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CONSELHO TUTELAR

- Conselho Tutelar: órgão permanente e autônomo, não jurisdicional,


encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da
criança e do adolescente (art. 131, ECA).

O que é um conselho tutelar? Vejamos: ... É isso que nos diz o art. 131 do
Estatuto.

- Conselho Tutelar: possui caráter institucional – uma vez criado e instalado,


passa a ser uma das instituições do Sistema de Garantias dos Direitos da
Criança e do Adolescente.

Uma vez que o Conselho foi estabelecido, ele será permanente. Então ele ...

- Autonomia: independência funcional – é uma prerrogativa do órgão e não


é necessário que as suas decisões sejam avaliadas por outros órgãos.

Característica dele: ele tem autonomia. O conselho tutelar tem... E não é


necessário que suas decisões sejam chanceladas ou avalizadas por outros
órgãos, como por exemplo o Juiz da Vara da Infância ou o Conselho de Direitos.
Ele não é subordinado a ninguém, estamos falando de uma entidade que é
autônoma.

- Cuidado: isso não impede o controle judicial de legalidade e adequação


das medidas, se houver provocação do MP ou de outro legítimo
interessado.

Aí nós temos que tomar um cuidado porque apesar da autonomia, isso não
significa que eles podem praticar atos abusivos ou ter um desvio de finalidade.
Então a gente pode ter um controle judicial... Então isso quer dizer que o
conselho tutelar tem independência, tem autonomia, mas isso não quer dizer que
ele pode agir de maneira abusiva, de maneira que vá além dos limites
estabelecidos pelo Estatuto.

- Desjudicialização: muitas das atuais atribuições do Conselho Tutelar


cabiam ao antigo juiz de menores.

O Conselho Tutelar ganhou uma importância muito grande. Muitas das coisas que
eram feitas pelos antigos juízes de menores, pela Doutrina da Situação Irregular,
passaram a ser agora atribuição não do juiz da Vara da Infância, mas do
Conselho Tutelar. Até que a gente percebe que está previsto lá na parte final do
Estatuto que enquanto o Conselho Tutelar não for instalado, na verdade quem
exerce suas funções é de fato a Vara da Infância e da Juventude. Mas isso é
relativo a uma disposição que era relativa ao começo da implementação do
Estatuto, na década de 90. Hoje a imensa maioria dos municípios já conta com a
presença do Conselho. Aí, então essas atribuições não estão mais com o juiz da
Vara da Infância.

- São atribuições de caráter administrativo – mesmo as que resultam na


aplicação de medidas aos pais ou às crianças e adolescentes.

... Não tem caráter jurisdicional. O Conselho Tutelar não é um órgão judicante, ele
não dá sentença, ele não tem poderes jurisdicionais. Então ele tem um caráter
administrativo, mesmo quando impõe algum tipo de medida aos pais ou à criança
ou ao adolescente, como por exemplo nas medidas de proteção.

- Capilaridade: o Conselho Tutelar deve estar presente em todos os


municípios – ao contrário do Poder Judiciário.

Temos também a ideia de capilaridade... O que não é viável ao juiz da Vara da


Infância. Não dá pra ter uma Vara da Infância em todos os municípios. Até porque
a sede da comarca está em um município só e não em todas as cidades. Agora o
Conselho Tutelar isso já é possível.

Função do Conselho Tutelar:..

- Zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente: essa é a


principal função do Conselho Tutelar.

- Efetiva solução de problemas que atingem a população infanto-juvenil.

- O Conselho Tutelar tem poderes (suficientes) para resolver as questões que


se enquadram na sua esfera de atribuições, sem prejuízo da atuação
colaborativa de outros órgãos que integram a rede de proteção.

Como, por exemplo, a própria Vara da Infância e da Juventude e o Conselho


Municipal de Direitos. Então cada um tem as suas atribuições e o Conselho
Tutelar tem as próprias. Então vai ser extremamente útil no cumprimento dessas
medidas.

- O ECA considera o conselho tutelar uma autoridade pública e, em diversos


aspectos, é comparada à autoridade judiciária.

...Em muitos aspectos é comparada à autoridade judiciária, ainda que não seja e
não tenha as mesmas atribuições. Uma das coisas que ele tem e que é
semelhante ao que um juiz pode fazer é o Poder de Requisição

- Poder de requisição: o conselho tutelar pode requisitar documentos e


ações de determinados serviços públicos, a fim de resolver, com o máximo
de rapidez e eficiência, as situações levadas ao seu conhecimento.

...O significado de requisição aqui não é sinônimo de pedir, como na linguagem


comum. Aqui, ela está mais próximo de ordenar, ela tem que ser atendida. Tanto
que, se não cumprir o que o Conselho Tutelar requisitou, pode ser um crime ou
uma infração administrativa. Vejamos:

- Crime (art. 236, ECA): “impedir ou embaraçar a ação de autoridade


judiciária, membro do Conselho Tutelar ou representante do Ministério
Público no exercício de função prevista nesta Lei” - pena de detenção (seis
meses a dois anos).

