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Faculdade de Ciências e Empreendedorismo

Pós Graduação: Saúde Coletiva


Disciplina: Bioética, Aspectos Jurídicos do Setor Saúde e Noções de Compliance
Docente: Emmanuelle Daltro
Discente: Yana Tais Andrade Barbosa

Problema ético na área da saúde

A ética vem sendo tema frequente de discussão, abarcando várias instâncias da


sociedade. Nas instituições de saúde são pertinentes as questões referentes aos parâmetros
e limites da postura profissional norteada pela a ética.
Profissionais presentes nas instituições de saúde, tem sua pratica atravessada por
procedimentos que estão sendo introduzidas direta ou indiretamente no cotidiano dessas
instituições, trazendo benefícios, mas também gerando dúvidas, abusos e resultando em
questões éticas complexas.
Sendo assim, é importante trazer três breves conceitos para se pensar a ética na
saúde, são eles: a moral, a ética e a bioética.
Para Barroco (2015), a moral faz parte do processo de socialização dos indivíduos,
expressa valores e princípios socioculturais de uma determinada época. Esses valores são
internalizados, passando a fazer parte do caráter de cada indivíduo.
Chauí (2000), define que a ética é normativa, exatamente por isso, suas normas
visam impor limites e controles, e para que haja conduta ética é preciso que exista o agente
consciente, isto é, aquele que conhece a diferença entre bem e mal, certo e errado,
permitido e proibido, virtude e vício.
Já a bioética é a busca de benefícios e da garantia da integridade do ser humano,
tendo como fio condutor o princípio básico da defesa da dignidade humana. Considera-
se ético o que, além de bom, é o melhor para o ser humano e para a humanidade em um
dado momento. A origem da palavra “bioética” está ligada a princípios morais
(DURANT, 1995 apud JUST, FREIRE, 2013).
Beauchamp e Childress, (1989 apud CREMESP) propõem quatro princípios
bioéticos fundamentais: autonomia, beneficência, não-maleficência e justiça.
1. Princípio da autonomia requer que os indivíduos capacitados de deliberarem sobre
suas escolhas pessoais, devam ser tratados com respeito pela sua capacidade de
decisão. As pessoas têm o direito de decidir sobre as questões relacionadas ao seu
corpo e à sua vida.
2. Princípio da beneficência refere-se à obrigação ética de maximizar o benefício e
minimizar o prejuízo. O profissional deve ter a maior convicção e informação
técnicas possíveis que assegurem ser o ato médico benéfico ao paciente.
3. Princípio da não-maleficência esse, estabelece que a ação do médico sempre deve
causar o menor prejuízo ou agravos à saúde do paciente (ação que não faz o mal).
4. Princípio da justiça estabelece como condição fundamental a equidade: obrigação
ética de tratar cada indivíduo conforme o que é moralmente correto e adequado,
de dar a cada um o que lhe é devido. O médico deve atuar com imparcialidade,
evitando ao máximo que aspectos sociais, culturais, religiosos, financeiros ou
outros interfiram na relação médico-paciente.
Para exemplificar a problemática da ética na saúde, é interessante registrar um dos
diversos casos recorrentes sobre a ética médica em relação ao aborto, um assunto
polêmico, mas que precisa ser discutido.
A notícia de que uma jovem (Juliana) que teria feito um aborto se espalhou
rapidamente depois que ela passou a responder a um processo penal por interromper a
gravidez, no início deste ano (2018) após ser denunciada pela médica que estava de
plantão em um hospital público em São Paulo.
Juliana, ao descobrir que estava grávida do terceiro filho, dizia que não tinha
condições econômicas e psicológicas para ter mais uma criança. Juliana tomou as pílulas
sozinha em casa, não contou para ninguém. Mas começou a sentir dores fortes como
efeito do medicamento, que provoca contrações do útero a ponto de expelir o feto.
Assustada, decidiu buscar ajuda na emergência de um hospital público.
"O primeiro médico que me atendeu me ajudou. As medicações ainda estavam em
mim. Ele tirou, enrolou na luva, jogou fora. Falou que ia tratar como aborto instantâneo
e que estava ali para me ajudar e não julgar". Mas o plantão desse médico terminou
enquanto Juliana ainda estava em processo de aborto, ainda sob o efeito da medicação.
A enfermeira que acompanhou o primeiro atendimento contou do aborto à médica
que assumiu o plantão, que decidiu chamar a polícia.
Os policiais foram imediatamente ao hospital e interrogaram Juliana quando ela
ainda sangrava. "Assim que eu tinha acabado de ter o feto, eu tive uma convulsão. Eles
(policiais) entraram na sala falando que era para eu confessar, senão eu ficaria algemada,
que eu iria para um presídio", relatou.
Pressionada, Juliana acabou confessando ter tomado os remédios abortivos. "Foi
aonde eu fui falando e dei o nome do rapaz que me vendeu. Foi autuado o crime em
flagrante."
A história de Juliana não é um fato isolado. Centenas de processos contra mulheres
acusadas de abortar tramitam na Justiça de todos os Estados. O Núcleo de Promoção dos
Direitos da Mulher da Defensoria Pública de São Paulo, evidencia que em 70% dos casos,
as mulheres são denunciadas por um profissional de saúde após buscar ajuda nos
hospitais. (PASSARINHO, 2018). A denúncia viola o dever ético de sigilo de qualquer
dos profissionais de saúde. Os conselhos de classe dos profissionais de saúde são
enfáticos em dizer que é dever ético manter o sigilo, não só não revelando o fato, mas
também não entregando documentos sigilosos. Neste caso específico, o Código de Ética
Médica (resolução CFM 1931/09), que contém as normas que devem ser seguidas pelos
profissionais, em seu artigo 73 é taxativo ao afirmar que é vedado ao médico "revelar
fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício de sua profissão, salvo motivo
justo, dever legal ou consentimento, por escrito, do paciente".
O atendimento do profissional de saúde nesses casos tende ser punitivo e
discriminador, gerando, nas mulheres, sentimento de insegurança, angústia, culpa e
humilhação, num flagrante desrespeito às diretrizes que preconizam o direito de todos a
uma assistência humanizada e de qualidade. Não raro, os profissionais de saúde utilizam
seus próprios critérios morais em suas práticas assistenciais, e adotam ações punitivas em
seu atendimento às mulheres que praticam o aborto, agindo como verdadeiros juízes.
Nesse sentido, a postura ética exige uma consulta ao Código de Ética Profissional,
além do cumprimento dos princípios elencados pela bioética, exige reflexão crítica
baseada na correlação de fatores que integram os dilemas éticos, bem como valores e
princípios da pessoa atendida. Assim, essa correlação dos fatores citados possibilita a
reflexão crítica visando ações pautadas na postura ética, propocionando, ações que vão
ao encontro das necessidades daquele que, ao buscar o profissional de saúde encontre
auxílio, e o reconhecimento de si como pessoa.
REFERENCIAS:

