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#1 JUNHO DE 2014

A REVISTA DO CAU

Cidades
EM ENTREVISTA, PAULO MENDES DA ROCHA EXPLICA, SEM
ENTRELINHAS, COMO EVITAR O DESASTRE NAS CIDADES.
SÉRGIO FERRO ANALISA A INVISIBILIDADE DOS OPERÁRIOS E O QUE
OS TAPUMES DOS CANTEIROS DE OBRA ESCONDEM.
DOSSIÊ/CAU APRESENTA PROBLEMAS E POSSÍVEIS SOLUÇÕES
PARA CONSTRUIR METRÓPOLES MAIS DEMOCRÁTICAS.
| DIRETORIA |
Afonso Celso Bueno Monteiro Luciana Rando de Macedo Bento
Presidente Diretora Técnica Adjunta
Gustavo Ramos Melo Leandro Bueno Matsuda
Vice-presidente Diretor de Relações Institucionais
Gerson Geraldo Mendes Faria João Carlos Correia
Diretor Administrativo Diretor de Ensino e Formação

UMA ÁRVORE
Éder Roberto da Silva João Carlos Monte Claro
Diretor Financeiro Diretor Administrativo Adjunto
Pietro Mignozzetti Silvio Antonio Dias

AO VENTO
Diretor Financeiro Adjunto Diretor de Relações Institucionais Adjunto
Marcia Mallet Machado de Moura Mario Yoshinaga
Diretora Técnica Diretor de Ensino e Formação Adjunto

| CONSELHEIROS FEDERAIS |
Miguel Alves Pereira (in memorian) Daniel Amor
Conselheiro Federal Titular Conselheiro Federal Suplente
Móbile é movimento a partir do princípio do equi-
| CONSELHEIROS TITULARES |
líbrio. Nas palavras do francês Marcel Duchamp,
Afonso Celso Bueno Monteiro Gustavo Ramos Melo Nadia Somekh
Ana Maria de Biazzi D. de Oliveira João Carlos Correia Nilson Ghirardello “é a sublimação de uma árvore ao vento”. Não é
Bruno Ghizellini Neto João Carlos Monte Claro Nina Vaisman
Ciro Felice Pirondi Vasconcellos Paulo Afonso Costa para menos, afinal, quem nunca se pergunta como
Claudio Barbosa Ferreira Jose Armenio de Brito Cruz Paulo André Cunha Ribeiro
Claudio Sergio Pereira Mazzetti José Borelli Neto Paulo Canguçu Fraga Burgo singelas peças, unidas entre si por fios, se agitam
Débora Pinheiro Frazatto José Renato Soibelmann Melhem Pietro Mignozzetti
Éder Roberto da Silva Leandro Bueno Matsuda Reginaldo Peronti no etéreo em perfeita harmonia e assumem as mais
Éderson da Silva Lélis Noronha Schneck Renato Luiz Martins Nunes
Edison Aparecido Candido
Eduardo Caldeira Brandt Almeida
Luciana Rando de Macedo Bento
Lucio Gomes Machado
Roberto dos Santos Moreno
Rogerio Batagliesi
imprevistas formas?
Eduardo Habu
Gerson Geraldo Mendes Faria
Luiz Antonio Raizzaro
Luiz Augusto Contier
Rosana Ferrari
Saide Kahtouni
Talvez o “pai dos móbiles”, o americano Alexan-
Gilberto Silva Domingues de Luiz Fisberg Sílvio Antonio Dias
Oliveira Belleza Marcia Mallet Machado de Moura Victor Chinaglia Junior der Calder, nos apresente algum indício ao teorizar
Mario Yoshinaga
sobre essa estranha escultura: “a arte é a dispari-
| CONSELHEIROS SUPLENTES |
dade que existe entre a forma, massa e movimen-
Altamir Clodoaldo R. da Fonseca Guilherme C. de Carvalho Manoel Correia de Almeida
Antonio Claudio P. da Fonseca Isao Watanabe Marcelo Martins Barrachi to”. É aí que entra a inspiração para nossa revista:
Aurea Lopes Machado Mazzetti João Antonio Danielson Garcia Maurilio Ribeiro Chiaretti
Berthelina Alves Costa José Antonio da Silva Quaresma Miguel Gustavo Fabregues o conceito calderiano de “arte cinética”. Afinal, o
Caio Boucinhas José Eduardo Gonçalves Monica Fonseca Coutinho
Carlos Alberto Silveira Pupo
Carlos Eduardo Zahn
José Geraldo Martins
José Roberto Baraúna Filho
Nelson Trezza
Pedro de Melo Saraiva
CAU/SP almeja ser vetor das transformações que
Consuelo Aparecida G. Gallego
Daniela Morelli de Lima
Julio Barreto Gadelha
Katia Piclum Versosa
Rafael Patrick Schimidt
Rafic Farah
ocorrem a todo o momento em nossa sociedade, ser
Delcimar Marques Teodózio Kauê Obara Kurimori Silvio Heilbut
Edmilson Queiroz Dias Laerte Otavio Rojo Rosseto Stella Maris Bilemjian uma “árvore ao vento” das principais tendências da
Edson Luís da Costa Sampaio Luciana Mercia Gonçalves Valter Luis Caldana Junior
Francisco Eleutério de Abreu Luciano Fiaschi Vicente de P. Ganzelevitch Vargas Arquitetura e do Urbanismo brasileiro e, ao mesmo
COMISSÃO ESPECIAL DE FORMATAÇÃO DO tempo, equilibrar as múltiplas ideias e opiniões dos
PROJETO EDITORIAL DA REVISTA DO CAU/SP
profissionais de nossa classe.
Afonso Celso Bueno Monteiro Éder Roberto da Silva Reginaldo Peronti
Membro nato Membro nato Membro titular Essa revista que você, caro leitor, segura em su-
Gustavo Ramos Melo Victor Chinaglia Junior João Carlos Correia
Membro nato Coordenador Membro substituto as mãos, apresenta desde sua gestação essa sincera
Leandro Bueno Matsuda Rosana Ferrari Gilberto S. R. de Oliveira Belleza
Membro nato Membro titular Membro substituto busca. Já em nossa primeira edição, apresentamos
GRUPO DE TRABALHO uma entrevista com Paulo Mendes da Rocha, ven-
Miguel Pereira (in memorian) cedor do prestigiado Prêmio Pritzker e um elucidati-
Ciro Pirondi Pedro Fiori Arantes
João Sette Withaker
Antonio Celso Pinheiro
José Xaides de Sampaio Alves
Rafic Farah
vo “Dossiê-CAU/SP” sobre as metrópoles. A revista
| EXPEDIENTE |
Móbile também conta com artigos de importantes
Daniele Moraes Sandra Cruz Paula Zaidan
arquitetos e urbanistas brasileiros e traz as princi-
Assessora de Comunicação Técnica de Comunicação Assessora de Comunicação Interina
pais notícias do Conselho.
Impressão: Crystalgraf Tiragem: 50 mil exemplares Contato: revista@causp.gov.br

SEMPRE VIVA PRODUÇÃO E CONTEÚDO


Boa leitura!
Fernando Rizzotto Guiomar Prates Roney Rodrigues
Editor de Arte Coordenadora de Produção Jornalista
Tom Pina Beatriz Albuquerque e Castro
Ilustrações Jornalista Afonso Celso Bueno Monteiro
Presidente do CAU/SP
Fotos da capa e segunda capa por Cristiano Mascar Fotos da quarta capa por Gal Oppido
Inspiração | MÓBILE 5

A sublimação de uma árvore


ÉDER ROBERTO DA SILVA e VICTOR CHINAGLIA aos ventos dos movimentos rei-
Coordenadores Editoriais
vindicatórios, que exige cidades
para todos, que pode florescer
numa praça que viraria shopping
na Turquia, ocupar o principal
centro financeiro mundial contra
Paris. 1926. O frenesi da in- o mercado que constrói e regu-
dustrialização. Máquinas. Movi- la os espaços em Nova Iorque ou
mento. Novos materiais. Sons. mesmo manifestar-se pela falta
Cores. Cheiros. Sabores. Le Cor- de mobilidade e transporte pú-
busier, Piet Mondrian, Pablo Pi- blico nas cidades brasileiras.
casso e Juan Miró, tantos revo- Pela primeira vez na histó-
lucionários morando a poucas gra”, parte da exposição, foi do- ria, arquitetos e urbanistas têm a
quadras de distância um dos ou- ada para o Instituto de Arquite- oportunidade de expressarem e
Móbile está diretamente liga- tros, empunhando pincéis, lápis tos do Brasil - Departamento São defenderem posições com plena
do aos objetivos da publicação: a e, muitas vezes, também armados Paulo (IAB/SP). autonomia e credibilidade advin-
responsabilidade face ao estágio de manifestos. Nesse ambiente, Século XXI. No “planeta ci- das de um órgão oficial dirigido,
de organização dos arquitetos e o nova-iorquino Alexander Cal- dade” e suas transferências de exclusivamente, por nós profis-
urbanistas com o pleno funciona- der logo faz amizades surrealis- capitais e de informações via ci- sionais. É urgente a voz de ar-
mento de nosso conselho, o CAU/ tas e dadaístas e, sob influência berespaços – que inovam em quitetos e urbanistas frente aos
SP. Indelével que a marca do CAU de Mondrian, inicia sua série de apropriação e impõem a priva- debates das cidades como instru-
é a cidade e tudo que envolve a construções esculturais que o tização da inteligência coletiva e mento de pressão política sobre o
urbi, com os conflitos e demandas francês Marcel Duchamp batiza- seus conhecimentos – os móbiles poder decisório.
que as atingem. ria de Móbile: “a sublimação de representam a eternidade do mo- Esse movimento é agudo e
O mundo necessita de arqui- uma árvore ao vento”. vimento em escala perceptiva, in- crítico, mas belo, leve, participa-
tetos e urbanistas para, juntos Calder fez em três dimensões, cluindo a global, das metrópoles tivo e de livre acesso que, assim
com a sociedade, fazermos cida- - e em movimento - o que moder- mundiais e sua sociedade equi- como um móbile, queremos em
des melhores e, assim, melhorar a nistas e neoplasticistas criaram: librando-se em fios intrinseca- nossa revista. É uma justa home-
vida - que em si não basta, como construções artísticas que com- mente ligados. nagem ao processo criativo co-
diz o poeta Ferreira Gullar. Arte põem com a arquitetura as cida- letivo da inteligência brasileira,
é necessária - sublime criação da des. Sintetizou, portanto, a leveza, no qual a arquitetura contribui e
humanidade -, determinada pelo equilíbrio e movimento com arte tem o dever de participar dentro
estágio de desenvolvimento eco- e poesia espacial. da nova realidade da sociedade e
nômico e tecnológico e das con- O artista esteve três vezes no suas cidades.
dições intelectuais em que serão Brasil: na primeira, em 1948, ex-
firmadas, sempre dentro de um pôs em dois dos mais importantes
processo histórico coletivo e con- prédios da arquitetura brasileira:
tínuo, o que Karl Marx chamava no Ministério da Educação do Rio
de general intellect. e no MASP. A peça “A Viúva-Ne-
6 MÓBILE | Dossiê Dossiê | MÓBILE 7
As fotos que compõem este dossiê são de
| CRISTIANO MASCARO |

METRÓPOLES
O que nos une?

CAÓTICA. DESIGUAL. COSMOPOLITA. VIBRANTE. HOJE, 44% DA POPULAÇÃO BRASILEIRA


VIVE NAS METRÓPOLES. E ESSE PRIMEIRO DOSSIÊ MÓBILE DISCUTE COMO ANDAM
AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS CIDADES, APRESENTA SUAS CONTRADIÇÕES E
CONSTRASTES E QUESTIONA: PODEMOS EVITAR O DESASTRE?

São Paulo é uma cidade de irregulares, o equivalente a 11% é obrigada a se deslocar a pé por
contrastes. Ao cair da tarde, en- de sua população. falta de dinheiro.
quanto milhares de executivos São Paulo é, também, uma ci- Ao caminhar por suas ruas,
deixam seus escritórios, localiza- dade motorizada. A aquisição de logo se percebe que a maior me-
dos em espelhados arranha-céus carros cresce em uma velocidade trópole da América Latina é palco
das avenidas Berrini e Paulista, 8,6 vezes maior que a da popula- de constantes disputas, com pon-
um exército com cerca de 1,128 ção e os sete milhões de veículos tas nunca atadas da organização
milhão de desempregados pau- que já circulam diariamente pe- do espaço. Enquanto na Vila Nova
listanos, segundo o Dieese, retor- la cidade matam, proporcional- Conceição o metro quadrado dos
na para casa sem perspectiva de mente, três vezes mais pessoas imóveis atinge os 14 mil reais e,
trabalho. Um contraste que per- que o trânsito de Nova Iorque. em toda a cidade, desde 2008, se-
mite que a economia de São Pau- Além dos congestionamentos gundo o Índice Fipe/Zap, a espe-
lo gire 388 bilhões de dólares por quilométricos, essa cultura au- culação imobiliária inflaciona os
ano – o que corresponde a uma tomobilística tem outras impli- aluguéis em 93%, 130 mil famílias
fatia de 11,5% do PIB nacional – cações no cotidiano: em média, o não têm onde morar.
e, ao mesmo tempo, também seja paulistano demora, sem contar a Além de tudo isso, São Paulo
a capital dos “aglomerados sub- volta, 43 minutos para chegar até é, também, uma cidade que ado- As cidades devem
normais”, com dois milhões de o trabalho - tempo 31% maior do ece. A olho nu pode não se per- ser desenhadas
pessoas vivendo em favelas e ou- que nas outras metrópoles brasi- ceber, porém, em todo o estado, como uma imensa
tros assentamentos precários ou leiras - e um terço da população a poluição do ar mata duas vezes obra coletiva
Dossiê | MÓBILE 9
um processo particularmente co- No restante do país, o cres-
mum na Ásia e na África. Em 40 cimento das regiões metropolita-
anos, o mundo precisará de mais nas é evidente e, com isso, sur-
mil metrópoles com mais de três gem problemáticas e crises que
milhões de habitantes. já deixam de cabelo em pé os ad-
A urbanização não é novi- ministradores urbanos – e prin-
dade para o Brasil, que já conta cipalmente a população. Mas co-
com 80% da população vivendo mo foi que as cidades chegaram
em cidades, porém essa “era das a esse patamar de crescimento – e
megalópoles” é, sim, algo novo: desorganização espacial?
um estudo da Empresa Paulis- “A forma como fomos coloni-
ta de Planejamento Metropoli- zados deixa até hoje suas marcas
tano (Emplasa), com base dados na cidade”, responde Ciro Piron-
do Instituto Nacional de Pesqui- di, diretor da Escola da Cidade. “O
sas Espaciais (Inpe), aponta que sistema de colonização instalado
mais que os acidentes de trânsito, os espaços verdes funções públicas comuns, conselhos metropolitanos São Paulo já atingiu o patamar de na América espanhola e portu-
não são democraticamente distribuídos e os lodacen- e fundo para investimentos. macrometrópole, a primeira do guesa, é, por natureza, extrema-

