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CENTRO INTEGRADO DE TECNOLOGIA E PESQUISA

FACULDADE NOSSA SENHORA DE LOURDES

GUILHERME HEMPEL FERREIRA GOMES

MESQUITA: arte, educação e sagrado

JOÃO PESSOA - PB
2017
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GUILHERME HEMPEL FERREIRA GOMES

MESQUITA: arte, educação e sagrado

Artigo apresentado ao Centro Integrado de Tecnologia e


Pesquisa e à Faculdade Nossa Senhora de Lourdes, como
um dos requisitos para obtenção do título de Especialista
em Supervisão e Orientação Educacional, sob a orientação
da Professora Ms. Wilza Diane G. L. de Mendonça.

Aprovado em:___/___/___

_____________________________________

Wilza Diane G. L. de Mendonça

JOÃO PESSOA - PB
2017
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SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................................... 03

ABSTRACT .......................................................................................................... 03

INTRODUÇÃO..................................................................................................... 04

1. O INÍCIO............................................................................................................ 05

2. AS GRANDES MESQUITAS.......................................................................... 06

2.1. Mesquita na Espanha...................................................................................... 07

2.2. A Mesquita de Córdoba.................................................................................. 08

3. A MESQUITA ENQUANTO LOCAL DE ENSINO..................................... 08

4. O PODER E A MESQUITA............................................................................ 10

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 11

REFERÊNCIAS.................................................................................................... 11
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MESQUITA: ARTE, EDUCAÇÃO E SAGRADO


Guilherme Hempel Ferreira Gomes1

Orientadora: Professora Ms.Wilza Diane G. L. de Mendonça

RESUMO

A presente pesquisa tem o objetivo de analisar o local de culto mais conhecido para os
muçulmanos que é a mesquita em seus múltiplos aspectos. Pretendemos expor as
diversas utilizações que vai muito além de um simples local para oração, mas também
como local de aprendizado onde se deu o início da transição de uma tradição oral para
escrita e o desenvolvimento de uma arte que estava conectada e em continuidade com a
lei corânica como dimensão interna da mensagem islâmica. As mesquitas demonstram e
simbolizam o centro do poder muçulmano enquanto legitima as relações de poder em
uma construção com identidade religiosa, veremos então como se dá estas relações e
como seu estudo é fundamental para compreensão dos vários aspectos atribuídos à
mesquita e a educação Muçulmana.
Palavras-chaves: Islã, mesquita, Educação, poder muçulmano, arte islâmica.

ABSTRACT
This study aims to analyze the best known place of worship for Muslims is the mosque
in its many aspects. We intend to expose the various uses that goes far beyond a simple
place for prayer, but also as a place of learning where it began its transition from an oral
tradition to writing and the development of an art that was connected and in continuity
with the law Koranic as internal dimension of the Islamic message. Mosques
demonstrate and symbolize Muslim power center while legitimizing power relationships
in a building with religious identity, then we will see how is this relationship and how
their study is essential to understand the various aspects attributed to the mosque and
Muslim education.

Keywords: Islam, mosque, Education, Muslim power, Islamic art.

1
Graduado em Pedagogia pela UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ - UVA e Ciências
das Religiões – UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB, integrante do grupo Raízes
(Cnpq).
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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa surgiu devido ao meu interesse na área de educação e os estudos


