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Rotinas de pensamento – Educação Infantil | 2


Sumário
1. Introdução.

- O que são as rotinas de pensamento?

- Os benefícios das rotinas de pensamento.

- As rotinas de pensamento na Educação Infantil.

2. Rotinas-chave.

- Ver, pensar e perguntar.

- O que faz você pensar assim?

3. Rotinas da Educação Infantil.

- Observando: 10 vezes 2.

- Ver, sentir e perguntar.

- Conversa de papel.

- Perguntas para começar.

4. Referências.

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O que são as rotinas de pensamento?
As rotinas de pensamento foram criadas pelo Projeto Zero (Project Zero) a partir de muitas
pesquisas com professores(as). São sequências simples de três ou quatro passos que direcionam e
estruturam o pensamento. Pensar pode estar relacionado com diversas ações, como descrever,
comparar, questionar, considerar pontos de vista diferentes, sintetizar ideias e tantas outras formas
de pensamento. Assim, cada rotina de pensamento foi desenvolvida como uma estratégia que ativa
algumas ações específicas do pensamento. Conforme são aplicadas, praticadas e repetidas ao
longo de experiências de aprendizagem variadas, elas estimulam padrões de pensamento que são
incorporados pelos(as) estudantes, que passam a utilizá-las em diversos contextos da vida.

Uma vez que você conheça as diferentes rotinas de pensamento e as formas de pensar que elas
promovem, você poderá selecionar aquelas mais apropriadas para o seu objetivo de aprendizagem.
Para os(as) estudantes, o pensamento ficará mais estruturado, compreensível e visível, sendo
utilizado como evidência de aprendizagem.

Dicas: selecionar algumas poucas rotinas de pensamento e usá-las de forma contínua e flexível é
preferível a escolher várias rotinas, pois isso ajuda a fortalecer as formas específicas de cada uma
delas. Além disso, sua aplicação não deve ser vista como apenas uma atividade a ser preenchida,
pois as discussões e conexões de pensamento são vivas, de modo que a sua profundidade
depende de quem participa e de quem faz a mediação de cada rotina de pensamento.

Saiba mais: o Projeto Zero é uma organização educacional da


Universidade de Harvard que promove diversas investigações sobre o
pensamento, a criatividade e a compreensão, indicando como é possível
apoiar esses elementos em múltiplos contextos. O PZ consiste em vários
projetos: um deles é o projeto Visible Thinking (Pensamento Visível). Esta é
uma abordagem flexível baseada em pesquisas que visam desenvolver a
compreensão do pensamento do(a) estudante, tornando-o visível, além de
promover o desenvolvimento, aprimoramento e a aplicação de habilidades
em diferentes situações de aprendizagem.

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Os benefícios das rotinas de pensamento
A aplicação das rotinas de pensamento, vez após vez, em sala de aula e em vários contextos,
constrói uma cultura de pensamento, ou seja, estabelece um lugar onde o pensamento do(a)
indivíduo e do grupo é valorizado, visível e ativamente promovido.

As pesquisas educacionais conduzidas pelo Project Zero mostram que, quando criamos
oportunidades desafiadoras para os(as) estudantes, eles(as) desenvolvem a habilidade de focar no
processo de aprendizagem, e não no resultado final. E as rotinas de pensamento apresentam
evidências de aprendizagem ao longo desse processo.

Por isso, estudantes expostos(as) às práticas de pensamento visível de forma consistente ao longo
do tempo são capazes de aplicar e desenvolver as diferentes formas de pensamento necessárias
para construir uma compreensão de vários conceitos (Ron Ritchhart e Mark Church, The Power of
Making Thinking Visible, 2020).

As rotinas de pensamento na Educação Infantil


Ao olhar a proposta inicial das rotinas de pensamento, que servem para qualquer idade, observamos
que em algumas é solicitado que o(a) estudante escreva suas reflexões. Pode parecer complexo
demais para aqueles(as) que ainda estão em processo de alfabetização e letramento, entretanto, a
intenção é mobilizar as formas de pensar e torná-las visíveis. Se o(a) professor(a) for a escriba das
crianças, por exemplo, usando post-its, um cartaz ou balões de fala em papel, poderá demonstrar a
elas que seu pensamento é valorizado. As próprias crianças, mesmo sem saber ler, conseguem
identificar que seu pensamento foi registrado e que está ali, presente na sala de aula.

Outras adaptações incluem trocar a escrita por desenhos e escrita espontânea ou mediar a rotina
para que a troca seja feita de forma oral, incentivando o trabalho com as habilidades de
comunicação. Ao perceberem as próprias reflexões sobre as exposições dos(as) colegas e tendo de
se expressar a respeito de forma compreensível, as crianças têm a oportunidade de desenvolver
essas habilidades de maneira rica e efetiva. As rotinas de pensamento também usam
questionamentos para o desenvolvimento do pensamento crítico e criativo das crianças, além de
contribuir para o despertar da curiosidade.

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10 sugestões para trabalhar as rotinas de
pensamento com crianças
As crianças nos surpreendem com suas conexões,
ideias e as múltiplas linguagens que usam para tornar
Tenha grandes expectativas.
seu pensamento visível. Valorize sua forma de pensar e
o processo do desenvolvimento de sua aprendizagem.

No início, ao seguir cada etapa proposta para a


aplicação da rotina, a experiência pode fornecer ideias
sobre o que funciona e o que precisa ser adaptado.
Experimente as rotinas como estão Lembre-se que ao aceitar esse desafio é esperado que
sugeridas antes de tentar alterá-las. você sinta dificuldades iniciais, comuns em qualquer
novo processo. Isso requer disposição e persistência,
até o total domínio da aplicação das rotinas de
pensamento com sua turma.