CIDADE
tos rios Tietê e Pinheiros correm como esgotos a céu Com os problemas de mobilidade, especulação hemisfério sul. O trecho de 102 mente predatório e constituiu as
aberto pelas entranhas da cidade, recebendo, diaria- imobiliária e de ausências de políticas públicas, é de se quilômetros que liga a cidade a cidades somente a partir da ideia
mente, toneladas de lixo e dejetos. pensar que as cidades estão em uma rota de desastre
DE CABEÇA Campinas já é uma mancha urba- de mercadoria e de especulação

PRA BAIXO
Essa é a metrópole: caótica e desigual, mas, ao com a precariedade – ou mesmo ausência – de proje- na que une 65 municípios e abriga do valor do terreno”, analisa. Se-
mesmo tempo, cosmopolita e vibrante. Uma cidade tos urbanísticos, o que levaria as metrópoles ao caos. 12% da população brasileira. gundo ele, as consequências são
partida em que forças hegemônicas desenham por “Não podemos nos iludir: as metrópoles não são
suas ruas, avenidas e esquinas uma antieuclidiana caóticas em nada”, rebate o arquiteto e urbanista
“ordem desordenada”. Alexandre Delijaicov, professor da FAU/USP há 14 A notícia já era prevista: em
Mas essa lógica não se restringe somente a São anos.“Tudo ainda está por se fazer”, continua ele. “Es- 2007, pela primeira vez na história
Paulo. Hoje o Brasil tem 40 regiões metropolitanas, sa é a lógica do capital: causar o desequilíbrio do te- mundial, a população urbana su-
segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplica- cido urbano. E as metrópoles precisam ter esse cará- perava a rural. Mais do que repre-
da (Ipea), abrigando 44% da população brasileira e ter físico-espacial para perpetuar a opressão sobre os sentar a imagem de pessoas com-
11% dos municípios. Só o estado de São Paulo tem outros. O caos é muito bem planejado”. partilhando um mesmo espaço,
cinco regiões metropolitanas: São Paulo, Campinas, “Como diz Mike Davis [professor e teórico do os dados simbolizavam um pre-
Vale do Paraíba, Baixada Santista e Sorocaba. Essa urbanismo americano], até merda já virou mercado- núncio de colapso nas metrópo-
multiplicidade metropolitana cria alguns problemas. ria”, lembra Ermínia Maricato, livre-docente em Ar- les. Talvez, mais que isso: o surgi-
Formular políticas públicas comuns de desenvolvi- quitetura e Urbanismo e professora aposentada da mento da “era das megalópoles”.
mento urbano talvez seja o maior deles, já que des- FAU/USP. “Devido à desregulamentação das políti- O alarme não é para menos.
sas 40 regiões apontadas pelo Ipea, apenas oito têm cas públicas e o assédio das multinacionais, o capital Estimativas apontam que, em
um quadro institucional completo, com uma lista de já transformou serviços públicos como saneamento, 2015, coexistirão 33 megalópoles
transporte, coleta de resíduos, iluminação - tudo mes- situadas, em sua maioria, nos pa-
mo - em mercadoria”. E conclui: “a política urbana é íses do chamado Terceiro Mundo
ERMÍNIA MARICATO
desenhada pelo clientelismo e pelos capitais que to- e que, em 2025, a Terra possuirá
Professora aposentada da USP
mam conta da cidade”. cinco bilhões de habitantes urba-
Mas como as cidades foram mercantilizadas, as nos. O movimento em direção a
A política urbana é desenhada diferenças sociais aprofundadas e muitas políticas esse futuro não para: a cada se-
por clientelismo e capitais, que públicas desmanteladas? Acompanhe no primeiro mana, 1,2 milhão de pessoas se
tomam conta da cidade Dossiê Móbile. mudam do campo para a cidade,
10 MÓBILE | Dossiê Dossiê | MÓBILE 11
trágicas para o desenvolvimento GESTÃO PÚBLICA sociais - como educação, saúde safios da época, quando, inclusive, foi secretária de
urbano brasileiro e “esse colonia- METROPOLITANA e habitação -, mas também uma Habitação e Desenvolvimento Urbano do município
lismo colocou as nossas cidades Nos anos 1970, durante a Dita- intensificação da vida política lo- de São Paulo, entre 1989 e 1992, no governo Luiza
em uma rota de colisão”. dura Militar, a administração da cal. A década de 1990 represen- Erundina (PT-SP). “Passamos, praticamente, as déca-
“Foram mais de 500 anos de metrópole envolveu algumas tou, portanto, o fortalecimento da das de 1980 e 1990 sem políticas públicas nacionais
hemorragia inclemente dos re- empresas de desenvolvimento autonomia local, o que incremen- e estaduais. Até o final dos anos 1990, a proposta de
cursos naturais e de vampirização metropolitano e um órgão espe- tou processos de reforma no setor Reforma Urbana era central, tinha representantes
das cidades”, destaca o professor cífico de planejamento. Pouco se público. Porém, também nascia no Congresso, nas Câmaras Municipais, nas Assem-
Delijaicov sobre a forma como avançou, porém essa ação é con- um problema: a falta de ações pa- bleias, elegemos muitos prefeitos, vereadores, lide-
as cidades foram erguidas des- siderada um pequeno princípio ra integrá-las, especialmente em ranças sociais fortes, pesquisadores, professores. A
de aquela época. “E ficou o ‘olhar de gestão metropolitana. temas nevrálgicos, como mobili- partir do momento em que os investimentos retor-
do colonizador’. Dessa forma, as A partir da Constituição de dade, saúde e saneamento, que nam para áreas como saneamento e transporte, as
metrópoles foram construídas de 1988, os municípios brasileiros não podem ser tratados isolada- coisas retrocedem. Mas, desde junho de 2013, esse
forma estúpida: dentro de um mo- fortaleceram seu papel de ges- mente por cada município. quadro mudou completamente”, lembra a professo-
delo mercantilista e rodoviário e, tores de políticas públicas com A grande dificuldade das me- ra da FAU/USP.
sempre, em torno do exército in- um significativo aumento de su- trópoles – e que persiste até hoje
dustrial de reserva, promovendo as participações na receita fiscal, – era conseguir montar uma ges- CIDADE PARA SE DESFRUTAR
o desencontro e o medo. É a ló- que saltou de 9,5%, em 1980, para tão para superar essas inúmeras A mudança que a professora Ermínia Maricato se re-
gica do vencedor e do perdedor 16,9%, em 1992. diferenças políticas. fere - quando manifestações tomaram conta das ruas
e, hoje, infelizmente, somos todos Essa “descentralização fiscal” “Foi uma crise fortíssima, e da pauta política do país - ficou mundialmente co-
perdedores”. Para o professor, é representou a ampliação – embo- aprofundada pelo neoliberalis- nhecida como “Jornada de Junho”. Na época – e até
preciso mudar a “infraestrutura ra desproporcional – das compe- mo e pelas privatizações”, avalia hoje – muitos procuravam sentido para tais “fenô-
das mentalidades”. tências municipais em setores Maricato, recordando-se dos de- menos”, porém havia um consenso na interpretação
das manifestações: o direito de acessar a metrópole.
“O capital tomou o comando da cidade: a riqueza
toda vai para a especulação imobiliária, os automó-
veis entopem, literalmente, a cidade e o transporte
coletivo permanece em ruínas”, aponta Maricato. “A
partir de junho, se assume o transporte urbano como
questão fundamental para a vida das pessoas”.
A professora defende a seguinte ideia: o tema da
mobilidade urbana, que atinge todas as classes, é re-
flexo direto da organização da cidade, com as lon-
gas distâncias entre trabalho e moradia. Mas, mais
que isso, significa o direito de acessar a cidade. “As
pessoas até aceitam morar no fim do mundo, mas
querem chegar aos seus empregos. Hoje a jornada
do transporte cansa mais do que o próprio trabalho.
Além disso, sempre ouço dos jovens da periferia: ‘no
meu bairro, à meia-noite o transporte é suspenso e
não tem nada para fazer’”.
E o tema passou, realmente, a “bombar” nos úl-
timos tempos. Um levantamento do jornal O Estado
de São Paulo mostra que o tempo de deslocamento
de casa para o trabalho é até 163% maior na perife-
Dossiê | MÓBILE 13
ria da capital paulista. Aproxima- DEBAIXO DO ASFALTO O autor de projetos como esse anel hidroviário de 600 quilôme-
damente 20% dos trabalhadores O que há abaixo do asfalto? A res- foi Prestes Maia, então prefeito, tros de extensão, ligando impor-
das regiões metropolitanas brasi- posta, para muitas das principais que, na década de 1930, iniciou as tantes rios da capital – o arquiteto
leiras gastam mais de uma hora vias de São Paulo, é: rios. Duran- obras do seu plano de avenidas, sugere: “o hidroanel de São Pau-
por dia no deslocamento de casa te o processo de crescimento e baseado em modelos de cidades lo seria a retomada da navegação
para o local de trabalho. Ao mes- urbanização, muitos rios foram europeias, porém sem combinar fluvial, a partir do transporte de
mo tempo, desde 2001, a quanti- canalizados e cederam espaço outras modalidades de transpor- cargas e do transporte alternati-
dade de automóveis dobrou, pas- para corredores importantes da te que não fossem roadoviaristas. vo de passageiros. Isso existiu du-
sando de 24,5 milhões para os 50,2 metrópole como a Avenida 23 de A partir daí, o carro foi tratado co- rante séculos em todas as cidades
milhões (2012). Maio e a Avenida 9 de Julho. mo uma peça-chave para a mo- do mundo e foi interrompido na
Há, ainda, o problema dos Um dos primeiros exemplos dernização do país. década de 20”, diz ele.
deslocamentos entre municípios foi a construção do Viaduto do “Como deixamos isso aconte-
que, segundo o Censo 2010, nas Chá, sobre o Vale do Anhanga- cer se, ao contrário do que se diz, NA PERIFERIA
12 principais metrópoles, é uma baú, em São Paulo. Depois, vie- mais de um terço das viagens nas Usufruir inteiramente a cidade é
realidade para 13 milhões de pes- ram outras obras de modificação, regiões metropolitanas são feitas uma possibilidade para poucos,
ALEXANDRE DELIJAICOV
soas que se deslocam, diariamen- canalização e retificação de rios. a pé porque a população não tem dada a redistribuição de territó-
Professor da FAU/USP
te, entre os municípios para tra- Os problemas decorrentes disso dinheiro?”, questiona o professor rios que formou as periferias e
balhar ou estudar. são sentidos diariamente pelos Delijaicov. No entanto, tem a res- ressignificou os espaços urbanos
“Mobilidade é uma questão Foram 500 anos de hemorragia paulistanos: rios poluídos e sem posta na ponta da língua: “é a in- pelo mercado imobiliário.
eminentemente de projetos ur- dos recursos naturais e vida, enchentes e congestiona- justiça social provocada por essa Porém, apesar de ressignifi-
banos”, explica Pirondi. “Se aliar- vampirismo das cidades mentos quilométricos. perversa distribuição de renda”. cadas, o modelo ainda é colonial,
mos competência técnica com Delijaicov é considerado, por como descreveram Pirondi e De-
vontade política teremos boas ci- muitos, como o “inimigo número lijaicov. Se antes havia a distinção
dades. Temos que inverter a equa- um dos carros”, considerando os colonial entre a “Casa Grande” e
ção de hoje e colocar, em primeiro automóveis uma arma e os mo- a “Senzala”, hoje essa lógica foi
lugar, o pedestre, depois os veí- toristas, por consequência, assas- substituída por “centro” e “peri-
culos não motorizados e os me- sinos em potencial. Cita as mor- feria” e, cada vez mais, cresce o
canizados coletivos. O carro viria tes no trânsito – 22,5 para cada número de espaços particulares
somente por último”. 100 mil habitantes, a maior taxa que diferenciam e separam as
Em seguida, ele preanuncia: desde que os dados começaram classes com maiores e menores
“no futuro, vão pensar que não a ser contabilizados – e vaticina: condições financeiras, como os
batíamos bem da cabeça. Colo- “nós não precisamos de carros. condomínios fechados.
camos pessoas para viver a mais Se houvesse pontos de emprego Ao mesmo tempo, um total de
de 20 quilômetros de distância e de trabalho distribuídos pela ci- 11.425.644 pessoas - o equivalen-
do trabalho, depois construímos dade - até uma distância de 20 ou te a 6% da população do país - ou
um sistema de transporte urbano 30 minutos de caminhada, peda- pouco mais de uma população in-
embaixo da terra que custa um lada ou transporte sobre trilhos teira de Portugal ou mais de três
milhão de dólares o metro para – teríamos um melhor índice de vezes a do Uruguai - vive, atual-
trazermos eles para esse mesmo urbanidade e de melhora coletiva mente, em aglomerados subnor-
local. Fizemos rios ficarem re- na vida das pessoas”, afirma ele. mais, em condições precárias de
tos e, não contentes, invertemos Delijaicov propõe uma so- moradia. A maioria esmagadora
o fluxo das águas, sempre para lução para desafogar o tráfego: desses domicílios está concen-
mercantilizar o espaço urbano. utilizar os rios. Com importantes trada em um grupo de 20 Regi-
Vão pensar: esse povo do passa- projetos para a mobilidade urba- ões Metropolitanas (RMs) - são
do era estúpido!”. na – como a construção de um 88,6%, ao todo.
Dossiê | MÓBILE 15

