africano e dar expansão ao tráfico negreiro, sua viagem inicial motivou a
formação de várias companhias negreiras, tais como: Companhia de Cacheu
(1675), Companhia de Cabo Verde e Cacheu de Negócios de Pretos (1690),
Companhia Real de Guiné e das Índias(1693) e Companhia das Índias Ocidentais
(1636). No Brasil, devido ao êxito do empreendimento, deu-se a criação da
Companhia Geral de Comércio do Brasil (1649).

Somente no século XIX que as leis proibiram o comércio de negros no Brasil,


mesmo após o tráfico negreiro ter sido proibido, a escravidão permaneceu até
1888.

Leia o poema:

NAVIO NEGREIRO
(Castro Alves )
...”Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar”...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus...
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Ó mar, porque não apagas


Co’a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?...
Astros! noite! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!...

4.2 - O QUE É ESCRAVIDÃO ?

A escravidão é um capítulo da História do Brasil. Embora ela tenha sido abolida há


115 anos, não pode ser apagada e suas consequências não podem ser ignoradas.
A História nos permite conhecer o passado, compreender o presente e pode ajudar
a planejar o futuro. Nós vamos contar um pouco dessa história para você. Vamos
falar dos negros africanos trazidos para serem escravos no Brasil, quantos eram,
como viviam, como era a sociedade da época. Mas, antes disso, confira o texto da
Lei Áurea, que fez com que o dia 13 de maio entrasse para a História.

"Declara extinta a escravidão no Brasil. A princesa imperial regente em nome de


Sua Majestade o imperador, o senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súditos do
Império que a Assembleia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:

Art. 1º: É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil.
Art. 2º: Revogam-se as disposições em contrário.

Manda portanto a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução da


referida lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir e guardar tão inteiramente
como nela se contém.

O secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas e


interino dos Negócios Estrangeiros, bacharel Rodrigo Augusto da Silva, do
Conselho de sua majestade o imperador, o faça imprimir, publicar e correr.

Dado no Palácio do Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1888, 67º da Independência


e do Império.
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Carta de lei, pela qual Vossa Alteza Imperial manda executar o decreto da
Assembleia Geral, que houve por bem sancionar declarando extinta a escravidão
no Brasil, como nela se declara.

Para Vossa Alteza Imperial ver".

O trabalho escravo num engenho de açúcar Escravo submetido a castigo físico.


(fonte: Brasil Escola ) (fonte:sua pesquisa.com)

5 - Influência Negra no Brasil

5.1 - O samba

Gênero musical binário, que representa a própria identidade musical brasileira. De


nítida influência africana, o samba nasceu nas casas de baianas que emigraram
para o Rio de Janeiro no princípio do século. O primeiro samba gravado foi Pelo
telefone, de autoria de Donga e Mauro de Almeida, em 1917. Inicialmente
vinculado ao carnaval, com o passar do tempo o samba ganhou espaço próprio. A
consolidação de seu estilo verifica-se no final dos anos 20, quando desponta a
geração do Estácio, fundadora da primeira escola de samba. Grande tronco da
MPB, o samba gerou derivados, como o samba-canção, o samba-de-breque, o
samba-enredo e, inclusive, a bossa nova.
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5.2 - A Escola de Samba

Uma coisa é o samba. Outra, a escola de samba. O samba nasceu em 1917. A


primeira escola surgiu uma década mais tarde. Expressão artística das
comunidades afro-brasileiras da periferia do Rio de Janeiro, as escolas existem
hoje em todo o Brasil e são grupos de canto, dança e ritmo que se apresentam
narrando um tema em um desfile linear. Somente no Rio, mais de 50 agremiações
se dividem entre as superescolas e os grupos de acesso.
O desfile das 16 superescolas cariocas se divide em dois dias (domingo e
segunda-feira de carnaval), em um megashow de mais de 20 horas de duração,
numa passarela de 530 metros de comprimento, onde se exibem cerca de 60 mil
sambistas. Devido à enorme quantidade de trabalho anônimo que envolve, é
impossível estimar o custo de sua produção. Uma grande escola gasta cerca de
um milhão de dólares para desfilar, mas este valor não inclui as fantasias pagas
pela maioria dos componentes, nem as horas de trabalho gratuito empregadas na
concretização do desfile (carros alegóricos, alegorias de mão, etc.). Com uma
média de quatro mil participantes no elenco, cada escola traz aproximadamente
300 percussionistas, levando o ritmo em sua bateria, além de outras figuras
obrigatórias: o casal de mestre-sala e porta-bandeira (mestre de cerimônias e
porta-estandarte), a ala das baianas, a comissão de frente e o abre-alas. Primeira
escola de samba: Deixa falar, fundada em 12 de agosto de 1928, no Estácio, Rio
de Janeiro, por Ismael Silva, Bide, Armando Marçal, Mano Elói, Mano Rubens e
outros sambistas (foi extinta em 1933). Primeiro desfile oficial: Carnaval de 1935,
vencido pela Portela.

