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Editores responsáveis: Veleida Anahi da Silva - Bernard Charlot

DOI: http://dx.doi.org/10.29380/2020.14.07.38
Recebido em: 31/08/2020
Aprovado em: 07/09/2020

A IMPORTÂNCIA DA DIDÁTICA PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO CURSO


DE PEDAGOGIA: LIMITES E POSSIBILIDADES; THE IMPORTANCE OF DIDACTICS
FOR THE TRAINING OF TEACHERS IN THE PEDAGOGY COURSE: LIMITS AND
POSSIBILITIES; LA IMPORTANCIA DE LA ENSEÑANZA PARA LA FORMACIÓN DE
PROFESORES EN EL CURSO DE PEDAGOGÍA: LÍMITES Y POSIBILIDADES

MARILHA DA SILVA BASTOS


https://orcid.org/0000-0003-3279-424X

CHARMENIA FREITAS DE SATIRO


0000-0002-4171-8882

CLEBERSON HENRIQUE DE MOURA


https://orcid.org/0000-0001-6627-9487

Anais Educon 2020, São Cristóvão/SE, v. 14, n. 7, p. 1-17, set. 2020 | https://www.coloquioeducon.com/
Resumo:

Esse estudo é um recorte de um trabalho de conclusão do curso de especialização em Gestão Escolar.


Temos como objetivo apresentar a Didática enquanto disciplina fundamental para a formação de
professores do curso de Pedagogia. Para alcançar tal objetivo, realizamos um Estudo de Caso com
suporte em pesquisas bibliográficas, documentais e de campo; e utilizamos como instrumento para a
coleta de dados um roteiro de entrevista semiestruturada aplicada a quatro estudantes egressas do
curso de Pedagogia de uma universidade pública do Ceará. Os dados contribuem para a temática em
questão ao apontar um entendimento do papel da Didática enquanto disciplina e campo de
conhecimento no tocante à formação de professores, uma vez que só então esta pode trazer efetivas
contribuições à constituição dos saberes teóricos e práticos do trabalho docente, sobretudo os
relacionados aos processos do ensinar e do aprender.

Palavras-chave: Didática, Formação de Professores, Curso de Pedagogia.

Abstract:

This study is an excerpt from a term paper in the Specialization course in School Management. We
aim to present Didactics as a fundamental discipline for the training of teachers in the Pedagogy
course. To achieve this goal, we carried out a Case Study with support in bibliographic, documentary
and field research; and we used as a tool for data collection a semi-structured interview script applied
to four students graduating from the Pedagogy course at a public university in Ceará. The data
contribute to the theme in question by pointing out an understanding of the role of Didactics as a
discipline and field of knowledge with regard to teacher training, since only then can it bring
effective contributions to the constitution of theoretical and practical knowledge of teaching work,
especially those related to the teaching and learning processes.

Keywords: Didactics, Teacher training, Pedagogy Course.

Resumen:

Este estudio es un recorte de un artículo que concluye el Curso de Especialización en Gestión


Escolar. Nuestro objetivo es introducir la Didáctica en una disciplina fundamental para la formación
de los profesores del curso de Pedagogía. Para lograr este objetivo, realizamos un Estudio de Caso
con apoyo en investigación bibliográfica, documental y de campo; utilizamos una rotación de
entrevistas semiestructuradas como instrumento para la cola de datos aplicada a cuatro estudiantes
egresados ??de la carrera de Pedagogía de una universidad pública de Ceará. Se le otorga un aporte a
la asignatura en el que se pueda establecer una comprensión del papel de la Didáctica en la disciplina
y campo del conocimiento no relacionado con la formación de docentes, una vez que esto se pueda
hacer para hacer aportes efectivos a la constitución de dos aspectos teóricos y el conocimiento
práctico de la labor docente, sobre todo, se relaciona con los procesos de enseñanza y aprendizaje.

Palabras-clave: Didáctica, Formación de Profesores, Curso de Pedagogía.

Anais Educon 2020, São Cristóvão/SE, v. 14, n. 7, p. 2-17, set. 2020 | https://www.coloquioeducon.com/
INTRODUÇÃO

No decorrer do desenvolvimento das práticas docentes muitos professores sentem dificuldade para
desempenhar suas atividades no ensino dos diversos conteúdos escolares. Nesse sentido, aponta-se a
Didática como uma disciplina de mediação no processo do aprender e do ensinar. Assim, no presente
artigo temos como objetivo refletir sobre o papel da Didática para a formação de professores no
curso de Pedagogia.

Pretendemos apresentar os conceitos de Didática a partir de estudiosos desse campo do


conhecimento; verificar a importância dessa disciplina no processo de formação de professores
pedagogos; e identificar o seu papel na prática pedagógica dos mesmos.

A trajetória da Didática como disciplina

Para Passos (2006), a trajetória da Didática como disciplina integrante dos cursos de formação de
professores em nível superior é historicamente marcada por quatro momentos (GARCIA, 1994;
OLIVEIRA; ANDRÉ, 1997).

A primeira fase se estende de sua implantação, em 1939, como curso e disciplina até o início da
década 1950. É caracterizada, inicialmente, por dificuldades na delimitação do objeto e conteúdo e,
em seguida, pela influência escolanovista com destaque para os conteúdos técnicos e metodológicos
(GARCIA, 1994).

O segundo período, que se prolonga da década 1950 até meados dos anos 1970, é marcado pelo
caráter normativo ou prescritivo, predominância da dimensão técnico-metodológica, pretensa
neutralidade científica, e ausência de questionamento sobre os determinantes e fins sócio-políticos da
Educação. Esse período é caracterizado por Oliveira e André (1997, p. 18), como “[...] o da
construção da Didática na perspectiva do liberalismo”.

A terceira fase, situada entre a segunda metade da década 1970 e a primeira metade da década 1980,
caracterizou-se como um período marcado por críticas e denúncias à Didática Tecnicista, teve por
marco fundante o I Seminário “A Didática em questão”. Nessa época, observou-se, por um lado, um
movimento de negação e, por outro, o início de esforços teórico-práticos para reconstrução desse
conceito. Nesse sentido, são de grande relevância os encontros nacionais da área, como o Encontro
Nacional de Didática e Prática de Ensino (ENDIPE), dentre outros.

