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Resumo: Aprender e ensinar não é algo fácil de fazer, mas sim é um grande desafio, imposto na
contemporaneidade durante a pandemia da COVID-19, para professores(as), estudantes e instituições,
tendo em vista, entre outros, as diversas abordagens, técnicas, métodos e teorias disponíveis. Contudo,
não podemos deixar de pensar na (in)visibilidade dos/das professores(as) durante esse período.
Pensando nisso, foi desenvolvido este trabalho que consiste em uma pesquisa qualitativa, no intuito de
pensar quais perspectivas são possíveis nas (in)certezas para a formação e para a prática do fazer diário
dos/das professores(as) durante a pandemia, objetivando, com isso, sucesso no processo de ensino-
aprendizagem, no mundo sem fronteiras almejado na contemporaneidade. Percebeu-se, ao final desta
pesquisa, que independentemente de como, quando, onde e porque, professores(as) precisam estar no
foco das necessidades interacionais e sociais dos estudantes e das políticas públicas e só assim, traçar
melhores percursos para alcançar o objetivo primordial do ensinar e aprender: transpor barreiras.
Palavras-chave: Professores. Pandemia. Invisibilidade. Ensino-aprendizagem
Abstract: Learning and teaching is not something easy to do, but it is a great challenge, imposed in
contemporary times during the COVID-19 pandemic, for teachers, students and institutions,
considering, among others, the different approaches, techniques, available methods and theories.
However, we cannot stop thinking about the (in)visibility of teachers during this period. With that in
mind, this work was developed, which consists of a qualitative research, in order to think about what
perspectives are possible in the (un)certainties for the training and for the practice of teachers' daily
work during the pandemic, aiming, with that, success in the teaching-learning process, in the world
without borders sought in contemporary times. It was noticed, at the end of this research, that regardless
of how, when, where and why, teachers need to be in the focus of the interactional and social needs of
students and public policies and only then, to outline better paths to reach the objective of teaching and
learning: overcoming barriers.
1
Pessoa Transgênera com Doutorado em Literatura e Mestrado em Linguística Aplicada pela Universidade de
Brasília (UnB). Professora de Línguas e Literaturas (Francês, Inglês e Português) e Pedagoga na Educação Básica
da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF). Pesquisadora no Grupo CNPq/GIEL. E-mail
edufrance2004@yahoo.fr
2
Pós-Doutor pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET/MG), Doutor em Letras e
Linguística pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Mestre em Letras pela Universidade Federal de Viçosa
(UFV) e Licenciado em Letras - Português pela Universidade Federal de Goiás (UFG). É líder/pesquisador no
grupo CNPq/FORPROLL. Professor Adjunto do Centro Universitário de Goiás (UNIGOIÁS). E-mail:
renatodering@gmail.com
REDE – Revista Diálogos em Educação, ISSN 2675-5742, v. 2, n. 1, 2021.
Résumé: Apprendre et enseigner n'est pas quelque chose de facile à faire, mais c'est un grand défi,
imposé à l'époque contemporaine lors de la pandémie de COVID-19, pour les enseignants/es, les élèves
et les institutions, compte tenu, entre autres, des différentes approches, techniques, méthodes et théories
disponibles. Cependant, on ne peut s'empêcher de penser à l'(in)visibilité des enseignants durant cette
période. Dans cet esprit, ce travail a été développé, qui consiste en une recherche qualitative, afin de
réfléchir aux perspectives possibles dans les (in)certitudes pour la formation et la pratique du travail
quotidien des enseignants pendant la pandémie, visant, avec cela, le succès dans le processus
d'enseignement-apprentissage, dans le monde sans frontières recherché à l'époque contemporaine. Il a
été remarqué, à la fin de cette recherche, que peu importe comment, quand, où et pourquoi, les
enseignants doivent être au centre des besoins interactionnels et sociaux des élèves et des politiques
publiques et seulement alors, pour tracer de meilleures voies pour atteindre l'objectif de l'enseignement
et de l'apprentissage: surmonter les obstacles.
1. Introdução
A pandemia da Covid-19, que atingiu todo o mundo no início do século XXI, produziu
novas formas de ver e entender dinâmicas sociais e como as pessoas se relacionavam com elas
mesmas e com questões diversas, entre elas a Educação. O panorama educacional brasileiro
que já não era destaque em muitos aspectos, agravou em tantos outros.
