Você está na página 1de 29

Não podemos negar que vivemos tempos de mudança e incerteza

Inicio com esta citação da Unesco


“Se alguma coisa nos uniu ao longo do último ano e meio, é o nosso
sentimento de vulnerabilidade sobre o presente e incerteza sobre o
futuro”
Um exemplo recente foi a pandemia do Covid-19 enviou 1,6
bilhão de alunos para isolamento
Esse ponto de viragem, causou disrupção e levou a educação
para um paradigma de incertezas, na qual complexidade é
palavra-chave.
• As escolas, outrora contexto privilegiados de ensino,
viram-se obrigadas a dar uma resposta contingencial
para garantir que todos os alunos continuassem a
aprender.
Com ajuda da Tecnologia os alunos aprenderam em Ensino à
distância com manuais digitais, Tele-Escola, Aulas síncronas,
Aulas Assíncronas…
Para fazer face à complexidade é necessário “um
pensamento abrangente, multidimensional, capaz de
compreender a complexidade do real e construir um
conhecimento que leve em consideração essa mesma
amplitude”.
“No meio de tantas incertezas, a educação precisa prever que
o indivíduo necessita aprender continuadamente, utilizando
metodologias adequadas de pesquisa, de elaboração de
estratégias para a resolução de problemas, para o estudo de
alternativas e para tomadas de decisão. As crianças precisam
aprender a investigar, dominar as diferentes formas de acesso
à informação, desenvolver a capacidade crítica de avaliar,
reunir e organizar informações mais relevantes. Necessitam
de metodologias que desenvolvam habilidades para manejar
e produzir conhecimento, que levem ao questionamento, às
manifestações de curiosidade e criatividade e ao seu
posicionamento como sujeitos diante da vida.”
Se um dos objetivos educacionais é levar o indivíduo a
manusear e construir conhecimento, a desenvolver atitudes e
valores que lhe permitam adaptar-se às mudanças e às novas
exigências do mercado de trabalho, então, o desafio é levar o
indivíduo a desenvolver atitudes e competências construtivas,
bem como, modos construtivos de gerar e compreender a
prática da construção do conhecimento
Para tal é necessário estimular: Capacidades investigativas,
capacidades de resolução de problemas, capacidade crítica,
competências tecnológicas, capacidade de contruir
conhecimento
A aprendizagem é uma construção elaborada a partir da
ação sobre o objeto, e que tem como ponto principal o
próprio indivíduo, sujeito ativo e em processo permanente
de ação, modificação, construção e reflexão sobre si
mesmo e sobre o mundo que o rodeia.

Foco deve ser “na aprendizagem e não no ensino, na


construção do conhecimento e não na instrução!
Mais aprendizagem … menos ensino
• As crianças chegam a escola com uma interpretação
própria do mundo, construída com base nas suas
experiências e nos contextos sociais em que estão
inseridos e essas perspetivas moldam ativamente as
experiências e a aprendizagem escolares.
• É a partir destas perspetivas prévias que se operam
modificações em todas as interpretações
Isso implica aceitar o professor como um investigador
rigoroso do contexto e a necessidade de escutar todas as
vozes e visões
respeitando a heterogeneidade em oposição em oposição à
ideia do conhecimento transmitido pelo professor aos alunos
Recorrendo ao conceito de bricolage de Kincheloe
• o professor tem que fazer um exercício
investigativo para conhecer as perspetivas prévias
• A prática pedagógica deve adaptar-se aos efeitos
obtidos, aos comportamentos observados nos alunos
e aos materiais disponíveis.
• Mudando sentido quando necessário, mas
mantendo um fio condutor.
• Recorrer a abordagens complexas, exigentes,
estimulantes em sala de aula
• Utilizar múltiplos recursos e métodos
diversificados (centrados no aluno e no
conhecimento),
• Apoiar as necessidades dos alunos à medida que
vão surgindo dúvidas, como resposta aos desafios
colocados
Numa linha análoga ao construtivismo, a abordagem
construcionista defendida por Papert (1985), sugere
que os indivíduos aprendem melhor quando são
envolvidos no planeamento e na construção de objetos
ou artefactos que considerem significativos,
valorizando o papel das construções físicas como
suporte das construções intelectuais:
“a construção que ocorre “na cabeça” ocorre com
frequência de modo especialmente prazeroso quando é
apoiada por um tipo de construção mais pública, “no
mundo” – um castelo de areia ou uma torta, uma casa
Lego ou uma empresa, um programa de computador,
um poema ou uma teoria do universo. Parte do que
tenciono dizer com “no mundo” é que o produto pode
ser mostrado, discutido, examinado, sondado e
admirado. Ele está lá fora”
O autor desenvolveu a linguagem LOGO, uma
linguagem de programação que possibilita à criança dar
instruções ao computador para que ele execute as
ações por ela determinada, potenciando a
característica epistémica de conhecimento como um
meio relevante para se envolverem num processo que
as conduza a construir novas aprendizagens:
“A criança programa o computador. E ao ensinar o
computador a “pensar”, a criança embarca numa
exploração sobre a maneira como ela própria pensa.
Pensar sobre modos de pensar faz a criança tornar-se
um epistemólogo, uma experiência que poucos adultos
tiveram”
A Tecnologia é um recurso de alto potencial para promover a
aprendizagem e implementar propostas de ensino inovadoras
No entanto, torna-se importante a reflexão sobre a sua
utilização pois, o seu simples uso, por si só, é apenas mais um
recurso adicional.
Parafraseando o prof Carlos Fino:
A tecnologia pode ser um ingrediente ou um utensílio
com o qual se possam inventar novos contextos
aprendizagem. Mas também pode ser (e é sempre mais
provável que seja) um elemento cuja incorporação
reforça as conceções mais tradicionais, nomeadamente
quando utilizada em contextos de ensino. (Fino, 20015,
p.127)