As rotinas não são o conteúdo; elas são veículos para


explorar o conteúdo. Quanto melhor for a escolha das
Utilize as rotinas com tópicos
peças sobre as quais as rotinas são realizadas (textos,
intrigantes e projetos que sejam
imagens, vídeos, áudios, entre outros), mais rico será o
significativos para as crianças.
resultado. Queremos promover uma compreensão
profunda do que está sendo aprendido.

Seja um modelo introduzindo na sua própria linguagem


os processos de pensamento que deseja estimular nas
crianças. Você pode ajudar oferecendo alguns modelos
de frases estruturadas. Exemplo do passo sentir da
Seja um exemplo das rotinas.
rotina Ver, sentir e perguntar: “Eu observei…., o que me
fez sentir…”. Outra maneira é fazer a rotina com outra
pessoa da turma ou um(a) assistente que sirva de
modelo.

Nomeie as ações das crianças. Por exemplo: “Você fez


Identifique as ações de pensamento
uma conexão quando relacionou… !” ou “Acho que sua
das crianças no dia a dia.
explicação faz sentido por…” etc.

Dessa forma, podemos revisitar o pensamento,


refletindo sobre ele e assim, incentivando novos
aprendizados sobre o tópico. Quando documentamos o
Registre o pensamento das crianças.
pensamento das crianças, comunicamos a elas o
quanto o valorizamos e o quanto o seu trabalho é
importante.

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Experimente as rotinas de pensamento em diferentes
Seja um(a) aprendente! contextos e tente integrá-las à linguagem e às rotinas
da sala de aula.

Entenda que este é um processo que Seja paciente, consistente e experimente coisas novas.
leva tempo. Só por tentar você já está fazendo a diferença.

Use as rotinas de pensamento como ferramentas para


aprofundar o tipo de raciocínio que você deseja que as
Concentre-se no pensamento que
crianças desenvolvam e não apenas como uma
você deseja promover e mostre por
atividade a ser cumprida. Queremos que cada criança
que isso é importante.
se torne uma grande pensadora, afinal, o aprender
passa pelo pensar.

Crie uma parceria com as famílias, incentivando que


Inclua as famílias no processo. em casa os adultos valorizem o pensamento das
crianças e se envolvam nas suas formas de pensar.
Estas sugestões foram desenvolvidas com a colaboração de Ana Maria Fernandez e outros(as) colaboradores da página do
fórum www.facebook/MakingThinkingVisible.

Nossa sugestão de aplicação das rotinas de pensamento

Rotina de
Sugestões de uso G2 G3 G4 G5
pensamento
Concentrar-se para fazer observações
Observando: 10 vezes 2
cuidadosas e ir além das impressões mais x x x x
Ouvindo: 10 vezes 2
óbvias.

O que faz você pensar Elaborar o pensamento, exercitando o


x x x
assim? raciocínio.

Explorar peças intrigantes partindo de sua


Ver, pensar e perguntar descrição, fazendo conexões e elaborando x x
perguntas.

Explorar diferentes peças e situações a


partir da descrição, passando pelos
Ver, sentir e perguntar sentimentos que surgem (próprios ou de x x
outras pessoas ou personagens), e realizar
perguntas.

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Rotina de
Sugestões de uso G2 G3 G4 G5
pensamento
Explorar possibilidades e elaborar boas
Perguntas para
perguntas. Podem ser aplicadas no início x x
começar
de uma investigação, por exemplo.

Introduzir e explorar ideias de forma


Conversa de papel colaborativa, considerando o ponto de x
vista das outras pessoas.

Rotinas-chave
As rotinas-chave são sugeridas para qualquer conteúdo, de qualquer segmento do Geekie One.
Isso porque quando as rotinas-chave são aplicadas regularmente elas acabam se tornando um
hábito de pensamento e comportamento. É na Educação Infantil que começamos a usar algumas
das rotinas-chave com as crianças: Ver, pensar e perguntar e O que faz você pensar assim?.

Utilizemos como exemplo a rotina de pensamento O que faz você pensar assim?: uma criança que
observa o interesse de sua professora em saber como suas explicações e opiniões foram elaboradas
percebe que constantemente seu pensamento é valorizado. Com o tempo, essa criança ganhará
facilidade em raciocinar e fazer explicações com base em evidências sem a necessidade da
facilitação do professor(a). O que faz você pensar assim? é uma rotina de pensamento simples de
aplicar, mas muito poderosa em sua intencionalidade pedagógica.

Lembre-se de que as rotinas variam em sua complexidade e dependendo da faixa etária, algumas
podem exigir mais orientação do que outras. Além disso, fazemos adaptações para garantir que as
rotinas escolhidas permitam que as crianças construam seu pensamento de forma significativa e
adequada ao seu desenvolvimento.

Rotina de pensamento Forma de pensamento

Introdução e
Ver, pensar e perguntar Descrever, interpretar e perguntar.
exploração

Construir explicações, justificar e


Aprofundamento O que faz você pensar assim?
raciocinar com base em evidências.

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Rotinas para introdução e exploração

Ver, pensar e perguntar


Formas de pensamento: descrever, interpretar e perguntar.

O que é?

Essa rotina incentiva observações cuidadosas e interpretações bem pensadas com base em
evidências, além de despertar a curiosidade.

Quando usar essa rotina?

Use essa rotina é usada na introdução de um assunto para motivar o interesse da turma e
capturar o conhecimento prévio das crianças. Utilize imagens, vídeos ou objetos significativos para
a turma, que contribuam para a oportunidade de criarem interpretações que não sejam óbvias
logo à primeira vista.