Um dos problemas fundamentais levantados em diversas discussões foi a adaptação dos
processos metodológicos e a como seriam as aulas por meio de recursos digitais e tecnológicos.
Discutiu-se muito sobre os aparatos que auxiliariam essa mudança pedagógica, mas pouco se
falou sobre a voz e os discursos dos/as professores/as sobre essa situação.
Logo, aprender e ensinar significam mais do que tornar-se capaz em determinada área
do conhecimento. Deve significar também que a aprendizagem de conhecimentos a ela
relacionados perpassa o saber utilizá-los de forma crítica e consciente em contextos
comunicativos, mas não apenas, para a aquisição e na disseminação de novos conhecimentos,
como elucidado por Silva (2017) e Silva e Guedes (2018).
Consideramos que um dos grandes problemas que pode favorecer a (in)visibilidade
aos/às professores(as) perceberem-se capazes na construção de um trabalho eficiente e
produtivo no ambiente escolar seja a falta de formação inicial para o exercício durante o período
pandêmico. Na atualidade, professores(as) da rede pública de ensino, com raras exceções, não
foram formados para tal atuação. Formaram-se professores(as) em diversas áreas do
conhecimento, participaram de processo seletivo entre os pares e encontram-se nos ambientes
escolares premidos pelas urgências do cotidiano, envolvidos em alguns projetos pedagógicos
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2. Pandemia e Educação
O contexto da Pandemia da Covid-19, sem dúvidas, proporcionou diversas mudanças e
rearranjos na sociedade, principalmente voltado ao uso das Tecnologias Digitais da Informação
e Comunicação (TDICs). O home office se tornou algo desejável e uma solução para diversas
empresas e, em consequência, para o sistema educacional. Contudo, a questão que envolve as
TDICs e a educação é mais séria do que foi colocado.
Em seguida, uma especialista foi entrevistada. Ela falou sobre esse processo de volta às
aulas presenciais. Mencionou a importância do retorno escalonado para que as salas não
ficassem lotadas. Minimizou o perigo desse regresso ao dizer que as crianças, na maioria, não
são infectadas e, quando são, apresentam apenas sintomas leves. Citou também a importância
da escola para as crianças, mas não falou dos professores, nunca, uma única vez.
Por puro vício de linguista, contamos nos dedos as vezes em que ela pronunciava a
palavra “crianças”. Perdemos a conta, pois foram muitas, ao mesmo tempo, em que
esperávamos ansiosamente a inclusão da palavra “professores”. Como era de se esperar, não
houve. Somos/fomos personagens secundários, quase figurantes. Aqui temos a eterna
invisibilidade do magistério brasileiro que gritava no discurso dessa senhora e nos embrulhava
o estômago.
Estava ali, naquela fala, vergonhosamente escancarado o desrespeito pelos professores
e a visão que a nossa sociedade possui da “escola”. Quando uma categoria tão fundamental
nesse processo sequer é mencionada, é porque ela não existe para esse sujeito do discurso.
Excluídos/as os/as professores/as desse processo, a escola é reduzida a esse espaço meramente
de socialização (ou falsa socialização), depósito de crianças para que os pais trabalhem, tulha
para que os adolescentes não fiquem ociosos. A escola passa a ser tudo, menos espaço para a
construção do conhecimento.
A omissão da palavra “professores” quando se referem a esse retorno é também um
desrespeito pelas nossas vidas, como se a nossa vida e a nossa saúde não fossem importantes o
suficiente para aparecer nesse tipo de discurso. Pensamos no quadro docente de nossas escolas
e, por meio dele, traçamos um parâmetro: poucos não estão no grupo de risco, a maioria possui
comorbidades, além de questões de esgotamento mental e afastamentos psicológicos que já
afetavam os/as professores/as nos últimos anos. Vale lembrar que nesse contexto, então:
Por outro lado, entre os/as docentes mais jovens e considerados saudáveis, há também
as que estão grávidas ou que acompanham cônjuges e familiares com problemas dos mais
diversos. Sim, nós professores não apenas não fugimos de “sermos pessoas” que tem família,
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como também entramos em um quadro ainda mais grave: aquele em que a sociedade esquece
ou finge não saber de nossas necessidades, uma sociedade alienada.
Vale, ainda, destacar a excessiva carga de trabalho desses profissionais, pois muitos
trabalham em mais de uma escola, em escolas de cidades diferentes e precisam de transporte
público. Ou ainda, aqueles que, mesmo considerados estáveis financeiramente, lidam com
adversidades no próprio contexto escolar, como a falta de atenção dos responsáveis em relação
às crianças e adolescentes, que faz com que nos tornemos ouvintes que, embora não
profissionais, não podemos fechar os ouvidos.
