Você está na página 1de 11

Análise Psicológica (2005), 3 (XXIII): 329-339

A importância do exercício físico nos


anos maduros da sexualidade

RAQUEL ALMEIDA VAZ (*)


NUNO NODIN (*)

A partir da segunda metade do século XX tem neralizar-se, de um modo progressivo, aos países
vindo a assistir-se a um processo de envelheci- em vias de desenvolvimento.
mento demográfico nos países industrializados (Na- Esta importância crescente dos idosos no pa-
zareth, 1988). Portugal também tem experiencia- norama demográfico dos países desenvolvidos faz
do grandes alterações na sua estrutura popula- com que as questões que dizem respeito a esta
cional, prevendo-se, segundo Natário (1991, cit. faixa etária assumam uma pertinência cada vez
por Fernandes, 2000), que no ano de 2025 a pro- maior, verificando-se alguma preocupação e dis-
porção de pessoas com 65 ou mais anos seja de ponibilidade para os problemas da Geriatria e da
17,8% em relação ao total da população. Tal fe- Gerontologia. Deste modo, a abordagem psico-
nómeno está associado a um declínio da fecun- lógica desta etapa da vida torna-se fundamental
didade, o que leva a uma diminuição da percen- (Paúl, 1997), justificando-se, portanto, o estudo
tagem de jovens e, consequentemente, a um au- de temáticas que possam contribuir para o bem
estar do idoso, como é o caso da sexualidade e da
mento da percentagem de idosos, invertendo-se
actividade física, analisadas no presente traba-
assim a forma da pirâmide das idades, a qual fica
lho, no âmbito das suas associações mútuas.
reduzida na base e alargada no topo (Paúl, 1997).
Além deste aumento proporcional, tem existido
um efectivo aumento da população chamada de Ter- ENVELHECIMENTO
ceira Idade nos países industrializados devido aos
avanços da Medicina que permitiram um alarga- Ao longo da História, a velhice foi encarada
mento da esperança de vida nas últimas décadas de formas diversas, ora venerada, ora despreza-
(Santos & Trindade, 1997). Este aumento da es- da, variando consoante a cultura e a sociedade.
perança de vida é quase exponencial, não se pre- É, de resto, um conceito socialmente construído
vendo uma inversão. Aliás, segundo Robert (1994, e não universal (Pereira, 1999). Deste modo, a com-
cit. por Fernandes, 2000) este fenómeno, irá ge- preensão do significado social da velhice passa por
analisar os valores de cada sociedade que, por sua
vez, estão de acordo com a respectiva organiza-
ção social. Ou seja, a variabilidade histórica e so-
cial do conceito de velhice exprime uma diversi-
(*) Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lis- dade de valorizações que condicionam e são con-
boa. dicionados pela posição social dos indivíduos

329
(Lima & Viegas, 1988). Esta variabilidade cultu- mo, por exemplo, a perda de auto-estima ou o sen-
ral da velhice faz com que seja árdua a tarefa de timento de abandono.
definir com precisão a idade do seu início. A Or- As perdas mais frequentemente vividas pelos
ganização Mundial de Saúde (OMS) (1989, cit. idosos estão relacionadas com os papéis, expec-
por Santos, 1993), refere que é difícil de precisar tativas e referências ao grupo social, podendo es-
em que idade ela começa, pois depende de diver- tas perdas ameaçar a integridade da pessoa idosa,
sos factores intrínsecos (inerentes à própria pes- suscitando nalguns casos, segundo Solomon e
soa) e extrínsecos (inerentes ao meio envolvente) Davis (1995, cit. por Fernandes, 2000), depres-
de cada pessoa. Em termos gerais a definição de são, ansiedade, reacções psicossomáticas, afasta-
“velho” ou “idoso” é associada à idade da refor- mento e descompromisso.
ma que, em Portugal, é aos 65 anos. Porém após a Relativamente à adaptação, o que dificulta mais
reforma muitas pessoas que deixam de trabalhar a capacidade de adaptação do idoso, não é a di-
nos seus empregos, fazem-no por motivos bem minuição das funções cognitivas, mas sobretudo
distintos do envelhecimento e muitas delas con- a perda de papéis sociais, as situações de stress,
tinuam em actividade (Santos, 1993). a doença, o desenraizamento e outros traumatis-
De acordo com Mestre (1999) «o envelheci- mos que podem causar problemas psicológicos
mento é um processo biológico, psicológico e so- (Fernandes, 2000). Sabe-se que a aceitação da
cial complexo, mas dinâmico, que se inicia mui- mudança ligada ao medo de envelhecer, e a satis-
to antes da velhice propriamente dita e que não é fação de vida, estão relacionadas com as auto-per-
uma doença, mas antes um tempo, do próprio tem- cepções da idade. Podem surgir sentimentos ne-
po de Vida» (op. cit., pp. 18-19). Do ponto de vis- gativos face às alterações fisionómicas provoca-
ta biológico, o envelhecimento é um processo de das pelo envelhecimento e a sensação que se per-
transformação das células e dos tecidos, provo- deu a beleza do passado (Léger et al., 1994, cit.
cado pela acção do tempo sobre o organismo, o por Santos & Trindade, 1997). O funcionamento
que leva a um risco cada vez maior de mortali- cognitivo também sofre alterações provocadas pelo
dade. Como refere Sousa (1976, cit. por Santos, envelhecimento. Assim, apesar de várias compe-
1993), há um desgaste do organismo vivo devido tências intelectuais se manterem estáveis ao lon-
à acção do exterior, como se o organismo fosse uma go da vida e de algumas aumentarem mesmo até
máquina, dependendo este desgaste das condições próximo dos 60 anos, existe um declínio de algu-
de vida de cada organismo. mas delas (Schaie, 1968, cit. por Barreto, 1988).
Segundo Schroots e Birren (1980, cit. por Paúl,
1997), o processo de envelhecimento é composto
não só pelo envelhecimento biológico (senescên- EXERCÍCIO FÍSICO NA VELHICE
cia), mas também pelo envelhecimento social (pa-
péis sociais esperados pela sociedade como sen- O exercício físico, foi definido por Caspersen
do os apropriados) e o envelhecimento psicológi- e col. (1985, cit. por Ogden, 1999) como sendo
co (adaptação ao processo de senescência). um «movimento corporal planeado e repetitivo
O envelhecimento associa-se a uma série de executado para melhorar ou manter um ou mais
factores e condicionalismos que podem, como re- componentes da boa forma física», distinguindo-
fere Barreto (1984, cit. por Fernandes, 2000), ser o de actividade física, sendo esta «qualquer mo-
responsáveis por algumas perturbações mentais vimento corporal produzido pelos músculos es-
no idoso, sendo importante conhecer e compre- queléticos que resulte num consumo de energias»
endê-los de modo a agir de forma a manter o equi- (op. cit., p. 180). Deste modo, tanto através do exer-
líbrio do idoso. No que diz respeito às perdas, os cício como da actividade física dão-se mudanças
idosos, são confrontados com diversos tipos, po- físicas e biológicas que, no caso do exercício, re-
dendo estas ser graduais, como é o caso das doen- sultam de movimentos intencionais. O exercício
ças, ou súbitas, no caso de um acidente. E exis- é tido como fundamental para a promoção de um
tem perdas, segundo o mesmo autor, que são pal- bom estado de saúde, tanto ao nível físico como
páveis, como seja a morte de alguém ou perdas psicológico.
económicas e sociais que se associam frequente- O exercício pode aumentar o bem-estar psico-
mente a um conjunto de perdas simbólicas, co- lógico, reforçando a auto-estima e autoconfiança

