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REDE – Revista Diálogos em Educação

ISSN 2675-5742, v. 2, n. 1, janeiro-junho 2021

A INVISIBILIDADE DOS PROFESSORES NO CONTEXTO DA PANDEMIA DA


COVID-19
THE INVISIBILITY OF TEACHERS IN THE CONTEXT OF THE COVID-19
PANDEMIC

L'INVISIBILITÉ DES ENSEIGNANTS DANS LE CONTEXTE DE LA PANDÉMIE


DE COVID-19

Edu Dias da Silva1


Renato de Oliveira Dering2

Recebido em: 04 jul. 2020

Aceito em: 16 fev. 2021

Resumo: Aprender e ensinar não é algo fácil de fazer, mas sim é um grande desafio, imposto na
contemporaneidade durante a pandemia da COVID-19, para professores(as), estudantes e instituições,
tendo em vista, entre outros, as diversas abordagens, técnicas, métodos e teorias disponíveis. Contudo,
não podemos deixar de pensar na (in)visibilidade dos/das professores(as) durante esse período.
Pensando nisso, foi desenvolvido este trabalho que consiste em uma pesquisa qualitativa, no intuito de
pensar quais perspectivas são possíveis nas (in)certezas para a formação e para a prática do fazer diário
dos/das professores(as) durante a pandemia, objetivando, com isso, sucesso no processo de ensino-
aprendizagem, no mundo sem fronteiras almejado na contemporaneidade. Percebeu-se, ao final desta
pesquisa, que independentemente de como, quando, onde e porque, professores(as) precisam estar no
foco das necessidades interacionais e sociais dos estudantes e das políticas públicas e só assim, traçar
melhores percursos para alcançar o objetivo primordial do ensinar e aprender: transpor barreiras.
Palavras-chave: Professores. Pandemia. Invisibilidade. Ensino-aprendizagem

Abstract: Learning and teaching is not something easy to do, but it is a great challenge, imposed in
contemporary times during the COVID-19 pandemic, for teachers, students and institutions,
considering, among others, the different approaches, techniques, available methods and theories.
However, we cannot stop thinking about the (in)visibility of teachers during this period. With that in
mind, this work was developed, which consists of a qualitative research, in order to think about what
perspectives are possible in the (un)certainties for the training and for the practice of teachers' daily
work during the pandemic, aiming, with that, success in the teaching-learning process, in the world
without borders sought in contemporary times. It was noticed, at the end of this research, that regardless
of how, when, where and why, teachers need to be in the focus of the interactional and social needs of
students and public policies and only then, to outline better paths to reach the objective of teaching and
learning: overcoming barriers.

1
Pessoa Transgênera com Doutorado em Literatura e Mestrado em Linguística Aplicada pela Universidade de
Brasília (UnB). Professora de Línguas e Literaturas (Francês, Inglês e Português) e Pedagoga na Educação Básica
da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEEDF). Pesquisadora no Grupo CNPq/GIEL. E-mail
edufrance2004@yahoo.fr
2
Pós-Doutor pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET/MG), Doutor em Letras e
Linguística pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Mestre em Letras pela Universidade Federal de Viçosa
(UFV) e Licenciado em Letras - Português pela Universidade Federal de Goiás (UFG). É líder/pesquisador no
grupo CNPq/FORPROLL. Professor Adjunto do Centro Universitário de Goiás (UNIGOIÁS). E-mail:
renatodering@gmail.com
REDE – Revista Diálogos em Educação, ISSN 2675-5742, v. 2, n. 1, 2021.

Keywords: Teachers. Pandemic. Invisibility. Teaching-learning

Résumé: Apprendre et enseigner n'est pas quelque chose de facile à faire, mais c'est un grand défi,
imposé à l'époque contemporaine lors de la pandémie de COVID-19, pour les enseignants/es, les élèves
et les institutions, compte tenu, entre autres, des différentes approches, techniques, méthodes et théories
disponibles. Cependant, on ne peut s'empêcher de penser à l'(in)visibilité des enseignants durant cette
période. Dans cet esprit, ce travail a été développé, qui consiste en une recherche qualitative, afin de
réfléchir aux perspectives possibles dans les (in)certitudes pour la formation et la pratique du travail
quotidien des enseignants pendant la pandémie, visant, avec cela, le succès dans le processus
d'enseignement-apprentissage, dans le monde sans frontières recherché à l'époque contemporaine. Il a
été remarqué, à la fin de cette recherche, que peu importe comment, quand, où et pourquoi, les
enseignants doivent être au centre des besoins interactionnels et sociaux des élèves et des politiques
publiques et seulement alors, pour tracer de meilleures voies pour atteindre l'objectif de l'enseignement
et de l'apprentissage: surmonter les obstacles.