Passo a passo

Olhe para um objeto e responda:


1. O que você vê?
2. O que você pensa ou que relações você faz?
3. Que perguntas você tem? Que curiosidades estão surgindo?

Algumas dicas para aplicar essa rotina

Peça às crianças que façam observações sobre um objeto (por exemplo, pode ser uma obra de
arte, uma imagem, um artesanato ou até mesmo um assunto) e siga com uma conversa sobre as
reflexões feitas, abordando uma pergunta de cada vez. À medida que as crianças vão
respondendo, usando como base as três perguntas principais, a própria rotina e a construção do
pensamento ficam mais completas (Eu vejo… Eu penso… O que seria…).

As crianças podem expor seu pensamento individualmente, discutir cada passo da rotina em
duplas ou em pequenos grupos, baseando-se no pensamento dos(as) outros(as), com mediação
do(a) professor(a). Convide as crianças para compartilhar suas ideias e/ou as ideias de seu grupo.

No passo ver, peça à turma que liste apenas as coisas que vê, de forma descritiva, sem fazer
interpretações. São todos aqueles elementos que podem ser vistos e apontados com o dedo ou
indicados pessoalmente.
Lembre-se: a rotina pode pedir adequações devido à sua complexidade, para atender as
especificidades das turmas da Educação Infantil.

No passo pensar, peça à turma que diga o que acha que está acontecendo no objeto de estudo,
mostrando as relações entre as personagens e os elementos que aparecem. É importante que
o(a) professor(a) priorize as interpretações de forma livre, para depois, se necessário, fazer
perguntas de forma mais direcionada. Para ajudar as crianças a elaborarem seu raciocínio, o(a)
professor(a) poderá apoiá-las com algumas frases estruturadas, como

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“Quando eu vejo…………………………, eu penso…”.

Todo pensamento que as crianças compartilham deve ser valorizado e tido como importante.
Quando uma criança fizer uma observação, encoraje-a a justificar suas interpretações (O que faz
você pensar assim?), para ter mais evidências da forma de pensar de cada uma.

E, por último, no passo perguntar, peça à turma que crie perguntas ou questionamentos com
base em suas reflexões do passo anterior. É possível dar dicas para que as crianças possam fazer
perguntas utilizando quem, como, o que e quando.
Importante: as perguntas não têm respostas certas e podem ser criadas conforme as
curiosidades de cada uma das crianças. Se ainda assim as crianças tiverem dificuldade, o(a)
professor(a) pode sugerir perguntas para ajudá-las, por exemplo: “se a pintora do quadro
estivesse aqui, o que você perguntaria para ela?”; “que perguntas você faria para essa
personagem?”.

Como essa rotina fornece evidências?

O próprio diálogo em cada passo da rotina fornece evidências do aprendizado de cada criança.
Suas respostas podem ser registradas por escrito com o apoio do(a) professor(a), de modo que a
turma tenha um painel de observações, interpretações e perguntas. Também é possível pedir que
façam os registros com desenhos!

Quando o(a) professor(a) atua como escriba e deixa em evidência esses registros, as crianças
conseguem fazer conexões e até identificam a anotação que se refere à sua contribuição. Isso
permite maior proximidade com palavras e letras, auxiliando no processo da alfabetização.
Os resultados dessa experiência certamente serão surpreendentes!

Exemplo da rotina na prática

Na investigação “A festa é nossa! O que fazer para organizar uma festa?”, a turma do G4 da
Educação Infantil observa uma imagem escolhida pelo(a) professor(a). E, na sequência, o(a)
professor(a) executa a rotina de pensamento passo a passo, obtendo as seguintes respostas:

O(A) professor(a) realiza a mediação convidando as crianças para a atividade: “Turma, agora
vamos olhar atentamente essa imagem…”

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1. O que você vê na fotografia? Descreva as coisas que você observa.

Crianças, balões, molas, chapéu, bolo.

2. O que essa imagem faz você pensar? O que você pensa que as crianças estão
fazendo? O que faz você pensar assim?

É um aniversário. Uma das crianças está fazendo 6 anos. Elas estão felizes porque tem presente
em festa de aniversário.

3. Que perguntas vêm à sua mente ao observar a imagem? Imagine que você está com
essas crianças. O que você perguntaria sobre a atividade que elas estão realizando?

O que são essas molas? - pergunta uma das crianças.

A intenção do(a) professor(a) era que as crianças observassem a imagem, conseguissem pensar
e descrever elementos que são característicos de uma festa de aniversário, além de fazer
conexões com sua própria experiência de vida. Com as perguntas, buscou-se aprofundar a
reflexão sobre o que compunha a festa. A partir dessas discussões, o(a) professor(a) conseguiu
que as próprias crianças trouxessem ideias sobre o que seria necessário para organizar uma festa
de aniversário.
O(A) professor(a) também utilizou as observações e os questionamentos gerados na rotina de
pensamento para realizar o primeiro registro da vivência no portfólio, evidenciando como as
crianças construíram suas primeiras ideias sobre a festa com seus próprios conhecimentos.

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Rotinas para aprofundamento

O que faz você pensar assim?


Formas de pensamento: construir explicações, justificar e raciocinar com base em evidências.

O que é?

A rotina promove o desenvolvimento do raciocínio das crianças para elaborarem explicações ao


compartilharem sua forma de pensar e suas interpretações, com base em evidências.

Quando usar essa rotina?