330
do sujeito, isto porque, segundo King e col. (1992, físico pode ser encarado como uma medida pre-
cit. por Ogden, 1999), há uma maior satisfação ventiva face o aparecimento de incapacidades lo-
em relação ao corpo, aumentam os sentimentos comotoras resultantes do processo biológico de
de realização e auto-eficácia e, além disso, a acti- envelhecimento.
vidade social associada ao exercício físico con- Conclui-se assim que o idoso deve realizar acti-
duz a uma melhoria de apoio social e uma maior vidades que mantenham em funcionamento o seu
auto-eficácia (Ogden, 1999). corpo e o seu cérebro (Parreño, 1994), de modo
No idoso, a tendência habitual para a inactivi- a que possa prescindir ao máximo da ajuda de ou-
dade é um factor psicossocial, correspondendo a tros para a realização das actividades de vida diária
um certo alheamento relativamente à vida comu- (mobilidade, alimentação, vestuário, etc.), man-
nitária. Esta inactividade pode ser reforçada ca- tendo-se uma pessoa independente e autónoma e,
so o idoso seja “objecto de cuidados” excessivos, deste modo, com uma melhor qualidade de vida.
fomentando-se a passividade, já que existe uma
falta de disposição para se mover, o que faz com
que hajam poucas possibilidades para treinar e SEXUALIDADE E EXERCÍCIO FÍSICO
melhorar as capacidades corporais, psíquicas, in- NA VELHICE
telectuais e sociais que ainda conserva (Lehr &
Thomae, 1984). Como referem Sanchez e Fuertes (1989) todo
Dado o facto da mobilidade ser um indicador o nosso ser é mediatizado pela sexualidade, sen-
de saúde e de qualidade de vida para o idoso, é do muito difícil definir esta dimensão. A sexua-
importante evitar o sedentarismo e, para isso, é im- lidade não pode ser entendida apenas conhecen-
portante que o idoso realize diariamente uma acti- do a anatomia e a fisiologia sexuais, sendo igual-
vidade física de modo a vencer a inércia. A ida- mente importante ter em conta a psicologia e a
de, por si só, não é contra-indicação para a práti- cultura em que cada indivíduo vive, já que a se-
ca de qualquer tipo de actividade física ou des- xualidade não se reduz à prática do acto sexual e
portiva, o que conta é a situação de cada indiví- à satisfação orgástica, tendo como objectivo, na
duo e os hábitos que manteve em etapas anterio- espécie humana, além da função reprodutora, a
res da vida (Parreño, 1984). obtenção de prazer.
No fundo, a prática do exercício depende da von- A Organização Mundial de Saúde (OMS) em
tade do próprio idoso. Segundo Parreño (1984) 1975 (cit. por Moreia & Côrte-Real, 1999) defi-
«só é velho aquele que quiser sê-lo (...), velho no niu saúde sexual como sendo a «integração har-
sentido limitativo da pessoa e porque se conside- moniosa dos aspectos somáticos, intelectuais e
ra incapaz de certas actividades» (op. cit., p. 271). sociais do ser sexuado, de forma a enriquecer a
Deste modo, apenas a própria condição física in- personalidade, a comunicação e o amor» (op. cit.,
dividual deve determinar a prática de exercício, p. 205). Neste sentido, a sexualidade é reconhe-
o seu nível e ritmo. cida como um aspecto importante da saúde e, se
Relativamente aos benefícios psicológicos do for vivida satisfatoriamente, é fonte de equilíbrio
exercício físico nos idosos, Berger e Mclnman e harmonia para a pessoa, favorecendo uma ati-
(1993, cit. por Cruz, Machado & Mota, 1996) re- tude positiva em relação a si mesmo e aos ou-
ferem que sobressaem características de persona- tros.
lidade mais desejáveis, ocorrendo uma promoção Apesar de existirem interesses sexuais nas vá-
e melhoria da auto-eficácia, da satisfação com a rias etapas da vida (infância, adolescência, adul-
vida e da qualidade de vida, além de uma dimi- tícia e velhice), a vivência da sexualidade muda
nuição nos níveis de tensão, ansiedade e depres- com a idade, tendo características próprias em ca-
são. Além disso, segundo Parreño (1984), o exer- da uma delas. A partir da meia idade surgem mu-
cício contribui para que haja um equilíbrio psí- danças orgânicas, psicológicas e no relaciona-
quico e afectivo do idoso, pois proporciona uma mento conjugal que se reflectem no comporta-
integração social, o que é ainda mais reforçado mento sexual dos casais.
quando as actividades são em grupo e entre pes- No que diz respeito à capacidade sexual, Mas-
soas que têm aptidões e preferências semelhan- ters e Johnson num estudo clássico (1966) afir-
tes. Ainda segundo o mesmo autor, o exercício mavam que a resposta sexual do homem diminui

