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Apresentação

“Amarelo e bem devagar” teve seu ponto de partida em julho de 2017 quando - ao
empreender uma pesquisa sobre a confluência entre as artes visuais e o teatro - deparei-me
com a obra do ucraniano Ilya Kbakov, intitulada “O homem que se ejetou do seu apartamento
para o espaço”. Nesta instalação Kabakov constrói uma narrativa que descreve os planos
de um homem para se lançar, por meio de uma catapulta, para fora da terra. “Amarelo
e bem devagar”, o atual trabalho da Cia de Segunda, está ancorado nas motivações para
tal lançamento, atendo-se, entretanto, às questões relacionadas aos desejos pessoais e não
às motivações políticas /econômicas como pode suscitar a obra de Kabakov, no contexto
da União Soviética em 1968, quando a obra foi concebida. A catapulta de Ilya funciona
aqui tão somente como um ponto de partida, como um propulsor cujo acionamento nos
leva não para fora da atmosfera terrestre, mas para dentro de nós mesmos. A Instalação
provocou na Cia. reflexões sobre: motivações, memórias e idealizações no contexto de um
possível novo “arremesso”. Em frente à obra do artista ucraniano é inevitável se questionar
sobre os estímulos que conduzem a este arremessamento pessoal em direcionado a um
universo idealizado, e quais as expectativas quanto a este novo lugar/não-lugar, ainda
inexplorado. Sendo assim formulamos perguntas análogas a estas e compartilhamos com
mais de quarenta pessoas, através de um aplicativo de celular. Neste processo não houve
contato pessoal entre a cia. (atores/pesquisadores) e seus entrevistados/colaboradores.
As respostas foram surgindo bem devagar, ao longo do segundo semestre de 2017. Não
foi incomum receber novos áudios retificando e/ou complementando os anteriores, o que
nos leva a crer na reflexão e interesse dos entrevistados sobre o tema proposto. O material
levantado totaliza mais de três horas de áudios além dos relatos escritos. Estes têm servido
de subsídio para construção de um roteiro intitulado “Amarelo e bem devagar - Um
jogo cênico documental”. As histórias constantes neste roteiro dão conta das memórias,
frustrações, desejos e expectativas, mas não somente dos indivíduos “entrevistados”;
acreditamos na universalidade dos aspectos abordados para a compleição deste trabalho.
Neste jogo cênico documental, não haverá personagem cuja história identifique sujeitos da
vida real. Os relatos recebidos se cruzarão e se misturarão aos fragmentos “inventados”.
Neste sentido não comporemos uma história linear, muito menos nos obrigamos a
construir histórias com início e fim ou com aspectos dialógicos rígidos. Haverá sempre
uma busca pela interlocução com a assistência, que segundo o plano de ocupação
“espacial cenográfico”, estará em proximidade com o elenco. “Portas” serão abertas,
mas não necessariamente serão fechadas com o apagar das luzes do teatro. A cenografia
“instalação” constituirá uma segunda etapa deste trabalho. Com poética própria, em
relação ao acontecimento teatral, permanecerá exposta à visitação do público, e poderá
ser visitada mesmo por aqueles que não assistirem ao espetáculo. Estes visitantes poderão
usufruir de uma experiência pessoal em contato com a narrativa proposta pela obra
intitulada “.......................”. Desejo com isto retornar ao início da pesquisa empreendida
e aprofundar a reflexão sobre a confluência entre as duas linguagens, às quais venho me
dedicando no últimos anos, o teatro e as artes visuais.

Derson .
Justificativa:

O homem carrega consigo, a


necessidade de idealizar outros mundos e o
artista é aquele que o faz profissionalmente.

Mundos idealizados são por definição: não-lugares ou simplesmente lugares


utópicos, como aquele descrito por Thomas Morus em 1516 na obra intitulada Utopia.
Morus descreve em por menores uma ilha, que isolada da civilização conhecida, possuía
hábitos incomuns. O ideal a ser perseguido pode ser descrito (em uma figura de linguagem)
como um belo horizonte que sempre se mantem a mesma distância de nós, não importando
quantos passos avançamos em sua direção. De certo modo o desejo de alcançar, este não-
lugar, se torna combustível para história humana. E este desejo nos acompanha desde os
tempos mais primitivos até aqui, no momento em que escrevo esta justificativa. Partindo
deste pressuposto, nós da Cia. de Segunda julgamos importante refletir sobre os aspectos
do desejo do homem e sobre o projeto de pequenos mundos mais adequados ao convívio
humano. Em tempos de polarização e anseios tão antagônicos cremos na importância da
arte como ferramenta de estímulo e motivação para um pensamento sobre o indivíduo
como agente transformador do meio em que vive, mas tendo um horizonte coletivo como
ideal.