sobre Religião fruto das minhas formações acadêmicas em Pedagogia e Ciências das
Religiões. Conhecer o Islamismo foi um desafio, pois a nossa cultura judaico-cristã
muitas vezes não nos permite enxergar a religião do “outro” com a dignidade que
merece, principalmente quando se trata de uma Religião em que os meios de
comunicação exploram de forma negativa e preconceituosa como se todos os
muçulmanos fossem fanáticos religiosos, esse foi também um dos motivos da realização
do presente artigo.
Com a pesquisa, buscamos estudar questões acerca da evolução histórica, pela
qual foi se constituindo a construção das Mesquitas, e a interlocução deste ante as
práticas de ensino. O objetivo geral da pesquisa consiste em desenvolver reflexões sobre
as construções das mesquitas enquanto local de ensino formal e religioso justifica-se
pela necessidade de identificação de elementos para uma análise crítica para
compreensão da utilização de um espaço tipicamente religioso sendo este mesmo
espaço local para o processo de ensino-aprendizagem de conhecimento científico e
acadêmico além de tentar dirimir preconceitos de uma cultura repleta de contribuições à
humanidade. A problemática do estudo se configurou na tentativa de compreender qual
a função e a relação entre as mesquitas e a educação formal e religiosa muçulmana.
A metodologia da pesquisa consiste em uma abordagem qualitativa, pesquisa
bibliográfica, e, como procedimento de coleta de informações, análise de livros, revistas
científicas e artigos relacionados à temática trabalhando com o universo dos
significados, motivos, crenças, aspirações, valores e atitudes e do tipo Exploratória
analisando e apresentando aspectos relevantes ao ambiente proporcionado na educação
muçulmana.
Iniciamos apresentando um pouco do surgimento das Mesquitas no contexto
Muçulmano em seguida um breve histórico da sua utilização enquanto espaço de
ensino-aprendizagem, apresentamos a Mesquita de Córdoba como referencia no aspecto
de sua arquitetura e importância no ocidente e o poder da mesquita por sua imponência
dentro da Religião Islâmica.
A palavra para mesquita, masjid, vem do aramaico e a raiz do seu significado
“adorar” ou “prostrar-se”, encontra-se também na palavra etíope mesgad, utilizada para
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templo ou igreja. No Alcorão é uma palavra genérica, empregada não somente para os
santuários muçulmanos, como também para o santuário cristão associado aos Sete
Adormecidos de Éfeso (sura 18:21/20) e ao templo judeu em Jerusalém (se adotarmos a
interpretação tradicional de sura 17:1). Ibn Khaldun (d.1406) usava essa palavra no
sentido genérico, incluindo até mesmo o templo de Salomão. O significado básico de
“sinagoga” e “igreja” (ekklesia) é reunião, o mesmo que jami, uma palavra que
progressivamente veio a ser usada para mesquita (CARRIKER, 2008).
Sem dúvida alguma Maomé sabia acerca de sinagogas e igrejas ou capelas, pois
elas são mencionadas no Alcorão (sura 20:40/41). Com a expansão do islamismo,
desenvolveram-se várias adaptações com santuários cristãos e judaicos. Em Damasco, a
tradição relata que a igreja de São João foi dividida, metade para os muçulmanos e
metade para os cristãos. Em qualquer evento, os dois centros de adoração ficavam ao
lado um do outro até que a igreja foi incorporada pela mesquita.
Em Hims, na Síria e em Dabil, na Armênia, muçulmanos e cristãos
compartilhavam os mesmos prédios. Omar, o segundo califa, edificou uma mesquita no
lugar do templo de Jerusalém, onde o Domo da rocha foi posteriormente construído.

1. O INÍCIO

Entre suas origens se encontram a Casa do Profeta, em Medina (cerca de 622),


junto a casa de Maomé havia uma área murada com pequenos cômodos ao longo da
lateral sudeste, para moradia. O restante do espaço era ocupado um pátio interno,
parcialmente aberto, embora tenha sido construída para fins residenciais, a edificação
também servia como local de reunião, onde seus seguidores podiam ouvir sermões e
orar em conjunto; após a morte do profeta, sua forma foi copiada em locais para culto
simples construídos em outras cidades.
A grande mesquita de Damasco (706-715, com reconstruções posteriores) é a
mais antiga mesquita remanescente e demonstra o processo ao longo do qual a tipologia
se desenvolveu. O terreno é ocupado a muito tempo, pois anteriormente lá havia um
templo romano dedicado a Júpiter e uma igreja paleocristã do século IV dedicada a São
João Batista. Durante certo tempo após a conquista islâmica da cidade, em 635, tanto
cristãos como muçulmanos oravam no local, mas em 706 a igreja existente foi
derrubada e o califado de Al-Walid I construiu uma mesquita impressionante, baseada
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em parte nas igrejas com planta baixa em forma de basílica tripartida com nave central
e duas naves laterais. As paredes externas da mesquita foram determinadas pelo formato
do templo cristão preexistente e o acesso era por meio de um portal no centro de um dos
lados menores, voltado para o leste. Quatro torres ou minaretes – ofereciam plataformas
elevadas nas quinas dos prédios, a partir dos quais o muezim podia convocar os fiéis
para rezar. O projeto genérico dessas torres talvez tenha se baseado em torres de
fortificação ou faróis anteriores, mas, quando foram usados em Damasco, os minaretes
se tornaram elementos padrão das mesquitas da sexta-feira subsequentes. Assim como
os campanários (torres de sino) ou as cúpulas altas das igrejas cristãs, os minaretes
servem para destacar a mesquita na paisagem. Muito tempo depois, algumas mesquitas
especialmente importantes passaram a ter minaretes múltiplos, mas, em geral, um
minarete bastava (CARRIKER, 2008).
Mais da metade do espaço interno é ocupado por um pátio com arcadas – ou
sahn – que contém um pavilhão cupulado com fonte, para lavagens rituais, e um
pavilhão octogonal originariamente empregado para guarda do tesouro público. O salão
para culto coberto ou haram, se estende ao longo de toda parede sul. Duas colunatas
paralelas dividem longitudinalmente esse salão em três partes e perto do seu centro as
arcadas são interrompidas por um largo elemento transversal similar a uma nave central
com uma cúpula de madeira sobre seu vão central. Em projetos posteriores, esse
elemento se transformou na maqsura, uma área especial para procissões reservada para
o séquito do califa, o que justifica sua cúpula como elemento especial de arquitetura.
Como a parede sul é parede para o culto, a qibla, ela possui três nichos, mirhabs2, os
quais indicam a direção de Meca. Um púlpito elevado, o minbar, fica a direita do
mihrab central e dele são feitos os sermões, as leituras do Corão e as proclamações ou
os chamados públicos (FAZIO, 2011).