331
com a idade, contribuindo para isso variáveis fi- que haja um distanciamento e, em algumas situa-
siológicas e psico-sociais. O mesmo acontecerá ções, a procura de outros parceiros de forma a
com a mulher, apesar destas alterações serem mais poder afirmar a sua sexualidade, sobretudo por
evidentes no homem, já que a resposta sexual mas- parte do homem.
culina é externa e mais evidente comparativamen- Como refere Herrero (1984), a actividade se-
te com a feminina. xual de um casal idoso permite que a identidade
As alterações biofisiológicas mais frequentes de cada cônjuge seja reafirmada, pois cada uma
que poderão condicionar a sexualidade na velhi- das partes pode oferecer ao outro algo que o agra-
ce são, como referem Sanchez e Fuertes (1989), da e satisfaz, e desta forma a pessoa reconhece
no homem: que o seu corpo é capaz de dar e receber prazer,
aumentando a sua auto-estima que tende a dimi-
- Diminuição da produção de esperma; nuir na velhice, sendo necessário reforçá-la.
- Diminuição da produção de testosterona; Verifica-se que o nível de actividade e de in-
- Lentificação da erecção, que necessita de teresse sexual das pessoas idosas se encontra re-
uma maior estimulação; lacionado com a sua actividade e interesse sexu-
- Ejaculação mais retardada e menos vigoro- al na juventude; constatando-se que os homens
sa; que foram sexualmente activos na juventude e
- Elevação menor e mais lenta dos testículos; idade adulta tendem a ser sexualmente activos na
- Redução da tensão muscular durante a rela- terceira idade (Newman & Nichols, 1960; Freeman,
ção; 1961; Rubin, 1965; cit. por Silny, 1993); e as mu-
- Alargamento do período refractário. lheres que tiveram uma actividade sexual regular
Na mulher, as alterações biofisiológicas mais antes da terceira idade, nesta fase poderão conti-
frequentes, segundo os mesmos autores, são: nuar a tê-la com igual prazer (Masters & John-
son, 1966). Deste modo, segundo Butler e Lewis
- Diminuição do tamanho e perda de elastici- (1993), o desinteresse sexual só é sinal de preo-
dade da vagina; cupação se for desencadeador de problemas pes-
- Diminuição do tamanho dos seios e perda da soais ou relacionados com o casal, pois existem
sua firmeza; idosos que nunca se interessaram significativa-
- Lentificação e diminuição em quantidade da mente por sexo, sendo esse desinteresse uma con-
lubrificação vaginal; tinuação do que acontecia na juventude e na fase
- Alterações na figura corporal. adulta.
Todas as atitudes negativas face à sexualidade
De acordo com Silny (1993), a experiência e na velhice, segundo Butler e Lewis (1993), são
as atitudes sobre si próprio e sobre a sexualidade um reflexo do nosso medo de envelhecer e mor-
são provavelmente o que mais pesa sobre o fun- rer, dando origem a preconceitos e estereótipos
cionamento sexual e sobre a satisfação sexual nu- que assentam sobre a ideia da anulação da sexua-
ma idade mais avançada, apesar de tal ser tam- lidade das pessoas idosas e que funcionam como
bém verdade na juventude e na fase adulta. No factores inibidores, contribuindo para a diminui-
homem com idade mais avançada, o declínio da ção da actividade sexual nesta fase da vida (Rubin,
capacidade sexual frequentemente resulta em sen- 1968, cit. por Silny, 1993).
timentos de frustração, levando a que se evitem
contactos sexuais. Esta situação, por sua vez, po- Sexualidade e Exercício Físico
derá fazer com que a mulher se sinta negligen-
ciada pelo marido, atribuindo como causa desse Observa-se que, nas pessoas idosas, a prática
evitamento as mudanças corporais que observa de exercício físico é acompanhada por uma maior
em si própria na fase da menopausa que, em al- satisfação de vida e melhoria de capacidades fun-
guns casos, sob influência de preconceitos e este- cionais (Anderson, 1998). No mesmo sentido, ve-
reótipos impostos pela sociedade, fazem-na sen- rifica-se que os idosos que se mantêm sexualmen-
tir-se menos atraente. Se, adicionado a esta situa- te activos são os mais activos fisicamente e os que
ção, se verificar falta de comunicação entre o ca- praticam exercício físico regularmente (Clements,
sal, poderão surgir desentendimentos, levando a 1996, cit. por Anderson, 1998). Assim, os idosos