Este projeto surge ainda da necessidade de pensar o teatro para além de si mesmo,
associando-o a outras linguagens artísticas. O diálogo deste trabalho com as artes
visuais é ponto pacífico; já que permitimo-nos a apropriação de imagens, sons e conceitos
compostos por esta expressão em diversos períodos de sua história. Estes elementos
passam por um processo antropofágico (artifício defendido pelos modernistas) e são
devolvidos ao mundo-palco por meio de “jogos cênicos”, tendo sido ressignificados pelos
processos de ensaios e treinamentos da Cia. Este regurgitar não ocorre tão somente no
campo imagético, mas também no textual visto que o conjunto de elocuções que compõem
a “peça” - em sua maioria - tem origem em relatos e idealizações (processo descrito na
apresentação).

Derson
Proposta de montagem
e caminhos adotados pela
direção.
“Amarelo e bem devagar – um jogo
cênico documental” será o novo trabalho da
Cia. de Segunda com estreia prevista para o
final do primeiro semestre de 2018.

Trato aqui dos caminhos adotados para elaboração deste trabalho e ao fazê-lo
acabo por expor os contornos adotados pela Cia. em seu percurso no trabalho anterior.
No entanto, isto não significa dizer que a audiência (no que tange à ideia concretizada)
perceberá semelhanças estéticas superficiais em relação ao “Inquerito 5736”. Esta forma
de abordagem versa antes sobre a continuidade de uma pesquisa ligada à autonomia
técnica/criativa onde os atores são agentes pulsantes em todo processo para construção
e execução do trabalho, visando certa independência dos aparatos contidos no teatro/
edificação, que tem suas origens ainda na arquitetura náutica e que caminha pela história
incorporando inovações tecnológicas ligadas a energia elétrica entre outras. Também não
se trata de propor um trabalho cujo conceito central seja adotar um site-specific, ou a
negação da edificação teatral, mas sim de propor um trabalho que busca – de maneira
cada vez mais profunda - maior integração entre os elementos que constituem o resultado
a ser compartilhado com a plateia. A autonomia descrita ocorreu no trabalho anterior
por meio do “aparato óptico precarizado”, instalação - que de maneira luminotécnica
- integra o espetáculo como um elemento dialógico. Em “Amarelo e bem devagar”
tenho conduzido o elenco como agentes não somente das ações e portadores da palavra,
mas também como operadores/portadores de uma intricada mecânica iluminante,
sonora e imagética. Significa dizer que os atores serão ao mesmo tempo: sonoplastas,
iluminadores/operadores e Vijays. A aplicação prática destas escolhas nos leva a certa
multiplicidade do elenco que composto por apenas quatro atores poderá ter suas imagens
e vozes sendo lançadas de pontos distintos simultaneamente. Tais experimentos tem
impactado positivamente na construção do trabalho e na “musculatura” cênica para este
jogo que raramente será constituído por diálogos diretos entre os “personagens”. A busca
constante será pela interlocução com a audiência, que mesmo silenciosa e imóvel será
conduzida a uma atividade interna, completando e/ou dando ponto final às situações
apresentadas. As questões que em um primeiro momento transparecem aqui meramente
tecnicistas, não se sobrepõem ao fator humano, sendo sim instrumento de integração dos
atores com o público e o espaço. A escolha estética para a desempenho do elenco aponta
para um sentindo distinto daquele que coloca o ator com um projetor e uma caixa de
som ou microfone nas mãos. A busca no que concerne ao trabalho artístico dos atores
será por um lugar mais naturalizante e cotidiano com pequenas pitadas performáticas.
Para efetividade da relação com o espectador optamos por uma plateia limitada a 30
pessoas (vide projeto cenográfico). Deste modo teremos o olhar direcionado aos presentes
sem barreiras físicas indesejáveis. A duração almejada do trabalho é de 60min. O que
possibilita duas apresentações seguidas com intervalo min. de 30min, assim, ampliamos
o número real de espectadores, sem, no entanto perder esta relação de proximidade tão
desejada pela Cia. e fundamental para o êxito da propostas.

Derson
Ficha técnica:

Direção arstística e cenografia:


Derson

Texto baseado em relatos e mundo idealizados:


Ohana Natureza e Derson

Elenco:
Carla Nunes, Ohana Natureza,
José de Brito e Thiago Zandonai

Iluminação, sonoplastia e projeções:


Cia de segunda

Produção:
José Carlos Rosa

Visagismo:
Tiago Costa

Vídeos:
Fernando Dias – Guapoz produções

Assistente de pesquisa e conceituação:


PH Silva
Experiências artísticas:
De 1998 a 2002 atuou na Cia. Iguaçuana de teatro.

Estudou na Escola de Teatro Martins Pena em 2003/2004. 

Em 2005 assinou a iluminação do espetáculo “Insulto ao público” - SESC


Copacabana, Café Cultural e Rio Cena Contemporânea; realizou a iluminação de “Uma
Carta de Adeus” - SESC Tijuca; no mesmo ano ingressou no Grupo Nós do Morro passando
a ministrar oficinas de interpretação e expressão corporal no projeto “Oficinas Culturais
do Grupo Nós do Morro”.

