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DURANTE A AULA

Feito o planejamento antes da aula, é hora de praticar a Pedagogia da Presença no


exercício cotidiano das aulas do componente curricular Projeto de Vida.
Veja a seguir dicas para compreender os cuidados que devem ser tomados durante a
aula em relação a vários aspectos, como:
➔ Gestão da aprendizagem;
➔ Gestão relacional;
➔ Gestão do tempo e do espaço;
➔ Avaliação.

Gestão da aprendizagem

O engajamento do estudante se dá no início e durante a aula. Por isso, é essencial


partir de uma situação mobilizadora; trazer um recurso que permita o
questionamento, um desafio, uma proposta investigativa; ou simplesmente
problematizar o conhecimento prévio dos estudantes sobre o conteúdo que será
abordado. Esse movimento pode ser realizado com a turma reunida em roda de
discussão ou em pequenos times.

É interessante organizar as discussões em dois momentos: primeiro em pequenos


grupos e depois com a turma toda. Dessa forma, os estudantes têm a oportunidade de
partilhar suas percepções ou concepções iniciais antes do momento de socialização com
a turma.
Em sua mediação, o professor provoca o confronto respeitoso e empático de opiniões e
abre espaço para dúvidas, despertando a curiosidade para aprender sem, no entanto,
fazer explicações detalhadas. O importante, aqui, é conhecer o ponto em que os
estudantes se encontram, o que eles conseguem fazer ou perceber por si mesmos, como

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mobilizam seus conhecimentos prévios, para, depois, configurar melhor a situação
problematizadora sobre a qual se desenvolverá a aula ou as aulas seguintes a essa.

Outras considerações sobre gestão da aprendizagem


➔ Trabalhe intencionalmente o protagonismo dos estudantes para que eles se
corresponsabilizem pela gestão de suas aprendizagens.
➔ Busque conhecer permanentemente os estudantes e orientar suas trajetórias de
aprendizagem nas aulas das áreas de conhecimento de forma articulada ao seu
projeto de vida.
➔ Estabeleça um pacto de trabalho com os estudantes, dialogando sobre os
objetivos de cada atividade e explicitando os objetivos de aprendizagem.
➔ Traga bons exemplos para ilustrar os conceitos.
➔ Crie oportunidades para o desenvolvimento de competências (cognitivas e
socioemocionais).
➔ Proponha metodologias ativas sempre que possível e de forma intencional.
➔ Faça boas perguntas e suscite a participação dos estudantes, sendo receptivo,
acolhendo e problematizando as respostas trazidas por eles, buscando estimulá-
los no sentido de escolhas saudáveis, sustentáveis e éticas.
➔ Realize orientações dos grupos de trabalho quando os estudantes estiverem
trabalhando em times.
➔ Apoie a formação, organização e dinâmica dos grupos de trabalho quando
necessário. Um dos critérios para a formação dos times pode ser envolver
estudantes que apresentem, no momento, mais dificuldades com outros que
estejam com maior desenvoltura no aprendizado de determinados
conhecimentos.
➔ Considere que os estudantes não são estanques em zonas de “quem aprende
mais” e de “quem aprende menos”, e que é importante valorizar a colaboração,
sempre.
➔ Use o erro como instrumento de aprendizagem. Em todos os campos de
conhecimento, a questão do erro é importante para a problematização, pois
qualquer processo de aprendizagem prevê aproximações aos conceitos, ideias
ou procedimentos em estudo, em um movimento constante de ensaios e erros.

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Isso quer dizer que o erro não deve ser visto como algo nocivo: ele é um
“trampolim” para a aprendizagem. No componente Projeto de Vida, essa
atenção e cuidado precisam ser redobrados, pois não cabe considerar “certo” e
“errado” em alguns pontos do desenvolvimento de projetos de vida e sonhos. O
importante é a reflexão e a problematização.
➔ Dê suporte na identificação de fontes de informação e na seleção e análise dos
materiais a serem considerados como referência.
➔ Apresente referências de conceitos, aportes teóricos e procedimentos.