332
desportistas, comparativamente com os não des- 60 ans”, elaborado por M. M. Chavanne Frutiger
portistas, são considerados geralmente como sen- (1988, cit. por Santos, 1993). É um questionário
do os mais saudáveis e os mais activos sexual- que permite avaliar diferentes aspectos da vida
mente. sexual depois dos 60 anos, sendo discriminativo
Como referem Butler e Lewis (1993) é impor- e focalizado, o que facilita a objectivação. Este
tante ter em atenção que uma boa forma física é questionário foi ainda sujeito a algumas adapta-
a condição básica para se ter uma boa aparência, ções, no sentido de que a ordem dos itens que in-
uma boa disposição e as reservas físicas necessá- tegram o instrumento e a linguagem utilizada fos-
rias para aproveitar uma série de interesses da vi- sem o mais simples possível, tornando o questio-
da, encontrando-se entre estes a actividade se- nário acessível e de fácil leitura. Da versão por-
xual, da qual é retirado maior prazer se existir uma tuguesa deste questionário, apenas foram inte-
boa saúde e um “corpo sem dores”. gradas as questões mais relevantes para este es-
Portanto, da literatura sobre esta temática res- tudo, de modo a que o mesmo não se tornasse va-
salta a ideia de que a velhice não implica um es- go e denso, mas sim claro e conciso. Além disso,
tagnar e que a sexualidade pode continuar viva. foram acrescentadas algumas informações adi-
Porém, há casais idosos que deixam de viver a sua cionais que consideramos relevantes para a com-
sexualidade, podendo tal estar relacionado com preensão das questões.
um certo desinvestimento no próprio corpo, o que, Ao todo, o questionário utilizado neste estudo
na maior parte dos casos, leva a uma redução dos tem 47 questões, 38 das quais integram uma par-
níveis de satisfação e de qualidade de vida. te comum. As áreas cobertas por estas questões
Neste sentido, optou-se por investigar se a se- são: sensações com as relações sexuais; iniciati-
xualidade de um idoso que pratica exercício físi- va para a actividade sexual; frequência e impor-
co é diferente da do idoso que não pratica qual- tância atribuída às relações sexuais; razões pelas
quer exercício físico, sendo o objectivo central o de quais ter relações sexuais; experiência do orgas-
dar um contributo ao estudo da sexualidade na ter- mo; relações extra-conjugais; interesse pela vida
ceira idade. sexual; alterações na vida sexual e sentimental;
factores que influenciam a vida sexual; sonhos;
interesse por material erótico; comunicação so-
METODOLOGIA bre sexualidade com o parceiro; masturbação; acti-
vidades lúdicas e partilha com o parceiro e dese-
jo sexual. Existem além disso, duas partes, uma
Tipo de estudo dirigida às mulheres, com mais sete questões (me-
nopausa e sintomas associados; utilização de me-
No sentido de perceber se a sexualidade de um dicação hormonal de substituição; e operações ao
idoso que pratica exercício físico é diferente da útero), e outra dirigida aos homens, com mais du-
do idoso que não pratica qualquer exercício físi- as (alterações ao nível da erecção e da ejaculação).
co, desenhamos um estudo observacional-descri-
tivo de comparação entre grupos, em que a variá- Participantes
vel independente é a prática de exercício físico e
a dependente a vivência da sexualidade, tal como Este estudo incidiu sobre uma amostra extraí-
avaliada pelo instrumento utilizado. da de uma população de idosos casados e com ida-
de compreendida entre os 65 e os 75 anos de ida-
Material de. A amostra utilizada foi constituída por 54 par-
ticipantes, dos quais 27 fazem parte de um grupo
Na sequência da procura de um instrumento es- de idosos que praticam exercício físico e os ou-
truturado que fosse adequado ao tema deste estu- tros 27 fazem parte de um grupo de idosos que
do e ao objectivo pretendido, foi encontrado um não praticam exercício físico. Ambos os grupos
questionário traduzido e adaptado por Santos (1993) que constituem a amostra foram seleccionados
para a população portuguesa intitulado “Questio- no Distrito de Lisboa em diferentes instituições
nário sobre a sexualidade depois dos 60 anos” do frequentadas por idosos.
original “Recherche sur la sexualité au-delá de No que diz respeito à idade, em ambas as amos-

333
tras, os sujeitos distribuem-se por todas as idades grupo de sujeitos pertencentes à população em
entre 65 e 75 anos, sendo a moda entre os que não estudo, que serviu para testar a clareza do instru-
praticam exercício físico os 70 anos e, entre os mento, de modo a verificar a necessidade de efec-
idosos que praticam exercício físico, os 75 anos. tuar ajustes em algumas questões do mesmo.
No grupo dos idosos que praticam exercício físi- Todos os sujeitos não praticantes de exercício
co há 66,7% sujeitos do sexo feminino e 33,3% físico, seleccionados em Centros de Dia, foram
do sexo masculino. No grupo dos idosos que não entrevistados individualmente numa sala cedida
praticam exercício físico o número de homens e pela instituição, tendo as questões sido colocadas
de mulheres é mais equilibrado, existindo 51,9% pelo entrevistador e o questionário preenchido pe-
de sujeitos do sexo feminino e 48,1% do sexo mas- lo mesmo, isto porque uma parte dos sujeitos era
culino. No conjunto, existem 32 sujeitos do sexo analfabeta e os restantes sujeitos preferiram que
feminino e 22 sujeitos do sexo masculino. fosse o entrevistador a fazer as perguntas. Foi di-
É notória a diferença entre as duas amostras to a todos os sujeitos entrevistados que o questio-
ao nível de habilitações literárias. No grupo de nário estava enquadrado num estudo sobre a se-
idosos não praticantes de exercício físico exis- xualidade depois dos 65 anos, agradecendo-se à
tem 40,7% dos sujeitos com a escola primária, partida a colaboração no respectivo estudo e re-
40,7% com a escola primária incompleta e 18,5% ferindo-se o facto do questionário ser anónimo.
analfabetos. No grupo dos idosos praticantes de Relativamente aos sujeitos que praticam exer-
exercício físico há 33,3% dos sujeitos que têm o cício físico em ginásios, devido à inexistência de
curso superior, 18,5% que têm o magistério pri- uma sala onde pudessem ser feitas as entrevistas,
mário, 18,5% que têm o curso comercial, 18,5% após explicar que o questionário continha ques-
que fizeram o ciclo preparatório e 11,1% que fi- tões relacionadas com a sexualidade após os 65
zeram a escola primária. Deste modo, verifica-se anos e que seria usado para um estudo sobre se-
que a amostra dos idosos praticantes de exercício xualidade, pediu-se aos sujeitos que levassem o
físico têm, no conjunto, um nível de escolaridade questionário para casa e foi combinado um dia pa-
superior comparativamente com a amostra dos ra a sua recolha, tendo os sujeitos ficado com um
idosos não praticantes. contacto telefónico para o caso de surgirem algu-
No que respeita à religião, a maioria dos ido- mas dúvidas. Foi ainda explicado que o questio-
sos de ambas as amostras são católicos pratican- nário era individual e que, deste modo, deveria
tes ou não praticantes, existindo 77,8% dos ido- ser preenchido individualmente e sem perturba-
sos que não praticam exercício físico que são ca- ções.
tólicos praticantes e 59,3% dos idosos que pra-
ticam exercício físico que são católicos não prati-
cantes. RESULTADOS
No grupo de idosos praticantes de exercício fí-
sico existem 51,9% de sujeitos cujo companhei-
ro/a é mais velho/a. Os idosos não praticantes de Tratamento dos Dados
exercício físico distribuem-se equitativamente em
termos de resposta, mas existe uma maior per- Após a aplicação dos questionários procedeu-
centagem (37%) de sujeitos que têm um compa- se ao tratamento dos dados obtidos. Efectuámos
nheiro/a mais velho/a. uma análise estatística para tratamento de dados
através do programa informático SPSS.
Procedimento Os resultados obtidos foram analisados em vá-
rias fases. Numa primeira fase, fizemos uma aná-
Após terem sido contactados os locais para re- lise descritiva dos dados, apresentando-se os re-
colha da amostra e de ter sido obtida autorização sultados referentes a cada uma das questões do
para a aplicação do instrumento, pediu-se a cola- instrumento utilizado para cada um dos grupos
boração das instituições, no sentido de nos infor- estudados. Seguidamente, efectuámos uma aná-
marem quais os utentes casados e com idades en- lise comparativa, de modo a detectar a existência
tre os 65 e os 75 anos. de diferenças estatisticamente significativas en-
Foi realizado um pré-teste com um pequeno tre as duas amostras. Para tal recorremos ao teste