No quarto período, que se inicia na segunda metade da década 1980 até os dias atuais, os
especialistas da área procuram articular o saber didático à questões metodológicas, epistemológicas e
ideológicas, compreendendo o ensino como prática social concreta, devendo ser abordado nas
múltiplas dimensões implicadas, evitando os reducionismos dos momentos anteriores. Neste período
são defendidas diferentes alternativas para o ensino da disciplina: ruptura com o tecnicismo
pedagógico do momento liberal; o compromisso com a democratização da escola pública, com o
ensino voltado para os interesses das classes populares e, consequentemente, com a negação das
relações de exploração, opressão e dominação no seio de um dado projeto histórico de sociedade; e o
não desconhecimento do papel que o ensino e a escola vem cumprindo no sentido de favorecerem, ao
mesmo tempo, a reprodução e a transformação social (OLIVEIRA; ANDRÉ, 1997). De acordo com
Passos (2006), a trajetória da Didática revela um significativo avanço no sentido de buscar a
superação das críticas diante das mudanças e transformações que ocorriam, bem como da
reconstrução do campo frente às novas exigências colocadas. Nessa direção, os Encontros Nacionais,
estudos e pesquisas pedagógicas vivenciados por pesquisadores da área têm sido importantes para
consolidar e aperfeiçoar ainda mais os estudos e as práticas da Didática.

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Práticas pedagógicas e o fazer docente

Diante das leituras sobre a Pedagogia e a Didática, torna-se primordial apresentar as concepções de
alguns autores sobre a prática pedagógica, como se constitui no fazer docente e o que deve orientar a
prática docente.

A prática pedagógica do professor diante do contexto sócio-cultural vivenciado pelos docentes


requer cada vez mais uma formação que perpasse por todos os aspectos: cultural, social, tecnológico,
psicológico, entre outros.

Para Passos (2006, p. 2),

São visíveis as mudanças na identidade profissional dos professores,


incluindo as formas de trabalho em decorrência das transformações no
mundo do trabalho, na tecnologia, nos meios de comunicação e informação,
nos paradigmas do conhecimento, nas formas de exercício da cidadania, nos
objetivos de formação geral que hoje incluem com mais força a sensibilidade,
a criatividade, a solidariedade social, a qualidade de vida, o reconhecimento
da diversidade cultural e das diferenças, a preservação do meio ambiente.
Isso afeta os saberes pedagógicos e didáticos, os modos de formação, os
métodos de ensino, as técnicas.

A partir disso, podemos afirmar que em meio a uma sociedade cheia de mudanças e transformações
constantes, o professor deve passar por uma formação que lhe dê subsídios à sua prática. É
importante ter em mente que tudo com o que ele se depara irá refletir não só em sua prática, como
também na educação/formação dos alunos.

Ao falar em práticas pedagógicas e no que as constituem, deve-se ressaltar que as mesmas são
formadas pelos saberes (as teorias, estudos, pesquisas, formação) e as vivências (experiências) dos
docentes para, assim, desenvolver suas práticas docentes a partir de uma compilação de tudo isso.

Compreender a prática pedagógica e o tipo de ensino é refletir sobre as dimensões que os envolvem.
O ensino é uma prática social concreta, dinâmica, multidimensional, interativa, sempre inédita e
imprevisível que sofre influências de aspectos econômicos, psicológicos, técnicos, culturais, éticos,
políticos, afetivos etc. (PASSOS, 2006). Portanto, as práticas de ensino sofrem influência de diversos
aspectos. Assim, a prática do professor não é uma prática única, pronta e acabada, está sempre se
transformando, evoluindo, o que possibilita melhorá-la e adequá-la a cada dia.

O trabalho docente é marcado por aspectos sociais, culturais e psicológicos (afetivos). Apresenta
características sociais porque é um trabalho realizado com e voltado para pessoas; cultural porque
esses seres humanos são envolvidos por toda uma cultura à sua volta; e psicológicas por envolver
seres constituídos por cognição, afetividade e comportamentos.

Segundo Tardif (2012), o objeto do trabalho docente são os seres humanos, e estes possuem
características peculiares que devem ser levadas em consideração. Ou seja, cada indivíduo tem suas
características, são seres heterogêneos, têm necessidades, interesses e comportamentos diferentes.
Quanto ao aspecto psicológico do trabalho docente, o autor aponta que essa característica é uma
dimensão que pode funcionar como um elemento facilitador ou bloqueador do processo de ensino e
aprendizagem.

Uma boa parte do trabalho docente é de cunho afetivo, emocional. Baseia-se


em emoções, em afetos, na capacidade não somente de pensar nos alunos,

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mas igualmente de perceber e sentir suas emoções, seus temores, suas
alegrias, seus próprios bloqueios afetivos (TARDIF, 2012, p. 130).

O professor deve trabalhar em suas práticas cotidianas também o lado emocional e não apenas o
técnico do fenômeno educativo; como vemos frequentemente. O professor que pensa em seus alunos,
nas situações vivenciadas por eles e que tenta entender o que os afeta e quais são suas dificuldades,
consegue trabalhar muito melhor com os alunos no sentido de compreender suas realidades e tentar
ajudá-los de alguma forma. Já o professor que a partir do momento que entra em sala de aula procura
ser apenas um profissional que somente leciona, aplica atividades, trabalhos, avaliações, dá notas e
não procura sequer conhecer seus alunos, não produzirá uma aprendizagem eficaz. Esse tipo de
postura adotada é desenvolvida por diversos profissionais da área e termina por acarretar prejuízos na
formação dos estudantes.