BARROCO, Maria Lúcia Silva. Fundamentos éticos do Serviço Social. Disponível


em: <http://www.cressrn.org.br/files/arquivos/8QQ0Gyz6x815V3u07yLJ.pdf>.
Acessado em: 24 out. 2018.

CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA. Resolução CFM nº 1.931. 2009. Disponível em:


<https://portal.cfm.org.br/images/stories/biblioteca/codigo%20de%20etica%20medica.p
df>. Acessado em: 24 out. 2018.

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE SÃO PAULO.


MANUAL DE ÉTICA EM GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA. São Paulo:
CREMESP, 2002. Disponível em:
<http://www.bioetica.org.br/?siteAcao=Publicacoes&acao=detalhes_capitulos&cod_cap
itulo=62&cod_publicacao=6>. Acessado em: 24 out. 2018.

CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. Ed. Ática, São Paulo, 2000. Disponível em:
<http://home.ufam.edu.br/andersonlfc/Economia_Etica/Convite%20%20Filosofia%20-
%20Marilena%20Chaui.pdf>. Acessado em: 24 out. 2018.

PASSARINHO, Nathalia. A mulher denunciada por médica de plantão e processada


por aborto: 'Fui interrogada enquanto sangrava'. Brasil, 2018. Disponível em: <
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-44293621>. Acessado em: 24 out. 2018.

JUSTI, Jadson. FREIRE, Heloisa Bruna Grubits. BIOÉTICA E SAÚDE. 2013.


Disponivel em: < file:///C:/Users/clente/Downloads/111-670-1-PB.pdf>. Acessado em:
24 out. 2018.

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