334
de Mann-Whitney para as variáveis de nível cio físico, os quais respondem com maior
ordinal e ao teste do Qui-Quadrado ou de Pear- frequência “nenhumas vezes”.
son para as variáveis nominais, tendo os resul- - Frequência em média de relações sexuais
tados sido analisados para um nível de significân- (questão 9; U=220.000, p=.007), havendo
cia de 0.05. mais sujeitos praticantes de exercício físico
Numa última fase foi feita uma análise de cor- a ter relações sexuais, em média, “por se-
respondência que permite perceber quais as ca- mana”, “por mês” ou “por ano”, comparati-
racterísticas principais dos sujeitos de cada amos- vamente com os não praticantes de exercí-
tra e compreender que factores se associavam mais cio físico que respondem com maior frequên-
a uma ou a outra amostra. cia “não tenho”.
- Interesse pela vida sexual (questão 18; U=207.000,
Análise dos Resultados p=.001), existindo uma maior percentagem
de sujeitos praticantes de exercício físico
Iremos limitar-nos aqui à apresentação dos re- que tem um interesse “médio” ou “grande”
sultados relativos à análise comparativa, para a pela vida sexual, em comparação com os não
qual foram utilizados os testes de Mann-Whitney praticantes de exercício físico, dos quais exis-
(U) e do Qui-Quadrado (X2). Foi considerado um tem mais que têm um “fraco” ou “nenhum”
nível de significância estatístico de p ≤0,05. interesse.
Como nos mostra a Tabela 1, o teste de Mann- - Modificações notadas ao nível de activida-
Whitney revelou que, do ponto de vista estatís- des/divertimentos comuns com o/a compa-
tico, existem diferenças significativas entre as duas nheiro/a (questão 30; U=224.500, p=.009),
amostras no que diz respeito a: havendo uma maior percentagem de sujei-
- Iniciativa para ter relações sexuais (questão tos não praticantes de exercício físico que
8; U=150.000, p=.001), existindo uma maior consideram que as mesmas “aumentaram”
percentagem de sujeitos praticantes de exer- comparativamente com os sujeitos que pra-
cício físico que afirmam tomar a iniciativa ticam exercício, os quais respondem com
para ter relações sexuais, “muitas vezes”, “al- maior frequência que as actividades/diver-
gumas vezes” ou “poucas vezes”, em com- timentos estão “na mesma” ou que “dimi-
paração com os não praticantes de exercí- nuíram”.

TABELA 1
Resultados do Teste de Mann-Whitney

Questões U p

8. Tem tomado a iniciativa para ter relações sexuais? 528.000 .001*


9. Em média com que frequência tem tido relações sexuais? 598.000 .007*
18. Como avalia o seu interesse pela vida sexual? 585.000 .001*
29. Notou modificações na sua vida sentimental, nestes últimos anos? 639.000 .055
30. Notou modificações no que diz respeito a actividades/divertimentos comuns 602.500 .009*
com o/a seu/sua companheiro/a?
31. Notou modificações no que diz respeito à forma como se entendem enquanto casal? 706.500 .447
32. Notou modificações quanto à ternura entre ambos? 737.500 .924
33. Notou modificações no que diz respeito à frequência de relações sexuais? 723.000 .718
38. As relações sexuais são para si, um aspecto importante da sua relação com 695.000 .363
o/a seu/sua parceiro/a?

* Diferenças estatisticamente significativas.