Mots-clés: Enseignants. Pandémie. Invisibilité. Enseignement-apprentissage

1. Introdução
A pandemia da Covid-19, que atingiu todo o mundo no início do século XXI, produziu
novas formas de ver e entender dinâmicas sociais e como as pessoas se relacionavam com elas
mesmas e com questões diversas, entre elas a Educação. O panorama educacional brasileiro
que já não era destaque em muitos aspectos, agravou em tantos outros.
Um dos problemas fundamentais levantados em diversas discussões foi a adaptação dos
processos metodológicos e a como seriam as aulas por meio de recursos digitais e tecnológicos.
Discutiu-se muito sobre os aparatos que auxiliariam essa mudança pedagógica, mas pouco se
falou sobre a voz e os discursos dos/as professores/as sobre essa situação.
Logo, aprender e ensinar significam mais do que tornar-se capaz em determinada área
do conhecimento. Deve significar também que a aprendizagem de conhecimentos a ela
relacionados perpassa o saber utilizá-los de forma crítica e consciente em contextos
comunicativos, mas não apenas, para a aquisição e na disseminação de novos conhecimentos,
como elucidado por Silva (2017) e Silva e Guedes (2018).
Consideramos que um dos grandes problemas que pode favorecer a (in)visibilidade
aos/às professores(as) perceberem-se capazes na construção de um trabalho eficiente e
produtivo no ambiente escolar seja a falta de formação inicial para o exercício durante o período
pandêmico. Na atualidade, professores(as) da rede pública de ensino, com raras exceções, não
foram formados para tal atuação. Formaram-se professores(as) em diversas áreas do
conhecimento, participaram de processo seletivo entre os pares e encontram-se nos ambientes
escolares premidos pelas urgências do cotidiano, envolvidos em alguns projetos pedagógicos
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específicos ou atendendo a requisições pontuais da equipe de gestão da escola, como


apresentado por Silva e Dering (2018).
Diante desse contexto, é que apresentamos esse ensaio, que tem por objetivo trazer
reflexões gerais sobre como nossas vozes, enquanto professores/as, foram silenciadas por
outros discursos sobre educação.

2. Pandemia e Educação
O contexto da Pandemia da Covid-19, sem dúvidas, proporcionou diversas mudanças e
rearranjos na sociedade, principalmente voltado ao uso das Tecnologias Digitais da Informação
e Comunicação (TDICs). O home office se tornou algo desejável e uma solução para diversas
empresas e, em consequência, para o sistema educacional. Contudo, a questão que envolve as
TDICs e a educação é mais séria do que foi colocado.

Os espaços mudaram, se antes tínhamos um espaço público, agora tudo se


misturou, vida íntima e pública, foi a invasão dos limites que o trabalho em
homeoffice proporcionou. Logo, foi exigido de alunos e professores que, em
suas casas, estruturassem lugares e maneiras de ensinar e aprender. No
entanto, o cenário não é igual para todos e nem todos os sujeitos usufruem de
contextos semelhantes, o que gerou novos problemas. (MARINHO et al.,
2021, p. 11)

Enquanto algumas empresas utilizavam plataformas para reuniões que só utilizavam


áudio e vídeo e os demais sistemas continuavam iguais, porém agora nos computadores
pessoais; os/as professores/as precisam inovar, aprender a usar essas plataformas para, além do
áudio e vídeo, pois precisavam manter a atenção das crianças e adolescentes. Contudo, como
transpor metodologias educacionais para esse novo contexto? De que forma conciliar aprender
usar tecnologias com ensinar por meio de tecnologias?
A resposta não era óbvia e ainda não é. Por mais que diversos estudos e pesquisas
educacionais já tenham sido publicadas, não houve investimentos nos anos anteriores e nem
haveria naquele momento. Para deixar a situação mais tensa, professores/as começavam a ser
avaliados/as em suas formas de lecionar e no conteúdo repassado; no ensino privado, houve
demissões para diminuir gastos; e, em todos os âmbitos, professores/as foram tolhidos de falar
assuntos que já estavam nos livros didáticos pelo negacionismo da ciência que silenciou/tentou
silenciar a pluralidade de ideias.

Os fatores que provocaram tal efeito devastador no país reside no contexto


social ocasionado pela polaridade política. Os posicionamentos de políticos
que circundam o Brasil não apenas promovem o negacionismo da ciência,
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como também incita a desinformação da população, principalmente a que tem


pouco acesso à informação (DERING, 2021, p. 3-4).