Ela pode ser utilizada em qualquer momento em que as crianças exponham sua opinião, seu
pensamento ou sua interpretação de alguma temática ou questão. Quando o(a) professor(a) faz
uso dessa rotina, fortalece uma cultura em que a construção do pensamento é valorizada e
permite ter mais evidências de aprendizagem.

Passo a passo

Fique atento(a) com as discussões que estão acontecendo com a turma e observe em que
momento essa rotina pode ajudar a tornar explícito um raciocínio.

1. Pergunte à turma (ou criança) “O que faz você pensar assim?”, para ajudar cada criança
a construir suas explicações.

2. Se necessário, utilize uma segunda pergunta: “Com base em que você pensou isso?”, para
que as crianças possam construir seus argumentos.

Algumas dicas para aplicar essa rotina

Essa rotina solicita às crianças que descrevam algo como um objeto ou conceito, e que façam
interpretações tendo como base essas evidências. A natureza flexível dessas perguntas torna-as
úteis na observação de objetos como obras de arte, artefatos históricos, obras de arte, mas elas
também podem ser usadas para explorar poemas, fazer observações, levantar hipóteses
científicas ou investigar ideias mais conceituais (ex.: família).

A pergunta “o que faz você pensar assim?” também pode ser utilizada para complementar os
passos de outras rotinas. Ela pode ser aplicada oralmente ou de forma escrita com o apoio do(a)
professor(a).

Como essa rotina fornece evidências?

A rotina pode ser adaptada a qualquer contexto e ajuda a coletar informações sobre o
entendimento geral das crianças a respeito de um novo tópico ou conceito. Quando utilizada em
uma discussão, a rotina pode ser utilizada para aprofundar o pensamento e mostrar para o(a)
professor(a) as concepções e ideias que estão sendo construídas.

Exemplo da rotina na prática

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As crianças do G5 estão trabalhando na vivência “A casa de João e Maria hoje em dia…”, que faz
parte da investigação “Detetive de alimentos: o que podemos descobrir sobre os alimentos que
compramos?”.

Nessa vivência, a proposta é que as crianças analisem as imagens e os símbolos ilustrados nas
embalagens dos alimentos para descobrir quais pistas eles fornecem em relação a quanto o
alimento é ou não saudável.

Após diversas experiências mediadas pelo(a) professor(a), chega o momento de as crianças


colocarem em prática o que aprenderam e analisarem as embalagens com autonomia. O(A)
professor(a) usará a rotina de pensamento O que faz você pensar assim? para coletar
evidências do quanto as crianças estão mais críticas (ou não) com relação ao assunto.

Utilizando o minimercado que a turma montou na sala, as crianças tiveram a responsabilidade de


escolher os alimentos que iriam compor um lanche saudável para aquela tarde. Depois de as
crianças realizarem a “compra”, o(a) professor(a) organizou uma roda de conversa e perguntou a
cada uma delas (ou ao grupo) “qual alimento você escolheu?”. Ao ouvir a resposta, o(a)
professor(a) complementava: “qual imagem que você vê na embalagem faz você acreditar que
esse alimento seja saudável? O que faz você pensar assim?”.

Como o(a) professor(a) estava interessado(a) em saber os critérios utilizados pelas crianças e
como elas chegaram à conclusão de que o alimento era saudável ou não, a rotina de pensamento
O que faz você pensar assim? foi uma boa forma de evidenciar o raciocínio delas. Além disso,
quando as crianças são capazes de contar o que pensaram, muitas vezes conseguem fortalecer
as conexões que fizeram e torná-las visíveis para si mesmas. Isso as ajuda a se perguntar, em seu
dia a dia, se o alimento que escolhem, mesmo fora da escola, compõe ou não uma alimentação
saudável.

Rotinas para o segmento da Educação Infantil


Em essência, as rotinas de pensamento podem ser utilizadas com pessoas de qualquer idade.
No Geekie One, temos as rotinas-chave, utilizadas em todas as idades, e também novas rotinas que
agregamos a cada segmento. Isso torna as crianças da Educação Infantil e os(as) estudantes dos
demais segmentos capazes de incluir, aos poucos, novas rotinas em seu repertório.

Especialmente na Educação Infantil, é importante lembrarmos do papel fundamental do(a)


professor(a) como mediador(a) desse processo de implementação e execução das novas rotinas.
Essa mediação cuidadosa garante que as crianças exercitem e elaborem seus próprios
pensamentos, ou seja, o(a) professor(a) é (o)a grande responsável pelo processo de mediação da
elaboração do raciocínio e de valorização do pensamento das crianças.
No início, a aplicação das rotinas pode parecer um pouco desafiadora, mas, com a prática, as formas
de pensamento mais críticas e elaboradas vão se automatizando até fazer parte da rotina do
exercício do pensar das crianças.

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As rotinas de pensamento a seguir podem ser realizadas utilizando a oralidade como recurso,
facilitando o diálogo com base nos passos de cada uma delas. Ao ouvir as ideias das crianças, é
importante registrá-las. Desse modo, seus pensamentos são valorizados, ficam visíveis e fomentam
a aprendizagem colaborativa. Por outro lado, você terá registros do acompanhamento do
desenvolvimento de cada criança. Esses registros poderão ser compartilhados com a escola e com
as famílias. Você pode registrar as ideias da turma usando vários recursos, por exemplo, o quadro,
cartazes, folhas de sulfite ou fazendo uso do portfólio.

Rotina Formas de pensamento

Observando: 10 vezes 2 Fazer observações cuidadosas sobre imagens, artes


Ouvindo: 10 vezes 2 visuais ou objetos.