- Infração adm. (art. 249, ECA): “descumprir, dolosa ou culposamente, os


deveres inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela ou guarda, bem
assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho Tutelar” - pena de
multa de 03 a 20 salários de referência (reincidência: o dobro da multa).

...Então veja, uma requisição do Conselho Tutelar não é um simples pedido que
alguém atende se quiser ou não, mas é um pedido com uma carga ordenatória.
Se não for atendida, por exemplo, pelos pais poderemos ter uma infração
administrativa do 249 ou por outras pessoas responsáveis por isso, poderemos
ter um crime.

- Enquanto o Conselho Tutelar não for instalado, as atribuições que a ele


são conferidas pelo ECA são exercidas pela autoridade judiciária da
comarca (art. 262).

Enquanto o Conselho Tutelar não for instalado, as atribuições que ele deve
exercer, vão ser exercidas pelo juiz da Vara da Infância, conforme já havíamos
falado. Isto está previsto no art. 262 do Estatuto.

- Porém, a instalação é obrigatória – se o Município não instala, pode ser


compelido a isso pelo Poder Judiciário, provocado por Ação Civil Pública.

É pra ter pelo menos 1 Conselho Tutelar em todos os municípios do Brasil. Há


municípios que tem mais de 1, isso não tem problema. Essa é a ideia da
capilaridade, é necessário ter órgãos atingindo todos os espaços e o Conselho
Tutelar é perfeito para isso. Então tem que ter Conselho Tutelar em todos os
municípios. Enquanto não tiver, a autoridade judiciária da comarca pode exercer
essa função, como, por exemplo, o juiz da Vara da Infância e da Juventude. Mas
olha só: a instalação é obrigatória. Se o município não instala, ele pode ser
compelido a isso pelo Poder Judiciário, provocado por Ação Civil Pública pelo
Ministério Público. Então ele tem que instalar sim. Isso não está na esfera de
discricionariedade dele.

- Cada Município ou região administrativa do DF terá, no mínimo, um


Conselho Tutelar.

... Pode ter mais de 1, dependendo do tamanho do município, vejamos a res. 139
do CONANDA
- Os Conselhos Tutelares são criados por lei municipal (ou distrital) e
podem ser criados tantos quantos forem necessários para atender a
demanda do município.

- Res. n. 139/2010, CONANDA: o recomendado é que haja um Conselho


Tutelar para cada grupo de 100.000 habitantes do município.

- Atribuições do Conselho Tutelar: previstas, principalmente, no art. 136 do


ECA.

O art. 136 do ECA traz a lista de atribuições do Conselho Tutelar. E, além da lista
do art. 136, nós temos outras atribuições. Olha só: ...

- Além destas, o CT tem o dever de fiscalizar entidades de atendimento (art.


95), tem legitimidade para deflagrar procedimentos de apuração de
irregularidades em entidades de atendimento (art. 191) e para a apuração de
infração administrativa às normas de proteção da criança e do adolescente
(art. 194).

- O poder de fiscalização decorre de dispositivos explícitos e implícitos do


ECA.

Então, além do que está previsto expressamente, o conselho tem outras


atribuições que são derivadas desses artigos, mesmo que elas não estejam
expressamente previstas no Estatuto.

- Além disso, o CT tem poderes para atuar quando da avaliação e


acompanhamento da gestão do sistema socioeducativo, a fim de garantir
um atendimento de qualidade aos adolescentes autores de ato infracional e
suas famílias (art. 20, IV, Lei n. 12.594/12).

...Lei do Sinase - Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo.

- Obs.: a lei municipal não pode criar novas competências para o Conselho
Tutelar, mas isso não significa que ele não possa exercer seu “poder de
polícia” ou que não possa fiscalizar possíveis violações de direitos da c/a
por quem quer que seja.

A lei municipal não pode criar outras atribuições além dessas que estão explícitas
e implícitas em Lei Federal (ECA e Lei do Sinase)...

Então o Conselho Tutelar pode, por exemplo, ir em show pra ver se não está
sendo vendido bebida alcoólica para menores de idade, pode ir à lanhouses pra
ver se o menino não está matando aula pra ficar jogando, etc. Esse é o poder de
polícia do Conselho Tutelar. Voltando ao art. 136, aqui está a lista de atribuições
previstas no Estatuto:

- Atribuições previstas no art. 136 do ECA:


I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98
(crianças e adolescentes que estão tendo seus direitos ameaçados ou
violados) e 105 (ato infracional praticado por criança), aplicando as medidas
previstas no art. 101, I a VII (medidas de proteção, exceto acolhimento
familiar e família substituta);

... Quanto ao acolhimento familiar e família substituta, só o Juiz da Vara da


Infância pode fazer. Então não cabe ao Conselho Tutelar definir que a criança ou
adolescente vai receber a medida de proteção de acolhimento institucional ou vai
ser colocada em família substituta. Não cabe a ele, só o juiz pode fazer. Mas as
outras medidas, o Conselho pode aplicar dependendo da conveniência e do caso,
depende do que aconteceu.

II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas


previstas no art. 129, I a VII;

...Que são medidas aplicáveis aos pais que temos no Estatuto.