2. AS GRANDES MESQUITAS

Os primeiros arquitetos islâmicos adotaram formas locais: o Domo da rocha, em


Jerusalém (688-92 d.C.), por exemplo, exibe a influencia do projeto bizantino.
Construído como santuário ao redor da rocha da qual se diz qua o profeta acendeu ao
céu, o Domo é uma estrutura octogonal emcimada por um domo reluzente (alumínio

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Mihrab é um termo que designa um nicho em forma de abside numa mesquita. Tem como função
indicar a direcção da cidade de Meca (qibla), para qual os muçulmanos se orientam quando realizam as
cinco orações diárias (salat).
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anodizado desde 1967, chumbo dourado antes) que se ergue acima de duas colunatas
internas. Os brilhantes mosaicos e mármores do revestimento original das paredes
foram substituídos por ladrilhos geométricos de mármore durante o domínio turco, no
século XVI. Não obstante, o Domo tem uma leveza de toque compartilhada por poucos
edifícios europeus da Era das Trevas.
Contudo, as grandes mesquitas, naturalmente foram construídas em outros
lugares. A maior já construída foi a Grande mesquita de Samarra, Iraque (iniciada em
848 d.C.). Hoje restam apenas ruínas, mas também muito impressionante: uma muralha
exterior, de 155 m x 238 m, circundada por um salão de oração, sombreado por um
minarete gigantesco em espiral, no qual podiam subir cavalo e cavaleiro. É difícil
imaginar um grande espaço como este, quase militar, ecoando ao som do chamado do
muezin, as orações dos submissos e o fluxo da água. Para os árabes, povo do deserto, a
água sempre foi celebrada e é parte integrante do projeto de muitos edifícios árabes e
dos jardins e pátios que fluem deles e para eles. O principio do projeto de Samarra
foram levados por Ahmed Ibn Tulun para o Cairo, onde ele construiu a nova cidade no
fim do século IX, usando como modelo a pátria iraquiana. O edifício mais
impressionante que deixou foi a mesquita de Ibn Tulun (876-79), um espaçoso pátio ou
espaço para cortejos, feito de tijolo com estuque, provavelmente construído por artesãos
que haviam viajado do Iraque para o Egito (GLANCEY, 2011).

2.1 Mesquita na Espanha

Na idade média, na Europa, um dos melhores lugares para se viver, sem dúvida
era a Andaluzia, domínio islâmico da Espanha meridional. Uma terra não só de
tolerância religiosa e intelectual, mas com jardins exuberantes, água corrente, Hammans
(banhos turcos) e uma grandiosa arquitetura que a Europa não experimentaria por muito
tempo.
Os invasores árabes, influenciados por Maomé, levaram a cabo suas jihads
(guerra santa) no norte da África, e foi apenas na batalha de Moussais-le-Bataille, perto
de Poitiers, em 732 d.C., que os franceses, liderados por Carlos Martelo, conseguiram
deter seu avanço, rumo a Paris. Levaram para Espanha, além de um alto nível de
civilização (para uma civilização que até pouco tempo era nômade) foi uma arquitetura
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realmente bela. Todo edifício islâmico de importância era um tipo de representação


deum oásis no deserto, cada um guardado por muros fortificados, mas com água
abundante, jardins luxuriantes e caramanchões no interior.