Quanto às peculiaridades do objeto de trabalho docente, Tardif (2012, p. 132) afirma:

A prática pedagógica dos professores consiste em gerenciar relações sociais,


envolve tensões, dilemas, negociações e estratégias de interação. Por
exemplo, o professor tem que trabalhar com grupos, mas também tem de se
dedicar aos indivíduos; deve dar sua matéria, mas de acordo com os alunos,
que vão assimilá-la de maneira muito diferente; deve agradar aos alunos mas
sem que isso se transforme em favoritismo; deve motivá-los, sem
paparicá-los; deve avaliá-los, sem excluí-los, etc. Ensinar é, portanto, fazer
escolhas constantemente em plena interação com os alunos [...].

De acordo com a afirmação do autor, podemos dizer que o professor deve estar sempre em meio
termo ao que se refere aos alunos. Por exemplo, nunca ser muito flexível, como também não ser
rigoroso demais, pois, se existir muita flexibilidade, os estudantes acham que é uma abertura e que o
professor vai deixá-los fazer tudo que quiserem. Porém, sendo rigoroso demais, cria-se uma barreira
que impede de que seja estabelecida alguma aproximação, fazendo com que o aluno não tenha
interesse pelas aulas. Isso contribui para que não haja um bom aproveitamento do ensino e,
consequentemente, não possibilita que haja uma aprendizagem significativa.

Para que se tenha uma efetiva prática docente, precisa haver a presença de saberes que fundamentam
e auxiliam as suas práticas. Com relação às práticas docentes, diversos estudiosos da área apresentam
concepções a respeito dos saberes que constituem e orientam as mesmas. De acordo com Tardif
(2012) a prática docente não é mera transmissão de conhecimento, o saber docente é um saber plural
oriundos da formação profissional, de saberes disciplinares, curriculares e experienciais.

Os saberes profissionais se referem àqueles adquiridos nas instituições de formação de professores.


Durante a sua formação, os futuros professores entram em contato com as ciências humanas e as
ciências da educação. No entanto, a articulação entre essas ciências e a prática docente se estabelece
através de formações iniciais ou contínuas.

Sobre os saberes disciplinares instituídos pelas Instituições de Ensino Superior, eles integram-se às
práticas docentes também através das formações iniciais e contínuas, ocorrendo através das diversas
disciplinas cursadas durante o curso de graduação e estágios curriculares obrigatórios. Estes saberes
correspondem aos diversos campos do conhecimento.

Os saberes curriculares estão embutidos sob a forma de programas escolares (objetivos, conteúdos,
métodos) que se espera que os professores aprendam a aplicar.

Já os saberes experienciais são as experiências das rotinas do trabalho dos professores. São as

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práticas da sua profissão que produzem e desenvolvem esse tipo de saber.

Para Tardif (2012, p. 38),

Os próprios professores, no exercício de suas funções e na prática de sua


profissão, desenvolvem saberes específicos, baseados em seu trabalho
cotidiano e no conhecimento de seu meio. Esses saberes brotam da
experiência e são por ela validados. Eles incorporam-se à experiência
individual e coletiva sob a forma de habitus e de habilidades, de saber fazer e
de saber-ser. Podemos chamá-los de saberes experienciais ou práticos.

Os professores que têm um vasto saber tanto profissional quanto experiencial e a partir desses
saberes fazem uma relação da teoria com a prática em suas ações docentes, desenvolverão um ensino
com bons resultados nas aprendizagens e formação dos alunos.

Em nosso meio, durante o trabalho docente cotidiano, como também entre os discursos de
pesquisadores da área da educação, há dois termos usuais e importantes, que por estarem sendo
discutidos nesta seção julgamos importante apresentarmos suas diferenças e especificidades: trabalho
docente e trabalho pedagógico.

Ao falar de trabalho docente e trabalho pedagógico, Libâneo (2009) citado por (FRANCO, 2012, p.
99) tem a posição de que "[...] todo trabalho docente é pedagógico, mas nem todo trabalho
pedagógico é atividade docente. A base da formação do docente são os estudos pedagógicos". Todo
o trabalho docente está introduzido, ligado e fundamentado no pedagógico. Por exemplo, o trabalho
desempenhado por um coordenador ou supervisor pedagógico em uma escola é um trabalho
pedagógico, no entanto, não se pode dizer que é um trabalho docente. O trabalho docente refere-se
estritamente ao trabalho do professor. O trabalho pedagógico engloba diversas ações voltadas para o
processo de ensino e aprendizagem. Assim, podemos concluir que todo trabalho docente é um
trabalho pedagógico porque o trabalho docente tem como foco o ensino e aprendizagem dos alunos.

Para Libâneo (2009) apud Franco (2012) há quatro condições necessárias para caracterizar a
atividade docente como uma prática pedagógica: i) identificação dos conteúdos que contribuem para
o desenvolvimento cognitivo dos alunos; ii) organização didática desse conteúdo; iii) planejamento
do espaço e do tempo didático; iv) apoio e vivência de práticas culturais institucionais.

Nesse sentido, entendemos que este autor não defende um tipo de trabalho do professor que se
preocupa apenas com os conteúdos e planejamento, ele defende que o professor deve também ter
vivências de práticas culturais na instituição. Ou seja, o professor não deve ser apenas aquele
professor tradicional, conteudista, ele deve estar sempre inserido em projetos da escola, em
atividades artísticas e interdisciplinares.

Mesmo apresentando-se às vivências culturais nas instituições onde trabalha, ressaltamos a


necessidade do professor ser contemplado com uma boa formação teórica, para utilizá-la em sua
prática. Pimenta (1990 apud FRANCO, 2012, p. 106) realça que nos processos formativos é
fundamental o conhecimento dos saberes práticos dos docentes, pois são fundamentais para
constituição de teorias fundamentadas pela prática. Ou seja, o aluno durante a sua formação
acadêmica não pode obter apenas uma formação de conhecimentos teóricos, e sim uma formação de
conhecimentos também da sua prática; o que a autora chama de saberes da prática (saberes práticos),
porque quando esse discente que só tem uma formação teórica deparar-se com a prática de sua
profissão sentirá a falta de um subsídio que lhe direcione a uma excelente concretização de sua
prática. Assim, autora também aponta que “[...] o professor precisa desenvolver saberes práticos, mas
precisa também, em seu processo de formação, munir-se de saberes teóricos, pedagógicos, como
também dos conteúdos com que vai lidar”.