Fazer observações, estabelecer conexões,


Ver, sentir e perguntar
compartilhar sentimentos e despertar a curiosidade.

Considerar ideias, questões ou problemas ao


registrar ideias no papel, com desenhos e escritas
Conversa de papel
espontâneas. Considerar o pensamento de outras
pessoas no compartilhamento das ideias.

Elaboração de boas perguntas que levam a reflexão


Perguntas para começar e investigação. Ajuda a explorar um tópico em
profundidade.

Ver, sentir e perguntar


Formas de pensamento
Fazer observações, compartilhar sentimentos e despertar a curiosidade. Ótima rotina para aplicar
em um processo de investigação.

O que é?
Essa rotina ajuda as crianças a fazerem observações cuidadosas e, a partir delas, conhecer e
compartilhar seus sentimentos, além de incentivar sua curiosidade.

Quando usar essa rotina?


Pode ser usada no início de um novo tema para motivar o interesse na investigação que será
desenvolvida, assim como, para conectar assuntos e explorar diferentes sentimentos que surgem
para as crianças. Utilize imagens, vídeos, objetos ou até passagens de alguma história que você
esteja contando.
Aplicada ao final de um estudo, a rotina de pensamento contribui para o resgate dos novos
conhecimentos e das ideias conquistadas ao longo de uma investigação.

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Passo a passo
Peça para as crianças observarem a imagem ou o objeto.
Realize cada etapa separadamente, perguntando respectivamente:

1. O que você vê?


2. O que você sente quando observa essa imagem?
3. Que perguntas você tem? Que curiosidades estão surgindo?

Algumas dicas para aplicar essa rotina


No passo ver, peça à turma que liste apenas as coisas que vê, de forma descritiva, sem fazer
interpretações. São todos aqueles elementos que podem ser vistos e apontados com o dedo ou
indicados pessoalmente.
Lembre-se: a rotina pode pedir adequações devido à sua complexidade, para atender as
especificidades das turmas da Educação Infantil.

No passo sentir, você pode ajudar as crianças sugerindo uma estrutura de frase como “Quando
eu vejo……., sinto…..”. Uma variação é pedir que as crianças tentem fazer um exercício de empatia,
ao imaginar por exemplo o que uma personagem da história poderia estar sentindo.

Por último, no passo perguntar, peça à turma que crie perguntas ou questionamentos com base
em suas reflexões do passo anterior. É possível dar dicas para que as crianças possam fazer
perguntas utilizando quem, como, o que e quando.
Importante: as perguntas não têm resposta certa e podem explorar a curiosidade de cada
criança. O(A) professor(a) também pode ajudar as crianças na elaboração dos questionamentos,
por exemplo: “que perguntas você faria para a pessoa que organizou essa festa?; “se a pintora do
quadro estivesse aqui, o que você perguntaria para ela?”; “que perguntas você faria para essa
personagem?”.
É possível dar dicas para que as crianças façam perguntas que utilizem quem, como, o que e
quando. O importante é saber o momento de fazer essa mediação com dicas. Recomendamos
que o(a) professor(a) incentive e valorize o pensamento espontâneo de cada criança, antes de
intervir com alguma ajuda.

Como essa rotina fornece evidências?


Ao fazer observações, as crianças serão convidadas a dar visibilidade ao seu pensamento,
fazendo uma relação do que descreveram com o que pode estar acontecendo na situação
apresentada, de modo que possa mobilizar um ou alguns sentimentos. Pode ser que a criança
ainda tenha dificuldade de dar nome a um sentimento, mas ter visibilidade sobre isso ajuda o(a)
professor(a) a mediar essa construção.
As respostas das crianças são expressões da forma como elas constroem a interpretação, como
fundamentam suas ideias. Sem perder isso de vista, o(a) professor(a) ajudará as crianças na
construção de interpretações saudáveis e bem fundamentadas.

Exemplo da rotina na prática


Essa rotina se executa com o mesmo passo a passo da rotina ver, pensar e perguntar, porém, no
passo 2, ao invés de explorar as relações de pensamentos, o(a) professor(a) ajudará as crianças a
fazer conexões e a reconhecer seus sentimentos.
Essa rotina também é um recurso potente para que as crianças estabeleçam conexões entre os
seus sentimentos e as diferentes motivações que possam tê-los despertado.

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Observando 10 vezes 2
Formas de pensamento

Fazer observações cuidadosas sobre imagens, artes visuais ou objetos.

O que é?
Essa rotina ajuda as crianças a se concentrar para fazer observações cuidadosas e detalhadas,
incentivando-as a ir além das primeiras impressões e características óbvias.

Quando usar essa rotina?


Use essa rotina com qualquer tipo de arte visual, como fotos, vídeos, objetos curiosos, capas ou
ilustrações de histórias. A rotina pode ser usada sozinha ou (quando você estiver confiante) pode
ser aplicada para aprofundar a etapa de observação de outra rotina, por exemplo, no passo ver
da rotina Ver, pensar e perguntar.

Passo a passo

Ao apresentar uma imagem ou um objeto à sua turma, siga estas orientações:

1. Olhe para a imagem ou o objeto em silêncio por pelo menos 30 segundos. Deixe seus
olhos vagarem, passeando por cada detalhe da imagem.
2. Liste 10 palavras ou frases sobre quaisquer aspectos da imagem.
3. Repita o primeiro e o segundo passo: olhe para a imagem novamente e tente adicionar
mais 10 palavras ou frases à sua lista.