Nas suas investigações o professor Carlos Fino defende


que a maioria das propostas de uso das tecnologias na
educação continuam a promover a sua utilização como
máquinas de ensinar e transmitir conteúdos
“O papel tradicional da tecnologia como professor deve
dar lugar à tecnologia como parceira no processo
educativo” Jonasson

A forma como a tecnologia é utilizada na escola precisa


ser alterada de forma apoiar a construção de
significados por parte dos alunos.
Os alunos aprendem com as tecnologias quando:
• Os computadores apoiam a construção de
conhecimento ao permitirem representar as
ideias, perceções e convicções dos alunos
• Os computadores apoiam a exploração ao
permitirem o acesso à informação necessária
para comparar perspetivas, convicções e visões
do mundo;
• Os computadores apoiam a aprendizagem pela
prática ao permitirem um ambiente estimulante
para o pensamento do aluno simular problemas
e situações significativas
• Os computadores apoiam a aprendizagem pela
conversação ao permitirem a colaboração
discussão e defesa de ideias
• Os computadores são parceiros intelectuais que
apoiam a aprendizagem pela reflexão ao
permitirem articular e representar o que os
alunos sabem
Na sua obra o autor introduz o conceito de
Ferramentas Cognitivas
São ferramentas informáticas desenvolvidas para
funcionarem como parceiros intelectuais do aluno, de
modo a estimular e facilitar o pensamento crítico e a
aprendizagem de ordem superior”
Utilizadas para tornar os alunos críticos, reflexivos e
interventivos e possibilitam ao aluno melhorar o
processamento, organização e mediação da
aprendizagem que ocorre dentro e fora do ambiente
escolar
Estas ferramentas incluem, entre outras:
Nas últimas décadas ficou evidente que existe uma relação
simbiótica entre pedagogia e tecnologia. Adell e Castañeda
definem pedagogias emergentes como: (Citação)
As autoras, sintetizam os princípios que estão na base das
práticas pedagógicas emergentes destacando as oito
características mais relevantes:
1. Visão de educação que vai além da aquisição de
conhecimentos ou habilidades específicas.
2. São fundamentados em teorias pedagógicas clássicas,
como teorias construtivistas sociais e contorcionistas de
aprendizagem, aprendizagem baseada em projetos, etc.
3. Ultrapassam os limites físicos da sala de aula unindo
contextos formais e aprendizagem informal, utilizando
recursos e ferramentas na construção e divulgação dos
resultados da aprendizagem.
4. São colaborativos, inter-níveis e abertos à participação
de professores e alunos e outras partes interessadas de
outros centros em qualquer parte do mundo.
5. Promovem conhecimentos, atitudes e habilidades
relacionadas à competência "aprender a aprender",
metacognição e compromisso com a própria aprendizagem
dos alunos.
6. Transformam as atividades escolares em experiências
significativas e autênticas, estimulando o comprometimento
emocional dos participantes.
7. Professores e alunos assumem riscos intelectuais e trilham
caminhos nunca trilhados através de atividades criativas,
divergentes e abertas.
8. Na avaliação, adotam uma margem de tolerância que
permite evidenciar aprendizagens emergentes (não
determinadas pelo professor).
Um dos modelos de aprendizagem que possibilitam o uso da
tecnologia no processo de aprendizagem e nas práticas
pedagógicas de forma eficaz é ABP
• A Aprendizagem Baseada em Projetos ou Project Based
Learning enquadra-se nas metodologias ativas de
aprendizagem, que colocam o aluno no centro do processo
de ensino e aprendizagem
1. Este método tem vindo a ser bastante utilizado nos
ambientes educacionais atuais e tem-se revelado especialmente
eficiente na promoção de aprendizagens dinâmicas e eficientes,
que estimulem o pensamento crítico e criativo, competências
tidas como necessárias para o século XXI
Envolver o aluno na investigação de soluções para os
problemas reais que considera significativos, aumentar o
autoconhecimento e autoestima, estabelecer relações entre
pares, saber reconhecer, valorizar e respeitar o outro,
resolver criativamente e criticamente os problemas e
trabalhar de forma autónoma mas também, trabalhar
cooperativamente em busca de soluções
O Colégio Monte Flor é uma escola privada, situada em
Carnaxide - Lisboa. são questões centrais do quotidiano