Em 2007 assumiu a função de Coordenador Artístico do Espaço Cultural Nós da


Baixada .     

Em 2008 ingressou no curso de Artes Cênicas – Habilitação em Cenografia da EBA


(Escola de Belas Artes - UFRJ), assinou a cenografia e co-direção de ‘’Nordestes’’ ECNB/
SESC NI.

No ano de 2009  assinou a cenografia de  “Azul Metálico” - SESC Copacabana);


realizou sua primeira individual - Espaço cultural Sylvio Monteiro.

Em 2010 realizou junto com o Artista Plástico Fábio Celassis a exposição Do Ferro à


Arte -SESC NI; realizou a exposição “Cabeça Feita” Espaço EBA7 e Circo Voador / Mostra
Livre de Arte; participou de coletiva “Espaço Imaginário”; assinou ainda a cenografia
de “Tragédia  Brasileira”-Teatro Nelson Rodrigues e Direção/cenografia do espetáculo
“A noite que ele não veio”  - ECNB, Teatro Raul Cortez, SESC Graça Aranha, SESC
Jacarepaguá,SESC Caxias.

No ano de 2011 expôs “Quando passam as obras” - Espaço EBA7 e “Obra sem


título” - Casa de Cultura Professor Almir Paredes e Casa de Arte Contemporânea; recebeu
premiação no 8º Festival Nacional de Teatro em Duque de Caxias em duas categorias:
melhor direção e melhor cenografia com o espetáculo  “A noite que ele não veio”; atuou
no espetáculo “Insulto ao Público”- SESC São João e Tersópolis; assinou a iluminação
do musical  “A Buzina do Chacrinha” - Circuito SESI-RJ; assinou: a cenografia de “Entre
parênteses”- SESC Tijuca e montagem e instalações da exposição “Transfronteiras”  de
Eneas Vale - Centro de Arte Hélio Oiticica.

Em 2012  assinou a cenografia de “Eu me afogo em qualquer  poça”  - Teatro


Municipal Maria Clara Machado; participou da Coletiva “Art Iguaçu”; dirigiu e iluminou
“Os métodos de ensino de Dona Margarida”  selecionado no Festival Niterói em Cena e
Fesq. ; coordenou a montagem de “O farol e o Mar” de Raimundo Rodriguez no Parque
das ruínas; assinou as cenografias de: “Hoje nunca é um outro dia”  e “Ifigênia em
Aulis” - Instituto CAL e Teatro do Jockey respectivamente; atuou no Espetáculo “Insulto
ao público”  - Espaço cultural Sérgio Porto; assinou a iluminação de “Lingua”  de Anja
Bittencourt na sede da Cia. Dos atores; assinou a cenografia do espetáculo do “núcleo de
dança do Tijuca Tênis Clube”.
Em 2013  foi responsável técnico por “alegoria que compôs a comissão de frente
da Escola de Samba Beija Flor de Nilópolis”; assinou a cenografia de “SPA”, no teatro
Vanucci, foi responsável pela releitura do cenário para o espetáculo: Bandeira de retalhos
do Grupo Nós do Morro apresentado no Chapitô – Lisboa. Expôs no SESC São João em
coletiva intitulada: “Três Expressões”. Dirigiu e assinou a cenografia de “Piquenique no
Front”- ECNB e UFRRJ.

Em 2014 integra a equipe de artes plásticas para a Fábula das 6, Meu pedacinho de
chão dirigida por Luiz Fernando Carvalho (Rede Globo) sendo responsável pelos projetos
dos animais cenográficos/mecânicos. Cria, em parceria com Henrique Sauer cenário para
a Cavalera no São Paulo Fashion Week (coleção de inverno).

Em 2015 assume a função de artista plástico para a minissérie “Dois Irmãos” sob


direção de Luiz Fernando Carvalho, assina a iluminação e cenografia de “Tolerance” no
Festival Off Avingon- França e integra a equipe de produção de arte para “Magnífica
70”, série para HBO. Integra a equipe de arte, como artista plástico para a novela “Velho
Chico” rede Globo de Televisão.

Em 2016 Ainda na equipe de arte de Velho” para o filme “Sound Track”. Produz


Elemento cenográfico para Natal Bradesco em Curitiba.

Em 2017 retoma a criação em novo atelier (Oca Atelier). Dirige o espetáculo teatral


“Inquérito 5736” da Cia de Segunda e assina a cenografia/iluminação do mesmo com a
criação do “Aparato óptico precarizado”

Em 2018 expõem na Bienal de Belas arte – MNBA - a obra: Panapaná.

“Compreender a produção de linguagem constituída


pelas artes plásticas, como manifestação teatral em sua
mais pura potencialidade é compreender uma aproximação
entre ambas expressões, entendê-las ainda como reflexo da
relação que o homem mantem com seu tempo”.
Carlos Avelino de Arruda Camargo.
Do lugar de onde se vê
Aproximações entre as artes plásticas e o teatro

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