5.3 - Capoeira

A capoeira é uma dança de luta, ritualizada e estilizada, que tem sua própria
música e é praticada principalmente na cidade de Salvador, estado da Bahia. É
uma das expressões características da dança e das artes marciais brasileiras.
Evoluiu a partir de um estilo de luta originário de Angola. Nos primeiros anos da
escravidão havia lutas permanentes entre os negros e quando o senhor de
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escravos as descobria, castigava ambos os bandos envolvidos. Os escravos


consideravam essa atitude injusta e criavam "cortinas de fumaça" por meio da
música e das canções, para esconder as verdadeiras brigas. Ao longo dos anos,
essa prática foi sendo refinada até se converter em um esporte sumamente
atlético, no qual dois participantes desfecham golpes entre si, usando apenas as
pernas, pés calcanhares e cabeças, sem utilizar as mãos. Os lutadores deslizam
com grande rapidez pelo solo fazendo estrelas e dando espécies de cambalhotas.
O conjunto musical que acompanha a capoeira inclui o berimbau, um tipo de
instrumento de madeira em forma de arco, com uma corda metálica que vai de
uma extremidade à outra. Na extremidade inferior do berimbau há uma cabaça
pintada, que funciona como caixa de som. O músico sacode o arco e, enquanto
ressoam as sementes da cabaça, toca a corda tensa com uma moeda de cobre
para produzir um tipo de som único, parecido com um gemido.

5.4 - Candomblé

Festa religiosa dos negros jêje-nagôs na Bahia, mantida pelos seus descendentes
e mestiços, é um culto africano introduzido no Brasil pelos escravos. Algumas de
suas divindades são: Xangô, Oxum, Oxumaré e Iemanjá, representando esta, por
si só, um verdadeiro culto.

As cerimônias religiosas do Candomblé, são realizadas de um modo geral em


terreiros, que são locais especialmente destinados para esse fim, e recebem os
seguintes nomes: Macumba no Rio de Janeiro, Xangô em Alagoas e Pernambuco.
As cerimônias são dirigidas pela mãe-de-santo, ou pai-de-santo. Cada orixá tem
uma aparência especial e determinadas preferências. O toque de atabaque, uma
espécie de tambor e a dança, individualizam um determinado orixá. Os orixás são
divindades, santos do candomblé, cada pessoa é protegida por um dos orixás e
pode ser possuída por ele, quando, então ela se transforma em cavalos de santo.

5.5. Pratos
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No Nordeste a marca africana é profunda, sobretudo na Bahia, em pratos como


vatapá, caruru, efó, acarajé e bobó, com largo uso de azeite-de-dendê, leite de
coco e pimenta. São ainda dessa região a carne-de-sol, o feijão-de-corda, o arroz-
de-cuxá, as frigideiras de peixe e a carne-seca com abóbora, sempre
acompanhados de muita farinha de mandioca. A feijoada carioca, de origem negra,
é o mais tipicamente brasileiro dos pratos.

5.6 – Feijoada prato Brasileiro?