Para turmas com crianças mais novas, sugerimos também algumas adaptações nos comandos,
para que a rotina de pensamento seja feita principalmente de forma oral.
1. Olhe a imagem em silêncio. (O tempo é cronometrado pelo(a) professor(a)).
2. Fale algumas palavras sobre o que você observa na imagem.
3. Repita o primeiro e o segundo passo: olhe para a imagem novamente e tente dizer novas
palavras.

Algumas dicas para aplicar essa rotina

Para que a rotina seja interessante, escolha uma imagem ou um objeto que tenha vários
elementos que possam ser observados. Não devemos utilizar algo óbvio e que podemos entender
olhando para ele apenas uma vez.

Você pode experimentar com a sua turma diferentes formas de iniciar a rotina:

- Convide as crianças para que, em silêncio, deem uma primeira olhada no objeto de
estudo. Isso ajuda a evitar que as crianças comecem a descrever o objeto sem deixar um
tempo para a observação individual.
- Ofereça um desafio: as crianças precisam listar ou escrever em segredo 10 itens que
conseguem observar.

Sobre a listagem de itens, existem algumas dinâmicas que você pode considerar:

- O(A) professor(a) pode atuar como escriba registrando as ideias da turma, de modo que
se produza um painel de observações coletivas.
- As próprias crianças fazem a listagem com 10 desenhos e escritas do que observaram.

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Para crianças pequenas, a listagem pode ser adaptada para 3 ou 5 anotações.
- A atividade pode ser apenas oral, com um revezamento das crianças para contar o que
observaram, evitando repetições.

Para repetir os passos 1 e 2, considere ajudar as crianças oferecendo novos olhares que ajudem
a fazer observações mais profundas: o que mais pode ser observado? Quais cores, formatos e
linhas podemos observar?

Essa rotina é especialmente útil para ajudar as crianças a desenvolverem uma linguagem
descritiva.

Como essa rotina fornece evidências?

As observações das crianças evidenciam o seu aprendizado com as nuances que elas são
capazes de identificar. Ao compartilhar o que cada pessoa observou, peça que as outras crianças
também identifiquem o elemento que seu(sua) colega observou. Isso incentiva a turma a fazer
conexões com o pensamento de outras pessoas e a identificar padrões ou temas comuns.

Exemplo da rotina na prática

As crianças da turma 5 da educação infantil estão trabalhando na vivência “Uma obra de arte
saborosa…”, que faz parte da investigação Detetives de alimentos.

Vertumnus, de Giuseppe Arcimboldo, 1591. Óleo sobre painel, 700 mm x 580 mm. Castelo de Skokloster, Habo, Suécia.

Para iniciar uma discussão sobre alimentação saudável, o(a) professor(a) perguntou para as
crianças se elas já tinham visto uma comida tão bonita que pudesse lembrar uma obra de arte.
Perguntou também se elas já tinham visto comidas com formato que lembrasse algum desenho,
bichinhos etc.

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Depois dessa calorosa conversa, o(a) professor(a) convidou as crianças a fazer uma experiência
a fim de observar se elas conseguiriam superar esse desafio. Para isso, ela mostraria uma
imagem e cada criança teria que observá-la com tranquilidade por 30 segundos.

Em tom de mistério e desafio, ajudando as crianças a conquistarem serenidade para realizar a


primeira etapa, o(a) professor(a) orientou os passos dessa rotina de pensamento. As respostas
foram as seguintes:

1) Façam uma lista com 3 ou 5 desenhos do que viram:


Uva, pera, milho e capim.

2) Oralmente, contem o que viram:


Uva, pera, milho e capim.

Na troca mediada pelo professor(a), as crianças descobriram que o capim que tinham visto no
quadro, na verdade, era trigo!

Ao repetir os dois primeiros passos, as crianças adicionaram novas observações:

1) Façam uma lista com 3 ou 5 desenhos do que viram:


Uva, pera, milho, trigo, olho, boca e nariz.

2) Oralmente, contem o que viram:


Uva, pera, milho, trigo, cabelo, olho, nariz, rosto.

No diálogo, as crianças fizeram conexões com o momento inicial do encontro, no qual o(a)
professor(a) havia perguntado sobre a semelhança de alimentos com outras formas, expandindo
a criatividade da turma. Nesse diálogo, o(a) professor(a) pôde observar tanto os aprendizados
com relação a nomes de alimentos quanto as riquíssimas conexões que as crianças fizeram entre
a obra de arte apresentada e o diálogo do início da aula.

Ouvindo 10 vezes 2
“Ouvindo 10 vezes 2” é uma variação da rotina “Observando 10 vezes 2”. O mesmo passo a passo
é usado para a sua execução, porém, o objeto de aprendizagem será audível.

Conversa de papel
Formas de pensamento
A rotina promove a oportunidade das crianças raciocinarem, considerando ideias, questões ou
problemas. Em um segundo momento, elas fazem conexões com o pensamento de outras
pessoas.

O que é?
As crianças desenham ou utilizam a escrita espontânea para trazer seu pensamento a respeito de

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ideias, questões ou problemas escritos em uma folha de papel. Use a rotina para gerar novas
ideias, incentivando as crianças a considerar outras perspectivas e a estabelecer conexões com as
ideias de outras pessoas. Essa é uma forma colaborativa de aprender.

Quando usar essa rotina?