UMA
METRÓPOLE
DESENHADA
A descentralização das políti- “Hoje seria fundamental ter um
cas sociais, durante a década de organismo metropolitano com
1990, avançou mais em algumas autoridade entre os municípios.
áreas - como saúde, educação Então, a partir de 2013, os temas
e assistência social - do que em relativos à cidade vêm ganhando
outras - saneamento ambiental e mais visibilidade”.
habitação, por exemplo. Também A construção desse Estatuto
avançou com a criação de espaços articularia redes que ultrapassa-
de participação social. riam as fronteiras de um muni-
Somente a partir de 2003, há cípio, pois hoje dificilmente uma
mudanças significativas nos ar- cidade isoladamente tem força
MORADIA vermelho e precisava tomar uma é aí que vem o nosso papel, de mo- ranjos de gestão em torno da polí- política para determinar a estra-
Desde a extinção do Banco Nacio- cruel decisão: pagar o aluguel ou vimento social. Quando coloca- tica de desenvolvimento urbano, tégia de investimentos e gestão
nal de Habitação (BNH), em 1986, comprar comida. “Assim é com mos um feijão em uma panela de já que antes os conselhos envol- destas infraestruturas. No entan-
a habitação social não avançou inúmeras famílias no Brasil”, con- pressão, ele cozinha mais rápido vendo políticas urbanas eram to, algumas iniciativas caminham
na agenda das políticas sociais e, ta ela. “Porém, nossa Constituição que em uma panela normal. Sa- inexistentes em grande parte dos para construir essas redes.
com isso, os problemas habitacio- garante que temos direito à mora- bemos que, mais dia, menos dia, municípios e não havia nenhum
nais se agravaram. dia digna, com infraestrutura bá- o feijão vai cozinhar, ou seja, tere- conselho de âmbito nacional liga- OS CONSÓRCIOS
A Fundação João Pinheiro sica com esgoto, água e serviços mos moradia popular. Mas nosso do a políticas urbanas. A associação de municípios em
estimou que, em 2008, o déficit de coleta de lixo. Não é um pedi- movimento é botar pressão para A criação do Ministério das consórcios públicos – principal-
habitacional brasileiro estava em do, é um direito constitucional”. que o governo agilize as políticas Cidades, a realização da I Confe- mente os pioneiros consórcios do
cerca de 5,5 milhões de unidades, Para isso, ela defende que públicas para moradia”. Somente rência das Cidades, em 2003, e a ABC e do rio Piracicaba – foi uma
sendo 1,5 milhão nas regiões me- os governos implantem moradia em 1996, foi incluída na Constitui- institucionalização do Conselho das respostas que emergiram, re-
tropolitanas. Desses totais, 90% social, direito concedido a pes- ção o Direito à Moradia como um das Cidades, em 2004, deram iní- centemente, para enfrentar os li-
correspondem a famílias em situ- soas de baixa renda a uma casa direito social, uma obrigação do cio a um processo de construção mites da ação puramente muni-
ação de pobreza, com renda fami- ou apartamento por meio de do- Estado brasileiro. da política nacional de desenvol- cipal. São inúmeros os exemplos
liar de até três salários mínimos. ação ou financiamento com va- Porém, de acordo com Graça vimento urbano envolvendo con- no Brasil de associativismo temá-
O IBGE estima que os domi- lores mensais módicos que não Xavier, os movimentos por mo- ferências municipais e estaduais, tico, como lixo, saúde e transpor-
cílios em áreas de favelas somam comprometam o orçamento das radia têm avançado na resolução e a adoção de estruturas norma- tes, agregando setores que ultra-
um total de 3,2 milhões. famílias. Mas, para isso, segundo dos problemas. “Hoje os movi- tivas representativas, em acordo passam os limites das cidades,
Maria das Graças Xavier é ela, ainda é preciso muita luta. “E mentos sociais por moradia con- com os princípios defendidos his- integrando-as. Em Minas Gerais,
coordenadora da União Nacional seguem incidir nas políticas pú- toricamente pelos movimentos por exemplo, 92% dos municípios
por Moradia Popular (UNMP) blicas”, afirma. “Não são mais só nacionais pela reforma urbana. estão envolvidos em Consórcios
CIRO PIRONDI
e fazia parte dessas estatísticas. reivindicações, já apresentamos “As cidades sumiram da Intermunicipais de Saúde.
Diretor da Escola da Cidade
Morava na Vila Oliveira, peri- propostas concretas junto aos go- agenda depois da criação do Mi- “Contraditoriamente, quan-
feria da Zona Sul de São Paulo, vernos. Eu diria que o movimento nistério das Cidades”, afirma a do a lei de colaboração federati-
ganhava salário mínimo e preci- No futuro, as avançou na liquidez das políticas professora Maricato. Segundo a va é criada, em dezembro de 2005,
sava, com o parco salário, pagar pessoas vão pensar públicas; não esperamos mais, urbanista, o Ministério das Cida- ela entra em declínio. Tínhamos
aluguel e todas as contas de casa. que não batíamos corremos atrás e apresentamos des conduz a política urbana co- na década passada alguns en-
No final do mês, sempre estava no bem da cabeça nossas propostas”. mo se fosse uma soma de obras. saios, mas aquela energia que se
Dossiê | MÓBILE 17
colocava na discussão dos con- individual. Mas as mudanças que
sórcios desaparece: quando a aconteceram a partir de junho,
esfera federal assume mais pro- como suspender o aumento da
tagonismo, o protagonismo mu- tarifa de ônibus em 100 cidades,
nicipal cai”, analisa Maricato. já mostram uma transformação”.
Entretanto, embora os con- Pirondi também já vê algu-
sórcios representem um passo mas transformações, o que man-
importante para a construção de tém em pé seu otimismo. Uma
uma cooperação horizontal entre delas, segundo o arquiteto, é que
municípios, seu caráter essencial- nos últimos 25 anos cresceu a
mente monotemático e a não par- consciência ecológica, fato arrai-
ticipação da comunidade, os tor- gado às novas gerações. Outro fa-
nam, de certa forma, limitados tor é a ideia de que a cidade pode
enquanto alternativa de gestão – “e deve” – ser desenhada, não
efetivamente cooperativa e am- autoritariamente, mas em uma
plamente democrática. grande e incessante obra coletiva.
A gestão dos recursos hídri- “A palavra desenho vem do
cos, que avançou na construção latim, designare, que significa de-
de novas formas de gestão com a sejo”, explica ele, didaticamente.
organização dos Comitês de Ba- “Esse desejo de desenhar uma ci-
cias Hidrográficas envolvendo a dade para todos é um desejo que
comunidade, é outra forma con- já está em todas as manifestações,
temporânea de gestão supralocal. o que me leva a crer que cada vez
Os Comitês de Bacias têm por ba- mais encontraremos caminhos
se experiências de associação e de para sairmos dessa rota de coli-
consorciamento que partem dos são. É um desejo que está vincula-
próprios municípios envolvidos e do a todo um processo construti-
afetados por problemas comuns, vo de uma sociedade mais digna.
mas que, por sua natureza, extra- É uma tomada de decisão huma-
polam o nível local. na que mostra que da forma que
estávamos, provocaríamos um
TRANSFORMAÇÕES desastre irreversível”.
Uma dúvida perpassa a cabeça de Delijaicov defende que cons-
grande parte dos moradores das truir uma cidade policêntrica é ur-
metrópoles: é possível transfor- gente, o que ajudaria na constitui-
mar os espaços em que vivemos? ção de uma estrutura ambiental
“A minha geração aposta metropolitana com maior bem-
sempre em uma visão holística e -estar individual e coletivo. “Na
numa transformação pela refor- construção de uma coletividade
ma ou revolução”, responde Ma- territorial, uma visão sistêmica de
ricato. “Já hoje se aposta em uma que podemos construir em con-
Mais de 5,5 milhões participação direta. Os jovens da junto a cidade é importante. A coi-
dos brasileiros periferia, por exemplo, têm um sa mais importante para a arqui-
não têm acesso à motivo pra revolta, já os de classe tetura é a cidade. Esse projeto é
moradia digna média tem um motivo que é mais de autoria fundamentalmente co-
Dossiê | MÓBILE 19