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É relevante ressaltar que o discente ao terminar um curso de licenciatura não basta ter bastante
conhecimentos teóricos e práticos se ele não domina os conteúdos com os quais irá trabalhar. Como
afirma Pimenta (1990 apud FRANCO, 2012), ele precisa ter uma boa formação no que se refere aos
saberes teóricos, pedagógicos e práticos. No entanto, deve ter também saberes de conteúdos que irá
utilizar no seu cotidiano, dos assuntos que irá abordar e discutir em suas aulas. Sobre isso, a autora
afirma ainda que a boa formação docente não resulta do mero repasse de conhecimentos científico,
mas precisa que o formando reelabore esses conhecimentos, transformando-os em saberes elaborados
com base na prática.

A partir da citação da autora, é pertinente complementar que essa necessidade do formando


reelaborar os seus conhecimentos baseados na prática reforça ainda mais a importância do saber da
prática, do saber de sua futura prática profissional, do saber de quais posturas deve ter e como fazer.

Na atuação prática, o discente irá encontrar a realidade, as dificuldades e as verdadeiras situações que
muitas vezes as teorias não apresentam nem explicam. É justamente por isso que se torna necessário
o aluno reelaborar os seus conhecimentos. Pois, assim, ele integrará os conhecimentos teóricos
relacionando-os com a prática e vice-versa, podendo, então, compreender melhor o sentido e o modo
como se realizam as ações. Nesse sentido, Pimenta (1999 apud FRANCO, 2012) destaca a
importância da prática como esclarecedora da teoria nela impregnada e também considera a prática
como espaço de significação da teoria.

Levando-se em consideração a importância e necessidade da presença dos saberes pedagógicos (da


Pedagogia enquanto ciência) para a construção e desenvolvimento das práticas docentes e educativas,
Pimenta (1999 apud FRANCO, 2012) destaca alguns pontos relevantes no que se refere à Pedagogia
e a sua fundamentação para a prática docente: a Pedagogia enquanto campo de conhecimento
específico da práxis educativa pode e deve articular saberes de outras ciências, preservando a ótica
do pedagógico; a Pedagogia produz fundamentos para a prática docente; valoriza os saberes
construídos pelo próprio docente; considera que a Didática como teoria da educação permite ao
professor absorver instrumentos para construção/reconstrução e significação das práticas; não existe
prática sem uma fundamentação teórica. A referida autora também ressalta que a mera repetição de
ações (fazeres docentes) não constitui saberes da docência.

METODOLOGIA

O presente trabalho trata-se de um Estudo de Caso, no qual as informações foram obtidas por meio
de pesquisas bibliográficas, estudo documental e de campo. O Estudo de Caso é um meio para se
coletar dados preservando o caráter unitário do objeto a ser estudado. Tal método de pesquisa,
segundo Stake (1998) caracteriza-se como um estudo aprofundado de uma unidade em sua
complexidade e em seu dinamismo próprio.

É uma pesquisa qualitativa. Descreve um fenômeno e é projetada para coletar resultados


qualificáveis. Para Reneker (1993) a pesquisa qualitativa é indutiva, isto é, o pesquisador desenvolve
conceitos, ideias e entendimentos a partir de padrões dos dados.

Segundo Carvalho (1988, p. 154) a pesquisa bibliográfica é "[...] realizada através da

identificação, localização e compilação dos dados inscritos em livros, artigos de revistas, publicações
de órgãos oficiais etc.”. Para tanto, foram realizadas pesquisas e estudos a partir dos autores: Libâneo
(1994), Tardif (2012), Passos (2006) dentre outros. Realizando-se também a pesquisa documental,
que conforme Carvalho (1988) é aquela realizada a partir de documentos considerados
cientificamente autênticos (não-fraudados). Na pesquisa documental, analisou-se a ementa da
disciplina de Didática do curso de Pedagogia de uma universidade pública do Ceará.

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Quanto à pesquisa de campo, é importante destacar que segundo Lakatos e Marconi (1996), trata-se
da pesquisa em que se observa e coleta os dados, tal como ocorrem espontaneamente, no próprio
local em que se deu o fato em estudo, caracterizando-se pelo contato direto com o mesmo, sem
interferência do pesquisador”.

Foi utilizado como instrumento de coleta de dados um roteiro de entrevista semiestruturada.


Tomando a entrevista como instrumento de investigação, Pinto (2010, p. 16) aponta que “A
entrevista consiste numa técnica de conversação direta, dirigida por uma das partes, de maneira
metódica, objetivando a compreensão de uma situação, requerendo do pesquisador uma ideia clara da
informação que necessita”.

Quanto aos sujeitos de pesquisa, entrevistamos quatro alunas egressas do curso de Pedagogia de uma
Universidade pública do Ceará. A escolha por esta quantidade ocorreu de acordo com a disposição
dos mesmos e a disponibilidade de tempo para executar a pesquisa. É importante mencionar que
todos os entrevistados vivenciaram as mesmas aulas e estudos durante a realização da disciplina de
Didática, bem como também, estão atuando como professoras da rede pública municipal do Ceará,
sendo três de Fortaleza e uma de Maracanaú, com média de idade de vinte e oito anos, podendo,
assim, colaborar com informações e dados acerca de suas práticas docentes de forma similar por
estarem em um mesmo contexto tanto de formação como de atuação.

Os dados foram analisados de forma analítico-descritiva, a partir de cada questão proposta, seguindo
a ordem do roteiro das entrevistas à luz do referencial teórico adotado neste estudo e com os
objetivos pretendidos na pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A fim de analisar as competências e saberes docentes necessários ao desempenho de uma prática


pedagógica crítica e criativa no contexto atual, em paralelo às entrevistas realizadas foi feita uma
análise da ementa da disciplina de Didática cursada pelas entrevistadas. Assim, apresentaremos a
caracterização da ementa e, em seguida, a discussão analítica das entrevistas.