escolar
Missão:
Promover um ensino individualizado através do qual
cada criança seja valorizada pelos seus talentos e
aspirações numa aposta na formação integral do aluno,
contemplando a sua dimensão cognitiva, psicossocial,
artística, física e emocional, tendo como principal
objetivo desenvolver nas crianças a capacidade de
pensar, de saber, de decidir e de agir.
Que relações socio emocionais se estabelecem no ambiente de
aprendizagem.
O Colégio Monte Flor estabelece uma relação socio emocional
inerente a uma comunidade inclusiva promovendo uma visão de
escola que encoraja o respeito pela individualidade, oportunidade de
os alunos expressarem as suas necessidades, interesses e
preferências, e promovendo um processo de aprendizagem focado
em projetos e colaboração. Aposta num modelo de escola inclusiva e
acessível a todos, concedendo aos alunos a oportunidade de se
comunicarem e aprenderem em ambiente formais e informais,
respeitando diferentes ritmos e estilos de aprendizagem.
Ao longo dos últimos anos, tem ainda procurado construir uma
comunidade educativa coesa, assente na participação ativa e na
colaboração de todos os constituintes, ao mesmo tempo que
impulsiona as interações com o exterior, através de parcerias com
diversas entidades. Os pais são um elemento fundamental para o
sucesso do projeto educativo, sendo que são frequentemente
convidados participar em eventos, reuniões e atividades com seus
filhos (Lima, 2020; UNESCO, 2019).
Como agem os aprendizes no ambiente de
aprendizagem?
Os alunos do colégio Monte Flor planificam, reformulam e
voltam a intervir se preocupação curricular. Num modelo
de currículo centrado no aluno, os processos de decisão,
gestão e execução relacionadas com os problemas
inerentes ao trabalho colaborativo são responsabilidade
dos alunos que constroem o seu conhecimento e adquirem
competências essenciais para a vida em sociedade, ao
mesmo tempo que adquirem os conteúdos programáticos
do currículo nacional. (UNESCO, 2019; Lima, 2020).
Os alunos gerem os momentos da aprendizagem
constantes das tarefas do plano de trabalho semanal e
escolhem oficinas onde são agrupados por grupos de
interesse. Assim os alunos “manipulam todas ou quase
todas as variáveis e/ou controlos no ambiente” (Jonassen,
2000, p. 310), exercendo controlo do seu próprio processo
de aprendizagem.
Que tipo de comunidade de aprendizagem?
O colégio é uma comunidade de prática
multidisciplinar uma vez que privilegia a
aprendizagem baseada em projetos, numa lógica
de aprendizagem ativa e multidisciplinar, onde os
temas escolhidos são abordados na perspetiva das
diferentes disciplinas, cada um com sua visão
específica, a serem desenvolvidas durante todas
as fases do projeto (Lima, 2020; UNESCO, 2019).
Qual é o âmbito geográfico da comunidade de
aprendizagem?
O âmbito geográfico da comunidade de aprendizagem do
Colégio Monte Flor é uma comunidade de expansão
internacional pois conta com vários projetos que tiveram a
colaboração de entidades e parceiros nacionais e
internacionais como é o Ministério da Educação, CoLab,
European Schoolnet, Microsoft, Porto Editora, Promethean,
organizações ambientais, e participa em projetos que
envolvem comunidades de professores de todo o mundo,
tais como Eco Escolas, ASPECT, eTwinning, Comenius,
Erasmus+, Creative Classrooms Lab, Microsoft Educação,
entre outros, partilhando e aprendendo com experiências
educacionais inovadoras. Faz ainda parte de comunidades de
prática docente que partilham experiências e recursos, como
é o caso da comunidade da Comunidade de Educadores
Microsoft e da Co-Lab da European Schoolnet (Lima, 2020;
UNESCO, 2019).
Que modelos de trabalho estão presentes no ambiente de
aprendizagem?
No Colégio Monte Flor privilegia-se um modelo de
colaboração híbrida em redes. A aprendizagem não se
encontra circunscrita ao espaço escolar e à sala de aula. Os
alunos utilizam plataformas digitais para aprender, pesquisar
na internet e comparar informações, para se comunicarem
com os pares, bem como para criar os seus produtos com
recursos a diferentes ferramentas digitais, sendo que o uso da
Tecnologia é uma prática constante durante todo o processo
de aprendizagem e a ubiquidade é palavra chave. Lima (2020)
apresenta alguns exemplos das estratégicas, técnicas,