A rotina pode ser usada para que todas as crianças possam expor suas opiniões e seus
conhecimentos e depois consigam perceber as ideias de colegas para construir conhecimento
juntas. A discussão aberta no papel garante que todas as crianças tenham a oportunidade de se
expressar sobre o tópico.
São muitas as possibilidades de aplicação: para conhecer mais sobre as crianças, levantar
conhecimentos prévios, discutir uma pergunta ou construir o conhecimento sobre um tema.
Passo a passo
1. Em uma folha grande, escreva uma sentença no centro do papel. O número de folhas vai
definir a quantidade de grupos que serão formados. Considere grupos pequenos para que
as crianças possam ter espaço para trabalhar, mas que ainda deem espaço para registros
de diferentes crianças em uma mesma folha.
2. Apresente a sentença escrita no papel e depois peça para as crianças registrarem as
ideias surgidas a partir dela.
3. Depois de as crianças terem realizado os registros, faça uma rodada para que elas
possam apresentar o trabalho do grupo. Exemplo de pergunta facilitadora: O que vocês
desenharam nesta folha?
4. Depois de ouvir as explicações sobre as produções do grupo, as crianças poderão fazer
conexões com seus próprios desenhos. Exemplos de perguntas facilitadoras:
O que vocês conseguem reparar que foi comum entre todas essas produções?
O que foi comum nas respostas e reações?
O que gerou surpresas?
Quais foram os pensamentos diferentes que surgiram?

Algumas dicas para aplicar essa rotina


Depois de os grupos responderem em suas folhas, o(a) professor(a) precisará facilitar o processo
para que as crianças compartilhem seus pensamentos. Uma sugestão é que antes de um
momento coletivo, enquanto a turma trabalha em diferentes cantinhos ou atividades, um grupo
esteja com o(a) professor(a) contando sobre sua produção. Assim, como escriba, o(a) professor(a)
pode ajudar fazendo anotações nas folhas. Esse trabalho com pequenos grupos vai ajudar o(a)
professor(a) a identificar as evidências de aprendizagem de cada criança.

Depois de esse trabalho ter sido realizado com todos os grupos, fica mais fácil socializar as
respostas com toda a turma. Use as anotações das folhas para auxiliar nas discussões, mas deixe
que as próprias crianças comecem apresentando e interpretando os registros.

Quando você já estiver confiante para aplicar essa rotina de pensamento, experimente:
- Para o passo de estabelecer conexão entre as ideias, as crianças podem trabalhar na folha
de papel do grupo e usar uma canetinha para desenhar linhas entre ideias semelhantes ou
um “x” em algo que pensam diferente.
- Utilize algumas folhas com diferentes sentenças em cada uma. Dessa forma, todas as
crianças fazem seus registros sobre o tema e as conexões são mais fortes porque surgem
padrões.

Como essa rotina fornece evidências?


Por meio dos registros nas folhas, o(a) professor(a) pode identificar o conhecimento prévio das
crianças sobre uma temática, conhecer seu ponto de vista e até conhecer mais sobre a vida delas,

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dependendo da sentença central. Além disso, com os desenhos será possível avaliar a evolução
dos traços e das representações. A partir das escritas espontâneas, o(a) professor(a) avalia as
hipóteses de escrita e como a criança entende sua aplicação.

Exemplo da rotina na prática


No tema de investigação Detetives de alimentos do grupo 5 da educação infantil, o(a)
professor(a) queria realizar uma vivência na qual as crianças pudessem identificar diferentes
números presentes nos mercados e nas embalagens dos alimentos. Para dar início a essa vivência,
ela escolheu a rotina Conversa de papel para levantar os conhecimentos prévios das crianças.

Na folha de cada grupo, ela escreveu em letras grandes a seguinte pergunta: ONDE PODEMOS
ENCONTRAR NÚMEROS? Então, deixou um tempo para que as crianças fizessem seus registros.
Observe como ficou a folha de um dos grupos:

Uma das crianças do grupo logo observou:

- O do Eduardo parece um teatro. (criança)


- O que faz você pensar que parece um teatro? (professor(a))
- Porque tem cadeiras… e várias pessoas…. – e logo complementou – O desenho amarelo
parece um prédio e o azul, uma casa. (criança)
- Ah, é? Nossa, como você sabe que é um prédio e uma casa? (professor(a))
- Porque o amarelo tem dois andares, o azul só tem um… (criança)

Depois desse momento, o(a) professor(a) continuou a conversar com o grupo e pôde adicionar
algumas anotações sobre os desenhos:

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A partir das discussões com as crianças e dos registros que fizeram, o(a) professor(a) conseguiu
identificar que algumas crianças apresentavam a notação com números e relacionavam-os a
diferentes lugares em que já os tinham visto. Além disso, uma das crianças já consegue escrever a
palavra “escola” de forma silábica-alfabética. Foram diversas as evidências de aprendizagem, a
partir das quais o(a) professor(a) conseguiu explorar com a turma diferentes lugares e usos dos
números no cotidiano, bem como pensar em algumas hipóteses do que poderia avançar no
processo de alfabetização das crianças.

Perguntas para começar


Formas de pensamento
Elaboração de boas perguntas que levam a uma reflexão e a uma investigação. A rotina ajuda a
explorar um tópico em profundidade.

O que é?
Essa rotina incentiva a criação de boas perguntas, fornecendo às crianças oportunidades para
desenvolver e praticar a elaboração de perguntas que auxiliam na investigação e na reflexão
sobre um tópico.

Quando usar essa rotina?


Você pode aplicar essa rotina para aprofundar o pensamento das crianças, incentivar a
curiosidade e aumentar a motivação para a investigação. Assim podemos começar a revelar a
complexidade de um tópico. A rotina as ajudará a elaborar diferentes tipos de perguntas sobre um
tópico.

Passo a passo
Use essas “perguntas para começar” para ajudar as crianças a pensarem em perguntas
interessantes.