Durante o desenvolvimento dos projetos de intervenção1, previstos no 8º ano do Ensino


Fundamental:
• Oriente-se pela metodologia de educação por projetos, que prevê etapas para seu
planejamento, desenvolvimento e apropriação de resultados.
• Apoie-os na “calibragem” do planejamento e da execução do projeto (de modo que os
objetivos sejam factíveis, os esforços dos times sejam organizados e as ações sejam
ajustadas, sempre que necessário).
• Estimule os times e oriente-os a registrar os processos vividos e os conhecimentos
aprendidos, bem como a elaborar produtos como relatórios, vídeos, ensaios, artigos,
revistas, blogs, apresentações etc.

Nas aulas que envolvam leitura e produção de textos, com base na complexidade que a
leitura pode trazer na etapa de planejamento “antes da aula”, fique atento às dicas a
seguir:
➔ Decida qual é a forma mais interessante de promover a leitura: individual, com
mais autonomia discente, em duplas, times ou com a turma toda. Nessas últimas

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Agir de modo estruturado e sistemático para enfrentar problemas reais da escola e do seu entorno;
“colocar a mão na massa” colaborativamente a favor do bem comum; provocar impacto positivo na vida
de muitas pessoas – inclusive, na própria vida –, aprendendo atitudes estratégicas e desenvolvendo
competências cognitivas e socioemocionais; conectar-se a uma rede de contatos e de diálogo com
profissionais que atuam no mundo do trabalho: esses são alguns dos desafios que motivam os estudantes
a proporem e a desenvolverem projetos. O projeto de intervenção possibilita que a escola seja um espaço
que considere e acolha os interesses e anseios dos estudantes. O aprendizado no projeto de intervenção
promove uma dupla transformação: ao mesmo tempo em que os estudantes aprendem mais sobre si
mesmos, constroem conhecimentos e se transformam, eles aprendem meios para agir concretamente e
ajudar a transformar o mundo, colocando suas ideias em prática para resolver problemas reais da escola
e do seu entorno.

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modalidades, a colaboração permitirá que os sentidos para os textos sejam
construídos de forma processual e compartilhada.
➔ Contextualize os objetivos da leitura para os estudantes, relacionando-os com a
situação de aprendizagem em expectativa (sistematizar um conceito, construir
uma contextualização, apreciar esteticamente e formar opinião, entre outras
finalidades).
➔ Inicie as atividades que envolvam a leitura com atitude problematizadora,
lançando perguntas e trazendo referências sobre as obras que os estudantes
lerão ou a que assistirão, ativando os conhecimentos prévios deles.
➔ Faça intervenções que apoiem os estudantes na construção de sentidos dos
textos, com questões que os ajudem a operacionalizar as capacidades de leitura,
em especial as capacidades críticas de apreciação.
➔ Oriente os estudantes a utilizarem procedimentos de leitura para estudo (como
o grifo, por exemplo), que implicam o uso de gêneros escritos de apoio à
compreensão, como anotações, paráfrases, resumos, fichamentos e esquemas,
mas sempre cuidando para tomar esses procedimentos e gêneros como matéria
de ensino.
➔ Avalie a capacidade crítica de leitura dos estudantes, com o intuito de planejar
as futuras aulas com abordagem criativa e plural.
➔ Promova momentos em que a turma possa checar suas compreensões e se
posicionar quanto ao texto, com apreciação estética e ética.
➔ Promova a análise metacognitiva, apoiando os estudantes na percepção e
apropriação dos procedimentos e capacidades de leitura de que se valeram, de
modo que possam mobilizá-los com autonomia em outras leituras.
➔ Acompanhe a produção dos estudantes, orientando-os a relerem o que estão
produzindo com o objetivo de avaliar (e problematizar) continuamente a
qualidade da construção do texto quanto à adequação dos recursos linguísticos
e de outras linguagens, tendo em vista suas intencionalidades.
➔ Promova revisões coletivas para análise (entre pares) dos textos produzidos,
considerando a sua adequação ao contexto de produção previamente definido e
ao uso dos recursos linguísticos e de outras linguagens na construção dos
sentidos intencionados, visando à prática de revisão “final”.