A primeira menção à iguaria data do início do século XIX em um anúncio publicado


no Diário de Pernambuco, na cidade do Recife, em 7 de agosto de 1833, no qual o
recém-inaugurado Hôtel Théatre informa que às quintas-feiras seria servida "feijoada
à brasileira".[2]

Em 3 de março de 1840, também no Diário de Pernambuco, o Padre


Carapuceiro publicava um artigo, no qual dizia:

“ Nas famílias onde se desconhece a verdadeira gastronomia, onde se tomam


rega-bofes, é prática usual e comezinha converter em feijoada os
fragmentos do jantar da véspera, ao que chamam enterro dos ossos [...]
Lançam-se em uma grande panela ou caldeirão restos de perus, de leitões
assados, fatacões de toucinho e de presunto, além disto bons vassalhos de
carne seca vulgo ceará, tudo vai de mistura com o indispensável feijão: fica
tudo reduzido a uma graxa![3] ”
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Feijoada com diversos acompanhamentos: arroz, mandioca frita, torresmo, laranja, caipirinha, entre
outros.

Em 1848, o mesmo jornal do Recife já anunciava a venda de "carne de toucinho,


própria para feijoadas, a 80 réis a libra". No dia 6 de janeiro de 1849, no Jornal do
Commercio, do Rio de Janeiro, é comunicado que a recém instalada casa de pasto
"Novo Café do Commercio", junto ao botequim da "Fama do Café com Leite", servirá
em todas as terças e quintas-feiras, a pedido de muitos fregueses, "A Bella Feijoada
à Brazilleira".

Existe também um recibo de compra pela Casa Imperial, de 30 de abril de 1889, em


um açougue da cidade de Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro, no qual se vê
que consumiam-se carne verde, de vitela, carneiro, porco, linguiça, linguiça de
sangue, fígado, rins, língua, miolos, fressura de boi e molhos de tripas. O que
comprova que não eram só escravos que comiam esses ingredientes, e que não
eram de modo algum "restos". Ao contrário, eram considerados iguarias. Em
1817, Jean-Baptiste Debret já relata a regulamentação da profissão de tripeiro, na
cidade do Rio de Janeiro, que eram vendedores ambulantes, e que se abasteciam
destas partes dos animais em matadouros de gado e porcos. Debret também
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informa que os miolos iam para os hospitais, e que fígado, coração e tripas (de vaca,
bois e porcos) eram utilizados para se fazer o angu, comumente vendido
por escravas de ganho ou forras nas praças e ruas da cidade. Dessa prática, surge
o que, no Rio de Janeiro, se denomina "angu à baiana", principalmente porque leva,
em sua composição, o azeite de dendê (azeite de palma).

Portanto, a sua criação e nome tem relação com modos de fazer portugueses, das
regiões da Estremadura, das Beiras e de Trás-os-Montes e Alto Douro, que
misturam feijão de vários tipos - menos o feijão preto (de origem americana) -
linguiças, orelhas e pé de porco. De fato, os cozidos são comuns na Europa, como
o cassoulet francês, que também leva feijão no seu preparo. Na Espanha, o cozido
madrilenho e a fabada asturiana e, na Itália, a casseruola ou casserola milanesa são
preparados com grão-de-bico. Aparentemente, todos estes pratos tiveram evolução
semelhante à da feijoada, que foi incrementada com o passar do tempo, até se
transformar no prato da atualidade. Câmara Cascudo observou que sua fórmula
continua em desenvolvimento.

A lenda popular mais difundida sobre a origem da feijoada é a de que os senhores


forneciam a seus escravos os "restos" dos porcos, quando estes eram carneados. O
cozimento desses ingredientes, com feijão e água, teria feito nascer a receita. Tal
versão, contudo, não se sustenta, seja na tradição culinária, seja na mais leve
pesquisa histórica. Segundo o historiador Carlos Augusto Ditadi, em artigo publicado
na revista Gula, de maio de 1998, esse mito é nascido do folclore moderno, numa
visão romanceada das relações sociais e culturais da escravidão no Brasil.

5.7 - Danças, festas e instrumentos musicais de origem bantu


Dança e música de influência angola-congolense saíram das macumbas e se
estenderam pelas festas profanas. Dos instrumentos musicais negro-brasileiros,
que reconhecem a procedência da África bantu, temos em primeiro lugar os
tambores, um pouco diferentes dos atabaques iorubas. Os tambores de origem
angola-congolense não têm o couro distendido por cordas e cunhas. A sua
fabricação é mais simples. Registrei no estado do Rio de Janeiro os chamados
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tambores de jongo, com duas variedades principais: os maiores, tambus, e os


pequenos, a que dão o nome de candongueiros.