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1. Apresente um tópico, conceito ou objeto.
2. Mostre para as crianças os inícios das frases da rotina. Isso as ajudará a ter uma ideia de
estrutura para elaborar perguntas interessantes:
→ Por que… ?
→ E se… ?
→ Quais são os motivos… ?
→ Como seria se… ?
→ Imagine que… ?
→ E se soubéssemos… ?
→ O que mudaria se… ?

3. Baseando-se nessa estrutura, peça que as crianças elaborem diversas perguntas.

O(A) professor(a) fará a mediação do diálogo de forma coletiva, de modo que as crianças
conheçam as perguntas dos colegas e também tenham curiosidade em investigar possíveis
respostas.
O(A) professor(a), com mediação cuidadosa, poderá ajudá-las a escolher as perguntas que mais
despertam curiosidade e usá-las no desenvolvimento da investigação.

Algumas dicas para aplicar essa rotina


Antes de usar essa rotina, você pode perguntar às crianças o que elas acham que é uma boa
pergunta. Então, quando você apresentar a rotina, explique que é uma ferramenta para fazer boas
perguntas.

No começo, experimente fazer a rotina com a turma toda para que seja possível orientar e facilitar
a elaboração das perguntas. Você pode começar dando exemplos de uma pergunta: “O que
mudaria se a fruta não tivesse casca?” Então, peça que as crianças pensem em perguntas que
começam do mesmo jeito.

Quando elas já estiverem mais familiarizadas com a rotina, deixe um tempo para que trabalhem
em pequenos grupos ou individualmente para pensar em suas próprias perguntas utilizando os
diversos começos, antes de compartilhá-las com a turma.

Uma outra sugestão é que você, professor(a), seja a escriba e registre as ideias das crianças. Os
registros devem ser organizados de modo que as crianças consigam recorrer e identificar
facilmente suas perguntas. Para isso, é recomendado ao(à) professor(a) deixar esse material
exposto em um local de fácil acesso e com boa visibilidade para a turma.

Conforme a investigação caminhar, mais perguntas podem ser adicionadas à lista e a turma pode
anotar as descobertas sobre suas perguntas, percebendo que contribuíram no processo de
aprendizagem de algo novo.

Como essa rotina fornece evidências?


No decorrer do desenvolvimento da investigação, o(a) professor(a) poderá ajudar as crianças a
identificar aprendizados que estejam relacionados às perguntas feitas inicialmente. Poderá ainda
criar momentos estratégicos para retomar as perguntas iniciais e explorar ainda mais o tópico,
contando uma história, fazendo um desenho ou, até mesmo, tentando criar um experimento a
partir delas.
Essas situações contribuem para que o(a) professor(a) colete evidências de aprendizagem,
observando um questionamento inicial e a construção da elaboração das respostas.

Exemplo da rotina na prática

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O(A) professor(a) do grupo 5 da educação infantil estava iniciando a primeira vivência da
Investigação Eu astronauta - o que podemos aprender interagindo com o céu?.

Antes de propor a rotina de pensamento, o(a) professor(a) preparou a turma para iniciar uma
nova vivência. Ela explicou que elas poderiam imaginar que eram astronautas e fariam uma
grande viagem pelo espaço para investigar tudo o que quisessem.

Para começar essa investigação sobre o espaço, o(a) professor(a) disse que as crianças teriam
que pensar como astronautas e elaborar boas perguntas para ajudar em sua exploração no
espaço. Para isso, iniciou uma conversa com a turma sobre o que seria uma boa pergunta e
elencou elementos como: perguntas cujas respostas ainda não sabemos, que consideram nossas
curiosidades e coisas que queremos saber mais.

Depois dessa conversa, o(a) professor(a) apresentou em um cartaz boas formas para se começar
uma pergunta:
→ Por que… ?
→ E se… ?
→ Quais são os motivos… ?
→ Como seria se… ?
→ Imagine que… ?
→ E se soubéssemos… ?
→ O que mudaria se… ?

Tendo esse cartaz visível para as crianças, o(a)


professor(a) apresentou uma imagem do espaço e pediu
que elas elaborassem perguntas usando como base o
início das perguntas apresentadas anteriormente.

Vendo que a turma ainda estava um pouco tímida, o(a)


docente ajudou dando um exemplo:
“Quais são os motivos de essa viagem acontecer?”

Na sequência, com mediação do(a) professor(a), as


crianças elaboraram as seguintes perguntas:

→ Por que… tem uma corda no astronauta?


→ Quais são os motivos… de não ter lanterna no foguete?
→ E se… acabar a gasolina?
→ Como seria se… a gente chegasse ao final no céu?
→ Imagine que… o astronauta ficou com fome, como faz?
→ E se soubéssemos… que tem mais gente no espaço?
→ O que mudaria se… o astronauta não quisesse viajar?

O(A) professor(a) deixou o cartaz pendurado na sala para que toda a turma pudesse retomar as
perguntas ao longo da investigação e encontrar respostas para suas curiosidades.

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Referências

1. Making Thinking Visible (2011), por Ron Ritchhart, Mark Church e Karin Morrison.

2. Creating Cultures of Thinking (2015), por Ron Ritchhart.

3. The Power of Making Thinking Visible (2020), por Ron Ritchhart e Mark Church.

4. Project Zero. Disponível em: http://www.pz.harvard.edu/. Acesso em: 3 maio 2021.

5. Visible Thinking Project, Project Zero. Disponível em:

https://pz.harvard.edu/projects/visible-thinking. Acesso em: 3 maio 2021.

6. Project Zero’s Thinking Routine Toolbox. Disponível em:

https://pz.harvard.edu/thinking-routines. Acesso em: 3 maio 2021.

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