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➔ Garanta a circulação das produções finalizadas, considerando os interlocutores
previamente definidos.

Gestão relacional

O estabelecimento de relações interativas de confiança se traduz em atitudes


simples, mas que requerem a atenção constante do professor. O cuidado é não
deixar os encontros cotidianos se tornarem uma rotina mecanizada que
automatize e dessensibilize as relações humanas e padronize os processos de
desenvolvimento de projeto de vida.

Outras considerações sobre gestão relacional


➔ Seja pontual e demonstre que se preocupa com a ausência ou o atraso dos
estudantes, contribuindo para que seja criada uma rotina de iniciar a aula no
horário acordado, com a presença de todos.
➔ Acolha os estudantes, criando um ambiente positivo para o início da aula,
praticando os “pequenos nadas”, como dar “bom dia”, “boa tarde” e “boa
noite”; chamar os estudantes pelos nomes e referir-se a cada um com respeito;
e cuidar da comunicação verbal e corporal para que seja realmente acolhedora.
➔ Estimule os estudantes a expor seus conhecimentos e pontos de vista,
promovendo a circulação da palavra entre eles, ouvindo-os sempre com atenção
e interesse, partindo das contribuições deles para a construção de outras, em
um verdadeiro processo de diálogo.
➔ Mostre por meio de palavras e ações concretas que acredita no potencial de
aprendizagem de cada um deles e que respeita seus sonhos e projetos, fazendo
os combinados de trabalho e estimulando-os a que se dediquem nos momentos
de maior esforço.
➔ Mostre as qualidades e acertos de cada estudante, construindo uma ponte
segura para a superação de dificuldades. Valorize o esforço envolvido no
processo de aprendizagem, deixando explícitas as expectativas que possui para
cada estudante e sua crença no potencial dele.

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➔ Ajude os estudantes a perceber, compreender e respeitar outros valores e
pontos de vista, bem como a exercitar a empatia para com as vivências, sonhos
e projetos dos colegas.
➔ Fortaleça o sentimento de pertencimento dos estudantes à escola, valorizando
os símbolos e culturas que trazem, assumindo postura aberta e respeitosa para
compreendê-los e ouvi-los.
➔ Medeie situações de suposta “indisciplina”, ajudando os estudantes a identificar,
refletir e contribuir na resolução das situações de conflito, indiferença,
descompromisso etc., tomando cuidado para não tornar esse momento algo
moralizante.
➔ Apoie a formação, a organização e a dinâmica dos agrupamentos de trabalho, no
caso da realização de atividades que envolvam a colaboração entre os
estudantes. Nesse caso, medeie o trabalho dos grupos quanto à construção de
regras de convivência e pautas de trabalho e as reitere sempre que necessário.
➔ Oriente e acompanhe o trabalho coletivo, garantindo que cada estudante
participe ativamente, dando o melhor de si e sendo responsável pelo seu
aprendizado e, também, pelo aprendizado e bem-estar dos colegas durante as
aulas de Projeto de Vida.
No caso dos times, é preciso ter atenção a papéis que dão suporte ao trabalho,
como a responsabilidade pelo registro, o controle do tempo e a liderança. Esse
último papel é fundamental: todos os membros do time devem aprender a
liderar e a serem liderados. O papel do líder deve rodiziar a cada atividade e não
pode ser confundido com o papel de “quem manda ou toma as decisões
sozinho”. É preciso relacioná-lo à função de organizar o trabalho coletivo, dividir
as tarefas, motivar a participação de todos e assegurar a conclusão das ações.
➔ Promova momentos de reflexão coletiva sobre os significados das atividades que
envolvem a colaboração. Instigue-os a pensar sobre as diferenças entre essas
atividades e aquelas em que aprendem individualmente; o que tem sido mais
difícil para eles nos momentos em que são chamados a colaborar; o que
aprendem com essas atividades; e o que consideram que ainda precisam
aprender e fazer para que a colaboração seja mais rica para cada um e para
todos.