Entre os tambores de origem bantu, temos ainda o ingono de Pernambuco e outros


estados do norte, e que alguns estudiosos julgaram erradamente ser o nome de
um deus ou fetiche. Já demonstrei que o ingono (também chamado ingomba)
nama mais é do que o ngomba ou angomba congolense, descrito pelo padre
Cavazzi ou oangoma dos Lundas, referido pelo major Dias de Carvalho. Além do
ingono, há ainda o zambê, que é um ingono menor, e que deu origem à dança
coco de zambê, usada em alguns estados do Nordeste.
A cuíca, já tão conhecida hoje em quase todo o Brasil, entrando mesmo na
constituição de nossos conjuntos orquestrais típicos, é a mesma puíta angola-
congolense, que toma outros nomes como roncador, fungador e socador, no
Maranhão e Pará

O urucungo, também chamado gobo, bucumbumba e berimbau-de-barriga, é o


mesmo rucumbo dos Lundas. Hoje, na Bahia, os negros capoeiras (de Angola)
usam o berimbau ou gunga.

Edison Carneiro, que estudou recentemente os jogos capoeira entre os negros


baianos, assim descreve esse instrumento:

"O berimbau nada mais é do que um arco de madeira, vibrado por uma vareta. A
esse arco se junta a metade de uma cabaça, presa a ele por um cordão que
atravessa o fundo da mesma.

A parte oca da cabaça serve de caixa de ressonância, ligada ao peito do tocador.


Este instrumento chama-se, na Bahia, berimbau ou gunga. Antigamente, havia
outra espécie de berimbau, o berimbau-de-barriga, no qual, em vez de se ligar ao
corpo, a cabaça — cabaça inteira, — ficava dependurada da extremidade superior
do arco. O tocador segura o instrumento com a mão esquerda, três dedos na
extremidade inferior do arco e os outros, mantendo, em posição horizontal, uma
moeda de cobre, que se encosta à corda de vem em quando. E na mesma mão
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(direita) que empunha a vareta, o tocador enfia um pequeno saco de palha


trançada, fechado, contendo sementes de bananeira do mato, a que chamam os
negros mucaxixi ou simplesmente caxixi." É como se vê uma variante do urucungo
ou berimbau-de-barriga. Já procurei mostrar, em O negro brasileiro e em O folclore
negro do Brasil, o contingente dos bantus na formação da música e dança negro-
brasileiras. Do batuque angola-congolense surgiu, após sucessivas
transformações, o nosso samba, que toma nomes variados conforme as regiões.
Certos nomes como quimbete, sarambeque, sarambu, sorongo, caxambu, jongo...
evocam nitidamente a origem bantu. Já descrevi fases de transformação. O folclore
negro-brasileiro de procedência bantu é bem rico. Em primeiro lugar, temos as
festas populares do ciclo dos congos ou cucumbis. São evidentemente
sobrevivências históricas de coroação de monarcas, lutas dessas monarquias
umas com as outras e contra o português invasor e episódio vários. Consagrei ao
assunto todo um capítulo em trabalho anterior.

Os festejos populares dos quilombos em Alagoas são também uma sobrevivência


histórica, mas aqui dos episódios do quilombo dos Palmares. A sobrevivência
totêmica dos povos bantus vamos encontrar em certos autos e festas populares
negro-brasileiros, como cordões, ranchos e clubes carnavalescos, confrarias
negras, maracatus do Nordeste, elementos do bumba-meu-boi.

Com relação a este último auto, já mostrei o erro de alguns folcloristas, que o filiam
apenas à tradição natalina do boi do presépio, de origem peninsular e ao ciclo dos
vaqueiros de origem cabocla. O africano trouxe, ao meu ver, uma contribuição
fundamental. O totemismo do boi é largamente disseminado, entre vários povos
bantus (o boi Geroa, entre os Ba-Naneca, por exemplo). E toda a área oriental do
gado não teria exercido uma influência decisiva entre os povos bantus, com toda a
sua vida cultural girando em torno do complexo do gado?