A disciplina de Didática foi cursada pelas entrevistadas do curso de Pedagogia com uma carga
horária de 120 horas. De acordo com a ementa, os objetivos gerais da disciplina eram: refletir
criticamente sobre a relação existente entre a problemática educacional e a realidade social; construir
uma visão crítica e ampla do trabalho do professor; analisar as características e peculiaridades do
trabalho docente, inserindo-o no contexto atual; compreender o papel da Didática no
desenvolvimento do trabalho docente; identificar e analisar as competências e saberes docentes
necessários ao desempenho de uma prática pedagógica crítica e criativa no contexto atual, entre
outros.

Dentre os conteúdos encontrados na ementa da disciplina, podemos citar: Didática: aspectos


históricos, objeto, perspectivas atuais e contribuição para o trabalho docente; a natureza do trabalho
docente, características e especificidades; exigências do cenário contemporâneo à profissão docente;
o ensino como reprodução do conhecimento; o ensino como produção de conhecimentos; reflexões
sobre elementos do cotidiano escolar; o currículo para além das grades; o currículo como espaço de
construção de significados; planejamento- reflexão sobre a prática escolar; avaliação do processo de
ensino-aprendizagem, desafios e alternativas, entre outros.

As metodologias desenvolvidas no curso da disciplina foram: interação dos fundamentos teóricos


com o ensino em contexto; aulas expositivas dialogadas; leitura e discussão de textos; trabalhos em
grupos, entre outros. A avaliação da disciplina teve o caráter de acompanhamento do
desenvolvimento do aluno em relação aos estudos realizados, procurando identificar possíveis
dificuldades de aprendizagem para buscar solucioná-las no decorrer do processo. Para isso, foram
utilizados instrumentos como: estudos dirigidos, relatórios, resolução de questões, produção de

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textos, elaboração de planos/projetos de ensino e uma avaliação subjetiva.

As entrevistadas foram identificadas pelas letras A, B, C e D. Em relação ao perfil delas, além do


que foi mencionado na metodologia, indicamos que, a professora A está cursando uma
Pós-Graduação Lato Sensu em Informática educativa e está lecionando há dois anos. A professora B
está cursando uma Pós-Graduação Lato Sensu, em Gestão e Coordenação Escolar e leciona há cinco
anos. A professora C é especialista em Psicopedagogia e também leciona há cinco anos. Já a
professora D é especialista em Gestão Escolar e leciona há quatro anos.

A seguir, apresentamos e discutimos cada questão abordada na entrevista. E é possível notar que
estas consideram a disciplina de Didática como importante, destacando que a mesma proporcionou o
conhecimento das práticas pedagógicas e das metodologias utilizadas em sala de aula. Isso vai ao
encontro do que apontamos em nossa fundamentação teórica, destacando que a Didática reúne em
seu campo de conhecimentos os objetivos, os meios e os modos de ação pedagógica na escola. Ao
falar de meios e modos de ação pedagógica, estamos nos referindo às metodologias aplicadas dentro
e fora de sala de aula.

É importante mencionar que as professoras A, B, e D destacam a importância do papel da Didática


na formação dos professores pedagogos.

A primeira questão do roteiro indagava para as professoras a importância de cursar a disciplina de


Didática e o porquê. A esta primeira pergunta as entrevistadas responderam:

Professora A: Sim, bastante. Primeiro, porque é uma das disciplinas básicas do


currículo o qual integra o curso de Pedagogia; segundo, porque tivemos a
oportunidade de, digamos, saber um pouco mais como e o que fazer dentro (e por que
não dizer também fora) de uma sala de aula, como também, a melhor forma de lidar e
agir com as situações e conteúdos propostos em tal ambiente.

Professora B: Sim, porque é uma disciplina que nos leva a refletir sobre a nossa
prática pedagógica (prática que iremos ter) no processo de ensino e aprendizagem,
como também, sobre as metodologias e técnicas utilizadas em sala de aula.

Professora C: Sim, porque essa disciplina proporcionou de forma teórica


compreender a importância da avaliação para a construção do planejamento,
proporcionou também exemplos de situações que poderíamos encontrar em sala de
aula quando estivéssemos em prática e o conhecimento de metodologias e práticas
pedagógicas.

Professora D: Sim, a disciplina de Didática foi muito importante para minha


formação, pois foi através desta que me apropriei das metodologias de ensino de
maneira mais eficaz. Foi nesta disciplina que comecei a fazer as leituras de Libâneo,
que traz um bom embasamento para a prática profissional.

Diante das respostas referentes à primeira questão podemos dizer que as professoras cursaram a
disciplina pelo fato de a mesma proporcionar o conhecimento das práticas pedagógicas e
metodologias. Ou seja, percebemos que, para elas, as metodologias é o que se destaca, é um ponto
principal visto na disciplina. Todavia, a Didática não pode ser reduzida a metodologia. Enquanto
disciplina, ocupa um lugar de destaque apresentando-se como teoria e prática do ensino. A mesma
estuda os objetivos, os conteúdos, os meios e as condições do processo de ensino. Tal concepção é

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percebida claramente na fala da professora A, ao dizer que a disciplina fez com que aprendessem
“como” e o “que fazer” dentro e fora de sala de aula, como lidar com situações e conteúdos
propostos em tal ambiente.

A professora D também afirma que foi através da disciplina de Didática que ela pôde se apropriar de
metodologias de ensino de maneira mais eficaz, ou seja, sem a disciplina referida, ela não teria tido
essa oportunidade. Por isso, também consideramos a disciplina de Didática como a base, o apoio
para a realização do trabalho profissional do professor; como diz a professora A.