335
Em relação às modificações sentidas na vida parativamente com os não praticantes de exer-
sentimental (questão 29; U=261.000, p=.055), às cício físico que respondem com maior per-
modificações notadas sob a forma como se en- centagem ser a “saúde”.
tende o casal (questão 31; U=328.500, p=.447),
Não foram detectadas quaisquer diferenças sig-
às modificações ao nível da ternura no casal (ques-
nificativas entre as duas amostras no que respeita
tão 32; U=359.500, p=.924), às modificações no
a ter sonhos com conteúdo sentimental (questão
que concerne a frequência de relações sexuais (ques-
21; X2=.587, p=.444), a ter sonhos com conteú-
tão 33; U=354.000, p=.718) e à importância atri-
do erótico/sexual (questão 22; X2=3.000, p=.083),
buída às relações sexuais dentro do casal (ques-
ao interesse pelo conteúdo erótico de programas
tão 38; U=317.000, p=.363) o teste de Mann-Whit-
da TV, livros, jornais ou filmes (questão 23; X2=
ney não detectou quaisquer diferenças significati-
.001, p=1.000), a falar sobre sexo com o/a par-
vas entre as duas amostras.
ceiro/a (questão 26; X2=1.714, p=.190), a ter acti-
Através do teste do Qui-Quadrado, foi possí-
vidade masturbatória (questão 27; X2=2.077, p=.150)
vel averiguar que existem diferenças estatistica-
e relativamente a desde quando foram notadas as
mente significativas entre as duas amostras rela-
modificações sentidas (questão 35; X2=1.019, p=.313).
tivamente a:
As restantes questões não foram analisadas por
- Sensação obtida através das relações sexu- estes testes por terem respostas múltiplas, e/ou
ais (questão 7; X2=12.467, p=.006), exis- por o número de sujeitos respondentes às mes-
tindo uma maior percentagem de sujeitos mas ter sido muito reduzido.
praticantes de exercício físico que afirma Através da análise de correspondência foi pos-
que as relações sexuais dão a sensação de “pra- sível observar que, em termos globais, o que está
zer” ou “bem estar”, em comparação com os mais associado à amostra dos idosos não prati-
sujeitos não praticantes de exercício físico cantes de exercício físico é a inexistência de in-
que, além de responderem em menor per- teresse pela vida sexual, a ausência de relações
centagem as opções referidas, assinalam por sexuais, a falta de iniciativa para ter relações se-
vezes sentir “fadiga” ou “dever” em relação às xuais e a crença de que a vida sexual é influen-
mesmas. ciada pela saúde. Além disso, associando outros
- O que consideram que influencia a vida se- níveis de análise, verifica-se que se associa mais
xual (questão 20; X2=25.200, p=.001), ha- aos sujeitos desta amostra o ser católico pratican-
vendo mais sujeitos praticantes de exercí- te, o analfabetismo e o ter a escola primária in-
cio físico que consideram ser o “estado físi- completa. Quanto à amostra dos idosos que pra-
co” o que mais influencia a vida sexual, com- ticam exercício físico, verifica-se que se lhe en-

TABELA 2
Resultados do Teste do Qui-Quadrado

Questões X2 p

7. As relações sexuais dão-lhe que sensação? 12.467 .006*


20. Acha que a vida sexual é influenciada por que factor? 25.200 .001*
21. Tem sonhos com conteúdo sentimental? .587 .444
22. Tem sonhos com conteúdo erótico/sexual? 3.000 .083
23. Sente interesse pelo conteúdo erótico de programas da TV, livros, jornais ou filmes? .001 1.000
26. Fala sobre sexo com o/a seu/sua parceiro/a? 1.714 .190
27. Tem actividade masturbatória (auto-estimulação do órgão sexual)? 2.077 .150
35. Se houve modificações notou-as desde quando? 1.019 .313

* Diferenças estatisticamente significativas.

336
contra mais associado o ter algumas vezes ini- xualmente, devido ao facto do acto sexual impli-
ciativa para ter relações sexuais, ter relações se- car um esforço físico, para o qual o seu corpo
xuais em média uma vez por mês, considerar que não está preparado, dando origem a uma situação
a vida sexual é influenciada pelo estado físico, ser de fadiga ou mesmo de dor. É de referir que a
católico não praticante e ter o curso comercial ou sensação de dever é expressa unicamente pelas
o magistério primário. mulheres, podendo tal estar relacionado com fac-
tores culturais, nomeadamente à ideia de que a
mulher tem uma obrigação para com o marido
DISCUSSÃO no que respeita à satisfação dos seus desejos se-
xuais.
Neste estudo, constatámos que existem algu- No que diz respeito ao interesse pela vida se-
mas diferenças estatisticamente significativas en- xual, apesar de mais de metade dos sujeitos de
tre as duas amostras, verificando-se que há uma ambas as amostras afirmar ter um interesse “mé-
relação entre a prática de exercício físico e algu- dio”, existem 25,9% dos sujeitos não praticantes
mas das dimensões que dizem respeito à sexuali- de exercício físico que afirma não ter qualquer
dade do idoso. Deste modo, observámos que, à interesse enquanto que nenhum dos sujeitos que
semelhança de estudos anteriores como o de Cle- praticam exercício físico o afirma. Estes resulta-
ments (1996, cit. por Anderson, 1998), os idosos dos coincidem com o que atrás foi referido, pois
que são sexualmente mais activos são os que pra- alguns dos sujeitos não praticantes de exercício
ticam exercício físico regularmente, o que vem físico, ao atribuírem às relações sexuais sensa-
ao encontro de uma das questões que pretende- ções como “fadiga” ou “dever” é de esperar que
mos estudar neste trabalho que remete para a pos- não sintam interesse pelas mesmas, ao contrário
sibilidade de existir uma relação entre a prática dos sujeitos que atribuem às relações sexuais
de exercício físico por parte do idoso e a sua acti- sensações mais agradáveis, como “prazer” ou “bem
vidade sexual. estar”.
Relativamente à sensação obtida através das re- Por outro lado, estes resultados poderão estar
lações sexuais, constatámos que os sujeitos que relacionados com a imagem cultural da sexuali-
praticam exercício físico dividem as suas respos- dade, ou seja, com o facto de, na nossa socieda-
tas entre “prazer” e “bem estar”, ao passo que en- de, admitir sentir-se interesse pela vida sexual
tre os sujeitos não praticantes de exercício físico, ser considerado de modo negativo e, neste sen-
para além de responderem com menor frequên- tido, coloca-se a hipótese dos resultados pode-
cia às opções “prazer” e “bem estar”, 22,2% afir- rem não corresponder totalmente à realidade, já
mam sentir “fadiga” e 14,8% têm a sensação de que os sujeitos não praticantes de exercício físico
“dever”. Desta forma, verificámos que, no geral, foram entrevistados, ao contrário dos elementos
os sujeitos que praticam exercício físico atribuem do outro grupo que preencheram o questionário
às relações sexuais uma sensação mais agradável individualmente, e deste modo poderem ter res-
do que os que não praticam exercício físico. pondido o que consideram ser socialmente cor-
Assim, poder-se-á dizer que existe uma maior recto.
percentagem de sujeitos não praticantes de exer- Quanto ao que os sujeitos consideram mais
cício físico a não ter relações sexuais, talvez de- influenciar a vida sexual, observámos que entre
vido ao facto do acto sexual ser doloroso fisica- os sujeitos que praticam exercício físico, 77,8%
mente para o próprio, como aliás foi verbalizado consideram que a vida sexual é influenciada pe-
por alguns sujeitos durante as entrevistas. Não po- lo estado físico, enquanto que 51,9% dos que não
dendo ser retirado prazer da relação sexual, esta praticam exercício físico afirmam ser o estado de
poderá implicar fadiga ou dever. Esta situação saúde. Esta diferença de resultados entre as duas
poderá fazer sentido se pensarmos nos benefícios amostras reflecte o que é mais valorizado pelos
fisiológicos e psicológicos que o exercício físico sujeitos. Os sujeitos que praticam exercício físi-
acarreta, isto é, se uma pessoa não praticar exer- co valorizam mais o estado físico e, deste modo,
cício físico, poderá não estar fisicamente e psico- preocupam-se em cuidar do seu corpo, ao passo
logicamente tão apta como uma pessoa que o pra- que os sujeitos que não praticam exercício físico,
tica e, deste modo, estar menos disponível se- ao serem menos activos fisicamente poderão de-