III - promover a execução de suas decisões, podendo para tanto: a)


requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social,
previdência, trabalho e segurança; b) representar junto à autoridade
judiciária nos casos de descumprimento injustificado de suas deliberações.

...Lembrando que requisitar aqui está no sentido de mandar, temos inclusive um


crime ou infração administrativa no caso de desobediência.

IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração


administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente;

...Para que possamos ter o devido processamento da pessoa que infringiu as


normas do Estatuto.

V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;

VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as


previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional (o
juiz pode cumular medidas de proteção e socioeducativas);

...Isso aqui é bem interessante, pois o juiz pode aplicar para o adolescente que
cometeu ato infracional, dependendo do que aconteceu, uma medida
socioeducativa ou uma medida de proteção ou ainda pode cumular as duas.
Então se o juiz, durante a análise do ato infracional, achar que é necessário
aplicar uma medida de proteção, quem vai fiscalizar essa medida de proteção é o
Conselho Tutelar. O juiz passa essa informação ao Conselho Tutelar e ele vai
passar a acompanhar o adolescente no cumprimento dessa medida.

VII - expedir notificações;


VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou
adolescente quando necessário;

IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta


orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da
criança e do adolescente;

X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos


direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II da CF/88;

...Isso aqui diz respeito à comunicação social.

XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou


suspensão do poder familiar, após esgotadas as possibilidades de
manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural.

...O ECA traz uma preocupação de manter o vínculo da criança com a sua família
de origem. Ela só vai para a família substituta se isso não for possível. Então...

Obs.: se o Conselho Tutelar entender que é necessário promover o


afastamento da criança e do adolescente do convívio familiar (seja porque a
situação está insegura, seja porque ela está sendo vítima de violência, seja
porque a medida de proteção não está sendo bem cumprida ou não está sendo
suficiente), comunicará o fato ao Ministério Público, prestando-lhe
informações sobre os motivos de tal entendimento e as providências
tomadas para a orientação, o apoio e a promoção social da família.

E a partir daqui o membro do MP vai decidir se ele propõe ou não a Ação de


Suspensão ou Perda do Poder Familiar.

- Lembre-se que a destituição do poder familiar e qualquer medida de


colocação em família substituta dependem de ordem judicial – não cabe ao
Conselho Tutelar determinar tais medidas.

Informação importante: não cabe ao Conselho Tutelar determinar a perda ou a


suspensão do poder familiar. Então... Portanto, é necessário um procedimento
judicial, presentes o contraditório e a ampla defesa, feito com bastante
responsabilidade e cuidado. Cabe ao Conselho Tutelar somente o procedimento
de encaminhamento.

- No máximo, excepcionalmente, a colocação em entidade de acolhimento


institucional em situação de urgência, nos termos do art. 93 do ECA.

Nessa situação, o máximo que o Conselho Tutelar pode fazer é no caso de


urgência, muita gravidade, determinar a colocação da criança ou do adolescente
numa entidade de acolhimento institucional. Porém, nesse caso, o dirigente da
entidade deve comunicar imediatamente a Vara da Infância pro juiz tomar a
decisão se a criança será mantida ali ou se será entregue aos cuidados de
alguém da sua família extensa ou se será colocado em um programa de família
acolhedora, por exemplo. Mas a regra geral é que a criança ou adolescente só
entra em entidade de acolhimento institucional com autorização judicial. Essa
possibilidade do Conselho Tutelar intervir e tomar essa medida de urgência é
somente mesmo em situações muito graves (situação em que a criança está
correndo risco e está muito tarde e não tem como resolver isso agora). Então
coloca a criança num local seguro e depois teremos a manifestação judicial

- As decisões do Conselho tutelar tem eficácia plena e imediata, se forem


proferidas de forma colegiada e dentro do âmbito de suas atribuições.

- Revisão judicial das decisões do Conselho Tutelar: nos termos do art. 137,
pode ser pedida por quem tenha legítimo interesse – particular ou Poder
Público. O descumprimento puro e simples pode resultar na prática de
infração administrativa (art. 249 do ECA) ou até no crime de desobediência
(art. 330, CP).

...

- Competência territorial do Conselho Tutelar (art. 138 c/c 147): é


determinada pelo domicílio dos pais ou responsáveis ou pelo local onde se
encontre a criança ou adolescente, em caso de falta destes. Em caso de ato
infracional praticado por criança, a competência é a do CT do lugar da ação
ou omissão.

...Então como regra geral, o domicílio dos pais. Se não tiver como definir isso, no
local onde a criança for encontrada. E, em se tratando de ato infracional, no local
em que o ato infracional foi praticado pela criança. Porque se for ato infracional
cometido por adolescente, a competência é da Vara da Infância e Juventude.

- Execução de medidas: pode ser delegada ao CT do local de residência dos


pais ou responsáveis (da entidade de acolhimento).

Quando falamos em ato infracional praticado por adolescentes, conforme já foi


comentado, o juiz pode cumular a medida socioeducativa com a medida de
proteção ou pode aplicar só a medida de proteção. Nesse caso,... ou da entidade
de acolhimento se o adolescente tiver acolhido.

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