Cabe destacar que a professora D ainda nos chamou a atenção ao dizer que foi nesta disciplina que
ela começou a fazer as leituras de José Carlos Libâneo, apontando que este autor traz um bom
embasamento para a prática profissional. De fato, este autor apresenta muito bem a Didática
enquanto disciplina, seus estudos e contribuições para a formação docente. Acreditamos que é
importante à formação docente a leitura das obras do referido autor, pois o mesmo apresenta ricas
contribuições tanto no que se refere à profissão docente, à Didática, práticas pedagógicas, como
também à escola em seu contexto, suas dimensões, dentre muitos outros assuntos que perpassam pela
Educação.

É relevante destacar que a professora C mencionou a importância de ter cursado a disciplina porque,
através dela, pode compreender o significado da avaliação para a construção do planejamento, como
também exemplos de situações que poderia vivenciar em sala de aula, metodologias e práticas
pedagógicas. Ou seja, para ela, o que mais se destacou como importante foram as discussões sobre a
avaliação, seus diversos tipos e o papel da mesma para a construção do planejamento.

Indubitavelmente, é a partir da avaliação que o professor pode verificar a aprendizagem de seus


alunos, como também poderá fazer uma reflexão sobre as suas práticas e construir o seu
planejamento a partir de novos objetivos. No que se refere à importância da avaliação para o trabalho
docente, podemos mencionar que para Libâneo (1994, p. 195):

A avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho


docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino e
aprendizagem. Através dela, os resultados que vão sendo obtidos no decorrer
do trabalho conjunto do professor e dos alunos são comparados com os
objetivos propostos, a fim de constatar progressos, dificuldades e reorientar o
trabalho para as correções necessárias.

Libâneo defende que a avaliação é uma tarefa didática necessária que acompanha o professor em
todo o seu trabalho. É através da mesma que o docente poderá refletir se os seus objetivos estão
sendo alcançados, se as aprendizagens estão sendo satisfatórias e a partir disso buscar as correções e
ajustes que forem preciso.

Na segunda pergunta, indagamos se as professoras obtiveram uma boa aprendizagem em relação à


Didática e suas contribuições para a prática docente. À qual responderam:

Professora A: Acredito que sim. Tive. De certa forma, creio que se não fosse também
a disciplina de Didática não saberia como conduzir os meus planos e planejamentos
de aula, por exemplo.

Professora B: Sim, a disciplina me proporcionou vários conhecimentos de técnicas,


metodologias, a vantagem de utilizarmos as novas tecnologias como instrumentos
mediadores de propostas pedagógicas, o planejamento, os instrumentos de avaliação

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e refletirmos sobre a nossa prática docente quando estivéssemos em prática.

Professora C: Sim, a disciplina de Didática proporcionou ter uma melhor visão sobre
a avaliação como ferramenta para o planejamento, identificar problemas
encontrados em sala de aula e a aplicação de metodologias.

Professora D: Sim. Se entendermos a Didática como um conjunto de metodologias de


ensino, iremos perceber como a Didática enriquece nossa prática docente. Percebo
essa importância através de minha prática cotidiana em sala de aula e no
planejamento, identificando com mais facilidade os objetivos a serem alcançados no
ensino com as crianças.

Para todas as professoras entrevistadas houve uma boa aprendizagem no que se refere à Didática e
suas contribuições para a prática docente. Todas elas apontam que através da disciplina de Didática
obtiveram uma aprendizagem sobre os planejamentos.

Percebemos que para três professoras, o que a disciplina de Didática contribuiu mais para a
aprendizagem de práticas docentes diz respeito às metodologias (práticas de ensino), tendo em vista
que a disciplina de Didática estuda e trabalha justamente os meios, modos de ações pedagógicas, ou
seja, a prática em si. Em segundo lugar, para elas, vem o aprendizado sobre os planejamentos. Em
seguida, temos dois pontos citados por duas professoras: a avaliação e o uso das tecnologias como
recursos pedagógicos em suas aulas.

Essas respostas nos remetem ao que Rays (2011 apud CANDAU, 2011, p. 44) afirma:

A disciplina Didática desenvolvida atualmente nos cursos de formação de


educadores apresenta uma característica marcante por seu conteúdo enfatizar
uma preocupação de caráter estritamente prático. Sua abordagem atual
raramente ultrapassa a dimensão técnica do ensino. A teoria didática vai
fornecer bases para que a ação educativa assuma as características de um
momento pedagógico processual.

A terceira questão do roteiro perguntava se a disciplina contribuiu para a formação profissional e de


que forma. As respostas que obtivemos foram:

Professora A: Sim, contribuiu e ainda contribui como uma orientação do que eu iria
encontrar pela frente em minha prática docente.

Professora B: Sim. A disciplina me fez refletir como é importante a interação do


conhecimento, aluno e professor no processo de ensino e aprendizagem durante a
minha prática pedagógica, onde o aluno é sujeito ativo de sua aprendizagem.

Professora C: Sim, como através da base teórica oferecida pela disciplina para uma
boa prática pedagógica.

Professora D: A disciplina contribuiu demais para a minha prática, pois quando estou
em sala de aula lembro dos vídeos e da fala da professora, quando dizia que

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deveríamos articular os conhecimentos adquiridos sobre as metodologias de ensino
de forma crítica.

A professora C informa que a disciplina contribuiu para a formação profissional através da base
teórica oferecida e isso ajudou para que ela tivesse uma boa prática pedagógica. Ao falar que a
disciplina contribuiu através da base teórica oferecida, entendemos que a base teórica foi uma base
que proporcionou conhecimentos que serviram para a sua prática pedagógica.

A professora A também diz que a disciplina contribuiu e contribui para uma orientação do que ela
iria encontrar em sua prática docente. Entendemos que a orientação do que ela vivenciaria em sua
prática seria por meio de práticas, metodologias que poderiam ser utilizadas.