5.8 - Influências

Os quitutes do tabuleiro da baiana, os sons e cores dos blocos de afoxé, os


movimentos das danças populares, os traços e formas da arte e os detalhes de
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nossas vestimentas provam o quanto estamos próximos da África. No programa


‘Influências’, quarto episódio da série ‘Mojubá’, entendemos como o nosso
cotidiano foi enriquecido pela tradição religiosa africana e percebemos que a
distância entre os dois continentes não é empecilho para a proximidade de suas
culturas.

Há cerca de cinco séculos, os navios negreiros trouxeram ao Brasil bem mais do


que negros africanos que serviriam como escravos aos senhores de engenho.
Junto com este povo de riquíssima cultura vieram as matrizes da culinária, da
música, das artes e da religiosidade brasileiras. E assim como o acarajé, o samba
e os rituais do candomblé e da umbanda, diversos elementos da tradição africana
povoam até hoje o cotidiano do país.

“A comida sempre desempenhou um papel de ligação deste mundo material com o


mundo espiritual. Através da comida acontece, na verdade, uma espécie do
aproximação entre os habitantes de ambos os mundos. Dar comida a santo é,
simbolicamente, compartilhar com o universo dos orixás o estado de vida existente
nesta terra”.

“Cada entidade tem uma comida especial que passou a constituir também um prato
característico da culinária brasileira, entre eles o acarajé e o abará, assim como o
dendê e a pimenta. O mais interessante é que o significado de qualquer alimento
vai além do que podemos ver”.

É interessante notar como a cultura negra chegou no Brasil praticamente dentro do


ser humano africano. Ele não trouxe fotos nem gravuras: Trouxe memórias e a
partir delas fez a sua história. Toda tradição é oral, que corre de geração em
geração e, nesse sentido, é difícil separar arte, religião e vida”. Através da música,
da dança e da espiritualidade, o candomblé expressa a harmonia dos ritmos do
universo e faz circular as energias vitais. A força desta tradição se espalhou pelos
quatro cantos do país, formando novas expressões culturais genuinamente
brasileiras.
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“Câmara Cascudo, nosso saudoso etnólogo, pesquisou e escreveu sobre a


tradição dos festejos populares que vêm desde a época colonial, começando com
as congadas, passando pelos cucumbis e chegando às modernas escolas de
samba. Os desfiles carnavalescos de hoje evocam os cortejos dos reis banto que
seguiam com suas embaixadas para visitar ou mesmo guerrear aldeias vizinhas,
portando estandartes e tocando instrumentos. É toda uma tradição que veio
desembocar em coisas que parecem distantes, mas não são”.

“Os ranchos são criados pelas negras baianas ligadas ao candomblé no final do
século XIX. Elas fixam residência no Rio de Janeiro, então capital do país, e são
muito festeiras. A partir de um determinado momento, o rancho, que antes
circulava no Natal, passa a sair pelas ruas no Carnaval. A multiplicação desses
ranchos, juntamente com os cordões - que eram blocos carnavalescos de negros,
mas um pouco menos organizados – é, certamente, uma das principais origens da
criação das escolas de sambas”.

“A sociedade brasileira é construída sobre uma revisão das civilizações africanas.


A dinâmica da sociedade é a mesma há cinco séculos, mas as questões mudaram
e hoje temos a lei 10.639, que torna obrigatório o ensino da história e da cultura
afro-brasileira na rede escolar.

6 - CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

6.1 - PROJETO DE RESOLUÇÃO

O Presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de


Educação, tendo em vista o disposto no Art. 9°, do § 2°, alínea "C", da Lei n° 9.131,
de 25 de novembro de 1995, e com fundamento no Parecer CNE/CP 003/2004, de
10 de março de 2004, peça indispensável do conjunto das presentes Diretrizes
Curriculares Nacionais, homologado pelo Ministro da Educação em de 2004,
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RESOLVE

Art. 1° - A presente Resolução institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a


Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura
Afro-Brasileira e Africana, a serem observadas pelas instituições de ensino de
Educação Básica, nos níveis de Educação Infantil, Educação Fundamental,
bem como Educação Média, Educação de Jovens e Adultos e Educação
Superior em especial no que se refere à formação inicial e continuada de
professores, necessariamente quanto à Educação das Relações Étnico-Raciais; e
por aquelas de Educação Básica, nos termos da Lei 9394/96, reformulada por
forma da Lei 10639/2003, no que diz respeito ao ensino sistemático de História e
Cultura Afro-Brasileira e Africana, em especial em conteúdos de Educação
Artística, Literatura e História do Brasil.

