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Para o ensino, tais ideias de Piaget indicam que o trabalho docente envolve criar
situações
que possibilitem ao aluno reestruturar seus esquemas mentais. O ato de ensinar deve
estimular e provocar o desequilíbrio na mente do estudante para que, ao buscar o
reequilíbrio,
ele construa novos significados, se reorganize cognitivamente e, consequentemente,
aprenda
(MOREIRA, 2011). A reformulação de conceitos e dos modos de raciocínio é a fonte
primária
para o desenvolvimento cognitivo (FERRACIOLI, 1999).
Assim, sempre que possível, deve ser dada ao aluno a oportunidade de agir, de realizar
atividades práticas, que unidas às demonstrações e argumentações do professor,
instigarão
a construção do conhecimento. O trabalho prático não tem fim em si mesmo, ele deve
estar
5. Trabalhar em equipe
Um exercício estranho
Duas profissões em uma ?
Profissionalizar-se sozinho ?
Philippe Perrenoud
Essa é uma competência essencialmente didática, que levará o educador a encontrar um ponto de entrada no sistema
cognitivo do aluno a fim de desestabilizá-lo, mas apenas o suficiente para levá-lo a restabelecer o equilíbrio, pois
aprender não é memorizar, mas reestruturar seu sistema de compreensão de mundo. Para envolver o aluno em
atividades, o professor deve relacionar momentos fortes, assegurando a memória coletiva ou confiando em certos
alunos. Tornar o conhecimento apaixonante não é só competência, mas questão de identidade e de projeto pessoal do
educador; dependerá da cumplicidade e da solidariedade que ele exercer na busca do conhecimento.
A competência seguinte é “administrar a progressão das aprendizagens”; nesta o autor destaca que a estratégia para a
progressão dos alunos deve ser concebida a longo prazo, durante o processo e de maneira não uniforme ou
autodeterminada, pois o público é diversificado. Deve-se levar em conta que existem limitações para essa administração
das progressões; dentre elas está o tempo, já que se limita a um ano letivo e o capítulo do programa. Sendo assim,
deve-se otimizar a gestão do tempo que resta, tomando os alunos de onde estão para um pouco mais adiante,
propondo situações desafiadoras que solicitem deles em sua zona de desenvolvimento proximal e, assim, levando-os a
progredir.
Avaliar com base em situações-problema é, no entanto, uma tarefa difícil devido a essa heterogeneidade de público,
pois solicita que sejam aplicadas diversas estratégias. Sendo assim, a competência do professor apresentada aqui é
dupla: saber investir na antecipação e no ajuste das situações-problema e saber improvisar ao vivo durante a realização
da tarefa, por meio de regulação.
A tarefa de administrar a progressão da aprendizagem se dificulta em tese por termos uma vasta gama de docentes que
focam apenas em trabalhar com um ou dois níveis de escolaridade, o que lhes limita a visão longitudinal e impede a
construção de consciência de estratégias que possam favorecer os níveis à frente do aluno. O conhecimento do que se
ensina nos anos seguintes não basta, pois, sem atuação operacional, com o tempo se tornará um conhecimento
obsoleto. O professor que deseja exercer essa competência deve saber escolher e modular as atividades, o que exige
não só conhecimento dos mecanismos gerais, mas também domínio das didáticas das disciplinas. Em resumo, apesar de
envolver instrumentos de avaliação e de tomada de informação, administrar a progressão da aprendizagem é estar, o
mais frequentemente possível, coletando informações para modificar as estratégias a partir desse levantamento, seja
essa coleta feita direta ou indiretamente ou feita por tecnologias.
Em outro momento, o autor aborda a competência “Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação”. Segundo
ele, esse é o objetivo de todo educador que não pensa em fracasso escolar como fatalidade e, com isso, acredita que
todos podem aprender. Não se trata apenas de apontar o sentido do que está sendo ensinado, nem apenas de envolver
e mobilizar, mas sim de fazer com que os dispositivos evoluam a ponto de chegar à zona de desenvolvimento proximal
do aluno.