Professores/as foram confrontados/as com discursos de extrema direita que rejeitavam


os próprios conteúdos dos currículos educacionais. A educação, portanto, não passou por um
colapso, pois ela já o viva. O fato é que esse colapso ficou evidente por estar visível e
escancarado para todos, algo que ou a sociedade fingia não ver ou simplesmente não queria. “O
fracasso escolar se relaciona com uma estrutura obsoleta que, a seu modo, reproduz um sistema
fadado à inaptidão de uns em prol de um parâmetro pautado pela ideologia do déficit”
(DERING, 2021, p. 2). Nesse contexto, infelizmente, professores/as continuavam sendo
silenciados.

3. Vozes omitidas e discursos esvaziados

Seguidamente, ouvimos debates acerca do retorno às aulas, no Brasil, durante a


pandemia da Covid-19. Sobre o assunto, falaram os infectologistas, falaram os médicos, falaram
as mães, falaram os secretários de Educação de diferentes estados, falaram os prefeitos, os
vereadores, dentre outros. Secretários e Ministro e Ex-Ministros da Educação não falaram ou
não tiveram discursos ecoando. Falam os/as estudantes, falaram os repórteres, falaram os
programas de televisão, só os/as professores/as não falaram. Infelizmente, sequer são
mencionados nesse processo como se não fizessem parte dele. Na verdade, por eles/elas
falaram, usurparam seus discursos e se apropriaram de seu lugar para que suas angústias fossem
minimizadas.

Observando as mudanças operadas e impostas na prática pedagógica dos


professores no contexto da pandemia, poderíamos dizer que, nesse contexto
de emergência, eles estão vivendo um momento de precarização de seu
trabalho que fica evidente o desmonte das condições de trabalho devido à falta
de planejamento, diálogo e um projeto que considere as especificidades de
cada professor que atua em realidades muito diversificadas (MARQUES,
2021, p. 7).

Em uma determinada manhã, na televisão, no horário do programa “Encontro”, da Rede


Globo, houve a simulação de um ambiente de sala de aula em que uma tinta foi usada para
representar o novo coronavírus. Um detalhe importante: nessa simulação, só havia duas pessoas
na sala. Em pouco tempo, mesas e vários objetos ficaram tomados pela tinta fluorescente que
representava o vírus.
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Em seguida, uma especialista foi entrevistada. Ela falou sobre esse processo de volta às
aulas presenciais. Mencionou a importância do retorno escalonado para que as salas não
ficassem lotadas. Minimizou o perigo desse regresso ao dizer que as crianças, na maioria, não
são infectadas e, quando são, apresentam apenas sintomas leves. Citou também a importância
da escola para as crianças, mas não falou dos professores, nunca, uma única vez.
Por puro vício de linguista, contamos nos dedos as vezes em que ela pronunciava a
palavra “crianças”. Perdemos a conta, pois foram muitas, ao mesmo tempo, em que
esperávamos ansiosamente a inclusão da palavra “professores”. Como era de se esperar, não
houve. Somos/fomos personagens secundários, quase figurantes. Aqui temos a eterna
invisibilidade do magistério brasileiro que gritava no discurso dessa senhora e nos embrulhava
o estômago.
Estava ali, naquela fala, vergonhosamente escancarado o desrespeito pelos professores
e a visão que a nossa sociedade possui da “escola”. Quando uma categoria tão fundamental
nesse processo sequer é mencionada, é porque ela não existe para esse sujeito do discurso.
Excluídos/as os/as professores/as desse processo, a escola é reduzida a esse espaço meramente
de socialização (ou falsa socialização), depósito de crianças para que os pais trabalhem, tulha
para que os adolescentes não fiquem ociosos. A escola passa a ser tudo, menos espaço para a
construção do conhecimento.
A omissão da palavra “professores” quando se referem a esse retorno é também um
desrespeito pelas nossas vidas, como se a nossa vida e a nossa saúde não fossem importantes o
suficiente para aparecer nesse tipo de discurso. Pensamos no quadro docente de nossas escolas
e, por meio dele, traçamos um parâmetro: poucos não estão no grupo de risco, a maioria possui
comorbidades, além de questões de esgotamento mental e afastamentos psicológicos que já
afetavam os/as professores/as nos últimos anos. Vale lembrar que nesse contexto, então:

O professor, independentemente do nível de ensino ou da área de atuação, foi


obrigado a se reinventar e inovar em suas metodologias e essa situação foi um
dos principais fatores da angústia com que esse profissional se deparou,
provocando-lhe uma instabilidade emocional, pois, além de lidar com o pavor
que a Covid-19 trazia, foi imposto o desafio da mudança rápida. (MARINHO
et al., 2021, p. 5)

Por outro lado, entre os/as docentes mais jovens e considerados saudáveis, há também
as que estão grávidas ou que acompanham cônjuges e familiares com problemas dos mais
diversos. Sim, nós professores não apenas não fugimos de “sermos pessoas” que tem família,
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como também entramos em um quadro ainda mais grave: aquele em que a sociedade esquece
ou finge não saber de nossas necessidades, uma sociedade alienada.