337
senvolver alguns problemas de saúde ou, como não praticantes de exercício físico, apesar de não
refere Parreño (1984), não ter uma capacidade de se poder menosprezar a importância que as di-
reacção perante a possível doença como tem quem ferenças sócio-educacionais das nossas amostras
pratica exercício físico e, por esse motivo, valo- possam ter sobre estes resultados. De qualquer mo-
rizar mais o estado de saúde. do, parece-nos possível afirmar que existe uma
No que concerne às modificações sentidas pe- relação entre a prática de exercício físico por par-
los sujeitos na sua vida nestes últimos anos ao ní- te do idoso e a sua sexualidade, advindo possi-
vel das actividades/divertimentos, existem 63% velmente esta relação dos benefícios fisiológicos,
dos sujeitos que não praticam exercício físico que psicológicos e sociais que o exercício físico acar-
consideram que as mesmas aumentaram, ao pas- reta, levando a que haja uma melhoria das capa-
so que no grupo dos praticantes de exercício físi- cidades funcionais e uma maior satisfação de vi-
co existem mais sujeitos que consideram que es- da, pois como referem Butler e Lewis (1993) uma
tão na mesma. Este resultado pode estar relacio- boa forma física é a condição básica para se ter
nado com o facto de a amostra dos sujeitos que uma boa aparência, uma boa disposição e as re-
não praticam exercício físico ter sido recolhida em servas físicas necessárias para aproveitar uma
Centros de Dia e nestes ser frequente organiza- série de interesses da vida, encontrando-se entre
rem-se passeios e excursões que beneficiam o con-
estes a actividade sexual, da qual é retirado maior
vívio e, estando os dois membros do casal no mes-
prazer se existir uma boa saúde e um “corpo sem
mo Centro de Dia, como aconteceu no grupo se-
dores”.
leccionado, é de esperar que este tenha mais pos-
sibilidades para partilhar actividades e divertimen-
tos.
REFERÊNCIAS
Por outro lado, o facto dos sujeitos que prati-
cam exercício físico terem respondido que as acti- Anderson, P. (1998). Sexuality and senior olympians.
vidades/divertimentos comuns estão na mesma Electronic Journal of Human Sexuality, 1, Oct. 19.
poderá indicar que nas suas vidas ocorreu uma [On-line]. Available: http://www.ejhs.org/volume1/
continuação do que já acontecia anteriormente, o anderson/olympian.htm.
que é acentuado pelo facto de existir uma grande Barreto, J. (1988). Aspectos psicológicos do envelheci-
percentagem de sujeitos praticantes de exercício mento. Psicologia, 6 (2), 159-170.
físico respondendo que, ao nível da forma como Butler, R. N., & Lewis, M. I. (1993). Love and sex after
se entende o casal, não há quaisquer modificações. sixty. New York: Balantine Books.
Cruz, J., Machado, P., & Mota, M. (1996). Efeitos e
A nível geral, fica a ideia de que o avançar da benefícios psicológicos do exercício e da activida-
idade não implica um estagnar da actividade se- de física. In J. Cruz (Ed.), Manual de Psicologia do
xual, já que, como os resultados deste estudo re- Desporto (pp. 91-116). Braga: S. H. O., Manuais
velam, apesar de existirem alguns sujeitos que já de Psicologia.
não têm relações sexuais, existe uma maior per- Fernandes, P. (2000). A Depressão no Idoso. Coimbra:
centagem de sujeitos que continua a tê-las. Além Quarteto.
disso, o idoso pode exprimir a sua sexualidade Herrero, F. J. (1984). A sexualidade na velhice. Saúde,
8, 264-269).
de várias formas, tornando-se o abraçar, o tocar,
Lehr, U., & Thomae, H. (1984). Psicologia da velhice.
o acarinhar, o falar, o olhar ou o ouvir ternamen- Saúde, 8, 276-285.
te tão agradável, como podem ser agradáveis as Lima, A., & Viegas, S. (1988). A diversidade cultural
relações coitais que, embora existam e sejam igual- do envelhecimento: a construção social da catego-
mente adequadas na terceira idade, não preen- ria de velhice. Psicologia, 6 (1), 149-158.
chem o todo da sexualidade (Sanches & Fuertes, Masters, W., & Johnson, V. (1966). Human sexual res-
1989). ponse. New York: Little Brown.
Por outro lado, os resultados obtidos neste es- Mestre, O. (1999). O envelhecimento e a mobilização. Pre-
venção de acidentes. Geriatria, 116 (12), 18-27.
tudo mostram que, em algumas dimensões da se-
Moreira, A. M., & Côrte-Real, A. (1999). Uma abor-
xualidade abrangidas pelo instrumento utilizado, dagem da sexualidade no idoso. In Temas de Psi-
os idosos praticantes de exercício físico são mais quiatria, Psicossomática e Psicologia (pp. 205-213).
activos sexualmente e vivem a sua sexualidade Lisboa: Grupo Português de Psiquiatria Conciliar-
de um modo mais satisfatório do que os idosos -Ligação e Psicossomática.