O QUE É O
letiva, dentro de um alicerce ético,
uma estrutura estética, buscando
uma dimensão das virtudes e da
ESTATUTO DA
METRÓPOLE?
arte de viver com as diferenças”.
Para o arquiteto, cada pessoa
pode construir uma cidade me-
lhor: “as cidades precisam promo-
ver pontos de encontro, uma ca- O Congresso Nacional, por contra leis e planos diretores. Na
pilaridade de esquinas culturais. meio de uma Comissão Especial, calada da noite, em determina-
A cidade policêntrica vai desde a já discute a aplicação de instru- das mesas, são decididas quais
retomada da rua para encontros mentos disponíveis para planeja- megaobras realizar e para onde
e convivências das diferenças e a mento e ação regionalizada das vai o fundo público”.
retomada qualidade de vida, mas metrópoles, prevista na Consti- Pirondi avalia o avanço de um
passa fundamentalmente pela in- tuição de 1988. O Projeto de Lei nº Estatuto para planejar as metró-
fraestrutura da construção coleti- 3.460/2004, de autoria original do poles, mas também destaca a ne-
va das coisas públicas, que é uma deputado federal Walter Feldman cessidade de fazer frente a esses
arte da República democrática de (PSB-SP), denominado “Estatuto capitais. “É preciso primeiramen-
fato participativa sem jogo de ce- das Metrópoles”, foi aprovado te redesenhar a cidade e, somente
na”, afirma Delijaicov. na Câmara dos Deputados e ago- depois, escrever em lei”, diz ele.
“A cidade também é a cons- ra segue para o Senado Federal. “Todas as nossas iniciativas ante-
trução de um processo educa- O texto aprovado define dire- riores eram assim: construir leis
cional”, afiança Pirondi, com oti- trizes para a Política Nacional de para o desenho da cidade. Preci-
mismo. “É algo muito importante Planejamento Regional Urbano e samos fazer essa inversão, ouvin-
para estar nas mãos de apenas disciplina o processo de criação do a população e a universidade
uma categoria profissional ou po- de novas metrópoles pelos es- para, assim, representar o anseio
lítica. Ela deve ser, antes de mais tados, visando contribuir para o popular. A cidade é o artefato hu-
nada, uma construção coletiva, processo de gestão metropolita- mano mais engenhoso que somos
que deveria começar desde ce- na, principalmente em questões capazes de construir”.
do, junto aos pequenos na escola de mobilidade e processo de cole- Se aprovado o Estatuto, as
primária, com uma disciplina que ta e tratamento final do lixo. metrópoles brasileiras, que du-
chamaria história das cidades. A professora Maricato, no rante muito tempo foram consi-
Isso nos ajudaria a construir um entanto, mantém certo ceticismo deradas “órfãs” de mecanismos
processo afetivo pela cidade: você em relação a mudanças significa- e instrumentos de uma gestão
gostar dela. Afinal, as cidades re- tivas com a implantação do Esta- urbana integrada, teriam uma
presentam esse anseio humano: tuto. “Não acredito mais em leis”, lei que as regulamentariam. Ho-
estarmos juntos.” afirma ela, “mas sei que elas são je, o processo de urbanização no
necessárias para respaldar a lu- Brasil – fortemente polarizado
ta social”. Segundo a professora pelas regiões metropolitanas – é
ERMÍNIA MARICATO
é preciso analisar a efetividade intensamente discutido pela so-
Professora aposenta da USP
dos mecanismos de participação. ciedade, buscando combinar de-
“Nunca fomos tão participativos, senvolvimento regional com de-
As leis são temos leis, conselhos e experti- senvolvimento urbano, criando
necessárias para se, porém perdemos a batalha na uma rede integrada de serviços
respaldar a luta correlação de forças: os capitais e estabelecendo critérios sobre o
social produzem e mandam na cidade uso do solo urbano.
20 MÓBILE | curtas do Cau curtas do Cau | MÓBILE 21
janeiro. Já o Vice-Presidente Universidade São Francisco,
do CAU/SP, Gustavo Ramos ministrando aula inaugural
Melo, prestigiou, também no para 450 alunos da faculdade
início deste ano, eventos de de Arquitetura e Urbanismo.
formatura de 85 estudantes Na Universidade Braz Cubas,
nas universidades UMC e Braz a Diretora Técnica Márcia
Cubas, em Mogi das Cruzes e Mallet Machado de Moura
Santa Cecília, em Santos. marcou a presença do CAU/
SP na primeira aula do curso.
Eles falaram sobre os desafios
SEDES REGIONAIS da profissão, a conquista e
A diretoria do CAU/SP realizou a construção do Conselho
no dia 07 de fevereiro de 2014 a de Arquitetura e Urbanismo
primeira reunião de organização e esclareceram dúvidas de
e trabalho com os gerentes das estudantes e professores sobre
sedes regionais do Conselho o funcionamento do Conselho e
rumo à implantação dos nos projetos na área.
escritórios por todo o estado
de São Paulo. O encontro foi
um passo importante para INSTALAÇÃO DO CEAU
a capilarização das ações No dia 22 de janeiro, nas
estratégicas de descentralização dependências do CAU/SP, foi
da entidade. realizada a primeira reunião INAUGURAÇÃO DAS REGIONAIS » Seguindo a proposta de capilarização e
do Colegiado Permanente descentralização do CAU/SP, foram inauguradas quatro subsedes do Conselho no interior paulista.
CONCURSO PÚBLICO das Entidades Nacionais de A primeira foi na cidade de São José dos Campos, no dia 16/04 e atende a região do Vale do Paraíba
O CAU/SP realizou concurso Arquitetos e Urbanistas do e do Litoral Norte. A segunda, na cidade de Santo André, aconteceu no dia 8/05, e atende a região
público para preenchimento de Estado de São Paulo – CEAU/ do ABC. A terceira, foi inaugurada em Santos, no dia 30/05, e, recentemente, a quarta, no dia 13/06,
86 vagas em empregos de nível SP. A instalação do CEAU/SP em Bauru. As sedes regionais aproximarão o Conselho do profissional, arquiteto e urbanista no
superior e médio, na capital cumpre o artigo 61 da Lei nº CRIAÇÃO DOS GTS estado de São Paulo. “A implantação das sedes atende a um anseio muito grande dos profissionais e
e interior do estado. A prova, 12.378 de 2010 e a resolução No dia 08 de novembro de 2013, um compromisso desta gestão de fundação do CAU/SP com a consolidação do Conselho em todas
com teste, redação e prática, nº 33 do CAU/BR. Além do foram instalados os 13 Grupos as regiões do Estado”, afirma o Presidente do CAU/SP, Afonso Celso Bueno Monteiro. O Conselho
aconteceu no dia 27 de abril e CAU/SP, o Colegiado congrega de Trabalho Temáticos que darão paulista vai instalar escritórios também nas cidades de Campinas, Mogi das Cruzes, Presidente
segue a obrigatoriedade legal de representantes de mais sete apoio às ações institucionais Prudente, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e Sorocaba.
contração para o funcionamento entidades representativas de do CAU/SP. Os arquitetos e
do Conselho como uma arquitetos e urbanistas que, urbanistas, indicados para
autarquia federal. juntas, debaterão questões compor os GTs, foram divididos
de interesse de classe dos e alocados, considerando suas
FORMATURAS profissionais. Os encontros experiências e afinidades com os Profissional, BIM – Informática uma vez por mês. O trabalho Código de Ética e Disciplina
O Presidente do CAU/SP, são bimestrais, podendo haver seguintes temas: Acessibilidade, Aplicada à Arquitetura, desses GTs deverá durar todo o dos arquitetos e urbanistas
Afonso Celso Bueno Monteiro, também sessões extraordinárias. Arquitetura Paisagística, Ensino Mobilidade Urbana e Revista ano de 2014. brasileiros. A definição desse
participou da formatura de e Formação, Habitação, Meio do CAU/SP. Cada grupo conta Código é uma exigência prevista
43 alunos da Universidade AULA INAUGURAL Ambiente, Patrimônio Histórico, com cinco membros titulares e CÓDIGO DE ÉTICA DO CAU na Lei 12.378 de 2010, que criou
do Oeste Paulista (Unoeste), O Presidente do CAU/SP, Urbanismo – Plano Diretor, dois substitutos, com reuniões Foi aprovado na 21ª Reunião o CAU/BR, e está alinhada aos
na cidade de Presidente Afonso Celso Bueno Monteiro, Arquitetura de Interiores, ordinárias programadas para Plenária do CAU/BR, no dia 15 compromissos históricos da
Prudente/SP, no dia 31 de deu início ao período letivo da Assistência Técnica, Exercício desenvolvimento das atividades de agosto de 2013, o primeiro profissão. O texto é dividido em
22 MÓBILE | curtas do Cau curtas do Cau | MÓBILE 23
seis seções que contém tanto
os princípios - que são normas
de aplicação genérica, teórica
ou abstrata - como também as
regras, que serão de aplicação
específica e voltadas para casos
concretos. Esse texto ainda
inclui algumas recomendações
que servem para orientar os
profissionais.
CRIAÇÃO DO FÓRUM DE VISÃO, MISSÃO E VALORES NOTA DE FALECIMENTOS
PRESIDENTES Conselheiros titulares e O CAU/SP lamenta o
Presidentes dos CAUs suplentes, com o apoio falecimento do Conselheiro
reuniram-se em São Paulo, nos operacional de funcionários, Federal Miguel Pereira, no dia
dias 05 e 06 de fevereiro de elaboraram coletivamente 15/05, aos 81 anos, em Santa
2013, para a criação do Fórum a identidade organizacional Catarina. Ele havia tido um
de Presidentes, instância que do CAU/SP. A ação compõe acidente vascular cerebral
discute e alinha as condutas o trabalho de Planejamento em novembro de 2013, seguia
entre os Conselhos Estaduais. Estratégico, desenvolvido pela em recuperação, mas teve
A pauta, comandada pelo FIA – Fundação Instituto de uma parada cardíaca. Nascido
presidente do CAU/SP, Afonso Administração. O CAU/SP deve em Alegrete, interior gaúcho,
1º SEMINÁRIO DE Celso Bueno Monteiro, tratou ser referência para a sociedade Conselheiro Federal eleito
FISCALIZAÇÃO de assuntos como a organização na busca da melhor qualidade por São Paulo, Miguel Pereira
Nos dias 24 e 25 de abril de do Fórum com a criação do de vida para a população e no graduou-se em arquitetura e
2013, o CAU/SP realizou seu calendário anual de reuniões, exercício pleno da arquitetura Urbanismo na Faculdade de
1º Seminário de Fiscalização, o formato e organização dos e urbanismo. Sua missão é CAU/SP NA 1ª CONFERÊNCIA NACIONAL Arquitetura da Universidade
para orientar os profissionais. trabalhos dos estados, os garantir à sociedade a confiança DE ARQUITETURA E URBANISMO » O CAU/SP Federal do Rio Grande do Sul.
O evento foi organizado pela mecanismos de fiscalização, e qualidade nas atividades esteve presente na 1ª Conferência Nacional de Arquitetura O arquiteto também integrou
Diretoria Técnica do CAU/SP e o fundo de apoio aos CAUs executadas pelos profissionais e Urbanismo, realizada entre os dias 22 e 25 de abril, em as primeiras reuniões do Grupo
teve como objetivo apresentar deficitários e as bases para arquitetos e urbanistas; Fortaleza. O evento aconteceu simultaneamente ao 20º de Trabalho da revista Móbile.
os fluxos de operações da o concurso para contratação garantir o cumprimento Congresso Brasileiro de Arquitetos e debateu o exercício da O conselho lamenta também
fiscalização do Conselho. Entre da equipe técnica. A ideia é de compromissos éticos profissão, ética profissional, políticas públicas nacionais e o falecimento do arquiteto e
os temas abordados, estiveram a que o plano de trabalho seja dos profissionais; garantir regionais e diversos outros temas de interesse da arquitetura urbanista João Filgueiras Lima,
estrutura da fiscalização, a rotina desenvolvido em nível nacional, a excelência na formação e e urbanismo. “Nessa Conferência, discutimos os rumos da mais conhecido como Lelé,
(certidões, RRTs e registros de com a participação dos estados qualificação de arquitetos e arquitetura e do urbanismo, para onde o nosso Conselho no dia 21/05, em Salvador/
pessoa jurídica), a apresentação na elaboração de uma política urbanistas; garantir o acesso à deve ir e a importância da área em relação à sociedade e à BA. Ele tinha 82 anos e estava
da Comissão de Exercício de gestão para os próximos 10 arquitetura e urbanismo a todos valorização da nossa profissão. São discussões que refletem o internado há mais de dois meses
Profissional e do Termo de anos. Desde então, os encontros os segmentos da sociedade. surgimento do Conselho e devem ser discutidos por todos”, em decorrência de um câncer.
Cooperação que foi assinado aconteceram em todo o país, Seus valores são a valorização destaca Afonso Celso Bueno Monteiro, presidente do CAU/ Nascido em 1932 na capital
entre CAU/SP, CAU/BR e a como Gramado/RS, Campo do profissional; criatividade e SP, que esteve no evento com 36 conselheiros. Para o diretor fluminense, Lelé formou-se em
Prefeitura Municipal de Ribeirão Grande/MS, Palmas/TOBoa inovação; gestão democrática financeiro do CAU/SP, Éder Roberto da Silva, a Conferência arquitetura e urbanismo pela
Preto. O seminário também Vista/RR, Rio de Janeiro/RJ e participativa; transparência; indicou uma nova fase: o diálogo com a sociedade com a Universidade Federal do Rio
contou com uma elucidativa e Brasília/DF, sempre com o responsabilidade socioambiental divulgação das responsabilidades do Conselho. de Janeiro e participou, entre
palestra sobre VANTs (Veículos intuito de debater sobre os e inclusão social; eficiência e outros inúmeros projetos, da
Aéreos Não Tripulados). desafios comuns aos CAUs. eficácia; excelência. construção de Brasília.
24 MÓBILE | Normas e Procedimentos Normas e Procedimentos | MÓBILE 25

U A
m conselho de portas abertas para o di- gestão administrativa do CAU/SP inova
álogo. Assim pode ser descrita a relação AJUDA QUE É TECNOLOGIA ao conciliar o máximo de eficiência das
do CAU/SP com as entidades de arquite-
tura e outras associações. Afinal, o CAU/
BEM-VINDA COMO ALIADA novas ferramentas da tecnologia com a
valorização do atendimento pessoal. O
SP nasceu da necessidade da sociedade contar com diretor administrativo do CAU/SP, Gerson Geraldo
profissionais legal e tecnicamente habilitados, prote- Mendes Faria, conta que a atual diretoria adminis-
gendo-a da atividade ilegal de leigos e de não aptos e trativa assumiu no mês de outubro de 2012 e, des-
as Associações de Engenheiros e Arquitetos são uma de então, vem implementando novas ferramentas e
maneira de afirmar valores e viver a cidadania plena, práticas na administração do Conselho. Entre elas
congregando profissionais legalmente habilitados. está a criação e organização do sistema de atendi-
Os estatutos das entidades de classe reafirmam mento ao profissional, com o sistema de coleta bio-
os valores do CAU/SP, desenvolvendo um importante métrica, registro profissional, atendimento ao profis-
papel de conscientização e fiscalização da sociedade, sional online e presencial.
na qual, por meio de suas ações, promove a cidadania, “No início, houve várias dificuldades da implan-
defende o meio ambiente, valoriza o profissional, zela tação dos sistemas online, como o SICCAU”, comen-
pela ética e pela defesa dos profissionais. tou o diretor financeiro adjunto do CAU/SP Pietro
“Costumo dizer que nosso Conselho é participa- Mignozzetti. “Mas hoje, seguramente, qualquer pro-
tivo, onde todos podem opinar e toda ajuda é bem- blema que encontrarmos será superado. Sempre de-
-vinda, nesse ponto as associações atuam como um ve existir o aprimoramento”. Outro ponto levantado
braço do Conselho”, diz o vice-presidente do CAU/ por Faria é o trabalho realizado juntamente com uma
SP Gustavo Ramos Melo. “Onde existe uma entidade equipe de funcionários e técnicos do Conselho de le-
atuante, diminui-se a quantia de leigos exercendo o vantamento para a escolha e implantação das sedes
nosso papel e, em contrapartida, existe uma socieda- regionais do CAU/SP.
de que se sente protegida”, defende. O Conselho tem condição de “Estamos em uma fase importante, que é a im-
Além disso, a relação do CAU/SP com as entida- patrocinar qualquer tipo de incentivo plantação das sedes regionais, que faz parte desse
des é diferente da do Conselho anterior que tinha uma cultural na área de arquitetura processo de descentralização do CAU/SP”, constata
lei que dava às entidades de classe 10% do valor pa- A implantação das sedes o diretor financeiro do CAU/SP, Éder Roberto da Sil-
go pela ART, Anotação de Responsabilidade Técnica Afonso Celso Bueno Monteiro regionais faz parte do processo de va. “Nosso objetivo é a aproximação presencial do
Profissional. Na Lei do CAU, isso não existe. Porém Presidente do CAU/SP
descentralização do CAU/SP Conselho, por meio de seus conselheiros e de sua
foi encontrada uma saída legal para fazer esse auxí- diretoria, do profissional de arquitetura, onde ele es-
lio, que é o edital de patrocínio, assim, a entidade que Éder Roberto da Silva tiver no estado”.
Diretor financeiro do CAU/SP
fizer uma ação na área de arquitetura é remunerada. Entre outras ações desenvolvidas pela diretoria
“Nós abrimos o edital, a entidade apresenta um administrativa estão o processo de recadastramen-
projeto e, se esse projeto estiver correto, nós a re- to de todos os profissionais do estado de São Pau-
muneramos”, explica o presidente do CAU/SP Afon- lo; o treinamento dos funcionários do CAU/SP nos
so Celso Bueno Monteiro. “Na sequência, a entidade módulos do SICCAU; o processo de licitação para a
faz uma prestação de contas. Isso é um ganho muito Nosso Conselho é participativo, toda retirada da documentação dos profissionais do arqui-
grande para o arquiteto, pois ele vai ter acesso a ati- ajuda é bem-vinda e as associações vo do antigo Conselho; estruturação dos setores de
vidades como ciclo de palestras, seminários, edição atuam como braço do CAU/SP patrimônio - que possibilitou a compra de todos os
de livros. O CAU/SP tem condição de patrocinar qual- Houve dificuldades na implantação equipamentos do CAU/SP por meio de licitação -, tec-
quer tipo de incentivo cultural na área de arquitetura”. Gustavo Ramos Melo dos sistemas online, como o SICCAU, nologia da informação e recursos humanos; implan-
Vice-presidente do CAU/SP
mas hoje estão superadas tação do Comitê de Gestão Ambiental, formado por
funcionários; ações de coletas itinerantes no interior
Pietro Mignozzetti e atual trabalho de ampliação da rede de telefonia,
Diretor financeiro adjunto do CAU/SP
mobiliários, manutenção e segurança, entre outros.
26 MÓBILE | Normas e Procedimentos Normas e Procedimentos | MÓBILE 27