A sociedade alienada não tem consciência de seu próprio exigir. Um


profissional alienado é um ser inautêntico. Seu pensar não está comprometido
consigo mesmo, não é responsável. O ser alienado não olha para a realidade
com critério pessoal, mas com olhos alheios. Por isso vive uma realidade
imaginária e não a sua própria realidade objetiva. (FREIRE, 2016, p. 46)

Vale, ainda, destacar a excessiva carga de trabalho desses profissionais, pois muitos
trabalham em mais de uma escola, em escolas de cidades diferentes e precisam de transporte
público. Ou ainda, aqueles que, mesmo considerados estáveis financeiramente, lidam com
adversidades no próprio contexto escolar, como a falta de atenção dos responsáveis em relação
às crianças e adolescentes, que faz com que nos tornemos ouvintes que, embora não
profissionais, não podemos fechar os ouvidos.
Ficamos pensando no nosso esforço, na nossa luta para manter a qualidade do ensino
neste ano letivo atípico, mas também no antes e no que serão os próximos anos. Fomos pegos
de surpresa, como todos. Contudo, diferente de algumas profissões (a exceção da saúde), fomos
obrigados a nos adaptar, pois a “educação era necessária”, mas, ainda assim, nós, os/as
professores/as não éramos, nos tornamos apenas ferramentas, objetos de análise de pais sobre
nossas aulas, metodologias e práticas em uma situação de mediação por tecnologia que sequer
fomos formados.

A singularidade da pandemia deve levar também à uma compreensão de que


a educação remota não se restringe à existência ou não de acesso tecnológico,
mas precisa envolver a complexidade representada por docentes confinados,
que possuem famílias e que também se encontram em condições de
fragilidades em suas atividades (MARQUES, 2021, p. 7).

A maioria de nós nunca estudou para dar aulas à distância. Aprendemos na marra, no
susto, na coerção (praticamente). Nossa casa se transformou em estúdio. Nosso celular em
instrumento de trabalho e voz para diversas turmas, milhares de alunos/as, seus/suas pais/mães
e responsáveis. Em tempos de aulas presenciais, nossos celulares estavam sempre no silencioso
para não perturbar. O que era silencioso, agora, se tornou um tormento, pois esses/as diversos/as
alunos/as, seus/suas pais/mães e responsáveis não respeitavam/respeitam sua privacidade. Não
há dia ou horário para que chegue uma mensagem.
Em um de nossos casos, pouco após sair do hospital, recebemos repetidas ligações no
domingo ao meio dia de uma aluna. Quando dizemos repetidas, referimo-nos a mais de dez
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ligações sequenciais, seguidas de mensagens no WhatsApp que eram apenas para tirar uma
dúvida de atividade que já havia sido explicada e estava disponível no portal. Os limites foram
extintos e o senso de humanidade parece ter sido esvaído. A questão é justamente essa: onde
estão os/as professores/as nos discursos que foram produzidos? E os que foram midiatizados,
será que não foram deturpados para que perdêssemos nosso lugar de fala?
Nesse contexto todo, estávamos trabalhando, no mínimo, duas plataformas e diversas
frentes.

Com as escolas fechadas e com a comunidade escolar reclusa em seus


domicílios, a apropriação das tecnologias e a necessidade de manter –
virtualmente –todos os estudantes na escola tornou-se imperiosa. Ainda que
em casa – com a privacidade negada –, professores e alunos viram-se em
processo de ajustes a uma realidade não escolhida (MARINHO et al., 2021,
p. 5).