Art. 2° - As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações


Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africanas se
constituem de orientações, princípios, fundamentos para o planejamento, execução
e avaliação da Educação das Relações Étnico-Raciais e do Ensino de História e
Cultura Afro-Brasileira e Africana.

Art. 3° As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-


Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana têm por
meta a educação de cidadãos atuantes no seio da sociedade brasileira que é
multicultural e pluriétnica, capazes de, por meio de relações étnico-sociais
positivas, construírem uma nação democrática

§1° A Educação das Relações Étnico-Raciais tem por objetivo a divulgação e


produção de conhecimentos, bem como de atitudes, posturas e valores que
eduquem cidadãos quanto ao seu pertencimento étnico-racial - descendentes de
africanos, povos indígenas, descendentes de europeus, de asiáticos - capazes de
interagir e de negociar objetivos comuns que garantam, a todos, ter igualmente
respeitados seus direitos, valorizada sua identidade e assim participem da
consolidação da democracia brasileira.
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§2° O Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, meio privilegiado para


a educação das relações étnico-raciais, tem por objetivo o reconhecimento e
valorização da identidade, história e cultura dos afro-brasileiros, garantia de seus
direitos de cidadãos, reconhecimento e igual valorização das raízes africanas da
nação brasileira, ao lado das indígenas, europeias, asiáticas.

Art. 4° Os conteúdos, competências, atitudes e valores a serem aprendidos com a


Educação das Relações Étnico-Raciais e o estudo de História e Cultura Afro-
Brasileira, bem como de História e Cultura Africana, serão estabelecidos pelos
estabelecimentos de ensino e seus professores, com o apoio e supervisão dos
sistemas de ensino, entidades mantenedoras e coordenações pedagógicas,
atendidas as indicações, recomendações, diretrizes explicitadas no Parecer
CNE/CP 003/2004.

Art. 5° Os sistemas e os estabelecimentos de ensino poderão estabelecer canais


de comunicação com grupos do Movimento Negro, grupos culturais negros,
instituições formadoras de professores, núcleos de estudos e pesquisas, como os
Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros, com a finalidade de buscar subsídios e trocar
experiências para planos institucionais, planos pedagógicos, planos e projetos de
ensino.

Art. 6° Os sistemas de ensino, as entidades mantenedoras incentivarão e criarão


condições materiais e financeiras, assim como proverão as escolas, seus
professores e alunos de material bibliográfico e de outros materiais didáticos
necessários para a educação das Relações Étnico-Raciais e o Ensino de História e
Cultura Afro-Brasileira e Africana; as coordenações pedagógicas promoverão o
aprofundamento de estudos, para que os professores concebam e desenvolvam
unidades de estudos, projetos e programas, abrangendo os diferentes
componentes curriculares.

Art. 7° As instituições de ensino superior, respeitada a autonomia que lhe é


devida, incluírão nos conteúdos de disciplinas e atividades curriculares dos
diferentes cursos que ministram, a educação Étnico-Raciais, bem como o
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tratamento de questões e temáticas que dizem respeito aos afrodescendentes, nos


termos explicitados no Parecer CNE/CP 003/2004.

Art. 8° Os sistemas de ensino tomarão providências para respeitado o direito de


também alunos afrodescendentes frequentarem estabelecimentos de ensino que
seja que contem com instalações e equipamentos sólidos, atualizados, com
professores competentes no domínio dos conteúdos de ensino, comprometidos
com a educação de negros e não negros, no sentido de que venham a relacionar-
se com respeito, sendo capazes de corrigir posturas, atitudes, palavras que
impliquem desrespeito e discriminação.

Art. 9° Nos fins, responsabilidades e tarefas dos órgãos colegiados dos


estabelecimentos de ensino, será previsto o exame e encaminhamento de solução
para situações de discriminação, buscando-se criar situações educativas para o
reconhecimento, valorização e respeito da diversidade.

§ Único: As situações de racismo serão tratadas como crimes imprescritíveis


e inafiançáveis, conforme prevê o Art. 5°, XLII da Constituição Federal/1998.