2.2 A Mesquita de Córdoba

Para Glancey (2001) a Mesquita de Córdoba foi o primeiro edifício importante


na dinastia omíada na Espanha. O estilo do salão de oração era diferente, foi estendido
quase sem emendas durante três grandes ampliações nos séculos IX e X. O salão
completo cobre o mesmo espaço que o pátio cheio de laranjeiras a sua frente. Dentro,
cheio de fileiras de arcadas, formando colunas que sustentam arcos alongados em forma
de ferradura. Cada passo do visitante altera a maneira de se ver as colunas e arcos que se
cruzam. O efeito visual da arquitetura aparentemente encadeada do salão é realçado
pelo tratamento dado aos arcos em ferradura: alternam faixas de tijolo e pedra. As
incansáveis arcadas finalmente cedem lugar a três santuários decorativos de projeto
elaborado.
A arquitetura interna e externa da Mesquita de Córdoba segundo Senko (2011),
resgata a combinação da arte clássica romana e da época dos visigodos, os sábios
construtores utilizaram técnicas de geometrização. Foram construídas escolas
(madrasas) anexas e biblioteca contendo obras do grego, bizantinas e visigodos, onde
muitas obras clássicas foram traduzidas para o Árabe.

3. A MESQUITA ENQUANTO LOCAL DE ENSINO

Os Árabes possuíam dois tipos de escolarização, uma elementar onde se


estudava o Alcorão e a escola superior, os califas se encarregavam que seus súditos aos
6 anos de idade iniciassem sua educação, exceção aos filhos de famílias ricas que
tinham seu preceptores com a incumbência de sua educação.

Segundo a educação Árabe:

O Alcorão, além de religião, contém ensinamentos de política, direito,


organização social e ideias básicas de ciências. Por isso, ele constitui a
base da educação elementar. O ensino, geralmente, era ministrado na
mesquita, que é o centro religioso, político e cultural da vida do povo
árabe. E o mestre, sobretudo o do ensino superior, desfrutava de
grande prestígio, pois o aprender era muito valorizado. Aprender um
só capítulo da ciência, por exemplo, era considerado mais valioso do
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que se prosternar cem vezes em oração. E assistir à classe de um


mestre, era considerado mais meritório do que orar (PILETTI,
CLAUDINO, 2014, P. 49).

No mundo árabe a escola nasceu com a mesquita de Medina, construída no


século VII pelo profeta Maomé e seus companheiros. Desde então, e até o século X,
todas as mesquitas foram centros onde se instruíam os crentes da nova fé e se imaginava
religião. No entanto devido à progressiva complexidade das estruturas da via social e
dos valores e regras que o governavam, a comunidade teve de enfrentar novos
problemas.
Um século depois da morte do Profeta, ocorrida em 632, novas formas de ensino
tornaram - se necessárias e foram criados círculos de estudo nas mesquitas, nos
palácios, nas ruas e praças públicas. Essa transmissão do poder não se limitava ao
ensino do Corão, mas incluía literatura, poesia, gramática, etc. Na praça do Mirbad, em
Bagdá, reuniram-se círculos de gramáticos, estudantes e curiosos; dentro de uma mesma
mesquita eram ministrados cursos de jurisprudência, poesia, gramática e outros. Esses
cursos e círculos constituíram uma espécie de universidade livre, pois os mestres
ensinavam o que sabiam sem qualquer restrição ou obrigação, e os estudantes podiam
escolher livremente os cursos, debates e círculos que desejavam seguir (PILETTI,
CLAUDINO, 2014).
Essa liberdade de ensino e aprendizagem revela uma profunda coesão cultural e
social. A transmissão de idéias através de homens e de livros, assim como a
contribuição de diversas culturas que se vinham fundir no mesmo crisol, permitiam à
cultura árabe conhecer um desenvolvimento um florescimento sem precedentes, em
todas as esferas do saber. Durante o reinado dos califas abássidas (do ano 750 até fins
do século XIII), o ensino religioso tornou-se disciplina independente; alguns mestres
ocupavam-se do Corão, do hadith (tradições do profeta) e da jurisprudência, enquanto
outros estudavam a língua, a literatura e a história. Nesse período, os círculos de estudos
multiplicaram-se e aprimoraram-se, formando núcleos do que viria ser a madrassa
(colégio), destinada aos adultos que já haviam recebido o ensino primário em escolas
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particulares ou em mesquitas. Somente apartir do século X, a madrassa surge como


instituição independente e distinta da mesquita, embora sua criação, pelo menos
noinício, estivesse reservada a um jurista ou ao ensino de acordo com uma escola
jurídica específica.