E A
sclarecer as especificidades da profissão. s ações do CAU/SP junto às instituições de
Esse é o principal diferencial da Lei do DIREITOS TRABALHO ensino são constantes. “O papel da Dire-
CAU. Isso porque a Lei 5.194/66, do Con-
selho anterior, envolvia as atribuições dos
E DEVERES QUE COMEÇA toria de Ensino e Formação do CAU/ SP é
estar sempre presente nos cursos de Ar-
engenheiros e arquitetos e era evasiva com relação DEFINIDOS NA BASE quitetura e Urbanismo. Assim, em conjunto, vamos
às prerrogativas profissionais específicas de cada ati- melhorar cada vez mais a formação profissional com
vidade. Com a implantação da Lei 12.378/2010, que ética, responsabilidade social e respeito à socieda-
criou o CAU/BR, as atribuições do profissional de ar- de”, afiança o diretor de ensino e formação do CAU/
quitetura, que antes eram definidas por resolução, SP, João Carlos Correia. Ele também destaca as ativi-
ficaram esclarecidas. “Na lei está escrito exatamente dades desenvolvidas pelo CAU/SP, como o trabalho
o que o arquiteto pode e não pode fazer e esse é o junto às instituições de ensino superior que possuem
grande ganho da nossa classe”, pontua o presidente curso de Arquitetura e Urbanismo.
do CAU/SP Afonso Celso Bueno Monteiro. “Fazemos o auxílio no cadastramento dos cursos
Já Marcia Mallet, diretora técnica do CAU/SP, res- e egressos das 89 Instituições de Ensino Superior de
salta a importância da lei. “Como há uma discussão Em conjunto, vamos melhorar cada São Paulo”, cita Silvio Dias, o então diretor adjun-
sobre o sombreamento profissional, as nossas atri- vez mais a formação profissional com to e atual diretor de relações institucionais adjunto.
buições agora são resguardadas por uma lei federal ética e respeito à sociedade “Também fazemos o contato com coordenadores de
que tem mais força do que qualquer resolução de um curso para elaboração de RRTs de cargo e função; a
órgão de classe”, afirma ela. João Carlos Correia inserção de documentos referentes ao curso - PPC,
Diretor de ensino e formação do CAU/SP
A definição de um Código de Ética também é uma autorização, reconhecimento - e a lista de egressos,
exigência prevista na Lei. O Código de Ética e Disci- no caso de Instituições de Ensino Superior que já for-
plina para Arquitetos e Urbanistas foi aprovado na mam turmas”.
21ª Reunião Plenária do CAU/BR, realizada em 15 de Outras ações da Diretoria de Ensino e Formação
agosto de 2013, e define parâmetros de conduta pa- Na Lei do CAU/SP está escrito o que o com instituições de ensino são participação em Ses-
ra o exercício da profissão de arquiteto e urbanista arquiteto pode ou não fazer. Esse é o sões Solenes de Colação de Grau e Semanas de Ar-
alinhados ao compromisso histórico com propósitos grande ganho da classe quitetura e Urbanismo; recebimento de processos de
humanísticos, de preservação socioambiental e iden- arquitetos e urbanistas diplomados no exterior - co-
tidade cultural da profissão. Afonso Celso Bueno Monteiro mo os de profissionais portugueses, decorrentes do
Presidente do CAU/SP
O texto traz princípios, regras e recomendações acordo com a Ordem dos Arquitetos Portugueses, so-
que devem ser igualmente observadas pelas socie- licitando registro temporário, de acordo com o tempo
dades de prestação de serviços com atuação no cam- Auxiliamos no cadastramento dos determinado em contrato de trabalho.
po da Arquitetura e Urbanismo. Além disso, a Lei cursos e egressos das 89 Instituições de Além disso, há o acompanhamento das solicita-
do CAU aperfeiçoa a legislação no que diz respeito Ensino Superior de São Paulo ções de registros profissionais pelo SICCAU e enca-
ao exercício profissional: “não basta ser formado em minhamento de documentos como certificado e di-
uma faculdade de arquitetura. Para receber o títu- Silvio Dias ploma para confirmação de veracidade e efetivação
Diretor de relações institucionais adjunto do CAU/SP
lo de arquiteto profissional, a pessoa deve ser regis- do registro; elaboração de mapas e gráficos referen-
trada no CAU”, detalha o presidente. O registro no tes ao crescimento das Instituições de Ensino Supe-
Conselho se dá por meio da emissão da Carteira de rior no Estado de São Paulo – número de vagas ofere-
Identificação Profissional, que tem validade em todo cidas, arquitetos ativos por região etc. – para análises
o território nacional, sem prazo de vencimento, fun- Não basta ser formado em arquitetura. e acompanhamento e participação na elaboração do
ciona como comprovação do registro profissional e Para ser um profissional, o arquiteto planejamento estratégico do CAU/SP.
também como identificação civil, substituindo o RG. deve se registrar no CAU
É produzida em policarbonato e contém um chip que
armazena informações do arquiteto e urbanista, com Márcia Mallet
Diretora técnica do CAU/SP
sua certificação digital.
28 MÓBILE | Em debate Em debate | MÓBILE 29
HUGO SEGAWA | Arquiteto e professor da FAU/USP na leitura do Livro 1 perceberá que Vitrúvio tratava CIRO PIRONDI | Arquiteto e diretor da Escola da Cidade
de saberes que dois mil anos depois têm outras con-
SABERES E figurações. Mas a semântica fundamental prevalece. UM DESENHO
FAZERES NA O arquiteto vitruviano tem seu lugar no mundo con-
temporâneo, com mais saberes e fazeres agregados.
SOBRE AS
ARQUITETURA Penso que João Filgueiras Lima (1932-2014), o Le- INCERTEZAS
lé, era um arquiteto vitruviano. Mas ele tinha o per-
Não me recordo do motivo do bate-papo, mas fil do homme d’usine na concepção de Jean Prouvé, Não pode ser esta uma dis-
lembro das palavras de Lucio Costa em nossa con- ou do master builder pensado por Waltrer Gropius. cussão acadêmica. A tentativa
versa: “Há uma distinção entre Beaux Arts e Fine Arts. Lelé também era aquele que oferece aos amigos um contínua da academia de estabe-
Arquitetura é parte das Beaux Arts; na cultura anglo- CD com músicas de sua composição e interpretação. lecer dualidade entre uma coisa
-saxônica, diz-se Fine Arts and Architecture”. Qual- Recordo de o pianista Marcelo Bratke contar-me de ou outra, tem sido ruim. A invenção da Humanidade
quer dicionário em inglês atual inclui a Arquitetura suas conversas com Daniel Libeskind, também um A arquitetura, aquela que su- é uma aventura onde ao sobrevi-
entre as Fine Arts. Todavia o Dr. Lucio tinha razão. músico. Não caberia no limite deste artigo listar os pera sua dimensão apenas física, ver tivemos a urgência de impor
Havia uma contenda entre Fine Arts e Applied Arts cineastas, dramaturgos, escritores, artistas plásticos, sempre esteve, no mínimo, inun- o existir, estabelecer relações, ar-
que deveria estar vigente nos seus anos formativos, performers e outros criadores que saíram das escolas dada de um propósito, uma inten- riscarmos e riscarmos novos de-
nas primeiras décadas do século 20. Applied Arts co- de arquitetura, mesmo que nunca tenham realizado ção artística, sem a qual ela é ape- senhos, nem sempre possíveis.
mo contraponto a Fine Arts porquanto útil, para além arquitetura no sentido convencional. Há um substra- nas construção. Arquitetura é um desenho so-
de simplesmente evidenciar a criatividade artística. O to na arquitetura que não se evidencia no edifício, na Para ser arquitetura tem de bre essas incertezas, entre as apa-
movimento Arts and Crafts e a Bauhaus estão entre cidade, mas está imbricado naqueles que os conce- ser mais que a pedra. Seria como rentes contradições da curva e da
os passos que lentamente dissolveram a querela que bem e realizam. Uma imbricação que permite dizer se disséssemos: a pedra só não reta, do claro e do escuro, onde
despontou com a escalada da indústria na segunda até que arquitetura é arte. Na realidade, arquitetura basta; a vida só não basta; o abri- há o rigor necessário da técnica,
metade do século 19. é arquitetura. go somente é incompleto. sobrepomos o valor humano do
Um moderno como Lucio Costa tinha a consciên- Arquitetura é um conheci- sonho. A virtude da beleza. bradiça e maçaneta. É um rito de
cia de seu tempo e de outros tempos. A arquitetura de mento de fronteiras, como um Vemos, por vezes, a arquite- passagem seletivo do corpo, um
arquitetos deve ser vista em seus contextos: no Japão, rio. Multidisciplinar e contradi- tura adquirir seu real significado divisor entre mundos. Uma jane-

AR
o daiku era o carpinteiro que concebia e executava a toriamente específico. Ou melhor, quando cessa a função que a ge- la, um “vazio”em um muro, pro-
obra. Na Idade Média o arquiteto também era maçom só se completa nas suas contradi- rou: Stonehenge (Irlanda), Pante- vavelmente tenhamos demorado
(aquele que executa a obra, pedreiro); os arquitetos ções, o que motivou Carlo Argan on (Grécia), SESC Pompéia (São milênios para abrir esses interva-

QUITE
das catedrais góticas eram hábeis em erguer extraor- a dizer que sempre projetamos Paulo), os fortes de São Marcelo los na pedra, para deixarmos pas-
dinárias estruturas que precederam o tirocínio da en- contra... as intempéries; a espe- (Bahia) e São Jorge (Portugal). Por sar nosso olhar, nossos sonhos,
genharia do século 19, quando engenheiros e outros culação imobiliária etc. isso, para os gregos a dificulda- ver fora e imaginar...

TURA
práticos construíram arquiteturas que desagradavam de de evoluírem na técnica tanto O Instrumento e a Linguagem
os arquitetos arraigados nos cânones Beaux Arts. quanto eles foram capazes de fa- - e Arquitetura é uma linguagem
A responsabilidade e a complexidade da arquite- zer na filosofia e na arte. - sempre fizeram parte das civi-

É ARTE
tura hoje aproxima o arquiteto da concepção renas- Talvez inventamos a técnica lizações conjuntamente com os
centista do criador imbuído de educação universal. para discursarmos sobre arte. A ritos. Possivelmente por isso, se-
Ou antes, Vitrúvio escrevia em seu Tratado de Ar- pauta não é a musica, só pode ser ja tão difícil ensinar arquitetura,
quitetura: “deverá ser versado em literatura, perito música se ouvida, se preencher o por ela trabalhar constantemen-
em desenho gráfico, erudito em geometria, deverá espaço. Uma porta não é só do- te, e todo seu fazer, somente po-
conhecer muitas narrativas de fatos históricos. Ou- ARQUITETURA CAMINHOU COM A ARTE der ser nomeado como arquite-
vir diligentemente os filósofos, saber de música, não DURANTE BOA PARTE DA HISTÓRIA. PORÉM, ELA tura se sintetizar em suas pedras
ser ignorante de medicina, conhecer as decisões dos NÃO SERIA UMA CIÊNCIA? OS PROFESSORES esses elementos constitutivos das
jurisconsultos, ter conhecimento da astronomia e das HUGO SEGAWA E CIRO PIRONDI RESPONDEM A civilizações. Nós temos que edu-
orientações da abóbada celeste.” Quem prosseguir ESSA QUESTÃO APARENTEMENTE INSOLÚVEL car os meninos...
30 MÓBILE | Entrevista Entrevista | MÓBILE 31

SEM
ENTRE
LINHAS
SEM MEIAS PALAVRAS, O VENCEDOR DO PRÊMIO PRITZKER ANALISA A
INFLUÊNCIA DO COLONIALISMO NO DESENVOLVIMENTO DO BRASIL, CRITICA A
QUALIDADE DO TRANSPORTE PÚBLICO, O CRESCIMENTO DAS METRÓPOLES E
DISPARA: “TEMOS QUE INVERTER A ROTA DE DESASTRE DAS CIDADES”

PAULO MENDES DA ROCHA | 86 anos » Arquiteto e Buzinas, gritos, motores roncando, algaravias ur-
Urbanista » Professor aposentado da FAU/USP e vencedor
banas. “Para uma conversa sobre São Paulo, essa mú-
do prêmio Pritzker 2006.
sica de fundo é bem apropriada”, afiança o renomado
arquiteto e urbanista Paulo Mendes da Rocha, antes
de fechar a janela de seu escritório, localizado na rua
General Jardim, centro da cidade. Com o ambiente
silenciado, ele se debruça sobre uma maquete de pa-
pel: o Cais das Artes, na Enseada do Suá, em Vitória,
sua cidade natal.
“Olha só, o café do teatro se comunica com essa
calçada aqui, você pode frequentar o café mesmo sem
espetáculo”, explica o arquiteto. “A técnica só revela
uma monumentalidade que já havia”.
“Mas tem que ter sensibilidade para captar”, al-
guém sugere.
“Não é sensibilidade, meu bem” interpela. “Sen-
sibilidade não se pode ensinar, muito menos cultivar.
É sabedoria e raciocínio! Assim, você transforma a
dimensão artística em uma frescura”.
Entrevista | MÓBILE 33
Com essa “urgência de dis- autor de grandes projetos, entre
curso” – “eu já estou velho”, expli- eles, a reforma e intervenção da
ca – Mendes da Rocha é incisivo Pinacoteca e da Estação da Luz,
em suas opiniões: acredita que o do pórtico e da cobertura na Praça
transporte com carros é uma “to- do Patriarca e do Museu Brasilei-
lice”, defende a criação de uma ro da Escultura (MUBE).
rede hidrográfica para integrar Hoje, Mendes da Rocha não
a América Latina e afirma que o disfarça o saudosismo. “A vida é
arquiteto tem obrigação política muito curta e não se pode preten-
de alterar a “rota de desastre” nas der fazer nada aos 70 ou 80 anos
cidades. de vida, portanto, só podemos ter
Mendes da Rocha é conside- um alento, digamos, no que vai
rado um dos maiores arquitetos continuar além de nós”, diz ele.
brasileiros. Vencedor do prêmio
Pritzker em 2006, o mais impor-
tante da arquitetura mundial, é