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➔ Espelhe as competências, valores e atitudes que os estudantes estão
desenvolvendo.

Gestão do tempo e do espaço

O diálogo, o debate e o trabalho colaborativo são marcas dos encontros de


Projeto de Vida, e é importante que a organização da sala de aula (ou do espaço
em que serão realizados os encontros) reflita essas escolhas metodológicas. Por
isso, uma dica é preparar a sala junto com os estudantes, reorganizando o
mobiliário e os materiais necessários às atividades do dia. Lembre-se de que um
ambiente organizado é elemento facilitador para o desenvolvimento de
competências como foco e concentração. Já o contrário, um espaço
“bagunçado”, é um convite à dispersão.

Dentro das possibilidades da escola, indica-se que as atividades aconteçam não apenas
em salas de aula, podendo ser realizadas na biblioteca, no espaço de convivência, na
quadra de esporte etc. Para a maioria das atividades, recomenda-se que, na conversa
inicial e no “aquecimento” do encontro, a turma se organize em roda. Dessa forma,
todos podem se enxergar e a interação é estimulada. Para as outras etapas das
atividades, a turma se organiza conforme as indicações.

Outras considerações sobre gestão do tempo e do espaço


➔ Cuide da gestão do tempo, evitando “ladrões” como a desorganização do espaço
e dos materiais, o estabelecimento frágil ou insuficiente de regras de convívio, a
bagunça etc.
➔ Crie, com os estudantes, uma cultura de respeito aos horários de início e fim das
atividades e cuide para que os tempos previstos para cada uma delas sejam
respeitados.
➔ Explique de forma clara o itinerário a ser percorrido no encontro, destacando os
pontos que mereçam mais atenção do grupo.

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➔ Informe o tempo previsto para cada atividade e proponha um combinado em
relação a como será feita a gestão desse tempo (se vai ficar a seu cargo ou de
algum estudante, em que momentos e como serão feitos os avisos de que o
tempo de cada atividade está se esgotando etc.); e detecte os momentos de
dispersão, chamando a atenção para o foco da atividade.

Avaliação

Todas as atividades do componente curricular Projeto de Vida preveem um


momento de avaliação, em que o estudante e o professor buscam refletir e
identificar se os objetivos de aprendizagem foram alcançados e em que medida,
bem como identificar desafios e o que precisa ser aperfeiçoado. São avaliações
não pontuadas, realizadas no decorrer das aulas e que têm como objetivo
contribuir para o percurso de aprendizagem dos estudantes e orientar a prática
pedagógica do professor.

Outras considerações sobre a avaliação durante a aula.


➔ Colabore na avaliação (avaliar os estudantes durante e ao final de cada atividade,
incluindo-os no processo de avaliação) e no processo de apropriação dos
resultados pelos estudantes, dando devolutivas relativas aos objetivos que
foram alcançados e àqueles que precisarão ser retomados.
➔ Contribua para que identifiquem as aprendizagens que estão desenvolvendo,
comemorando com eles os avanços, mesmo que pareçam pequenos.
➔ Ajude a identificar quais foram os conhecimentos aprendidos e as competências
que estão em desenvolvimento, auxiliando-os a perceber sentido em suas
vivências.
➔ Contribua para o mapeamento dos saberes dos estudantes acerca das questões
tratadas, bem como para a ampliação de tais saberes.
➔ Identifique o que os estudantes já aprenderam e o que eles ainda não
aprenderam em relação aos conhecimentos trabalhados nas últimas aulas.
Investigue, ainda, o que podem avançar com relação ao desenvolvimento das

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competências cognitivas e socioemocionais. Essa identificação necessita de um
“duplo olhar” do professor, tanto com relação ao desenvolvimento da turma
quanto sobre cada estudante, tomando como parâmetro avaliativo o próprio
aluno em relação a si mesmo.

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