métodos e ferramentas cognitivas aplicadas no colégio Monte
Flor entre elas, a Aprendizagem Baseada em Projetos
assistidos por Tecnologia, o Design Thinking, a Sala de Aula
Invertida, Codificação e a Gamificação,
Os alunos são desafiados a explorar recursos de forma autónoma
que lhes permitirá adquirir o conhecimento com o recurso à
plataforma de recursos digitais interativos Escola Virtual. De igual
modo, no início de cada projeto, o professor partilha com os
alunos um conjunto de recursos que vão apoiar a implementação
de cada projeto. Os alunos têm assim a possibilidade de
experienciar o ensino híbrido através do modelo de Sala de Aula
Invertida., explorando o material multimédia disponibilizado pelo
professor e produzindo um conteúdo que vão apresentar, em sala
de aula. Posteriormente, com a ajuda do professor, os alunos
podem explorar com maior profundidade, debater conceitos e até
auxiliarem os colegas que não tiveram a oportunidade de explorar
o material (Lima, 2020).
A internet e os dipositivos tecnológicos são essenciais, pois há
uma permanente partilha de recursos e produtos na nuvem e na
página institucional do Colégio, alunos, professores e outras
partes interessadas estão conectadas o tempo todo e muitos
recursos são criados digitalmente: apresentações, vídeos,
animações, músicas, jogos, codificação, roteiros, entre outros
(Lima, 2020; UNESCO, 2019).
Que produtos resultam no ambiente de aprendizagem?
Tendo em conta que os produtos no ambiente de
aprendizagem do Colégio Monte Flor resultam de uma
aprendizagem baseada em projetos assistido por
tecnologias, culminam com a produção de um artefacto ou
a solução de um problema real de utilidade social, com
aplicação. Nos últimos anos, os alunos do colégio têm
compartilhando com comunidade (empresas e instituições
como a Siemens, o Ministério da Justiça, Werfen e Vortal
Connecting Business) os resultados dos produtos da sua
aprendizagem. Foram ainda convidados pelos meios de
comunicação social, para partilharem experiências,
ganhando competências práticas comunicação,
participação e ação responsável (UNESCO, 2019).
O rápido desenvolvimento das tecnologias digitais e a
expansão do conhecimento nas últimas décadas facilitaram o
acesso à informação desvalorizando o papel da escola, que
deixou de ser o local exclusivo para a construção do
conhecimento. Recentemente, a pandemia de COVID-19
expôs essas fragilidades colocando a educação perante
inúmeros desafios.
As mudanças em curso exigem a necessidade de uma
modificação na forma como as escolas ensinam. Isso implica a
emergência de uma educação que proporcione situações
educativas promotoras do pensamento crítico, onde o ensino
e aprendizagem dos conteúdos programáticos se apresentem
numa lógica construtivista, com finalidades úteis e práticas e
com a mobilização de saberes em situações do dia-a-dia. Para
tal, é necessário facultar ao aluno situações educativas
promotoras do desenvolvimento de capacidades de resolução
de problemas que estes necessitam mobilizar.
A análise ao ambiente de aprendizagem do Colégio
Monte Flor demonstra que, pese embora a
Aprendizagem baseada em Projetos Assistidos por
Tecnologia não seja uma proposta pedagógica nova,
consubstancia-se disruptiva em relação às práticas
dominantes. Foi possível distinguir 7 dos 8 princípios
que estão na base das práticas pedagógicas
emergentes propostos por Adell e Castañeda (2012).
De igual modo, conseguimos descortinar no
ambiente analisado o desenvolvimento de uma série
de iniciativas que geram aprendizagens significativas
e profundas, ao mesmo tempo em que se alcançam
competências em termos de capacidade analítica e
síntese, pensamento crítico, conexão entre teoria e
prática e resolução de problemas
Desse modo, sublinhamos que um ambiente
emergente de aprendizagem pode ser entendido como
espaço social, constituindo de interações
construtivistas e construcionistas, possibilitando a
emersão de redes de conhecimento que facilitem
interações, colaboração, autonomia, pensamento
crítico e resolução de problemas. Assim, o
fundamental não é o local em si, nem os recursos ou
ferramentas utilizadas, mas o que ocorre nesse local,
ou seja, a forma como o conhecimento e a produção do
conhecimento é (re)significada pelos intervenientes.

3x

Você também pode gostar