338
Nazareth, J. (1988). O envelhecimento demográfico. damente ao nível da iniciativa para ter relações se-
Psicologia, 6 (2), 135-146. xuais, da frequência em média de relações sexuais, do
Ogden, J. (1999). Psicologia da Saúde. Lisboa: Clime- interesse pela vida sexual, das modificações notadas
psi. sobre as actividades/divertimentos comuns com o/a com-
Parreño, J. R. (1984). Atividades físicas na vida diária panheiro/a, da sensação obtida através das relações se-
do idoso. Saúde, 8, 270-275. xuais e ainda ao nível dos factores que consideram in-
Paúl, M. C. (1997). Lá para o fim da vida: idosos, fa- fluenciar a vida sexual.
mília e meio ambiente. Coimbra: Livraria Almedi- Constatámos que, a nível geral, e de acordo com a
na. amostra em estudo, os sujeitos praticantes de exercício
Pereira, M. A. (1999). O que é a terceira idade?. Saúde físico são sexualmente mais activos do que os sujeitos
e Bem Estar, 58, 46-47. não praticantes de exercício físico, existindo uma rela-
Sanchez, F. L., & Fuertes, A. (1989). Para compreen- ção entre a prática de exercício físico e algumas das di-
der la sexualidad. Estella (Navarra): Verbo Divino. mensões da sexualidade do idoso.
Santos, A., & Trindade, I. (1997). Intervenção psicoló- Palavras-chave: Envelhecimento, idoso, sexualida-
gica em programas de saúde para idosos. In J. L. de, exercício físico.
Pais Ribeiro (Ed.), Actas do 2.º Congresso Nacio-
nal de Psicologia da Saúde (pp. 85-398). Lisboa:
ISPA.
Santos, I. (1993). A sexualidade dos idosos. Um estudo ABSTRACT
exploratório (Monografia de Licenciatura em Psi-
cologia Clínica). Lisboa: ISPA. The aim of this work is to study the influence that
Silny, A. J. (1993). Sexuality and aging. In B. B. Wol- physical exercise may have upon the sexuality of el-
man, & J. Money (Eds.), Handbook of Human Se- derly people. The sample is composed of 54 married
xuality (pp. 123-146). Northvale, NJ / London: Ja- subjects, with an age range of 65-75 years. It was divi-
son Aronson. ded into two groups, one of which consists of 27 sub-
jects who regularly exercise, the other consisting of 27
subjects who do not exercise.
A questionnaire about sexuality after the age of 65
RESUMO
was used as our instrument, after some adjustments.
The non-exercising subjects were interviewed indivi-
O presente estudo tem como objectivo estudar a
dually in a room at their respective day care centers,
influência que poderá ter o exercício físico de um ido-
with the questionnaires being filled by the interviewer.
so sobre a sua sexualidade. Incide sobre a população
The remaining subjects filled their own enquiries, which
idosa, sendo a amostra constituída por 54 sujeitos ca-
were handed at their gymnasiums along with filling
sados, com idades compreendidas entre 65 e 75 anos.
instructions.
Esta divide-se em dois grupos, um dos quais constituí-
do por 27 sujeitos que praticam exercício físico e o The investigation was designed as an observational-
outro por 27 indivíduos que não praticam exercício fí- descriptive study of inter-group comparison, and the
sico. results were analyzed using the Mann-Whitney (ordi-
Utilizou-se como instrumento um questionário so- nal level answer options) and Qui-Square (nominal le-
bre a sexualidade após os 65 anos, adaptado por nós. vel answer options) tests.
Os sujeitos não praticantes de exercício físico foram en- The results showed statistically relevant differences
trevistados individualmente em centros de dia, tendo between the two samples on some of the studied dimen-
os questionários sido preenchidos pelo entrevistador. sions, namely the sexual initiative, the mean frequen-
Quanto aos sujeitos praticantes de exercício físico, os cy of sexual intercourse, the interest in sex life, the
questionários foram preenchidos pelo próprio e entre- perceived changes of the couple’s mutual activities/
gues nos seus ginásios, após lhes terem sido dadas as /amusements, the sensations obtained through sexual
devidas instruções. intercourse and the factors the subjects consider influ-
Tratando-se de um estudo observacional-descritivo ence sex life.
de comparação entre grupos, os resultados foram ana- On this sample, on a general level, it was observed
lisados utilizando os testes de Mann-Whitney (opções that exercising subjects are sexually more active than
de resposta de nível ordinal) e do Qui-Quadrado (op- non-exercising subjects and a relation was established
ções de resposta de nível nominal). between the practice of physical exercise and some di-
Averiguámos que existem diferenças estatisticamen- mensions of elderly sexuality.
te significativas entre as duas amostras no que diz res- Key words: Aging, elderly people, sexuality, physi-
peito a algumas das dimensões da sexualidade, nomea- cal exercise.

339

Você também pode gostar