são Vulcano [deus do fogo], expul-


so do Olimpo porque ousou usar
o fogo como instrumento, e Éolo
tabelecimento de uma linguagem [deus do vento], que juntos pro-
que descreve as coisas. Estamos duziram a forja. Com o vento e o
falando de milhões de anos. Mas fogo conseguimos tornar maleá-
MÓBILE - Como a arquitetura vamos dar um pulo no tempo, se- vel o ferro e produzir a ferradura O senhor tocou num ponto cado, que é a visão colonialista. O
contribuiu para o processo de não vai demorar muito. Existe um para o cavalo. Ou seja: transfor- interessante em sua obra: a êxito da técnica é uma maravilha
civilização? quadro famosíssimo [Vulcano ed mamos o cavalo em máquina. Veja análise da interferência do e é isso que a cidade deve ser. O
PAULO MENDES - (Longo silên- Eolo maestri dell’umanità, de Pie- a genealogia da imaginação. É a colonialismo em nossas vidas. Temos a obrigação de CAU e o Ministério das Cidades
cio) Civilização de quem? ro di Cosimo, cerca de 1500-1505] fábrica, a forja, a máquina, a ca- Quais foram as consequências influir politicamente para existem para que se ouça essa vi-
e discutido de uma maneira mui- sa! É tudo arquitetura. A natureza da colonização em nossa inverter a rota de desastres são política de transformação ine-
Da Europa e da América, por to especial por Erwin Panofsky não é habitável, é uma droga, um concepção de cidade? das cidades brasileiras xorável para garantir o nosso fu-
exemplo. O processo como um [1892-1968, crítico e historiador inferno com vulcões e tsunamis Mencionei o colonialismo por- turo e para alimentar a nossa vida.
todo. da arte alemão, estudioso em ico- e outros fenômenos. Um de nós que, na época em que a Améri- É por isso que contei a história de
Pode-se dizer que a primeira ma- nografia], em que ele comenta a não sobrevive 15 dias na floresta. ca foi descoberta, se dizia que o trário, foi colonizada com dogmas Vulcano e Éolo: a coisa é séria pa-
nifestação do homem, encontra- passagem da Idade Média para o Transformar a natureza e torná-la Sol girava em torno da Terra. E e princípios tolos, com uma visão ra fazer a forja. Um pagou caro e
da em arqueologia e em estudos, Renascimento. Esse quadro é lin- habitável: eis a questão da arqui- o senhor Galileu [Galilei, 1564- espoliativa de consumir a riqueza foi expulso da morada dos deuses.
é a arquitetura, afinal, é o modo do porque, em primeiro plano, há tetura. Portanto, a arquitetura não 1642, cientista italiano] disse que do outro. Para falarmos das coisas
de ficar no lugar. Quando o ho- dois velhos sentados no chão, em contribuiu para o processo de ci- o nosso planeta girava em torno de hoje, é preciso lembrar a mo- Na década 1960, houve um
mem começou a se fixar, teve torno de uma fogueira, e se per- vilização, ela é esse processo. Veja do Sol e foi condenado à fogueira. numentalidade daquele momen- esforço para pensar o Brasil
que organizar a natureza: ocu- cebe que um deles tem a perna o ensino da arquitetura, as univer- Inauguramos algo aqui muito mal to. No Brasil se inaugura o Minis- e a arquitetura teve papel
pou cavernas, empilhou pedras, “estropiada”. Mais ao fundo, uma sidades, o país atrasado, a Amé- inaugurado, não soubemos fazer tério das Cidades justamente para fundamental nesse projeto.
dominou o fogo. Essa repetição nítida e esquemática construção, rica, o colonialismo, o rio Amazo- a justa réplica às tolices que o co- fazer com que o governo ouça a No contexto de hoje, com o
de atos e manobras que garan- como se fosse uma casinha: dois nas. Temos a obrigação de influir lonialismo impunha, tornando o voz daqueles que dizem que te- desmonte do Estado, como
tam a sua vida constitui o que po- pilares de madeira, telhado e uma politicamente para inverter essa Brasil próspero, como tinha que mos que providenciar a cons- pensar a arquitetura brasileira?
deríamos chamar de genealogia arquitrave em forma de tesoura. rota de desastre e fazer brilhar o ser. Na América não se aplicou o trução do espaço habitável, não Não precisa abolir a ideia de mer-
da construção da cidade e o es- Um burro ao lado. Os dois velhos êxito da técnica. melhor do conhecimento, ao con- simplesmente entregá-lo ao mer- cado, mas não se pode entregar
Entrevista | MÓBILE 35
a construção do espaço de uma pre diz que “a Marginal tem 48 menores que um automóvel. Na- a um tempo só, arte, ciência e técnica. Não é uma so-
cidade exclusivamente à iniciati- quilômetros de congestionamen- da mais monumental que o siste- matória de conhecimento, é uma forma especifica de
va privada. O país, a cidade e o to”. O rio Tietê foi transformado ma de transporte público. Acabo conhecimento arquitetônico. Nossos queridos mes-
espaço precisam ser planejados. em esgoto. Porém, quem tem di- meu trabalho e sei que passa um tres da FAU/USP diziam sempre: não se pode ensinar
O território brasileiro talvez se- nheiro está livre de qualquer mal trem, de três em três minutos, que arquitetura, mas pode-se educar um arquiteto.
ja o espaço mais extraordinário e vai aos fins de semana se divertir me leva pra casa. Encontro você
em rede hidrográfica do planeta nas praias de São Paulo. Mesmo e vamos tomar uma cerveja, um E os arquitetos brasileiros estão preparados para
e possui um projeto antiquíssimo assim, nos últimos fins de semana, torneiro mecânico passa e con- dar essa contribuição tão importante e desejada?
de ligação no miolo do país, um eles têm levado de 12 a 24 horas versamos com ele, outra pessoa Tomara que não sejam apenas os arquitetos, coitados
canal que ligaria a Bacia Amazô- até a Baixada Santista. Não te pa- diz que há uma peça maravilhosa (risos). Quem deve resolver esse problema tão sério
nica à do Prata, na Argentina. Terí- rece uma tolice isso tudo? e eu ligo para uma amiga vir assis- é toda a população. A arquitetura é uma forma pecu-
amos que nos associar com outros tir comigo e voltamos para casa liar de conhecimento que cogita essas questões no
países, portanto, seria um instru- às onze da noite. A cidade é uma âmbito da Universidade e não são os arquitetos que
mento para a paz na América La- universidade. O êxito da técnica é vão resolver, mas a política. O arquiteto exerce uma
tina. E ainda falamos besteiras uma maravilha, não um desastre profissão de desenvolvimento de projetos que tem
sobre como vender apartamento. que não anda para lá nem para cá. uma dimensão social. Inclusive, nem precisa saber
O senhor poderia falar sobre o É uma estupidez carregar projetar, basta pensar e ajudar a construir a política
fenômeno da metropolização e mais de 700 quilos de E o senhor acredita que, que faz a cidade, o que já é um trabalho brilhante.
os desafios enfrentados pelas ci- lata e dizer que se está desde as manifestações de
dades? transportando alguém junho, houve mudança nesse E o que, apesar de todos esses problemas
Eu estou velho e não tenho tempo panorama da cidade? descritos, ainda mantém esse desejo das pessoas
para muitas entrelinhas: a metro- Sobre as manifestações já foi di- estarem juntas?
polização não é fenômeno, é uma E como resolver os problemas to tudo o que se tinha que dizer. Qual seria o outro desejo, estar sozinho? Nós temos
ação política feita pelos homens de mobilidade urbana? O único aspecto que não se pode que estar juntos. Você tem que aplicar a dimensão
que têm poder. Os fenômenos não Por que não se diz transporte pú- discutir é a ideia de manifestação lírica e poética do significado das palavras. Necessi-
podem ser impedidos e chamar o blico? Nada se mexe mais do que em si, porque é a formação de dade é necessidade, mas você pode, claro, desejar o
crescimento de São Paulo, que o universo urbano. Suponhamos consciência. Quantos estudantes impossível. A concomitância de necessidades e de-
em pouco tempo chegou a 20 mi- que ficássemos três dias, numa há no Brasil hoje, incluindo pri- sejos é que deu a nós, enquanto animais, o que cha-
lhões de habitantes, nem sequer experiência absurda, sem nin- mário, secundário e universitá- mamos de dimensão humana, inclusive na formação
é metropolização. Foi um projeto guém sair de casa. Não houve, en- rio? Milhões. Muitíssimas horas da linguagem. Ela nunca resolve estritamente o que
que se deixou atrasar tanto que só tão, “mobilidade urbana”. É uma de aulas são dadas por dia e o pro- desejamos, mas concomitantemente exprime esses
havia trabalho aqui. Outra coisa, expressão ampla, uma forma de fessor tem 40 cretinos calados por desejos, o que se chama de altos ideais do gênero
não precisa se amarrar em dívidas abordar uma questão sem dizer obrigação, prestando atenção no humano. Mais ou menos tentamos compreender o
de 20 ou 30 anos para dizer que a nada. O transporte público foi a que ele diz. Já imaginou a mo- que somos. A vida é muito curta, muito breve e não se
“minha vida” é uma casa. É toli- melhor maneira que me pareceu, numentalidade dessa manifes- pode pretender fazer nada aos 70 ou 80 anos de vida,
ce a fixação na propriedade e na física e mecânica, de desfrutar do tação? Podemos tornar melhor portanto, só se pode ter um alento, digamos, no que
dívida, uma amarração com uma pouco que a cidade já tinha, por muitas coisas que já existem. Ar- vai continuar além de nós e, para nos exprimir, intro-
forma vil de capitalismo. Esse que não ia dar tempo de fazer na- quitetura, no fundo, é essência do duzimos a dimensão dos desejos, as visões utópicas
crescimento desorganizado - ou da. Hoje, o grande problema da conhecimento. Não é a arquitetu- e falamos do curso de nossas vidas. Isso quer dizer
simplesmente entregue à especu- cidade é o transporte individual, ra que desfruta da técnica, mas que sabemos que vamos morrer. Mas você poderia
lação do mercado imobiliário - só particularmente o automóvel. É ela solicita da técnica - com essas me perguntar: “por que, então, você está tão entusias-
pode dar desastre. Não sou eu que uma estupidez carregar 700 qui- reflexões - aquilo que se deve fa- mado e animadinho?”. É porque sabemos também
estou dizendo: é a fotografia que los de lata, queimando petróleo, zer. É a escola mais importante da que não nascemos para morrer, mas para continuar.
se pode tirar agora do alto do Edi- e dizer que se está transportando Universidade porque estabelece, Essa é a essência da minha urgência do discurso. Eu
fício Itália ou a televisão que sem- alguém. Já fazem apartamentos no contraponto e na concretude, não passo de um pobre capixaba...
Observatório | MÓBILE 37
PEDRO FIORI ARANTES | Arquiteto e Urbanista. Professor da UNIFESP panorâmico e sintético, o que significa adotar uma
linguagem acessível, direta, mas acurada, que possa

Entre o céu
despertar o interesse e motivar a mais ampla gama
de profissionais, como estímulo à reflexão sobre sua
prática e o conhecimento de novas dimensões e pos-
sibilidades de atuação.

aberto e o
telescópio Os observatórios transitam
entre o olhar a céu aberto e o
telescópio direcionado