Ficamos pensando no nosso esforço, na nossa luta para manter a qualidade do ensino
neste ano letivo atípico, mas também no antes e no que serão os próximos anos. Fomos pegos
de surpresa, como todos. Contudo, diferente de algumas profissões (a exceção da saúde), fomos
obrigados a nos adaptar, pois a “educação era necessária”, mas, ainda assim, nós, os/as
professores/as não éramos, nos tornamos apenas ferramentas, objetos de análise de pais sobre
nossas aulas, metodologias e práticas em uma situação de mediação por tecnologia que sequer
fomos formados.
A maioria de nós nunca estudou para dar aulas à distância. Aprendemos na marra, no
susto, na coerção (praticamente). Nossa casa se transformou em estúdio. Nosso celular em
instrumento de trabalho e voz para diversas turmas, milhares de alunos/as, seus/suas pais/mães
e responsáveis. Em tempos de aulas presenciais, nossos celulares estavam sempre no silencioso
para não perturbar. O que era silencioso, agora, se tornou um tormento, pois esses/as diversos/as
alunos/as, seus/suas pais/mães e responsáveis não respeitavam/respeitam sua privacidade. Não
há dia ou horário para que chegue uma mensagem.
Em um de nossos casos, pouco após sair do hospital, recebemos repetidas ligações no
domingo ao meio dia de uma aluna. Quando dizemos repetidas, referimo-nos a mais de dez
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ligações sequenciais, seguidas de mensagens no WhatsApp que eram apenas para tirar uma
dúvida de atividade que já havia sido explicada e estava disponível no portal. Os limites foram
extintos e o senso de humanidade parece ter sido esvaído. A questão é justamente essa: onde
estão os/as professores/as nos discursos que foram produzidos? E os que foram midiatizados,
será que não foram deturpados para que perdêssemos nosso lugar de fala?
Nesse contexto todo, estávamos trabalhando, no mínimo, duas plataformas e diversas
frentes.
4. Considerações finais
Quando analisamos o contexto que envolve educação e pandemia da Covid-19, é preciso
que as reflexões ocorram em seus diversos níveis, principalmente sobre a forma como os
professores foram e são percebidos pela sociedade. Isso ocorre pois:
Assim, pensar na pandemia em intersecção à educação é propor que haja uma reflexão
sobre a prática docente, mas, acima disso, sobre as vozes e discursos dos professores que foram
negligenciadas durante esse contexto.
Ao compreendermos a importância da reflexão, também reiteramos a necessidade de
ouvir o/a professor/a em sua seus contextos e suas necessidades e, para além de ouvir, é
necessário que se reveja como os/as docentes são vistos pela sociedade. Por isso, retomando
Chimamanda:
REFERÊNCIAS
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história única. Trad. Júlia Romeu. São
Paulo: Companhia das Letras, 2019.
RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento; Justificando, 2017.
SILVA, Edu Dias da. Atuação teatral e ensino de língua estrangeira. Jundiaí: Paco
Editorial, 2017.
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coordenação pedagógica na Educação básica pública: Tecendo (desa)fios. Revista Com
Censo: Estudos Educacionais do Distrito Federal, v. 5, n. 3, 2018, p. 93-100. Disponível em:
https://periodicos.se.df.gov.br/index.php/comcenso/article/view/438/312 Acesso em: 12 jan.
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SILVA, Edu Dias da; GUEDES, Sônia Margarida Ribeiro. O que (não) pensar ao ensinar e
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(ReFaMi), Cuiabá, v. 3, n. 2, jul.-dez. 2018. Disponível em:
https://mail.falangemiuda.com.br/index.php/refami/article/view/179/251 Acesso em: 24 mai.
2021.
REDE – Revista Diálogos em Educação, ISSN 2675-5742, v. 2, n. 1, 2021.
SILVA, Edu Dias da. No jardim das leituras: similitudes e diferenças entre o lido e o vivido
pelas formadoras de leitores do Distrito Federal – o caso da Pós-graduação em Literatura da
Universidade de Brasília. 140f. Tese (Doutorado em Literatura). PósLIT/UnB. Brasília-DF,
Brasil, 2020. Disponível em:
https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/40755/1/2020_EduardoDiasdaSilva.pdf Acesso: 24
mai. 2021.