No somatório de plataformas e frentes que autores desse artigo trabalharam, temos:


Zoom, Classroom, BlackBoard, Microsoft Teams, Whatsapp, Instagram, YouTube, diário on-
line (duas diferentes plataformas) e material impresso. Dentro das duas iniciativas, pública e
privada, realidade dos autores, todo dia chegava uma nova exigência, uma das últimas foi postar
o plano de aula na íntegra, também no diário on-line.
Assim, diante de tantas reflexões e ainda na ameaça de uma pandemia que matou
milhares de pessoas só no Brasil, falou-se em voltar ao ensino presencial em um contexto social
e político de muita obscuridade e negacionismo científico. Logo, quando falam em retorno,
falam em retorno escalonado para os alunos, mas e o retorno dos professores também será
escalonado? Ou teremos de assumir tudo, aulas presenciais e à distância?
É sobre isso que nossos sindicatos precisam ficar atentos, já que para a sociedade isso
é/foi indiferente. Não há como dar conta de aulas presenciais e à distância ao mesmo tempo, se
for assim, os que não morrerem de Covid19, vão morrer de exaustão, no mínimo. Ainda tem as
lives, quase todo dia, para que os professores escutem, escutem, escutem. Quando nos será
concedido o lugar de fala nisso tudo? Por isso:

Enquanto as teorias e políticas educacionais não reconhecerem os diferentes


como iguais elas não se reconhecerão a si mesmas como espaços de igualdade.
Continuaram sonhando. Curtos e perturbados sonhos pedagógicos. A
esperança está no aumento de militantes, de docentes/educadores, nas escolas
e nos movimentos populares que afirmam identidades positivas. As
reconhecem. Esse reconhecimento é a exigência radical que vem dos
movimentos sociais para que as teorias pedagógicas sejam outras. (ARROYO,
2014, p. 129)
REDE – Revista Diálogos em Educação, ISSN 2675-5742, v. 2, n. 1, 2021.

O magistério é silenciado na educação brasileira desde o Brasil-colônia, todas as


decisões vêm de cima, de especialistas que já não estão no chão da sala de aula há tempos. Mais
que ouvir, necessitamos também falar e, acima de tudo, precisamos ser ouvidos. A pandemia
mostrou diversos fatores da educação no Brasil, exceto professores/as com suas vozes omitidas
e seus discursos esvaziados. Retomando Ribeiro (2017, p. 66): “o falar não se restringe ao ato
de emitir palavras, mas de poder existir. Pensamos lugar de fala como refutar a historiografia
tradicional e a hierarquização de saberes consequentes da hierarquia social”.

4. Considerações finais
Quando analisamos o contexto que envolve educação e pandemia da Covid-19, é preciso
que as reflexões ocorram em seus diversos níveis, principalmente sobre a forma como os
professores foram e são percebidos pela sociedade. Isso ocorre pois:

A reflexão requer, então, uma deliberação e análise de concepções sobre o


ensino como forma de ação baseada na modificação dessas concepções.
Alguns modelos de reflexão exigem uma adequada base de experiências e
conhecimentos, já que refletir sobre teorias pessoais pressupõe que o
indivíduo tenha internalizado um sistema de ideias empíricas, ou não, sobre o
ensino-aprendizagem (SILVA, 2020, p. 73).

Assim, pensar na pandemia em intersecção à educação é propor que haja uma reflexão
sobre a prática docente, mas, acima disso, sobre as vozes e discursos dos professores que foram
negligenciadas durante esse contexto.
Ao compreendermos a importância da reflexão, também reiteramos a necessidade de
ouvir o/a professor/a em sua seus contextos e suas necessidades e, para além de ouvir, é
necessário que se reveja como os/as docentes são vistos pela sociedade. Por isso, retomando
Chimamanda:

as histórias importam. Muitas histórias importam. As histórias foram usadas


para espoliar e caluniar, mas também podem ser usadas para empoderar e
humanizar. Elas podem despedaçar a dignidade de um povo, mas também
podem reparar essa dignidade despedaçada. (ADICHIE, 2019, p. 16)

Nossas angústias e necessidades não devem tratadas de modo simbiótico à esfera


escolar, mas sim inerente, em que se relacionam, mas não são iguais. Nossas histórias
importam, pois nós também importamos e somos importantes para a construção de uma
sociedade menos desigual.
REDE – Revista Diálogos em Educação, ISSN 2675-5742, v. 2, n. 1, 2021.

É trabalho de toda a sociedade, portanto, prover e promover a visibilidade dos(as


professores(as) para o ensino e a aprendizagem com qualidade para todos e todas anteriormente
da obrigatoriedade imposta por lei, pois o mundo atual é caracterizado por um período de
rápidas mudanças em diferentes contextos sociais. As várias transformações têm
(res)significado novas formas de relacionamento, do trabalho e da vida social.

REFERÊNCIAS
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história única. Trad. Júlia Romeu. São
Paulo: Companhia das Letras, 2019.

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REDE – Revista Diálogos em Educação, ISSN 2675-5742, v. 2, n. 1, 2021.

SILVA, Edu Dias da. No jardim das leituras: similitudes e diferenças entre o lido e o vivido
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