Cada Observatório contará com dois editores re-


lacionados ao tema específico. Seu papel é sobretudo
o da seleção do material a ser publicado, avaliando
A Revista Móbile do CAU/SP contará com uma seção de Observatórios da prática profissional, sua pertinência e impacto. Cada editor, por isso, deve
com o objetivo de analisar, em diferentes dimensões, quais as novidades, permanências e desafios ser uma pessoa fluente em relação ao tema do qual se
para a atuação do arquiteto e urbanista. Observatórios, tal como seu modelo mais conhecido, o encarregará, ser reconhecido entre seus pares e estar
astronômico, são dispositivos de observação da realidade que permitem acompanhar a evolução atualizado em relação ao debate e às novas pesquisas.
de um fenômeno ou de um tema estratégico, no tempo e no espaço. Na Revista Móbile, os Deverá ser capaz de selecionar materiais enviados à
Observatórios são espaços em que editores específicos irão acompanhar determinados temas, que Revista, encomendar textos e resenhas a autores, re-
apresentaremos a seguir, trazendo artigos resumidos de estudos acadêmicos, resenhas, pesquisas sumir pesquisas de maior folego, bem como avaliar
e informações atualizadas e consistentes aos leitores, de forma crítica e fundamentada, sobre a qualidade do material escolhido, assumindo a res-
questões de interesse da nossa profissão e dos cidadãos em geral. ponsabilidade pela sua divulgação.
Além da produção nacional, será muito bem-vin-
da a divulgação de pesquisas e práticas internacio-
nais, que colaborem para situar o Brasil em relação
Os Observatórios poderão, também as problemáticas e, em do país, sob a coordenação geral a temas estratégicos da arquitetura e do urbanismo.
assim, colaborar para orientar, ambos os casos, avaliar seus con- do renomado IPPUR - Instituto de Com isso, poderemos abrir possibilidades de inter-
acompanhar e aperfeiçoar o exer- textos, agentes e interesses, suge- Pesquisa e Planejamento Urbano câmbio e reconhecer algumas das distâncias a serem
cício da profissão. Irão apresentar rindo, na medida do possível, al- e Regional da Universidade Fede- superadas em vários aspectos de nossa atuação: da
quais têm sido as contribuições ternativas e possibilidades. ral do Rio de Janeiro. contratação de obras públicas e regulação da proprie-
importantes, embora muitas ve- Diversas universidades, no A Revista do CAU/SP, sem dade urbana ao ensino da arquitetura e emprego de
zes pouco conhecidas, dos arqui- Brasil e no exterior, possuem im- tornar-se um órgão de pesqui- tecnologias sustentáveis.
tetos para as cidades brasileiras, portantes Observatórios de polí- sa, pretende realizar iniciativa Os Observatórios são, portanto, pontos privilegia-
para o aumento da sua qualida- ticas públicas. Em nossa área de complementar, de divulgação e dos de observação atenta da realidade, monitorados
de de vida, sustentabilidade e atuação, merece destaque o Ob- difusão de trabalhos e pesqui- por editores específicos que regulam os “aparelhos
equidade social. Contudo, os Ob- servatório das Metrópoles”, uma sas – inclusive as realizadas por óticos” e ajudam a indicar focos e objetos, podendo
servatórios do CAU/SP não te- rede nacional de pesquisa que observatórios e institutos. Nosso transitar entre escalas globais e locais (entre o olhar a
rão olhos apenas nas chamadas conta com mais de 150 colabo- modelo de divulgação, diferente- céu aberto e o telescópio direcionado), devendo pri-
“boas práticas”, devem apontar radores em diversas localidades mente de revistas acadêmicas, é mar pelo caráter objetivo, atualizado e informado.
Observatório | MÓBILE 39
OBSERVATÓRIO DAS CIDADES fazer para adotá-los? A flexibiliza- mercado que contribuem para
Tem como questão acompanhar a atuação de arquite- ção da licitação com o regime di- cidades melhores e mais inclu-
tos e urbanistas no planejamento urbano de pequenas ferenciado de contratação (RDC) sivas e quais as que aprofundam
cidades a grandes metrópoles, apresentando desafios pode melhorar ou ainda piorar a as desigualdades e segregações?
atuais, relacionados às diversas políticas urbanas, co- situação de contratação? E, por Quais as dificuldades para apro-
mo habitação, mobilidade, infraestruturas, espaços que depois de executados, os vações e licenciamentos e como
públicos, patrimônio histórico, parques, centros cul- prédios são caros de se manter, superá-las? Quais as relações do
turais etc. Quais os temas emergentes da urbaniza- não atendem adequadamente aos mercado imobiliário com o sis-
ção nas cidades brasileiras e, em especial, paulistas? usuários e não cumprem requisi- tema político? Como o mercado
Como construir e promover qualidades urbanas no tos de sustentabilidade? Como privado assumiu a política habita-
Brasil de hoje? Por que o Estatuto das Cidades e nos- órgãos públicos podem construir cional brasileira por meio do “Mi-
sas leis de Reforma Urbana não transformaram nos- e manter inteligência projetual e nha Casa, Minha Vida”? Por que
sas cidades como queríamos? Além dos instrumentos uma cultura pública de bons pro- é tão difícil regular e direcionar
legais, qual a capacidade de projetos urbanos redese- jetos? Como está a carreira públi- o mercado imobiliário no Brasil
nharem a cidade? Depois de três décadas de urbani- ca de arquiteto e urbanista e onde em favor de cidades sustentáveis?
zação de favelas, onde chegamos? Por que desastres é preciso avançar? E por que a taxação progressiva
ambientais se repetem sem solução? Por que chega- da propriedade não ocorreu aqui
mos ao travamento da mobilidade urbana e quais as OBSERVATÓRIO DO como no exterior? Vivemos afinal
saídas? Por que os gestores não conseguem orientar o MERCADO IMOBILIÁRIO uma “bolha imobiliária?” Quais as
crescimento das cidades e fazer frente ao espraiamen- O mercado imobiliário mudou consequências sociais e urbanas
to promovido pelo mercado e políticas habitacionais? substancialmente na última dé- da enorme valorização da terra
Quais os últimos avanços nas políticas de patrimônio cada, sobretudo depois da aber- recentemente no Brasil?
construído e centros históricos? Como mudar a dinâ- tura de capitais de empresas
mica privatista de cidades segregadas e muradas, em construtoras e incorporadoras, OBSERVATÓRIO DA
que a desigualdade e a violência produziram a fobia do aumento do crédito e da in- CONSTRUÇÃO
do espaço público e do contato entre as classes? Quais ternacionalização do setor. Cabe- Tem como questão mapear e dis-
exemplos de cidades e políticas públicas do exterior rá a este observatório descrever cutir as inovações em tecnologias
estimulariam nosso debate? e compreender essas mudanças e processos produtivos, novos
e compará-las com o cenário de softwares e novos materiais, mu-
OBSERVATÓRIO DE OBRAS PÚBLICAS outros países. O que mudou no danças na organização de cantei-
Analisará a produção de projetos e obras públicas, a sistema de financiamento imobi- ro de obras, bem como no merca-
relação entre empresas de projeto, construtoras, ge- liário brasileiro? Quais foram os do de trabalho, nas construtoras
renciadoras e administração pública. Por que obras custos e benefícios dessas mu- e na cadeia de materiais de cons-
públicas no Brasil são, em geral, de tão baixa quali- danças, com abertura e concen- trução. O aquecimento do merca-
dade e com aditamentos recorrentes? Como deve ser tração de capitais e alteração na do imobiliário e de obras públicas
montado um bom termo de referência para licitação propriedade e no perfil das em- implicou em mudanças significa-
de projetos e obras? Por que não são comuns os con- presas? Quem são os principais tivas nos processos de produção?
cursos de projeto como modalidade de licitação, ao agentes do mercado, como con- Um setor considerado atrasa-
contrário do que ocorrem noutros países? Quais os tratam os serviços de arquitetura do está avançando em inovação,
agentes que hoje comandam o modelo de contratação e como os escritórios tem se or- controle de qualidade, pré-fabri-
de obras públicas? Por que nossa classe profissional ganizado para atende-los? Como cação e industrialização? Quais
perdeu até o momento a disputa pela qualificação de A seção analisará fazer frente ao avanço do marke- as diferenças de organização e
projetos e correta remuneração dos profissionais? as novidades e ting imobiliário, inclusive na de- métodos entre obras civis e de
Quais os exemplos nacionais e internacionais de boas desafios de atuação finição do briefing e da forma dos construção pesada, grandes ou
contratações de obras públicas e o que precisaríamos da Arquitetura edifícios? Quais as tendências do pequenas empresas e o que nos
Observatório | MÓBILE 41
ensinam? Como está o setor cooperativista na cons- OBSERVATÓRIO VERDE OBSERVATÓRIO DOS outras batalhas urbanas travadas sante um exame da ordem, como
trução civil? Como novos sistemas e materiais têm Analisa as diversas questões DIREITOS URBANOS recentemente, do Egito e Turquia fazem os advogados? Ou um sis-
alterado processos produtivos, seus tempos e custos? socioambientais associadas à Depois de um ciclo de muitas à Venezuela e Ucrânia? Enfim, pa- tema de acreditação de cursos pe-
Como as ferramentas digitais de projetos e gerencia- produção da arquitetura e das mobilizações e lutas urbanas na ra onde caminha a política das ci- lo CAU, com adesão voluntária,
mento de obras influenciam na produção? O que tem cidades. Abarca questões de sus- redemocratização, elas pareciam dades e nas cidades? como ocorre noutros países la-
sido feito para aumentar a qualificação profissional, tentabilidade, bioarquitetura, cer- ter se arrefecido e institucionali- tino-americanos? Como ampliar
de arquitetos a operários, em todo o conjunto de tra- tificações de materiais e edifica- zado nos anos 2000. Mas, recen- OBSERVATÓRIO DO a internacionalização dos estu-
balhadores da construção? Tem avançado a forma- ções, gestão ambiental das cida- temente as cidades voltaram a ENSINO dantes, professores e currículos?
lização e regulação do mercado de trabalho, em es- des e o desenho da paisagem ur- ser palco de manifestações. Com Cabe aqui avaliar questões histó- Como está o ensino das novas
pecial relacionados à subcontratados e temporários? bana. Quais os principais desafios uma perspectiva histórica e aten- ricas e contemporâneas relacio- tecnologias e as condições de in-
Quais as conquistas na prevenção e proteção da saúde da agenda verde para as cidades ta à atualidade, este observatório nadas ao ensino de arquitetura fraestrutura para isso? E dos can-
e segurança dos trabalhadores em obra? Como tem e os avanços em relação à Agen- irá avaliar como anda a agenda da e urbanismo, nas universidades teiros experimentais e oficinas?
sido a atuação dos arquitetos junto a sindicatos pa- da 21? Quais as consequências do Reforma Urbana, da Gestão De- públicas e privadas, discutindo Como estão os escritórios mode-
tronais e de trabalhadores? novo código florestal no contex- mocrática das Cidades e seus su- que profissional está sendo for- los, as práticas assistidas e demais
to urbano? Quais os prós e con- cedâneos. Quais são e quem são mado nessas escolas. Nos últi- atividades de extensão? E como
tras do mercado de certificações os novos movimentos urbanos, mos 10 anos, o número de cursos fazer avançar nas faculdades pri-
ambientais? Como tem sido fei- suas bandeiras e práticas de lu- de arquitetura mais que dobrou, vadas a pós-graduação e a pes-
tos os licenciamentos ambientais ta? Quais foram suas conquistas chegando a 369 no Brasil e 100 em quisa? Como articular a formação
e seus entraves? Quais critérios ou derrotas recentes? Como an- São Paulo. Isso é bom ou ruim? prática e teórica, interna ao curso
de eficiência energética, econo- dam os movimentos tradicionais? Quais os perfis das nossas esco- e externa, com programas de es-
mia de materiais e reúso de água Existe uma agenda renovada pa- las e faculdades de arquitetura? tágio, residência e extensão?
poderiam já ser incorporados em ra substituir a antiga bandeira da Quem são os estudantes e profes-
códigos de obra, projetos e licita- Reforma Urbana? A sua institu- sores? Quais os projetos pedagó-
ções? O que o mercado tem pra- cionalização e transformação em gicos mais inovadores? E os pro-
ticado nessa área com sucesso e leis e estatutos foi bem sucedida? jetos pedagógicos tradicionais,
onde ainda repete erros do pas- Quais foram e quais são os arqui- seguem válidos ou foram refor-
sado? No planejamento urbano, tetos envolvidos com essas lutas mulados? Quais as dificuldades
quais temas ambientais foram in- e o que tem a dizer? Que fim le- em relação à renovação das dire-
corporados e quais ainda não são vou o Orçamento Participativo e trizes curriculares? Seria interes-
atendidos? Quais bons exemplos a agenda da Gestão Democrática
de políticas e projetos de descon- das Cidades? A multiplicação de
taminação de solos e recursos hí- conselhos e espaços de participa-
dricos e renaturação de rios urba- ção influenciou decisivamente as
nos? Como a maior metrópole do prioridades das políticas públicas
país segue cronicamente inviável ou não? O que ocorreu com os
em relação às enchentes? E por mutirões autogeridos? Quais são
que chegamos ao ponto de esgo-
tamento dos nossos reservatórios
de água e aterros sanitários? Por
que não avançamos na coleta se-
letiva de lixo e no trabalho das co-
operativas de reciclagem? Quais
Nosso modelo de divulgação exemplos do exterior nos trariam
é panorâmico e sintético, com referencias práticas imediatas pa-
estímulo à reflexão ra orientar políticas e programas?
42 MÓBILE | Tapume Tapume | MÓBILE 43
SÉRGIO FERRO | Arquiteto, pintor e professor brasileiro

Sobre a
anormalidade
como norma

A transformação do trabalho em capital é, em


si, o resultado do ato de troca entre capital e
trabalho. Esta transformação é posta apenas
no processo de produção mesmo.

K.MARX. Para a Critica da Economia Politica, Manuscritos


de1861-1863. Autêntica Editora, 2010, p 180.
44 MÓBILE | Tapume Tapume | MÓBILE 45
Para os de fora, o tapume provoca um efeito de Ela necessariamente espalha-se pareça sob um outro imaginário),
caixa preta. Lá dentro, operações misteriosas encami- pela cidade. O tapume, então, ele, enquanto dura a produção, é
nham os meios de produção na direção do produto faz as vezes do impossível zone- indicado no exterior, no tapume,
final. Não vemos essas operações. O tapume as oculta O tapume encobre amento. Separa o espaço interno por um trabalho sumário, pouco
apesar de sua função técnica – proteger o exterior do o lugar onde a da produção do exterior pelo tem- qualificado e obviamente inade-
que pode ocorrer no interior e o interior das invasões violência passada po em que ela dura. quado se sua função fosse real-
do exterior – não implicar a barragem da visão. Ele reproduz-se Mas no fetiche o que não deve mente proteger o interior do ex-
impede, portanto, a observação da produção sem que ser visto contamina o que impede terior ou o exterior do interior. A
haja nenhuma razão objetiva para fazê-lo. Invisível, de ver. Sabemos ou pressentimos aparência instável e efêmera do
pouco a pouco, o trabalhador coletivo, sempre nume- que atrás dele há alguma varian- tapume desmente sua função de-
roso na construção, da forma e consistência ao “jogo te da castração. Somos tentados a clarada. Mas sua função latente
sábio dos volumes sob a luz” e desaparece no fim do procurar o buraco que permitira tem sucesso: no único lugar em
processo. Poderíamos quase destacar um principio ver a verdade, como voyeurs. Se que o trabalho deixa vestígios
que rege a retirada dos tapumes : ela ocorre quando, há o que esconder, deve haver al- evidentes, sua suposta imperícia
recheadas de muita mais-valia, as edificações não dei- guma coisa sórdida do lado de lá. fica demonstrada. Poucos se lem-
xam mais ver que são o produto da mão do homem. Mas a verdade não é visível. Na- bram que, mesmo então, a força
Ou seja, a edificação somente abandona essa provi- da exteriormente revela a trapa- de trabalho está sob o regime da
sória pele encobridora quando adere definitivamente ça. Sob o que impede de ver, não heteronomia. No mais, outros
à mascara do desenho denegador, quando o tempo há nada a ver, a não ser o impe- vestígios seus, temporariamente
de sua gestação é imobilizado pela simultaneidade dimento de ver: salvo exceção, a encobertos pelo tapume, sumirão
no jogo dos volumes. Sob a mascara passageira, não violência moderna essa interiori- no fim da obra. Como num passe
surge a verdade – mas outra mascara petrificada. E zada. E o impedimento de ver trai de mágica, o escondido mostra-
o que foi tempo vivo de produção (oculto) torna-se a fobia de deixar ver, com o que -se na coisa encarregada de es-
valor por um lado, por outro, um fetiche. revela que há algo a não ver. So- condê-lo – mas de tal modo que o
O tapume opera como fetiche: encobre o lugar mente a máscara denuncia o por- escondido, mostrado como não é,
em que a violência passada reproduz-se. Somente quê da necessidade de mascarar. continue escondido sob sua deso-
no canteiro a perversidade da troca aparentemente O tapume, em geral, é tosco, cultação. Surpresas do sublime.
justa entre salário e força-de-trabalho revela sua in- elementar – obviamente non-fini- Do outro lado do tapume, há
justiça. Somente então o pressuposto dessa troca – a to. Para a estética oficial indica- o outro, um outro anônimo, sem
apropriação pelo capital de todos os meios materiais ria o sublime, o insimbolizável, o identidade. Encurralado, enjaula-
de produção e a transformação da força-de-trabalho que não tem nome, o real ou coi- do (às vezes concretamente), ele
obrigatoriamente em mercadoria – entra na efetivi- sa do gênero. Muitas vezes, so- nos parece ameaçador. O preso, a
dade. A subordinação do trabalho vivo, consequência bretudo nas obras menos sofisti- priori, tem ar suspeito. Mais ain-
da troca, posta pelo processo produtivo, desmascara cadas, é mal feito. Le Corbusier da quando, no fim da obra, o ta-
a paz igualitária do ato jurídico: o intercâmbio “justo” poderia apor a legenda que ima- pume desengonçado, frequente-
entre trabalho e capital mostra-se como exploração ginou para a janelinha que saiu mente feito de restos, é retirado
desavergonhada da força-de-trabalho pelo capital. O torta por causa de uma fôrma que e, com ele, os trabalhadores que
momento concreto dessa inversão entre a aparência cedeu em La Tourette: “por aqui passam de ocultos a ausentes.
justa da troca e a desigualdade que pressupõe, este passou a mão do homem”. A refe- A obra então sai de seu invólu-
salto entre a equidade abstrata e a subordinação efe- rência explícita ao trabalhador só cro obtuso como call-girl do bolo
tiva seria revelador demais para aparecer sem mais. é admissível quando ele falha. Ex- de aniversário do gangster, bem
Em geral, o zoneamento territorial e a fortificação pulso da obra pelo projeto enco- maquiada e com as rugas colma-
quase militar das unidades de produção afastam da bridor (o qual em geral desenha tadas, como se fosse novinha em
vista da coletividade essa passagem à verdade. Mas a As fotos que compõem este ensaio uma obra imaginária sobre a re- folha, sem nem sinais de uso. Por
construção não pode ser isolada em zonas especiais. são de | GAL OPPIDO | al, para que o operário real desa- abdução, o mais pobre dos auto-
46 MÓBILE | Tapume Tapume | MÓBILE 47
matismos do entendimento, a emergência festiva do
produto acabado do duvidoso invólucro, o sombrio
tapume, contrasta a limpeza do resultado visto como
fruto do bom desenho com a sujeira caótica do cantei-
ro, seguramente mal frequentado. Quando o tapume
é retirado e a produção cessa, tudo se passa como se
a ordem e a segurança voltassem a reinar para o bem
de todos. E nada parece mais justo que a evacuação
dos trabalhadores do local, agora impróprio para sua
selvageria.
Se não há nada terrível a ver no outro lado do
tapume, assim mesmo o que não vemos tem paren-
tesco com o monstruoso. O cidadão manufatureiro,
teoricamente livre, tem que abdicar de sua liberdade
– contrariando o cínico mandamento das constitui-
ções “democráticas” que declaram tal abdicação, a
da enorme maioria da população, inconstitucional.
A artimanha transforma o roubado em culpado pe-
lo roubo. A oligofrenia imposta à força-de-trabalho,
pressuposição para sua exploração, aparece como
posta, autoimposta por ela mesma ao aceitar sua troca
por salário, como se houvesse alternativa. A desgra-
ça ganha o reforço da culpa. A mutilação do cidadão dentro, por dentro, sentem o cor- da de fingir a passagem fictícia.
“livre” passa à condição de automutilação. Ele deve te. O amontoado de operações ile- O tapume deixa ver então esses
obediência total, surdez a si mesmo, enquanto a orga- gítimas e heteróclitas que requer operários uniformizados e guin-
nização manufatureira impõe que escute sua própria O empreendedor a subordinação obriga a prudên- dastes transportando peças pré-
competência. Em vez da elegância dramática do “ser serra o operário, cia de tudo esconder, com ou sem -fabricadas – o capital acredita
ou não ser”, a questão passa a ser e não ser ao mes- entre a mão e o razão. Seria mais um absurdo su- ainda que todos esperamos o di-
mo tempo, paródia de dialética. Como num lapsus, é cérebro por que a irracionalidade procede to progresso das forças produti-
essa tortura invisível que o tapume tenta inutilmente sempre racionalmente. vas figurado por esses ersatz de
tirar da vista – com o que a indica. As grandes empresas cuidam industrialização. O momento pro-
O tapume é um recurso eurístico: permite que a da aparência do tapume. Ao con- dutivo escondido anteriormente
produção das obras, tal como ela ocorre hoje, se apre- trário das que visitamos até ago- agora aparece parcialmente em
sente como um processo lógico e necessário e seus ra, são mais apuradas e recobrem algumas vitrines que sugerem
mistérios (por que as obras se fantasiam de outras operários uniformizados com ca- sábia organização de produção
obras?) como sutilezas estéticas. Se seguíssemos a pacetes e equipamentos de segu- avançada. Uniformes e guindas-
produção passo a passo, sua irracionalidade faria des- rança. Querem impressionar com tes ocupam o lugar de máquinas.
confiar desses argumentos. Nenhum canteiro resiste a representação de progresso no Mesmo quando deixa ver, o tapu-
à interrogação lúcida. A anormalidade é sua norma. processo de produção. Mas co- me mascara.
Isso sim, o tapume oculta. O mágico que serra a moça mo esse progresso limita-se em O tapume, como o desenho
esconde o lugar em que aparentemente serra numa geral à passagem somente apa- de arquitetura, serve à denegação
caixa. O empreendedor manufatureiro não serra mo- rente da subordinação formal à da produção. Ele antecipa seus
ças. Mas serra o operário, entre a mão e o cérebro, SÉRGIO FERRO é arquiteto, pintor e professor da Escola de real (na verdade substituição da efeitos. Por isso some quando o
Arquitetura de Grenoble. Foi professor da FAU/ USP entre 1962 e
exigindo, entretanto, que continuem unidos. Ainda 1970. É autor de O Canteiro e o Desenho (Editora Projeto, 1979) e manufatura serial pela hetero- desenho cumpre totalmente sua
isso o tapume pretende ocultar – mas somente os de Arquitetura e Trabalho Livre (Cosac Naify, 2006), entre outros livros. gênea), a aparência é encarrega- missão.
48 MÓBILE | Serviços Serviços | MÓBILE 49