A professora B respondeu que a disciplina contribuiu para a sua aprendizagem no sentido de fazê-la
refletir sobre a importância da interação do conhecimento entre aluno e professor no processo de
ensino e aprendizagem, onde o aluno é sujeito ativo de sua aprendizagem. Vemos que, para essa
professora, além da aprendizagem de metodologias e técnicas utilizadas em sala de aula, ela também
pôde compreender e refletir sobre a prática pedagógica que iria desenvolver. Podemos observar,
ainda, que para esta professora, a aprendizagem que se refere à reflexão sobre a sua futura prática
docente foi de grande importância, isso pelo fato de levar a uma reflexão de situações cotidianas de
práticas docentes, como também de compreender que o aluno é sujeito ativo de sua aprendizagem.
Isso a ajudou a ter uma melhor visão sobre o aluno. Esse entendimento exclui a concepção que
alguns professores mais tradicionais têm, de que o docente é o sujeito ativo da aprendizagem dos
alunos. Ao falar sobre o aprendizado que obteve sobre a importância da interação (relação) do
conhecimento, aluno e professor, onde o aluno é sujeito ativo de sua aprendizagem, corrobora o
pensamento de Cunha (1987 apud CUNHA et al., 2012, p. 151) ao dizer que “Um professor que
acredita nas potencialidades do aluno, que está preocupado com sua aprendizagem e com seu nível
de satisfação, exerce práticas de sala de aula de acordo com essa posição. E isso é também relação
professor-aluno.”.

A professora D relatou que a disciplina contribuiu muito para sua prática, porém destacou também a
aprendizagem de sempre articular os conhecimentos adquiridos de forma crítica e em tudo o que for
fazer, questionando sempre sobre os objetivos a serem alcançados.

A quarta questão do roteiro buscava saber das entrevistadas, o que hoje, durante sua prática
profissional, aplicam e utilizam das aprendizagens da disciplina de Didática que cursaram. A esta,
obtivemos as seguintes respostas:

Professora A: A Didática, francamente, aparece em maior ênfase em minhas horas de


planejamento, na parte de elaboração de minhas aulas.

Professora B: Eu utilizo o planejamento em sala de aula todos os dias, juntamente


com a avaliação, que é um acompanhamento do processo de ensino e aprendizagem,
no sentido de verificar se os objetivos pretendidos estão sendo alcançados.

Professora C: Utilizo, por meio das práticas utilizadas em sala; tendo uma melhor
visão da relação aluno-professor como contribuintes para o processo de ensino e
aprendizagem; a reflexão sobre a minha prática para obter um bom planejamento;
dar um novo significado ao papel da avaliação através do acompanhamento
individual do aluno, pois a avaliação é constante; e a compreensão das situações de
sala para a construção de novas práticas pedagógicas.

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Professora D: Atualmente trabalho com turmas de alfabetização na rede pública de
Fortaleza e sempre reflito sobre o que absorvi durante a disciplina e minha prática
em sala de aula. Verifico também que minha postura com as metodologias de ensino,
mais tradicional ou construtivista, fazem a diferença na aprendizagem das crianças.
O comportamento das crianças diante da minha metodologia varia de acordo com a
metodologia aplicada.

Por meio das respostas a essa questão podemos verificar que mais uma vez as professoras destacam o
planejamento e as metodologias como dois pontos mais relevantes em suas aprendizagens e que
utilizam e aplicam em suas práticas docentes atuais. Por exemplo, as professoras A, B e C falam
sobre os planejamentos.

A importância do planejamento no trabalho docente, é apontada por Libâneo (1994), dado que inclui
previsão e organização das atividades didáticas conforme os objetivos propostos, revisão e
adequação durante a execução. Sendo uma programação, pesquisa e reflexão ligadas à avaliação.

Percebemos que, das aprendizagens adquiridas com a disciplina de Didática, o que duas professoras
aplicam e utilizam são os planejamentos, em primeiro lugar. Em segundo lugar, estão as
metodologias (práticas de ensino), como citam as professoras C e D. E em terceiro lugar, as
professoras B e C citam a avaliação, reconhecendo o seu verdadeiro papel enquanto instrumento de
acompanhamento e verificação da aprendizagem dos alunos.

Quanto ao estudo da avaliação na disciplina de Didática, Libâneo (1994, p. 195) diz:

Podemos, então, definir a avaliação escolar como um componente do


processo de ensino que visa, através da verificação e qualificação dos
resultados obtidos, determinar a correspondência destes com os objetivos
propostos e, daí, orientar a tomada de decisões em relação às atividades [...].

Partindo do posicionamento deste autor endentemos que por meio da avaliação o professor verifica
os resultados das aprendizagens dos alunos, se correspondem aos objetivos pretendidos, e a partir
disso ter um direcionamento para as suas atividades didáticas. É aí que o docente poderá reconstruir
os seus objetivos e os seus planos didáticos.

A quinta e última questão do roteiro indagava que, tendo em vista a formação de futuros professores
pedagogos, que sugestões as docentes apontariam para a disciplina de Didática face à experiência
profissional adquirida ao longo de sua prática pedagógica. Ao que nos responderam:

Professora A: Não sei se seria pertinente, mas o que todos sentem necessidade é da
união entre teoria e prática. Experimentar ao menos parte do que recebemos
teoricamente em sala de aula seria uma oportunidade de aprendizagem bem melhor.

Professora B: É importante que o professor busque uma formação continuada, pois


através de estudos haverá mudanças em suas práticas pedagógicas. A Didática deve
estar sempre trabalhando com os futuros professores a importância de buscarem uma
formação continuada mesmo já estando em prática.

Professora C: Seria importante que a disciplina abordasse a relação teoria e prática,


pois é necessária a vivência em sala para o exercício da profissão do professor e para

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a identificação de situações de conflito.

Professora D: A disciplina de Didática precisa estar conciliada com os estágios em


sala de aula, pois assim, os professores terão um aprendizado ainda maior sobre as
suas práticas.

Diante das respostas das docentes entendemos que para três delas o ponto mais importante como
sugestão para a disciplina de Didática é que haja uma relação entre a teoria e prática. As professoras
A, C e D sinalizam que se na disciplina houver essa relação da teoria com a prática, como na
disciplina de Didática com os estágios em sala de aula, a aprendizagem que teriam sobre as práticas
seria maior. Como cita a professora C: “[...] é necessária a vivência em sala para o exercício da
profissão do professor”.