Diferenciar em sala de aula não é dar aula particular para os alunos com mais dificuldade, pois o ensino individualizado
desfavorece as interações, que também são parte importante do desenvolvimento integral do estudante; além disso, é
um método insolúvel, pois fragmenta a aula e torna-se inviável, exceto em situações de alunos com necessidades
especiais ou distúrbios de aprendizagem. Para esses casos, o professor, ainda que não trabalhe diretamente com
Educação Especial, deve buscar conhecimentos prévios das deficiências para traçar as estratégias de ensino.
Diferenciar em sala de aula é criar dispositivos múltiplos; dentre esses dispositivos podemos esbarrar nos trabalhos em
grupo. No entanto, aplicar uma atividade em grupo não consiste em colocar os alunos para fazer juntos o que poderiam
realizar sozinhos, mas em oferecer uma atividade que exija a cooperação de todos. Existem, no entanto, alguns impasses
quando se trata de trabalho em grupo; um deles é o problema de gestão da classe, já que em uma turma existem
alunos com nível mais avançado de aprendizagem e outros mais atrasados, existem os que têm afinidade pelo assunto e
os que não se identificam. Sendo assim, o grande desafio é inventar tarefas que imponham verdadeira cooperação,
provocando as aprendizagens almejadas.
Toda pedagogia diferenciada é baseada em cooperação ativa dos alunos e de seus pais, não havendo um manual para
conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação; logo, não se resume a fazer uso inteligente de instrumentos
nem de colocar um aluno como monitor. É o educador buscar conhecer sua turma e suas necessidades para então
adaptar os dispositivos.
Para a competência “Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho”, Perrenoud defende que desenvolver
o desejo de saber e a decisão de aprender não é o centro da competência do educador, pois é fato que o aluno não
está na escola por sua decisão e sim por se tratar de uma obrigação. Logo, principalmente no Ensino Fundamental, em
que os alunos ainda não traçaram um foco de formação profissional ou ainda são muito ingênuos em relação à vida, a
tarefa de despertar o desejo de saber é bem complexa e o professor não deve assumir essa carga. Além disso, o próprio
sistema aponta que o objetivo da escola não é manter o desejo de saber e a decisão de aprender dos alunos, pois, se
assim fosse, não fariam uso de extensos programas, que consideram que os alunos já possuem tais características, em
sua maioria, e contam que os professores farão milagre.
A vontade de saber como condição necessária só é bastante se o aluno for muito racional, pois vontades muitas vezes
são vencidas na primeira dificuldade. Logo, a competência aqui é reforçar a decisão de aprender e estimular o desejo de
saber; para isso, é necessário tornar a aprendizagem significativa. Isso se resume em dois recursos: compreensão e certo
domínio dos fatores e de mecanismos sociológicos, didáticos e psicológicos em jogo no surgimento do desejo de saber
e da decisão de aprender, além de ter habilidade no campo da transposição didática do trabalho sobre a transferência
dos conhecimentos de forma que auxilie o aluno a conceber as práticas sociais para as quais são preparados e o papel
dos saberes que as tornam possíveis.
A falta de compreensão do objetivo das atividades ou o tédio podem levar a problemas disciplinares ou à evasão
mental; por isso o docente deve traçar acordos para evitar o descontrole da turma. O contrato didático não só traz
obrigações aos alunos como trata de como o professor deve escutar seus alunos, ajudá-los a formular um pensamento
e ouvir suas declarações. Isso implica permitir que o aluno tenha voz na atividade, pois a atividade que não tem nenhum
componente escolhido pelo aluno tem poucas chances de envolvê-lo; dentre os componentes podemos citar: métodos,
recursos, local, prazos, parceiros ou qualquer variável que não comprometa o objetivo da tarefa nem cause divergências.
O grande problema é que os professores estão mais habituados a “fazer um pacote”, não deixando margem aos alunos;
isso se dá por terem sido preparados assim durante os seus anos de formação.
Ao tratar da competência “trabalhar em equipe”, o autor aponta que o trabalho em conjunto não se resume apenas a
grupos de professores, mas também a envolver outros profissionais e até mesmo a família do aluno em alguns casos.
Trata-se mais de uma necessidade ligada à evolução do ofício do que de uma escolha pessoal. A competência em
discussão está ligada à convicção de que a cooperação é um valor profissional.
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