perguntas Qual o modelo de atestado?


Após a solicitação no SICCAU do regis-
tro de pessoa jurídica, o mesmo será sub-

e respostas O modelo de atestado a ser apresentado na


solicitação de Certidão de Acervo Técnico
metido à avaliação do setor de competente
do CAU/SP que terá o prazo de 30 (trinta) 4. Comprovação de vínculo do
com atestado requerido no SICCAU deve dias para: responsável técnico com a pessoa
obedecer expressamente a Resolução 24 Deferir, aprovar e tramitar a documen- jurídica (carteira de trabalho
do CAU/BR. tação necessária depois de sanadas as pen- previdência social [CTPS] ou contrato
Todas as informações e os dados téc- É a mesma legislação que dências que por ventura existam durante de prestação de serviços ou portaria
nicos constantes no atestado digitalizado estabelece a reativação do registro este procedimento. de nomeação ou contrato social).
devem ser declarados pelo representante profissional?
legal da pessoa jurídica contratante ou, por Sim, a Resolução 18 do CAU/BR é a mesma REGISTRO DE PESSOA Sou arquiteto, responsável técnico
representação desta, por um arquiteto e ur- para os dois casos, tanto para interrupção JURÍDICA por uma empresa que tem sócios
banista ou outro profissional que, como ele, de registro como para reativação do mes- Quais os critérios estabelecidos arquitetos e engenheiros, como
tenha atribuições profissionais que o habi- mo. Esta solicitação poderá ser requerida a pela Resolução 28 do CAU/BR para devo proceder?
litem a realizar as atividades atestadas justi- qualquer tempo, segue abaixo a documen- registrar uma empresa no CAU? Para casos como esses, em que uma empre-
ficadas por meio de documentos compro- tação digitalizada necessária para atender Devem ser registradas no conselho: sa tem composição mista – sejam sócios ou
batórios digitalizados. estes procedimentos: • Pessoas jurídicas cujos objetivos objetivo social – é necessário registro tanto
Requisitos necessários na elaboração 1. Diploma de graduação ou certificado sociais sejam as atividades no CAU quanto no CREA.
do atestado: de conclusão em curso de profissionais privativas de arquitetos
1. Declaração do arquiteto e urbanista Arquitetura e Urbanismo. e urbanistas; CARTEIRA
quanto à veracidade das informações 2. Histórico escolar. • Pessoas jurídicas cujos objetivos PROFISSIONAL
do RRT e atestado. 3. Carteira de identidade civil ou cédula sociais tenham além do exercício Qual o prazo de entrega da carteira
2. Local da obra ou serviço. de identidade de estrangeiro. de atividades privativas de profissional?
3. Dados da pessoa jurídica contratante. 4. Prova de regularidade com a Justiça arquitetos e urbanistas também O CAU/SP faz somente a coleta de dados
4. Dados do profissional habilitado que Eleitoral, quando brasileiro. exerçam atividades em outras biométricos e a análise dos documentos re-
atestou as informações técnicas do 5. Prova de regularidade com o serviço áreas profissionais não vinculadas cebidos. O processo de registro é encami-
atestado. militar. ao Conselho de Arquitetura e nhado ao CAU/BR que emite a Carteira de
5. Dados da pessoa jurídica ou do Urbanismo; Identidade do arquiteto e urbanista.
responsável técnico contratado. No caso de o profissional apresentar o • Pessoas jurídicas cujos objetivos
6. Descrição das atividades realizadas e certificado de conclusão de curso, o registro sociais sejam no exercício de Como posso realizar o
Após 02 de agosto de 2014, todo o RRT do período de sua execução. terá validade máxima de um ano. atividades de arquitetos e urbanistas agendamento de coleta de dados
extemporâneo aprovado, pagará a multa compartilhadas com outras áreas biométricos?
no valor de 300% do RRT. Se o arquiteto ti- A Certidão de Acervo técnico com Quando se é formado no exterior, profissionais, tenham arquiteto e Você não precisa agendar horário, basta
ver sido autuado pela fiscalização do CAU/ Atestado será emitida após análise da do- quais os procedimentos para urbanista como responsável técnico. comparecer à sede do CAU/SP, localizada
SP essa multa será cobrada a qualquer data. cumentação apresentada e somente será registro no CAU? no centro de São Paulo, na Rua Formosa,
RRT E CAT Cuidados na solicitação do RRT EXTEMPO- emitida se o contratante for pessoa jurídica Os procedimentos para registro de estran- O que devo fazer para registrar 367, no 23º andar. O procedimento é rápido
Quanto às informações sobre RÂNEO: os documentos anexados a solici- (Lei 8.666). geiro estão previstos e estabelecidos pelas uma nova empresa de arquitetos e e o horário de atendimento é de segunda a
RRT Extemporâneo, devo seguir a tação e o próprio RRT não poderão estar em Resoluções Federais do CAU nº 26 e 63. De- urbanistas no CAU? sexta-feira das 9h às 17h.
Resolução 31 do CAU/BR? conflito com aqueles que forem apresenta- REGISTRO ve ser feita solicitação no site de serviços do Basta acessar o site de serviços online do
Sim. O RRT Extemporâneo deve ser emitido dos quando da solicitação de Certidão de PROFISSIONAL CAU/BR, acessando a aba “Solicitar Registro CAU/SP, ir para a aba “acesso rápido” e clicar ANUIDADES
apenas para projetos concluidos e obras/ Acervo Técnico. Qual o prazo de análise de Profissional”. Após a efetivação do requeri- em “Solicitar registro de empresa”. Preencha Após o vencimento da anuidade,
serviços concluídos ou instalados. Se a obra Depois da aprovação do RRT Extempo- protocolos de interrupção e mento, você deve encaminhar o número da o requerimento de pessoa jurídica, respei- como proceder com a emissão de
ou serviço ainda não foi iniciado, não sele- râneo em questão pela Comissão de Exercí- reativação de registro profissional? solicitação de registro emergencial para o tando os campos obrigatórios. boleto?
cione RRT Extemporâneo, selecione a op- cio Profissional do CAU/SP será necessário Após a solicitação de interrupção do regis- e-mail: ensino@causp.gov.br. Em seguida, anexar os documentos Caso você seja pessoa física ou jurídica e não
ção RRT simples. O RRT Extemporâneo se- solicitar a baixa de responsabilidade técnica tro profissional através do SICCAU, o mesmo abaixo necessários para o registro, de acor- quitou até o vencimento o boleto de anui-
rá analisado e aprovado pela Comissão de do mesmo, anexando documento assinado será submetido à avaliação documental do REGISTRO DE EMPRESA do com a Resolução nº 28/2012 e 48/2013 dade, não se preocupe. O próprio sistema
Exercício Profissional do CAU/SP. No mo- pelo profissional e/ou pelo contratante, in- setor de competente do CAU/SP para trami- Qual o prazo para efetivação de do CAU/BR (em formato digital – PDF ou cancela o boleto e emite uma nova guia de
mento da solicitação, o profissional deverá formando a conclusão dos serviços. A soli- te da documentação necessária para depois registro de empresa? JPG, com até 10MB compactados). pagamento. Caso não esteja disponível, vo-
pagar uma taxa de expediente, no valor de citação de baixa de responsabilidade e Cer- de saneadas as pendências que por ventura Os procedimentos para registro estão pre- 1. Contrato Social ou equivalente. cê pode entrar em contato com a Central
2 (duas) vezes o valor da taxa de RRT. Essa tidão de Acervo Técnico deve ser solicitada existam esta solicitação seja encaminhada à vistos pela Resolução do CAU/BR nº 28, e o 2. Cartão de CNPJ. de Atendimento do CAU/SP pelo seguinte
taxa não será devolvida mesmo que o RRT ao CAU do Estado onde os serviços foram Comissão de Exercício Profissional para sua prazo de análise encontra-se estabelecido 3. RRT de Cargo e Função de cada um telefone: (11) 3337-6939, de segunda a sex-
não seja aprovado pelo CAU. executados. aprovação. conforme abaixo: dos responsáveis técnicos. ta-feira, das 9h às 17h.
50 MÓBILE | Serviços

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dentro

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PROFISSIONAL SOBRE RRT?
A Carteira de Identidade Profissional é fundamental Por meio do sistema de serviços on-line do CAU,
para o arquiteto e urbanista exercer legalmente o preenchimento do Registro de Responsabilidade
a profissão. Além de comprovar o registro Técnica - RRT é uma tarefa muito simples, pois
profissional, também é válida, em todo país, como ele possui uma série de recursos que o torna
identificação civil. Para fazer a sua, visite o site bastante interativo e acessível. O formulário de
do CAU/SP e cadastre-se no SICCAU. Um boleto preenchimento deverá ser acessado por meio da
com a taxa de emissão será gerado. Imprima-o, opção “Preencher RRT”, que está disponível no
assim como a declaração de veracidade de dados menu denominado “RRT”. Porém, mesmo sendo um
emitida pelo SICCAU. Realize a coleta biométrica procedimento simples, ainda podem haver dúvidas.
na sede do CAU/SP. Pague a taxa. Se você já fez a Pensando nisso, o SICCAU - Sistema de Informação
solicitação, mas ainda não recebeu sua carteira, e Comunicação do CAU – tem um Manual da
verifique no site a sua carteira não foi devolvida Área de Serviços, em que todas as suas funções
pelos Correios, por motivos de endereço incorreto são explicadas em detalhes. A definição de cada
ou ausência de pessoa no local para recebimento modalidade de RRT assim como as especificidades
do Sedex. Em caso de dúvidas, entre em contato de seu preenchimento são demonstradas por meio
com a nossa Central de Atendimento pelo seguinte de imagens, num sistema de passo a passo. Vale a
telefone: (11) 3337-6939. pena conferir.

http://www.causp.org.br/ https://servicos.caubr.org.br/

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