4. O PODER E A MESQUITA

A produção e os meios de produção de bens e serviços de natureza simbólica


segundo Bordieu (1971), abrange também a produção religiosa. Tem a tendência de se
concentrar nas mãos de um grupo de administradores do sagrado. O capital religioso é
um instrumento de poder dos detentores do saber sagrado e de certa forma se interliga
com espaço sagrado, a dimensão política do sagrado objetiva investigar as normas e as
formas adotadas pelas instituições religiosas a fim de assegurar a vivência da fé e a
vigilância dos fiéis, afirmando assim sua identidade religiosa.
O homem religioso é um homem motivado pela fé em sua experiência seja
individual, ou coletiva. Tem um significado único para cada indivíduo, relação direta
com a divindade, a experiência coletiva no mundo islâmico é organizada pela mesquita
que assume uma dimensão simbólica na qual se enraízam seus valores e através dos
quais se afirma a comunidade religiosa. A comunidade religiosa constrói a mesquita e
esta, na função político-social, sustenta a própria comunidade. Quer seja na ordem
religiosa, quer pela ordem política, o território responde a duas funções.
Segundo Rosendahl (2005), o reconhecimento do homem religioso sendo
motivado pela fé em sua experiência confere um caráter ao mesmo tempo individual e
coletivo, uma significação singular ao devoto, relação direta com a divindade e na
convivência coletiva enraíza suas crenças e se afirma.
Sagrado, profano e território contribuem para que o grupo religioso reforce o
sentido de pertencimento à instituição religiosa. O exercício do poder religioso ocorre
na vivência da fé. Cada comunidade religiosa se estabelece no mundo sagrado onde
participa da memória histórica no tempo e no espaço. Dessa forma, a manutenção do
lugar sagrado favorece a noção de que a comunidade partilha uma identidade comum,
um sentimento de integração e de comunidade religiosa.
Desta forma a mesquita representa enquanto espaço sagrado um símbolo do
poder muçulmano e muitas foram modificadas ao longo de diversos governos islâmicos
no intuito de impor sua grandeza.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo desta exposição tivemos a oportunidade de conhecer um pouco da


origem, da História e da grandeza artística que se modela a espiritualidade. A arte na
mesquita se manifesta como uma jornada da alma em busca do belo. Convergem
diversas técnicas que expressaram aquilo que o islamismo tem como objetivo
comprovar ao longo de uma História consagrada a Alá e ao profeta Maomé. Uma
construção pode ao mesmo tempo ratificar as múltiplas faces e utilizações corroborando
para se entender o significado de sua existência.
A mesquita se constitui como construção emblemática do Islã, como símbolo de
sua ligação com a divindade suprema e como os homens enxergam neste espaço
sagrado o poder de uma fé que vai além das relações humanas, conhecer a mesquita é
conhecer a fé islâmica em todo seu esplendor, é conhecer a História por trás da História,
ou melhor, no bastidor de uma História, é sinônimo de Poder, fé, religião e
conhecimento. O conhecimento se fez presente desde o início do islamismo, período
que se iniciou a transição de uma tradição oral para a escrita e que se perpetuou pela
busca do conhecimento incentivada pelo próprio profeta. Sua função social evoluiu
assim também como sua arquitetura ao longo do tempo. Conhecer a mesquita se faz
necessário para o pesquisador que deseja aprofundar os ensinamentos acerca da tradição
islâmica.

REFERÊNCIAS

BOURDIEU, Pierre. A Economia das Trocas Simbólicas. Trad. Sérgio Miceli et al. São
Paulo: Perspectiva, 1971.

CARRIKER, C. Timóteo. Evangelho e cultura. Leituras para a antropologia


missionária. São Paulo, 2008.

FAZIO, Michael. A história da arquitetura mundial. Porto Alegre: AMGH, 2011.

GLANCEY, Jonathan. História da arquitetura. São Paulo: Loyola, 2001.


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ISKANDAR, Jamil Ibrahim. A mesquita – O berço das escolas árabes. Revista Litteris,
ISSN: 1983 7429, Nov. 2009.

PILETTI, Claudino e Nelson. História da educação: de Confúcio a Paulo Freire. São


Paulo: Contexto, 2014.

ROSENDAHL, Zeny. Território e territorialidade: uma perspectiva geográfica para o


estudo da religião. Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de
março de 2005 – Universidade de São Paulo.

SENKO, Elaine Cristina. A arte e arquitetura islâmica na idade média e a


representação do poder andaluz: a mesquita maior de Córdoba (séc. VIII). III Encontro
de Estudos da imagem 03 a 06 de maio de 2011, Londrina-PR.

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