Vale destacar que a professora B aponta como sugestão para a disciplina de Didática que a mesma
trabalhe com os futuros professores a importância de estarem sempre buscando uma formação
continuada, mesmo depois de terem terminado o curso de graduação, pois dessa forma haverá
mudanças e progressos em suas práticas pedagógicas. Podemos entender que apenas o curso de
graduação não dá conta da complexidade do fazer docente, mesmo que seja um curso que forme
adequadamente faz-se necessário que o professor busque atualizar-se, dando continuidade à sua
formação.

Podemos destacar que a questão da relação teoria e prática mencionada pelas professoras A, C e D é
um dos pontos que precisa ser reforçado nos cursos de formação de professores, pois é através dessa
relação que a aprendizagem será potencializada, assim como a elevação da qualidade das práticas
docentes. Essa questão sobre a relação teoria e prática não é uma questão nova, muito se discute
sobre ela, como por exemplo a dificuldade que muitos estudantes encontram em disciplinas do curso
de Pedagogia, onde a relação teoria com a prática apresenta fragilidades.

De tudo o que foi discutido até aqui, podemos afirmar que mesmo diante de todas as contribuições
que a disciplina de Didática proporcionou às professoras entrevistadas, há uma necessidade de se
trabalhar mais na referida disciplina a relação entre teoria e prática, para que haja uma proximidade
das teorias estudadas com as práticas docentes e há a necessidade que a Didática seja compreendida
de forma superior à sua dimensão técnica ou instrumental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos dados e da análise, concluímos que a Didática, enquanto campo de conhecimento, estuda
os objetivos, conteúdos, meios e modos de ações pedagógicas na escola. Trazemos no presente artigo
dados empíricos e atuais que corroboram a leitura da Didática enquanto disciplina que apresenta-se
como teoria e prática do ensino e, por isso, ocupando lugar de destaque nos cursos de formação de
professores.

Concebendo a Didática para além de sua mera dimensão técnica/instrumental, a partir dos
depoimentos observamos que a mesma é uma disciplina fundamental para a formação de professores,
pois lhes propicia um conhecimento sobre como trabalhar com os conteúdos nas aulas, qual a função
de seus planejamentos didáticos, os tipos e as funções da avaliação e situações encontradas em seu
cotidiano. É também na disciplina de Didática que o aluno tem um contato com as técnicas e
metodologias que deverão ser aplicadas em sala de aula e poderá refletir sobre o seu futuro trabalho
profissional como professor.

De acordo com as entrevistas realizadas com as docentes, em meio a tantas aprendizagens é apontado
também como aprendizado relevante durante a disciplina de Didática a importância de haver uma

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interação do conhecimento entre aluno e professor no processo de ensino e aprendizagem, onde o
aluno é sujeito ativo de sua aprendizagem.

Com isso, nota-se que a experiência de cursar a disciplina de Didática é primordial, pois através dela
os licenciandos podem aliar os conhecimentos teóricos aprendidos nas demais disciplinas já cursadas
com os conhecimentos teóricos e práticos da Didática. Na união das teorias estudadas com as teorias
e práticas da Didática se estabelece uma relação entre as mesmas permitindo que os objetivos
teóricos sejam convertidos em uma boa prática.

É através da disciplina de Didática que os discentes obtêm uma formação sobre o empírico docente,
compreenderão o processo de ensino e aprendizagem e como lidar diante de problemas ou conflitos
encontrados em sala de aula. A disciplina referida traz em seu bojo a proposta de fazer com que os
professores desenvolvam metodologias mais eficazes durante o seu trabalho, considerando o
contexto social, político, cultural e econômico em que os conteúdos de ensino são produzidos e
desenvolvidos junto aos estudantes.

A Didática nos cursos de formação de professores permite a qualidade do trabalho do futuro docente,
fazendo com que sua prática proporcione uma boa formação para seus alunos.

É imprescindível a disciplina de Didática na formação docente, pois desempenha um papel essencial


apresentando aos alunos conhecimentos teóricos e práticos do trabalho docente, estabelecendo a
eficácia e eficiência do ensino e aprendizagem. Podemos ressaltar também que as professoras
entrevistadas sugerem para a disciplina de Didática uma maior proximidade das teorias estudadas
com as práticas docentes, pois a ausência da relação teoria e prática ainda é um ponto frágil em
diversas disciplinas do curso de Pedagogia.

Esperamos que com o estudo realizado, ao trazermos alguns dados coletados no âmbito da dimensão
empírica da formação docente, possamos ter contribuído para um maior reconhecimento da
importância e contribuições que a disciplina de Didática proporciona aos estudantes, não só do curso
de Pedagogia, como dos cursos de formação de professores nas mais diversas áreas do
conhecimento.

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REFERÊNCIAS

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GARCIA, Maria Manuela Alves. A Didática no Ensino Superior. Campinas, SP: Papirus, 1994.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina. Técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1996.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

OLIVEIRA, Maria Rita N. S.; ANDRÉ, Marli Eliza D. A. A prática do ensino de Didática no
Brasil: introduzindo a temática. In: ANDRÉ, Marli Eliza D. A.; OLIVEIRA, Maria Rita N. S.
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2006. Notas de aula.

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RENEKER, Maxime H. A qualitative study of information seeking among members of an


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STAKE, Robert. Investigación com estudio de casos. Madrid: Morata, 1998.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2012.

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Notas:

* Especialização em Gestão Pedagógica pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Professora da


Rede Municipal de Pacatuba - CE. Contato: marilhabastos75@gmail.com.

** Doutoranda em Educação Brasileira. Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa em Ontologia do


Ser Social, Ética e Formação Humana (GEPOS), e do Grupo Teoria Crítica, Filosofia e Educação,
ambos da Universidade Federal do Ceará (UFC). Contato: charmenia@alu.ufc.br.

*** Graduando em Pedagogia pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP).
Contato: cleberson.moura@usp.br.

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