Art. 10° Os estabelecimentos de ensino de diferentes níveis, com o apoio e


supervisão dos sistemas de ensino desenvolverão a Educação das Relações
Étnico-Raciais e o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana,
obedecendo as diretrizes do Parecer CNE/CP 003/2004, o que será considerado
na avaliação de suas condições de funcionamento.

Art. 11° Os sistemas de ensino incentivarão pesquisas sobre processos


educativos orientados por valores, visões de mundo, conhecimentos afro-
brasileiros, ao lado de pesquisas de mesma natureza junto aos povos indígenas,
com o objetivo de ampliação e fortalecimento de bases teóricas para a educação
brasileira.
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Art. 12° Os sistemas de ensino orientarão e supervisionarão para que a edição de


livros e de outros materiais didáticos atendam ao disposto no Parecer CNE/CP
003/2004, no comprimento da legislação em vigor.

Art. 13° Aos conselhos de Educação dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios caberá aclimatar as Diretrizes Curriculares Nacionais instituídas por
esta Resolução, dentro do regime de colaboração e da autonomia de entes
federativos e seus respectivos sistemas.

Art. 14° Os sistemas de ensino promoverão junto com ampla divulgação do


Parecer CNE/CP 003/2004 e dessa Resolução, atividades periódicas, com a
participação das redes das escolas públicas e privadas, de exposição, avaliação
e divulgação dos êxitos e dificuldades do ensino e aprendizagens de História
e Cultura Afro-Brasileira e Africana e da Educação das Relações Étnico-
raciais; assim como comunicarão, de forma detalhada, os resultados obtidos ao
Ministério da Educação e Cultura, à Secretaria Especial de Promoção da Igualdade
Racial, ao Conselho Nacional de Educação, e aos respectivos conselhos estaduais
e municipais de Educação, para que encaminhem providências, que forem
requeridas.

Art. 15° Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as
disposições em contrário.

Após a aprovação da lei 10.639, o CNE pediu à comissão que ampliasse o parecer
já em fase de elaboração, a fim de estabelecer as Diretrizes Curriculares para
implementação da lei. O parecer que contempla as Diretrizes e teve como relatora
a conselheira Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, foi aprovado em 10 de março e
homologado em 19 de maio de 2004. A resolução 01 do Conselho Pleno do CNE
institui oficialmente as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana e foi publicada no Diário Oficial no dia 22 de junho de 2004.

Fonte: Site do Conselho Nacional de Educação.


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Caro aluno acesse o material sugerido para complementar seus estudos sobre a
temática.

Disponível em:

http://etnicoracial.mec.gov.br/2013-03-06-18-02-36 - Legislação e Leis.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm - Lei Nº 10639/2003

Referências

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Trad. Cleonice Paes Barreto Mourão e Consuelo Fortes Santiago. Belo Horizonte:
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DUARTE, Eduardo de Assis (2011a). Entre Orfeu e Exu, a afrodescendência toma a


palavra. In: ________ (org.).Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia
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________ (2011b). Por um conceito de literatura afro-brasileira. In: Literatura e


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Horizonte: Editora UFMG.

CASCUDO, Luís da Câmara (1983). História da Alimentação no Brasil 2ª ed. Rio de Janeiro:
Itatiaia

DITADI, Carlos Augusto Silva - Cozinha Brasileira: Feijoada Completa- Revista Gula, n. 67,
Editora Trad, São Paulo. 1998.

EL-KAREH, Almir Chaiban - A vitória da feijoada - Niterói : Editora da UFF, 2012. ISBN 978-85-
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ELIAS, Rodrigo - Breve História da Feijoada - Revista Nossa História, ano 1, n. 4, Editora Vera
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FIGUEIREDO, Guilherme - Comidas, Meu Santo - Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira.
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FRANÇA JÚNIOR, Joaquim José da. Histórias e Paisagens do Brasil. Sd.

FRANÇA JÚNIOR, Joaquim José da. Política e Costumes; Folhetins Esquecidos (1867-1868).
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NAVA, Pedro, - Baú de Ossos, Memórias 1 - 4ª ed. Rio de Janeiro : Livraria José Olympio
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QUERINO, Manoel Raymundo, A Arte Culinária na Bahia- Papelaria Brasileira, Bahia, 1928.

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